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APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS
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COCO:
qual destino
dar à casca?
O crescente consumo de água de coco no país gerou
um ‘volumoso’ problema para os grandes centros
urbanos, sobrecarregando os aterros sanitários.
Cerca de 70% do lixo das praias brasileiras são
compostos de cascas de coco verde.
Mas o aproveitamento desse resíduo é uma
realidade, não só em atividades agrícolas, como
pela construção civil e pela indústria,
como a automobilística
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O
expressivo crescimento do consumo de água de coco
— considerada um isotônico natural — no país gerou um grave problema para as empresas de limpeza
urbana. A água de coco representa entre 20% e 25% do peso
total do fruto e a casca pode demorar até oito anos para se
decompor. Um copo de 250 ml de água de coco gera mais de
um quilo de lixo.
Devido ao seu grande volume, este lixo transformouse num problema para os serviços municipais de coleta,
sobrecarregando os aterros sanitários e vazadouros, favorecendo a presença de vetores transmissores de doenças, mau cheiro, e possibilidade de contaminação do
solo e da água.
O Nordeste é o principal produtor do coco distribuído
em todo o país, especialmente nos grandes centros urbanos como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte,
e nas praias das capitais da região Sul durante o verão.
Apenas na orla do Rio de Janeiro estima-se que o consumo chegue a dois milhões de cocos por mês.
Mas as pesquisas e soluções para o aproveitamento
da casca de coco estão bastante avançadas e as alternativas são muitas. Entre os projetos de pesquisa realizados pela Embrapa Agroindústria Tropical, o intitulado
“Alternativas de aproveitamento da casca de coco verde”, financiado pelo Banco do Nordeste do Brasil, estima que 70% do lixo recolhido nas praias brasileiras são
compostos de cascas de coco verde, cascas que representam até 80% do peso final do fruto.
CRISTINA BARAN
APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS
Aproveitamento da casca
A utilização da fibra de coco é uma boa alternativa não
só para ajudar a salvar o xaxim, como também para dar
destino a mais de 800 toneladas de casca de coco verde
descartadas por ano no Brasil. É do tronco da Dicksonia
sellowiana, também conhecida como samambaiaçu, que
se extrai o xaxim. Típica da Mata Atlântica, essa planta
pode chegar a 20 metros de altura e sua exploração
indiscriminada a colocou na lista oficial das espécies brasileiras ameaçadas de extinção.
A tecnologia de processamento das cascas de coco verde
desenvolvida pela engenheira química Morsyleide de
Freitas Rosa, pesquisadora da Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza/CE), em parceria com a metalúrgica
Fortalmag, transforma esse resíduo em uma nova opção
de renda para o produtor. O processamento das cascas
gera fibras e substrato. As fibras são utilizadas para a confecção de diversos produtos para uso agrícola, pela indústria e construção civil, em substituição a outras fibras
naturais e sintéticas. O pó, rico em potássio e nitrogênio, como adubo orgânico. A casca de seis cocos produz
um quilo de fibra.
Substrato agrícola e fibra bruta
Segundo Morsyleide Rosa, o pó e a fibra gerados pelo
processamento são posteriormente transformados, respectivamente, em substrato agrícola e fibra bruta. O
substrato é muito utilizado no cultivo de plantas e na horticultura avançada, pois favorece o manejo mais ade-
quado da água, evitando a umidade excessiva e favorecendo a atividade fisiológica das raízes. Utilizada há
várias décadas como um produto isolante em diversas
situações, a fibra de coco tem hoje uma diversidade de
aplicações — pelas características que apresenta — que
acompanham o aumento da demanda crescente por produtos ecologicamente corretos.
Tecida em forma de manta, é um excelente material para
ser usado em superfícies sujeitas à erosão provocada pela
ação de chuvas ou ventos, como em taludes nas margens
de rodovias e ferrovias, em áreas de reflorestamento, em
parques urbanos e em qualquer área de declive acentuado
ou de ressecamento rápido.
Alternativa ao sintético
A fibra pode ser também uma alternativa viável ao material sintético, como as fibras de vidro, podendo conferir propriedades interessantes em materiais poliméricos,
como boa rigidez dielétrica, melhor resistência ao impacto
e características de isolamento térmico e acústico.
Na indústria de embalagens existem projetos para a
utilização da fibra de coco, como carga para o PET, podendo gerar materiais plásticos com propriedades adequadas para aplicações práticas. O resultando será uma bem
vinda contribuição para a resolução de problemas ambi-
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EMBRAPA AGROINDÚSTRIA TROPICAL
EMBRAPA AGROINDÚSTRIA TROPICAL
APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS
As cascas de coco verde
podem ter aproveitamento
integral. A fibra do coco
(foto acima) é matéria
prima para confecção de
vários artefatos
Vasos de fibra de coco
entais ao reduzir o tempo de decomposição do plástico.
A indústria da borracha é receptora também de grande número de projetos envolvendo produtos ecológicos
diversos, desde a utilização da fibra do coco maduro e
verde na confecção de solados de calçados, até encostos e bancos de carros.
Devido às suas excepcionais performances acústicas,
a fibra de coco (verde e maduro) contribui para uma redução substancial dos níveis sonoros, sendo a solução
ideal para muitos dos problemas na área acústica, superando largamente os resultados obtidos com a utilização de outros materiais.
Coco na construção civil
A crise energética mundial tem motivado o desenvolvimento de pesquisas sobre o fibrocimento ou fibroconcreto devido ao fato de a fabricação de cimento exigir menor demanda de energia comparada com
a necessária à fabricação do aço ou dos plásticos. Assim, no Brasil, a utilização da fibra de coco verde na
construção civil pode criar possibilidades no avanço da
questão habitacional, através da redução do uso e do
custo de materiais, envolvendo a definição de matrizes que inter-relacionam aspectos políticos e
socioeconômicos.
Além dos usos já citados, a fibra da casca de coco
verde pode ser utilizada na confecção de vasos, placas
e bastões para o cultivo de diversas espécies vegetais.
Além de substituírem os vasos e demais utensílios de
barro, cimento e plástico, também substituem o principal subproduto extraído da samambaiaçu – o xaxim. A
confecção de artesanatos variados também representa
uma importante forma de aproveitamento da fibra da
casca de coco verde, voltados especialmente aos turistas de outros países, grandes consumidores deste tipo
de produto.
Pó de coco no cultivo agrícola
Assim como a fibra, o pó da casca de coco verde pode
ser utilizado na confecção de artesanato, compondo uma
massa moldável que também origina uma grande gama
de produtos. Esse material é amplamente utilizado em
diferentes partes do mundo como substrato para plantas. O substrato obtido a partir dos frutos maduros do
coco tem se mostrado como um dos melhores meios de
cultivo para a produção de vegetais, principalmente em
função de sua estrutura física vantajosa, que proporciona alta porosidade e alto potencial de retenção de umidade, características adequadas ao cultivo agrícola.
O pó de coco é um meio de cultivo 100% natural uti-
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APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS
Coxim
Resultados de três anos de pesquisas conduzidas pela
pesquisadora Maria Esmeralda Demattê, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) comprovam que os artefatos produzidos com a fibra do coco são uma das mais
importantes alternativas ao xaxim nativo. Conhecido popularmente como ‘coxim’, o xaxim de coco é uma mistura na qual a base é a fibra da casca do coco, misturada a
algum aglutinante. Resistente e durável, tem boa aeração
e drenagem, dispõe de nutrientes e pH adequados ao cultivo de plantas. A fibra também pode ser usada para a confecção de vasos, placas e bastões para o cultivo de diversas espécies vegetais. O substrato, por sua vez, possui
as mesmas propriedades biológicas do xaxim. Outra constatação é que o ‘coxim’ supera o xaxim em teor de fósforo, magnésio e potássio, elementos fundamentais para
o desenvolvimento das orquídeas.
Tecnologia de processamento
da casca de coco verde
TRITURAÇÃO: a máquina de trituração utiliza
facas rotativas em disco, fatiando a casca que, em
seguida, passa por marteletes fixos, responsáveis
pelo esmagamento da parte fibrosa do fruto.
PRENSAGEM: o material triturado é transportado para uma prensa rotativa horizontal, composta
por um conjunto de cinco rolos emborrachados, que
extrai o excesso de líquido do produto triturado.
Ao final da prensagem, são obtidas as cascas
desintegradas, com a umidade reduzida, e, como
efluente, o líquido da casca de coco verde (LCCV).
Análises preliminares do LCCV identificaram a presença de açúcares fermentescíveis, compostos
fenólicos, cátions (cálcio, magnésio, potássio e
sódio) e ânions (cloreto, bicarbonato e sulfato),
além de elevados valores de DQO e DBO. Tais características indicam a necessidade de tratamento
adequado para esta água residuária gerada no processo de beneficiamento da casca de coco verde.
SELEÇÃO: após a prensagem, as fibras, que correspondem a 30% do produto final, são separadas do
pó, equivalente a 70%, em uma máquina selecionadora, que utiliza marteletes fixos helicoidais e uma
chapa perfurada.
Os vasos de fibra de coco
são resistentes e duráveis,
com boa aeração
e drenagem
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COCO VERDE
lizado para germinação de sementes, propagação de
plantas em viveiros e no cultivo de flores e hortaliças.
Como o preço da turfa está cada vez mais elevado e as
extratoras de turfas foram fechadas, o pó da casca de
coco verde surge como uma alternativa que evita a aplicação de substratos que produzem impactos ambientais
negativos (turfas, areia, entre outros). As características de absorção de líquidos do pó também possibilita seu
uso em derramamentos de óleo e como cama para animais de estimação e laboratório. Comprimido, o pó se
transforma em um bricket que substitui a madeira em
fornos de pizzarias, padarias, siderúrgicas e outros.
O processo para obtenção da fibra e do pó da casca do
coco verde é feito mecanicamente, com a utilização de um
conjunto de equipamentos desenvolvidos por meio de parceria entre a Embrapa e a metalúrgica Fortalmag. A implantação de uma unidade de beneficiamento de casca de
coco verde pode assumir uma grande diversidade de formas, em razão do produto final pretendido. No caso de uma
unidade para a produção de substrato agrícola e fibra bruta, é necessário um galpão para processamento de 200 m²
e uma área de armazenamento de igual tamanho. Considerando o custo por metro quadrado de área construída de
R$ 350,00, tem-se um investimento em obra civil da ordem de R$ 140.000,00. Soma-se a este valor o investimento
em equipamentos da ordem de R$ 50.000,00. Uma unidade deste porte tem capacidade para beneficiar mais de
5.500 toneladas de cascas de coco por ano, produzindo 250
toneladas de fibra e 485 toneladas de pó. O tempo de retorno esperado para o investimento é de um ano.
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qual o destino dar à casca?