PROVAS PÚBLICAS PARA PROF. ADJUNTO
ESTRATÉGIAS DO MANEIO ALIMENTAR E REPRODUTIVO
DO MERINO DA BEIRA BAIXA
EXPLORADO NA SUA FUNÇÃO LEITEIRA
Carlos S. C. Rebello de Andrade
ESACB
1996
INTRODUÇÃO
A alimentação influência todos os factores produtivos do animal:
Durante a cobrição - número de crias concebidas (prolificidade)
Durante a gestação - número de crias nascidas e peso ao nascimento
Durante a lactação - maior efeito na produção de leite e crescimento do borrego
e preparação da ovelha para novo ciclo fisiológico (após o desmame).
É conhecido o efeito da nutrição nos aspectos produtivos mas deve ser
considerada ao longo de todo o ano ( Ex.: melhoria da alimentação na cobrição
e consequente aumento do número de fetos; no final da gestação e principio da
lactação se não se melhora a alimentação podemos ter sérios problemas na
resposta produtiva imediata dos animais e, nalguns casos, futura; melhora as
sincronizações de cios e superovulações).
O nível de produção deve ser tido em linha de conta com o nível alimentar que
pode ser providenciado.
Os rebanhos são constituidos por indivíduos com diferentes produtividades e,
consequentemente, diferentes necessidades.
É evidente que é impossivel atender às necessidades individuais, entre tantos
animais, mas há épocas em que se colherão dividendos por dividir o rebanho em
duas ou mais unidades com necessidades semelhantes. Isto é essencial.
1. Princípios digestão proteína e energia
Devido à grande variedade e qualidade de alimentos disponíveis centramos o
problema das necessidades alimentares nos princípios importantes das relações
entre a utilização da energia e proteina da dieta .
a) Sistema EM (energia metabolizável)
Em regime de manutenção - a eficiência da EM para forragens de baixa
qualidade com concentração de 7,5 Mj/Kg M.S. é de 0,67 e de 0,73 para uma
dieta de boa qualidade com 11 Mj/Kg M.S.
Em regime de crescimento - 0,33 e 0,48 respectivamente
Para a lactação e gravidez - 0,66 e 0,13, respectivamente, com uma dieta de 1011Mj/Kg M.S. de EM.
Nota: EM - é a energia contida nos alimentos (Bruta) menos as perdas de
energia nas fezes, urinas e metano.
b) Digestão da proteina e sua utilização
Há uma relação entre a ingestão de EM e seu efeito na utilização da proteina na
dieta e logo nas necessidades do animal em proteina.
A proteína da dieta é degradada pelos microorganismos do rúmen com
libertação de amónia (RDP). Àquela que passa pelo rúmen sem sofrer
degradação dá-se o nome de UDP.
A extensão da degradação varia com a origem da fonte proteica e o tempo que
permanece no rúmen.
Para os cereais, por exemplo, assume-se que 80% da sua proteína é degradada.
Os suplementos proteicos tendem a ser menos degradados como a farinha de
peixe e bagaço de soja.
A amónia só tem valor para a ovelha se fôr utilizada, pelos microorganismos,
para a formação de nova proteína.
A energia da dieta tem um papel importante sobre os factores que regulam a
quantidade de proteina microbiana produzida àparte concentrações de amónia
e elementos minerais como enxofre. Na prática são necessárias 8g de RDP por
Mj de EM e, considerando que a conversão de amónia em proteína microbiana é
de 100% então, a síntese microbiana é, também, de 8g/Mj EM.
80% da proteína microbiana chega ao intestino em forma de aminoácidos e
estes com os 20% de UDP fazem o total da proteina disponível para a digestão
e absorção.
Para o processo combinado de absorção e utilização é apropriado o valor de
50%.
c) Nível de produção e necessidades proteicas
Em manutenção as forragens de baixa qualidade podem constituir o único
alimento para ovelhas mas podem necessitar de suplementação em N.
Para uma forragem com concentração de 7,5 Mj/Kg M.S., mínimo necessário
para manutenção para o que são necessários 8g/Mj EM, e contando com que a
RDP é de 80% do total da proteína da maioria das forragens necessitamos de
10g/Mj EM ( 10 x 7,5 = 75g/K M.S.). Se a forragem não tiver 75g de proteína
bruta (7,5%) por Kg M.S. o fornecimento de NPN é benéfico para assegurar a
máxima ingestão voluntária e assegurar as necessidades proteicas da ovelha.
Os cereais em grão não contêm quantidade suficiente de RDP e, quando usados
como suplemento energético em que a produção máxima de proteína
microbiana é insuficiente para as necessidades da ovelha (Ex.: último terço da
gestação), requerem suplementação com 1% de ureia.
No último terço de gestação e princípio lactação, em que a síntese máxima de
proteína microbiana não cobre as necessidades para crescimento feto, produção
colostro e exportação de proteína no leite, é necessário fornecer UDP sob forma
de farinha de peixe e bagaço de soja.
Exemplo:
Ovelha com 70Kg à cobrição (com gémeos)
Ingestão M.S. = 1,6 Kg
Necessidades proteína bruta
105 X 1,6 = 168g PB
80% é sintetizada em proteína microbiana (RDP)
168 X 0,80 = 134g PB
UDP = 34g
80% da proteína microbiana está na forma de aminoácidos
134 X 0,8 = 107,2g PB
Para absorção no intestino
107 + 34 (UDP) = 141g PB
A eficiência dos processos combinados de absorção e utilização é de 50% pelo
que a dieta suporta 70g/dia de proteína limpa.
141 : 2 = 70g
As necessidades em proteína limpa para manutenção , crescimento fetal e
colostro são de 80g. Faltam 10g.
A farinha de peixe, com 70% proteína na M.S. e 35% de degradabilidade,
fornece-se na ordem dos 3% da dieta total.
farinha peixe ------- 50g x 0,70 = 35g PB
35x 0,65 = 22,75 UDP
2. Alimentação antes, durante e após cobrição
O objectivo principal é minimizar o número de ovelhas que não ovulam ou não
mostram cio, para assegurar que um número suficiente de óvulos sejam
libertados na ovulação e fertilizados, e maximizar o número de óvulos
fertilizados implantados que dêem origem a embriões e fetos viáveis.
Quadro 1- Prolificidade de ovelhas em várias condições corporais à
cobrição
a) Malatas
Devem ter pelo menos 60% do peso esperado em adulto.
A boa alimentação deve ser iniciada 6 meses antes da cobrição e não só algumas
semanas antes da cobrição.
É necessário, além disso, alimentá-las a um nível de 20% superior às
necessidades para permitir o seu crescimento.
b) Ovelhas
O significado da condição corporal à cobrição: o número de óvulos libertados
depende muito da raça. Há evidência de que a condição corporal influência
bastante algumas raças e outras pouco. Normalmente as menos prolíficas são as
mais afectadas (Quadro 1).
A boa condição corporal à cobrição não é importante sómente pela alta taxa de
ovulação mas também porque na maioria dos sistemas de maneio do nível
alimentar, após a prenhez se ter estabelecido, encorajam a perda de peso e o uso
das reservas corporais e, nalguns casos, muitos meses passarão até as reservas
serem repostas.
2.1. Alimentação durante o período de pré-cobrição
O objectivo é ter todas as ovelhas na mesma condição corporal à cobrição.
Se chegam à cobrição com pontuação superior a 3,5 , ou seja gordas, é porque a
sua produtividade durante o ciclo de produção não foi particularmente alta pelo
que o sistema de maneio deve ser revisto.
É sabido que a própria alimentação durante o período de cobrição pode afectar a
taxa de ovulação embora, com condição corporal 3,5, possa ser negligenciável.
A variação de 1 Kg no peso vivo é equivalente a uma alteração aproximada de
0,1 unidades na condição corporal.
Fig. 4 - Necessidades diárias em energia e proteína antes da cobrição (para
manutenção e variação da condição corporal de 0,25; 0,5 e 0,75 unidades por
mês em ovelhas com diferentes Pesos Vivos.)
Se houver um núcleo de ovelhas mais magras devem ser separadas para
receberem alimentação melhorada.
Pontos importantes
- as ovelhas devem estar em boas condições corporais à cobrição na maioria dos
casos com pontuação 3,5.
- ovelhas magras devem ter um maneio separado pelo menos seis semanas para
assegurar uma condição corporal do rebanho uniforme à cobrição.
- a perda de peso ou condição deve ser evitada durante este período.
2.2. Princípio gestação (1º mês)
Durante as primeiras duas semanas após a cobrição o embrião em
desenvolvimento não está implantado no útero e recebe os seus nutrientes por
absorção directa do seu fluído ambiental. A ligação ao útero só se realiza à 3ª
semana.
Geralmente, 15 a 30% ou mais dos óvulos falham não resultando no nascimento
de um borrego; Isto é devido à não fertilização dos óvulos embora a razão
principal para a diferença entre a taxa de ovulação e prolificidade seja o
problema da implantação do embrião no primeiro mês após cobrição.
A sub-nutrição severa ou excessos alimentares após a cobrição estão associados
ao aumento das perdas em embriões.
Seria ideal que as ovelhas mantivessem o peso constante durante este período.
Excepto em rebanhos com sincronização de cios o período de cobrição
desenvolver-se-á durante algumas semanas por isso, e para minimizar a
mortalidade embrionária, um nível alimentar alto e constante deve ser
providenciado durante quatro semanas após a última cobrição.
Fig. 5 - Necessidades diárias em energia e proteína no 1º e 2º-3º meses de
gestação.
Pontos importantes
- É essencial evitar qualquer mudança brusca no nível alimentar.
- As ovelhas devem manter o seu peso durante este período.
2.3. Meia gestação (2º e 3º meses)
Aos três meses o feto tem 15% do peso ao nascimento. Com gémeos o peso
total é de 1,5 Kg. Mas, por outro lado, ao terceiro mês a placenta completou o
seu processo de crescimento (1 Kg), a parede uterina aumenta 0,8Kg e os
fluídos fetais correspondem a mais 1,5 Kg.
Aparentemente a ovelha que mantém o seu peso perde na realidade em tecidos
corporais 4,5Kg. Isto é equivalente a 0,5 unidades na pontuação corporal.
Esta perda de peso é, perfeitamente suportada por ovelhas com condição
corporal 3,5 à cobrição, boa para ovelhas que tinham pontuação 4 ou superior
pois previne a toxémia da gestação, isto é, ovelhas habituadas a níveis
alimentares altos ao sofrerem uma restrição repentina na ingestão de alimentos
ficam mais susceptíveis a problemas nutricionais como a referida e, má para
ovelhas que à cobrição tinham já uma pontuação baixa pois o tamanho do feto
aos 90 dias será pequeno por associação com o ainda menor peso da placenta
em relação ao que seria normal.
Durante este período as primíparas (60% peso adulto) e malatas (80% peso
adulto) devem ter um ganho de peso constante (estável) de aproximadamente
5% do seu peso vivo.
Pontos importantes
- Só pequenas perdas de peso são permitidas para ovelhas em boa condição
corporal à cobrição.
- mesmo perídos curtos de subnutrição acentuada devem ser evitados.
2.4. Final gestação
O útero e seus conteúdos pesam cerca de 3 a 6 Kg consoante o número de fetos
e tamanho da ovelha. Isto representa menos do que 1/3 do peso do útero
grávido imediatamente antes do parto.
Devido à baixa eficiência da conversão da EM da dieta em ganho energético no
feto (13%), associada ao aumento muito rápido de deposição de energia no feto
no final da gestação, as necessidades energéticas da ovelha vão sofrer um
aumento considerável.
Ao mesmo tempo vão ser necessários nutrientes para o desenvolvimento dos
tecidos mamários, um fornecimento adequado de colostro e para as
necessidades de manutenção da ovelha.
Uma ovelha com um feto tem, nesta altura, duas vezes mais necessidades
alimentares do que uma ovelha não prenha, 2,5 com duplos e 3 vezes mais com
triplos.
Uma degradação excessiva das reservas corporais da ovelha levam, a baixos
pesos ao nascimento e menor vigor dos borregos, a menores quantidades de
colostro, a um instinto maternal deficiente e, a reservas insuficientes para
superar o déficit energético no princípio da lactação quando as necessidades
para a produção de leite excedem a ingestão voluntária.
Fig. 6 - Necessidades em energia e proteina no final gestação
Pontos importantes
- Ovelhas não devem perder mais do que 0,5 unidades de condição corporal nas
últimas 8 semanas de gestação.
- Para economia do alimento as ovelhas deveriam ser agrupadas de acordo com
as necessidades, data de parto e idade.
Fig. 7 - Necessidades em energia e proteina no final gestação
2.5. Ovelha lactante
a) Factores não nutricionais que influenciam produção leite
Número e peso dos borregos a mamar
Tem maior influência na produção de leite do que o nível alimentar.
As ovelhas com duplos produzem 40% mais leite do que as ovelhas alimentadas
ao mesmo nível com um borrego. Ovelhas com triplos produzem mais 10% do
que as dos duplos. As curvas de lactação também diferem. As ovelhas com
duplos têm um maior pico de lactação que é atingido às três semanas e algumas
duas semanas antes das ovelhas com simples. Contudo o declínio da produção
nas primeiras é mais rápido. Ao quarto mês têm produção idêntica às ovelhas
que dão de mamar a um borrego.
O peso e vigor dos borregos também influencia a produção pela maior
estimulação do úbere.
O tipo de parto influencia a produção enquanto os borregos mamam. Após o
desmame as produções vão para níveis idênticos.
Raça, peso e idade da ovelha
A lactação máxima ocorre na 3ª lactação. Pequenas variações ocorrem entre a
3ª e 6ª lactações. Após a 6ª lactação o decréscimo é influenciado pelo plano
nutricional e dentição.
b) Efeitos Nutricionais na produção de leite
As necessidades energéticas, no princípio da lactação, para uma ovelha com
duplos podem ser de 70% superiores às das duas últimas semanas de gestação.
Em ovelhas muito produtivas e em constante déficit energético, no princípio da
lactação, a utilização das reservas está dependente do fornecimento de proteína
na dieta visto que as reservas em proteína disponível só contribuem com
quantidades ínfimas de aminoácidos para a síntese do leite. Dando proteína
suficiente a ovelha pode fazer uso eficiente das reservas corporais em gordura e
manter a produção de leite no máximo do seu potencial.
A eficiência da conversão da M.S. do leite em ganho de peso vivo nos borregos
é aproximadamente de 1:1 e o conteúdo em M.S. no leite de ovelha é de 20%.
Assim, multiplicando por "5" o ganho médio diário do borrego durante as
primeiras 4 a 6 semanas podemos estimar, com 90% de rigor, a produção da
ovelha.
Pontos importantes
- Nos primeiros três meses de vida o crescimento do borrego está dependente da
produção de leite da ovelha.
- As ovelhas, no princípio da lactação, podem manter a produção de leite pela
rápida utilização das reservas corporais.
- Devido às altas necessidades em proteína e energia, no princípio da lactação,
se o parto acontecer fora da época de suficiente disponibilidade de erva ter-se-á
que suplementar com concentrado.
Fig. 8 - Necessidades em energia e proteina para ovelhas lactantes
2.6. Exemplo de um sistema de produção
Fig. 9
3 - Maneio alimentar do rebanho na práctica
BLOCOS MINERAIS SEMPRE À DISPOSIÇÃO
Steaming (forçagem alimentar) na ùltima fase de gestação funciona como
Flushing (forçagem alimentar no período de cobrição) para as que estiverem
alfeiras.
3.1 Esquema do maneio alimentar das ovelhas adultas
Fig. 10
1 - Pastagem natural
2 - Restolhos + pasto
3 - Milharada + feijão frade + concentrado ou outro alimento aquoso +
concentrado
4 – Pastagem + concentrado + feno/palha
3.2 Esquema do maneio alimentar das borregas de substituição
Fig. 11
As borregas do nascimento ao período de cobrição, para que tenham pelo menos
60% do peso adulto, devem mamar até aos cinco/seis meses de idade. A partir
do mês as borregas mamam durante o dia, sendo separadas à tarde para
receberem um suplemento de concentrado e feno, permitindo a ordenha das
mães no período da manhã.
Após o desmame acompanham sempre o rebanho com maiores exigências
alimentares.
4 - Maneio reprodutivo
Épocas de cobrição
Abril/Maio
Agosto/Setembro
valorização borrego
ordenha + produção queijo
Janeiro/Fevereiro
Períodos de cobrição
câmaras de cura
Abril a Novembro ?
45 dias ?
30 dias ?
com repescagem Jun/Julho?
Duração Gestação em cabras e ovelhas? Duração cio?
Concentração de partos - 3 semanas
Sincronização de cios - Efeito Macho - 3/6 dias
Esponjas + PMSG ( 450-550 UI) antes ou depois de
retirar as esponjas
Inseminação artificial - 55 horas depois - ovulação 55/60 horas depois.
Referir - Épocas de utilização, tamanho rebanho e cuidados, ovelhas a
sincronizar
Cuidados com carneiro - Auctótene
Exótico
Tosquia - Antes da cobrição facilita-a e evita stress durante o período de
implantação do óvulo
Relação Machos/fêmeas -
Malatas/Malatos—Não
Carneiros/malatas
Carneiros/ovelhas
Malatos/ovelhas
Chibos/Chibas
Bode/Chibas
Bode/Cabras
Chibo/Cabras
Chibo=Anáco
Controle de paternidade - cobrição em liberdade condicionada a lotes
defenidos
Cobrição à mão com arnês marcador
Inseminação artificial
DESPARASITAÇÕES antes da cobrição e antes da parição
Download

Estratégias do Maneio Alimentar e Reprodutivo do Merino Beira