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17 mar 2015 O Globo GISELLE OUCHANA giselle.ouchana@ oglobo.com. br
Comlurb acusa grevistas de só
atuarem com metade do efetivo
TRT ordenou 75%. Cinco delegacias registraram violência contra garis
A greve dos garis, deflagrada na última sexta­feira e julgada ilegal pelo Tribunal Regional do Trabalho
(TRT), ainda afeta a paisagem carioca, e vários pontos da cidade estão com lixo acumulado. De acordo com
a Comlurb, apenas 50% do efetivo operacional de limpeza e coleta tem ido às ruas fazer o serviço. O
número é inferior aos 75% determinados pelo TRT — em caso de desobediência, o Sindicato de Asseio e
Conservação pode ser multado em R$ 100 mil por dia. Representantes dos trabalhadores, no entanto,
afirmam que estão cumprindo a ordem da Justiça.
HUDSON PONTES
Efeito da greve. Pilha de lixo na Praça Vereador Rocha Leão, no Bairro Peixoto (Copacabana):
cena comum na cidade
— Se compararmos os quatro dias de greve deste ano com os quatro dias de greve do ano passado, as
ruas estão bem mais limpas. Isso indica que estamos respeitando a determinação da Justiça. A greve da
categoria está dentro da lei — afirma o presidente do sindicato, Luciano David de Araújo.
Apesar da declaração, à tarde, os grevistas começaram a planejar piquetes na Zona Sul, onde
consideram que a coleta não foi tão afetada.
DELEGACIA INVESTIGA AMEAÇAS
Segundo a Comlurb, desde que a greve foi deflagrada, piqueteiros têm impedido o trabalho de parte
dos garis, inclusive com violência e ameaças, para evitar a entrada de funcionários nas gerências ou fazer
os caminhões retornarem às garagens. Casos de violência contra garis que não aderiram à greve já foram
registrados em pelo menos cinco delegacias: 29ª DP (Madureira), 24ª DP (Piedade), 27ª ( Vicente de
Carvalho), 35ª DP (Campo Grande) e 36ª DP (Santa Cruz).
Além disso, a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática ( DRCI) investiga, nas redes sociais, o
planejamento de ataques. Nos perfis de alguns grevistas na internet, é possível encontrar mensagens de
incitação à violência. Numa postagem feita no sábado, por exemplo, um homem identificado como
Valdecir Gonçalves cita garis que trabalhavam no Recreio dos Bandeirantes: “Rapaziada, os garis do
Recreio tá (sic) trabalhando, pau neles! Porque nós ganhando eles ganham também”.
Para evitar novos ataques, garis e funcionários da Secretaria de Conservação e de empresas privadas
contratadas em caráter de emergência pela prefeitura estão sendo escoltados por guardas municipais, PMs
e seguranças particulares. Há funcionários da Comlurb que estão trabalhando sem uniforme.
Ontem de manhã, cerca de 80 garis fizeram uma manifestação no Centro. Eles foram para a sede do
Ministério Público do Trabalho ( MPT), na Avenida Churchill, onde participaram de uma reunião para tentar
um acordo coletivo. Eles foram recebidos pela procuradora Débora Félix, que apresentou uma proposta de
suspensão da greve até amanhã, quando haverá nova audiência no TRT, às 14h30m. Os funcionários
rejeitaram a proposta e decidiram manter o movimento.
Os trabalhadores — que reivindicam um aumento de 40%, mais a reposição da inflação — tinham a
expectativa de que haveria um representante da Comlurb, para apresentar uma contraproposta de
reajuste salarial. No entanto, a companhia não enviou ninguém. De acordo com a assessoria da Comlurb,
nenhuma reunião foi marcada oficialmente. Na sexta­feira, numa audiência, ficou acordado que haveria
um encontro ontem caso a greve fosse suspensa.
PIQUETES NA ZONA SUL
Após a reunião no MP, sindicalistas discutiram a realização de piquetes na Zona Sul. Embora a coleta
esteja melhor na região, ela está longe de ser satisfatória. Na Praça São Salvador, em Laranjeiras, por
exemplo, a comerciante Eliane Souza, de 37 anos, que trabalha na área há oito, decidiu ela própria botar
a mão na massa e limpar a sujeira do local.
— Não dá para trabalhar em ambiente sujo. Trouxe a vassoura para limpar o que der. Espero que essa
greve acabe logo — disse.
A moradora Alba Palissy, de 81 anos, também não gostou do que viu. Acostumada a se sentar num
banco da praça para tomar banho de sol de manhã, ela ficou incomodada com a sujeira espalhada e com o
mau cheiro:
— A praça está com uma aparência horrível. É até perigoso para quem frequenta o lugar, pois a
quantidade de garrafas e cacos de vidro é enorme.
Na Zona Norte, os bairros de Madureira e Piedade são os mais afetados, segundo a Comlurb. Quem
vive na região sofre com a falta de coleta domiciliar há quatro dias. Alguns moradores decidiram pagar a
motoristas particulares de caminhão para evitar o acúmulo de lixo nas calçadas. Morador da Rua Pirapora,
em Madureira, Humberto Soares, de 83 anos, disse dar R$ 20 a um caminhoneiro para recolher a sujeira
do lugar:
— Não tem outro jeito. Guardar lixo é impossível.
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