PREVENÇÃO
DE LESÕES
NO DESPORTO
LUÍS HORTA
TÍTULO: Prevenção de Lesões no Desporto
AUTOR: Luís Horta
© 2010, Luís Horta e Texto Editores
REVISÃO: Texto Editores
CAPA: Ideias com Peso
IMAGEM DA CAPA: Tobias Titz/GettyImages
PAGINAÇÃO: Júlio Matias
ISBN: 978-972-47-4294-6
Reservados todos os direitos.
Texto Editores, Lda.
[Uma editora do grupo Leya]
Rua Cidade de Córdova, n.o 2
2610-038 Alfragide – Portugal
www.textoeditores.com
www.leya.com
ÍNDICE
Prefácio
19
Colaboradores deste livro
21
Introdução
25
1. Elaboração de um programa
de prevenção de lesões – os factores
de risco e os cuidados preventivos
27
1.1 Introdução 27
1.2 Avaliação dos factores de risco
de lesão desportiva 28
1.2.1 Factores intrínsecos 28
1.2.2 Factores extrínsecos 33
1.2.3 Factores de risco relacionados com a actividade específica 38
1.3 Cuidados preventivos 40
1.3.1 Prevenção primária 40
1.3.2 Prevenção secundária 41
1.3.3 Prevenção terciária 41
1.4 Cuidados preventivos primários 41
1.4.1 Medidas gerais 41
1.4.2 Medidas preventivas gerais relativas aos factores extrínsecos 46
1.4.3 Medidas preventivas relacionadas
com a actividade específica
52
1.5 Custos e prioridades de acção 58
1.6 Acções de divulgação dos cuidados preventivos 58
1.6.1 Junto de treinadores e monitores 58
1.6.2 Junto do pessoal médico e paramédico 59
1.6.3 Junto de dirigentes 59
1.6.4 Junto dos atletas 59
1.7 Elaboração de dados estatísticos 60
1.7.1 Realização de inquéritos 60
1.7.2 Outras fontes de investigação 60
61
1.8 Conclusão 61
1.7.3 Avaliação de resultados
2. A importância do exame
de avaliação médico-desportiva
63
3. O gesto desportivo como causa
de lesão
69
4. Biomecânica segmentar
na traumatologia do futebol
79
5. A composição corporal ideal
– as primeiras tabelas portuguesas
97
5.1 Introdução e objectivos 97
5.1.1 Estudo realizado em desportistas adultos 100
5.2 Resultados 104
5.3 Discussão e conclusões 122
5.3.1 Estudo realizado em jovens futebolistas 128
5.4 Resultados 131
5.5 Discussão e conclusões 135
6. A utilidade do índice de massa
corporal nos desportistas
141
6.1 Introdução e objectivos
6.2 População e métodos
6.3 Resultados
6.4 Discussão e conclusões
142
142
146
147
7. A importância da nutrição
e do controlo da composição corporal
no rendimento competitivo de uma
equipa de remo
151
7.1 Introdução
7.2 Material e métodos
7.3 Resultados
7.4 Discussões e conclusões
151
153
155
157
8. A lesão – modelo psicológico
da causalidade
159
8.1 Introdução 159
8.2 Qual a importância dos factores psicológicos
e sociais na génese da lesão desportiva 160
8.3 Os elementos do modelo um a um 164
8.3.1 Avaliação cognitiva 164
8.3.2 Aspectos fisiológicos e atencionais 164
8.3.3 Tipos de intervenção 168
8.4 A lesão desportiva 169
8.4.1 A valorização da lesão pelos atletas 169
8.4.2 Os ganhos secundários da lesão 170
8.4.3 A lesão na génese de alterações psicológicas 170
8.4.4 O sintoma dor 170
8.5 Existirá uma relação entre traços
da personalidade e a lesão desportiva? 171
8.6 Qual a importância dos factores psicológicos
na recuperação do atleta lesionado 173
8.7 Conclusão 175
9. A higiene dentária
e a prevenção de lesões
177
9.1 Fisiopatologia da cárie dentária 179
9.2 Cuidados preventivos 181
9.2.1 Cuidados alimentares 181
9.2.2 Cuidados de limpeza dentária 181
9.2.3 Utilização do flúor 182
9.2.4 Observação pelo estomatologista 182
9.2.5 Divulgação dos sinais e sintomas da cárie dentária 182
10. Lesões desportivas e estados
de fadiga – sua causalidade nutricional
185
10.1 A nutrição e a fadiga 186
186
10.1.1 Défice de glicogénio muscular
10.2.8 Défice de glicogénio muscular
188
189
191
194
194
194
194
198
198
200
200
201
11. Nutrição versus dopagem
no fortalecimento da massa muscular
203
10.1.2 Défice de ferro, vitamina B 12 e ácido fólico
10.1.3 Hipoglicemia
10.1.4 Défice de hidratação
10.2 A nutrição e as lesões desportivas
10.2.1 Défice de hidratação
10.2.2 Hipoglicemia
10.2.3 Défice de antioxidantes exógenos
10.2.4 Excesso de açúcares simples
10.2.5 Excesso de peso
10.2.6 Hiperuricemia
10.2.7 Défice de cálcio e magnésio
11.1 Introdução 203
11.2 Os agentes anabolisantes 204
11.2.1 Efeitos sobre a reprodução 206
11.2.2 Efeitos virilizantes e feminilizantes 206
11.2.3 Efeitos a nível do crescimento e no peso corporal 207
11.2.4 Efeitos hepáticos 207
11.2.5 Efeitos no metabolismo glucídico 207
11.2.6 Efeitos no metabolismo lipídico 207
11.2.7 Efeitos cardiovasculares 208
11.2.8 Efeitos músculo-tendinosos 208
11.2.9 Efeitos prostáticos 208
11.2.10 Efeitos psíquicos 208
11.2.11 Interacções medicamentosas 208
11.3 A alternativa alimentar 211
11.3.1 A síntese proteica a nível muscular 211
11.3.2 Treino específico 212
11.3.3 Ingestão proteica 213
11.3.4 Fonte energética da síntese proteica 215
11.3.5 Adequado enquadramento hormonal 216
11.3.6 Estratégia nutricional para uma eficaz síntese proteica
a nível muscular
11.3.7 Suplementos proteicos
218
220
11.4 Medidas a tomar para a obtenção de um
fortalecimento muscular eficaz e sem
malefícios orgânicos 220
12. Substâncias dopantes
– seus malefícios orgânicos
223
12.1 A definição de dopagem 223
12.1.1 Substâncias e métodos proibidos em competição
e fora de competição
12.1.2 Substâncias e métodos proibidos em competição
225
225
12.1.3 Substâncias proibidas em alguns desportos
em particular
225
12.2 As três vertentes da luta contra a dopagem
no desporto 226
12.2.1 A vertente do controlo antidopagem 227
12.2.2 A vertente investigacional 228
12.2.3 A vertente educacional 229
12.3 As substâncias dopantes e os seus
malefícios orgânicos 229
12.3.1 Agentes anabolisantes 229
12.3.2 Hormonas peptídicas, factores de crescimento
e substâncias relacionadas
12.3.3 Beta-2 agonistas
12.3.4 Antagonistas hoormonais e moduladores
12.3.5 Diuréticos e outros agentes mascarantes
12.3.6 Estimulantes
12.3.7 Narcóticos
12.3.8 Canabinóides
12.3.9 Glucocorticosteróides
12.3.10 Beta-bloqueantes
12.3.11 Métodos de incremento do transporte de oxigénio
12.3.12 Manipulação química e física
12.3.13 Dopagem genética
12.3.14 Procedimentos do controlo antidopagem
229
232
232
233
233
236
236
237
238
238
239
240
241
13. Meios e métodos de recuperação
na actividade desportiva
247
249
251
252
254
13.4.1 Após uma competição 254
13.4.2 Após um treino de qualidade 257
13.1 Cuidados no planeamento do treino
13.2 Importância do repouso
13.3 Os factores psíquicos
13.4 Os cuidados nutricionais
13.4.3 Durante competições por etapas ou disputadas
por eliminatórias durante dias seguidos
258
13.5 Fármacos e suplementos nutricionais 259
13.6 Cuidados do foro da Medicina Física
e de Reabilitação 260
13.6.1 Trabalho muscular activo 260
13.6.2 Estiramentos musculares 261
13.6.3 Calor húmido 262
13.6.4 Hidrocinesiterapia 263
13.6.5 Sauna 266
13.6.6 Crioterapia 266
13.6.7 Pressão positiva intermitente 267
13.6.8 Exercícios visando o incremento da tolerância à fadiga 268
13.6.9 Massagem manual 268
13.7 Conclusão 270
14. Ligaduras funcionais
na actividade desportiva
271
14.1 Material elástico versus intextensível
14.2 Preparação da pele
14.3 Escolha da posição articular
14.4 Ligadura funcional confortável
14.5 Duração
14.6 Inexistência de receitas padronizadas
14.7 Nas roturas musculares
14.8 Na tendinite rotuliana
14.9 Na síndroma de Osgood-Schlatter
279
279
279
280
280
280
280
281
282
14.10 Na tendinite aquiliana 282
14.11 Na entorse da tíbiotársica 283
15. As lesões desportivas
– o papel do treinador e do atleta
na prevenção secundária e terciária
287
15.1 As lesões desportivas 288
15.2 Lesões macro e microtraumáticas 288
15.3 Definição, fisiopatologia e primeiros socorros
nos principais tipos de lesões desportivas 290
15.3.1 Feridas cutâneas 290
15.3.2 Hematomas subcutâneos ou musculares 292
15.3.3 Contractura muscular 297
15.3.4 Rotura muscular 297
15.3.5 Cãibra muscular 299
15.3.6 Fracturas ósseas 299
15.3.7 Luxação articular 301
15.3.8 Entorse articular 302
15.3.9 Lesões inflamatórias de sobrecarga 302
15.3.10 Hemorragias 304
15.3.11 Flictenas 305
15.3.12 Desidratação 306
15.3.13 Traumatismos cranianos e vértebro-medulares 308
15.3.14 Perdas de consciência 310
16. A relação médico-atleta-treinador
nas lesões desportivas
317
17. O papel do dirigente desportivo
na prevenção de lesões
321
17.1 Avaliação de contra-indicações médicas
17.2 Idade e sexo
17.3 Condição física e domínio da tarefa
17.4 Morfotipo e composição corporal
17.5 Factores psicológicos e sociológicos
322
322
323
324
324
17.6 Condições atmosféricas
17.7 Equipamento
17.8 Local de treino e instalações desportivas
17.9 Planeamento do treino
17.10 Higiene física
325
326
327
327
328
18. As lesões típicas do jovem
desportista
333
19. Prevenção de lesões no andebol
343
19.1 Factores intrínsecos 344
344
19.1.2 Idade e sexo 345
19.1.3 Condição física e domínio da tarefa 345
19.1.4 Morfotipo 345
19.1.5 Factores psicológicos e sociológicos 346
19.2 Factores extrínsecos 346
19.2.1 Condições atmosféricas 346
19.2.2 Equipamento pessoal e instalações desportivas 346
19.3 Aspectos particulares 347
19.1.1 Contra-indicações médicas para a prática desportiva
20. Prevenção de lesões
no basquetebol
349
20.1 Levantamento estatístico da situação 350
20.2 Mecanismos das lesões mais frequentes 351
20.3 Selecção e controlo médico 352
20.3.1 Exame médico de base 352
20.3.2 Controlo do treino 353
20.4 Factores do treino 353
20.4.1 Condição atlética 353
20.4.2 Domínio das técnicas de execução 354
20.4.3 Preparação psicológica 354
20.4.4 Preparação pré-treino e competição 355
20.4.17 O papel dos técnicos
355
356
357
357
357
358
358
359
359
360
361
361
362
21. Prevenção de lesões no futebol
363
21.1 Condicionalismos de ordem médica
21.2 Idade e sexo
21.3 Morfotipo e composição corporal
21.4 Factores psicológicos
21.5 Condições atmosféricas
21.6 Local de treino e instalaçoes desportivas
21.7 O equipamento
21.8 Planeamento da época desportiva
364
368
368
368
373
374
374
374
20.4.5 Protecções preventivas
20.4.6 Equipamento individual
20.4.7 Normas higiénicas e preventivas
20.4.8 Alimentação
20.4.9 Hidratação
20.4.10 Sono
20.4.11 Dopagem
20.4.12 Sexualidade
20.4.13 As deslocações da equipa
20.4.14 Recinto de jogo
20.4.15 O equipamento técnico
20.4.16 Instalações de apoio
22. Prevenção de lesões
na ginástica desportiva
22.1 Características da modalidade
22.2 A lesão e a ginástica desportiva
22.2.1 Cabeça
22.2.2 Membro superior
22.2.3 Coluna vertebral
22.2.4 Membro inferior
22.3 Prevenção de lesões na ginástica desportiva
22.3.1 Medidas relacionadas com aspectos médicos
22.3.2 Medidas relacionadas com o treino
377
377
380
382
382
383
384
385
385
387
22.3.3 Medidas relacionadas com o material desportivo
387
23. Prevenção de lesões
no hóquei em patins
389
23.1 Avaliação dos factores de risco intrínsecos 390
23.1.1 Avaliação de contra-indicações médicas 390
23.1.2 Idade e sexo 390
23.1.3 Condição física e domínio da tarefa 391
23.1.4 Morfotipo e composição corporal 391
23.1.5 Factores psicológicos e sociológicos 391
23.2 Avaliação dos factores extrínsecos 391
23.2.1 Condições atmosféricas 391
23.2.2 Instalações desportivas 392
23.2.3 Equipamento 392
23.3 As lesões mais frequentes no hóquei em patins 394
23.3.1 Feridas e contusões 345
23.3.2 Patologia muscular 345
23.3.3 Fracturas 345
23.3.4 Patologia articular 345
23.3.5 Patologia tendinosa 345
24. Prevenção de lesões no judo
397
24.1 Introdução 397
24.2 Factores intrínsecos 398
24.2.1 Contra-indicações médicas para a prática do Judo 398
24.2.2 Idade e sexo 399
24.2.3 Condição física e domínio da tarefa 400
24.2.4 Morfotipo e composição corporal 401
24.2.5 Factores psicológicos e sociológicos 401
24.3 Factores extrínsecos 402
24.3.1 Condições atmosféricas 402
24.3.2 Equipamento pessoal 402
24.3.3 Local de treino e instalações desportivas 402
24.3.4 Regras de competição 403
24.3.5 Planeamento do treino 404
404
24.4 Lesões específicas da modalidade 406
24.3.6 Higiene física
25. Prevenção de lesões na natação
413
25.1 Breve caracterização da modalidade 414
25.2 Características sumárias das diferentes
técnicas de nado 414
25.2.1 Generalidades 414
25.3 Tipos de lesões 416
25.4 Ombro 416
25.4.1 Factores etiológicos 417
25.4.2 Abordagem clínica 421
25.4.3 Programa de prevenção 422
25.5 Joelho 424
25.5.1 Programa de prevenção 427
25.6 Coluna vertebral 428
25.6.1 Programa de prevenção 429
25.7 Lesões cutâneas 429
25.7.1 Dermites 429
25.7.2 Micoses 430
25.7.3 Prevenção 431
25.8 Alterações otorrinolaringológicas 431
25.8.1 Otite externa 431
25.8.2 Otite média 432
25.8.3 Patologia nasal e dos seios perinasais 432
25.9 Alterações oculares 433
25.10 Conclusão 433
26. Prevenções de lesões no voleibol
435
26.1 Introdução 436
26.2 Factores instrínsecos 437
26.2.1 Avaliação de contra-indicação médica 437
26.2.2 Idade e sexo 438
26.2.3 Condição física e domínio da tarefa 439
26.2.4 Morfotipo e composição corporal 440
26.2.5 Factores psicológicos e sociológicos 441
Prevenção de Lesões no Desporto
26.3 Factores extrínsecos 442
26.3.1 Condições atmosféricas 442
26.3.2 Equipamento pessoal 442
26.3.3 Local de treino e instalações desportivas 443
26.3.4 Planeamento do treino 444
26.3.5 Higiene física 444
26.3.6 Aspectos relacionados com a actividade específica 445
18
Glossário
447
Referências bibliográficas
467
Capítulo 18
Prefácio
O fenómeno desportivo conjuga diversas exigências e condições decorrentes
do exercício físico, com características socioculturais inerentes ao meio circundante.
A actividade física manifesta um conjunto de capacidades psicomotoras e
desempenhos metabólicos, adquiridos durante o desenvolvimento, mas potencialmente moduláveis com a organização e sistematização progressiva de um
processo de treino.
As solicitações impostas no decorrer do gesto desportivo determinam alterações funcionais em diferentes sistemas orgânicos, independentes da idade do
praticante e que genericamente aumentam a eficiência dos mesmos; são particularmente referidas as áreas cardiovascular, respiratória, endócrina, psicológica
e estruturas locomotoras.
A dinâmica estabelecida entre os benefícios e a função social do desporto
determina um número crescente de praticantes com níveis e objectivos diversos, definindo para além da competição um conceito de qualidade de vida.
O tema agora proposto desenvolve o conceito de lesão desportiva numa
dimensão multidisciplinar, encontrando nos domínios da prevenção motivações
e objectivos dirigidos. A preocupação acrescida com a prevenção lesional perspectiva novos horizontes terapêuticos que, sem menosprezar a atitude curativa,
dinamiza uma dimensão compreensiva do acto médico.
O presente texto foi em nosso entender organizado em cinco grandes vertentes, referências objectivamente a considerar na prevenção lesional em
medicina do desporto; referimo-nos assim ao exame médico desportivo (necessariamente rigoroso e metódico, funcionando como a base de suporte à restante
estrutura preventiva), à biomecânica segmentar e à elaboração do gesto
desportivo (particularmente importante nas patologias microtraumáticas de
hiperutilização e na reeducação funcional), à composição corporal e condições
endócrinas (onde a manipulação das variáveis metabólicas reformula os limites do exercício físico), à organização técnica e aos agentes desportivos (necessariamente protagonistas não negligenciáveis num conjunto de interesses
interactivos com a actividade física) e a prevenção em patologias específicas
(com particularidades próprias e solicitações características que conduzem a
um inevitável potencial lesional).
O presente texto perspectiva, como objecto, contributos exemplares nas
áreas da investigação médica, quer de teor clínico quer laboratorial, na formação médica universitária, particularmente pós-graduada, e ainda como informação dirigida aos agentes desportivos e ao grande público consumidor de
exercício físico.
As insuficiências formativas no domínio universitário relativamente à
medicina do desporto têm sido progressivamente ultrapassadas, fruto de um
esforço conjunto de todos os interessados, num trilho difícil onde as expectativas são muitas e as potencialidades quase inesgotáveis.
As qualidades humanas e o rigor científico do Doutor Luís Horta permitiram-lhe elaborar esta obra, Prevenção de Lesões no Desporto, que é sem
dúvida texto de leitura obrigatória e reflexão; ao rodear-se de colaboradores
credenciados nos diferentes temas abordados, interpretou o autor os benefícios
do saber compartilhado que transmite à obra uma notável dimensão multidisciplinar.
As últimas palavras são naturalmente dirigidas ao autor, vocábulos de
felicitações pelo trabalho produzido e de incentivo para novas realizações.
João Páscoa Pinheiro
Capítulo 18
Colaboradores deste livro
DR. ANTÓNIO SOUSA FERNANDES
Especialista em Medicina Física e de Reabilitação. Curso de pós-graduação em Medicina Desportiva.
DR. FERNANDO CRUZ
Especialista em Ortopedia e Traumatologia. Curso de pós-graduação em Medicina Desportiva. Ex-médico da Federação Portuguesa de Judo.
DR. FRANCISCO SAMPAIO
Especialista em Medicina Física e de Reabilitação. Curso de pós-gradução em Medicina Desportiva. Assistente da FML.
PROFESSOR DOUTOR GOMES PEREIRA
Doutorado em Ciências do Desporto pela FMH. Especialista em
Medicina Desportiva. Curso de pós-graduação em Medicina
Desportiva. Ex-médico da Federação Portuguesa de Natação. Ex-atleta olímpico na natação. Responsável pelo Depar tamento
Médico de Futebol do Sporting Clube de Portugal
DR.A ISABEL FERREIRA
Especialista em Medicina Desportiva. Assistente de Clínica Geral.
Curso de pós-graduação em Medicina Desportiva. Médica da
Federação Portuguesa de Basquetebol (Selecção Feminina).
MESTRE JORGE ESPÍRITO SANTO
Major médico do Exército português. Especialista em Medicina
Desportiva e em Reumatologia. Mestre em Medicina Desportiva
pela FML.
DR. JOSÉ CUSTÓDIO
Especialista em Medicina Física e de Reabilitação. Curso de pós-graduação em Medicina Desportiva. Médico da Associação de
Atletismo de Lisboa.
DR. LEVY AIRES
Especialista em Medicina Física e de Reabilitação. Curso de pósgraduação em Medicina Desportiva. Ex-fisiatra do Departamento
Médico de Futebol do Sport Lisboa e Benfica.
DR.A LURDES MATOS
Especialista em Endocrinologia e Nutrição. Curso de pós-graduação em Medicina Desportiva.
DR. NELSON PUGA
Especialista em Medicina Desportiva. Médico do Centro
Nacional de Medicina Desportiva. Curso de pós-graduação em
Medicina Desportiva. Médico da Federação Portuguesa de
Voleibol. Membro do Departamento Médico de Futebol do
Futebol Clube do Porto.
DR. PEREIRA DE CASTRO
Capitão-tenente médico da Marinha portuguesa. Especialista em
Ortopedia e Traumatologia e em Medicina Desportiva. Ex-médico
da Federação Portuguesa de Andebol. Membro do Departamento
Médico de Futebol do Sporting Clube de Portugal.
DR. RENATO GRAÇA
Consultor de Clínica Geral. Especialista em Medicina Desportiva.
Médico do Centro Nacional de Medicina Desportiva. Ex-médico
da Federação Portuguesa de Patinagem.
MESTRE RUI MILLER
Especialista em Medicina Desportiva e assistente de Clínica Geral.
Curso de pós-graduação em Medicina Desportiva. Mestre em
Medicina Desportiva pela FML. Médico do Clube de Futebol Os
Belenenses.
PROFESSOR DOUTOR THEMUDO BARATA
Especialista em Medicina Interna e em Medicina Desportiva.
Mestre em Medicina Desportiva pela FML. Doutorado em
Medicina pela FML. Docente da Faculdade de Medicina da
Universidade da Beira Interior.
PROFESSOR DOUTOR JOÃO PÁSCOA PINHEIRO
Autor do prefácio a este livro. Doutorado em Medicina Física e
de Reabilitação pela Faculdade de Medicina da Universidade de
Coimbra. Professor de Anatomia do Curso de Ciências do
Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra.
Docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Assistente Hospitalar de Medicina Física e de Reabilitação.
Ex-médico do Centro de Medicina Desportiva de Coimbra –
consulta de Traumatologia do Desporto.
Capítulo 1
Introdução
A prevenção é uma palavra-chave no panorama desportivo actual.
A actividade desportiva pode ser utilizada com o objectivo de prevenir a ocorrência de determinadas doenças, como por exemplo, as
cardiovasculares, mas pode conduzir ao aparecimento de malefícios a
nível do organismo de quem a pratica, se não forem tomados determinados cuidados na sua execução.
Torna-se fundamental que todos os agentes ligados ao fenómeno
desportivo colaborem num esforço inter e multidisciplinar, para que
a actividade desportiva seja realizada de forma a que um dos seus
principais objectivos seja alcançado – o bem-estar físico, psíquico e
social dos desportistas.
A incidência de lesões na actividade desportiva tem aumentado
nos últimos anos devido às grandes exigências físicas e psíquicas que
essa actividade pressupõe. A prevenção de lesões é assim um tema
fundamental na formação de todos os técnicos ligados ao fenómeno
desportivo, assim como de todos os atletas. Prevenção de Lesões no
Desporto será um livro fundamental na formação de todos os técnicos
desportivos, de forma a que treinadores, médicos, fisioterapeutas,
psicólogos, sociólogos, nutricionistas, dirigentes e os próprios
atletas possam conceber programas pluridisciplinares de prevenção
de lesões. Como poderá um dirigente sem formação na área preventiva perceber a utilidade de um programa de prevenção de lesões? Se
o dirigente não tiver essa formação, poderá não facilitar a implementação do referido programa concebido por um médico ou treinador no seu clube. Por outro lado, os curricula pré-graduados das
nossas Faculdades de Medicina não contemplam a área do exercício
físico, em nenhuma das suas vertentes. Do mesmo modo, a grande
maioria das nossas Faculdades de Educação Física e Desporto esquecem no seu curriculum pré-graduado áreas tão importantes como a
nutrição, a prevenção de lesões, a traumatologia desportiva, a problemática do doping e os métodos e meios de recuperação da fadiga. Se
não existirem estas áreas de formação nas nossas faculdades, é natural
que um médico tenha dificuldade em perceber a importância de um
gesto desportivo incorrecto na génese de uma lesão desportiva ou
que um profissional de educação física perceba a utilidade de um
programa de prevenção de lesões, por exemplo.
Procurámos reunir, neste livro, uma série de artigos da nossa autoria, que publicámos nos últimos anos em algumas revistas científicas,
com outros, inéditos, concebidos para este livro.
Os artigos de nossa autoria tentam transmitir a experiência da
nossa vivência na actividade desportiva, enquanto atleta de alta competição e médico. Para a realização de alguns artigos convidámos
médicos com larga experiência em algumas modalidades desportivas
específicas.
Pensamos que este livro virá preencher uma lacuna existente no
panorama literário português, contribuindo para a formação de
todos os agentes ligados ao fenómeno desportivo.
BOA LEITURA!
Prevenção de Lesões no Desporto
Luís Horta
26
Capítulo 1
Elaboração de um programa
de prevenção de lesões
— os factores de risco
e os cuidados preventivos
Luís Horta; José Custódio
Resumo
Os autores tentaram conceber neste artigo uma proposta de um programa de prevenção de lesões no atletismo, modalidade à qual têm
estado ligados desde há muitos anos, não só como praticantes mas também como médicos.
Abordam os diferentes factores de risco lesionais, intrínsecos e extrínsecos, assim como os cuidados preventivos a implementar por uma equipa
multi e interdisciplinar envolvendo diversos agentes ligados ao fenómeno
desportivo.
A estrutura deste programa poderá servir de base para a construção
de programas semelhantes noutras modalidades.
1.1 Introdução
Os autores, praticantes de atletismo desde há vários anos, conhece dores de como pode ser nefasto para a performance e para o
planeamento de treino a curto e longo prazos, a ocorrência de
lesões, propuseram sistematizar os factores etiológicos das mesmas e
a respectiva prevenção. Assim, a elaboração deste Programa
de Prevenção de Lesões tem como objectivo fornecer de uma
forma sucinta e acessível material de apoio a atletas e treinadores
no intuito de minorar a ocorrência de lesões durante a prática
desportiva.
Consideramos que a aplicação prática deste programa seria muito
importante na evolução do atletismo no nosso país. Pensamos ainda
tratar-se de um bom investimento em termos económicos, já que é
actualmente aceite que os gastos na prevenção são altamente rendíveis a longo prazo.
Ao longo deste trabalho o atletismo como desporto de lazer não
foi abordado, embora consideremos premente a sua estruturação no
nosso país, devido à sua ampla divulgação.
1.2 Avaliação dos factores de risco de lesão desportiva
Para facilitar o estudo desta problemática sistematizámos os factores de risco envolvidos, subdividindo-os em três grupos principais:
Factores intrínsecos
• Avaliação de contra-indicações médicas
• Idade e sexo
• Condição física e domínio da tarefa
• Morfotipo e composição corporal
• Factores psicológicos e sociológicos
Factores extrínsecos
Prevenção de Lesões no Desporto
• Condições atmosféricas
• Equipamento
• Planeamento de treino
• Local de treino e instalações desportivas
• Higiene física
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Factores de risco relacionados com a actividade específica
Passamos de seguida a fazer uma análise pormenorizada destes
factores:
1.2.1 Factores intrínsecos
a) Avaliação de contra-indicações médicas
Determinadas situações patológicas são logo à partida contra-indicações absolutas para o desporto de competição, na medida em
que o atleta corre o risco de agravamento do quadro clínico. São
aqui englobadas múltiplas doenças de vários órgãos e sistemas (cardíacas, pulmonares, renais, do sistema nervoso, etc.) A existência de
hipertensão arterial poderá ser uma causa de inaptidão, principalmente quando associada a outros fac tores de risco de doença
cardiovascular, principalmente quando a actividade desportiva que o
atleta deseje praticar envolva actividade física intensa ou emoções
intensas.
Por outro lado, é sabido que determinadas alterações orgânicas,
congénitas ou adquiridas, têm um papel fundamental na predisposição para algumas lesões desportivas. Tomemos, por exemplo,
a existência de uma espondilolistesis, que à partida contra-indica a
prática de determinadas modalidades de competição, como os lançamentos, pela grande solicitação a que está sujeita a charneira
lombo-sagrada durante a execução dos mesmos. Em relação às contra-indicações relativas, por exemplo, um indivíduo com uma dismetria acentuada dos membros inferiores (existên cia de membro
inferior mais comprido que o outro), não deverá realizar corrida,
por esta condicionar uma maior incidência de lesões músculo-esqueléticas dos membros inferiores e do tronco. Entre outras situações que estão inseridas neste grupo consideramos, a título de
exemplo, o pé plano valgo, o pé cavo, o joelho valgo e varo, escolioses, etc.
b) Idade e sexo
Estudos efectuados nos últimos anos revelaram que os iniciados
em determinado desporto, aos quais são pedidos altos níveis de execução em actividades complexas, estão mais sujeitos a lesão. Ainda
que no atletismo não se inicie habitualmente a prática desportiva
antes dos 13 a 14 anos, verificamos que naqueles que a iniciam mais
precocemente e aos quais é exigido um elevado nível de rendimento
existe uma maior incidência de lesões osteomusculares. Os macro e
microtraumatismos de repetição ao nível de um osso em fase de
crescimento parecem ser os responsáveis por esta maior incidência,
favorecendo o aparecimento de lesões típicas como a doença de
Osgood-Schlatter e a doença de Sever em corredores e saltadores e
de fracturas-descolamentos epifisários nos lançadores.
Os atletas mais idosos, por seu lado, estão mais sujeitos a lesões
degenerativas articulares e lesões tendinosas, motivadas pela acção
micro-traumática repetitiva inevitável durante o treino desportivo.
Por outro lado, temos que considerar que a força muscular e a
elasticidade dos ligamentos articulares e tendões declinam a partir
Elaboração de um programa de prevenção de lesões
29
dos 30 anos e que a solidez das estruturas ósseas diminui após os
50 anos.
Quanto ao sexo, o risco de lesão é semelhante em ambos os sexos
até aos doze anos, sendo a partir dessa altura mais elevado para o
sexo masculino. O grupo dos 10 aos 15 anos é o de maior risco no
sexo feminino e o dos 15 aos 30 anos no sexo masculino. A diferente composição corporal da mulher está na base de diferentes incidências de lesões específicas relativamente ao homem. Assim sendo, a
menor massa muscular no sexo feminino favorece uma maior incidência de lesões osteo-articulares por menor suporte muscular a
nível articular. Por outro lado, determinadas diferenças anatómicas
entre o homem e a mulher, como por exemplo uma maior largura
da bacia condicionando um joelho valgo fisiológico no sexo feminino, predispõem para lesões dos membros inferiores, tais como lesões
meniscais e ligamentares a nível do joelho, subluxações da rótula e
lesões musculares dos isquiotibiais.
Prevenção de Lesões no Desporto
c) Condição física e domínio da tarefa
30
Referimos nesta alínea a necessidade de um domínio corporal
mínimo para uma correcta aprendizagem técnica. Na aprendizagem
de um movimento mais ou menos complexo, se o desportista não
tiver uma boa capacidade muscular aliada a uma correcta flexibilidade e a uma eficiente coordenação neuromuscular está em maior
risco de se lesionar.
Assim, as lesões originadas por macro ou microtraumatismos
ocor rem mais frequentemente em atletas com má condição física.
Além disso, sem as características atrás referidas, qualquer integração
de um novo movimento será mais demorada. Os atletas após períodos de inactividade por doença ou férias, são mais vulneráveis a
lesões desportivas já que qualquer período de paragem conduz
a uma diminuição da condição física, com as inerentes diminuições
da força muscular, da capacidade de transporte de oxigénio e do
metabolismo oxidativo celular, bem como da integração do movimento a nível do Sistema Nervoso Central.
O domínio da tarefa, muitas vezes descurado no treino, é fundamental para uma boa execução do movimento segmentar ou global
levando assim a uma menor incidência de lesões. Ao contrário do
que geralmente se faz no nosso país, a aprendizagem motora deverá
ser o objectivo principal nos primeiros anos de qualquer actividade
desportiva, particularmente nas disciplinas técnicas – lançamentos,
saltos, barreiras, etc. Esta deve ocorrer preferencialmente entre os 8 e
os 14 anos. Qualidades físicas como a força só devem ser trabalhadas
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