ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DE FRUTOS DO CERRADO
EM MINAS GERAIS
PIETRO DE ALMEIDA CÂNDIDO¹ e MARCELO LACERDA REZENDE2
[email protected], [email protected]
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Bolsista de iniciação científica FAPEMIG (APQ 02130-08) do curso de Geografia – Unifal-MG
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Professor do Instituto de Ciências Exatas – Unifal-MG
Palavras-chave: frutos do cerrado; cerrado; cadeia produtiva; Minas Gerais.
1. Introdução
O Cerrado possui uma área de 203 milhões de hectares (IBGE, 2004), ocupando a
porção central do Brasil. É o segundo maior bioma da América do Sul, com cerca de
25% do território nacional. A sua área contínua incide sobre 14 estados da federação.
No estado de Minas Gerais o domínio do Cerrado encontra-se na porção centroocidental, ocupando cerca de 57% de sua extensão territorial. É a mais rica savana do
mundo no ponto de vista biológica.
“Na era da ecologia triunfante, é o homem quem fabrica a natureza, ou lhe atribui
valor e sentido, por meio de suas ações já realizadas, em curso ou meramente
imaginadas” (SANTOS, 2000). Um dos principais questionamentos que permeiam o
presente estágio econômico do sistema capitalista é o fato de haver, por um lado, a
necessidade de continuar a aumentar os níveis de produção e consumo de mercadorias e,
de outro, a constatação de que o modelo hegemônico de produção poderá levar às
maiores dificuldades de sobrevivência para as gerações futuras. Derivam daí as críticas
aos atuais modelos de produção e consumo, entre essas críticas observam-se modelos
sustentáveis como solução. Seja produção via sistemas agroflorestais, produtos
orgânicos e incentivos a exploração de produtos nativos que conciliam produção e
conservação. Nesse contexto que a exploração comercial dos frutos nativos do cerrado
se sobressaem, sua produção pode ser explorada pelos três sistemas.
Os frutos do cerrado apresentam atrativos sensoriais como cor, sabor e aroma
peculiares e intensos, elevados teores de açúcares, proteínas, vitaminas e sais minerais e
podem ser consumidos in natura ou na forma de sucos, licores, sorvetes, geléias etc.
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No contexto social, os frutos do cerrado, se destacam por fazerem parte da
alimentação e cultura das populações do cerrado, apresentando uma identidade especial
para esses povos. Entretanto, a utilização dos frutos nativos é prejudicada pela
organização precária em todo o seu sistema de produção e processamento. São poucos
os plantios comerciais dos frutos, predominando o extrativismo, com crescente risco
para as populações nativas da espécie.
2. Objetivos
Torna-se necessária a busca por padrões de eficiência técnica e econômica da
produção dos frutos nativos. Para isso o acompanhamento da produção dos frutos, da
demanda e das exigências do consumidor deve ser sistemático.
Assim, a pesquisa tem como objetivos caracterizar a estrutura e funcionamento da
cadeia agroindustrial dos frutos do cerrado no estado de Minas Gerais; identificar e
avaliar os principais direcionadores que condicionam a eficiência e a competitividade
dessa cadeia agroindustrial; propor políticas públicas e estratégias empresariais para a
melhoria da sua eficiência e competitividade.
3. Fundamentação Teórica
O presente trabalho tomou por referência conceitual o enfoque sistêmico de produto
(commodity systems approach - CSA), conforme apresentado por Silva e Batalha
(1999). A abordagem do CSA enfatiza o caráter sistêmico das cadeias produtivas
agroindustriais, o qual reconhece as características de interdependência, propagação,
realimentação e sinergia, presentes na sua estrutura e no funcionamento.
Para Batalha e Silva (2001), outra característica fundamental do enfoque sistêmico é
a noção de sinergia, que reconhece o fato de que um sistema não se constitui na mera
soma das partes de um todo. Assume-se que o sistema expresse uma totalidade
composta dos seus elementos constituintes, tais como produtores, cooperativas,
empresas agroindustriais, sindicatos, etc. Entretanto, a noção de sistema é maior do que
a soma das partes.
O sistema agroindustrial provém de padrões sistemáticos de
interação dos agentes da cadeia produtiva: produtores, cooperativas, sindicatos,
agroindústrias, supermercados, consumidores etc., e não da agregação de propriedades
desses componentes.
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Em síntese, o enfoque sistêmico de produto oferece o suporte teórico necessário à
compreensão da forma como a cadeia funciona e sugere as variáveis que afetam o
desempenho do sistema.
4. Metodologia
A metodologia para o estudo da cadeia produtiva dos frutos do cerrado, tendo como
base o enfoque sistêmico de produto, proposto por Silva e Batalha (1999), seguem as
etapas: Elaboração de pré-diagnóstico, Identificação de agentes chaves da cadeia,
definição de roteiros de entrevistas, pesquisa de campo, sistematização das informações
– elaboração de diagnósticos, análise de direcionadores de eficiência e competitividade
-, definição de políticas e estratégias e priorização das medidas propostas – relatório
final.
5. Resultados e Discussões
Até o presente momento da pesquisa foram entrevistados os agentes chaves da
cadeia no Norte de Minas, ocorreu a identificação dos produtores que comercializam
frutos na CEASA-Contagem na região central do estado, também ocorreram contatos
com varejistas da cidade de Uberlândia e revisão bibliográfica de levantamentos da
produção e comercialização do Araticum na microrregião de Alfenas. Assim sendo, o
trabalho está na fase de pesquisa de campo. A espacialidade dos dados obtidos é
observada no seguinte mapa temático desenvolvido (Figura 1)
No norte de minas foram entrevistadas as cooperativas: Grande Sertão da cidade
Montes Claros, COOPERJAP de Japonvar, ASFRUCE de São Francisco, Sertão
Veredas de Chapa Gaúcha e a central de cooperativas Central do Cerrado em Brasília,
DF. As entrevistas foram realizadas os dias 26 a 31 de julho, 2010.
A cadeia, no norte de minas, se caracteriza em uma produção extrativista e organiza
por meio de cooperativas que auxiliam nas fases de colheita, processamento e
comercialização.
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Figura 1: Mapa de pré-diagnóstico da cadeia produtiva.
Os extrativistas realizam a coleta dos frutos em suas propriedades, em áreas
coletivas (no caso de assentamentos, quilombos e indígenas), propriedades
circunvizinhas e em áreas arrendadas. Os frutos são transportados até as centrais de
beneficiamento das cooperativas onde são processados produzindo conservas, polpas,
óleos, licores entre outros. O Programa de Aquisição de Alimentos da CONAB tem
grande importância para as cooperativas, absorvendo cerca de 80% da produção, que é
distribuído em escolas, hospitais, creches e asilos da região, os outros 20% são
comercializados por centros de consumo regional e nacional, onde se destacam Montes
Claros e BH no estado e Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro no cenário nacional. Essas
vendas são possíveis pela exposição dos produtos em feiras de agricultura familiar,
produtos orgânicos e sustentabilidade, também por meio da central de cooperativas,
denominada Central do Cerrado, que funciona como braço comercial das organizações,
vendendo os produtos em eventos e pela internet.
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Os principais frutos explorados no norte de minas são: araticum (Annona
crassiflora), baru (Dripteryx alata), buriti (Mauritia flexuosa Linn. F.), cagaita (Eugenia
dysenterica), coquinho azedo (Butia capitata), jatobá (Hymenaea stignocarpa), mangaba
(Hancornia speciosa), maracujá nativo (Passiflora cincinnata) e pequi (Caryocar
brasiliensis).
Nas mesorregiões noroeste de Minas e Central Mineira não se encontram
cooperativas extrativistas. Levantamentos junto a CEASA MINAS de Contagem, MG,
mostram que os produtores dessas regiões comercializam seus frutos na Central. As
cidades com produtores são: Santana de Pirapama, Jaboticatubas, Cordisburgo, Baldim,
Paraopeba, Jequitibá e Curvelo. No ano de 2010, esses produtores somaram a
comercialização de 250.000 Kg de Araticum e 150.000 Kg de Pequi. Serão realizados
contatos com os produtos para futuro trabalho de campo.
No Triângulo mineiro já ocorreram os primeiros contatos com varejistas da CEASA
Uberlândia. Em 2010 foram comercializados 140.000 kg de Pequi nessa unidade.
No Sul de Minas o principal produto nativo comercializado é o araticum. A coleta
dos frutos é feito por extrativistas que são 60%, cultivadores 30% e 10% obtém o fruto
das duas formas. Desses, 60% vendem diretamente para o consumidor final, 55,4% a
fruta in natura e 44,6% o produto industrializado. O restante (40%) vende para
comerciantes que, por sua vez, vendem ao consumidor final o fruto in natura (51%),
produtos industrializados (32,5%) e ambos (in natura e produtos 13,5%).
6. Bibliografia
IBGE. Mapa de Biomas do Brasil. 2004.
POLO, M.; MANCILHA, T. de P.; REZENDE, M. L. et al. Biometria do Fruto e Formas de
Produção e Comercialização do Marolo ( Annona Crassiflora) na Microregião de
Alfenas_MG. In: 59º Congresso Nacional de Botânica, Anais..., Natal, 2008.
SANTOS, M. O recomeço da história. Folha de S. Paulo, São Paulo, 9 jan. 2000.
SILVA, C. A. B. da, BATALHA, M. O. Competitividade em sistemas agroindustriais:
metodologia e estudo de caso. In: II Worshop Brasileiro de Gestão em Sistemas
agroalimentares. PENSA - FEA – USP, Ribeirão Preto, 1999.
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