Espiritualismo
CADA VEZ MAIS DIVULGADO NO OCIDENTE, O YOGA NÃO
É APENAS UM SISTEMA DE HARMONIZAÇÃO PSICOFÍSICA,
AUM (om),
o mantra supremo
MAS UMA VERDADEIRA FILOSOFIA DE VIDA
Por Luís Fernando Mingrone (Enki)
O
termo Yoga é uma palavra originária do sânscrito e significa “união”, que remete à junção de
nosso ser divino (atma) como o ser divino universal (Brahmam). Esse termo é utilizado para designar o sistema científico e filosófico milenar, cuja criação se perde no tempo e foi desenvolvido nas terras do subcontinente indiano.
Existem várias práticas do Yoga. As principais delas são o Laya Yoga, o Bhakti Yoga, o Karma Yoga e o
Raja Yoga, além de outras, como o Mantra Yoga, o
Hatha Yoga, o Jnana Yoga etc. É certo, também, que
muitas dessas práticas se mesclam e se apóiam, ou
seja, não há bhakti yoguim que não pratique Karma
Yoga e assim por diante.
O Laya Yoga ou “yoga da dissolução” é a prática que
visa a total dissolução dos objetos exteriores e interiores no atma e deste último em Brahma. O Bhakti Yoga
ou “yoga da devoção” é a prática voltada para o serviço amoroso a Deus. O bhakti yoguim presta devoção
aos gurus e busca sempre o relacionamento amoroso
com Deus, seja como amigo, amante, mãe, pai etc. É
por meio desse amor que ele procura a união ou yoga.
Já o Karma Yoga é a prática que leva o yoguim a
buscar a união através das ações. Ele procura fazer
cada ação dando o seu melhor e não se envolvendo
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com o resultado, mantendo sempre a eqüanimidade
nas situações, sejam elas boas ou ruins. Procuram servir ao próximo, seja em assistência social direta ou
na divulgação das idéias espirituais. Um grande exemplo de karma yoguim foi Mahatma Gandhi.
O Raja Yoga é o “yoga real”. Ele compreende práticas dos três yogas anteriores e é calcado no discernimento, na meditação e no esclarecimento espiritual. Podemos citar Swami Vivekananda,
Paramahansa Yogananda e Swami Sivananda como
grandes raja yoguins.
O surgimento do Yoga
No entanto, por que motivo esse conhecimento
tão profundo se desenvolveu nas terras orientais e
não nas ocidentais? Tudo remete à formação de duas
civilizações.
Ao chegar na região do Vale do Indo, no subcontinente indiano, o povo que compunha a civilização local encontrou uma terra vasta, coberta por florestas
densas, vários animais e alimentos, enfim, uma infinidade de recursos para lhe servir. Esses habitantes
encontraram nas matas um abrigo para as eventuais
invasões bárbaras e, portanto, viam a natureza como
Espiritualismo
ESTUDE O YOGA! AS SEMELHANÇAS COM A DOUTRINA ESPÍRITA SÃO IMENSAS.
PRATIQUE YOGA! AS POSTURAS (ÁSANAS) AUXILIAM NO EQUILÍBRIO PSICOFÍSICO.
VIVA O YOGA! E SEJA UM SER ILUMINADO!
algo positivo, procurando se integrar com ela e seus
moradores. Foi dessa busca de integração que surgiram as práticas primitivas do yoga.
Ao olharmos para a civilização grega, base do ocidente, percebemos que sua formação se deu em uma
região montanhosa e litorânea. As terras férteis eram
poucas e o sentimento de posse era bastante forte, pois
os gregos viam a natureza como um empecilho, algo a
ser dominado, conquistado. Os sábios gregos foram
buscar sua sabedoria no oriente. Os templos foram
construídos com mão-de-obra escrava e, desse modo,
podemos imaginar a atmosfera espiritual em que eles
foram erguidos. Sem contar as famosas bacanais, realizadas nos templos dedicados ao deus Baco. Atenas
e Esparta, a primeira considerada como o berço da democracia, eram cidades amplamente dominadas pelas oligarquias e que usavam trabalho de escravos (em
Atenas, eles eram comprados nos mercados, enquanto que, em Esparta, as populações nativas derrotadas
eram forçadas para essa condição).
Mais à frente na história, temos a civilização romana, cuja base foram os
gregos. E qual é o monumento romano
mais lembrado? Sim, o Coliseu de
Roma, palco vivo da barbárie humana. Porém, ao pensarmos na Índia,
vem à nossa mente a imagem do
Taj Mahal, um grande mausoléu
erguido em um ato de amor de
um rei por sua esposa, com templos em anexo.
Ao nos lembrarmos da obra O Pensador, de Rodin,
tida como símbolo do homem ocidental, examinamos
sua postura e verificamos que ele está curvado, com
os músculos tensos, como se estivesse carregando o
mundo nos ombros. Já na Índia, temos a imagem dos
yogues e, como ilustração, vemos Buda sentado tranqüilamente, relaxado e com uma expressão de serenidade e equilíbrio.
Não estou afirmando, com essas comparações, que
o Oriente é melhor do que o Ocidente e, por isso, a espiritualidade lá é tão forte. Elas nos mostram o quão
diferentes foram as circunstâncias e o contexto do
surgimento dessas duas civilizações. A probabilidade da
Índia ser mais espiritualizada era maior, pois o ambiente favorecia o desenvolvimento dessa espiritualidade.
Os oito passos do Yoga
Foi nesse ambiente propício que os primeiros yogues
surgiram. Não é possível precisar a origem do yoga. Muitos sustentam que ele já era praticado rudimentarmente entre os povos que emigraram do leste europeu, enquanto outros sustentam sua origem divina. Do ponto
de vista espiritual, a segunda hipótese é a mais plausível. Para explicar isso, usarei o seguinte exemplo: Certo dia, você estava caminhando pelas ruas de sua cidade quando foi atraído pela beleza de uma peça de roupa exposta na vitrine de uma loja. Você resolve atra-
As Ásanas são posturas que agem
de forma terapêutica e corretiva
sobre todos os sistemas, órgãos,
tecidos e funções orgânicas. Não
se trata de uma simples ginástica, pois trabalha o homem de
forma holística
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vessar a rua e entrar no local a fim
físico. Os yogues cultuam o corde analisar essa roupa da melhor
po de maneira a torná-lo mais
maneira possível. Sentindo-se
eficiente para o fluxo da energia
agradado, você a compra e usa
espiritual. Pela prática de postucom prazer.
ras específicas, bloqueios de
Da mesma maneira, quando
energias são desfeitos e os chaum ser espiritual “legal” olha
cras são ativados e despertados.
para um encarnado com boas
As posturas eliminam as doenças
qualidades, ele se aproxima dido corpo e proporcionam um exzendo: “Que luz ‘bacana’ esse
celente grau de concentração e
ser tem! Deixe eu me aproximar
força. Elas são importantes por
e examiná-lo melhor”. Se o enmovimentarem as bioenergias,
carnado lhe agradou, esse espíacelerando-as e sutilizando-as.
rito resolve investir nele, enviando intuições, boas amizades,
conhecimento etc, sempre com
o intuito de fazê-lo evoluir. É
Junto com o terceiro passo, é
bem verdade que o oposto tampraticado o Pranayama, que é o
bém ocorre, ou seja, seres com
controle dessas bioenergias. ConSwami Vivekananda, após meditar em Calcutá,
tendências maléficas se aproxisiste em técnicas de respiração
em fevereiro de 1897
mam de encarnados com a mesdestinadas a controlar o prana ou
ma sintonia, potencializando a
energia vital e, de maneira bem
capacidade de fazer o mal. Baseado nesse princípio
simples, podemos dizer que são técnicas de purificade ressonância, fica mais claro e plausível a probação do campo bioelétrico ou duplo etérico, onde esbilidade da origem do yoga ser espiritual.
tão dispostos nossos chacras, responsáveis pela enEm um ambiente que propiciava a interiorização
trada e saída de energia espiritual e vital de nosso
e a integração, o yoga foi sendo aprimorado até sua
corpo. Com esse controle do campo bioelétrico, o
codificação, feita por um sábio que viveu no século
yogue fica mais sensível e, portanto, preparado para
XIV, chamado Patanjali. O sistema codificado por ele
perceber as irradiações provenientes de seus sentirecebeu o nome de Ashtanga Yoga ou “yoga dos oito
dos. Ele passa a percebê-los com uma maior intensipassos”, que são: Yama (abstenção), Nyama (obserdade e sua percepção de descontrole sobre eles fica
vâncias), Asana (posturas), Pranayama (controle do
muito mais visível.
prana), Pratyahara (controle dos sentidos), Dharana
Ao querer evoluir, o yogue sério passa a praticar
(concentração), Dhyana (meditação) e Samadhi (exPratyahara, o quinto passo do Yoga, que, por ser o
pansão da consciência).
“controle dos sentidos”, está intimamente ligado ao
O Yama é a purificação mental, a migração do estadesenvolvimento dos chacras. Nesse estágio, o yogue
do materialista para o espiritual, o despertar da natuaprende a dominar o sono, a fome, a sede, o calor, o
reza espiritual no homem. Ele consiste em dez práticas,
frio, a atenção e todas as outras sensações provenique são: Ahingsa (amistosidade, amor por tudo, não-vientes dos cinco sentidos. Essa é uma prática extreolência), Satya (sinceridade), Asteya (não roubar, não
mamente importante para ele, já que, quando percobiçar), Bramacharya (controle dos desejos, controle
feitamente executada, mostra o quão profundo o
sexual e celibato), Daya (misericórdia), Arjawa (honesyogue pode ir no caminho espiritual.
tidade), Kshama (perdão), Dhriti (firmeza), Mitahara
Sem esse domínio dos sentidos, ele não poderá
(moderação no comer) e Shoucha (limpeza).
entrar no Dharana, que é a retenção da atenção em
O Nyama também é formado por dez práticas, toum só ponto. A profundidade de Pratyahara é um pondas voltadas para o estudo e a ação espiritual em si.
to de medida para a de Dharana, uma vez que um
São elas: Tapas (asceticismo), Santosha (contentayogue não poderá se concentrar profundamente se
mento), Astikya (fé), Dana (caridade), Ishwara-pujana
não domina os sentidos. Ele se senta para se concen(adoração a Deus), Siddhanta-shrawana (estudo estrar e, na primeira brisa que sopra, toda essa concenpiritual), Hri (modéstia), Mati (reflexão), Japa (prátração é perdida quando pensa “que brisa gelada”.
tica de mantras) e Wrata (votos).
O Dharana tem como objetivo cessar esse estado
Com essas 20 práticas diárias, o homem terá conoscilatório da mente.
dições de sutilizar suas energias, fazendo com que
Sabemos que é bastante difícil manter a concenelas possam fluir de maneira mais ordenada. No entração na figura de uma rosa, então, podemos permatanto, essas práticas só nos capacitam para a percepnecer concentrados nas qualidades dela, fazendo com
ção da espiritualidade e do conseqüente aumento do
que a nossa mente localize um campo muito estreito
amor por ela. Quando este é firme e, portanto, verde flutuações. Da mesma maneira, não podemos condadeiro, o yogue está pronto para ir ao terceiro esceber a idéia de Deus de imediato, portanto, passatágio, denominado Asana, que é o controle do corpo
mos a meditar nas qualidades divinas. Para se chegar
Controle da bioenergia
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Espiritualismo
A religião universal
Trecho do livro O que é Yoga. Autor: Prof. Hermógenes. Editora Nova Era
Vez por outra, encontro alguém
que infantilmente se inquieta com a hipótese absurda de, vindo a envolver-se
com Yoga, cometer apostasia e trair sua
religião particular, à qual “pertence”
desde a infância de forma acomodada.
Alguns me perguntam receosos se
Yoga é religião. Em geral, respondo:
“Se você vê religião como um processo holístico (psico-bio-físico-espiritual)
de re-união de partes que antes estavam unidas e agora estão separadas e
em conflito, se a vê como a re-união da
alma com Deus, então Yoga é essencialmente uma religião. Se um cristão,
mesmo nada sabendo de Yoga, cumprir
o caminho (marga), a disciplina
ascética (sádhana) e a ética (dharma)
ensinados e exemplificados por Jesus,
poderá retornar à “casa do Pai”. Volta
a ser um com o Pai. Tal é, a rigor, o Yoga
do Cristo. Não é disso que fala a parábola do “Filho Pródigo”? A re-ligação
ou religião do filho com o Pai é a forma mais exata de entender Yoga.
Desde que dharma (dever, mandamento e injunção), o sádhana (disciplina, ascese) e o marga (caminho de redenção a ser percorrido), estabelecidos
por Cristo no Evangelho, sejam cumpridos com discernimento, decisão, dedicação, devoção e disciplina, o cristão
pratica e alcança o Yoga.
Que todo cristão consiga praticar o
Yoga ensinado e exemplificado por; que
ouça, analise, compreenda (em espírito
Jesus; e em verdade) e ponha Jesus em
prática o que Ele ensina em seu santo e
sábio Evangelho:
Se permanecerdes em minha palavra
(doutrina), sereis verdadeiramente meus
discípulos e tereis a gnose da Verdade, e
a Verdade vos libertará (jnana)
Se alguém quer vir após Mim, neguese a si mesmo, tome cada um a sua cruz
e siga-me (tapah).
Fazei aos outros aquilo que quereis
que vos façam (seva).
Perdoai setenta vezes sete vezes
(kshama).
Orai pelos que vos perseguem e caluniam (prema).
Buscai primeiro o Reino de Deus e
vosso ajustamento a Ele, e o resto vos
será acrescentado (mumukshutva).
Muito, mas muito mais, Ele estipulou
como seu dharma (preceitos, injunções,
virtudes, deveres...), definiu seu marga
a nomeá-las, utilizamos a percepção,
o intelecto, a afetividade e a vontade.
A percepção cria os estados
oscilatórios da mente por causa de seu
contato com as constantes radiações
senso-mentais, trazidas ao campo consciencial na forma de imagens que apreendemos como objetos exteriores. Conforme a nossa relação com esses
objetos, surge o sentimento de aversão ou de paixão
em nossa consciência. É por causa desses sentimentos
que o Yoga recomenda a satsanga, ou seja, “a boa companhia”, que não se trata apenas de estar ao lado de
um amigo ou amiga, mas da boa leitura, da boa música, do bom ambiente etc. Essas associações também
colaboram na pacificação da mente, tornando-a propícia para a prática da concentração.
Quando as irradiações senso-mentais se tornam
mais puras, as relações da mente perceptiva entre desejo e vontade se transformam em impulsos ou tendências virtuosas. Com o auxílio da inteligência, a mente perceptiva pode atingir um grau profundo de concentração. Quando a mente está focada profundamente em um só assunto, perde-se a sensação exterior e
todas as energias do praticante se dirigem para a ca-
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(caminho a ser percorrido) e ensinou seu
sádhana (disciplina ser observada). Sugeriu que se optasse pela “porta estreita”
que permite e promove a re-ligação com
a “casa do Pai”, com o Dono da Casa.
Tivesse Ele se dirigido a hindus, penso
que poderia falar assim: “Se vos ajustardes
ao dharma, avançardes no marga e
cumprirdes o sádhana, que vos ensinei e
tanto exemplifiquei, alcançareis o estado
adwaita e chegareis a dizer junto comigo
“eu e o Pai somos um” e tomareis consciência de que sois Deus. E este jnana vos
libertará de samsara, o mundo dos mortos,
onde há choro e ranger de dentes, e tereis
vida, mas vida em abundância.”
Se alguém, se supondo cristão, vier
a contestar e combater o Yoga, “perdoai,
pois não sabe o que faz”. Não conhece
Yoga e nem a luminosa essência de sua
religião tão sábia.
[...] Em verdade, não somente o hinduísmo e o cristianismo realizam Yoga,
mas todas as grandes religiões [...] embora sejam diferentes na superfície, em
essência se propõem a levar seus seguidores à união com a Meta Suprema, que
apesar de receber denominações distintas, é sempre a mesma. [...].
beça, deixando todo o seu corpo rígido e gelado.
Praticando Dharana corretamente, a mente do
yogue estará repleta de boas vibrações, ocasionadas pela prática da satsanga. Nesse estágio, o seu
atma (espírito) encontra ressonância com Brahmam
(Deus) e se funde com Ele por amor, atingindo o
Samadhi, que é a expansão da consciência. Em seu
estado mais profundo, é a integração do objeto com
o observador, quando ambos deixam de existir, já
que o ego se transcende, e se vivencia a realidade
última, subjacente a todas as coisas.
Existem o Samadhi dual (com atributos) e o nãodual (sem atributos). No primeiro caso, o yogue não
perde a consciência de si mesmo, enquanto que, no
segundo, há a total aniquilação do Eu. Seres como Jesus, Buda, Krishna e Ramakrishna atingiam esse estágio de não-dualidade à vontade, voltando apenas
para transmitir a sabedoria divina.
Vale lembrar que as práticas desse sistema de Yoga
não são ritmadas, ou seja, os passos anteriores não
são abandonados quando se atinge um mais elevado.
Todos eles são praticados simultaneamente, não havendo pausa na prática do Yoga, que passa a ser um
estilo de vida.
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O surgimento do Yoga - Revista Cristã de Espiritismo