II JEPEX - JORNADA DE ENSINO PESQUISA E EXTENSAO UFPE-CAA
Educação, Cultura e Tecnologia: direito de todos
Universidade Federal de Pernambuco, Design
Pôster
INTRODUZINDO O DESENHO TIPOGRÁFICO NO AGRESTE
Prof. Me. Leonardo A. Costa – Buggy, [email protected]
RESUMO
Justificativa
O design brasileiro de tipos digitais é um campo profissional que vem ganhando destaque sobretudo a partir do início dos anos 2000. Além de mostras competitivas e páginas web algumas publicações surgidas na primeira metade dessa década denunciam tal importância. O
primeiro número da revista Tupigrafia, os livros Tipografia Digital, Tipografia uma apresentação – ambos da editora 2AB – Projeto Tipográfico e o catálogo Fontes Digitais Brasileiras
de 1989 a 2001 – publicações da Rosari – são marcos que denotam o despertar de um amadurecimento técnico do fazer tipográfico no País. O qual deve-se, em grande parte, à introdução
desse saber no ambiente de ensino superior que seguiu o fluxo de mercado editorial.
Em verdade, é possível observar uma produção brasileira de tipos digitais desde meados de
1980. Esteves (2010) indica essa origem e destaca que especialmente em 1990 designers e
estudantes em diferentes partes do Brasil começaram a explorar essa área. Inicialmente o fizeram de modo experimental mas, com o passar dos anos tal segmento do design ganhou contornos profissionais, se articulando com diferentes agentes nacionais e internacionais do mercado tipográfico.
A disciplina eletiva Desenho Tipográfico, ofertada aos alunos do Curso de Design do CAA
durante o primeiro semestre de 2010, constituiu uma iniciativa preliminar com o intuito de
trazer ao Agreste Pernambucano a discussão e a prática do desenho de letras para uso em ambientes computacionais. Um esforço para conectar a produção caruaruense de design gráfico
com as demais realizadas em outras cidades brasileiras.
Problema de estudo
A proposição de desafios projetuais implicada na execução da disciplina de cunho teórico/prático deu início a uma produção tipográfica local. Os aspectos culturais e formais a serem trabalhados na construção de fontes digitais caracterizaram o problema de estudo abordado por docente e discentes durante o semestre letivo de 2010.1. Para tanto, buscou-se uma
melhor compreensão dos princípios de desenho e arquétipos dos caracteres tipográficos, observando a composição de traços retos, curvos e em diagonal, a variação dos espaços internos
e externos, bem como as tecnologias de geração de arquivos de fonte.
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Objetivos
De modo geral, a experiência realizada na disciplina Desenho Tipográfico pretendeu promover experimentos analógicos e digitais orientados sob a luz de conceitos óticos e geométricos
visando o desenvolvimento do desenho de caracteres enquanto unidades gráficas de valor estético particular bem como enquanto fonte e/ou família tipográfica.
Pretendeu-se compreender as variações estruturais intervenientes nos desenhos e estilos tipográficos; compreender as lógicas atuantes na proporção do desenho e combinação de retas e
curvas em glifos; visualizar as possibilidades de correlação de formas entre letras e números
de uma mesma fonte e desenhar um conjunto mínimo de 100 caracteres tipográficos aplicáveis ao projeto de uma fonte digital tipo display.
Metodologia
As aulas dedicadas ao design de tipos ministradas durante o primeiro semestre de 2010 aos
alunos do Curso de Design do CAA da UFPE dispuseram dos seguintes recursos: uso de material visual de apoio, exibição de filmes e documentários, discussão de textos, análise de
imagens, execução de trabalhos práticos, seminários e orientações de projetos práticos.
As atividades da disciplina Desenho Tipográfico foram regidas pelos parâmetros do Método
de Ensino de Desenho Coletivo de Caracteres Tipográficos, O MECOTipo, único método brasileiro de desenho de tipos digitais.
Considerações de ordem pedagógica e técnica estão envolvidas na concepção do MECOTipo,
criando condições para a sua reprodução (BUGGY, 2007). Isto ocorre na medida em que tais
considerações fundamentam os postulados do método, os quais organizam-se em parâmetros
teóricos/metodológicos e práticos
Os parâmetros teóricos/metodológicos preocupam-se em assegurar as condições adequadas
para a implementação dos parâmetros práticos que sugerem uma seqüência de experimentos,
ou exercícios específicos, na qual à medida em que a complexidade dos desafios propostos
aumenta, os designers em formação envolvidos são levados a produzir coletivamente.
Para que tais parâmetros funcionem em conjunto, há um programa de aulas que coordena a
aquisição do conteúdo teórico e técnico com a seqüência de experimentos. Esse programa
pode ser ajustado, sem perder suas características, adaptando-se aos participantes e às
mudanças ocorridas durante o desenrolar das aulas.
O MECOTipo também possui um sistema de avaliação próprio desenvolvido a partir da
formulação dos postulados que compõem os parâmetros práticos para analisar os resultados
obtidos a partir da sua execução. Projetado para avaliar desenhos de caracteres de fontes
display, esse sistema resulta em afirmações lingüísticas compreensíveis que valorizam e
orientam os designers em formação.
Todo o conteúdo teórico dedicado ao desenho de tipos necessário a uma boa evolução durante
a vivência dos experimentos ainda está contemplado pelo método. Trata-se de um compêndio
a respeito da constituição e percepção das formas de caracteres tipográficos.
Dado a complexidade do sistema de avaliação e o volume do compêndio ambos não serão
apresentados neste trabalho. Apenas o reflexo de suas configurações comporá, mais a frente, a
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análise dos resultados apresentados pelo emprego do método. Caberá a seguir, tão somente,
uma breve caracterização do método e uma descrição paramétrica do quarto postulado prático
que compõem o MECOTipo.
São quatro os postulados que constituem os parâmetros teóricos/metodológicos propostos
pelo autor do Método de Ensino de Desenho Coletivo de Caracteres Tipográficos: contexto e
participação do professor; utilização do compêndio e outros artefatos; auto-avaliação do
professor e avaliação dos designers em formação.
Os parâmetros práticos do MECOTipo também constam de quatro postulados. Contudo, em
função de sua natureza, essas proposições enumeram e descrevem objetivos para melhor
formular os exercícios do método destacando os aspectos utilizados para aferi-los e os
critérios de avaliação de cada aspecto. Assim, tem-se: o desenho individual de um ‘a’ numa
folha de papel A4; o desenho individual de letras caixas-baixas, letras caixas-altas e de
números através de módulos pré-determinados; o desenho de ‘n’, ‘o’, ‘H’ e ‘O’ caracteres de
uma fonte de acordo com um tema predefinido e o desenho coletivo de 100 caracteres de uma
fonte de acordo com um tema predefinido.
O produto do exercício de que trata este último postulado foi observado em especial no intuito
de verificar o alcance dos objetivos pretendidos com a implantação da disciplina Desenho
Tipográfico no Curso de Design do CAA. Logo, tal postulado será a seguir reproduzido para
assegurar uma melhor compreensão dos resultados apresentados mais a frente.
Postulado 4: O desenho coletivo de 100 caracteres de uma fonte de acordo com um tema
predefinido.
O último experimento consiste numa expansão do terceiro experimento realizada com o
apoio do sistema de derivação de arquétipos tipográficos utilizado durante o segundo
experimento.
Novos grupos devem ser formados para que desenhem conjuntos de 100 caracteres através
de novos temas. O processo de obtenção desses temas, caracterização dos atributos de
correlação e adoção da malha de construção do quadratim é o mesmo do terceiro exercício
e os caracteres ‘n’, ‘o’, ‘H’ e ‘O’ devem ser produzidos inicialmente seguidos por ‘p’, ‘h’,
‘a’. ‘e’, ‘c’, ‘j’, ‘v’ e ‘k’, nesta seqüência.
O desenho de sinais de pontuação, acentos e outros tipos de caracteres presentes no
conjunto solicitado deve ser realizado mediante a observação de similares encontrados em
fontes já publicadas por autores consagrados.
Do mesmo modo que no terceiro experimento, a execução manual dessas atividades é
desaconselhada [...] (BUGGY, 2007, p. 39).
Referencial Teórico
O desenho tipográfico, ou design de tipos, é uma atividade complexa e precisa. É difícil alterar substancialmente a forma das letras sem prejudicar a sua legibilidade. De qualquer modo,
no campo das formas estabelecidas existem muitas possibilidades de variações estruturais tais
como: inclinação do eixo, serifa, peso, altura de x e contraste (CHENG, 2006).
A amplitude dos dados encerrados nessa atividade assemelha-se a da construção de um sistema de identidade visual, sinalética ou mesmo embalagem. O desenho de caracteres tipográficos é tão laborioso quanto qualquer outro plano para resolução de questões imputadas ao design.
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Para entender esse preceito é preciso compreender o status quo de uma vertente do design em
particular. O atual contexto cultural e tecnológico no qual se insere o design gráfico permite
que um profissional experimente grande quantidade de idéias em um curto espaço de tempo.
Muitas vezes é possível gerar diversas alternativas para a solução de um mesmo problema.
Essa prerrogativa atua sobre a tipografia interferindo em dois níveis de compreensão que relacionam-se entre si: a micro-tipografia, que abrange o desenho das letras e os detalhes de sua
conformação, e a macro-tipografia, que abrange a composição de palavras, linhas, colunas e
páginas, justificação, tamanhos, hierarquia de conteúdos, etc. (HEITLINGER, 2006; WILLBERG; FORSSMAN, 2007).
Assim, numa realidade povoada de opções infindáveis para escolha e uso de uma fonte o desafio do designer passa a ser eliminar as piores soluções e achar a mais adequada sem, contudo, perder-se nas diferentes possibilidades (STOLTZE, 1997).
Muitos editores de grandes publicações buscam diferenciar seus produtos, dentre outros aspectos, pelo desenho tipográfico. Hendel (2003) chega a afirmar que o tipo da letra tem tanta
influência sobre outras partes da página que, enquanto não definido, interrompe o fluxo do
projeto. Desse modo, a construção de uma fonte digital pode ser interpretada como um projeto
de design que muitas vezes antecede o desenvolvimento de outros, mas que em nada difere
em valor ou grau de complexidade.
O MECOTipo é uma alternativa metodológica que se vale dos chamados tipos display como
ponto de partida para a imersão no universo do desenho tipográfico.
Craig (1990) entende como display os caracteres utilizados para atrair a atenção, normalmente
usados em corpos acima de 18 pontos. O emprego desses tipos em pecas gráficas é normalmente menos comprometido com aspectos de legibilidade e leiturabilidade que o dos chamados tipos para texto.
Lembrando o caráter introdutório de sua obra e revelando sua intenção, Buggy (2007, p. 12)
esclarece: “Esse método pretende apontar um caminho, com algumas possibilidades, e informar o mínimo necessário para percorrê-lo.”. Assim, o projeto de tipos display – menos exigente – se presta aos desígnios do MECOTipo.
Resultados
O resultado obtido com a implantação do quarto postulado dos parâmetros práticos do
MECOTipo durante a disciplina Desenho Tipográfico é produto de 60 horas de trabalho,
condição ideal prevista para a reprodução do programa de aulas do método.
Trata-se de conjuntos de desenhos compreendidos daqui por diante como fontes e
identificados através de um número antecedido pela sigla UFPE, usada para identificar a
instituição na qual o trabalho foi desenvolvido. A ordem numérica adotada expressa um juízo
qualitativo. Ela relacionou as fontes de forma decrescente quanto a obtenção de conceitos
positivos segundo o sistema de avaliação proposto pelo método.
Trabalhos que atingiram o mesmo conceito foram identificados com o mesmo número,
diferenciando-se apenas pela adição de letras ao final de suas nomenclaturas. Ao contrário dos
números, a atribuição dessas letras foi aleatória e não expressa qualquer valor.
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Fonte UFPE 01a.
Fonte UFPE 01b.
Fonte UFPE 02.
Considerações finais
O conjunto formado pelos últimos trabalhos apresentados na disciplina Desenho Tipográfico
ministrada aos alunos de graduação do Curso de Design do Centro Acadêmico do Agreste da
UFPE durante o primeiro semestre de 2010 constitui o início de uma produção caruaruense de
tipos digitais.
O menor grupo constituído realizou o melhor trabalho dentre todos os apresentados em 2010.
A Fonte UFPE 01a foi projetada por um grupo de 02 (dois) indivíduos. Originalmente
composto por 05 (cinco) alunos o grupo sofreu com a desistência de 03 (três) membros na reta
final do semestre letivo. Mesmo assim, conseguiu desenvolver um bom projeto.
A carga horária máxima de aulas prevista pelo MECOTipo pode ter suprido a deficiência
desse grupo, que pôde ser acompanhado presencialmente pelo docente sem prejuízo ao seu
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projeto.
A Fonte UFPE 01b apresentou mais problemas na constância do peso de seus caracteres e
combinações de curvas com retas. Não se pode deixar de observar a acentuada falta de
harmonia na definição das larguras dos caracteres caixas altas desse projeto.
Deficiências na constância do peso e combinações de curvas com retas também foram
observadas na Fonte UFPE 02. Neste projeto elas mostraram-se bastante acentuadas.
De modo geral, as fontes em análise foram assim avaliadas:
PROJETO
CONCEITO GERAL DE AVALIAÇÃO OBTIDO
Fonte UFPE 01a
Alcançou o objetivo
Fonte UFPE 01b
Alcançou o objetivo
Fonte UFPE 02
Alcançou com ressalvas o objetivo
Quadro de avaliação das fontes analisadas.
Os conceitos gerais de avaliação uniformizam o desempenho no alcance dos objetivos
propostos pelos experimentos do MECOTipo, reunindo-os em um só objetivo que pode ser
superado, alcançado, alcançado com ressalvas ou não alcançado (BUGGY, 2007). Assim, dos
03 (três) projetos avaliados, 02 (dois) alcançaram o objetivo, 01 (um) alcançou com ressalvas
o objetivo e nenhum superou o objetivo do quarto experimento. Por outro lado, nenhum
deixou de alcançar o objetivo, indicando a efetividade do método utilizado em sala de aula.
Assim, cabe destacar que o MECOTipo é produto de um ciclo de dez anos de pesquisa,
iniciado em 1996 e concluído em 2006, no programa de mestrado em design da UFPE. Ao
longo deste trajeto excelentes resultados foram computados pelo método. Desde 2003 a sua
competência vem sendo atestada de forma científica. Os primeiros testes realizados para a
dissertação do Prof. Me. Leonardo A. Costa Buggy confirmaram a eficácia do método que
vem sendo corroborada semestre após semestre em instituições como a AESO e a UFPE. O
caráter coletivo inovador desse conjunto de meios para desenhar fontes tipográficas é
responsável em grande parte por seu sucesso.
Referências
BUGGY, L.A.C. O MECOTipo: método de ensino de desenho coletivo de caracteres tipográficos. Recife: Buggy, 2007. 179 p.
CHENG, K. Designing typefaces. London: Laurence King, 2006. 232 p.
CRAIG, J. Basic typography: a basic manual. New York: Watson Guptil, 1990. 188 p.
ESTEVES, R. O design brasileiro de tipos digitais: a configuração de um campo
profissional. São Paulo: Blucher, 2010. 117 p.
HEITLINGER, P. Tipografia: origens, formas e uso das letras. Lisboa: Dinalivro, 2006. 400
p.
HENDEL, R. O design do livro. Tradução Geraldo Gerson e Lúcio Manfredi. São Paulo:
Ateliê Editorial, 2003. 224 p. Tradução de: On Book Design.
STOLTZE, C. (Org.). Digital Type. Massachusets: Rockport, 1997. 143 p.
WILLBERG, H. P.; FROSSMAN, F. Primeiros Socorros em Tipografia. São Paulo: Rosari,
2007. 104 p.
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Introduzindo o Desenho Tipografico no Agreste