VENTURA
Turismo ecológico e de emoção
Junho de 2011, ANO 1 Nº 1
Conhece essa
noiva?
A cachoeira Véu de Noiva é uma das mais
belas paisagens naturais da Baixada
Santista, mas pouco visitada
ECOLOGIA EM PARCERIA
COM EMPRESAS
Passeio ecológico ajuda a resolver
problemas entre funcionários
e exalta suas qualidades
Voo de
parapente
Nossa reportagem fez essa
aventura e conta como foi
Faça as malas
Os cuidados que você precisa tomar antes
de sair para acampar
E +:
Tirolesa, rapel,
trilha, praia,
canoagem
no mangue
e passeio de
barco pelo rio
Nessa edição nós preparamos...
6 | 15 segundos de
muita emoção!
Nossa repórter fez tirolesa
e descreve as sensações
para você! Conheça
também a Trilha do Conde.
12 | É de subir
nas pedras!
No Guarujá, quem gosta de
esportes radicais pode fazer
rapel!
14| Além da visão!
50 |
Uma
noiva
que todos olham,
mas não
visitam!
O caminho até a cachoeira Véu
de Noiva é difícil, mas a
paisagem
recompensa!
Trilha na Serra do Guararu
leva visitante à ruína.
Conheça a história de um
monitor com deficiência
visual.
32| Mangue, árvores
18 | Ecologia e
trabalho unidos!
e guará-vermelho!
Visões que a canoagem no
manguezal proporciona! A
importância da preservaEmpresas recorrem ao
ecoturismo para solucionar ção ambiental também faz
desavenças de funcionários. parte do passeio.
36 | Por cima do rio de
Voo de parapente e quem
Itanhaém!
24 | Como uma ave!
vive por isso. Leia ainda
sobre o contraste entre a
cidade e o meio ambiente.
4 | VENTURA - Junho/2011
Natureza e emoção:
a Gênese da Ventura
Passeio de barco mostra as
belezas naturais que quase
ninguém vê.
40 | Três dias de
aventura!
Expedição à Ilha do Montão de Trigo promete muitas
emoções.
46 | Gosta de surfar?
A Prainha Branca é uma
ótima opção. Saiba por quê!
56 | Quer acampar?
Veja o que preparar antes e no
que prestar atenção durante!
Diante da tecnologia e das
cidades complexas, estamos
cada vez mais estressados,
trancados horas no trânsito
ou em frente ao computador.
Esquecemos de respirar o ar
puro, passear com a família
e contemplar e curtir a natureza.
É isso o que a revista Ventura trará mensalmente para
você — a oportunidade de
conhecer novas paisagens
que estão o tempo todo perto de você na Baixada Santista, mas que são pouco
conhecidas ou mesmo lembradas.
Nessa viagem pela Ventura, há aventuras para todos
os gostos e bolsos! Da canoagem no mangue ao parapente. Do esporte solitário
à expedição à mais alta e
inacessível cachoeira da região — a Véu de Noiva.
A Ventura quer que você
reviva o espírito aventureiro
que há dentro de cada um
de nós. Leia, aproveite as
dicas e lembre-se: tudo isso
só é possível porque a Natureza existe.
Boa leitura e boa viagem!
Caroline Leme,
Editora
VENTURA- Junho/2011 | 5
JÁ PENSOU EM VOAR?
FOTOS: VITOR RICARDO
Um pouco ave,
um pouco Tarzan.
Sensações da tirolesa
O Instituto Litoral Verde promove atividades que
pretendem nos aproximar da natureza.
Nossa reportagem foi até lá, viveu a aventura
e conta como foi
Joanna Flora
“Voar não é o que você
pensa na cabeça, mas
sim o que sente no coração”. Com essa frase,
no filme Rio, o tucano
Rafael tentou explicar à
arara Blu como é voar.
Posso dizer que foi essa
a sensação que tive ao
fazer tirolesa. É claro
que para quem pular de
asa-delta ou parapente,
esse tipo de sensação
faz bem mais sentido.
Mas vou chegar nesse
ponto.
Morro de medo de
altura, seja de um primeiro andar ou de estar
dentro de um avião. Assim, qualquer atividade
que envolva estar mais
de um pé acima do chão
já me arrepia a espinha.
Porém, existem momentos em que precisamos
aceitar e enfrentar de-
6 | VENTURA - Junho/2011
safios. Considero essa
reportagem um deles.
Não sabia o que me
esperava, mas (ainda)
não estava com medo.
O Instituto Litoral Verde é uma ONG que tem
como objetivo aproximar as pessoas da natureza e da conscientização de preservação
ambiental. Uma das atividades que a entidade
promove é a tirolesa, na
qual um cabo aéreo posicionado em dois pontos fará com que o praticante deslize por meio
de roldanas presas a
um cinto.
A aventura não é feita
sem a presença de um
monitor, que será o responsável por frear o praticante quando ele chegar perto do ponto final.
Para aguardar a chegada dele fui fazer uma
das ramificações da Tri-
lha do Conde. O topo,
de onde quem se aventura a praticar a tirolesa
deslizará, está localizado em uma das partes
da trilha. Aproveitei para
dar mais uma olhada na
altura e por onde eu iria
passar, isso para ir me
acostumando.
— Tem um galho na
direção da corda — comentei com um dos funcionários do Instituto
que fez a trilha conosco.
— Relaxa. Quando
você for saltar, o cabo
cede e aquele galho vai
passar bem longe.
Essa foi a resposta que obtive. Lá se foi
uma desculpa que eu tinha para adiar o medo.
Quando terminamos a
trilha, o monitor não só
já tinha chego como já
estava com todos os
equipamentos de segurança e necessários
Nossa repórter fazendo a tirolesa para poder narrar essa aventura
VENTURA- Junho/2011 | 7
Com a ajuda de um monitor são colocados os equipamentos de segurança necessários. Depois, é só aproveitar
para a atividade, separados. Não dava mais
para fugir. Era a hora de
colocar o cinto, capacete e saltar. O cinto é
ajustado no corpo e preso a uma fita que será
encaixada no na roldana que fica no fio da tirolesa.
Próximo passo — capacete, que também recebe os devidos ajustes
para quem for utilizá-lo.
Estava na hora de subir até o ponto do salto. Junto com quem for
fazer a tirolesa, vai um
responsável que prenderá a fita no cordão de
aço que vai até o ponto
final. Enquanto isso, o
monitor fica perto do fim
8 | VENTURA - Junho/2011
do passeio para arrumar
aquela corda, citada anteriormente, que servirá
de freio. Eu já estava
pronta para salvar, bastava um “ok” do monitor
e a aventura começaria.
Em meio a brincadeiras de que já encontraram uma onça na região por onde a tirolesa
passa e que eu deveria
abrir os braços para dar
mais emoção, o salto foi
autorizado. Não é necessário um empurrãozinho ou qualquer ajuda
desse tipo. A partir do
momento em que você
vai para a ponta da pedra e “senta”, a pressão
do peso abaixa a corda e a pessoa começa
a “voar”. Não consegui
abrir os braços como me
foi sugerido, mas isso
não interferiu em nada
na minha emoção.
Você passa por dentro
de um túnel de árvores e
plantas que te dão uma
sensação que jamais se
tem na cidade. Tudo o
que eu já tinha visto de
flora pela trilha, pareceu
nada perto do sentimento de passar no meio
das misturas de árvores.
A corda acabou virando
e eu não desci de frente. E sim, acabei indo a
maior parte do tempo de
costas para o ponto final. Ou seja, pude olhar
com mais atenção todas
aquelas folhas, galhos e
à minha volta, que aos
poucos iam se tornando
mais distantes.
“Aos poucos” é forma de dizer, já que tudo
ocorre muito rápido, mas
dura o tempo suficiente
para sentir uma liberdade digna de Tarzan, só
que com roupa. Lembrei
também de Ed Mota:
“Dois mundos distintos
são. Deixa o seu destino
agir, guiar seu coração
por sobre as árvores viver”.
Definitivamente é tipo
de sensação que você
só vai sentir nessa atividade e nesse lugar. A
apenas um pouco mais
de uma hora da cidade
de Santos, o Instituto Li-
toral Verde tem em volta a Mata Atlântica. Um
local totalmente diferente do que nós, seres
urbanos, estamos acostumados. Não é apenas
quando se chega ao instituto que se percebe as
paisagens. Por todo o
caminho da estrada já é
possível se maravilhar
com a natureza.
Ter a oportunidade de
conhecer essa região e
ainda realizar essa atividade é o tipo de aventura que todas as pessoas
deveriam fazer pelo menos uma vez na vida. Afinal, não é em qualquer
lugar que você pode se
sentir um pouco ave ou
um pouco Tarzan. Além
das árvores e sons de
pássaros que são possíveis de perceber no
caminho até o ponto
final da tirolesa, ainda corre água que vem
da piscina natural e se
transforma em uma pequena cachoeira. A vida
é muito mais do que
carros, prédios e poluição. Que existem outras
formas de viver totalmente desconhecidas,
mas que valem muito
a pena o nosso tempo
para desvendá-las. A
tirolesa dura um pouco
mais que 15 segundos,
mas proporciona uma
sensação tão renovadora. Quando acaba, você
quer saltar mais e mais.
VENTURA- Junho/2011 | 9
OS CAMINHOS DA MATA
JOANNA FLORA
A Trilha do Conde
Esculpidas pela natureza: No meio da trilha, surgem
piscinas naturais com água vinda de uma cachoeira
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Enquanto
aguardava
para fazer a tirolesa, aproveitei e fiz uma das ramificações da Trilha do Conde. A atividade é dividida
em partes, pois existem
níveis de dificuldade. Fiz a
mais curta, já que estava
guardando minha energia
para a tirolesa.
Para fazer a trilha, é imprescindível que se vá de
tênis. É a única forma para
conseguir firmar os pés
nos troncos e pedras, a
fim de tomar impulso. Os
funcionários do Instituto
Litoral Verde alertam para
não se apoiar em algumas
árvores, pois dependendo
da espécie têm espinhos.
Por mais que se perca
a atenção na caminhada
para admirar a paisagem,
é necessário contê-la para
que tombos e machucados sejam evitados. As
pedras têm limo e a chance de escorregar é muito
grande. Digo isso, pois
escorreguei várias vezes
— mas não caí — e isso
rendeu um sacrifício para
tirar depois toda a lama
do tênis. Sem contar que,
às vezes, os passos precisam ser largos; pessoas
pequenas como eu têm
certa dificuldade e acabam pisando em falso.
Deixando as instruções
de segurança de lado, e
partindo para os detalhes
da trilha, não é como deslizar em um fio em alta velocidade. Porém, é preciso
ter “pique” para aguentar
o passeio, que vale totalmente o esforço. São
subidas e curvas que exigem equilíbrio. Não existe
no que se apoiar. Na trilha,
não vi nenhum animal.
Em todo o trajeto, só ouvi
a sinfonia dos pássaros.
A paisagem vista na tirolesa pode ser encontrada em maior abundância
na trilha, já que o visitante
passa do lado e por cima
de todo esse verde. Em
alguns trechos, é até possível encontrar pequenas
cachoeiras que formam
minipiscinas naturais. Nessa época do ano, quando
o frio está quase batendo
à nossa porta, se banhar
nas piscinas fica apenas
na vontade. Mas no verão
é uma ótima opção para
se refrescar ou mesmo relaxar com a água batendo
no corpo.
A ida parece bem maior
do que a volta, já que no
retorno você já se acostumou por onde vai passar.
Assim, consegue aproveitar melhor a paisagem. Os
funcionários do instituto
fazem esse passeio algumas vezes na semana,
para que os galhos que
estejam no meio do caminho possam ser removidos e o visitante não se
machuque ou tenha dificuldade para atravessar.
Ainda assim, durante a
trilha, eles levam um facão, caso algum obstáculo precise ser retirado.
A primeira ramificação da
trilha dura dez minutos e
custa R$ 10,00 por pessoa. Mas as paisagens
com as quais o visitante
depara e a adrenalina,
por ter que tomar cuidado
por onde passa, valem o
preço. (J.F.)
Áreas históricas
dos séculos 15 e 16
O Instituto Litoral Verde
zela pela preservação da
Reserva Particular de Patrimônio Natural Tijucopava,
onde ele está instalado. O
Centro de Estudos do Meio
Ambiente, que também fica
dentro da reserva, disponibiliza alguns de seus espaços para outras atividades.
Como por exemplo, a sala
de artesanato. Lá, artesãos
da região podem expor e
vender produtos. É preciso
passar por esse recinto para
chegar à sala de palestras.
Qualquer entidade pode ministrar esse tipo de evento ou
treinamentos voltados para
o meio ambiente ou preservação ambiental. Alunos
que tenham interesse em
fazer estudo de campo também podem utilizá-la mediante agendamento com
antecedência e pagamento
de taxas de manutenção.
Existe também uma área
de treinamento em manutenção de trilhas, ecoturismo e prática de esportes
de aventuras. As trilhas
são interpretativas e passam pelo Manancial Bariguy com pequenas quedas
d’água e piscinas naturais
e áreas históricas dos séculos 15 e 16. Bem como
restos de uma construção de uma usina geradora de energia particular.
Para praticar qualquer
atividade no Instituto Litoral
Verde é preciso ligar antes.
Assim, poderá marcar o
passeio em um dia que algum monitor esteja disponível. Os telefones são (13)
3305-1512 ou 3305-1752.
O Instituto Litoral Verde está
localizado no Km 14,5 da
Estrada Guarujá-Bertioga.
Espécies vegetais e animais
Pássaros— Cambacica, periquito, tié-da-mata, tucano-do-bico-verde, tucano-do-bico-preto, maritaca verde, beija-flor,
bem-te-vi, sabiá-da-mata, chupim (pássaro preto), tico-tico,
biguá, andorinha, tangará, sanhaço, surucuá grande- de-barriga-amarela, saí-verde.
Animais — Preguiça-de- três- dedos, furão, cachorro-do-mato, quatí, esquilo, cotia, rato comum, tatu-peba, gambá,
cobra-cipó, perereca, sapo, calango.
Flores exóticas — Bromélias de diversas espécies e helicônias, entre outras
Árvores — Diversas espécies arbóreas de grande porte, cipós
de vários diâmetros, trepadeiras lenhosas, epífetas (plantas
que vivem de outras plantas), samambaia-açu, gesneriáceas
(em fase de extinção), gramíneas, manacás, quaresmeiras.
Árvores Frutíferas — Cajá-manga, jaqueira, goiabeira, limoeiro.
VENTURA- Junho/2011 | 11
UM DIA DE HOMEM ARANHA
ARQUIVO DO INSTITUTO LITORAL VERDE
O chamado do rapel
Realizada no Guarujá, a atividade é opção para quem
deseja fugir da rotineira visita às praias
Vagner de Lima
Saí de casa às dez da
manhã de um sábado
de maio para fazer rapel
no Centro de Estudos do
Meio Ambiente, mantido
pelo Instituto Litoral Verde.
São 45 hectares de Reserva Particular do Patrimônio
Natural. No local, vivem 20
famílias que já estavam
instaladas ali antes de virar reserva. Agora, as invasões estão proibidas.
Foi só passar pelo portal
no começo da estrada que
identifica o início do Parque Serra do Guararu e o
calor que eu estava sentindo transformou-se em uma
sensação de leveza. Sentir
o ar puro entrando faz quase seus pulmões sorrirem.
Menos de dez minutos
de estrada e uma tímida
placa identifica a entrada do Cema. Para quem
passa apressado de carro
deve ser difícil mesmo reparar que ali há a possibilidade de se praticar o rapel.
O local é pouco visitado. A
Prefeitura do Guarujá se
preocupa mais em divulgar
as praias e o instituto acaba fazendo parcerias com
agências de turismo para
atrair mais visitantes.
Durante a semana é
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preciso agendar a visita.
Mesmo aos fins de semana, é comum não aparecer
ninguém por lá. O público
em geral são escoteiros,
escolas ou gente que tem
paixão pela natureza. Biólogos interessados em
fotografar aves e turistas
de outros países visitam o
local. Moradores do Guarujá ou de outras cidades
da Baixada Santista é muito rara. De qualquer modo,
aos desatentos que não
costumam reparar à sua
volta, esqueçam um pouco
as praias do Guarujá e se
arrisquem a fazer um programa diferente.
A rampa até chegar onde
fica a área onde se pratica
o rapel é íngreme. Para os
sedentários, pode tirar o
fôlego. Já imaginei que teria de escalar um paredão
enorme. Mas pelo contrário, o lugar é super acessível. Crianças, jovens, adultos, qualquer um pode fazer
o rapel, como me contou o
instrutor, Eduardo Macena, que foi extremamente
atencioso e prestativo.
A área onde está instalado o instituto é enorme,
e abrange desde a estrada Guarujá-Bertioga até
a praia do outro lado do
morro. Uma trilha que ain-
da espera regulamentação
para começar a funcionar
levará o visitante até o alto
do morro onde se pode
avistar todo o canal de Bertioga. Certamente, por ali,
há séculos, os nativos podiam avistar a chegada de
inimigos. Se ali passaram
índios, portugueses ou corsários não se sabe. Essa
certeza só virá quando forem concluídos os estudos
da Universidade de São
Paulo sobre um sítio arqueológico perto da trilha.
É comum os monitores
encontrarem pedaços de
utensílios domésticos antigos espalhados pela área.
Eles são todos guardados
e se evita chegar perto do
local. Mas o estudo ainda
está em fase inicial por falta de investimento.
Talvez esses habitantes
tenham praticado rapel
sem saber. Sei lá, fugindo
de algum inimigo. Tinha
chegado a hora de eu experimentar a sensação. O
rapel foi criado em 1879 na
França por Jean Charlet-Stranton, que se baseou
na técnica do alpinismo.
Rapel, em francês, é algo
como “chamar”. É como
se você fosse desafiado a
fazer o rapel.
A atividade, que custa
Na hora do rapel é necessário tomar cuidado com o limo
De crianças a idosos, essa é uma ótima opção de lazer em meio à natureza
R$10,00, tem que ser feita
com segurança. Capacete
e o equipamento de proteção são fundamentais.
Depois de equipado, é só
segurar na corda com uma
luva para não machucar a
mão, controlar o atrito entre a corda e uma peça
de aço que parece um
oito, e ir descendo. Nem
precisa de muito esforço.
Você deve tomar cuidado
só com o limo das pedras
para não escorregar, como
aconteceu comigo uma
vez durante a atividade. O
tempo depende de você.
Acredito que tenha descido em dez minutos. Entre
as pedras corre água que
vem da nascente e desce até o canal de Bertioga
que margeia a estrada lá
embaixo.
A sensação é ótima, o
contato com a natureza
te deixa leve. Passou tão
rápido que eu até esqueci
dos pernilongos que me
incomodavam, rondando
minha cabeça enquanto
conversava com o monitor. Para quem tem medo
de altura, não se preocupe. A pedra onde é feito
o rapel nem é tão alta, de
lá de cima até a pequena
piscina natural que se forma embaixo quando você
desce, o trajeto deve medir no máximo dez metros.
Super recomendado, para
qualquer idade, desde que
a pessoa se sinta segura.
VENTURA- Junho/2011 | 13
FOTOS: TÁSSIA MARTINS
ECOTURISMO E HISTÓRIA SE MISTURAM
Trilha ecológica
além dos cinco sentidos
No Guarujá, o exercício nas matas pode ser feito na
Serra do Guararu. Nossa reportagem foi até lá
conferir
Tássia Martins
FOTOS: tássia martins
Quem for se aventurar nessa trilha deve estar atento o tempo todo para não se machucar
14 | VENTURA - Junho/2011
O cenário é comum
para os aventureiro­s. Já
para uma recém-aventureira como eu nem tanto.
A trilha estreita em meio
à mata apresenta poucas dificuldades. Alguns
barrancos próximos de
onde se caminha ou então a mata fechada em
pontos históricos. Isso
mesmo, os visitantes
que entrarem na Serra
do Guararu irão deparar
com destroços dos séculos 15 e 18.
O caminho até o local
é uma atração à parte.
Partindo do Centro do
Guarujá, mais precisamente da Praça dos Expedicionários, na Praia
de Pitangueiras, seguimos pela rodovia SP 61
— Ariovaldo de Almeida Viana ou Guarujá-Bertioga. No Km 5,5, o
aviso: “Reserva da Serra do Guararu. Respeite
a Natureza”. Seguimos
pela estrada até nos esquecermos que estamos
no meio da “selva de pe-
dras”, pois a bela paisagem verde começa a predominar e um lindo céu
em tons de azul e branco
emolduram a paisagem.
O tempo que se leva
para chegar até o local é
de aproximadamente 40
minutos de carro.
A entrada da trilha fica
bem perto de Bertioga,
antes de chegar à balsa
que dá acesso à cidade.
Deixamos o carro estacionado próximo a um
bar que beira à estrada
e logo começamos a caminhada. Confesso que
não estava preparada fisicamente; então, adentrei a mata com receio de
acordar no dia seguinte
com dores musculares
de uma recém-aventureira. Tranquilizo-me ao
ser informada pelo guia
da Secretaria de Turismo, João Henrique dos
Anjos, que não há muitos obstáculos na trilha.
Na rota da Serra do
Guararu, o cheiro de
mato predomina. Muitas
árvores nativas da Mata
Atlântica, como os ipês
e quaresmeiras, florescem no começo do ano.
As sementes de algumas plantas servem de
alimento para os ligeiros
esquilos e pássaros. Aliás, em um ponto especifico da trilha, um cheiro
forte impregna no nariz
e logo se vê manchas
brancas na vegetação.
Ali é o “banheiro” dos
pássaros.
Depois de caminhar
cerca de 20 minutos chegamos às Ruínas arqueológicas da Armação das
Baleias. Em seguida,
encontramos o Forte de
São Felipe e a Ermida de
Santo Antônio do Guaibê. João Henrique conta
que a Armação das Baleias teria dado início à
industrialização do País,
já que foi a primeira fábrica a produzir óleo de
baleia, que servia na
produção de argamassa
para construções. Já no
Forte foram celebrados
os primeiros cultos religiosos pelo padre José
de Anchieta, em terras
tupiniquins.
VENTURA- Junho/2011 | 15
Hoje, o cenário atrai as
mais variadas plantas,
borboletas de asas coloridas, que no silêncio e
calmaria do lugar até se
deixam ser fotografadas.
Em contraste, algumas
paredes dos destroços
pichadas por vândalos.
O passeio segue e logo
deparo com outra trilha:
a de acesso para a Prainha Branca. Apesar das
picadas de mosquitos
do tipo borrachudo, no
fim do passeio, o saldo
é positivo. Seguimos até
a trilha que leva à Prainha Branca. Lá me surpreendi com uma vista
paradisíaca. O sol estava se despedindo e em
contraste com o mar,
formou-se um lindo cenário. Depois de nos reabastecermos com água
gelada, João Henrique
e eu enfrentamos mais
uma longa caminhada,
com descida acentuada.
Se você for um aventureiro iniciante, não se
esqueça de ir com uma
roupa leve (tipo de ginástica), passe repelente,
não leve bolsas pesadas
ou muitos acessórios.
Uma garrafa de água é
o suficiente — isso se
só for fazer a caminhada
histórica, que dura cerca de 45 minutos. Além
disso, o passeio só será
possível, quando não es-
tiver chovendo.
Próximo à balsa existem
estacionamentos,
inclusive
particulares,
que custam R$ 10,00 o
dia inteiro. Há também
alguns barzinhos. Não
precisa pagar para entrar na trilha. A melhor
rota é a opção do caminho de baixo, para quem
vai conhecer as ruínas. A
outra passagem leva ao
paraíso da Prainha Branca, habitado por famílias
de pescadores. Ali existem pousadas simples
que recebem surfistas e
turistas que gostam de
lugares incomuns e com
placas indicativas “Prainhaterapia”.
ARQUIVO PESSOAL
Um monitor especial
Miguel, 13 anos e deficiente visual, é responsável por mostrar o local para os turistas
Miguel Almeida Flávio é um dos monitores
da Serra do Guararu.
O garoto de apenas 13
anos leva turistas do
mundo inteiro para conhecer o lugar. Até aí
tudo bem, se não fosse
por um detalhe. Miguel
é cego. Sua deficiência
visual no olho esquerdo lhe faz ter apenas
5% de visão e no olho
direito, 10%.
Ruínas, flora e animais são algumas das paisagens proporcionadas por esse roteiro
16 | VENTURA - Junho/2011
Ele quebrou os tabus
e soube enxergar muito além. Incentivado
por Silvia Cabral, coordenadora do grupo
de monitores da Serra
do Guararu, o garoto
aproveitou a oportunidade e hoje é o monitor
mirim do local.
Miguel já guiou cinco grupos, sempre com
crianças
deficientes
visuais. No total, 25
crianças já percorreram o percurso histórico da Serra do Guararu, sendo guiadas
por ele. No percurso,
é acompanhado por algum adulto, mas com
o apoio de uma corda
com oito nós ele indica as partes culturais
e o tipo de vegetação
da mata atlântica sem
nenhuma dificuldade.
(T.M.)
A Serra do Guararu está aberta à visitação todos os dias. Quem preferir visitála acompanhado de um monitor local precisa agendar pelo telefone (13) 33056119. Outras informações na Secretária de Turismo do Guarujá: (13) 3344-4600.
VENTURA- Junho/2011 | 17
ECOLOGIA PODE SER A SOLUÇÃO
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Quando trabalho e ecoturismo
caminham juntos
Empresas buscam no turismo ecológico uma alternativa
para solucionar problemas entre funcionários
Elizabeth Soares
Muito verde, cheiro de
mato e de terra, sons de
pássaros e outros animais
silvestres quebrando o silêncio... e colegas de trabalho reunidos. Não, não
é um sonho daqueles em
que personagens e ambientes da sua vida, que
aparentemente não têm
relação alguma, misturam-se em uma imagem que
não faz sentido. Essa
cena é real e já aconteceu
algumas vezes nas trilhas,
cachoeiras, parques ecológicos e travessias da
Baixada Santista e do Vale
do Ribeira.
De acordo com algumas agências especializadas em turismo ecológico, é possível despertar
características para atuar
no mundo corporativo, a
partir de experiências que
aproximem os homens da
natureza. Liderança, autoconfiança, capacidade de
ouvir e cooperar com o grupo são qualidades que as
empresas querem que
venham à tona ao optar
por essa alternativa nada
18 | VENTURA - Junho/2011
convencional de treinamento.
Cercada pelo mar de
antigas e modernas construções, a Harpya, empresa de Ecoturismo que há
22 anos atua em Santos,
se assemelha a uma ilha
verde, um pedaço de natureza perdido no espaço
dominado pelo concreto.
Ao entrar pelo portão da
modesta casa, que parece totalmente feita de
materiais naturais, fui recebida por Nina, uma cadela dócil e carismática.
Sua dona, Lucia Valente, é a responsável
pela agência. Há cinco
anos ela desenvolve o
trabalho de ecoturismo
voltado para empresas.
Com um sorriso que tenta ao mesmo tempo me
cumprimentar e se desculpar pelo arroubo de
felicidade com que Nina
me recebeu, ela abre a
porta da Harpya, que em
nada lembra as suntuosas e pedantes construções atuais.
Lucia conta um pouco da história desse tipo
de atividade que pouca
O rio jaguareguava é uma das programações da Harpya para as empresas
gente conhece. Seu interesse por essa trilha
do ecoturismo começou
com o Projeto Cooperação, um trabalho de pós-graduação desenvolvido
na Universidade Católica
de Santos, do qual participou. O projeto pretendia desenvolver o cooperativismo em empresas,
mas com atividades que
se davam em ambientes
urbanos. Com a troca de
experiências entre grupos de São Paulo e de
outras cidades, durante eventos que reuniam
agências de ecoturismo,
surgiu a ideia de transferir este tipo de trabalho
do ambiente urbano para
o ambiente natural.
Desde então, Lucia realiza passeios ecológicos
com atividades específicas para a necessidade
de cada empresa. Nessa
caminhada, muitas histórias foram marcantes.
Ela conta que, certa vez,
o proprietário de um salão de beleza procurou
a agência para tentar
inibir um problema aparentemente comum nesse ambiente, mas que
dificultava o a ascensão
do seu negócio: a fofoca.
“Ele dizia que um funcionário sabotava o outro e
isso o fazia perder clientes”, lembra. Neste caso,
o roteiro do passeio foi
voltado para a manifestação e o reforço das características positivas de
cada membro do grupo
e, em seguida, o cooperativismo.
Ao longo da conversa,
notei que o mundo corporativo tem sede de profissionais que se destaquem por qualidades que
beneficiem a equipe e,
consequentemente, mantenham ou melhorem o
nível da produção. A natureza das “virtudes” exigidas no perfil do funcionário varia de acordo com
a expectativa do mercado. Considerando essa
diversidade de metas e
perfis, a agência de ecoturismo sugere as trilhas
adequadas aos objetivos
da empresa-cliente, respeitando a faixa etária e
a capacidade física dos
funcionários para determinadas atividades.
O passo seguinte é planejar as estratégias para
atuar com o grupo. Para
isso, Lucia se reúne com
o gerente Paulo do Carmo e uma equipe de monitores que acompanharão o grupo pelo “desafio
ecológico”. Nessas atividades, os participantes
VENTURA- Junho/2011 | 19
A empresa especializada em turismo ecológico promove passeios com a finalidade de aflorar
são estimulados a trabalhar características como
capacidade de cooperação, liderança, entre outras.
Para que os impactos
humanos no ambiente
natural não sejam danosos ao ecossistema dos
locais de visitação, os
grupos aceitam no máximo 15 pessoas. “Caso
a empresa tenha um número maior de funcionários, estes são divididos.
Isso evita, por exemplo,
que o cheiro de perfumes
ou o excesso de pessoas pisando nos mesmos
locais do solo gerem incômodos à fauna e prejuízos à flora”, explica
Lucia.
Mas este trabalho vai
além do despertar para
características individuais e coletivas adormecidas, segundo Paulo do
Carmo, que trabalha na
Harpya há dez anos. Ao
longo das atividades, os
monitores refletem junto
ao grupo questões ligadas ao consumo, sustentabilidade, respeito à
natureza e à relatividade
20 | VENTURA - Junho/2011
do conceito de riqueza
e pobreza. Para os responsáveis pela agência,
essas reflexões frequentemente são contrárias
à visão das empresas-clientes, interessadas no
aumento da produção e
dos lucros. “Por isso,
precisamos ser sutis”,
conclui Paulo.
As consequências de
uma experiência como
esta podem gerar mudanças íntimas importantes, com reflexos tanto na
vida profissional quanto
pessoal dos participantes. Foi exatamente o
que aconteceu com Ana
Claudia Ometti em um
desses passeios, promovido pela empresa de
logística internacional na
qual trabalhou até 2006.
Formada em comércio
exterior, na ocasião era
assistente de importação. Ela lembra que no
dia do passeio participou
de várias atividades e interagiu com pessoas diferentes das quais tinha
maior contato na empresa. “Fomos separados
em grupos, nos quais as
panelinhas foram desfeitas”.
Envolvida pelo contato
com a natureza, talvez
inebriada pela naturalidade, Ana Claudia resolveu remover o verniz
social. Limpa, viu-se melhor. E viu também seus
companheiros de trabalho. Despidos dos crachás e dos títulos, todos
estavam nas mesmas
condições. Sentiu-se à
vontade entre eles pela
primeira vez. Finalmente, podia ser ela mesma, sem precisar seguir
as qualidades dos funcionários de acordo com a necessidade da empresa
“
Os participantes
são estimulados
a trabalhar
características
como
capacidade,
cooperação e
liderança.
”
o padrão de perfil e de
comportamento
ditado
pela empresa.
Contaminados pelo vírus da natureza, ainda
não identificado, também
os chefes mudaram a
postura. Desenvergaram
a coluna, curvada pelo
peso dos cargos, e se esqueceram da dureza que
quase sempre vem aliada ao poder. Por instantes, aliviaram-se. Como
prêmio ou castigo, foram
compelidos a verificar,
ao longo das atividades
ao ar livre, que para o
grupo alcançar o intento
todos precisam ser ouvidos e ter as opiniões
consideradas.
Respeito é isso. Mas será que,
como todas as viroses
desconhecidas, esta se
foi da mesma maneira
misteriosa que chegou?
Ana Claudia responde
por si. Ela recorda que
entrou no mundo corporativo por influência da
mãe, que já trabalhava
no ramo e possuía contatos com empresas de
logística internacional. A
então adolescente Ana
passava por aquela fase
de dúvidas quanto ao
futuro profissional. Deslumbrou-se com a possibilidade de contato com
pessoas do outro lado do
mundo. Decidiu cursar
comércio exterior, acreditando que com o apoio
da mãe seria mais fácil
conquistar seu espaço
no universo do trabalho.
E de fato isso ocorreu
por certo período.
Mas com o passar do
tempo, como bem ensina a natureza, até a
mais dura das rochas se
transforma em poeira. O
encanto foi aos poucos
soprado para longe. O
interesse se decompôs.
A adulta Ana Claudia decidiu que algumas coisas precisavam mudar.
Aprendeu com o tempo que sentia falta dele.
Queria e merecia ser
mais valorizada por seu
trabalho. E nem sempre
um desejo como esse
pode ser realizado no
concorrido mundo dos
negócios.
Faça, conheça, produza mais e mais! Estas
ordens nunca eram ditas
assim, tão claramente,
talvez impedidas pela
cortina de fumaça dos
cigarros dos chefes ou
distorcidas pelo verniz
inventado e usado pelos seres humanos, sem
restrições. Mas ao decodificá-las, a moça franzina e de olhar meigo percebeu que quanto mais
as aceitava, mais era cobrada. Num lampejo, viu
que talvez fosse a hora
VENTURA- Junho/2011 | 21
de desobedecê-las.
Como o rio sempre segue o destino em direção
ao mar, surgiu no curso
de Ana Claudia a possibilidade de trabalhar
em contato com a natureza. Não teve dúvidas.
Hoje, tem uma pequena empresa que oferece produtos orgânicos
a internautas. Distante
da rotina que a prendia
por oito horas diárias
em um escritório, diz
ter encontrado no cam-
po, o novo ambiente de
trabalho, uma maneira
mais sensata e paciente de perceber o mundo: “Da natureza, você
não pode cobrar nada.
Com ela, você aprende
a esperar, a cobrar menos do outro e de você
mesma. Estou me encontrando nesse novo
ramo, apesar das dificuldades iniciais, sempre
comuns”. Hoje, percebe-se como uma mulher
que conhece a sua natureza. Aquele passeio
ecoturístico, enxertado
às lembranças das experiências difíceis, aproximou-a da sua essência.
“Mudei muito de vida,
mas na verdade sempre foi este o meu perfil. Agradeço por tudo o
que tenho, embora às
vezes a vida pareça árdua”.
Apesar de todas as
metamorfoses na história da microempresária, ela acredita que
não existem fórmulas
mágicas e instantâne-
Cuidado com o ‘desestresse’
as para a transformação do modo de olhar
o mundo. É preciso ter
uma sensibilidade já
desperta para notar, durante um passeio como
o oferecido pela empresa onde Ana trabalhava, que o contato com
a natureza pode melhorar as relações interpessoais. “Quem não
tem essa sensibilidade,
esse olhar para os benefícios trazidos pelo
contato com a natureza
e com os outros semelhantes, não consegue
perceber, tão rapidamente, o quanto isso é
importante”, conclui.
Passeios programados de acordo com
o objetivo da empresa
Trilha do Rio Jaguarenguava, em Bertioga
Objetivo: Resistência,
autoconfiança
Travessia Salesópolis/
Boiçucanga, em São
Sebastião
Objetivo: Liderança,
capacidade de planejamento
22 | VENTURA - Junho/2011
Parque das Neblinas,
Bertioga/Mogi
Objetivo: Integração
Objetivo: Percepção
do externo, superação,
solidariedade
Trilha Praia do Camburizinho, em Guarujá
Objetivo: Integração, resistência
Reserva indígena do
Rio Silveira, em Bertioga
Objetivo: Adaptação a
novos ambientes, conceito relativo de riqueza/pobreza
Trilha D´água, em Bertioga
Regina Lopes Tavares,
psicóloga
especialista
em desenvolvimento de
competências e técnicas
em vivências, concorda
com Ana Claudia. Para
ela, que há 20 anos se
dedica a este trabalho e
há 10 presta consultoria
em recursos humanos,
a transformação de um
perfil não ocorre da noite para o dia, como num
passe de mágica. E um
fator preocupante nesse contexto é o possível
despreparo das pessoas
que desenvolvem o trabalho direto com as equipes nos ambientes naturais.
De acordo com a psicóloga, as atividades podem ser realizadas para
“desestressar” os funcionários, mas é imprescindível a parceria com
profissionais capacitados
e que possuam experiência em treinamento de vivências ao ar livre. Os desafios impostos ao longo
do passeio geram uma
tensão que, se não tiverem o respaldo dos monitores, podem ter consequências sérias: “Se
as técnicas não forem
aplicadas com responsabilidade e conhecimento, podem desencadear
desentendimentos entre
os funcionários ou problemas comportamentais
que terão o efeito inverso
do esperado pela empresa”.
Regina também avalia
que os empresários precisam ficar atentar para
que, contaminados pelo
imediatismo, não imponham aos funcionários a
participação em determinadas atividades. “Este
tipo de exigência submete algumas pessoas a situações que não querem
vivenciar, o que pode ser
considerado violência psicológica”.
Acredito que agora
seja possível responder
à pergunta que Ana Claudia não conseguiu. Talvez, o vírus da natureza
não sobreviva muito tempo longe do ar puro e só
contamine poucos. Destes, possivelmente quase
todos forcem o bichinho
submicroscópico a incubar por longos anos ou
por uma vida inteira. Talvez, simplesmente o eliminem quando novamente inspiram o ar urbano.
(E. S.)
Fazenda Cabuçu e rio Passariuva são alguns destinos
VENTURA- Junho/2011 | 23
É um pássaro? É um avião?
Quero voar de novo!
FOTOS: JOYCE SALLES
Pular de parapente. Muitos têm vontade alguns
têm curiosidade, mas poucos têm coragem
Joyce Salles
1,2,3 corre, corre, corre até os pés saírem do
chão.
— UHUUUUUUUUL!
Foi esse grito que ficou entalado na minha
garganta.
Esportes radicais nunca foram minha aptidão,
ainda mais um esporte
que envolvesse altura.
Quando surgiu a ideia
de fazer uma reportagem sobre parapente,
confesso que fiquei com
medo. Desde o início.
No meu primeiro contato com o esporte, fiquei mais calma quando vi um dos alunos do
Morro do Voturuá voando pela primeira vez, me
pareceu mais tranquilo
do que imaginava.
O parapente é uma
espécie de para-quedas
que já sai aberto, e isso
me transmitiu uma sensação de segurança.
Conversei com instrutores, monitores e pilotos e a pergunta que não
deixava de fazer era:
— Você já se envolveu
em algum acidente? —
perguntei.
As respostas eram
sempre as mesmas
24 | VENTURA - Junho/2011
— Uma vez só, mas
nada grave.
Fiquei imaginando que
isso era um bom sinal.
Confesso,
demorei
para tomar coragem. Fui
diversas vezes para a
rampa e olhar me agradava mais do que estar
no lugar daquelas pessoas.
Minhas
limitações
não estavam apenas no
medo, mas também no
tempo.
A melhor época para se
voar é de janeiro a abril,
quando a mãe natureza
é mais generosa, e dá
condições de voo quase
todos os dias. Com a entrada de uma frente fria,
fiquei mais receosa ainda. Meu celular tocou.
Era Reginaldo, o “Baratta”, instrutor de umas
das escolas de parapente:
— Alô, Joyce, corre aqui para a rampa, o
tempo está bom para pular...
Saí correndo de casa,
de moto. Ao chegar à
rampa — estava deserta. Semanas atrás estava cheio de pilotos colorindo o céu com seus
parapentes. Preenchi o
formulário com os meus
dados e paguei o voo, R$
120,00. Depois disso, fui
rumo à rampa localizada
ao lado da sede. Meus
passos já não
estavam firmes.
A terra já não
recebia mais as
pegadas do
meu tênis.
Na rampa me equipei
— capacete e uma espécie de mochila, que
ia até meu joelho. Nela,
um acento (chamado de
selete); cintos saiam e
prendiam-se em minhas
pernas e barriga. O instrutor ficou atrás de mim
preso pelos mosquetões.
Naquele momento, recebi a seguinte instrução:
— Coloca a mão para
trás e segura no acento.
Assim que a gente decolar, você a empurra para
baixo de forma que sente nela.
Por um momento descontraio dizendo que sou
um pouco escandalosa e
pergunto se posso gritar.
O instrutor respondeu:
— Sem problemas, é o
que mais acontece.
O monitor é quem auxilia, para esperar uma
corrente de vento. Segura numa das minhas alças e coordena a minha
Para quem tem curiosidade, o voo de parapente é uma ótima aventura
VENTURA- Junho/2011 | 25
MONITOR ‘CHOCOLATE’
corrida. As pontas dos
meus dedos estão geladas. Não é por conta do
frio que faz. Meu coração,
que já estava acelerado,
parece que vai parar na
boca e faz com que minha garganta dê um nó.
Lá fui a 180 metros de
distância do chão. Minha
voz não saiu, meus olhos
olhavam para meus pés
fixos no chão que em segundos ficariam pendurados. Na minha cabeça não vem nada, mas
minhas mãos por conta
própria empurram a selete e me acomodo. O
silêncio paira durante
alguns segundos e o barulho do vento comanda.
Escuto uma voz:
— Joyce, pode soltar a
cadeirinha e segurar essas alças.
Meu coração sossega, o medo parece que
ficou na rampa — paz
— meus olhos não param, lacrimejam com a
batida do vento. Olho
para o horizonte. No mar
os navios mais parecem
barquinhos de brinquedo. Santos, São Vicente,
Praia Grande e Guarujá
parece ser uma cidade
só. Passo pertinho do
morro. “Como é linda a
natureza aqui de cima”,
penso.
As pessoas que caminham na praia, mais
parecem formigas, os
carros não param na
avenida movimentada,
mas o vento é o único
barulho que ouvimos. Os
surfistas que se aventuram no mar parecem
pontinhos.
O voo é tranquilo e depois de alguns minutos
no ar consigo conversar
como se nem estivesse
voando bem mais alto
que os pequeninos prédios de 20 andares da
praia.
Cercados por urubus,
o instrutor conta que é
uma ave preguiçosa e
fica em térmicas de ar
onde não é preciso bater
as asas. É impressionante como os pensamentos
vêm e vão rapidamente.
Uma manobra um pouco mais ousada para o
meu gosto, meu medo
volta, mas vai embora
MONITOR ‘CHOCOLATE’
Antes do voo todas as instruções são passadas para que as dúvidas sejam esclarecidas
26 | VENTURA - Junho/2011
antes mesmo que ficasse tensa de novo. O instrutor pergunta se estou
enjoada e respondo que
não. Mas depois de ficar
olhando muito para baixo o enjoo vem me visitar e comunico o instrutor, que então resolver
terminar o voo para não
haver problemas.
Vamos abaixando, em
busca de correntes de
vento e tem horas que
conseguimos sobrevoar o mar. A instrução do
pouso é simples:
— Vai saindo da cadeirinha e quando os seus
pés começarem a tocar
o chão continua correndo até eu pousar.
E assim eu faço, antes mesmo de tocar no
chão vou batendo as
pernas no ar. Assim que
toco, dou alguns passos
e acabo caindo sentada
no chão.
— Normal — ele diz.
Uma sensação vem, o
enjoo passa, o que me
resta é tristeza pelo voo
ter terminado.
— Quero de novo! —
peço.
REGINALDO AMARAL
Momentos antes e durante o voo. Adrenalina a todo vapor
VENTURA- Junho/2011 | 27
Bate asa, bate asa!
O telefone toca no
Clube de Voo livre do
Litoral Paulista:
— Alô, bom-dia! Eu
gostaria de saber como
está o vento aí em
cima?
— Olha, está com
uma brisinha e aumentando — responde a
secretária Jurema.
De equipamentos no
porta-malas do carro,
lá vai Jarbas da Rocha, piloto de parapente há três anos, sentir
a energia da natureza,
como ele mesmo intitula o seu voo. Ele é
comerciante e aos 62
anos pode-se dizer que
é um dos mais velhos
pilotos do clube. Conheceu o esporte através do neto, que estava passeando pela orla
de São Vicente e viu os
equipamentos no chão.
Curioso, o garoto pediu para ir ver mais de
perto. O avô dedicado
levou-o para conversar com o piloto. Daí
renasceu sua vontade
de fazer um voo. Afinal, já havia tido uma
28 | VENTURA - Junho/2011
experiência em pilotar
helicóptero. Na época,
por questões financeiras teve a vontade
amargurada.
Agora, como piloto
de parapente, Jarbas
não sai mais da rampa.
Se bobear, passa o dia
todo lá.
— O que é voar? —
pergunto.
— É emocionante, é
sentir a energia da natureza. Quando estou
voando a impressão é
de tudo estar no meu
poder.
Jarbas só lamenta
em não conseguir ler a
meteorologia:
— Gostaria de poder
saber mais, ler as nuvens, o céu, o vento.
Na beira da rampa,
o instrutor Eládio do
Nascimento passa as
informações pelo rádio
comunicador aos alunos:
— Bate asa, bate asa!
Cuidado com a massa
de ar, copiou?
Dono e instrutor da
escola WindCoast umas
das quatros escolas as-
sociadas no CVLLP e
umas das cinco maiores escolas do País,
Eládio, ou Vovô, como
é chamado no rádio,
está no ramo há 18
anos.
Fisioterapeuta
formado, conheceu o
esporte por conta da
mulher que fez um voo
e então tomou gosto.
Abandonou a profissão
e se dedicou ao esporte. Depois de se formar
como piloto, abriu uma
escola.
Hoje, com mais de
800 alunos formados,
diz que está perdendo
a excitação pela atividade:
— Faço por que gosto, mas quando chegar
em mil alunos formados quero parar. Não
tenho mais descanso,
trabalho de segunda a
segunda, e quero voar
por esporte. (J.S.)
VENTURA- Junho/2011 | 29
Contraste do urbano
com o
O M o r r o d o Vo t u ruá — ou Morro da
Asa Delta, em São
Vi cente — é um contraste do urbano com
o meio ambiente. Casas humildes, crianças jogando bola, vizinhas sentadas em
frente à s s u a s c a s a s
jogando
c o n v e r sa
fora, ruas asfaltadas.
Confor m e v a m o s s u bindo, o asfalto vai
se deteriorando, com
imensos buracos. Em
direção ao morro, as
p l a c a s d i z e m : “ Vo o
livre”, com setas indicando o caminho.
As placas estão penduradas em árvores
e nos postes de luz.
As árvores de várias
espécies ainda predominam no morro.
Além de cachorros e
gatos, se pode também encontrar animais exóticos como
o macaco-sagui. Dependendo da sorte,
podemos receber a
visitinha dele, enquanto aguardamos
a vez no voo.
Aos que preferirem
o acesso à rampa
p o d e m c hegar ao alto
do morro pelo teleférico. Paga-se R$15,00
por uma v i a g e m d e
ida e volta. Idosos
acima de 60 anos
pagam meia, e crianças menores de oito
30 | VENTURA - Junho/2011
meio ambiente
No Morro do Voturuá é possível ver as cidades de Santos e São Vicente. Construções e natureza tão perto e tão longe
anos não pagam. A
duração de subida e
descida leva 22 minutos.
Atualmente, a sede
d o C l u b e d e Vo o L i -
vre do Litoral Paulista, que é responsável pela rampa, está
passando por reformas para ser ampliada, mas as obras não
interferem em nada
nos voos. Os sócios
pagam matricula trim e s t ral e as quatro escolas associadas também pag a m a m e s m a
t a x a . D i n â m i c a d o A r,
W i n d Coast, Horizonte e Butterfly são as
escolas
associadas
ao clube.
Além
de
fazer
voos d e a p t i d ã o —
como é chamado
pela Agência Nacional de Aviação
Civil —, as escolas
também
oferecem cursos. O
cronograma do curso inclui aulas teóricas e praticas.
Na aula teórica se
aprende meteorologia,
aerodinâmica,
aerologia, regras de
tráfego, noções do
espaço aéreo e técnicas de pilotagem.
Já nas aulas práticas a inflagem do
parapente, controle
de vela e treinamento no solo como decolagem e pouso. O
curso todo sai por
R$ 1,2 mil.
Depois de realizado o curso e as
provas, o piloto recebe uma carteira
de habilitação desportiva. Os equipamentos obrigatórios
são cinto, mosquetão, capacete, pára-quedas e rádio
c o m u n i c a d o r. Va l e
lembrar que essa
não é uma modalidade de baixo custo, pois o parapente pode valer de R$
6 mil a R$ 10 mil, o
solo; e R$ 12 mil a
R$ 14 mil, o duplo.
Para os interessados em fazer o
voo único o preço é
de R$ 120,00. Mais
informações no telefone (13) 35688043. (J.S.)
VENTURA- Junho/2011 | 31
SE A CANOA NÃO VIRAR....
FOTOS: BRUNA DALMAS
O passeio é uma oportunidade de conhecer outras partes de Praia Grande e São Vicente
A diversidade esquecida
Muito importante na natureza e pouco lembrada, a beleza
do mangue é cenário de canoagem
Bruna Dalmas
O barulho da água
cortada pela canoa e o
remo, o som dos pássaros e as vozes humanas
presentes é tudo o que
se pode ouvir durante as
duas horas de canoagem
pelo manguezal que corta Praia Grande e São Vicente. A beleza pode ser
observada antes mesmo
de partir. O Portinho de
Praia Grande — parque
que fica logo na entrada
da cidade — agrega várias opções de recreação
e lazer.
Antes de entrar na água,
o guia e sócio-proprietário da Caiçaras Expe32 | VENTURA - Junho/2011
dições, Renato Marchesini, propõe aos visitantes
uma sessão de alongamento e passa uma série de instruções. Dando
início ao alongamento o
foco é parte superior do
corpo, já que costas e
braços serão trabalhados durante o percurso.
“Coloca os braços lá no
céu. Inspira e respira.
Sinta a natureza e deixa
ela sentir você”.
Marchesini diz que a
canoa nunca virou ; caso
vire, instrui: “Solta o corpo
e olha para o céu. A areia
do manguezal é fina,
como se fosse movediça,
pode alcançar a altura da
barriga da uma pessoa.
Se alguma embarcação
motorizada passar e formar uma onda, encare a
onda de frente, como os
surfistas fazem com a
prancha”.
O guia também conta
que a canoagem nessa
região é feita há mais de
500 anos. Começou com
os índios. Hoje, o passeio
ecoturístico é equipado
com canoas canadenses.
“Se o remo está do lado
esquerdo, a canoa vai
para a direita e vice e versa”, diz. O equipamento
tem três assentos. Quem
fica na parte traseira possui 80% da direção. Para
participar da canoagem,
não é preciso ter ex-
No percurso, o visitante ainda tem o prazer de ver a ave guará-vermelho
periência. Crianças a partir de sete anos já podem
embarcar. O guia segue
de acordo com o ritmo do
grupo, que precisa ter de
quatroa 11 integrantes
para ser realizada.
Após as primeiras remadas, quem dá as
boas-vindas é o guarávermelho, ameaçado de
extinção. Durante o percurso, é facilmente notado em bandos quase que
o tempo todo. De longe,
parecem frutas frescas
em árvores, de tão intensa que é a sua coloração.
Marchesini, que também
é professor de ecologia,
vai explicando sobre o
ecossistema do man-
guezal, pertencente ao
bioma de Mata Atlântica.
Toda paisagem, fauna,
flora e interações com o
homem é vista de perto
e encanta os olhos de
quem nunca esteve em
um contato tão próximo.
La existem 17 espécies fixas de aves. Entre
elas, o socó-dorminhoco,
a garça e o exibido biguá,
que faz pose em cima de
um galho com as asas
abertas. Existem também
os pássaros transitórios,
como a batuíra, que na
ocasião, ainda estava em
território brasileiro, e em
breve deverá migrar para
o Canadá, em busca do
calor do verão.
O caminho é permanentemente parecido. A
água possui uma vasta
expansão. As árvores de
mangue possuem raízes
grandes para suportar a
maré que sobe e desce.
Em alguns momentos
era possível bater com o
remo na areia de tão perto
que a canoa chegava delas. O roteiro segue pelo
estuário de Praia Grande,
passa por São Vicente
e retorna. Mas também
é possível ter acesso a
Mongaguá e Itanhaém.
Infelizmente, Marchesini conta que a busca por
ecoturismo nessa época
do ano é pequena em
comparação ao verão.
VENTURA- Junho/2011 | 33
“No fim do ano, tivemos
que recusar as buscas
porque não havia mais
dia disponível. Essa é
a melhor época para se
praticar, porque não ha o
risco de pancadas de chuva no meio do caminho”.
Explica que o passeio
é importante para conscientizar o público sobre a
preservação ambiental e
chamar a atenção para
necessidade de cuidar da
natureza. Diversas vezes
foi possível ver garrafas
pet e sacolas plásticas
trazidas pelo mar. O resultado da devastação
do homem não para por
aí.
Inacreditavelmente,
no meio das árvores de
mangue, bem adentro do
manguezal, foi possív-
34 | VENTURA - Junho/2011
el visualizar até mesmo
uma poltrona estofada e
um ventilador.
Buscando pela internet, a secretária de indústria naval Adriana de
Souza Batista descobriu
o que tinha tudo a ver
com o que procurava.
“Foi maravilhoso, além
das minhas expectativas.
Você só tem noção de
preservação quando está
em um ambiente agredido de fato”. É capaz de
mudar a visão das pessoas? Ela garante que
sim: “Pretendo não usar
mais sacolas plásticas.
Hoje, é o maior inimigo
ambiental”.
Depois de duas horas
praticamente
imperceptíveis, é possível
sentir uma pequena dor
nas costas. Os insetos
não incomodam e dificilmente são notados no
momento. Mas é importante não esquecer o repelente para eventuais
picadas de borrachudos.
No retorno à base, entre 17h30 e 18 horas,
revoadas de diversas
espécies de aves se encaminhavam às árvores
recolhendo-se até o dia
seguinte. “De noite, elas
não conseguem enxergar, por isso dormem
cedo.”, explica Renato Marchesini. Ao olhar
para o céu, avistava-se
inúmeros pássaros sobrevoando a canoa. Um
momento inexistente na
civilização.
Você sabe o
que é um
manguezal?
O manguezal é composto de água do mar e
de rio. A cada seis horas
a maré muda. O local é
rico em peixes e crustáceos. Também e considerado uma espécie
de berçário, pois diversos peixes usam o local
para desova.
Para que todos estejam
s
preparados, informaçõe
lo
essenciais são dadas pe
instrutor
A canoagem da Caiçaras Expedições pode
ser feita todos os dias,
exceto quartas-feiras.
O agendamento deve
programado com pelo
menos três dias de antecedência pelo telefone (13) 3466-6905.
O preço é de R$
34,00, mas pode sofrer
alterações.
VENTURA- Junho/2011 | 35
A BORDO DO ALVICELESTE...
Navegar é preciso!
Longe da rotina das grandes cidades, turistas se divertem no
rio Itanhaem
Aline Almeida
Duas horas e sete minutos de imersão. Velocidade: 10 km/h. O
destino? Pouco importa.
Aqui, como em nossas
vidas, é o caminho que
interessa. As curvas que
serão escolhidas, a brisa que irá compartilhar
com o sol a missão de
enfeitiçar os tripulantes
serão os carros-chefes.
O barco é simples,
com oito bancos que
ajeitam até três pessoas. Pequenas e brancas
acomodações que se
tornam tronos, tamanha
é a sensação de majestade que se apodera
desses aspirantes de
desbravadores.
Os olhos denunciam a
surpresa. Será deslumbramento com o verde
da Mata Atlântica preservada? Ou o negro
das águas que espelham a paisagem? E o
sol? Ora, o equilíbrio é
que transforma feições
ao longo do percurso.
O passeio pelo Rio
Itanhaém ocorre duas
vezes ao dia, às 9h30
e 15h30, quando se alcança o número mínimo
de seis passageiros. A
saída é no píer da Alameda Emídio de Souza,
na Praia dos Sonhos.
Desde o primeiro passo
adentrando a embarcação até o motor ser liga-
do, nota-se a tensão. No
teto, estão cinco coletes
salva-vidas, e dentro da
cabine de comando estão mais 15, além de três
cadeiras. Os dois condutores não solicitam
que os coletes sejam utilizados. E os tripulantes
parecem não se importar com o acessório de
segurança.
Alviceleste, o barco é
desamarrado, e a viagem se inicia. O ronco do motor, próximo à
paisagem urbana não
destoa, ainda. A saída é
bem próxima da praia,
na Boca da Barra, e o
rumo que seguirá não é
o mar, é rio. Se a ordem,
digamos natural, dele é
FOTOS: ALINE ALMEIDA
Disponível em dois horários, o passeio de barco dura em torno de duas horas
36 | VENTURA - Junho/2011
seguir no sentido de um
oceano, então o esquife
está remando contra a
‘maré’ do rio. Flutua no
agora denominado Rio
Itanhaém. Sua cor sombria dissimula sua origem.
De início flutua sob a
ponte Sertório Domiciano da Silva, conhecida
com ponte do Rio Itanhaém. Após algumas
centenas de metros é a
vez da Rodovia Padre
Manoel da Nóbrega ser
vencida. O cais é visualizado. É o Píer do Guaraú. Ele fica à direita, e
sobre ele pescadores,
comerciantes, turistas e
visitantes se espalham.
A partir daí, Itanhaém
urbana tornar-se-á Amazônia Paulista, devido a
grande diversidade de
flora, fauna e bacia hidrográfica extensa. No
barco, os quatro tripulantes já não visualizam
a civilização. Começam
a submergir lentamente,
sem notar. Se no início o
rio não é tão largo, após
alguns minutos suas
margens vão ficando
cada vez mais distantes
uma da outra. Ao contrário disto, os olhos vão se
estreitando, com a admiração explícita.
A embarcação não trepida muito, é possível
caminhar com facilidade
e segurança. O primeiro
a se aventurar no convés
é Luis Marcoto Sakamoto. Ele deixa seu banco
para trás e segue para a
proa do barco. Após breve observação, retorna
Belas paisagens naturais podem ser vistas no caminho
satisfeito.
Após breves minutos
a paisagem recebe o visitante. O singelo barco
de pesca branco e vermelho, com traços visíveis de ferrugem, está
na margem, até então
imóvel. O capitão segura sua vara, seu leme.
Olha para os curiosos
que estão perscrutando a região. Outros barquinhos, com um, dois
ou três pescadores são
avistados ao longo do
caminho.
Eles já estão alcançando a grande bifurcação à frente. A esquerda
é escolhida. Adentram
então, no braço do Rio
Preto. Por lá a vegetação flutuante simula a
grama de um campo de
futebol. Nas margens,
a vegetação muda. Galhos retorcidos que parecem ter a pretensão
de se conectar com as
águas. Alguns, ao longe,
VENTURA- Junho/2011 | 37
Comércios as margens dividem lugar com a natureza
parecem corpos estendidos sobre a água negra.
Agora quem aparece
são as alegres vitórias-régias. Ao longo das
margens do negro rio,
elas dançam no compasso do movimento fluvial, sem se importarem
com a passagem da embarcação. Formam desenhos, traços e formas
que seduzem quem as
admira.
Após mais de uma
hora de passeio, começam os passageiros a
avistarem construções
ao longo das margens.
É aí que as feições alteram-se. Passam da mais
profunda sensação de
distância da realidade
para a profunda e triste
sensação de saber como
o homem pode alcançar
o ápice do egoísmo.
Um paraíso como este
é invadido por intrusos
que além de fincarem
suas instalações, fazem
isso o mais próximo possível das margens. A paisagem antes intocável,
agora surge com comér38 | VENTURA - Junho/2011
cios, casas, quiosques.
Depois de quase uma
hora no barco, agora é
a vez dos passageiros
desbravarem a terra firme. Chega o momento
de desembarcarem por
45 minutos. A parada é
em uma lanchonete no
bairro Country Clube.
Lá espalhadas estão 25
mesas. Assim que atraca, os passageiros seguem, em fila indiana,
pela pequena ponte que
separa o rio e o comércio. Os responsáveis
pela embarcação autorizam a descida, apesar do receio acerca da
ponte, que visivelmente
irá tremer quando passarem.
Os quatro passam lentamente pela precária
construção e alcançam
a firmeza da terra. Ainda
em duplas, fazem seus
pedidos, andam pelo local e comentam sobre
o passeio. Luis Marcoto
Sakamoto e o filho Rafael sentam em uma mesa
e parecem relembrar
cada pedaço do pas-
seio realizado. Os dois
moram em São Bernardo do Campo e a família possui uma casa de
veraneio a 16 anos em
Itanhaém. É a primeira
vez que realizam o passeio. Mas como ficaram
sabendo da incursão ao
paraíso? “Eu vi no site
Globo.com, o jornalista
Márcio Canuto recomendou”. Rafael Sakamoto
aprovou a dica. “Gostei
mesmo. Foi muito bom”.
Luis, pai de Rafael,
não aparentar ter os
mencionados 56 anos.
Ele, que trabalha em
São Paulo, sabe bem
como duas horas assim
são importantes. “A gente que fica no trânsito
quase esse mesmo tempo, dá valor para isso!”.
Os outros dois tripulantes chegam à mesa ocupada por Luís e Rafael e
a roda de conversa tem
protagonista. A viagem
conecta as pessoas, tem
o poder de ligá-las. A
professora e pedagoga
Lucia Gualberto Badan
mora em Santo André
e estava de passagem
pela cidade na casa da
mãe. Ela fica fascinada
pelo trajeto. “O verde é
impressionante. Vale a
pena”.
Seduzidos pelo poder
da aventura, eles dividem não só a porção
que é servida. Dividem
o valor daquele momento. A conversa segue animada. Luis conta como
chegou ali. “Eu já havia
tentado fazer o passeio
outras vezes, mas não
deu certo. Hoje, consegui, e gostei”. Se a professora Lucia indica, não
restam dúvidas. “Recomendo sim. É excelente”.
Bom, o passeio possui
esta escala definida em
seu itinerário. Qual será
o acordo que existe entre os proprietários dos
barcos que ali atracam
e a lanchonete? É algo
que está na cabeça de todos, mas não é proferido
por ninguém. A proprietária do comércio, Vania Ginalva Gonçalves, nega a
existência de algum pacto financeiro. Ela o marido mantêm o negócio há
17 anos; os filhos estão
no local, espalhados pelo
balcão, interior da cozinha e mesas.
Além do comércio de
alimentos, os filhos são
sustentados por outros
meios de renda. “Pescamos com nossos dois
barquinhos e vendemos os peixes que não
usamos aqui”. A renda
aumenta na temporada, quando eles alugam
caiaques pelo valor de
R$ 5,00.
É hora de voltar —
A conversa está em no
auge quando o cordial
Ademir Rosa Garcia,
marinheiro auxiliar de
convés, convoca o retorno da trupe ao barco. Todos se despedem,
dão a última apreciada
no estilo de vida da família e seguem de volta
pela sofrível ponte até o
convés.
Ainda trocam ideia
com Jorge Luis Gama da
Cada banco do barco acomoda até três pessoas
Silva acerca dos peixes
que são encontrados no
rio. “Aqui tem muito robalo”. Com simpatia, o
também apicultor Jorge
liga o barco para a última parte do passeio.
Retornam pelo mesmo caminho da ida.
Agora os condutores explicam que quando na
ida passaram por uma
bifurcação e entraram à
esquerda, escolheram
o Rio Preto. Caso tivessem escolhido a direita,
teriam adentrado o Rio
Branco.
Despedida — Assim
como em qualquer viagem, o retorno traz consigo a sensação de que
momentos bons duram
frações de segundos.
Agora, o sol começa a
abandoná-los, tornando
a sensação ainda mais
pungente. A paisagem
não é mais a mesma. Ela
agora se prepara para
receber a Lua. E vai se
transformando ao longo
do retorno.
Os segundos voam, os
minutos fogem do con-
trole quando percebem
não é apenas o passeio
que está acabando. Em
cada semblante estampa-se a sensação de
que ter feito o passeio
foi uma belíssima escolha. Ao mesmo tempo
perguntam-se: Por que
não fiz isso antes?
A tristeza se dá não
somente pelo término e
sim pela consciência da
realidade que os espera fora daquele branco
convés. Saem sorrindo
do barco. Despedem-se um dos outros e seguem silenciosos pela
alameda. O barco estará
sempre lá. Com horário
marcado, com seus bancos aguardando novos e
velhos exploradores que
certamente voltarão.
O passeio
R$ 25,00 adultos
R$ 10,00 crianças
(até 10 anos)
Telefone
(13) 3426 2126
VENTURA- Junho/2011 | 39
TRÊS DIAS DE AVENTURA
Uma expedição à
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Ilha do Montão de Trigo
A cultura caiçara explorada em uma viagem ecológica
pelo Litoral Norte de São Paulo
Jéssica Amador
A expedição à Ilha do
Montão de Trigo — nome
originado pela topografia em forma de monte — dura três dias e é
uma verdadeira aventura. Distante 13 quilômetros do continente possui
uma comunidade que
até pouco tempo por não
manter contato com pessoas que não fossem do
próprio local acabou imprimindo à ilha a alcunha
de “ilha dos monstros”.
40 | VENTURA - Junho/2011
Como só se relacionavam entre si havia problemas genéticos, o que
não ocorre mais.
Atualmente, vivem lá
dez famílias, com 50
pessoas, conhecidos por
monteiros, que unem o
ecoturismo ao desenvolvimento sustentável. O
empresário do turismo
Rafael Chitolina Bencivenga descobriu a ilha
quando fazia expedições
pelo Litoral Norte, em
2006. Por não ter contato com quem vivia na
ilha, os caiçaras diziam
que os moradores da
ilha eram “bichos selvagens”.
Num certo dia, no
acampamento da Barra
do Sahy, Rafael conheceu um morador da ilha
que tinha ido ao continente para comprar combustível. Então, ao se oferecer para buscar de carro
o que os moradores precisassem, ele despertou
a admiração do habitante longínquo. A parti daí,
surgiu a amizade entre
A experiência de três dias proporciona visitas a piscinas naturais e cavernas
eles.
“No início, tinham um
pé atrás porque as pessoas que se aproximavam não queriam nada
mais do que roubar o seu
espaço”, conta Bencivenga. Com o passar do
tempo, ele foi ganhando
a confiança dos moradores e pediu para visitar:
“Quando cheguei lá, me
encantei. Hoje, a ilha é a
menina dos meus olhos”.
Ninguém sabia ao certo quando a Ilha do Montão de Trigo começou a
ser habitada. Conta uma
dessas lendas marítimas
que os moradores seriam
descendentes dos sobreviventes de um naufrágio, ocorrido há mais
de três séculos. Com a
ajuda de um historiador,
foi feito o levantamento
histórico e cultural do local e se descobriu que
é habitado desde 1700.
Os moradores prezam
a qualidade de vida e,
consequentemente, têm
uma vitalidade superior.
“As nossas atividades
na ilha são voltadas basicamente para o desenvolvimento sustentável
do local. Lá, não existe
nem energia elétrica.
Eles assistem TV com
o auxílio de baterias de
carros”.
Monitores foram formados por Rafael para
que pudessem mostrar
os visitantes as particu-
laridades do local.
O primeiro dia do passeio começa com a montagem do acampamento.
Logo após, os visitantes
encontram o morador
mais antigo que conta
histórias da vida caiçara. Já no segundo dia,
começam as atividades
propriamente ditas. O visitante tem que ter fôlego de sobra.
A trilha para o ponto mais alto do Montão
de Trigo dura cerca de
quatro horas, mesclando contato com a natureza e atividade física
moderada. Ao voltar, os
visitantes saboreiam um
típico almoço caiçara,
peixe com banana.
VENTURA- Junho/2011 | 41
Os dez mandamentos
do ecoturismo
Neste
mesmo
dia,
após o descanso do almoço, é a hora de explorar cavernas e grutas de
água repletas de mistérios e com fauna exótica.
Durante as três horas de
mergulho, o visitante encontrará as mais variadas espécies de peixes e
crustáceos como piabas,
pargos, bodiões, salemas, lagostas, caranguejos, garoupas e badejos.
De vez em quando é possível avistar peixes de
grande porte, alguns dos
quais são extremamente
ariscos. Os peixes frade
fazem um espetáculo à
parte, solitários ou em
duplas são facilmente
encontrados entre as pedras.
No terceiro e último dia
começa-se bem cedinho:
já habituados ao local,
os visitantes são convidados pelos caiçaras a
42 | VENTURA - Junho/2011
O primeiro passo ao chegar é montar o acampamento
contemplar o amanhecer visto de dentro da
água. A atividade feita com os guias locais
inclui pesca esportiva
e de quebra, eles garantem o alimento para
o almoço. Após a pesca, ainda há o mergulho
para explorar as piscinas
naturais e cavernas subaquáticas da região.
A aventura à Ilha do
Montão de Trigo está
quase chegando ao fim.
Os visitantes voltam do
mergulho, almoçam o que
pescaram e, em seguida,
levantam acampamento
rumo ao continente.
No Brasil, a Associação
Brasileira das Empresas
de Ecoturismo e Turismo
de Aventura fiscaliza empresas do ramo e criou o
Programa Aventura Segura que tem como base
os
10
Mandamentos
do Turista de Aventura
Consciente.
1 — Pedir referências
e conferir se a empresa que oferece o serviço
está formalizada e se tem
alvará de funcionamento.
2 — Verificar se a empresa oferece seguro que
cubra atividades de aventura e natureza. O seguro
é uma segurança adicional para os clientes caso
qualquer coisa fora do
planejado ocorrer e assegura que vai haver algum
tipo de assistência.
3 — Verificar se a empresa conhece e aplica
as normas técnicas brasileiras para a atividade
que oferece. Pergunte à
empresa se ela tem um
Sistema de Gestão da
Segurança (SGS) implementado, conforme a
norma.
Toda empresa de Turismo de Aventura deve ter
um SGS funcionando em
suas atividades. O sistema ajuda as empresas a
se organizarem para dar
o máximo de segurança
para os clientes e diminuir os acidentes. Caso
acidentes ocorram, a em-
presa saberá reagir bem.
4 — Os equipamentos
devem estar em boas
condições de uso. É necessário ficar atento ao
estado do material (aparência, limpeza e condições de armazenamento).
5 — Lembre-se: sempre que tirar os pés do
chão esteja de capacete e na água de colete.
Empresas sérias oferecem equipamentos que
aumentam a segurança,
a diversão e o conforto
durante o passeio.
6 — Aja de acordo com
as regras ambientais em
sua aventura: não faça
fogo, não contamine o rio
e ande sempre por trilhas
demarcadas.
Produza
pouco lixo e traga-o de
volta. Turismo de Aventura é feito na natureza,
temos que ser responsáveis com o uso dos espaços que visitamos.
7 — Conferir o estado
do estojo de primeiros
socorros que a empresa está levando e tenha
na sua mochila seus remédios específicos. É
importante sempre estar
preparado para o inesperado.
8 — Ser responsável é
fundamental. Conheça e
respeite seus limites.
Cada pessoa deve saber como fazer atividades que sejam divertidas,
emocionantes e que estejam dentro do seu limite.
9 — Hidrate-se, alimente-se e mantenha-se
aquecido. A melhor pessoa para cuidar de você
é você mesmo! Água,
alimentação e filtro solar
não podem faltar na mochila.
10 — Conheça o Programa Aventura Segura
e descubra o nosso País
de um jeito novo. Busque
empresas aderidas ao
Programa Aventura Seguras nos destinos. Pratique turismo de aventura
com consciência. (J.A.)
VENTURA- Junho/2011 | 43
O que é
ecoturismo
O ecoturismo tem
como característica o
turismo
responsável
voltado para atividades
realizadas em conjunto
com o meio ambiente.
Dessa forma, o praticante aprecia e entra
em contato direto com
natureza promovendo
bem-estar e desenvolvimento das populações
nativas que, muitas vezes, vivem isoladas em
meio à natureza.
O que muitos não
sabem é que para praticar esse turismo al-
gumas regras devem
ser respeitadas. O principal é saber que o ecoturismo visa equilibrar
a exploração turística
propriamente dita, com
a manutenção das características naturais do
ecossistema.
Características
• Visita a ambientes naturais com experiência
de vivência dentro da natureza.
• Prática em pequenos
grupos, com atividades
físicas mais intensas do
que outras formas de turismo.
• Os praticantes, em
tese, são pessoas esclarecidas e bem-educadas, conscientes de
questões relacionadas
à ecologia e ao desenvolvimento sustentável.
• Baixo impacto ambiental.
• Patrocina a conservação ambiental.
• Proporciona projetos
que promovam igualdade e redução da pobreza em comunidades nativas.
Fonte: Associação Brasileira das Empresas
de Ecoturismo e Turismo de Aventura
A Radical Life reune atividade física e divertimento em suas atividades ecológicas
44 | VENTURA - Junho/2011
Diversão, atividade física e ecologia
As operadoras de ecoturismo oferecem diversas opções de passeio.
Em Santos, a academia de ginástica Radical
Life tem como proposta
praticar ginástica de forma natural. O objetivo é
buscar equilíbrio entre o
corpo e a mente. Segundo o proprietário Rafael
Chitolina Bencivenga, a
intenção da operadora
de turismo ecológico de
aventura é unir atividade
física às novas descobertas, formando uma
consciência ecológica e
o desenvolvimento sustentável nos participantes. Ele, como educador
físico, acredita que com
o treinamento dado, é
possível conciliar as atividades na academia
com o condicionamento
físico proporcionado pelos esportes radicais que
intensificam a musculatura.
Banana boat — Os
grupos têm que ter no
mínimo quatro e no máximo dez pessoas. A
embarcação leva os participantes que têm disponível, como item de
segurança colete salva
vidas, bote de apoio e a
companhia de um instrutor ou guia.
Mergulho livre — Iniciantes ou ao na prática
de mergulho podem participar dessa atividade
que une atividade física
leve e contato com a natureza, principalmente o
ecossistema marinho. Diversas espécies da fauna
marinha poderão ser observadas como tartarugas,
peixes de diversas espécies e tamanhos, cavalos
marinhos,arraias além de
paisagens subaquáticas
formadas por rochedos e
paredes de corais.
Os participantes embarcam a bordo de uma lancha, mas outros tipos de
embarcações podem ser
utilizados para a pratica de
outras atividades como canoa polinésia e caiaques.
Colete salva-vidas, equipamento de mergulho (pé de
pato, máscara, snorkel –
tubo que contém um bocal
e permite respirar o ar do
ambiente pela boca, sem
levantar a cabeça da água
— e boia sinalizadora são
indispensáveis. O instrutor e o guia acompanham
o passeio. Além disso, o
participante tem direito
também a tirar fotos subaquáticas. Os grupos são
de dois a 12 participantes,
dependendo da atividade.
Canoa polinésia — O
passeio feito por uma embarcação típica da colonização das ilhas polinésias
e havaianas com 14 metros de comprimento.
Remo, colete salva vidas, bote de apoio e a presença do instrutor estão
inclusos no passeio, e o
participante também po-
derá poder tirar fotos. Os
grupos levam no mínimo
quatro e no máximo seis
pessoas.
Caiaques — Caiaques duplos ou individuais podem ser usados
para esta prática que
une atividade física leve
e contato com a natureza. Além do roteiro tradicional, o passeio passa
também pelo Rio Sahy.
Remos, colete salva-vidas, bote de apoio e o
guia acompanham o passeio. Os grupos variam
de um a dez pessoas.
Trekking
(trilhas)
— Saindo da Ponta da
Praia em Santos, o roteiro agora é na cidade
do Guarujá. Lá são realizadas trilhas na Praia
do Góes. Há 10 anos a
trilha era intransitável.
Os moradores locais
foram treinados, ganharam uma profissão e de
quebra,
aumentaram
sua renda. O número
de visitantes cresceu, e
a segurança também,
já que não havia melhores guias do que os próprios moradores.
Informações sobre
valores e itinerários:
Rafael Bencivega –
www.radicallife.com.br
(13) 3227.1773
(13) 9786.3131
ID 40721*4
Avenida Senador Feijó, 173, 1º andar, Santos (SP). (J.A.)
VENTURA- Junho/2011 | 45
FOTOS: LARISSA PIMENTEL
NA CRISTA DA ONDA
Paraíso escondido
A Prainha Branca é a parada certa para
aqueles que procuram boas ondas
Larissa Pimentel
Localizada na divisa
entre Guarujá e Bertioga, a Praia Branca —
ou Prainha Branca — é
uma ótima opção para
quem gosta de trilhas e
aprecia praias tranquilas
e ondas perfeitas. O caminho é pela Estrada do
Guararu, seguindo até
a Rodovia Ariovaldo de
Almeida Viana, a partir
do Guarujá. No trecho,
várias praias podem ser
encontradas, a maioria
em condomínios fechados, como as praias de
San Pedro e Iporanga.
A Praia Branca tem o
acesso menos restrito,
mas não mais fácil. Para
chegar, o visitante deve
estar preparado para caminhar. Escadas no começo da trilha, bem conservada, com corrimões
de madeira e cestos de
lixo ao longo do caminho. No meio da caminhada, o piso muda. Em
vez de escadas, chão
de pedra (como paralelepípedo). A mata é mais
fechada e mesmo em
um dia ensolarado não
se consegue ter noção
de como está o tempo
46 | VENTURA - Junho/2011
fora dali. Ha muito barulho de animais, e varios
mosquitos.
O caminho é estreito,
com partes íngremes,
que podem tirar o fôlego
do visitante despreparado. A caminhada leva
por volta de 30 minutos.
No final, já se pode notar que existem moradores no local e algumas
pousadas e campings
para quem procura passar mais tempo no local.
Na chegada, a mata
fechada dá lugar a uma
praia com cerca de 300
metros de extensão, céu
aberto, areia fina e mar
agitado com muitas ondas.
O que também pode
ser visto a primeira vista, do lado direito, são
cadeiras e mesas de
plásticos espalhadas na
areia, em frente a um
bar. Esse é o Larica´s
Bar, o mais antigo do
local, com 22 anos de
existência.
O bar é construído
com troncos de madeira
e as telhas de palha dão
um ar rústico que entra
no clima do surfe. Do bar
sai o som que embala os
surfistas, um grande am-
plificador toca as mais
diversas músicas no estilo surf music, é claro.
Há também um palco,
para os dias mais movimentados de temporada; ao lado, uma mesa
de sinuca, uma outra
opção de distração para
os frequentadores.
Marcilene Lemos, socia do local, conta que
a maior parte do movimento é na temporada,
de novembro até o carnaval. “Mas enquanto
faz sol, ainda tem bastante gente”.
Quando o inverno chega o movimento é tão
baixo que o bar chega a
fechar durante esse período. Marcilene diz que
o estabelecimento começou com a avó dela
e foi passando de pai
para filho. Hoje, quem
toma conta do bar é ela,
e da pousada que leva o
mesmo nome que também pertence a sua família , quem gerencia é
seu irmão Marcos.
A comerciante conta
que assistência médica,
educação, diversão os
moradores buscam em
Bertioga que é a cidade
mais próxima.
Ela conta que a prainha é bem tranquila e
sem perigos, e que só
em época de muito movimento que eles se preocupam um pouco mais,
por não conhecerem os
turistas direito, mas que
fora isso não tem o que
se preocupar.
A pousada e uma das
mais confortáveis do local, com piscina à disposição dos clientes. Louise Carvalheiro trabalha
na recepção da pousada
e diz que assim como no
bar, a procura é sempre
maior nas férias e no verão.
Louise, que se mudou
há três meses para prainha, morava em Campinas. Ela diz que gosta
do local, que é calmo e
bastante tranquilo. As diárias custam R$120,00,
fins de semana por casal, com direito a café
da manhã; e R$80,00 as
diárias durante a semana, sem café da manhã.
Existem outras pousadas na prainha com os
mais variados valores
e alguns campings que
ficam na faixa de R$
25,00 a R$ 50,00.
Surfistas — Mesmo
em dias de mar mais
tranquilo, os surfistas
podem encontrar ondas
de boa formação que
dão boa condição para
a pratica do esporte. O
que se pode encontrar
na praia são muitos surfistas, alguns da região,
como o engenheiro Pedro Guimarães, de 23
anos. Apesar de morar
de frente para praia, no
quebra-mar, em Santos,
ele gosta de explorar
praias diferentes com
ondas mais desafiadoras como as da Praia
Branca. “Sinto falta de
não surfar com mais frequência”.
O veterinário Gustavo Creton, de 27 anos,
mora em Jaguariúna, interior de São Paulo, diz
que morou um ano na
Austrália e conheceu a
maioria das praias. “Lá,
em algumas praias as
ondas são melhores e
maiores, mas as praias
brasileiras são mais belas. Entre essas incluo a
de Camburi”. O veterinário gosta de esportes radicais e como não pode
praticar os esportes com
a frequência que gostaria arrumou outras
opções em sua propria
cidade, como o wakeboard. Além deste, também pratica skate, mas
não o tradicional, mas o
longboard, que possibilita manobras de velocidade mais arriscadas.
As ondas da Prainha Branca chamam a atenção dos surfistas, que têm esse local como um dos “points”
VENTURA- Junho/2011 | 47
Alguns vão sozinhos, outros levam as namoradas ou esposas. Caso não surfem, a calmaria e a paisagem fazem o passeio valer a pena
Mulher de surfista
Quando estamos em
praia mais distantes e
com ondas de boa formação, logo podemos
notar na areia as namoradas dos surfistas,
sentadas, aguardando.
Algumas têm a sorte de
serem amigas de outras
garotas.
Esse é o caso da secretária Fabiola Vagner,
de 27 anos. Ela é casada
com um surfista de fim
de semana. “Não reclamo pois sempre quis um
namorado surfista, e eu
gosto de praia, mas as
vezes é cansativo”.
Cansa porque o tempo demora para passar
para quem está na areia
apenas se “queimando”.
Por isso, ela aconselha
a ir preparada: “Sempre
levar, algum livro, revista,
MP3 ou Ipod carregados;
não esquecer do protetor
solar e, no caso da Praia
Branca, em que se tem
fazer a trilha, o repelente
é indispensável Toalha e
lanche não podem faltar”.
Fabiola acompanha o
marido mesmo em dias
que o tempo não está
muito bom, “Só não pode
estar chovendo, por isso
antes dele entrar no mar
sempre aviso: ‘Se começar a chover olha para
areia e veja se eu estou
mandando você sair da
água’. (L.P.)
Se você vem de São Paulo, saiba como chegar
DE CARRO:
Pegue a Rodovia
dos Imigrantes e
depois a Piaçaguera — Guarujá. Siga
para Bertioga. Chegando lá, siga para
a balsa. Atravesse-a e siga a trilha a
pé.
Há vários estacionamentos próximos
à balsa em Bertioga.
O preço é R$ 20,00
por 12 horas. É mais
seguro deixar o carro no estacionamento do que na rua. Do
outro lado da balsa,
bem no pé da trilha,
há também outro estacionamento.
DE TREM:
Pegando o trem
em São Paulo, siga
48 | VENTURA - Junho/2011
para a Estação Brás
e pegue o trem para a
Estação Estudantes.
Depois,
pegue
um
ônibus Viação Breda — (11) 4790-5882
/ 4790-5882
— ou
uma van para Bertioga, que chegará em
frente à balsa. Deste
ponto em diante, é só
atravessar e subir a
trilha.
Esta é a forma mais
econômica para quem
sai de São Paulo. Se
você mora na Zona
Leste é rápido chegar, pois está linha de
trem cruza a região.
Se você for de outros
lugares, o trajeto será
mais longo. O preço
do ônibus Breda de
Mogi (Estação Estudantes) até a Balsa
de Bertioga custa R$
16,50.
DE ÔNIBUS:
Saindo de São Paulo, o ideal é ir para a
Rodoviária do Jabaquara e pegar o ônibus para Bertioga.
Desça no ponto final
dele que fica a cem
metros da balsa. Depois, é só atravessar
a balsa e subir a trilha para a Praia Branca. Quem faz o trajeto do Jabaquara para
Bertioga é a Viação
Ultra (13) 3316-6579
/ 3316-6579. O custo
para ir a Bertioga é de
R$ 26,00 e R$ 22,00
para voltar até o Jabaquara.
Horários: 6h10, 8h,
10h20, 13h30, 15h20
e 18h10
Caso
você
não
consiga pegar esse
ônibus, a opção é ir
para o Guarujá e de
lá pegar um ônibus
de linha até a balsa
que vai pra Bertioga.
Ai é só pegar a trilha. Outra empresa
que faz o trajeto São
Paulo até Bertioga é
a Viação Litorânea.
Telefone (11) 32193649/
3219-3649.
Os ônibus saem do
Terminal Rodoviário
do Tiete nos seguintes horários: 6h30,
8h30, 10h30, 13h30,
16h30.
Em todos os casos
é aconselhável conferir antes os preços.
VENTURA- Junho/2011 | 49
A 400 METROS DE ALTURA!
FOTOS: FELIPE DOS SANTOS
A noiva distante
A cachoeira Véu de Noiva é vista por
muitas pessoas, mas poucas a
visitam. A reportagem da Ventura
foi até lá
Felipe dos Santos
Quase sempre o bom
observador pode avistar
das rodovias Anchieta e
Imigrantes um filete de
branco mesclado ao verde imponente da Costa
da Mata Atlântica. Este
fio perdido no meio da
serra é a Cachoeira Véu
da Noiva. Não é sempre,
porém, que se pode vê-la. As condições climáticas, o rumo do vento,
o céu limpo e aberto e a
posição ideal facilitam o
espetáculo.
A cachoeira fica no
Parque Ecológico Perequê, em Cubatão. A
descida da serra de carro pode levar de 20 a 35
minutos, dependendo do
trânsito e da pista em
que se está. No parque,
o Rio Perequê e as cachoeiras dão um show
de beleza. O Véu da Noiva fica no topo da serra,
a 400 metros de altura,
numa trilha difícil de ser
50 | VENTURA - Junho/2011
O caminho não é fácil, mas o esforço é compensado
vencida em meio à biodiversidade da Mata Atlântica. Mas o esforço compensa.
Ao chegar em frente ao parque é possível
testemunhar o contraste
entre a natureza e as indústrias ao redor. Uma
placa desejando as boas-vindas foi pintada recentemente. No dia da
visita, era possível sentir
o cheiro de tinta fresca.
Ao ultrapassar a placa de
boas-vindas, o visitante
percorre um quilômetro
de asfalto até a portaria do Parque Perequê.
Neste quilometro, trava-se o duelo de tons entre
o verde e o cinza. A intromissão das indústrias
termina após a chegada
à entrada principal. Do
portão pintado de verde em diante somente a
natureza predomina. Na
esquerda, o verde e o
rio desembocam estrada
afora. Na direita, o cinza
representa os contêineres protegidos por muros com cercas elétricas.
O Perequê permaneceu anos fechado e inacessível ao público. A
relação entre o parque e
a empresa Rhodia nunca foi de harmonia. Em
1976, esta assume definitivamente que, diante
da falta de espaço físico no interior da fábrica,
despejou
clandestinamente rejeitos tóxicos ao
redor do parque. Depois
de anos enfrentando
problemas judiciais, em
janeiro de 2002 a Rhodia
Mesmo antes de chegar na cachoeira, o visual já é lindo
anunciou a sua retirada
da região, sem oferecer,
no entanto, garantias
quanto ao cumprimento
das obrigações impostas
perante o imenso passivo socioambiental.
Travou-se, então, a
luta para a recuperação
do Parque Ecológico Perequê e de suas belezas
naturais. Nesse período,
chegar ao Véu da Noiva era praticamente impossível.
Aventureiros
corriam sérios riscos,
inclusive de morte. Sem
mencionar os riscos de
ser atacado por animais
selvagens e peçonhentos que habitam a mata.
O local ficou praticamente abandonado e o acesso às cachoeiras era
precário. Até hoje a trilha
deve ser percorrida com
a presença de um guia.
Agora, o Perequê oferece uma boa estrutura
para os visitantes.
VENTURA- Junho/2011 | 51
WELLIGTON PINHEIRO
Durante o trajeto, o visitante se depara com algumas maravilhas da natureza.
A noiva à nossa
espera
Com ajuda do guia
Wellington Pinheiro, funcionário do parque, fomos conhecer o Véu da
Noiva, a maior e mais
inacessível
cachoeira
da região. O chão batido
de terra, misturado com
pedra, dificulta a caminhada. A cada passo, o
trecho fica mais difícil. O
nível da água do Perequê não é fundo, o que
possibilita andar pelo rio.
Mas as dificuldades persistem. A correnteza e as
pedras enormes e escorregadias dificultam o trajeto pela água.
Antes de chegar à trilha principal, o verde, o
barulho das aves e os ruídos do rio se misturam
aos gritos da criançada,
52 | VENTURA - Junho/2011
ao aroma de churrasco
e ao forró. São homens
e mulheres que frequentam o trecho como lazer.
Contudo, toda a algazarra vai ficando para trás
e as águas correntes
ganham força, aliadas
ao verde predominante na aventura. Distante
da “civilização”, a brisa
é mais forte. O repelente não espanta mais os
borrachudos que iniciam
o ataque contra os que
insistem em chegar ao
Véu da Noiva. É como
se a natureza reclamasse: “O que vocês estão
fazendo aqui?” Um corredor cercado de árvores
— foram homologadas
178 espécies no parque
— e plantas raras é o primeiro indício das dificuldades e da aventura que
estão por vir. O guia para
e avisa:
— A partir de agora,
estamos sendo observados pela natureza. Aqui,
é o habitar dela e nós somos os estranhos...
A secretária Patrícia
Dantas Pereira dos Santos, que fazia a trilha comigo, segue com passos
firmes atrás e diz:
— Impressionante, o
clima é bem diferente
nesta parte da trilha.
Wellington fala sobre
as espécies vegetais
neste trecho da mata.
Seguindo a trilha, aponta:
— Olhem o buraco naquele tronco de árvore
ali... Vocês podem ver?
O tronco de árvore não
é grande, por isso é fácil
enxergar o buraco. Foi
feito por um pica-pau.
Essa espécie de ave habita essa parte da selva. Pouco mais de 300
metros depois da marca
do pica-pau, Wellington
mostra um buraco de uns
30 centímetros no solo: é
uma toca possivelmente
feita por cobras jararacas ou jaracuçu, que ficam submersas no solo.
Nessa primeira parte da
caminhada, avistamos a
samambaia de metro ou
arborescente, o xaxim.
— Essas plantas eram
muito comuns em residências. Hoje, é proibida
a retirada delas — avisa
Wellington
Nesse corredor, a Mata
Atlântica ainda não é tão
severa, mas as borboletas de várias cores so-
brevoam sobre nós. Já
bem distante da entrada
principal do parque, ao
andarmos, sentimos algo
nos rostos. São teias de
aranhas. É possível encontrar no caminho variedades de aranhas, até
mesmo venenosas.
Fim da primeira parte
da trilha. Após este trecho é preciso atravessar
o rio. Agora, a tarefa ficou um pouco mais fácil,
isso porque as chuvas
fortes de maio provocaram deslizamentos que
arrastaram mais pedras
para o meio do rio, sobre
as quais tentávamos nos
equilibrar.
A próxima parada é
bem mais difícil. A natureza parece neste momento não querer que
adentremos a mata. O
corredor fica mais estreito. Em determinados
pontos, passarmos com
o glúteo no chão. O suor
começa tomar conta dos
corpos, as gargantas
ressecam e a sede aumenta junto às dificuldades do percurso.
Uma trégua da natureza no meio do caminho.
Wellington nos apresenta as bromélias. Elas
nascem no solo, mas
há as que preferem as
sombras nos troncos de
árvores e as que procuram luzes difusas. As
bromélias são capazes
de grande absorção de
água, por isso a adubação líquida é a mais recomendável para o seu
cultivo. Bebemos então
a água que brotava desVENTURA- Junho/2011 | 53
sas plantas. Depois, o
guia nos instruiu:
— Sempre que estiverem numa aventura no
meio da mata, a cada
200 metros façam uma
marca nos troncos das
árvores. Isso evita que
vocês se percam. Conheço bem essa trilha,
por isso não preciso demarcar o caminho.
Em seguida, avistamos os cipós, uma planta lenhosa e trepadeira,
firme como corda. Típico
das florestas tropicais,
o cipó nasce próximo a
uma árvore da espécie
já existente. Esse processo ocorre para que
as árvores mais novas
assimilarem os nutrientes das mais velhas, até
as árvores mais antigas
morrerem. Todo este
processo é facilmente
visto na trilha rumo ao
Véu da Noiva.
— Muito cuidado onde
colocam as mãos —
alerta o guia. — Nem
sempre os que estão entrelaçados nas árvores
são cipós; às vezes, são
cobras e a defesa delas
são os ataques.
As cobras que costumam ficar nesse tipo de
árvores não são venenosas, mas o ferimento demora a cicatrizar. Após
uma hora e meia de
aventura é preciso atravessar um pedaço complicado, até mesmo para
quem está acostumado a
fazer aventura. Para facilitar o acesso que a natureza insiste em dificultar, foram coladas duas
cordas para uma travessia por um barranco bem
estreito. Uma pedra com
uns 80 centímetros —
mal passam os dois pés
juntos — fica rente à encosta da mata. É preciso
segurar bem firme e se
apoiar na corda a cada
passo. O vento no corpo
e as pedrinhas caindo no
precipício, que não é tão
fundo observando-se de
cima da pedra. Mas uma
queda daquela altura
pode levar à morte.
— Será que vou conseguir? — indagou Patrícia.
Depois de passar o sufoco da corda e do precipício, mais uma ribanceira a ser escalada. Agora,
escorregamos muito nas
pedras e as águas da cachoeira dificultam mais
ainda a travessia. Após
meia hora neste último
trecho, enfim chegamos
ao Véu da Noiva. No total
foram duas horas e cinco
minutos de caminhada
até a última cachoeira do
parque.
— Graças a Deus, aqui
estamos! Este é o Véu
da Noiva — apresenta
Wellington.
Os aventureiros vibram e até mesmo gritam de alegria. As vozes
multiplicadas
formam
ecos. A acústica natural
O visitante faz o passeio monitorado. Dessa forma, vários riscos podem ser evitados
54 | VENTURA - Junho/2011
O que
levar
É importante o uso de roupas confortáveis
é reproduzida pelas árvores, pelos pássaros,
aves e tudo o que cerca esse natural cenário
fantástico. O filete visto
das rodovias Anchieta
ou Imigrantes agora é
uma cascata enorme e
violentíssima de água.
Nesse momento, o clima
e os sentimentos se misturam. O alívio, a surpresa, o impacto, o medo, a
brisa, o suor, o cansaço,
a maravilha selvagem e
indiferente à nossa presença. Tudo se funde no
topo, a 400 metros acima
do nível do mar.
Embora seja a última
cachoeira do parque é
possível seguir a trilha:
claro, à medida que se
segue a viagem a trilha
fica mais difícil ainda e
exige maior preparo físico e mental. De acordo
com Wellington, depois
da cachoeira existem
dois rios absolutamente
límpidos, os mais puros
da região. O Sol aparece
e complementa o espetáculo. Os seus raios se
unem aos reflexos dos
chuviscos da água jorrada da cachoeira e forma
um mini arco-íris. A temperatura da água é muito
gelada. Após duas horas
de caminhada e aventura, vale a pena banhar-se nas bordas do Véu
da Noiva.
A descida proporciona
os mesmo sentimentos,
mas o que fica gravado
na mente é a sensação
de êxtase que a natureza proporciona. Depois
de cumprir a trilha de volta, do portal do Parque
Ecológico Perequê olhei
para o topo. Como há
centenas e centenas de
anos, o Véu da Noiva escorria brilhante e majestoso pela Serra do Mar.
Para chegar ao Véu
da Noiva é fundamental levar água e frutas
para consumir durante
a trilha, pois a caminhada é desgastante
e exige muito esforço
físico. Além de água,
levamos maçãs, bananas e laranjas. Usamos
roupas velhas: calça de
moletom, blusa, boné
e botas apropriadas. A
aventura possibilita o
uso de máquina digital
ou filmadora, desde que
protegidas com bolsas
impermeáveis.
Para visitar a cachoeira e o Parque Ecológico Perequê não é preciso pagar nada. Para
marcar a aventura ligue
para: (13) 9797 6915 e
agendar com a administração, que disponibilizará um guia. O nosso
foi Wellington Pinheiro,
de 46 anos e há 22 envolvido com trabalhos
na natureza. Ela atua
também como autônomo na recuperação dos
manguezais e na fauna
e flora de Cubatão. A
Prefeitura o convidou
para fazer parte do
quadro de funcionários
do parque e dar continuidade ao trabalho de
educação ambiental.
VENTURA- Junho/2011 | 55
paisagens em que é
possível montar sua
barraca e estender o
saco de dormir: praia,
mata, fazenda, serra,
e quantas mais a natureza produzir. E dois
tipos de camping (em
inglês,
acampamento): o organizado e o
selvagem. Nesse tipo
há maior comodidade,
pois é oferecido toda
a infraestrutura: desde
banheiros-químicos e
energia elétrica até vigilância. É uma boa pedida para os campistas
inexperientes.
Mas se você gosta de
se isolar, de ficar em
contato com a natureza,
é preciso não empor-
PARA ACAMPAR
FOTOS: DIVULGAÇÃO
calhar o meio ambiente — carregar sempre
sacolas para recolher
o lixo produzido. Segundo o soldado da 1ª
Companhia da Polícia
Militar Ambiental, João
da Silva, quem é surpreendido jogando lixo
pode ser apenas advertido ou multado. Além
do mais, cortar árvores
em área de preservação permanente é crime ambiental. A pena
varia de um a três anos
de prisão, ou multa, ou
ambas.
Por causa da grande área de abrangência, as ações da Polícia
Ambiental para inibir
agressões ao meio am-
biente dependem das
denúncias dos cidadãos. Santos, Cubatão, São Vicente, Praia
Grande, Guarujá e Bertioga e cidades do Litoral Sul, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe e Pedro
de Toledo pertencem à
zona de fiscalização
da 1ª Companhia do 3º
Batalhão da Polícia Militar Ambiental, sediada
no Guarujá.
Ao acender fogueira,
é necessário tomar cuidado com fagulhas para
não incendiar a mata.
Deve montá-la em um
local sem vegetação
seca em volta, porque
pode alastrar o fogo. De
preferência, cercada de
Os acampamentos estão mais organizado. Porém, alguns cuidados ainda são tomados
No acampamento
‘selvagem’
Uma prática quase extinta: acampar!
Carlos Norberto
de Souza
No livro Na Natureza
Selvagem, o jornalista Jon Krakauer refaz
a trajetória real do jovem idealista Christopher McLandess, que
abandonou o conforto
de uma existência ma-
56 | VENTURA - Junho/2011
terialista e um futuro
brilhante, para, sozinho
e sem dinheiro, e sem
revelar à família seu
paradeiro, viajar pelos
Estados Unidos dos
aventureiros, rumo ao
Alasca, onde pretendia
passar o resto de seus
dias vivendo da terra,
da natureza. Sua ins-
piração principal era o
escritor Jack London.
Seus planos, porém, foram interrompidos pelo
frio e pela inanição.
Claro que, se você deseja uma aventura ou
simplesmente se divertir, este é um péssimo
exemplo a ser seguido.
Existem
diversas
Antes de sair para acampar é importante ter certeza que nada está sendo esquecido
VENTURAVENTURA-Junho/2011
Junho/2011||57
57
pedras ou num buraco
no chão. Causar incêndio em mata ou floresta
é crime sujeito à pena
de dois a quatro anos
de cadeia. E, seguindo o bom-senso, não a
acenda ao lado da barraca — por motivos óbvios!
Por questão de praticidade, alimentos enlatados e de preparo
instantâneo são ideais
para matar a fome de
maneira fácil e rápida.
Já em caso de expedição por vários dias,
é melhor a comida desidratada. Não podemos esquecer de água
para consumo, pois desidratada é a comida,
não você. E, antes de
acampar, faça um reconhecimento do lugar
onde armará a barraca.
Pergunte a alguém que
conheça o local — não
deixe de levar repelente para mosquitos.
De acordo com o blog
Turismo Consciente na
Costa da Mata Atlântica (http://www.blogcaicara.com/), o terreno
deve ser plano, regular e elevado para, em
caso de chuva, escapar
de alagamentos. E também permeável (que
absorva a água), como
gramado e areia, porque a terra tende a absorver menos a água,
“além de sujar mais a
barraca” .Ao fazer camping na praia, deve-se
ficar abrigado do vento
e da maré. Outra dica
do blog é: não deixar
58 | VENTURA - Junho/2011
Comida desidratada ou enlatadas e de preparo instantâneo, muita água e sacos de lixo precisam fazer parte da lista do que levar na hora de acampar
restos de alimentos ao
redor da barraca, pois
atraem animais, e você
acaba transgredindo a
regra de não jogar lixo
no ambiente.
O funcionário público, Guilherme Antunes,
de 27 anos, costumava
acampar com mais fre-
quência desde os tempos de colégio. Sempre
pelas bandas do Litoral
Norte, alcançando a divisa do Rio de Janeiro.
“Ilhabela, Praia de Castelhanos, Paúba e Trindade”, cita alguns lugares. “A gente conhece
muita gente diferente,
com outras experiências e outras bagagens
de vida. Troca muita
ideia e compartilha de
momentos bons. Boa
música, violão e céu estrelado, praia com gente bonita entre outras
coisas que fazem valer
a viagem”, relembra.
Mas contratempos já
ocorreram: como chegar ao camping e encontrar tudo “absolutamente lotado”. Ou,
na praia, a chuva alagar tudo e transformar
num
“deus-nos-acuda”. “Ou saber de gente que já foi assaltado
ou maltratado pela polícia por preconceitos
idiotas.” Mas os pontos positivos prevaleceram: “Momento bom
foi ter que dividir barraca apertada com duas
meninas que conheci
na praia porque a delas rasgou”.
VENTURA- Junho/2011 | 59
O voo de parapente é uma ótima oportunidade para ver as cidades de cima
Ventura
Editora
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Editores de Arte
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Esta revista é produzida pelos
alunos do 3º ano de Jornalismo da
Faculdade de Artes e Comunicação, da
Universidade Santa Cecília.
Diretor da FaAC
Humberto Challoub
Coordenador do Curso
Robson Bastos
Professor-responsável
Márcio Calafiori
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Conhece essa noiva? A cachoeira Véu de Noiva é uma das mais