DESENVOLVIMENTO INICIAL DO CAJUEIRO SOB
DIFERENTES REGIMES HÍDRICOS
N. S. da Silva1; K. S. Alves1; F. E. P. Mousinho2
RESUMO: Este trabalho teve como objetivo avaliar o crescimento do cajueiro através da
avaliação da altura, diâmetro abaixo e diâmetro acima do enxerto da planta em função de
diferentes lâminas de água aplicadas. Utilizou-se o clone de cajueiro anão CCP-76, plantado no
espaçamento de 7 x 7m, irrigado por sistema de irrigação de baixa pressão tipo Bubbler. O
delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e quatro
repetições, sendo os tratamentos compostos de três lâminas de irrigação (75, 100, 125% da
evapotranspiração da cultura) e um tratamento testemunha (sequeiro). O manejo da irrigação,
foi baseado nos valores da evapotranspiração de referência (ETo) obtidos através (INMET),
sendo que a ETo foi calculada diariamente pelo modelo de Penman-Monteith, com a utilização
do programa CROPWAT 8.0. Para a avaliação do cajueiro foram realizadas medidas mensais
das variáveis: altura, diâmetro do caule abaixo e diâmetro do caule acima do enxerto. Os
resultados obtidos mostraram que a irrigação não teve efeito significativo sobre o
desenvolvimento do cajueiro nas variáveis analisadas: altura das plantas, diâmetro abaixo e
diâmetro acima do enxerto.
PALAVRAS-CHAVE: Bubbler, irrigação localizada, Anacardium occidentale L.
INITIAL DEVELOPMENT OF CROP CASHEW UNDER
IRRIGATION LEVELS
SUMMARY: This work aimed to evaluate the growth of cashew by assessing the height and
diameter below and above the graft diameter of the plant for different water depths applied. We
used the cashew clone CCP-76, planted at a spacing of 7 x 7m, irrigated by irrigation system,
low pressure type Bubbler. The experimental design was completely randomized with
four treatments and four replications. The treatments was composed of three irrigation
levels (75, 100, 125% of crop evapotranspiration) and a control without irrigation. The irrigation
management was based on the values of crop evapotranspiration (ETc) being reference
evapotranspiration calculated in daily scale by the Penman-Monteith model,
using
CROPWAT 8.0 and crop coefficient for local conditions. For the evaluation of cashew were
held monthly readings of the variables: height, stem diameter, stem diameter below and above
1
Mestranda em Agronomia, Depto de Engenharia Agrícola e Solos, UFPI, Teresina, PI.
e-mail: [email protected]
2
Prof. Doutor, Colégio Agrícola de Teresina (CAT-UFPI), Teresina, PI
N. S. da Silva et al.
the graft. The results showed that irrigation had no significant effect on the development
of cashew in the variables analyzed: plant height, diameter below and above the graft diameter.
KEYWORDS: Bubbler, microirrigation, Anacardium occidentale L.
INTRODUÇÃO
O cajueiro é originário da África e devido às condições edafoclimáticas da sua região de
origem ser bem semelhante às do Brasil, essa cultura teve grande adaptabilidade, especialmente
na região Nordeste brasileiro. Mais de 98% da área ocupada com cajueiro no Brasil se encontra
nessa região sendo desta área, 80% cultivado nos Estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do
Norte. Segundo dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (IBGE, 2010), o
Estado do Piauí possui uma área plantada de 183.886 hectares de castanha de caju de uma
produção de 68.185 toneladas e um rendimento médio de 371 kg.ha-¹. A aptidão do Piauí para o
cultivo comercial está comprovada por meio do zoneamento pedoclimático (COSTA et al,
2000). A expansão desta cultura deve-se à grande adaptabilidade da cultura às nossas condições
edafoclimáticas (PESSOA et al., 1995).
No Piauí estima-se que mais de 80% dos plantios comerciais de cajueiro da região MeioNorte do Brasil são oriundos de semente (pé-franco) e, consequentemente, apresentam uma
acentuada variabilidade genética. Há também ampla diversidade tanto na arquitetura das plantas
quanto no tamanho, peso e forma da castanha e do pedúnculo, razão pela qual essa espécie
apresenta baixa produtividade (RIBEIRO, 2008). Diante do exposto faz-se necessário a
utilização de materiais precoces que venham a sanar essa acentuada variabilidade genética e
baixa produtividade visto que eles associados a práticas adequadas de manejo, dentre elas a
irrigação, podem proporcionar a obtenção de boas produtividades.
O cajueiro responde significativamente à irrigação, sendo que a produtividade do cajueiro
anão precoce irrigado pode alcançar até 4.600 kg de castanhas por hectare, no quarto ano de
produção, com um incremento de 1.153% em relação ao cajueiro comum sob sequeiro, e ter o
período de colheita ampliado para dez meses (OLIVEIRA et al., 1997).
Dentre os métodos de irrigação atualmente em uso a microirrigação (irrigação localizada) é o
mais recomendável para o cajueiro anão em função das seguintes vantagens: economia de água
(maior eficiência de irrigação e redução de perdas de água por evaporação), economia de
energia (trabalha com vazões e pressões menores), possibilidade de aplicação de fertilizantes via
água de irrigação (fertirrigação), redução da ocorrência de plantas daninhas e doenças foliares,
não interfere nas pulverizações, capinas e colheitas EMBRAPA, 2001.
Na cultura do cajueiro poucos são os trabalhos realizados buscando-se avaliar o desenvolvimento
da cultura em função da quantidade de água aplicada. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi
avaliar o crescimento do cajueiro através da avaliação da altura, diâmetro abaixo e diâmetro acima
do enxerto da planta em função de diferentes lâminas de água aplicadas.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi instalada uma unidade experimental de caju irrigado na área experimental do
Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Piauí, Campus do Socopo, em
Teresina-PI. Foram realizadas análises físico-químicas do solo da área experimental no
N. S. da Silva et al.
Laboratório de Solos da UFPI, através de coletas de amostras indeformadas do solo nas
camadas de 0 – 20 cm e de 20 – 40 cm para a determinação em Laboratório da Curva de
retenção da água no solo, utilizando-se extrator de Richards. Utilizou-se o clone de cajueiro
anão CCP-76, plantado no espaçamento de 7 x 7m, irrigado por sistema de irrigação de baixa
pressão tipo Bubbler, sendo este dimensionado utilizando-se o aplicativo Bubbler 1.0.
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e
quatro repetições, sendo os tratamentos compostos de três lâminas de irrigação (75, 100, 125%
da evapotranspiração da cultura) e um tratamento testemunha (sequeiro). A área experimental é
de 3.136 m², constituída de 16 parcelas (4 tratamentos x 4 repetições), sendo que cada parcela
será composta de quatro plantas. Foram avaliadas as seguintes variáveis: altura média das
plantas (cm), diâmetro médio do caule abaixo e acima do ponto de enxerto (mm). Os dados
obtidos através das coletas mensais realizadas em campo, no período de junho a novembro de
2011 de posse desses dados estes foram analisados estatisticamente observando-se o
delineamento experimental utilizado.
Para o manejo da irrigação, os valores da evapotranspiração de referência (ETo) foram
obtidos através de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), provenientes de uma
estação meteorológica convencional situada na latitude -5.08°, longitude -42.82° e altitude de
74.36 metros, sendo o valor de ETo calculado diariamente pelo modelo de Penman-Monteith,
com a utilização do programa CROPWAT 8.0 (FAO, 2009).
O cálculo da lâmina de irrigação, baseada na evapotrnspiração da cultura e o cálculo do tempo
de irrigação (Ti), em minutos, para cada tratamento foi determinado baseando-se no volume
requerido pela planta que foi obtido mediante a razão entre a ETo, o Kc e a área molhada.
A adubação da cultura foi realizada de acordo com as análises de solo e as recomendações
técnicas para a cultura bem como os demais tratos culturais e fitossanitários.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados de desenvolvimento do cajueiro em função das lâminas de água aplicadas através
da irrigação, são apresentados na Tabela 1. As médias de tratamentos com mesmas letras não
diferem entre si estatisticamente pelo teste de Tukey a 5%. Observa-se que não houve efeito
significativo das lâminas de água sobre as variáveis altura de plantas e diâmetro do caule abaixo
e acima do ponto de enxertia. Apesar da diferença nos valores de altura e dos diâmetros acima e
abaixo do enxerto das plantas observadas entre os tratamentos estes valores foram
estatisticamente semelhantes. Resultado semelhante foi encontrado por SOUSA (2001) em
experimento realizado em Fortaleza, Ceará, quando verificou que o clone de caju CCPP 76 não
apresentou diferença significativa com os tratamentos aplicados (quatro lâminas de irrigação)
para as variáveis, altura, diâmetro do caule abaixo do ponto de enxerto e diâmetro do caule
acima do ponto de enxerto.
Embora a diferença entre os valores das variáveis em função das laminas de água não tenham
sido estatisticamente diferentes, o tratamento T2, que representa a reposição de 100% da
evapotranspiração da cultura foi o que apresentou maior média em relação aos demais tratamentos
para todas as variáveis estudadas, demonstrando que esse tratamento foi o que proporcionou
maiores respostas em relação ao desenvolvimento do cajueiro. Tais resultados expressam que o
N. S. da Silva et al.
desenvolvimento do cajueiro na sua fase inicial mostrou, maior dependência do potencial genético
do clone que do estresse hídrico aplicado. Resultados semelhantes foram encontrados por Oliveira
et al. (1999) em pesquisa sobre produção do cajueiro submetido a diferentes dotações de água.
No Gráfico 1 pode-se visualizar a variação das alturas das plantas de cajueiro em função dos
percentuais da evapotranspiração da cultura repostos pela irrigação., bem como a equação de
regressão e o respectivo coeficiente de determinação. O modelo polinomial quadrático foi o que
melhor representou tal variação, apresentando r² igual a 0,9696, indicando que mais de 96% da
variação da altura das plantas de cajueiro em função dos percentuais da evapotranspiração
reposta pela irrigação pode ser explicado por tal equação. De acordo com a equação obtida a
máxima altura de planta estimada seria obtida com a reposição de um percentual de 73,11% da
evapotranspiração da cultura, sendo esta altura igual a 31,34cm
CONCLUSÃO
Durante o período de avaliação do desenvolvimento do cajueiro a irrigação não teve efeito
significativo sobre a altura das plantas, diâmetro abaixo e diâmetro acima do enxerto.
A máxima altura de planta estimada seria obtida com a reposição de um percentual de
73,11% da evapotranspiração da cultura, sendo esta altura igual a 31,34cm.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, C.A.R.; AGUIAR, M. de J.N.; et al. Estimativa do potencial de cultivo do cajueiro nos
municípios do Nordeste do Brasil e Norte de Minas Gerais. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical,
2000. 66 p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Boletim de Pesquisa, 37).
EMBRAPA. Cultivo do cajueiro anão precoce: aspectos fitotécnicos com ênfase na adubação e na irrigação.
Fortaleza : Embrapa Agroindústria Tropical, 2001. 20p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Circular Técnica, 08).
IBGE. Levantamento Sistemático da Produção Agrícola. Rio de Janeiro. v. 23, n.19 p.1-80, set., 2010.
OLIVEIRA, V. H.; SAUNDERS, L. C. U.; PARENTE, J. I. G.; ALMEIDA, J. I. L.; MONTENEGRO,
A. A. T. Comportamento do Cajueiro Comum e Anão Submetido a Diferentes Tensões de Água no Solo.
Fortaleza: EMBRAPA-CNPAT, 1996a. 4 p. (EMBRAPA - CNPAT, Pesquisa em Andamento,19).
PESSOA, P.F.A. de; LEITE, L.A. de S.; PIMENTEL, C.R.M. Situação atual e perspectiva da
agroindústria do caju. In: ARAUJO. J.P. de; SILVA, V.V. da (Org.) Cajucultura: modernas técnicas de
produção. Fortaleza: EMBRAPA-CNPAT, 1995. p.23-42.
RIBEIRO, J. L et al. Recomendações técnicas para o cultivo do cajueiro-anão-precoce na Região MeioNorte do Brasil. Teresina-PI, novembro de 2008. Circular Técnica 50.
SOUZA, I. H. Avaliação do sistema de irrigação, Bubbler e do crescimento inicial do cajueiro anão
precoce, submetido a diferentes níveis de umidade no solo. Fortaleza-CE, 2001. Dissertação (Mestrado
em Agronomia) - Universidade Federal do Ceará.
Tabela 1 – Altura das plantas de cajueiro (Alt), Diâmetro abaixo do enxerto (Dab) e diâmetro do caule
acima do porta enxerto (DAC) de plantas de caju em função das lâminas de água aplicadas
Tratamentos
1
2
3
4
Alt (cm)
30.43750 a
31.18750 a
24.06250 a
17.54167 a
Dab (cm)
7.31750 a
10.07750 a
7.90563 a
4.06667 a
DAC (cm)
5.80313 a
8.51750 a
6.96813 a
3.47917 a
N. S. da Silva et al.
35
30
% ETc .
25
y = -0.0026x 2 + 0.3802x + 17.441
R2 = 0.9696
20
15
10
5
0
0
20
40
60
80
100
120
140
Altura da planta (cm)
Figura 1 – Altura das plantas de cajueiro em função do percentual da evapotranspiração da cultura reposta
pela irrigação
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Protocolo 435