COMUNIDADE EVANGÉLICA LUTERANA “SÃO PAULO” Presidente Delmar Stahnke Vice-Presidente João Rosado Maldonado EDITORA DA ULBRA Diretor Valter Kuchenbecker Capa Juliano Dall’Agnol Projeto Gráfico Isabel Kubaski Editoração Roseli Menzen E-mail [email protected] PROGRAD/Diretoria de Publicações Periódicas Prof. Paulo Seifert, Diretor Prof. Douglas Flor, RPMT 7384 Rua Miguel Tostes, 101 - Prédio 11, sala 127 92420-280 - Canoas/RS - Brasil E-mail: [email protected] Reitor Ruben Eugen Becker Vice-Reitor Leandro Eugênio Becker Pró-Reitor de Administração Pedro Menegat Pró-Reitor de Graduação da Unidade Canoas Nestor Luiz João Beck Pró-Reitor de Graduação das Unidades Externas Osmar Rufatto Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Edmundo Kanan Marques Pró-Reitor de Representação Institucional Martim Carlos Warth Capelão Geral Gerhard Grasel Ouvidor Geral Eurilda Dias Roman Endereço para permuta Universidade Luterana do Brasil Biblioteca Central - Setor Aquisição Rua Miguel Tostes, 101 - Prédio 05 92420-280 - Canoas/RS, Brasil E-mail: [email protected] Solicita-se permuta. We request exchange. On demande l’échange. Wir erbitten Austausch. O conteúdo e estilo lingüístico são de responsabilidade exclusiva dos autores. Direitos autorais reservados. Citação parcial permitida, com referência à fonte. COMISSÃO EDITORIAL Prof. MS. Carlos Santos Gottschall Profa. Dra. Norma Centeno Rodrigues Prof. Dr. Sérgio José De Oliveira CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Adil K. Vaz (Univ Estadual de Lages) Prof. Dr. Angelo Berchieri Jr. (UNSSP- Jaboticabal) Prof. Dr. Antonio Bento Mancio (UFMG) Profa. MS. Beatriz Kosachenco (ULBRA) Prof. Dr. Carlos Tadeu Pippi Salle (UFRGS) Prof. Dr. Celso Pianta (ULBRA) Prof. Dr. David E. S. N. Barcellos (UFRGS) Prof. Dr. Fernando Bortolozzo (UFRGS) Prof. Dr. Francisco Gil Cano (Univ. Murcia/ Espanha) Prof. Dr. Franklin Riet-Correa (UFPEL) Prof. Dr. Hamilton Luiz de Souza Moraes (ULBRA e UFRGS) Prof. Dr. Jamir Luis Silva da Silva (ULBRA) Prof. Dr. Joaquim José Ceron (Univ. Murcia/Espanha) Prof. Dr. Julio Otávio Jardim Barcellos (UFRGS) Prof. Dr. Luis Cardoso Alves (ULBRA) Prof. Dr. Luiz Alberto Oliveira Ribeiro (UFRGS) Prof. Dr. Luiz César Bello Fallavena (ULBRA) Dra. Sandra Borowski (FEPAGRO) Prof. Dr. Victor Cubillo (Univ Austral do Chile) Prof. Dr. Waldyr Stumpf Junior (EMBRAPA) V585 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Veterinária em foco / Universidade Luterana do Brasil, Curso de Medicina Veterinária – Vol.2, n.1 (maio/out. 2004) -. -Canoas : Ed. da ULBRA, 2003. Semestral. ISSN 1679-5237 1. Medicina veterinária I. Periódicos CDU 619 (05) 1 Revista Veterinária em Foco ISSN 1679-5237 Vol.2, n.1, maio/outubro de 2004 Editorial 5- Presença de Listeria sp. em Queijos Artesanais Tipo Colonial no Rio Grande do Sul Celso Pianta; Teresa Maria López Díaz; Maria Del Camino García; Luiz Cesar Bello Fallavena; Anamaria Telles Esmeraldino 15- Caracterização dos Queijos Artesanais Produzidos em Viamão, no Estado do Rio Grande do Sul, Quanto à Evolução Físico-Química e Microbiológica Elsa Nhuch; Fernanda Fabero Guedes; Lucas Vargas; Fábio Fernandes Koch 25- Presença de Spirocerca lupi (RUDOLPHI, 1809) em Canino – Relato de Caso Cláudio Chimazzo; Rosecler Pereira; Anamaria Telles Esmeraldino; Norma Centeno Rodrigues; Victor Hermes Ceresér; Maria Teresa Costa Queirolo; Luiz César Bello Fallavena 31- Observações sobre a Presença de Actinobaculum suis (Actinomyces suis) em Reprodutores Machos, Matrizes e Leitões de uma Granja de Suínos Jusandro Bortololon; Sérgio J. de Oliveira 35- Exame Bacteriológico de Secreções Vulvares em Matrizes Suínas André C. Schenkel; Sérgio J. de Oliveira 41- Erisipela Suína: Isolamento dos Agentes Etiológicos Presentes nas Amígdalas de Animais de Abate Paulo Ricardo Centeno Rodrigues; Sérgio J. de Oliveira; Vagner Ricardo Lunge; Marcelo Reich dos Santos 51- Diagnóstico Gestacional e Estabelecimento de Parâmetros de Idade Fetal por Ultra-sonografia em Javalis (Sus scrofa) Luis Cardoso Alves; Mariane Feser; Márcio Aurélio da Costa; Luciano Luz 59- Avaliação do Crescimento Inicial de Ara Ararauna Criadas Manualmente com Diferentes Rações Comerciais Mariangela da Costa Algayer; Elisabete Gabrielli; Rosecler Alves Pereira; Mara Beatriz de Souza Allgayer 67- Retirada Cirúrgica de um Cisto Dentígero (odontoma) em um Equino (Equus caballus) Relato de Caso Jussara Z. Maia; Maria I. Witz; Paulo R.C. Rodrigues; Rosalina R. Gonzales 73- Manejo Reprodutivo do Puerpério na Égua Eduardo Malschitzky; Rodrigo C. Mattos 89- Eficácia de Carrapaticidas Amidínicos para o Controle do Boophilus Microplus: Influência do pH da Calda Carrapaticida Claudio Chiminazzo; Flávio Roberto Chaves da Silva; Victor Hermes Ceresér; Maria Teresa Costa Queirolo; Hélio Radke Bittencourt 95- Desempenho e Características de Carcaça de Novilhos Superprecoces Inteiros e Castrados Submetidos ao Confinamento Carlos S. Gottschall; Franco M. Martins; Leandro R. Ries; Jorge R. Kroeff; Helena S. Silveira; Jean C.R. Soares; Marco Moraes; Ricardo P. Oaigen Normas Editoriais 2 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Editorial O desenvolvimento do agronegócio no Brasil A atividade agropecuária no Brasil tem evoluído de maneira considerável nos últimos anos, aumentando a produção e exportação de carne e grãos. Possuímos o maior rebanho comercial de bovinos de corte do mundo (cerca de 167 milhões de bovinos) e em 2003 consolidamos a posição de maiores exportadores de carne bovina. O PIB do agronegócio brasileiro cresce acima da média nacional, superando nos últimos anos o crescimento da indústria, comércio e serviços. O agribusinness se consolida como o maior gerador de saldo positivo na balança comercial brasileira. A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) prevê que o Brasil será o maior país agrícola do mundo em dez anos. Pelos indicadores que o setor vem apresentando, é possível que estejamos seguindo para esse caminho. A produção nacional encerrou o período de 2003 com 123 milhões de toneladas de grãos (um crescimento de 27% em relação a 2001/2002), movimentando 35% do Produto Interno Bruto (PIB). E para 2004, a expectativa é de 132 milhões de toneladas de grãos. Esse montante nos coloca entre os líderes mundiais na produção de soja, milho, açúcar, café, carne bovina e de frango. O crescimento do setor é fruto do aumento de produtividade e eficiência, conseqüência de investimentos em tecnologia e pesquisa. O panorama geral da atividade é alentador. Permanece o desafio de participarmos como atores neste cenário favorável, contribuindo ativamente para o desenvolvimento e sucesso do País, auxiliando-o na busca por liderança na produção de alimentos. Apesar das conquistas, ainda há muito por fazer. Comissão Editorial v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 3 4 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Presença de Listeria sp. em queijos artesanais tipo Colonial no Rio Grande do Sul Listeria in Colonial Cheese in Rio Grande do Sul, Brazil Pianta, Celso - Médico Veterinário, Doutor, Professor do Curso de Medicina Veterinária – ULBRA, Canoas, RS. Díaz, Teresa Maria López, Médica Veterinária, Doutora, Professora da Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Leon, Espanha. Fernandéz, Maria Del Camino García, Médica Veterinária, Doutora, Professora da Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Leon, Espanha. Fallavena, Luiz Cesar Bello - Médico Veterinário, Doutor, Professor do Curso de Medicina Veterinária - ULBRA, Canoas, RS. Esmeraldino, Anamaria Telles - Médica Veterinária, Doutora, Professora do Curso de Medicina Veterinária - ULBRA, Canoas, RS. Data de recebimento: 08/08/2004 Data de aprovação: 22/09/2004 Endereço para correspondência: e-mail: [email protected] RESUMO São apresentados os resultados obtidos de culturas microbiológicas realizadas a partir de 100 amostras de queijo de fabricação artesanal tipo Colonial adquiridas em pontos comerciais ou diretamente de produtores situados nas regiões do litoral e serra do Estado do Rio Grande do Sul. Do total das amostras cultivadas, foi possível identificar a presença da espécie Listeria innocua em seis delas. Palavras-chave: queijo colonial, L. innocua. Veterinária em foco Canoas v. 2 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco n.1 maio/outubro de 2004 p.5-14 5 ABSTRACT Results of microbiologic tests of Colonial raw cow‘s milk cheese are presented. One hundred (100) samples of this soft, manufactured, non rippened cheese were collected from two touristic areas in Rio Grande do Sul State (South Brasil). Listeria innocua was isolated from six manufactured cheese samples. Key words: Colonial cheese, Listeria innocua. INTRODUÇÃO O Gênero Listeria é constituído por bacilos Gram-positivos curtos, psicotróficos, anaeróbios facultativos, não esporulados, catalase positivos, oxidase negativos e móveis por ação de um a cinco flagelos peritríquios em temperatura de 20-250C. São imóveis ou apresentam pouca motilidade a 370C. Produzem ácido a partir da glicose e outros açucares, são vermelho de metila e Voges Proskauer positivos, reagem hidrolizando a esculina. Não produzem Indol e nem H2S (MURRAY, 1995). A identificação das espécies desse gênero é importante, pois embora todas possam contaminar os alimentos, apenas L. monocytogenes é considerada de risco para a saúde pública. Além da observação da hemólise, o CAMP teste também pode ser utilizado para a distinção das espécies, uma vez que L. monocytogenes reage positivamente frente ao Staphylococcus aureus e negativamente frente ao Rhodococcus equi. Reações semelhantes podem ocorrer com L. seeligeri, no entanto a produção de ácido a partir da xilose é negativa para L. monocytogenes (McLAUCHLIN, 1997). Do ponto de vista da ecologia microbiana, uma importante característica deste gênero é sua capacidade de sobreviver em temperaturas de 50C ou ainda menores (BARROW e FELTHAN, 1993). Este microrganismo pode ser isolado de materiais contaminados como a água destilada ou caldo nutritivo depois de longo período de incubação (semanas ou meses) em temperatura de refrigeração, onde provavelmente pode multiplicar-se (ICMSF, 1996; PAPAGEORGIOU et al., 1996). Listeriose é uma das doenças transmitidas por alimentos que têm merecido grande atenção no âmbito da saúde pública pela severidade e localização das lesões e por sua natureza não entérica (ROCOURT, 1997). Segundo Murray et al. (1995), a listeriose ocorre em casos esporádicos ou em surtos epidêmicos e, nestas duas situações, os ali- 6 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco mentos contaminados são os veículos responsáveis pela transmissão da doença ao homem. Diferentemente das enfermidades alimentares que cursam com sintomas gastrintestinais, a listeriose inicialmente manifesta-se por sinais semelhantes aos de um resfriado, como febre baixa e mal-estar, podendo progredir para meningite, meningo-encefalite, septicemia, aborto e parto prematuro quando a mulher contrair a infecção no segundo ou terceiro trimestres da gestação (SILVA et al., 1997; FORSYTHE, 2002). Após a ingestão de um alimento contaminado, o aparecimento da forma invasiva da infecção em algumas pessoas depende de diversos fatores tais como a suscetibilidade individual, o pH do suco gástrico, o tamanho do inóculo e a virulência da cepa ingerida. Depois de cruzar a parede intestinal, a bactéria pode crescer e multiplicar-se no interior dos macrófagos do fígado e do baço, produzindo a lesão devido à presença da listeriolisina, uma proteína com capacidade hemolítica que se adere aos lipídeos das membranas celulares. A imunidade contra a listeriose depende da ativação dos linfócitos T. Ainda não está totalmente esclarecido o papel da defesa imunológica celular nesta doença, segundo Stelma, (1987). O primeiro surto de listeriose humana ocorreu na Alemanha entre os anos de 1949-1957, embora foi em 1981 que foi confirmado pela primeira vez que a listeriose podia ser adquirida através do consumo de alimentos, graças a um surto surgido no Canadá, com 41 pacientes acometidos . Este surto teve origem na contaminação de salada de repolho, onde a possível fonte foi a fertilização com adubo orgânico contendo fezes de ovinos suspeitos de sofrerem encefalite listérica. Outro surto foi relatado em Boston (EUA), onde foram registrados 42 casos num período de 2 meses. O estudo epidemiológico concluiu que o leite foi o veículo do agente infeccioso. Em 1985, na Califórnia (EUA), um surto de listeriose com 142 casos teve o queijo tipo mexicano como provável fonte de contaminação. Na Suíça, um queijo macio contaminado por L. monocytogenes foi o responsável por um surto que persistiu durante 4 anos com 122 casos. (ROCOURT, 1997). O isolamento deste agente em queijos quer sejam frescos ou maturados, é relatado em diversos outros países europeus como Espanha, Dinamarca e França (GAYA, 1998; RYSER, 1999). No Brasil, Listeria spp. foram encontradas em 12,7% das amostras de leite cru colhidas de uma plataforma láctea, sendo 9,5% dos isolamentos positivos para L. monocytogenes. L. innocua também foi isolada em percentual idêntico, enquanto outras espécies do gênero foram isoladas em percentual muito menor (<1%) (MOURA 1993). v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 7 No Estado do Paraná, Lübeck et al. (2001) relataram a presença de Listeria sp. em todas as cinco amostras de queijo Colonial artesanal analisadas após 20 dias de sua fabricação. Em um levantamento bibliográfico, compreendendo um período de 30 anos, foram identificadas 228 culturas de Listeria isoladas de produtos lácteos no Brasil (HOFER, 2001). A análise de 43 cepas isoladas de queijo Colonial evidenciou o isolamento de L. monocytogenes em uma amostra, L. innocua em 39 e em outras três não foi possível realizar a tipificação da espécie envolvida. A pesquisa de L. monocytogenes realizada em 50 amostras de queijo tipo Colonial artesanal comercializadas em Porto Alegre (RS), evidenciou a presença desta espécie em uma amostra que se apresentou contaminada também por L. innocua. Outras 16 amostras de queijo revelaram o desenvolvimento apenas de L. innocua (SCHWAB et al., 1996). Na região noroeste do Rio Grande do Sul, Schittler (2002) relata que das 75 amostras de queijo colonial analisadas, foi isolada L. innocua em uma amostra e não houve o isolamento de L. monocytogenes. Também no RS, Jantzen et al. (2004) citaram que L. innocua foi isolada de todas as três amostras de queijos artesanais adquiridos na cidade de Pelotas. No presente artigo são descritos além dos resultados, os métodos de isolamento e identificação de espécies de Listeria sp. em 100 amostras de queijo tipo Colonial produzidos e comercializados em duas diferentes regiões do RS. MATERIAL E MÉTODOS O total de 100 amostras de queijo Colonial analisadas, sendo 55 da região do litoral e 45 da região da serra, foram submetidas à análise microbiológica para o isolamento e identificação do gênero Listeria. As amostras de queijo trabalhadas não possuíam uniformidade de maturação, sendo alguns maturados por três dias (sem formação da casca) enquanto outros sofreram maturação mais longa, ao redor de 20 dias (formação da casca e massa apresentando menor teor de umidade). No momento da colheita, as amostras foram armazenadas e identificadas em sacos plásticos e transportadas em caixas isotérmicas ao laboratório para a realização das análises. Foram homogeneizados 25g de cada uma das amostras de queijo, de8 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco pois de eliminar aproximadamente 2 cm da casca e/ou das superfícies laterais, durante 2 minutos em um aparelho “Stomacher”, utilizando 225 ml de Caldo de Enriquecimento para Listeria (LEB, Oxoid). Este caldo contém ácido nalidíxico, NaCl e solução de acriflavina como agentes seletivos. As amostras homogeneizadas foram incubadas durante 24h a 300C nos mesmos sacos plásticos estéreis empregados para a homogeneização, porém foram lacrados com fita adesiva para reduzir o oxigênio e aumentar a concentração de CO2 presente. O enriquecimento seletivo secundário foi realizado transferindo-se 0,2 ml do caldo nutritivo anterior para tubos contendo 10ml de do meio LEB adicionados com o dobro da concentração de acriflavina. A incubação dos caldos de enriquecimento seletivo secundário semeados foi realizada a 350C durante 24h e depois por até 7 dias em temperatura ambiente. Após o enriquecimento seletivo secundário, os cultivos foram semeados por esgotamento da alça de platina nos meios de PALCAM (OXOID) e Agar OXFORD (OXOID). Estes meios foram escolhidos pelo seu caráter diferencial e a incubação ocorreu durante 48 h a temperatura de 300C e 35oC para os meios de PALCAM e OXFORD, respectivamente. De cada uma das amostras positivas, foram isoladas seis colônias com morfologia característica de Listeria spp. Todas as cepas isoladas foram purificadas e inicialmente submetidas às seguintes provas para a caracterização de possíveis espécies do gênero Listeria, segundo Barrow e Felthan (1993) e Oliveira (2000): Coloração pelo método de Gram, catalase e citocromo –oxidase. Os bacilos curtos, Gram positivos, oxidase negativos foram inicialmente considerados como listerias e foram submetidos às seguintes provas: motilidade (incubação a 250C e 370C), produção de ácido a partir da glicose, crescimento e reações no meio de SIM, hidrólise da esculina, Vermelho de Metila e Voges-Proskauer, crescimento em anaerobiose e microaerofilia. As cepas identificadas como Listeria spp. (bacilos curtos, catalase positivos, produtores de ácido a partir da glicose, VM e VP positivos, capazes de hidrolizar a esculina e não produtores de H2S nem de Indol), foram submetidas às seguintes provas para classificação das espécies: b-hemólise, reação de CAMP com Staphylococcus aureus b hemolítico e Rhodococcus equi e produção de ácido a partir da ramnose, xilose e manitol. v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 9 RESULTADOS Das 100 amostras de queijo artesanal tipo Colonial analisadas , foram isoladas colônias suspeitas de pertencer ao gênero Listeria em oito amostras, todas provenientes da região da serra. Das oito amostras anteriores, em seis foi confirmada a presença de Listeria spp. De cada uma das oito amostras de queijo de onde foram isoladas colônias suspeitas de pertencer ao gênero Listeria, foram subcultivadas seis cepas, contabilizando um total de 48 cepas examinadas. Das 48 cepas investigadas, 36 foram classificadas como Listeria spp. e as 12 restantes foram identificadas como pertencentes ao gênero Kurthia. Este microrganismo foi isolado de duas amostras de queijo onde não foi detectada a presença de Listeria spp., conforme pode ser observado na Tabela 1. Tabela 1: Resultados das provas realizadas nas 48 cepas inicialmente identificadas como possíveis listérias isoladas de queijo Colonial e sua classificação em gênero. Prova ou teste Listeria spp. (36) Kurthia (12) Bacilos Bacilos Esporos - - Gram + + Catalase + + Oxidase - - Motilidade + + Produção de H2S - - Produção de Indol - - Ácido a partir da Glicose + - VM + - VP + - Hidrólise da esculina + - Crescimento em anaerobiose ou microaerofilia + - Morfologia () 0 o n entre parêntesis indica o total de amostras classificadas Analisando as 36 cepas inicialmente consideradas como pertencentes ao gênero Listeria, é necessário destacar que não foi possível em todas determinar a espécie, devido aos resultados irregulares e muitas vezes não repetidos nas provas de produção de hemolisinas no meio de ágar-sangue, produção de ácido a partir da glicose e reação no teste de CAMP realizado com Staphylococcus aureus. Houve repetição dos resultados somente nas provas bioquímicas realizadas que permitiram classificar a espécie Listeria innocua, conforme pode ser observado na tabela 2. 10 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Tabela 2. Resultados das provas de presumíveis listérias isoladas de queijo Colonial e que permitiram sua classificação em espécie. Prova Listeria innocua (n=6) Hemólise - CAMP - Manitol a - Ramnose a - Xilose a - Anaerobiose + Microaerofilia + a Produção de ácido a partir deste açúcar DISCUSSÃO Com relação à identificação das cepas de Listeria spp., somente seis das 36 puderam ser classificadas em espécie. Quatorze outras apresentaram reações muito próximas a L. monocytogenes, no entanto não reagiram no teste de CAMP frente ao S. aureus. Outras 12 cepas mostraram um perfil similar a L. ivanovii pois reagiram frente ao R. equi e evidenciaram reações hemolíticas negativas ou muito fracas quando semeadas no meio de ágar-sangue. Finalmente 4 cepas foram positivas na prova de acidificação do manitol, o que poderia permitir a classificação nas espécies L. grayi ou L. murrayi, mas não puderam ser classificadas nestas espécies pois evidenciaram hemólise, o que não ocorre nestas espécies. No presente estudo, a classificação dos microrganismos isolados na espécie L. innocua coincide com os critérios empregados por Mc Lauchlin (1997) para a descrição desta espécie bacteriana. Com relação ao isolamento de listerias apenas nas amostras de queijo da região da serra, este fato poderia ser explicado pelas condições climáticas predominantes nessa região, que apresenta temperatura ambiental geralmente inferior àquela verificada na região do litoral gaúcho. Esta relação também foi verificada por Papageorgiou et al. (1996) que observaram a capacidade de crescimento e multiplicação deste agente quando inoculado em queijos e mantidos a baixas temperaturas. L. innocua e L. monocytogenes foram as únicas espécies identificadas por Schwab et al. (1996) ao analisarem amostras de queijo tipo Colonial comercializadas em Porto Alegre, no RS, encontrando 30% de positividade para L. innocua e 2% para L. monocytogenes. v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 11 L. innocua foi a única espécie presente em todas as amostras de queijo Colonial artesanal analisadas por Jantzen et al (2004) na cidade de Pelotas /RS e das 75 amostras trabalhadas por Schittler( 2002), foi obtida a presença desta espécie em apenas uma amostra. No presente estudo a presença de Listeria spp indica que os produtos testados ou suas matérias primas não foram submetidos aos procedimentos higiênico-sanitários e tecnológicos adequados ou foram contaminados após seu processamento. O isolamento deste agente em amostras de queijo tipo Colonial artesanal mantém a dúvida sobre a ocorrência da contaminação tanto no leite cru como no queijo já elaborado. Segundo Murray et al. (1995), a presença da espécie L. innocua no queijo ou em qualquer outro tipo de alimento não representa risco para a saúde pública, tendo em conta que L. monocytogenes é considerada a única espécie patogênica do gênero. Entretanto, a presença de L. innocua indica evidência de contaminação microbiana . Segundo Waldroup (1996), a presença de qualquer espécie de Listeria spp. pode ser indicadora da presença de L. monocytogenes ainda que esta não tenha sido isolada. Isto pode ser explicado pelo fato desta espécie ser menos competitiva que as outras do gênero em qualquer meio de cultura e especialmente em presença de alguns agentes seletivos como os utilizados neste estudo. CONCLUSÃO Pela observação dos resultados de isolamentos positivos realizados em amostras de queijos produzidos e comercializados em duas regiões geográficas do estado do Rio Grande do Sul, constatou-se que Listeria innocua esteve presente nestes alimentos destinados ao consumo humano. 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Mestre em Microbiologia Agrícola e do Ambiente Vargas, Lucas – Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária, Bolsista de Iniciação Científica da ULBRA/RS Koch, Fábio Fernandes – Acadêmico do Curso de Química, Bolsista de Iniciação Científica da ULBRA/RS Data de recebimento: 16/08/2004 Data de aprovação: 01/10/2004 Endereço para correspondência: e-mail: [email protected] RESUMO A produção artesanal de queijos, remonta desde as épocas pioneiras, e vem se perpetuando por anos, passando de geração em geração. O queijo colonial produzido na cidade de Viamão, Rio Grande do Sul, é elaborado por produtores rurais, organizados em agroindústrias, constituindo-se em uma importante fonte alternativa de renda. Visando conhecer e melhorar as características dos queijos artesanais, analisou-se a evolução físicoquímica e microbiológica, durante a maturação de amostras de dois difeVeterinária em foco Canoas v. 2 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco n.1 maio/outubro de 2004 p.15-24 15 rentes produtores (lote A e lote B) na safra de 2001. Durante o período de maturação (60 dias) determinou-se: umidade; extrato seco, proteína total, acidez titulável, pH, cloretos e cinzas. Ambos os lotes apresentaram valores elevados para a microflora aeróbia mesófila e psicrotrófica total (PCA). Avaliou-se também, o número de células viáveis de alguns microrganismos importantes ao processo de maturação dos queijos, tais como: lactococos, lactobacilos e enterococos. Palavras-chave: Queijo, Maturação, Microbiologia. ABSTRACT Home-made cheese production has existed since pioneers settlement, and have been perpetuated through generations over the years. The colonial cheese made in the town of Viamão is manufactured by rural producers who are organized in agribusiness, constituting an important alternative to their income. In order to know and improve the characteristics of home-made cheese, the physical/chemical and microbiological evolution during maturation of samples of two different producers (herein named as lot A and lot B) was assessed in the harvest of the year 2001. During a 60-day maturation period the following were assessed: moisture, total solids, total proteins, titratable acidity, pH, chlorides and ash. Both lots showed high values of total psychotropic and mesophile microflora aerobia (PCA). Lactococcus, lactobacillus and enterococcus were also determined. Key words: cheese, maturation, microbiology. INTRODUÇÃO O queijo é o produto mais comum derivado do leite, sendo um dos melhores alimentos que o homem dispõe, não somente, por seu grande valor nutritivo em função de sua composição química, alto conteúdo de gordura, proteína de excelente qualidade e de outros compostos como cálcio, fosfatos, vitamina A, riboflavina, entre outros, mas também pelas suas características organolépticas. O Estado do Rio Grande do Sul é um grande produtor de leite, porém produz um número muito limitado de queijos, quase todos do tipo fresco ou semi-curado e com escasso controle tecnológico. A produção de queijo é um dos exemplos clássicos de conservação de alimentos. A conservação dos mais importantes constituintes do leite, como a gordura e as proteínas, na forma de queijo, explora dois princípios clássicos de conservação 16 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco de alimentos, isto é, fermentação ácido lática e redução da atividade de água por meio de adição de sal. Para se produzir um queijo de qualidade, de ótimo aroma e sabor, muitos fatores influenciam. Origem do leite, raça do animal, tipo de pastagem, período de lactação, assim como, o processo de fabricação e condições de maturação do queijo, tudo irá definir o resultado final. Por isso, para a caracterização e tipificação de um queijo são necessárias inúmeras análises. De acordo com a legislação vigente, os queijos em geral devem ser obtidos a partir do leite pasteurizado, integral ou padronizado, porém é freqüente a comercialização do produto feito com leite cru. Segundo Bhowmik & Marth, 1990, as características como consistência, textura, aroma e sabor desenvolvidas durante a produção e maturação devido a decomposição dos três componentes principais do leite, que ficam retidos nos queijos (lactose, proteína e gordura), são catalisados por enzimas derivadas de várias espécies de microrganismos originalmente presentes no leite (principalmente nos queijos fabricados com leite cru). Embora os microrganismos sejam fundamentais para a elaboração de um produto final homogêneo e com padrão de qualidade, a flora microbiana característica dos diferentes queijos artesanais brasileiros, em geral, não é conhecida, com exceção de alguns queijos mineiros. Não há uma metodologia que viabilize as diferenciações de autenticidade e de origens para os queijos artesanais, que, por conseqüência, não possuem uniformidade, e muitas vezes apresentam defeitos que poderiam ser evitados, caso houvesse um maior controle das práticas de fabricação artesanal dos mesmos, ao contrário da grande maioria dos queijos originários de países, onde essa tradição já está difundida, como, por exemplo, Itália, Portugal, Espanha, Argentina, nos quais os queijos artesanais, já possuem suas normas de identidade especificadas. Os ensaios analíticos foram realizados em amostras de queijo tipo colonial provenientes de dois produtores da cidade de Viamão (RS). O objetivo desta pesquisa é conhecer e melhorar as características dos queijos artesanais produzidos no Rio Grande do Sul, a fim de orientar os produtores na fabricação de um queijo com características próprias, preservando uma tradição e consolidando uma atividade que permitirá a melhoria econômica das famílias, além de abastecer a comunidade urbana com um produto de importante valor nutricional e de grande qualidade. v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 17 MATERIAL E MÉTODOS Processo de Fabricação O processo de fabricação do queijo colonial não é homogêneo, e apresenta variação muito grande de acordo com a região. A produção artesanal deste tipo de queijo utiliza leite integral recém ordenhado, que a uma temperatura entre 30-32o C, se coagula com adição de coalho líquido (força: 1:1000) durante 30 a 60 minutos. A seguir, se corta a coalhada com faca, até o tamanho de um grão de milho e coloca-se em panos dentro dos moldes, onde é submetida a uma rápida pressão com as mãos. Os queijos permanecem nos moldes por algum tempo e depois são retirados e transferidos para um refrigerador com temperaturas em torno de 7o C. O tempo de maturação é de mais ou menos quinze dias. O sal é adicionado ao leite antes da coagulação. Análises físico-químicas Para a realização deste trabalho foram elaboradas duas partidas de queijos por dois produtores diferentes (lotes A e B), que vivem em regiões distintas no município de Viamão. Ambos produziram queijos com leite cru, e foram retiradas amostras de leite e queijo a 1, 8, 15, 29, 45 e 60 dias de maturação. Para cada um dos pontos determinou-se os valores de pH, utilizando medidor de pH (modelo Digimed DME-CF1); de umidade (FILIDF 4 A 1982); de cloretos ( AOAC 935.43 1990); de proteínas pelo método Kjeldahl (FIL-IDF 20B); do teor de cinzas (FIL-IDF 27 1964), e da acidez titulável (AOAC 920.124 1990). Todas as análises foram efetuadas em duplicata. Análises Microbiológicas Em cada um dos pontos de amostra foram avaliados os seguintes grupos microbianos: evolução da flora aeróbia mesófila total avaliada com ágar PCA a 30 oC durante 48 horas; evolução da flora aeróbia psicrotrófica em ágar PCA a 7 oC durante 10 dias; contagem de lactococos em ágar M17; contagem de lactobacilos em ágar Rogosa, e contagem de enterococos em meio KF. Os resultados obtidos foram expressos pelo número de unidades formadoras de colônia por grama do alimento (ufc/g). 18 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme resultados apresentados na Tabela 1, o lote A apresentou umidade inicial de 57,67%, e após 60 dias de maturação alcançou o valor de 47,09% enquanto que o lote B variou de 57,35% a 38,42%. As variações nos valores de umidade encontrados nos dois lotes, refletem as diferentes tecnologias utilizadas pelo produtores como: prensagem, tamanho dos grãos, tamanho dos queijos e teor de sal. De acordo com os resultados apresentados na Tabela 1, é possível verificar que em ambos os lotes houve um decréscimo contínuo da umidade e consequentemente um aumento do extrato seco (lote A de 42,33 % a 52,91% e lote B de 42,65% a 61,58%) apesar das condições precárias de maturação utilizadas pelos produtores (geladeira comum). O extrato seco influi nas características reológicas e regula indiretamente o curso da maturação. O conteúdo de extrato seco dos queijos varia de 25%, para os queijos de massa fresca, até 70% para os de massa dura. Quanto ao pH, no lote A têm-se um decréscimo significativo, seguido de uma certa recuperação a partir da quarta semana, enquanto que no lote B este decréscimo foi menos pronunciado. Ao final da maturação ambos os lotes apresentam pH entre 5,4 e 5,9, valores próximos aos encontrados em queijos de massa prensada (pH=5,5), considerado o valor crítico para o desenvolvimento microbiano e a ação das enzimas. A evolução do pH durante a maturação é diferente para cada tipo de queijo, e reflete as transformações que ocorreram durante o processo. A coalhada dessorada apresenta valores de pH em torno de 5,5, aproximando-se a 7,0 no final da maturação, para os queijos de massa branda (Lenoir, 1963; Karahadian e Lindsay, 1987). Nos queijos de massa prensada o pH permanece praticamente constante, em torno de 5,5. O pH influi na determinação do sabor (Adda et al., 1982), podendo aparecer sabores amargos no Cheddar se a coagulação ocorrer a pHs inferiores a 4,95 (Lawrence e Gilles, 1969; Lemieux e Simard, 1991). O pH está relacionado com a textura que é determinada pelo grau de proteólise, a qual é mais extensa em pHs elevados (Trieu-Cuot e Gripon, 1982; Van Den Berg e Exterkate, 1993). Como conseqüência pequenas diferenças no pH podem causar variações na textura e na qualidade dos mesmos. O teor de sal variou de 1,00% – 1,17% de NaCl no lote A e de 0,79% – 2,39% de NaCl no lote B, conforme Tabela 1. Essa grande diferença encontrada entre os dois lotes deve-se ao fato de que a quantidade de sal adicionada não é medida ou pesada. A análise da proteína mostrou que os queijos dos dois lotes apresentaram um conteúdo protéico baixo, no lote A este variou de 19,06% a 23,18%, e no lote B de 15,55% a 23,61%, durante o processo de maturação. Segundo Eck (1990), o conteúdo de proteína varia de 20 a 30 % de acordo com v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 19 o sistema de fabricação. O baixo teor de proteína pode ser explicado pela umidade dos queijos, que tem relação direta com aquele componente (Feitosa, et. al., 1985). As variações sazonais afetam direta e indiretamente a performance de bovinos leiteiros. A influência direta das estações do ano sobre a produção de leite que ocorre em virtude de fatores climáticos, afeta o teor de proteína dos queijos, e também a influência indireta relacionada a disponibilidade e qualidade das plantas forrageiras, ligadas a fatores climáticos. Os resultados apresentados na Tabela 1, mostram que houve variação aleatória na acidez para o queijo do lote A, aumentando significativamente de 0,58 g a 2,18 g de ácido láctico, durante o processo de maturação. Enquanto que para o lote B o acréscimo foi menos pronunciado, de 0,68 g a 0,96 g de ácido láctico. O aumento da acidez é conseqüência da proteólise que ocorre durante o processo de maturação. Essa variação aleatória nos valores da acidez, deve-se, provavelmente, a falta de padronização na salga. O sal, além de conferir gosto característico ou realçar o sabor, complementa a dessoragem e regula acidez do queijo, favorecendo a liberação de água livre na massa pela diferença de pressão osmótica (SPREER, 1975) e a dissolução de algumas proteínas e seus produtos, os quais são substâncias tituláveis como ácidos. Umidade (%) Extrato Seco (%) Acidez (g de ác. Lático/ 100g amostra) pH Proteínas Totais (%) LOTE A T1 T8 T 15 T 29 T 45 T 60 57,67 55,05 53,27 52,01 50,83 47,09 42,33 44,95 46,73 47,99 49,17 52,91 0,58 0,48 2,13 1,73 1,90 2,18 6,43 5,84 5,00 5,18 5,41 5,44 19,06 20,44 20,90 22,10 23,07 23,18 1,00 1,06 0,85 0,86 0,89 1,17 3,33 3,38 4,33 3,31 3,35 3,60 LOTE B Tabela 1 – Resultados das análises físico-químicas T1 T8 T 15 T 29 T 45 T 60 57,35 52,63 47,26 48,17 40,32 38,42 42,65 47,37 52,74 51,84 59,68 61,58 0,68 0,66 0,61 0,53 1,00 0,96 5,90 5,64 5,89 6,46 6,11 5,95 15,55 17,59 19,30 20,93 20,99 23,61 0,79 0,95 1,06 1,38 1,85 2,39 2,69 2,85 3,17 4,18 3,90 5,18 Amostra Cloretos ( % NaCl) Cinzas (%) * T1 =1dia de maturação; T8 = 8 dias de maturação; T15 = 15 dias de maturação; T29 = 29 dias de maturação; T45 = 45 dias de maturação e T60 = 60 dias de maturação. A acidez titulável das amostras nem sempre seguiu as variações de pH. Concordando com os resultados de Hosken & Furtado (1983), pois durante a evolução da maturação substâncias tampão são liberadas, como por exemplo, a caseína que é titulável como ácido. A separação da caseína do soro é um fator que favorece essa variação de pH e acidez. A quantidade de cloreto de sódio foi significativamente superior no lote B, e consequentemente foram superiores as proporções de cinzas e extrato seco apresentadas, conforme resultados mostrados na Tabela 1. 20 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Conforme Figura 1 e 2 a contagem total de microrganismos para o lote A teve um acréscimo gradativo durante o processo de maturação, enquanto que para o lote B houve, inicialmente um decréscimo, seguido de um incremento com o decorrer da maturação. Observou-se que a flora microbiana mostrou-se variável, isso deve-se ao fato de que o queijo foi produzido a partir de leite cru, concordando com os resultados publicados por Dilanjan, 1984. Os lactococos (principais produtores de ácido láctico), se apresentam como grupo dominante em ambos os lotes. Os lactobacilos aumentaram gradativamente até o 15o dia no lote A e mantiveram-se constantes até o final da maturação. No lote B o aumento ocorre até o 45o dia, decaindo na última semana de maturação (Fig.2 ). Resultados que vêm a concordar com a bibliografia, visto que os microrganismos produtores de ácido láctico servem para controlar os níveis de coliformes, que são bactérias não resistentes a ácidos, bem como para realizar as transformações enzimáticas necessárias durante a evolução da maturação (FURTADO et al., 1980). Lo t e A 10 8 6 PCA 7ºC PCA 30ºC 4 M17 30ºC 2 ROGOSA 30ºC KF 37ºC 0 T0 T1 T8 T15 T29 T45 T60 Tempo de Mat uração Figura 1 – Evolução Microbiológica do lote A L ot e B 10 8 6 PCA 7ºC PCA 30ºC 4 M17 30ºC 2 ROGOSA 30ºC KF 37ºC 0 T0 T1 T8 T15 T29 T45 T60 Tempo de Mat uração Figura 2 – Evolução microbiológica do lote B v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 21 Os enterococos se mantiveram dentro de uma faixa de 105 – 107 ufc/g para o lote A e B (Figura 1 e 2). Os queijos de ambos lotes apresentaram elevada contagem para enterococos, e, portanto, inadequados para o consumo, considerando os padrões fixados pela Resolução do Ministério da Saúde RDC n0 12 de 2 de janeiro de 2001 que fixa como máximo de coliformes de origem fecal para esse tipo de queijo, classificado como de elevada umidade, 5 x 103 ufc/g. Essa elevada contaminação deve-se, principalmente, ao fato de que ambos lotes são produzidos com leite cru, não pasteurizado, de forma artesanal inadequada e em condições de higiene não satisfatórias. Além disso os dois lotes analisados apresentaram concentração de sal (NaCl) abaixo de 2% (Tabela 1) o que implica dizer que estão com maior susceptibilidade à contaminação. Atualmente se questiona se os enterococos podem ser considerados indicadores de contaminação fecal, pois eles formam parte da flora microbiana normal de queijos elaborados com leite cru, por isso a sua presença começou a ser interpretada de modo diferente. Como a contaminação se produz de forma aleatória, a concentração em que se encontram esses microrganismos varia muito de uns queijos para outros (HERNÁNDEZ et al., 1989). A presença de algumas espécies pode ser inclusive desejada já que possuem determinadas caracterísitcas que permitiram sua utilização como cultivos iniciadores. Os enterecocos têm capacidade de acidificar, de produzir compostos aromáticos, degradar proteínas e lipídios, e é estimulante da atividade de lactococos e leuconostoc (DEVOYOD e MULLER, 1969; Devouod e DESMAZEAUD, 1970). As contagens mais elevadas, na maioria dos grupos microbianos, ocorreram na primeira semana de maturação. O incremento das contagens coincide com a diminuição do pH, em conseqüência da produção de ácido pelos microorganismos. A contaminação do Lote A aumenta expressivamente no intervalo entre a ordenha (T0) e o início da fabricação (T1), isto provavelmente deve-se às condições sanitárias precárias do estábulo que encontrava-se próximo a uma criação de suínos e aves. Além disso, a sala de preparo de queijos também apresentava condições favoráveis ao desenvolvimento microbiano, e deve-se considerar também a contaminação através dos utensílios utilizados. CONCLUSÕES A partir dos resultados obtidos, conclui-se que: - Apesar das diferenças existentes no processo de fabricação desses queijos e nas instalações utilizadas, a composição básica resultou muito parecida, com exceção do conteúdo de cloreto de sódio e de acidez titulável; 22 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco - O conhecimento da flora microbiana envolvida na maturação é essencial para uma uniformidade na produção dos queijos, visando garantir ao consumidor um produto com alto padrão de qualidade; - Culturas lácticas são de grande importância no processo de fabricação de queijos e fator indispensável para a obtenção de um produto de boa qualidade e padronizado; - De acordo com o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Produtos Lácteos (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) os queijos estudados classificam-se como queijos de alta umidade (variação ente 46% e 56%); - Não existe nenhuma técnica de fabricação entre os produtores resultando uma diversidade de composição, formato e peso dos queijos; - A qualidade higiênico sanitária dos queijos produzidos nessa região é muito precária, constituindo um risco em potencial a saúde do consumidor. 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Esmeraldino, Anamaria Telles - Médica Veterinária, MSc., Doutora, Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA/Canoas. Rodrigues, Norma Centeno - Médica Veterinária, MSc., Doutora, Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA/Canoas. Centro de Pesquisa Veterinária “Desidério Finamor”/FEPAGRO Ceresér, Victor Hermes - Médico Veterinário, MSc., Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA/Canoas. Queirolo, Maria Teresa Costa - Médica Veterinária, Esp. , Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA/Canoas. Fallavena, Luiz César Bello - Médico Veterinário, MSc., Doutor, Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA/Canoas. Data de recebimento: 14/07/04 Data de aprovação: 28/09/04 Endereço para correspondência: e-mail: [email protected] RESUMO O trabalho descreve caso de espirocercose canina diagnosticado através de exame post mortem no Hospital Veterinário da ULBRA – Canoas, RS. O exame macroscópico revelou a presença de um nódulo na parede esofágica que, ao corte, apresentava-se cístico, contendo exemplares do parasita e ovos característicos de Spirocerca lupi . Palavras-chave: espirocercose, nódulo esofágico, caninos. Veterinária em foco Canoas v. 2 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco n.1 maio/outubro de 2004 p.25-29 25 ABSTRACT This work describes a case of canine spirocercosis diagnosed at post mortem examination at the Veterinary Hospital of Lutherana University of Brazil (ULBRA)S. Macroscopic examination revealed the presence of an oesophageal tumor, that appeared cystic on section and presented parasites and eggs of Spirocerca lupi. Key words: spirocercosis, oesophageal tumor, cinine. INTRODUÇÃO A espirocercose, também conhecida como verminose esofagiana, é uma infecção dos carnívoros causada pelo Spirocerca lupi (RUDOLPHI, 1809), afetando principalmente animais de países tropicais e do sul dos EUA (CARLTON, 1995). Os parasitas adultos geralmente são localizados em nódulos nas paredes do esôfago, estômago ou aorta, onde produzem cistos, aneurismas e granulomas, causando inflamação granulomatosa cística, que se comunica com a luz do estômago através de fístula. Descargas de ovos embrionados passam através da fistula para a luz esofágica saindo nas fezes do hospedeiro. Estes são consumidos pelos hospedeiros intermediários (coleópteros) os quais, por sua vez, são ingeridos por répteis, roedores e aves (hospedeiros paratênicos) que servem de alimentos para os carnívoros. Os cães podem se infectar ingerindo tanto os hospedeiros intermediários como os hospedeiros paratênicos. A larva liberada no estômago penetra pela parede da mucosa gástrica e realiza uma migração até a parede do esôfago. O período pré-patente é de aproximadamente seis meses, conforme Soulsby (1982). Ainda, segundo o autor, muito raramente o parasita pode ser encontrado livre no estômago ou em outros órgãos dos cães. Os sinais clínicos mais comumente observados, descritos por Lobetti (2000), Mazaki-Tovi (2002) e Ranen (2004) são vômito, tosse, regurgitação de alimentos, perda de peso, febre e fraqueza. Entretanto, um percentual expressivo de animais pode não apresentar sintomatologia clínica (LOBETTI, 2000). O diagnóstico pode ser realizado através de exame parasitológico de fezes (Técnica de Flutuação), endoscopia e por métodos radiológicos. Em pesquisa realizada por Mazaki-Tovi (2002), de 14 cães positivos para espirocercose, 13 apresentavam granulomas esofagianos, sendo que apenas um exibiu osteossarcoma esofagiano. Também foi descrita a presença de aneurisma de aorta em seis (43%) dos animais estudados. Costa(1990) realizou exames post mortem em 61 cães de rua, na cidade de Vitória/ES, tendo verificado prevalência de 14,7% em relação à espirocercose canina. Em recente trabalho sobre a prevalência de parasitas intestinais de cães em São Paulo, Oliveira-Serqueira (2002) detectou, através de exames parasitológicos de fezes, Spirocerca lupi em 1,9 % das 271 amostras estudadas. No Rio Grande do Sul, Lara (1981), em trabalho realizado com 118 cães no município de Pelotas verificou, 26 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco através de exames de necropsia, uma prevalência de 0,85% para Spirocerca lupi. Mattos Junior (1999) refere-se a um trabalho realizado na cidade de Porto Alegre/RS no ano de 1947, no qual relata que 7% de 65 cães necropsiados apresentavam a doença. RELATO DO CASO Um canino, fêmea, SRD, de quatro anos de idade e quatro kg de peso, apresentando dificuldade de deglutição foi encaminhado ao Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA – Canoas, RS para exame clínico e radiológico. Ao exame de RX, foi observado um corpo estranho no esôfago, sendo então indicado procedimento cirúrgico. Durante a cirurgia (esofagotomia), na qual confirmou-se a presença de corpo estranho (osso de galinha) causando traumatismo à parede do órgão, o animal veio a óbito por parada cardíaca. Na necropsia, constatouse espessamento do saco pericárdico com presença de fragmentos de ossos no interior da cavidade pericárdica. Também foi observada a presença de um nódulo esofagiano. RESULTADOS E DISCUSSÃO A anamnese e o exame clínico realizados, com o auxílio do RX, confirmaram a suspeita da presença de corpo estranho no esôfago, o que justificaria a dificuldade de deglutição apresentada pelo animal. Ao exame necroscópico, foi constatado um nódulo medindo aproximadamente 20 mm na porção caudal da parede esofágica que, ao corte, parecia cístico e continha parasitas morfologicamente semelhantes a Spirocerca lupi (Figuras 1 e 2) envoltos em secreção purulenta e comunicando-se com a luz esofágica através de uma fistula, sendo a localização e a lesão idênticas às descritas na literatura (CARLTON,1995). Figura 1 – Nódulo esofagiano v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 27 Figura 2 – Exemplares de Spirocerca lupi O exame microscópico revelou a presença de parede esofágica apresentando cisto de parede fibrosa, com reação inflamatória granulomatosa crônica envolvendo estruturas parasitárias e ovos compatíveis coam os de Spirocerca lupi. O granuloma esofagiano é considerado a lesão mais freqüente nos casos de espirocercose canina (MAZAKI-TOVI, 2002). Exemplares dos helmintos encontrados no nódulo foram encaminhados ao Laboratório de Parasitologia do Hospital Veterinário da ULBRA para exame e identificação. Os parasitas mediam aproximadamente 60-80 mm de comprimento por 1-1,2 mm de largura, à semelhança com o descrito por Soulsby (1992). Após clarificação, verificou-se a presença de ovos pequenos, com casca espessa e embrionados, os quais foram característicos de Spirocerca lupi. No caso ora relatado, a relação entre o nódulo parasitário e os sinais clínicos apresentados pelo animal não é clara. Para Lobetti (2000), a dificuldade de deglutição corresponde a 20% dos sinais mais comuns na espirocercose. Ainda, segundo o mesmo autor, 14% dos cães com a doença são assintomáticos. Embora a espirocercose seja considerada uma das principais verminoses dos cães, muitas vezes o diagnóstico da doença ocorre por ocasião da necropsia, quando a presença de nódulos contendo os parasitos é constatada (MATTOS JUNIOR, 1999). No Rio Grande do Sul, existem poucos relatos sobre casos de espirocercose canina. Na rotina dos laboratórios de Patologia e de Parasitologia do Hospital Veterinário da ULBRA – Canoas, o caso ora descrito foi o único encontrado desde o ano de início das atividades dos mesmos (1998). CONCLUSÃO Com base na escassez de relatos de casos de espirocercose no Estado, assim como na raridade com que a doença é observada na rotina dos labo- 28 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco ratórios de Patologia e de Parasitologia de um hospital veterinário que atende número expressivo de caninos, sugere-se que essa enfermidade não é comum no Rio Grande do Sul. A espirocercose canina pode ou não determinar dificuldade de deglutição, o que não ficou claro no caso descrito, já que o animal apresentava concomitante esofagite traumática por corpo estranho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARLTON, W. W.; McGAVIN, M. D. Special Veterinary Pathology 2ª ed. St. Luis, Missouri: Mosby-Year Book, 1995, 654 p. COSTA, J. O.; LIMA, W. S.; GUIMARÃES, M. P.; LIMA, E. A. M. Freqüência de endo e ecto parasitas em cães capturados nas ruas de Vitória-ES-Brasil. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 42, n. 5, p. 451-452, 1990. LARA, S. I. M.; TAROUCO, M. R. R.; RIBEIRO, P. B. Helmintos parasitos de Canis familiaris de Pelotas- Rio Grande do Sul. Arquivos da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, v. 33, n. 2, p.293-297, 1981. LOBETTI, R. G. Survey of the incidence, diagnosis, clinical manifestations and treatment o Spirocerca lupi in South Africa. J. S. Afr. Vet. Assoc., n. 71, v. 1, p. 43-6, 2000. MATTOS JR., D. G. Manual de helmintoses comuns em cães. 1ª ed. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 1999, 113 p. MAZAKI-TOVI, M.; BENTH, G.; AROCH, I.; HARRUS, S. ; KASS, P. H.; BEN-ARI, T.; ZUR, G. AIZEMBERG, I.; BARK H.; LAVY, E. Canine spirocercosis : clinical, diagnostic, pathologic, and epidemiologic characteristics. Vet. Parasitol., v. 3, n. 107, p. 235-50, 2002. OLIVEIRA-SERQUEIRA, T. C.; AMARANTE, A. F., FERRARI, T. B. NUNES, L. C. Prevalence of intestinal parasites in dogs from Sao Paulo State, Brazil. Vet. Parasitol. n. 103, v. 1-2, p. 19-27, 2002. RANEN, E.; LAVY, E.; AIZENBERG, I.; PERL, S.; HARRUS S. Spirocercosis –associated esophageal sarcomas in dogs. A retrospective study of 17 cases (1997-2003). Vet. Parasitol. n. 119, v. 2-3, p. 209-21, 2004. SOULSBY, E. L. J. Helminths, Arthopods and Protozoa of Domesticated Animals. London: Tindall and Cassel, 1982. v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 29 30 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Observações sobre a Presença de Actinobaculum suis (Actinomyces suis) em Reprodutores Machos, Matrizes e Leitões de uma Granja de Suínos Studies on the Occurrence of Actinobaculum suis (Actinomyces suis) in Boars, Sows and Piglets from a Pig Farm Bortololon, Jusandro – Graduado no Curso de Medicina Veterinária, ano 2004- 1, Universidade Luterana do Brasil - ULBRA Oliveira, Sérgio J. de – Prof. Dr., Curso de Medicina Veterinária, Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Data de recebimento: 20/08/04 Data de aprovação: 30/09/04 Endereço para correspondência: Rua Miguel Tostes, 101, C. Postal 124, Canoas, RS 92420280, Laboratório de Bacteriologia e Micologia, Hospital Veterinário. E-mail: [email protected] RESUMO A partir da ocorrência de um caso de morte de matriz suína em uma granja no Rio Grande do Sul, revelando lesões características de cistite na necropsia, foram realizadas colheitas de materiais para exame laboratorial, consistindo de líquido prepucial de cachaços e de leitões na creche e recria, bem como secreções vaginais de porcas em gestação, para exame laboratorial. Foi cultivado Actinobaculum suis de cinco entre 12 cachaços examinados e de dois leitões na creche, entre 12 examinados, respectivamente com 34 dias e 45 dias de idade. Não foi isolado A. suis de “swabs” vaginais de 24 porcas examinadas. Através destes exames foi constatado a existência de portadores em suínos machos da granja e leitões que já estavam infectados na creche, o que não ocorreu nas porcas. Palavras-chave: Actinobaculum suis, infecção, suínos machos e fêmeas. Veterinária em foco Canoas v. 2 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco n.1 maio/outubro de 2004 p.31-34 31 ABSTRACT The occurrence of death in a sow from a pig farm in Rio Grande do Sul, Brazil, presenting lesions of cystitis at post mortem examination, conducted to laboratory examination of preputial liquid of boars and male weaned pigs (piglets and finishing pigs) and vaginal “swabs” of gestation sows. It was isolated Actinobaculum suis from 5 among 12 boars and from 2 between 12 weaned pigs, respectively 34 and 45 days old. A, suis were not isolated from 24 sows examined. It is confirmed the occurrence of male pigs as carriers of the microrganisms in that farm and the infection of piglets early in their lives. There was no evidence of carrier state in sows. Key words: Actinobaculum suis, infection, male pigs, sows. INTRODUÇÃO Embora seja conhecido que as infecções urinárias em fêmeas suínas podem ter como etiologia um ou mais microorganismos, os mais frequentes têm sido E. coli e Actinobaculum suis. Este último provoca doença mais grave, sendo específico do aparelho urinário, segundo Jones (1968), sendo uma das principais causas de morte em suínos adultos. Cistite ocorre com maior frequência em matrizes suínas do que em suínos machos, sendo atribuído às diferenças anatômicas e às variações fisiológicas das fêmeas, como cio, gestação e parto. O suíno macho é considerado portador de Actinobaculum suis no líquido prepucial, devido às condições de anaerobiose do divertículo prepucial, visto que a bactéria é anaeróbia. Assim sendo, através da cobertura pode haver infecção nas fêmeas (JONES, 1978). Devido à importância de infecções urinárias na suinocultura moderna, foi programado um experimento visando verificar a presença de A. suis em matrizes, cachaços e leitões, de uma granja no Rio Grande do Sul. MATERIAL E MÉTODOS Ocorreram algumas mortes de matrizes suínas, em uma granja no Rio Grande do Sul, sendo em uma delas observado lesões na bexiga características de cistite, com hiperemia, parede espessa e conteúdo hemorrágico com pus. Este fato motivou a realização de exames laboratoriais para verificar a presença de portadores de A. suis entre cachaços e matrizes, incluindo também exames em leitões machos na creche e recria-terminação. Foram colhidas amostras do conteúdo prepucial, através de introdução 32 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco de “swabs” estéreis em 12 cachaços utilizados nas coberturas de porcas, assim como amostras foram colhidas de 12 leitões machos na creche e 12 na recria. Utilizando-se também “swabs” foram colhidas amostras de secreção vaginal de 24 porcas em gestação que apresentavam corrimentos vulvares. A urina destas porcas foi testada por tiras reativas para uroanálise (Multistix – Bayer). Tanto os materiais colhidos dos machos quanto os das fêmeas foram depositados em tubos contendo meio líquido de BHI (Difco) e transportados no mesmo dia, em caixa refrigerada, ao Laboratório de Bacteriologia e Micologia do Hospital Veterinário da ULBRA. No laboratório os materiais foram inoculados em placas de agar com 5 % de sangue ovino, adicionadas de ácido nalidíxico (15 mg / L), conforme Oliveira (2000). As placas inoculadas foram incubadas em jarra, em atmosfera de anaerobiose, a 37 oC durante 4 dias. Cultivos com suspeita de apresentarem colônias de A. suis foram analisados por microscopia e realização de exames bioquímicos (OLIVEIRA et al., 1984). RESULTADOS E DISCUSSÃO Após o período de incubação apareceram colônias opacas, com bordos irregulares e centro elevado em cinco dos materiais obtidos de cachaços e dois de leitões respectivamente com 34 e 45 dias de idade, na creche. Não foram isolados A. suis de materiais colhidos das porcas em gestação. As bactérias foram confirmadas como A. suis pela coloração de Gram (bastonetes Gram positivos, semelhantes a Corynebacterium sp) e por provas bioquímicas, conforme Oliveira (2000). O uso de tiras reativas em urina de porcas que estavam em gestação revelou positividade em duas delas, que poderiam estar desenvolvendo cistite, embora fossem assintomáticas. O fato de ser isolado A. suis a partir do divertículo prepucial de reprodutores suínos machos já havia sido constatado por Jones (1978), o qual isolou as bactérias de 78 % dos cachaços examinados na Inglaterra. No Brasil, Oliveira et al., (1984) relataram os primeiros isolamentos de A. suis, respectivamente de um cachaço que apresentava sinais de cistite e de suínos machos sadios abatidos em frigorífico, no total de 44 entre 122 examinados (36 %) no Rio Grande do Sul. Suínos castrados abatidos no frigorífico, portanto podem ser portadores das bactérias O isolamento das bactérias a partir de “swabs” de divertículo prepucial de v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 33 reprodutores machos indica a possibilidade de disseminação de infecção urinária nas porcas da granja, pois eles se constituem em portadores. Por outro lado, verificou-se através deste experimento, que leitões podem estar agindo como portadores de A. suis já bem cedo, com 30 a 40 dias de idade na creche. Isto também explica a condição de portadores em suínos abatidos em frigorífico, mesmo sendo castrados. Estes podem ter se infectado do ambiente, pois as bactérias são eliminadas no piso das baias e podem sobreviver, de acordo com Jones (1978). A ausência de isolamentos das bactérias a partir de porcas possibilita sugerir que estas não agem como portadoras no canal vaginal ou pelo menos a freqüência de ocorrência é baixa. Novos experimentos devem ser conduzidos visando determinar a prevalência de manutenção de A. suis no canal vaginal de porcas sem sintomas de infecção urinária. CONCLUSÕES Conclui-se que Actinobaculum suis, estão presentes em suínos machos jovens e adultos nas condições de boa tecnologia em uma granja de suínos no Rio Grande do Sul e eventualmente podem causar infecção urinária. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à colaboração da Técnica em Laboratório Jane Mendes Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS JONES, J. E. T. The cause of death in sows: a one year survey of 106 herds in Essex. British Veterinary Journal, v. 124, p. 45-95, 1968. JONES, J. E. T. Corynebacterium suis infection in pigs International Veterinary Congress Pig Society, 5 Zagreb, Yugoslavia, Anais, p. 22, 1978. OLIVEIRA, S. J. DE; BARCELLOS, D. E. S. N.; BOROWSKI, S. M. Isolamento de Corynebacterium suis de suínos machos sadios e com infecção urinária, no Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 6, n. 4, p. 130-131, 1984. OLIVEIRA, S. J. DE Microbiologia Veterinária – Guia Bacteriológico prático, 2 ed. Canoas: Editora da ULBRA, 2000, 237 p. 34 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Exame Bacteriológico de Secreções Vulvares em Matrizes Suínas Bacteriological Examination of Vulval Discharges in Sows Schenkel, André C. - Graduado do Curso de Medicina Veterinária, ano 2004 –1, Universidade Luterana do Brasil. Oliveira, Sérgio J. de - Prof. Dr., Curso de Medicina Veterinária, Universidade Luterana do Brasil. Data de recebimento: 20/08/04 Data de Aprovação: 30/09/04 Endereço para correspondência: Rua Miguel Tostes, 101, C. Postal 124, Canoas, RS 92420-280, e-mail [email protected] RESUMO Secreções vulvares, também denominadas descargas vulvares, podem ter diferentes origens, principalmente genitais e urinárias, podendo ou não estar associadas a falhas reprodutivas, sendo de grande importância na suinocultura. O objetivo deste trabalho foi verificar a freqüência com que ocorriam descargas vulvares em matrizes suínas de duas granjas após a cobertura e após o parto e isolar e identificar os microorganismos presentes nestas secreções. Foram detectados 58 casos de corrimento vulvar, respectivamente na granja A (19 na maternidade e 21 na gestação) e granja B (três na maternidade e 15 na gestação). Predominaram cultivos de Escherichia coli e Streptococcus spp. Palavras-chave: secreções vulvares, matrizes suínas, E. coli, Streptococcus spp. ABSTRACT Vulval secretions, also named vulvar discharges, may have different origins, mainly from the genital and urinary tracts. They can be or not assoVeterinária em foco Canoas v. 2 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco n.1 maio/outubro de 2004 p.35-40 35 ciated with reproductive disorders, being of great interest in pig farms. In this article it is related the occurrence of vulval discharges in sows after mating and after farrowing, in two herds. It was detected 58 sows presenting the problem, respectively in herd A (19 in lactating sows and 21 in the gestation room) and herd B (3 and 15 respectively). Escherichia coli and Streptococcus spp were the most frequent bacteria isolated. Key words: vulval discharges, sows, E. coli, Streptococcus spp. INTRODUÇÃO Secreções vulvares, também denominadas descargas vulvares, podem ter diferentes origens, principalmente genitais e urinárias, podendo ou não estar associadas a falhas reprodutivas, sendo de grande importância na suinocultura. Foi verificado que falhas no manejo reprodutivo, em coberturas naturais ou através de inseminação artificial, tais como número excessivo de coberturas ou inseminações por estro, segundo Silva et al., (1997) podem causar secreções vulvares pós cobertura. As modernas instalações de suínos criados intensivamente, permitem que as descargas vulvares sejam diagnosticadas mais precocemente. Em criações extensivas a eficiência do exame da vulva é menor, pois a visualização dos animais é mais difícil, podendo haver casos em que as descargas passem desapercebidas. A maior freqüência no diagnóstico ocorre, porque atualmente as fêmeas são alojados em celas individuais, permitindo que os animais sejam visualizados diariamente. Segundo Carr (1990), microorganismos oportunistas presentes no ambiente são freqüentemente responsáveis por casos de endometrites bacterianas no Reino Unido, sendo as bactérias do gênero Streptococcus, Staphylococcus, Pseudomonas e Coliformes os principais microrganismos envolvidos neste tipo de afecção. Em estudo conduzido por Wentz et al. (1986), os gêneros Streptococcus e Escherichia coli (E. coli), foram os principais microorganismos isolados em culturas de casos de endometrites em fêmeas suínas. Visando verificar a freqüência com que ocorriam descargas vulvares em porcas após a cobertura ou inseminação artificial e também após o parto, bem como determinar os microorganismos presentes em casos de descargas, durante o período de dois meses, foram desenvolvidos exames bacteriológicos em matrizes suínas em duas granjas, com o apoio do Laboratório de Bacteriologia e Micologia do Hospital Veterinário da ULBRA. 36 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado em duas granjas produtoras de suínos na região do Alto Taquari. No período de 15 de março a 14 de maio de 2004 foram avaliadas um total de 1623 matrizes suínas, respectivamente distribuídas na granja A, com um plantel de 523 matrizes e granja B com um plantel de 1100 matrizes. Em cada unidade as matrizes foram observadas durante o período de um mês. Estas fêmeas eram inspecionadas duas vezes ao dia, após o arraçoamento, para verificação da ocorrência de descargas vulvares no período após a cobertura ou após o parto. Quando estas ocorriam, a coleta de material procedia–se imediatamente, sendo realizada por meio de um “swab” estéril introduzido na vagina que posteriormente era acondicionado em um tubo contendo meio líquido de BHI (Difco) e transportado refrigerado ao Laboratório de Bacteriologia e Micologia do Hospital Veterinário da ULBRA. No laboratório os “swabs” foram inoculados em meios de cultura sólido de agar com 8% de sangue ovino e agar MacConkey, uma placa para cada material os quais foram incubados em aerobiose a 37oC, de 24 a 48 horas, juntamente com os respectivos caldos BHI. Passado o período de incubação as placas foram examinadas quanto a presença de bactérias e leveduras, verificando-se as características das colônias, produção de hemólise em agar sangue ovino, fermentação de lactose, crescimento em MacConkey, coloração pelo método de Gram e quando necessário foram realizadas provas bioquímicas de catalase, oxidase, coagulase, utilização de uréia, produção de indol e liquefação de gelatina (OLIVEIRA, 2000). RESULTADOS No total foram constatados 58 casos de descargas vulvares em porcas. Na granja A ocorreram 19 casos de corrimentos vulvares na maternidade e 21 na gestação, enquanto que na granja B ocorreram três casos na maternidade e 15 na gestação. Portanto entre porcas avaliadas durante período de gestação (próximo à cobertura) e também no período pós-parto, verificou-se que houve maior número de casos de descargas vulvares em porcas durante a gestação. Através da Tabela 1 observa-se que entre microorganismos cultivados provenientes das 58 amostras de descargas vulvares, predominaram os cultivos de Escherichia coli e Streptococcus sp alfa e beta hemolíticos. A E. coli esteve presente em 36 (62,1%) dos casos de descargas vulva- v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 37 res, sendo que em 13 (36,1%) destes casos estas bactérias foram isoladas em cultura pura e em 23 (63,9%) destes casos em cultura mista. Os isolados de Streptococcus sp alfa e beta hemolíticos foram encontrados em 31 (53,4%) dos casos de descargas vulvares, sendo cultivados em 5 (16,1%) destes casos em culturas puras e em 26 (83,9%) dos casos em culturas mistas. Tabela 1 – Microorganismos isolados de 58 casos de descargas vulvares em matrizes suínas. MICROORGANISMOS CASOS DE DESCARGAS V ULVARES Escherichia coli (Cultivo puro) E. coli + Streptococcus sp beta hemolítico E. coli + Staphylococcus sp E. coli + Streptococcus alfa hemolítico E. coli + Klebsiella sp E. coli + Actinomyces pyogenes E. coli + Streptococcus beta + E. coli + levedura Streptococcus sp Beta (cultivo puro) Streptococcus beta + Staphylococcus sp Streptococcus sp alfa e beta Streptococcus sp + Enterobacter sp Enterococcus fecalis (cultura pura) Staphylococcus sp (cultura pura) Klebsiella sp (cultura pura) Proteus sp Geotrichum sp 13 13 03 03 01 01 01 01 05 05 04 01 02 01 02 01 01 TOTAL 58 DISCUSSÃO Os resultados encontrados neste trabalho são semelhantes aos relatados por Lindemann et al. (1985), os quais examinaram 614 amostras de secreção cervical colhidas de fêmeas suínas no período puerperal, onde houve predomínio de isolamentos de E. coli (34,5 %). No entanto, o presente trabalho difere do realizado por Lindemann et al. (1985), quanto ao período de coleta das secreções, pois aqui foram examinadas as matrizes após a cobertura e também após o parto. Por outro lado, Silva et al., (1997) examinaram também porcas com descargas vulvares tendo coletado 26 amostras deste tipo de secreção onde após cultivo em laboratório foi isolado E. coli de 80,76% dos casos e Streptococcus beta hemolítico de 26,92% dos casos. Os resultados obtidos no presente trabalho estão em acordo com os relatados por Silva et al., (1997) quanto ao predomínio de isolamentos de E. coli e Streptococ- 38 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco cus spp de descargas vulvares de porcas, que ocorrem após a cobertura ou inseminação artificial. Segundo Carabin et al. (1994), E. coli além de constituírem-se nos principais agentes etiológicos de infecções inespecíficas do trato reprodutivo de suínos são também encontrados na microbiota normal desta espécie. Assim sendo, torna-se necessário verificar se determinados sorovares das bactérias são mais patogênicos para desenvolverem os sinais clínicos, ou se apenas as práticas de manejo deficientes seriam suficientes para a instalação das bactérias no útero. CONCLUSÕES Na grande maioria dos casos o perfil microbiológico das amostras de descargas vulvares coletadas é misto. O microorganismo mais freqüentemente isolado nos casos de corrimentos vulvares pós-parto ou pós-cobertura foi a Escherichia coli. AGRADECIMENTO Os autores agradecem à colaboração da Técnica em Laboratório Jane Mendes Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARABIN, H; BIGRASA-POULIN, MENARD, J; CASTILLO, J; MARTINEAU, G. P. 13 th IPVS, Bangkok, Proccedings, 1994. CARR, J. Post-parturient Problems in Swine. The Veterinary Annual, v. 30, p. 113-125, 1990. LINDEMANN, T.; FERNANDES, J. C. T.; WENTZ, I. et al. Arquivos da Faculdade de Veterinária – UFRGS, v.13, p. 95-103, 1985. OLIVEIRA, S. J. 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Oliveira, Sérgio J. de – Médico Veterinário, Dr., Professor do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA. Lunge, Vagner Ricardo – Professor, Dr,, Curso de Medicina Veterinária da ULBRA. Santos, Marcelo Reich – Bolsista de Iniciação Científica, aluno do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA. Data de recebimento: 18/08/04 Data de aprovação: 30/09 Endereço para correspondência: [email protected] RESUMO O presente artigo contém uma revisão sobre a erisipela suína, incluindo a classificação fenotípica e genotípica das espécies Erysipelothrix rhusiopathiae e Erysipelothrix tonsillarum, aspectos da doença em suínos, patogenicidade e resistência a antimicrobianos, bem como resultados parciais de pesquisa em andamento. Através desta pesquisa foram trabalhadas 600 amígdalas de suínos colhidas em três frigoríficos no Rio Grande do Sul, sendo isoladas 75 amostras de Erysipelothrix spp. A constatação de positividade no teste com sacarose e negatividade em teste de PCR específico para E. rhusiopathiae, constituiu-se em evidência de que seis dos isolados sejam E. tonsillarum, devendo no entanto haver confirmação por sorologia. Palavras-chave: erisipela suína, isolamentos, classificação, amígdalas, suínos de abate. Veterinária em foco Canoas v. 2 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco n.1 maio/outubro de 2004 p.41-50 41 ABSTRACT This article consists on a revision about swine erysipelas, including phenotypic and genotypic typing of strains of Erysipelothrix rhusiopathiae and E. tonsillarum, the disease in pigs, patogenicity and antimicrobial resistance. It is reported also partial results of an ongoing research. These results showed 75 isolations of Erysipelothrix spp from 600 tonsils of fattening pigs collected at three abattoirs in the State of Rio Grande do Sul, Brazil. Sacarose positive strains (6 samples) and the negative PCR result for E. rhusiopathiae is an evidence of the presence of E. tonsillarum, although being necessary the use of serologic tests to confirm. Key words: swine erysipela, isolates, typing of strains, tonsils, fattening pigs. INTRODUÇÃO A Erisipela suína foi descrita clinicamente, pela primeira vez no Brasil, por Melo & Souza (1931). No Estado do Rio Grande do Sul, Crocco (1957) descreveu a doença a partir de materiais coletados em matadouro. No mesmo ano, também no Rio Grande do Sul, ocorreram relatos sobre o aparecimento da enfermidade em granjas de suínos (DIAS, 1957; ALBUQUERQUE, 1957). A doença é do tipo hemorrágico, provocando lesões cutâneas, articulares, cardíacas ou septicemia em suínos. O agente etiológico é a bactéria Erysipelothrix rhusiopathiae, a qual tem sido isolada de grande número de mamíferos, aves e peixes, mas o quadro clínico mais importante ocorre em suínos. Embora não sendo patogênico para peixes, as bactérias podem sobreviver por longo período na superfície mucóide dos mesmos. Mais recentemente, através da estrutura do DNA, foi reconhecida outra espécie das bactérias, o Erysipelothrix tonsillarum (TAKAHASHI et al., 1987). REVISÃO DE LITERATURA Segue uma breve revisão, na tentativa de atualização sobre os principais tópicos de importância para o conhecimento das bactérias e da doença em suínos. Classificação sorológica A estrutura antigênica de E. rhusiopathiae é complexa. Existem antígenos 42 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco termolábeis, comuns à maioria das amostras da bactéria e antígenos termoestáveis, os quais permitem a diferenciação sorológica entre as amostras isoladas, sendo utilizados testes de imunodifusão dupla. Algumas amostras não apresentam antígenos termoestáveis, sendo classificados com a letra N. Wood & Harrington (1978) distinguiram 20 sorotipos das bactérias. Os sorotipos 1 e 2 eram os mais freqüentemente cultivados de casos de erisipela suína. Em pesquisa realizada no Brasil, foram classificadas sorologicamente 110 amostras de E. rhusiopathiae isoladas de amígdalas de suínos e da superfície corporal de peixes, demonstrando a presença dos sorotipos 1, 2, 3, 4, 9, 10, 11 e N (CASTRO et al., 1972). Em outra pesquisa, em nosso país, a classificação sorológica de 133 amostras das bactérias isoladas de amígdalas, baço e fezes de suínos, revelou a presença dos sorotipos 1, 2, 3, 5 e 11 (BARCELLOS et al., 1984). Nesta pesquisa os autores verificaram que os sorotipos 1, 2 e 11 ocorreram tanto em animais sadios quanto naqueles que apresentaram sinais clínicos e lesões de doença septicêmica, ressaltando a importância do suíno portador na epidemiologia da doença. Atualmente, reconhece-se 24 sorotipos, distribuídos entre as espécies E. rhusiopathiae (compreende os sorotipos 1, 2, 4, 5, 6, 8, 9, 11, 12, 13, 15, 16, 17, 18, 19, 21 e N) e E. tonsillarum (com os sorotipos 3, 7, 10, 14, 20, 22 e 23). Estudos de hibridização de DNA sugerem que o gênero Erysipelothrix compreende quatro espécies, sendo E. rhusiopathiae, E. tonsillarum, e que E. rhusiopathiae sorovar 13 e E. rhusiopathiae sorovar 18 seriam espécies diferentes (TAKAHASHI et al., 1992). Cultivos obtidos de amígdalas de suínos aparentemente sadios em outros países tem revelado como mais frequentes os sorotipos 2, 12 e 17 de E. rhusiopathiae e 7 ou 10 de E. tonsillarum (TAKAHASHI et al., 1999). Em bovinos aparentemente sadios, foi constatada a presença nas amígdalas, dos sorotipos 1, 2, 5, 9, 12, 13, 19 e 21 de E. rhusiopathiae e apenas o sorotipo 3 de E. tonsillarum (HASSANEIN et al., 2001). Infecção em suínos A fonte de infecção mais importante é o suíno portador, o qual aloja Erysipelothrix spp nas amígdalas e outros tecidos linfóides e pode eliminar as bactérias nas fezes, contaminando o solo, água, cama e alimentos. Suínos com infecção aguda eliminam o agente nas fezes, urina, saliva e secreções nasais. Roedores e aves silvestres podem ser também fontes de infecção (SOBESTIANSKY et al., 1999). As amígdalas são reconhecidas como locais de preferência para isolamento das bactérias em suínos aparentemente sadios, embora os microorganismos tenham sido também cultivados a partir de intestino, linfonodos e articulações v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 43 de animais sem sintomas de erisipela (MURASE & EBI, 1960). A infecção natural pode ocorrer por ingestão de alimentos ou água contaminados, ou através de ferimentos na pele e caracteriza-se por septicemia, lesões cutâneas e poliartrite, podendo ocorrer também endocardite. Porcas em gestação podem abortar. As lesões cutâneas são típicas, lembrando a forma de losango e aparecem a partir do segundo dia de infecção, de coloração púrpura escuro (Figura 1). Há casos de ocorrência destas lesões por ocasião do abate. Figura 1. Suínos vivos com lesões cutâneas típicas de erisipela. Recentemente no Brasil, Alberton et al., (2001) realizaram diagnóstico diferencial entre artrites infecciosas e não infecciosas em suínos no abatedouro e isolaram E. rhusiopathiae de 14 % dos casos de artrite infecciosa. Segundo os autores, a observação que melhor possibilitou a diferenciação entre os tipos de artrite foi a presença ou ausência de reatividade nos linfonodos regionais. Assim, nos casos de artrite infecciosa nos membros posteriores os linfonodos ilíacos mediais e laterais estavam reativos, o mesmo ocorrendo com linfonodos axilares da primeira costela quando a artrite ocorreu nos membros anteriores. Perdas econômicas verificadas em Frigorífico devido a artrites, no Brasil ainda não foram quantificadas. Artrites por erisipela são proliferativas e não supurativas e podem progredir no suíno vivo mesmo na ausência das bactérias, tornando-se crônicas e determinando desenvolvimento retardado dos animais. Características fenotípicas e genotípicas O diagnóstico clínico da doença, quando não aparecem as lesões cutâneas torna-se difícil, como relataram Copes et al., (2001) na Argentina, em casos de infecção pelo sorotipo 10 de E. tonsillarum, pois é importante o 44 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco diagnóstico diferencial principalmente com peste suína clássica e salmonelose septicêmica, sendo necessário o isolamento e classificação das bactérias. De acordo com Fidalgo et al., (2000) maior número de isolamentos foi obtido usando caldo BHI com 5% de soro eqüino, seguido de sub-cultura em BHI agar sangue. Nos meios foram adicionados antibióticos (canamicina, 400 mg/L, gentamicina, 25 mg/L, vancomicina, 25 mg/L). Em caldo observa-se turbidez a partir de 24 horas a 37oC e em agar sangue as colônias são pequenas, incolores, alfa hemolíticas. Ao microscópio são bastonetes Gram positivos, pequenos e finos, retos ou encurvados, podendo ou não apresentarem-se em forma de filamentos. A caracterização fenotípica revela provas negativas de catalase, oxidase, esculina, indol e reações positivas de fermentação de glicose, lactose, sacarose, maltose e manose. Produzem H2S de forma a revelar coloração escura (negra) em meio de TSI apenas na linha de semeadura (Figura 2). Figura 2. Tubos de meio TSI (“Triple Sugar Iron”) inoculados com Erysipelothrix sp em 24 horas de incubação, apresentando reação positiva para produção de H2S, na linha de inoculação. Os testes moleculares estão iniciando a contribuir para o diagnóstico de erisipela suína, visto que são recentes as pesquisas. Makino et al.(1994) desenvolveram um teste de PCR com primers específicos para detectar o gênero, sem distinção das espécies das bactérias. Após a definição dos sorotipos 13 e 18 de E. rhusiopathiae como duas novas espécies (TAKAHASHI et al., 1992), Takeshi et al., (1999) aperfeiçoaram o teste de PCR, tornando-o capaz de identificar cada uma das quatro espécies, sendo utilizado para diagnóstico diretamente em tecidos de suínos doentes. Patogenicidade e resistência a antimicrobianos Os fatores de virulência de E. rhusiopathiae não estão ainda esclareci- v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 45 dos. Sabe-se que as bactérias produzem hemolisina. Os resultados de testes de patogenicidade realizados por Takahashi et al., (1999) revelaram diferenças entre amostras do sorotipo 2. É provável que amostras patogênicas de E. rhusiopathiae nas amígdalas possam representar uma fonte potencial de infecção ao suíno, enquanto amostras avirulentas, como E. tonsillarum seriam apenas residentes nas amígdalas. Foi comprovada a virulência para camundongos, de várias amostras das bactérias de diferentes sorotipos, isolados das amígdalas de suínos assintomáticos (TAKAHASHI et al., 1989), sendo possível acreditar que em condições que propiciassem o desenvolvimento de infecção grande número de sorotipos poderiam ser agentes etiológicos da doença. Wood et al., (1981), através da inoculação de diferentes sorotipos de Erysipelothrix sp em camundongos e suínos, verificaram que o sorotipo 10 provocou septicemia nos animais. Em outro experimento concluiu-se que os sorovares 10 e 23 de E. tonsillarum foram patogênicos para suínos (ENOE & NORRUNG, 1992). Na Argentina Copes et al., (2001) isolaram Erysipelothrix sp de dois suínos com suspeita de septicemia por erisipela, apresentando esplenomegalia, lesões de endocardite e exsudato não purulento em articulações, embora não tivessem apresentado lesões cutâneas; três amostras foram isoladas e corresponderam ao sorotipo 10 de E. tonsillarum. O sorovar 7 de E. tonsillarum é patogênico para cães, provocando endocardite (SCHRAUWEN et al., 1993). Considerando-se que poucas amostras de E. tonsillarum têm sido estudadas, tendo em vista seu recente enquadramento como nova espécie, as observações acima demonstram a necessidade de aprofundamento maior em pesquisas sobre a patogenicidade destas bactérias. Testes de suscetibilidade a antimicrobianos realizados por Takahashi et al. (1989) revelaram que todos os sorotipos isolados foram suscetíveis a penicilina G, ampicilina e eritromicina. Amostras testadas por Yamamoto et al.,(2001) revelaram maior suscetibilidade a ampicilina, cloxacilina, benzil-penicilina, ceftiofur, tilosina, enrofloxacina e danofloxacina. Em casos de erisipela septicêmica aguda foi verificada resistência a oxitetraciclina e dihidroestreptomicina (YAMAMOTO et al., 1999). PESQUISA SENDO REALIZADA: RESULTADOS PARCIAIS Como parte de projeto de Tese de Doutorado, foram trabalhadas até o momento 600 amígdalas de suínos colhidas em tres frigoríficos no Rio Grande do Sul. Cada amígdala foi colhida e embalada em plástico individualmente, sendo processada no Laboratório de Bacteriologia do Hospital Veterinário da ULBRA, como segue: a superfície era flambada e era feito um corte com bisturi estéril, colhendo-se parte do material para a realização de provas moleculares (mantido congelado a –20oC) e o restante passando-se “swab” estéril para cultivo microbiológico. O “swab” era então inoculado em meio de cultura líquido de BHI em 46 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco tubos, adicionado de soro eqüino (5%) e antibióticos (vancomicina, canamicina e gentamicina), sendo incubado a 37 oC por 48 horas em aerobiose. Após este período inoculava-se em Agar-sangue adicionado de soro eqüino e de antibióticos, incubando-se igualmente como para os tubos. Colônias foram examinadas ao microscópio e através da realização de provas bioquímicas (OLIVEIRA, 2000). As amostras de Erysipelothrix spp isoladas foram mantidas em nitrogênio líquido para realização de exames por PCR e testes sorológicos de difusão em gel, com antisoros específicos. Foram isoladas 75 amostras classificadas fenotipicamente como Erysipelothrix spp. Em paralelo, foi realizado o desenvolvimento de teste de PCR específico para Erysipelothrix rhusiopatiae. Seqüências nucleotídicas do gene spaA de Erysipelothrix rhusiopatiae foram obtidas de bancos de dados de genes e alinhadas, iniciadores (primers) foram selecionados e sintetizados, e o teste de “nested” PCR foi formatado e otimizado. A avaliação do teste de “nested” PCR foi realizada pela análise de DNA extraído de cepas de referência de Erysipelothrix rhusiopatiae, Erysipelothrix tonsillarum e outras bactérias (Arcanobacterium pyogenes, Bacillus cereus, Pseudomonas sp, Salmonella sp, Listeria monocytogenes, etc.), com subseqüente visualização dos produtos amplificados após eletroforese em gel de poliacrilamida 12,5% e coloração com prata. O teste demonstrou especificidade para detecção de Erysipelothrix rhusiopatiae (amplificação de fragmento do tamanho esperado de 155 pares de bases), não detectando E. tonsillarum e bactérias de outros gêneros. Testes de PCR foram realizados em 26 isolados e possibilitaram verificar a presença de E. rhusiopatiae em 16 destas. A análise por PCR também foi realizada diretamente de material de 6 amígdalas congeladas à –20oC e todas resultaram negativas (sendo que houve isolamento de Erysipelothrix a partir de duas destas amígdalas). CONCLUSÃO Pela revisão de literatura sobre erisipela suína, verifica-se novos conhecimentos recentemente publicados sobre a classificação das bactérias (TAKAHASHI et al. 1992), bem como provas de diagnóstico molecular bastante específicas (TAKESHI et al. 1999). Estes acontecimentos instigaram à realização de pesquisa em nosso país visando a verificação da ocorrência da espécie E. tonsillarum e rhusiopatiae em suínos, visto que até a presente data as pesquisas realizadas em suínos no Brasil (Castro et al. 1972; Barcellos et al. 1984) foram publicadas antes do conhecimento recente da existência de outra espécie além da E. rhusiopathiae. A ocorrência de sinais clínicos da doença nas granjas no Brasil tem di- v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 47 minuído consideravelmente com o uso de vacina nos suínos. No entanto, os resultados parciais da pesquisa em andamento revelam que as bactérias estão presentes em suínos sadios abatidos em frigorífico, sendo portadores. Por outro lado, a ocorrência de artrites por erisipela, verificadas por Alberton et al. (2001) revela que a doença pode estar causando perdas que possivelmente não são reconhecidas nas granjas, mas sim no frigorífico. Isto deve ser também motivo de pesquisa. No presente trabalho, até o momento pode-se sugerir que há evidência da ocorrência de E. tonsillarum devido principalmente a 2 resultados de análise: (1) positividade na prova da sacarose em seis dos isolados de amígdalas e (2) negatividade nestas pela técnica de PCR específica para E. rhusiopathiae. Provas sorológicas deverão ser realizadas nas próximas etapas do estudo para confirmar estas evidências. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a colaboração da Técnica em Laboratório Jane Mendes Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERTON, G. C.; BANDARRA, E. P.; PEREIRA, M. A. C. et al. Diagnóstico diferencial entre artrite infecciosa e não infecciosa no abatedouro. In: X Congresso Brasileiro de Veterinários Especialistas em Suínos. Porto Alegre. Anais, 2001, p. 77-78. ALBUQUERQUE, J. Notas sobre erisipela suína (Ruiva). Boletim DIPAN, Porto Alegre, v 10, p. 19-22. 1957. BARCELLOS, D. E. S. N.; OLIVEIRA, S. J. DE; BOROWSKI, S. M. Classificação sorológica de amostras de Erysipelothrix rhusiopathiae, isoladas de suínos no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista de Microbiologia, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 45-47, 1984. CASTRO, A. F. P.; TRABULSI, L. R.; CAMPEDELLI Fo.; TROISE, C. Characteristics of strains of Erysipelothrix rhusiopathiae isolated in Brazil. 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Observou-se que entre 22 a 30 dias após a data de cobertura, existe um índice de erro (33,33%) nos diagnósticos incorretos de animais como não prenhes, o que passa a não ocorrer mais após os 36 dias de gestação. As informações relacionadas com os parâmetros de idade gestacional foram semelhantes às encontradas em suínos. Palavras-chave: ultra-som, gestação, javali. Veterinária em foco Canoas v. 2 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco n.1 maio/outubro de 2004 p.51-58 51 ABSTRACT Ultrasound examination (84) in 20 female wild pigs were done in a comercial herd. There were the gestational sac, toracic and cardiac diameters, the lenght of fetuses and the distance from nose to the crown. The possibility of non-pregnant diagnosis as a wrong result does exists (33,33%) under 30 days after mating, no longer happening after 36 days of gestation. Results were similar to those found in swines. Key words: ultrasound, gestation, wild pigs. INTRODUÇÃO A criação de javalis vem crescendo em todo o Brasil nos últimos anos. O número de criadores somente no Rio Grande do Sul está em torno de 150, totalizando uma população de aproximadamente 7 a 8 mil animais. De acordo com este crescimento sentiu-se a necessidade de aprimorar o sistema de criação utilizando tecnologias atuais, dentre elas a ultra-sonografia como um meio de diagnóstico de gestação, um método com larga utilização nos animais domésticos. O diagnóstico precoce da gestação em fêmeas suínas apresenta as seguintes vantagens: diagnóstico precoce de falhas na concepção, possibilidade de venda de marrãs com certificado de garantia de prenhez, previsão de produção, descoberta precoce da infertilidade do macho ou de erros de manejo da cobrição (CAVALCANTI et al., 1989), a possibilidade de encontrar fetos mumificados, endometrites (ALMOND, 1997; MATTEUZZI et al., 1989) e em certas circunstâncias a presença de cisto folicular ovariano (MATTEUZZI et al., 1989). Com este trabalho pretende-se testar a ultra-sonografia como método de diagnóstico gestacional e medir parâmetros fetais para o estabelecimento de idade gestacional em javalis, verificando se consiste em um método confiável de diagnóstico gestacional em javalis, permitindo um acesso visual ao feto por um método não invasivo, analisar o desenvolvimento fetal durante o período gestacional, estabelecer a relação entre o tempo de gestação com os parâmetros fetais e detectar fêmeas vazias tendo como base o diagnóstico precoce. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizadas 20 fêmeas com idade entre 1 e 3 anos, pluríparas, saudáveis, com bom estado nutricional, identificadas com brincos numerados, correspondendo a 20% do plantel de matrizes do Campo Experimental da 52 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Universidade Luterana do Brasil (CEULBRA), localizado no município de Montenegro, Estado do Rio Grande do Sul. As vinte fêmeas utilizadas foram desmamadas dia 1 de setembro de 1999 e cobertas no intervalo de 3 a 15 de setembro. Foram realizados um total de 84 exames ultra-sonográficos, divididos em seis períodos da gestação. A avaliação ultra-sonográfica foi realizada com um aparelho da marca TOSCHIBA, modelo SAL – 20 A, com transdutor linear 2,4 MHz. Para o exame, as fêmeas foram colocadas em um brete em estação e submetidas a um cachimbo de contenção (um pequeno laço colocado em volta do focinho, posteriormente aos caninos, sem envolver a mandíbula). Após a aplicação do gel condutor, o transdutor foi posicionado na parede abdominal lateral direita e a varredura realizada nas regiões hipogástricas, mesogástricas e epigástricas, envolvendo as regiões púbica e umbilical (JACKSON, 1986; SZENCI et al., 1992). O tempo médio gasto para cada exame ultrassonográfico foi contado a partir da contenção até a visualização dos parâmetros avaliados. Durante o exame foram avaliados a presença de estruturas fetais e uterinas tais como: o diâmetro do saco gestacional (SG) onde foi considerado o maior diâmetro do conteúdo líquido uterino, no sentido ventro-dorsal; o diâmetro do feto (diâmetro torácico) medida da maior distância no sentido dorso-ventral nas proximidades do apêndice xifóide fetal; CRL – comprimento cabeça-anca; diâmetro do crânio (distância biparietal - BPD); diâmetro cardíaco (DC) e distância crânio-focinho. Os dados obtidos foram anotados em uma ficha para posterior análise. Os dados foram analisados, e separados em grupos: (a) diagnóstico positivo correto, (b) diagnóstico positivo incorreto, (c) diagnóstico negativo incorreto, (d) diagnóstico negativo correto. A partir disso, a sensibilidade (a/(a+c) x 100), a especificidade (d/(b+d) x 100), valor preditivo para o teste positivo (a/(a+b) x 100) e valor preditivo para o teste negativo (d/ (c+d) x 100) do teste foram avaliados. Estatística similar foi utilizada por Piffer et al.(1997). RESULTADOS Entre os dias 22 e 30 após a cobertura, 14 animais foram corretamente diagnosticados como prenhes, um de três animais (33,3%) foi corretamente diagnosticado como não prenhe. Dois animais foram diagnosticados como não prenhes incorretamente. v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 53 Dos 36 aos 82 dias após cobertura, em 57 exames (100%) foram corretamente diagnosticados como prenhes, e em quatro exames um animal (100%) foi diagnosticado em todas as vezes como não prenhe corretamente. A sensibilidade, especificidade e valores preditivos para os testes são mostrados na Tabela 2. Tabela 2. Diagnóstico de prenhez em javalis com trasndutor linear de 2,4MHz Dias após a cobertura Grupo e avaliação 22 a 30 36 a 43 51 a 57 64 a 68 70 a 82 Diagnóstico de prenhez correto (a) 14 13 17 13 14 Diagnóstico de prenhez incorreto (b) 0 0 0 0 0 Diagnóstico de não prenhe incorreto (c) 2 0 0 0 0 Diagnóstico de não prenhe correto (d) 1 1 1 1 1 Sensibilidade a/(a+c) x 100 87,5 100 100 100 100 Especificidade d/(b+d) x 100 100 100 100 100 100 Valor preditivo para o teste positivo a/(a+b) X 100 100 100 100 100 100 Valor preditivo para o teste negativo d/(c+d) X 100 33,333 100 100 100 100 Entre os 22 a 30 dias após a cobertura, foi observado o saco gestacional com média de 31,6 mm de diâmetro e o corpo fetal com média de 17,7 mm. Dos 36 aos 43 dias de gestação o saco gestacional apresentou média de 34,3 mm; o diâmetro do feto 15,2 mm; CRL 32,7 mm, e o diâmetro da cabeça média de 12,7 mm. Entre os 51 e 57 dias pós cobertura se observa uma média de 36,8 mm para o saco gestacional, 25,3 mm de diâmetro fetal, 65 mm de CRL, 15,83 mm de BPD e 8 mm DC. Na faixa que corresponde aos 64 a 68 dias após a cobertura foi encontrado o diâmetro do feto com 27,9 mm de média, o diâmetro da cabeça com 19 mm, o coração com 11,8 mm, e a distância crânio-focinho com 30 mm de média. Na última avaliação, entre os 70 e 82 dias pós cobertura foi observado uma média de 34,78 mm de diâmetro de feto, 27,85 mm de BPD, 16 mm de DC e 44,5 mm de distância crânio-focinho. Nas duas últimas faixas, entre 64 a 68 dias foi observado movimento fetal acentuado, e na última entre 70 a 82 dias foi identificado o estômago fetal. O tempo médio em cada exame para todos os 84 exames realizados, con- 54 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco siderado inclusive o dispendido na contensão até a observação dos parâmetros foi de 5 minutos. Os valores dos parâmetros medidos e suas médias nas respectivas faixas de idade fetal são apresentados na Tabela 3. Tabela 3. Médias de Parâmetros observados durante o crescimento fetal Parâmetros Diâmetro de saco gestacional (mm) Diâmetro do corpo fetal (mm) Faixas de idade gestacional 22 a 30 36 a 43 51 a 57 64 a 68 70 a 82 12-53 x=31,6 12-24 x=17,7 CRL Distância cabeça-anca (mm) Diâmetro da cabeça (mm) Diãmetro cardíaco (mm) Distância crânio-focinho (mm) 22-57 x=34,3 11-26 x=15,2 27-37 x=32,7 11-15 x=12,7 21-56 x=36,8 21-28 x=25,3 65 x=65 13-15 x=15,8 8 x=8 25-33 x=27,9 25-39 x=34,8 12-23 x=19 10-14 x=11,8 30 x=30 22-33 x=27,8 15-17 x=16 43-46 x=44,5 Com relação ao momento mais adequado para observação do parâmetro que permite sua utilização para o diagnóstico de gestação e estimativa da idade gestacional são apresentados na tabela 4 a frequência de ocorrencia dos parâmetros em cada faixa de idades gestacionais. Observa-se que o saco gestacional é visualizado entre os 22 a 30 dias de gestação, em 76% das fêmeas examinadas, em 46% das fêmeas examinadas entre 36 e 43dias, e 28% na faixa dos 51 aos 57 dias. A partir dos 64 dias este parâmetro não é mais observado. O diâmetro do corpo fetal foi observado em todas as faixas estudadas, apresentando uma frequência de ocorrência de 24% na primeira faixa (22 a 30 dias), e a partir dos 36 dias apresentou uma frequencia de acorrência superior a 85% até os 82 dias de gestação. O comprimento cabeça anca (CRL) pode ser medido dos 36 aos 57 dias de gestação apresentando uma frequencia de ocorrencia de 65% na primeira faixa , e 6% na faixa dos 51 a 57 dias. O diâmetro da cabeça pode ser medido apartir dos 36 dias até os 82 dias de gestação apresentando a partir dos 64 dias frequencia de ocorrência superior a 50%. Foi possível observar e medir o diâmetro cardíaco na faixa dos 51 a 57 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 55 dias em 11% das fêmeas examinadas, aumentou para 36% na faixa dos 64 a 68 dias, e diminuiu para 14% na faixa dos 70 a 82 dias de gestação. A distância crânio-focinho pode ser observada e medida a partir dos 64 dias de gestação até os 82 dias com uma frequência de ocorrência inferior a 14%. Tabela 4. Prevalência dos parâmetros observados dentro de cada período gestacional Parâmetros de idade fetal Idade gestacional N° de fêmeas examinadas Diâmetro de saco gestacional Diâmetro do corpo fetal CRL Distância cabeça-anca Diâmetro da cabeça Diãmetro cardíaco Distância crânio-focinho 22 a 30 17 36 a 43 13 51 a 57 18 13 76% 4 24% 6 46% 11 84% 8 65% 4 31% 5 28% 17 94% 1 56% 6 33% 2 11% 64 a 68 14 70 a 82 15 14 100% 14 93% 7 50% 5 36% 1 7% 7 50% 2 14% 2 14% DISCUSSÃO Pode ser observado no presente estudo com javalis, que entre 22 e 30 dias a sensibilidade do teste ultrasonográfico, foi de 87,5% e a partir dos 36 dias foi de 100%, o que está de acordo com o encontrado em suínos, onde os embriões podem ser vistos a partir de 21 dias e melhor detectados após 25 dias (ALMOND, 1997). Segundo Szenci et al. (1992), podem ser examinadas aproximadamente 50 a 60 fêmeas por hora se estas estão em gaiolas individuais. No presente estudo em javalis por apresentarem um comportamento agressivo, o tempo médio para a contenção, diagnóstico de gestação e medição dos parâmetros fetais foi de 5 minutos por animal (12 animais por hora). A observação do estômago fetal entre os dias 70 e 82 após a cobertura, concorda com os achados de Fralnholz et al. (1989) em que descrevem o estômago aos 76 dias com um transdutor de 3,5MHz. 56 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco CONCLUSÃO Os resultados deste experimento permitem concluir que a ultra-sonografia é eficiente em fêmeas javali como um meio de diagnóstico precoce entre 22 e 30 dias de gestação, mas é mais seguro seu uso após 36 dias. Os parâmetros de idade gestacional apresentam uma variação de freqüência de ocorrência, indicando que em alguns momentos podem ser melhor observados. A identificação e medição de parâmetros, nas respectivas faixas de idade gestacional, pode permitir uma estimativa da idade gestacional em javalis. O tempo de exame foi bastante superior ao observado em suínos, o que pode ser justificado pelo temperamento dos animais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMOND, G. W. Pregnancy diagnosis in swine: principles, applications and accuracy of available techniques. J. Am. Vet. Med. Ass. v.191, n.7, p. 858-870,1997. BALKE, J. M. E. & ELMORE, R. G. Pregnancy diagnosis in swine: a comparison of technique of rectal palpation and ultrasound. Theriogenology. v.17, n.3, p.231-236, 1896 CAVALCANTI, S. S.; GARCIA, S. K.; ANDREANI, K. C. Estudo comparativo entre palpação retal e o ultra-som com métodos de diagnóstico de gestação em porcas. Arq. Bras. Med. Vet. Zoot. v.41, n.2, p.155-162, 1989 FRAUNHOLZ, V. J., KAHN, W. & LEIDL, W. Ein Vergleich zwischen Trächtigkeitsdiagnose beim Schwein. Mh. Vet.-Med. v.44, p.425-430, 1989 JACKSON, G. H. Pregnancy diagnosis in the sow using real-time ultrasonic scanning. Vet. Rec. v.119, p.90-91, 1986 MATTEUZZI, A; CAMPORESI, A; PERAZZETTA, G. 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Gabrielli, Elisabete – Eng. Agr., MSc. Professora do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA RS. Pereira, Rosecler Alves - Med. Vet., MSc. Professora do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo RS. Allgayer, Mara Beatriz de Souza – Enf., Criadouro Asas do Brasil, Novo Hamburgo RS. Data de recebimento: 10/08/04 Data de aprovação: 15/09/04 Endereço para correspondência: Mariangela Allgayer. Av. Miguel Tostes, 101, Prédio 25 ULBRA, Canoas RS - e-mail: [email protected] RESUMO A disponibilidade de rações comerciais nacionais específicas para aves silvestres é muito pequena, quando comparada ao consumo potencial, pois, a partir da normatização da criação e comercialização destas aves, o número de criadores comerciais aumentou significativamente. Uma alimentação correta é de grande importância e a indústria nacional tem disponibilizado alguns produtos destinados a suprir as necessidades nutricionais das mais variadas espécies de aves, entretanto, muitos desses produtos ainda carecem de informações sobre o desempenho animal proporcionado com a sua Veterinária em foco Canoas v. 2 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco n.1 maio/outubro de 2004 p.59-66 59 utilização. Neste trabalho, os filhotes de Ara ararauna foram submetidos, durante os 10 primeiros dias de vida, a três diferentes tipos de rações, sendo uma nacional e duas importadas para a verificação do seu desempenho. Os resultados obtidos evidenciaram uma grande diferença no desempenho dos filhotes, sendo que das rações utilizadas, a nacional mostrou os piores resultados ao final do período. Uma das razões mais comuns para o baixo crescimento de araras é o insuficiente valor nutricional do alimento e avaliando as características nutricionais das rações utilizadas, percebe-se que o nível de Extrato Etéreo (EE) das rações importadas é superior ao da nacional. Este fato justifica os resultados alcançados e converge com informações técnicas obtidas, que recomendam um nível de 15% a 18% de EE para araras nos primeiros 15 dias de vida. Palavras-chave: Ara ararauna, filhotes, crescimento inicial, ração comercial. ABSTRACT The supply of commercial diets to Brazilian wild birds is relatively small when compared to the potential demand, because after the breeding and selling bill, the number of commercial breeders has risen significantly. A correct feeding is very important and the Brazilian industry has offered products to fulfill the nutritional requirements of several species of wild birds. Meanwhile, many of those products give not enough information about animal performance based on their use. In this work, Ara ararauna babies macaws were submitted, during their first 10 days of life, to three differents kinds of food, in order to test their performance. One was produced in Brazil and the other two were imported. The results pointed to a big difference between the performances, specially related to the Brazilian food, that ranked the worst results. One of the most common reasons to the macaw poor growing is the insufficient nutritional value of the food and, analyzing the nutritional characteristics of the commercial diets, itis clear the higher level of fat in the imported food, when compared to the national one. This fact justifies the results reached and agrees with technical information obtained that recommend to use levels of 15-18% of fat to the macaws in their first 15 days of life. Key words: Ara ararauna, babies macaws, initial growing, commercial diet. INTRODUÇÃO A criação manual de aves estava em prática quando Cristóvão Colombo chegou no Novo Mundo, em 1492, e era também conhecida no Pacífico, 60 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco no ano de 1519, quando Fernão Magalhães embarcou para a Espanha para circunavegar o globo. Estas citações demonstram que a criação manual não é uma descoberta da avicultura moderna, pois tem sido praticada há muitos séculos. Segundo Moraton (2001), a avicultura moderna tem meramente refinado a Arte tornando-a uma Ciência. No Brasil, atualmente, há uma tendência ao crescimento do número de criadores capacitados a desenvolver a criação manual de filhotes de psitacídeos. Não obstante, um dos fatores limitantes para a adequada criação manual de psitacídeos no País é a disponibilidade comercial de rações nacionais específicas para estas aves, sendo que, normalmente, é necessário importar as dietas utilizadas para os filhotes (CUBAS et al., 2003). A indústria nacional tem disponibilizado alguns produtos destinados a suprir as necessidades nutricionais das mais variadas espécies de aves. Entretanto, muitos desses produtos, por serem novos no mercado, carecem de informações sobre o desempenho animal proporcionado com a sua utilização. Este trabalho teve como objetivo avaliar o consumo diário de alimento e o ganho de peso de filhotes de Ara ararauna durante a fase de crescimento inicial, comparando-se três rações comerciais distintas, sendo duas importadas e uma de origem nacional. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Os Psittaciformes estão distribuídos por toda a zona tropical, podendo atingir até regiões mais frias como a Patagônia (FORSHAW, 1978). O Brasil é o país que possui o maior número de representantes desta família, possuindo 70 espécies de animais (FORSHAW, 1978; SICK, 1997). Os psitacídeos formam uma das ordens mais características da classe, com plumagem bastante colorida, porém sem dimorfismo sexual, de tamanhos variáveis e inteligentes (SICK, 1997). Os psitacídeos são bastante populares como animais de estimação e representam, atualmente, uma das famílias de aves mais ameaçadas em todo o mundo (DESENNE e STRAHL, 1994), em função do tráfico ilegal e da destruição dos habitats. Segundo Bianchi (1998), a exuberante coloração de sua plumagem e a fácil adaptação ao cativeiro faz com que o valor comercial de representantes desta ordem torne-se alto, incentivando a captura e a comercialização em todo o globo. No Brasil, não há registros sobre a quantidade destas aves que estão domiciliadas e acredita-se que, apesar de ser proibida a criação de animais da fauna brasileira sem permissão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), grande número de v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 61 papagaios, periquitos, jandaias e maritacas sejam criados e mantidos como aves de estimação. Segundo Beissinger e Snyder (1992), entre 1988 e 1992, mais de 1,8 milhões de psitacídeos entraram ilegalmente no comércio internacional. Na natureza os psitacídeos têm sido encontrados consumindo uma grande variedade de alimentos, incluindo frutas, bagas, flores, brotos de plantas, legumes insetos, larvas e sementes, podendo alguns consumir partes de mais de 80 espécies vegetais (ULLREY et al., 1991). Segundo Carciofi (1996), devido à falta de conhecimento das necessidades nutricionais destes animais, têm-se recorrido às informações disponíveis na avicultura comercial para elaboração de suas dietas. No entanto, como a avicultura comercial compreende os anseriformes e os galináceos, que são muito diferentes dos psitacídeos, esta metodologia é falha para ser usada com segurança. Rupley (1999), confirma que não se conhecem as necessidades nutricionais exatas dos filhotes de psitacídeos, mas, que se têm utilizado testes de campo para determinar as dietas nas quais as aves desenvolvem-se bem, através da sua longevidade e da perpetuação do sucesso reprodutivo. Filhotes de psitacídeos podem ser criados manualmente, desde que se disponibilize condições ideais, pois as instalações e a nutrição afetam profundamente sua saúde. Os psitacídeos criados manualmente não têm medo do homem e são ideais como animais de estimação, pois são dóceis e freqüentemente falam antes do desmame, sendo facilmente absorvidos pelo mercado legal de aves. Atualmente, a criação manual de psitacídeos com dietas formuladas comercialmente é uma prática comum em países com avicultura ornamental desenvolvida. Existem no comércio produtos a base de mistura de grãos, adicionados de suplementos vitamínicos-minerais, que são recomendados pelos fabricantes como dietas completas e balanceadas, mas ainda há certa controvérsia sobre sua eficiência, em função da diferente seletividade das aves, que consomem determinados itens e rejeitam total ou parcialmente outros (CARCIOFI, 1996). Uma alimentação correta é o fator mais importante em todos os estágios fisiológicos dos psitacídeos, com fundamental importância nas fases de crescimento e reprodução (SAAD et al. 2002). Segundo Cubas et al. (2003), no Brasil, as dietas balanceadas para filhotes de psitacídeos são normalmente importadas e de difícil obtenção. A disponibilidade de rações comerciais nacionais específicas para aves ornamentais é muito pequena quando comparada ao consumo potencial, pois a partir de 1997, com a publicação das Portarias 117 e 118 do IBAMA, que normatizam a criação e comercialização de animais silvestres, o número de criadores comerciais destas espécies aumentou significativamente, fazendo com que, muitas vezes, sejam utilizadas rações para animais domésticos, como rações para cães e para aves em postura. 62 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco A criação manual dos filhotes tem sido parte da razão de sucesso em projetos de conservação de algumas espécies, pois a ave criada artificialmente pode ser reintroduzida no ambiente natural. Algumas espécies, como Nestor meridionalis na Nova Zelândia, o papagaio Amazona barbadensis nas Ilhas Margarita, Venezuela e a arara macau Ara macao no Peru (SANZ e GRAJAL; HOLLAND e COLLEM, e BRIGHTMITH apud MORATON, 2001) foram integradas ao ambiente natural e reproduziram-se com sucesso. Parâmetros físicos e de desenvolvimento podem ser observados para determinar se as aves estão crescendo a uma taxa considerada razoável, pois quando as aves recebem dietas balanceadas em quantidades adequadas usam-na de forma eficiente para o ganho de peso, entretanto, aquelas que recebem dietas deficientes apresentam baixa taxa de crescimento e, segundo Roudybush, apud Altman et al. (1997), é alta a quantidade de alimento necessária para cada unidade de ganho de peso. Rupley (1999) afirma que a avaliação do peso corporal em filhotes pode refletir um problema bem antes que outros sinais clínicos sejam evidentes. MATERIAIS E MÉTODOS O presente trabalho foi executado em um criadouro comercial particular, denominado Criadouro Asas do Brasil, localizado no município de Novo Hamburgo, RS, onde foram avaliadas araras canindé (Ara ararauna - Psittacidae) quanto ao seu desempenho inicial. Segundo o manejo adotado no criadouro, foram utilizados nove filhotes de Ara ararauna incubados artificialmente e criados manualmente desde o primeiro dia de idade. Durante o trabalho, os filhotes foram pesados ao nascer e diariamente (FIGURA 1) antes da primeira refeição matinal, verificando se o inglúvio (papo) estava completamente vazio. Foram utilizadas duas rações importadas, denominadas de A e B, e uma ração nacional disponível no comércio. Estas rações eram diluídas em água, aquecidas a 38 -42°C uniformemente em banho-maria e oferecida aos filhotes por meio de seringas individuais (FIGURA 2). A ração utilizada, a diluição, o consumo diário e a freqüência da alimentação foram registrados nas fichas individuais permitindo a avaliação dos resultados. v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 63 Figura 1 – Filhote de Ara ararauna sendo pesado antes da primeira alimentação. Figura 2 – Alimentação do filhote de Ara ararauna com auxílio de seringa descartável. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos no presente trabalho evidenciaram uma grande diferença no desempenho dos filhotes de Ara ararauna, que apresentaram peso médio inicial de 20,56g (s=1,33g) e, ao final do período de 10 dias, pesavam 55,43g (s=8,52g). Das rações utilizadas, a nacional mostrou os piores resultados ao final do período (peso médio 44,0 g) em relação às rações importadas (59,7g e 60,5g), como pode ser verificado na Figura 3. Uma das razões mais comuns para o baixo crescimento de araras é o insuficiente valor nutricional do alimento. 64 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Peso médio (g) 70,0 Ração Nacional Importada 1 Importada 2 35,0 0,0 1 3 5 7 Dias 9 Figura 3 - Desempenho comparativo das três rações comerciais utilizadas em filhotes de Ara ararauna nos 10 primeiros dias de vida. As fórmulas caseiras de alimentação para estes animais variam grandemente quanto à sua composição nutricional e aos ingredientes utilizados. As formulações comerciais variam de 16 a 20% de proteína, 3 a 15% de gordura e 2 a 10% de fibra na sua composição, portanto a escolha de qual formulação utilizar deve ser bastante criteriosa (ABRAMSON et al., 1995). Ao avaliar as características nutricionais das rações utilizadas, percebe-se que o nível de Extrato Etéreo (EE) das rações importadas é superior (em torno de 12% de EE) ao da nacional, que apresenta em torno de 10% de EE. Segundo Abramson et al. (1995), as araras na vida selvagem alimentam-se com dietas ricas em carboidratos e gorduras, mas com baixos teores de proteína e, o autor afirma que uma das razões mais comuns para os animais perderem peso é o insuficiente valor nutricional do alimento, com inadequados níveis de nutrientes específicos, como carboidratos, gordura, etc. A falta de ganho de peso ou uma perda de peso indicam, inclusive, a necessidade de um exame físico completo e de testes diagnósticos, conforme necessário, para determinar a etiologia do problema (RUPLEY, 1999). O fato das rações importadas permitirem um maior peso dos filhotes aos 10 dias de vida, quando comparadas à ração nacional, é justificado pela bibliografia e converge com informações técnicas obtidas, que recomendam um nível de 15% a 18% de EE para araras nos primeiros 15 dias de vida. CONSIDERAÇÕES FINAIS O sucesso da criação comercial de psitacídeos está vinculado ao uso da criação manual do filhote, pois, possibilita a produção de um maior número de filhotes por casal e a obtenção de aves dóceis e fáceis de serem adaptadas ao convívio doméstico. A criação manual de psitacídeos com dietas formuladas comercialmente é uma prática comum em países com avicultura ornamental desenvolvida e está evoluindo rapidamente no Brasil. A produção de rações comerciais nacionais adequadas às necessidades nutricionais dos filhotes das diferentes espécies aviárias apresenta uma v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 65 grande possibilidade de viabilizar técnica e economicamente a criação manual em ampla escala de aves ornamentais no País. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMSON, J., SPER, B.L., THOMSEN, J.B.T. The large macaws. California: Raintree Publications, 1995. ALTMAN, R. B., CLUBB, S. L., DORRESTEIN, G. M., QUESENBERRY, K. Avian medicine and surgery. 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Data de recebimento: 10/08/04 Data de aprovação: 29/09/04 Endereço para correspondência: [email protected] RESUMO O presente trabalho tem por objetivo descrever o procedimento cirúrgico para a exérese de um odontoma temporal em um eqüino. Este paciente foi atendido no Hospital Veterinário com histórico de um ponto de drenagem na região ventral à pina esquerda. Já haviam sido realizados diferentes tratamentos clínicos tópicos e sistêmicos, os quais não apresentaram resultados positivos. Após avaliação clínica e radiográfica o paciente foi encaminhado ao setor cirúrgico com o diagnóstico de cisto dentígero temporal. Palavras-chave: cisto dentígero, odontoma temporal, polidontia heterotópica. Veterinária em foco Canoas v. 2 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco n.1 maio/outubro de 2004 p.67-71 67 ABSTRACT The purpose of the present study is to describe the surgical removal of a dentigerous cyst from a horse. This patient came to the Veterinary Hospital of Lutheran University of Brazil (ULBRA) with a history of a ventral draining point on the left side. It had been treated previously with topic and systemic medication without positive results. The patient was sent to surgery after clinical and radiographic examination when it was diagnosed dentigerous cyst. Key words: dentigerous cysts, temporal odontoma, heterotopic polydontia. INTRODUÇÃO A retenção de células epiteliais dentro do alvéolo dentário, associada a não erupção de um dente após a formação de sua raíz, pode resultar na formação de um cisto dentígero localizado distante dos alvéolos, sendo o sítio mais comum para sua ocorrência a região temporal (KNOTTENBELT,1999). Embora os cistos dentígeros sejam discutidos amplamente na literatura veterinária, alguns autores descrevem como sendo entidades encontradas perto da região temporal em eqüinos jovens (LOBPRISE & WIGGS, 1992). Para Pence & Wilewski (2002) os cistos ósseos são raros em eqüinos, porém de maior prevalência em animais jovens ou adultos jovens do que em animais velhos. Segundo Pence & Wilewski (2002) estas estruturas são compostas por diferentes quantidades de tecido dentário dentro de uma estrutura cística, a qual possui uma linha epitelial secretora, que produz uma secreção mucóide e que drena através de um trato fistuloso. Gibs (1999) afirma que as radiografias contribuem para uma localização correta da lesão bem como para uma melhor avaliação pré-operatória do tamanho e das estruturas que envolvem a lesão. Para Knottenbelt & Pascoe (1994) as radiografias podem evidenciar a presença de uma estrutura dentária aberrante a qual pode estar firmemente articulada ao crânio ou envolvida em uma estrutura cística e em outros casos pode aparecer contornada por tecido ósseo formando um aparente alvéolo. Verstreate (1999) recomenda a remoção de odontomas cirurgicamente através de excisão intra-capsular. Para Thomassian (1996) o tratamento definitivo está baseado na extração cirúrgica do tecido dentário com o paciente sob anestesia geral, e deve ser realizada para evitar o desenvolvimento de sérias infecções as quais já foram observadas em alguns casos (PENCE & WILEWSKI, 2002). Segundo Eisenmenger & Zetner (1982) a técnica consiste na introdução 68 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco de uma sonda na fístula, e realiza-se uma incisão ao redor do trato fistuloso até o osso temporal. A extração das estruturas envolvidas é feita seguida de curetagem do local seguida de sutura dos planos anatômicos. A retirada total da bolsa cística é de extrema importância para que não ocorram complicações pós-operatórias. RELATO DO CASO Um eqüino, macho, 3 anos de idade foi atendido no Hospital Veterinário da ULBRA com histórico de uma fístula drenante na base da orelha esquerda (Figura 1). O diagnóstico de odontoma foi firmado através da anamnese, sinais clínicos e de raio-x da face, no qual a estrutura dentária foi visualizada na região temporal esquerda. Após avaliação clínica o paciente foi encaminhado ao centro cirúrgico para a realização da remoção do odontoma. Figura 1 - Aspecto do equino apresentando secreção mucosa drenada através do trajeto fistuloso do odontoma. O paciente foi mantido sob anestesia geral inalatória, em decúbito lateral direito, para realização do procedimento cirúrgico. Efetuada a antissepsia foi introduzido estilete no canal fistuloso até atingir o odontoma localizado no osso temporal, após foi realizada incisão elíptica envolvendo o óstio do sínus, seguida de divulsão romba do trato drenante chegando até o odontoma (Figura 2). Neste momento foi realizada a remoção dos tecidos alterados com o auxílio de osteótomo e goiva de Stille-Luer para fragmentos aderidos ao osso temporal (Figura 3). O fechamento da ferida cirúrgica ocorreu através do uso de fio sintético inabsorvível em padrão de sutura isolado simples, no subcutâneo e na pele. O pós-operatório constou do uso de penicilina procaína 40.000 UI/kg/ SID por 7 dias e de flunexim meglumine 1,1mg/kg/SID por 5 dias. A recuperação do paciente ocorreu sem complicações pós-cirúrgicas. v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 69 Figura 2 - Exposição do odontoma no osso temporal. Figura 3 - Aspecto do local após a remoção do odontoma. CONCLUSÃO Os odontomas são patologias características do desenvolvimento embrionário e tem o aparecimento dos sinais clínicos ainda durante o crescimento dos animais. O tratamento cirúrgico com a remoçâo de toda a bolsa cística é considerado soberano quando comparado com as terapias conservadoras que se baseiam no uso de antibióticos e antiinflamatórios ocorrendo melhora ou desaparecimento dos sinais clínicos durante a terapia . REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS EISENMENGER, E.; ZETNER, K. Odontología Veterinaria. Manuel Company Editores: Barcelona. p. 65. 1982. GIBBS, C. Dental Imaging. In: Equine Dentistry. W. B. Saunders: London. p. 139 – 169. 1999. 70 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco KNOTTENBELT, D. C. Oral and Dental Tumors. In: Equine Dentistry. London. WB Saundey, 1999, p. 85-103. KNOTTENBELT, D. C.; PASCOE, R. R. Color Atlas of Disease and Disordes of the Horse. Barcelona: Mosby-Year Book Europe Limited, 1994. LOBPRISE, H. B.; WIGGS, R. B. Dentigerous Cyst in a Dog. Journal of Veterinary Dentistry. v. 9, n. 1, p. 13-15. 1992. PENCE, P.; WILEWSKI, K. Newborn, Weanling, and Adolescent Horse Dentistry. In: Equine Dentristry: A Pratical Guide. Baltimore: Lippincot Williams & Wilkins, 2002, p. 115-139. THOMASSIAN, A. Enfermidades dos Cavalos. São Paulo: Livraria Varela, 1996. 568 p. VERSTREATE F. J. M. Self-Assessment Colour Review of Veterinary Dentistry. London: Manson Publishing, 1999, 200 p. v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 71 72 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Manejo Reprodutivo do Puerpério na Égua Reproductive Management of First Postpartum Cycle in the Mare Malschitzky, Eduardo – Médico Veterinário – Mestre VeterináriasProfessor da Universidade Luterana do Brasil; Doutorando – REPROLAB –UFRGS Mattos, Rodrigo C. – Médico Veterinário – Pós-Doutor – Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS Data de recebimento: 17/08/04 Data de Aprovação: 28/09/04 Endereço para correspondência: Eduardo Malschitzky. Rua Gávea, n° 539, Ipanema, Porto Alegre / RS, 91761-040 – e-mail: [email protected] RESUMO A égua apresenta um cio ovulatório e fértil poucos dias após o parto. Este cio, conhecido como cio do potro, inicia sete a oito dias após o parto e a ovulação ocorre entre 10 e 13 dias.. A fertilidade do cio do potro é considerada inferior a de cios subseqüentes por vários autores. Trabalhos mais recentes, no entanto, têm demonstrado taxas de prenhez similares entre o cio do potro e os demais ciclos. Taxas maiores de morte embrionária também são relatadas em éguas cobertas no cio do potro. O objetivo deste trabalho é revisar diferentes práticas de manejo para melhorar a taxa de fertilidade do cio do potro e reforçar a validade da utilização deste ciclo. Palavras-chave: Égua, Cio do Potro, Fertilidade, Manejo Reprodutivo, Endometrite Persistente Pós-cobertura, Inseminação Artificial. ABSTRACT The mare shows an ovulatory, fertile estral cycle few days after parturition. This cycle, known as foal heat, begins 7 to 8 days after parturition and Veterinária em foco Canoas v. 2 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco n.1 maio/outubro de 2004 p.73-88 73 ovulation takes place between days 10 and 13. The fertility rate during this cycle is considered inferior to those occurring in subsequent cycles. Higher embryonic death rates have been reported in mares bred during the foal heat. Different management techniques to improve postpartum fertility in the mare were reviewed. Key words: Mare, Foal Heat, Fertility, Reproductive Management, Artificial Insemination, Persistent Post-breeding Endometritis. INTRODUÇÃO A égua apresenta como particularidade a ocorrência de um cio fértil poucos dias após o parto. Este primeiro cio é internacionalmente conhecido como cio do potro e, para efeitos de literatura, é o cio que inicia até o 18o dia após o parto. A gestação da égua é longa, com uma duração média de 335-342 dias, com grandes variações. Portanto, para se atingir a meta de um potro por ano, a égua deve conceber novamente num período de 25 a 30 dias após o parto. Além disso, o mercado atual, especialmente no cavalo de corrida (PSC), valoriza mais potros nascidos no início da temporada reprodutiva oficial (1o de julho até 31 de dezembro, no Hemisfério Sul) - meses de inverno e início da primavera, que não correspondem à estação reprodutiva fisiológica da espécie eqüina. Muita controvérsia existe quanto à fertilidade do cio do potro e mesmo quanto a validade de sua utilização em rebanhos comerciais, sendo considerado que a fertilidade do cio do potro é de 10 a 30 % menor do que a de cios subseqüentes. Enquanto éguas com potro ao pé representam aproximadamente 50-55% do plantel de reprodutoras de um haras, somente 3,1% das pesquisas em ginecologia eqüina são destinadas a esta categoria. A dificuldade para a pesquisa está basicamente relacionada à falta de rebanhos comerciais disponíveis para a realização de experimentos e ao impedimento à realização de certos procedimentos, em função da presença do potro (GINTHER, 1992). Várias técnicas de manejo e diferentes tratamentos são testados e /ou utilizados para melhorar a fertilidade do primeiro cio pós-parto e, em trabalhos recentes, os resultados são mais favoráveis. PUERPÉRIO O puerpério é o período que vai desde o parto até o retorno do útero à sua capacidade de iniciar e manter uma nova gestação (GINTHER, 1992). 74 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Durante este período, ocorre a involução uterina e o retorno dos ovários de uma situação de quase inatividade à ciclicidade. As alterações endócrinas que ocorrem no final da gestação preparam o útero para as fortes contrações que provocam a expulsão do feto e auxiliam a liberação da placenta e a involução uterina (MCKINNON et al., 1988). Com a queda dos níveis de progesterona pouco antes do parto e o aumento gradativo do estrógeno nos dias seguintes ao parto, há um favorecimento da involução uterina. Histologicamente, o útero está com aparência pré-gravídica aos 14 dias pós-parto e esta regeneração é a base para que a égua seja capaz de conceber no cio do potro (ROCHA et al., 1996). O período entre o parto e a primeira ovulação pode também ser chamado intervalo pós-parto (GINTHER, 1992). Involução uterina. O aumento de estrógenos circulantes devido ao crescimento folicular que se inicia a partir do 5º dia estimula uma leucocitose e a fagocitose por neutrófilos e macrófagos na luz e nos tecidos uterinos (VANDEPLASHE et al., 1983). Em termos gerais, o útero encontra-se completamente involuído (cornos uterinos simétricos) 23 dias (MCKINNON et al., 1988) após o parto não complicado (MERKT & GÜNZEL, 1979). Ao exame ultra-sonográfico, observa-se um aumento da quantidade de líquido na luz uterina entre o 2º e 5º dia pós-parto, ocorrendo redução no volume e melhora na qualidade até o 9º dia e desaparecimento após o 15º dia. Histologicamente, o útero apresenta aparência pré-gravídica a partir do 14º dia após o parto. A involução uterina é favorecida pela queda nos níveis de progesterona, que ocorre antes do parto, e pelo aumento dos níveis de estrógeno, nos dias seguintes ao parto, e que leva, também, à estimulação dos mecanismos de defesa do endométrio (GINTHER, 1992). Avaliação Clínica da Involução Uterina Uma vez que a involução uterina incompleta é considerada como causa dos menores índices de fertilidade observados no cio do potro, a decisão quanto à validade de se utilizar este cio deve ser baseada na avaliação clínica individual do grau de involução. Através do exame ginecológico, busca-se parâmetros de valor prognóstico quanto à fertilidade, que facilitem a decisão. Palpação retal: Durante os primeiros dias após o parto, o útero apresenta uma enorme redução em seu tamanho. Doze horas após, o corno gestante apresenta-se apenas 1½ vezes o tamanho do corno não gestante. No 7° v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 75 dia pós-parto, o volume uterino é apenas de 2 a 3 vezes àquele do útero pré-gravídico. O diâmetro uterino foi avaliado em 152 éguas PSC, visando relacionar esta medida com a fertilidade (MATTOS et al., 1995). Uma baixa relação entre a taxa de prenhez e o diâmetro uterino foi observada (p<0.07). No entanto, quando considerado o diâmetro uterino em relação à idade, observou-se que éguas jovens (<10 anos), com diâmetro uterino superior a 90 mm apresentaram uma taxa de prenhez significativamente menor do que éguas da mesma faixa etária, porém com diâmetro uterino < 90mm. Esta diferença não foi observada entre éguas mais velhas (> 10 anos). Um retardo na involução uterina em éguas primíparas foi também observado por RICKETTS (1987), com um número considerável destas ficando vazias ao final da temporada de monta em que pariram seu primeiro produto, apesar da pouca idade. Ultra-sonografia: Além de complementar e facilitar o controle folicular, o exame ultra-sonográfico permite a identificação de quantidades pequenas de fluído uterino, o que não é possível apenas por palpação retal. Através da ultra-sonografia, pode-se evidenciar um aumento da quantidade de fluido intra-uterino nos dois dias que sucedem ao parto, com uma redução na quantidade e melhora na qualidade (redução da viscosidade e da turbidez) a partir do 5º dia, havendo uma significativa diminuição no 7º dia. Pouco fluído é visualizado no 9º dia e nenhum líquido é detectado na luz uterina a partir do 15º dia pós- parto (MCKINNON et al., 1988; GINTHER, 1992). A presença de fluído intra-uterino (FIU) parece influenciar negativamente a prenhez do cio do potro (MCKINNON et al., 1988). Em experimento realizado com 214 éguas PSC (MALSCHITZKY et al., 2002), no entanto, não foram observadas diferenças nas taxas daquelas que apresentaram FIU durante o cio do potro (5° dia pós-parto até a cobertura) e das que não apresentaram FIU. Por outro lado, foi observado que uma maior proporção de éguas que apresentou líquido durante o cio, apresentou FIU também após a cobertura, conforme pode-se observar na Tabela 1. Além disso, a presença de FIU durante o cio do potro aumenta o risco de morte embrionária. Éguas que apresentaram fluído tiveram uma taxa de morte embrionária significativamente maior (30,5%) do que éguas que não tinham FIU durante o cio do potro (11,1%) (MALSCHITZKY et al., 2003) . Tabela 1: Ocorrência de FIU após a cobertura em éguas com e sem FIU durante o cio do potro FIU pré-cobertura Éguas FIU pós-cobertura (36-48h) (n) n % Presença 57 20 35.1 a Ausência 73 11 15.1 b Letras diferentes (a, b) na coluna, indicam diferença significativa (p<0,01; 2= 7.06) 76 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco A presença de líquido intra-uterino 36-48 horas após a cobertura, por sua vez, resultou em taxas de prenhez aos 12 dias significativamente menores do que a de éguas sem FIU neste momento, mesmo com a realização de tratamentos para a retirada do líquido. Exame Bacteriológico: O parto é sempre um momento de contaminação uterina. Os principais agentes encontrados no útero durante a involução uterina são Escherichia coli e Streptococcus zooepidemiccus (ROCHA et al., 1996). Geralmente, a quantidade de bactérias é reduzida entre os dias 2 e 9 pós-parto. A proporção de E.coli tende a ser maior no início do puerpério, diminuindo gradativamente antes do cio. A quantidade de S. zooepidemiccus em geral aumenta com o passar dos dias, atingindo o pico de crescimento por volta do 5o dia. Estas proporções são muito influenciadas pelo fechamento vulvar (PASCOE, 1993). Amostras coletadas de 22 éguas, no dia da cobertura, resultaram em culturas positivas em 81% das amostras, sem haver influência negativa no resultado de prenhez aos 18 e 42 dias. Este resultado reforça a idéia de que trata-se somente de contaminação uterina, não caracterizando, necessariamente, uma infecção (ROCHA et al., 1996). A rápida involução uterina provavelmente seja a responsável pelo não estabelecimento de uma infecção puerperal. Exame Citológico: Durante o período pós-parto, predominam neutrófilos e macrófagos em “swabs” uterinos. Foi demonstrado que a presença de células inflamatórias em amostras coletadas no dia da cobertura influencia negativamente a prenhez (taxas de prenhez aos 18 dias de 3,3% e 64%, respectivamente para éguas positivas e negativas)(MATTOS et al., 1984). Na cobertura no cio do potro, no entanto, este efeito parece não ocorrer. Em 45 éguas PSC coletadas no dia da 1a cobertura, foram obtidas amostras positivas em 52%, sem que houvesse influência sobre a taxa de prenhez (ROCHA et al., 1996) O método de coleta talvez possa influenciar este resultado. Quando o exame citológico foi realizado com amostras coletadas por lavagem uterina de pequeno volume, o número de neutrófilos foi significativamente maior em éguas cobertas no cio do potro das quais não se coletou embriões, porém o número de amostras foi pequeno para confirmar este achado (REILAS, 2002). Biópsia Endometrial: Éguas que falharam em emprenhar no cio do potro apresentaram uma quantidade significativamente maior de neutrófilos no exame histopatológico do endométrio, coletado no 5o dia pós-parto, em comparação com éguas que emprenharam neste cio. Porém, o custo e o tempo necessário para a realização do exame, dificultam sua utilização como método auxiliar para a decisão quanto à cobertura (REILAS, 2002). Exame Bioquímico do FIU: A presença de mediadores inflamatórios (Lisozima e Plasmina), em amostras uterinas coletadas através de lavagem com pequeno volume, resultou em um número menor de embriões do que aquele de éguas cujas amostras não apresentavam tais enzimas. Apev.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 77 sar dos resultados, o pequeno número de animais utilizados impossibilitou a conclusão quanto a validade destes indicadores como meios para prognóstico de fertilidade do cio do potro. Porém a correlação da presença das enzimas com a quantidade de neutrófilos reforça a idéia de que uma inflamação endometrial persistente seja responsável pelos baixos índices de prenhez muitas vezes observados durante o cio do potro (REILAS, 2002). Mais estudos devem ser realizados para avaliar a possibilidade do uso rotineiro destes testes no manejo reprodutivo da égua FERTILIDADE DO CIO DO POTRO A validade de se utilizar a cobertura no cio do potro tem gerado controvérsia, com vários autores tendo demonstrado uma fertilidade entre 11 e 30 % menor neste cio do que em cios subseqüentes (GINTHER, 1993; MERKT & GÜNZEL, 1979). Outros autores, porém, não encontraram diferenças significativas nas taxas de prenhez de éguas cobertas no primeiro e nos demais cios pós-parto (MALSCHITZKY et al., 2002; ROCHA et al., 1996). Uma maior taxa de morte embrionária nas éguas cobertas no cio do potro, comparadas àquelas cobertas nos cios seguintes, também tem sido relatada (MERKT & GÜNZEL, 1979; BELL & BRISTOLL, 1987). As razões para esta menor taxa de prenhez e maior incidência de morte embrionária não estão completamente elucidadas, porém é provável que se devam a uma involução uterina mais lenta ou menos efetiva e a uma menor eficiência dos mecanismos de defesa uterina contra a contaminação bacteriana (ROCHA et al., 1996). Resultados mais recentes, no entanto, não observam esta diferença. As divergências entre os resultados são atribuídas a diferenças entre protocolos ou entre o manejo. A fertilidade do cio do potro é muito influenciada pelo manejo. Influência do manejo na fertilidade Conformação Perineal: A importância da vulva como mecanismo de defesa contra infecções uterinas na égua foi ressaltada pela primeira vez por Caslick (1937), quem descreveu também os bons resultados sobre a fertilidade com a realização da sutura dos lábios vulvares.. A conformação perineal sofre grande influência da idade, tendo-se demonstrado que éguas com boa conformação podem necessitar de sutura após alguns anos e um certo número de parições (PASCOE, 1979). O autor demonstrou também a influência da condição corporal sobre o fechamento vulvar. Éguas em má condição corporal têm maior probabilidade de apresentar pneumovagina devido à redução do tecido adiposo na região vulvar e na musculatura (PASCOE, 1979). 78 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Estudando a conformação perineal de 9020 éguas, Pascoe (1979) chegou a um índice (denominado Índice Caslick), no qual relacionou o ângulo de inclinação da vulva com o comprimento da fenda vulvar entre o nível do assoalho da pelve e a comissura dorsal da vulva. O índice permite selecionar éguas que devem ser submetidas à sutura dos lábios vulvares a fim de melhorar seu desempenho reprodutivo. Ficou demonstrado também o efeito da conformação perineal sobre a taxa de prenhez, sendo que as éguas classificadas como candidatas à vulvoplastia apresentaram um índice de prenhez significativamente menor do que aquelas que não necessitariam cirurgia, ou daquelas que já haviam sido suturadas anteriormente. A realização da sutura dos lábios vulvares até o nível do assoalho da pelve em éguas com grande angulação e abertura vulvar eleva a taxa de prenhez dessas éguas a níveis semelhantes àqueles obtidos com éguas cuja conformação não requer a correção cirúrgica. A realização da sutura dos lábios vulvares em até 48 horas após o parto melhorou significativamente a taxa de prenhez (66%) em éguas cobertas no cio do potro, quando comparados os resultados aos obtidos com éguas suturadas somente após a cobertura no cio do potro (34 %) (PASCOE, 1993). Condição Corporal: A importância da condição corporal no desempenho reprodutivo das éguas foi consistentemente demonstrada primeiramente por Henneke et al. (1984), que compararam a eficiência reprodutiva de éguas mantidas em diferentes classificações de condição corporal. Os autores concluíram que a condição corporal, embora não influencie o peso e altura do potro do nascimento aos noventa dias de vida, interfere no intervalo entre o parto e a ovulação, tanto no cio do potro como no segundo cio pós-parto. Éguas que pioram a condição corporal nos últimos três meses de gestação apresentam um retardo na 1ª e na 2ª ovulação pós-parto e, embora não tenha havido diferença significativa na taxa de prenhez do cio do potro, apresentaram menores índices de prenhez no 2º e 3º ciclos pós-parto. Um suprimento adequado de energia, após o parto, buscando melhorar as reservas de gordura, pode exercer uma influência positiva na eficiência reprodutiva nas éguas que parem em baixa condição corporal, porém a manutenção em má condição resultou também numa alta taxa de mortalidade embrionária entre os 60 e 90 dias de prenhez. Os resultados indicam que a reserva de gordura é utilizada pela égua para o início da lactação e para suprir possíveis deficiências nos primeiros trinta dias de gestação. Éguas que parem em baixa condição corporal apresentam uma menor regularidade dos ciclos após o parto. Essas éguas não respondem ao aumento do fotoperíodo natural e apresentam diferença entre os níveis de hormônio luteinizante (LH), com maiores níveis no segundo cio pós-parto em relação ao cio do potro Isto seria comparável ao que ocorre nas éguas vazias, que apresentam níveis menores de LH no início da temporada de monta (HINES et al., 1987). Estes autores concluíram que os efeitos da má condição corporal sobre a eficiência reprodutiva pode ser causado por uma alteração da função do eixo hipotalâmico-hipofisário e seu controle sobre os hormônios reprodutivos. v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 79 Fotoperíodo Artificial: Garantir que haja atividade ovariana cíclica após o parto, especialmente em éguas que parem no início da temporada oficial de nascimentos, é fundamental para a eficiência reprodutiva (GINTHER, 1992). A incidência de anestro pós-parto é influenciada pelo fotoperíodo e pela condição corporal. Em éguas com condição corporal semelhante, o fotoperíodo é considerado o principal responsável pela ocorrência de anestro pós-parto e por irregularidades dos ciclos após o parto. A utilização de um fotoperíodo artificial (9 horas escuro) em éguas gestantes, com parição prevista para os primeiros meses da temporada de monta oficial, apresentou resultados positivos no desempenho reprodutivo pós-parto (MALSCHITZKY et al., 2001). Éguas submetidas a 60 dias de fotoperíodo artificial pré-parto não tiveram ocorrência de anestro pós-parto, enquanto éguas submetidas a menos de 30 dias de fotoperíodo artificial apresentaram 16,7% de ocorrência de anestro. O intervalo o parto-ovulação foi menor (12,3 dias) nas éguas mantidas por mais de 45 dias sob fotoperíodo artificial, em comparação àquelas que permaneceram menos de 30 dias sob o tratamento (17,1 dias). A utilização do fotoperíodo artificial não influenciou a duração da gestação, a taxa de prenhez, ou a taxa de morte embrionária no cio do potro. Em boas condições de alimentação a utilização de um fotoperíodo artificial de 15 horas de luz / 9 horas de escuro, iniciado pelo menos 45 dias antes da data prevista para a parição, pode reduzir o intervalo parto-ovulação e evitar a ocorrência de anestro pós-parto, garantindo a regularidade dos ciclos sem alterar a taxa de prenhez e sem prejudicar o desenvolvimento do potro, uma vez que não altera a duração da gestação. Além disso, éguas que apresentam o cio mais cedo têm uma involução uterina mais rápida. Detecção do cio: A detecção do cio é fundamental para a obtenção de altos índices de fertilidade na égua. O comportamento da égua durante o cio do potro apresenta grande variabilidade. A ansiedade gerada pelo afastamento temporário do potro, para a prática da rufiação, faz com que boa parte das éguas não demonstre sinais externos de cio. Da mesma forma, a dor causada pela reparação do períneo faz com que muitas éguas não apresentem as contrações do clitóris características da égua em cio (MATTOS, 1989). Em locais aonde a rufiação é imprescindível para o manejo reprodutivo, deve-se estar atento a estas variações, permitindo um maior tempo de contato entre o macho e cada égua, alterando o local do procedimento e se necessário, utilizando recursos como o cachimbo de contenção. A ultra-sonografia, além de permitir melhor acompanhamento da involução uterina, permite detectar com segurança a fase do ciclo estral da égua, sem realização de rufiação (GINTHER, 1993). No entanto, em ecografias realizadas em éguas no cio do potro, comumente se observam desde o início do estro, folículos de diâmetro superior a 35 mm, flutuação aumentada e forma ovóide, muito semelhantes a folículos préovulatórios, que perduram vários dias até a ovulação, levando a coberturas desnecessárias. 80 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco MANEJOS E TRATAMENTOS ESPECÍFICOS PARA O CIO DO POTRO Não utilização do cio: A não utilização do cio do potro, visando permitir uma melhor involução uterina é uma prática utilizada como rotina m muitos haras. O retorno ao cio pode ser induzido com a utilização de prostaglandinas, aplicadas 6 a 7 dias após a 1ª ovulação pós-parto ou, caso não seja realizado o controle reprodutivo durante o cio, 20 a 22 dias após o parto, de maneira “cega”. No entanto, tanto em éguas que apresentaram líquido no cio do potro, como naquelas que não apresentaram líquido, não foi observada diferença significativa na taxa de prenhez aos 12 dias ou aos 42 dias das éguas cobertas somente no 2º cio em comparação a das éguas cobertas no cio do potro. Este método, portanto além de não trazer vantagem real, apresenta ainda a desvantagem de aumentar o intervalo entre o parto e a cobertura em pelo menos 15 dias em relação a utilização do 1º cio, aumentando os custos (MALSCHITZKY et al., 2002). Retardo da 1ª ovulação pós-parto: A utilização de progestágenos, sozinho ou em combinações com estradiol, visando retardar a 1ª ovulação é um tratamento bastante conhecido, porém apresenta resultados conflitantes. Primeiramente, não foi observada diferença significativa nas taxas de prenhez de éguas que ovularam antes do 12º dia pós-parto em relação àquelas que ovularam após o 12º dia (ROCHA et al., 1996). Além disso, a utilização de progesterona demonstrou retardar a limpeza física do útero, além de inibir os efeitos positivos da estimulação estrogênica sobre o processo de limpeza uterina em éguas não lactantes (EVANS et al., 1986). Em éguas com potro ao pé, não foram observadas alterações histológicas significativas no endométrio com a utilização de progesterona, evidenciando seu pouco incremento para a involução uterina. Melhores resultados parecem ocorrer com a utilização de combinações com estrógeno, mas o efeito deste hormônio não foi testado isoladamente em éguas no cio do potro, tornando discutível a validade da técnica de retardar a 1ª ovulação (ROCHA et al., 1996). Melhora da involução uterina: A involução uterina incompleta é uma das causas do baixo desempenho reprodutivo no cio do potro, em relação aos cios subseqüentes. A utilização cloprostenol, um análogo sintético da prostaglandia e de metil-ergonovina, um agente ecbólico que produz contrações uterinas mais potentes e mais duradouras do que a ocitocina, nos primeiros 5 dias pós-parto, não melhoraram a taxa de prenhez em comparação a de éguas não tratadas (MATTOS et al., 1995). No entanto, o efeito negativo da idade sobre a fertilidade observado nas éguas do grupo controle não foi observado nas éguas tratadas. Em éguas que apresentaram líquido no cio do potro, a administração de metilergonovina do 5º ao 10º dia pós-parto, não resultou em melhora na taxa de prenhez em relação àquela das éguas não tratadas (SCHILELA v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 81 et al., 2001). Da mesma forma, a realização de lavagens uterinas no 2º e 4º dias pós-parto não reduziu o grau de inflamação do endométrio, nem melhorou a taxa de prenhez, além de ser um procedimento capaz prejudicar o fechamento vulvar de éguas que tenham sido suturadas imediatamente após o parto. Estes resultados permitem considerar que tratamentos para remoção do líquido intra-uterino realizado antes da cobertura não são capazes de melhorar a fertilidade do cio do potro (MCUE & HUGHES, 1990). Prevenção da endometrite persistente pós cobertura Durante o cio do potro, o aumento do volume uterino, seu posicionamento na cavidade abdominal (visceroptose), sua menor contratilidade, a presença de bactérias e células inflamatórias e a presença de fluído se assemelham muito às causas descritas para a falha dos mecanismos de defesa uterina observada em éguas susceptíveis à endometrite persistente póscobertura (TROEDSSON, 1997). Especialmente para éguas que apresentam líquido na luz uterina entre o 5° dia pós-parto e a cobertura, nas quais uma maior predisposição ao acúmulo de FIU também após a cobertura (tabela 1), o cio do potro pode ser considerado como um período de susceptibilidade, ainda que temporária, à endometrite persistente pós-cobertura. As recomendações de manejo para éguas susceptíveis é basicamente as seguintes: - Redução do número de saltos/ciclo; - Aumento dos cuidados com a higiene durante a cobertura; - Utilização de Inseminação Artificial (IA), quando permitida; - Realização de tratamentos pós-cobertura. Os resultados obtidos com a utilização de algumas destas práticas em éguas cobertas no cio do potro serão discutidas a seguir. Inseminação Artificial: Em raças nas quais está autorizada a utilização da inseminação artificial, este método pode ser utilizado para melhorar os índices de fertilidade do cio do potro. Em éguas árabe, observou-se taxas de prenhez superiores em éguas inseminadas com sêmen fresco no cio do potro (79,2%) em comparação ao resultado obtido com a monta natural (54,5%) (MATTOS et al., 1996). Além disso, demonstrou-se que, enquanto em éguas lactantes cobertas por monta natural a utilização de infusões de plasma homólogo enriquecido com leucócitos pós-cobertura melhorou significativamente a taxa de prenhez em relação as éguas controle, não se observou diferença entre os dois grupos, quando da utilização da inseminação artificial (MEIRELLES, 1999). 82 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Embora o endométrio responda de maneira semelhante à presença do espermatozóide em ambos os métodos de cobertura (KOTILAINEN et al., 1994), a diluição do sêmen leva a uma redução da concentração bacteriana, reduzindo, assim, a contaminação bacteriana, melhorando a fertilidade de éguas mais sensíveis à infecção uterina (MATTOS, 1996). Tratamentos pós-cobertura: Após a monta natural ou a inseminação artificial, os espermatozóides atingem o oviduto dentro de poucos minutos. A junção útero-tubárica é protegida por um esfíncter que previne a entrada de fluidos colocados no útero por gravidade. O embrião somente dá entrada ao útero a partir do 5º dia após a ovulação e durante este período o corpo lúteo é refratário à prostaglandina liberada pelo endométrio. Essas características permitem a realização de tratamentos intra-uterinos desde uma hora após a cobertura até o terceiro ou quarto dia após a ovulação (ASBURY, 1987). Ocitócitos: O uso de agentes que promovam a limpeza física 6-12 horas após a cobertura é uma alternativa proposta para reduzir a incidência de endometrite. A administração de metil-ergonovina entre 6-12 horas após a cobertura no cio do potro não resultou em melhora na taxa de prenhez das éguas tratadas em relação a das éguas não tratadas. O uso de ocitócitos induz a liberação de PGF2a pelo endométrio. Éguas susceptíveis à endometrite apresentam deficiências nesse mecanismo (NIKOLAKOPOULUS et al., 2000). Uma exposição prévia do endométrio à progesterona parece ser necessária para a secreção local de prostaglandina. É possível que o intervalo entre o parto e a ovulação, um período em que o nível de progesterona se mantém baixo, seja suficientemente longo para reduzir a sensibilidade do útero à drogas utero-tônicas (SCHILELA et al., 2001). Associada ao maior volume e ao posicionamento do útero, esta menor sensibilidade pode ser a responsável pela eficácia reduzida da limpeza uterina realizada apenas com agentes injetáveis, durante o cio do potro (SCHILELA et al., 2001). Lavagens Uterinas: uma série de no mínimo 3 lavagens uterinas cada, com 2l de solução de ringer com lactato, realizada 6-12 horas após a cobertura, em éguas que apresentaram líquido durante o cio do potro, resultou numa taxa de prenhez aos 42 dias superior nas éguas tratadas (76,5%) em comparação a taxa observada em éguas não tratadas (49,2%) (MALSCHITZKY et al., 2002). Por outro lado, quando as lavagens foram realizadas 36-48 horas após a cobertura, após a detecção do FIU, a taxa de prenhez das éguas tratadas foi significativamente inferior àquelas das éguas que não apresentaram líquido neste momento. Pode-se considerar, com base nestes resultados, que tratamentos que promovam a limpeza física do útero devem ser realizados entre 6-12 horas após a cobertura. Segundo Wittebrink et al. (1997), algumas bactérias possuem mecanismos que lhes permitem sobreviver à fagoci- v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 83 tose. Estes autores realizaram estudos com Streptococcus zooepidemicus, o principal agente da endometritre na égua, e demonstraram que essa bactéria é capaz de formar estruturas organizadas, chamadas biofilmes, utilizando como substrato, provavelmente, as secreções uterinas. Bactérias organizadas desta forma são mais resistentes à fagocitose e mesmo à ação de antibióticos e de alguns anti-sépticos. Em Streptococcus zooepidemiccus, foi demonstrada a presença de uma proteína de superfície, semelhante à chamada proteína-M, cuja característica é a alta variabilidade antigênica, o que dificulta a fagocitose, uma vez que requer a presença de anticorpos específicos para mediar a ação das células fagocíticas (CAUSEY et al., 1995). A realização da lavagem uterina num curto espaço de tempo após a cobertura promoveria a limpeza da luz uterina antes que estes mecanismos pudessem atuar; portanto, antes do estabelecimento de uma infecção uterina. Tratamentos que visem promover a limpeza física do útero devem sempre ser realizados em relação à cobertura e não em relação à ovulação (TROEDSSON, 1997b). Infusões Uterinas: A utilização de infusões intra-uterinas de antibióticos pós-cobertura podem ser mais eficientes em éguas susceptíveis do que quando realizadas antes da cobertura (LEBLANC et al., 1989). Tratamentos realizados após a cobertura têm apresentado resultados diversos. Pascoe (1995), estudando 905 éguas, observou que a infusão de plasma homólogo associada à uma combinação de Penicilina Procaína e Neomicina, 12 a 36 horas após a cobertura, pode melhorar significativamente o índice de prenhez por ciclo de éguas com potro ao pé. Este tratamento foi superior, em termos de prenhez, quando comparado com a infusão do antibiótico somente e à não realização de qualquer tratamento. O autor concluiu que este resultado pode ser devido à adição de fatores de opsonização, que aumentariam a eficiência da fagocitose por neutrófilos uterinos. O antibiótico infundido eliminaria bactérias remanescentes ao processo de fagocitose e o aumento de volume gerado pela infusão diluiria as secreções uterinas contendo toxinas. Em éguas lactantes cobertas por monta natural a utilização de infusões de plasma homólogo enriquecido com leucócitos pós-cobertura melhorou significativamente a taxa de prenhez em relação as éguas controle (MEIRELLES, 1999). Em outro experimento, no entanto, infusões de plasma homólogo enriquecido com leucócitos embora tenha apresentado uma melhor taxa de prenhez do cio do potro, não resultaram em diferença significativa entre as taxas de prenhez de éguas tratadas e não tratadas, enquanto melhoraram significativamente a taxa de prenhez em éguas vazias do ano anterior (MALSCHITZKY, 1998). 84 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco CONCLUSÃO Em boas condições de manejo, a cobertura no cio do potro deve ser estimulada, uma vez que permite um menor intervalo entre partos, além de produzir o nascimento de potros mais precocemente na temporada de monta, com maior valor de mercado. Técnicas como o fotoperíodo artificial nos meses finais de gestação, o controle folicular e a avaliação do útero antes da cobertura permitem, além da redução do número de coberturas a que a égua é submetida, selecionar aquelas que devem ser tratadas poucas horas após a cobertura. Quando permitida, a inseminação artificial pode também auxiliar na melhora da fertilidade do cio do potro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASBURY, A.C. Failure of uterine defense mechanisms. In: ROBINSON, N.E. Current Therapy in Equine Medicine 2. Philadelphia: W.B. Saunders, 1987, p.492-494 ASBURY, A.C., LYLE, S.K.: Infectious Causes of Infertility. In: MCKINNON, A.O. AND J.L. VOSS, Equine Reproduction. Philadelphia: Lea & Febiger, 1993. p.381-391 BELL, R.J.; BRISTOL, F. Fertility and Pregnancy Loss after Delay of Foal Oetrus with progesterone and Oestradiol - 17b. Journal of Reproduction and Fertility (Suppl. 35), p.667-668, 1987. CASLICK, E.A. The vulva and the vulvo-vaginal orifice and its relation to genital health of the Thoroughbred mare. Cornell Vet. v.27, p.178-187, 1937 CAUSEY, R.C.; PACCAMONTI, D.L.; TODD, W.J. Antiphagocytic properties of uterine isolates of Streptococcus zooepidemicus and mechanisms of killing in freshly obtained blood of horses. Am. J. Vet. 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Queirolo, Maria Teresa Costa – Médica Veterinária, Esp. , Professora do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA/Canoas. Bittencourt, Hélio Radke - Bacharel em Estatística, MSc., Professor do Curso de Matemática da ULBRA/Canoas. Endereço para correspondência: Av. Miguel Tostes, 101, Prédio 25, Canoas/RS CEP: 92420-280. E-mail: [email protected] RESUMO Um dos maiores entraves aos programas de controle do carrapato Boophilus microplus é a baixa eficácia apresentada pelos tratamentos adotados. Vários fatores contribuem para esta situação, tais como problemas de manejo, sub-dose e resistência aos produtos utilizados. A presente pesquisa buscou relacionar o grau de eficácia dos produtos carrapaticidas amidínicos (Amitraz), com o pH da calda-do-banheiro, evidenciando ser esta uma importante variável a ser considerada. Palavras-chave: Boophilus microplus, carrapaticidas, eficácia. Veterinária em foco Canoas v. 2 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco n.1 maio/outubro de 2004 p.89-94 89 ABSTRACT One of the most important factors in Boophilus microplus cattle tick control program is the low efficacy showed by applied treatment. Many conditions act to bring about a result, such as how to handle the cattle, low acaricide concentration, and resistance situations. This research examined carrefully amidinics acaricides products efficacy with dip vat samples pH, emphasizing this result an important variable to be considered. Key words: Boophilus microplus, acaricides, efficacy. INTRODUÇÃO Desde o início do século, quando o Boophilus microplus, principal carrapato dos bovinos passou a ser encarado como um sério problema na criação de gado, os carrapaticidas assumiram um papel importante no controle desta ectoparasitose. Entretanto, com o passar dos anos, os carrapatos evidenciaram uma notável capacidade de adaptação aos mesmos, dando origem aos primeiros casos de resistência frente aos produtos utilizados no seu controle. Freqüentemente nos deparamos com situações nas quais a aplicação dos banhos carrapaticidas não vem apresentando a eficácia desejada. Existem muitos fatores responsáveis por esta situação tais como: a baixa concentração de princípio na calda do banheiro, problemas de manejo por ocasião da aplicação dos banhos, e no caso dos produtos formamidínicos (Amitraz), o pH da calda carrapaticida. O objetivo do trabalho foi verificar a eficácia de caldas carrapaticidas que utilizam Amitraz, em diferentes propriedades no Rio Grande do Sul. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizadas para realização do trabalho amostras de teleóginas e caldas carrapaticidas de 43 propriedades do Estado do Rio Grande do Sul. Para preservação das condições biológicas, as teleóginas foram acondicionadas num recipiente arejado e mantidas, sob refrigeração, até o momento da realização do testes. A eficácia, tanto das caldas carrapaticidas utilizadas nas propriedades, como do Amitraz, na diluição recomendada pelo fabricante, frente às teleóginas coletadas, foram avaliadas através de testes laboratoriais de Biocarrapaticidograma (DRUMOND, 1973). Para determinação do pH, as amostras de caldas foram homogeinizadas e então realizada a aferição com auxílio de um aparelho medidor de pH. Uma possível correlação, entre os valores de pH e as eficiências das caldas testadas, foi verificada e avaliada estatisticamente, por meio de gráfico de dispersão e pelo coeficiente de correlação de Sperman. 90 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente verificou-se que em 38 (88,37%) das 43 amostras testadas, o carrapaticida formamidínico, quando utilizado na concentração recomendada pelo fabricante, apresentou uma eficácia igual ou superior a 98 % de redução, considerando-se inibição de postura fértil dos ovos, e nas amostras restantes, 5 (11,63%), valores abaixo de 98% de eficácia, caracterizando resistência ao princípio ativo utilizado. Resultados semelhantes aos encontrados no trabalho foram descritos por Oliveira (2002) num estudo, em 25 rebanhos leiteiros na região de São Carlos/SP. Para o autor, a atividade anti-ixodídica em Boophilus microplus, com teste de imersão das fêmeas ingurgitadas, apresentou para diferentes produtos a base de formamidinas, resultados variando de 93,2 % a 98,2 %. Posteriormente, nas 38 amostras sensíveis ao princípio ativo, foram avaliadas as eficácias das caldas carrapaticidas utilizadas nas propriedades, em relação às amostras de teleóginas enviadas. Somente 10 (26,3 %) apresentaram uma eficácia igual ou superior a 98%, enquanto que 28 (73,7%) foram ineficazes para o controle dos carrapatos, caracterizando problemas relacionados com as caldas carrapaticidas. A Tabela 1 apresenta a Estatística Descritiva para Eficiência (%) do Amitraz na calda. Tabela 1 – Estatística Descritiva para Eficiência (%) do Amitraz na calda n Eficiência (%) 38 Mínimo Máximo 0,0 100,0 Média Desviopadrão 62,45 37,13 Intervalo de Confiança 95% Limite Limite Inferior Superior 50,24 74,65 Somente em 10 casos o percentual de eficiência excedeu 98%. A proporção de eficiência na calda, portanto, foi de 26,3%. Construindo um Intervalo de Confiança 95% para eficiência do Amitraz na calda chegamos a 12,3% a 40,3%. Ceresér et al. (2003) em seu trabalho sobre a identificação de estirpes resistentes do Boophilus microplus frente aos carrapaticidas usualmente empregados no seu controle, no Estado do Rio Grande do Sul, verificaram num total de 207 amostras de calda-de-banheiro, 50% de ineficácia, 29% com falhas devido à baixa concentração de produto e 21% com sinais de resistência ao princípio ativo, sendo que destes 8% referentes ao Amitraz. Finalmente, foi verificado que, os valores de pH das caldas carrapaticidas enviadas, variaram de pH 6,79 (valor mínimo) até pH 12,83 (valor máximo). A Tabela 2, apresenta a Estatística Descritiva para o pH da calda. A correlação entre os valores de pH e a eficiência da calda carrapaticida foi verificada por meio de gráfico de dispersão e do coeficiente de correlação de Spearman. A correlação foi significativa ao nível de 1% (rho=0,493; p<0,01), indicando que, até certo ponto, quanto maior o valor de pH, maior tende ser a eficiência do carrapaticida. v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 91 Tabela 2 – Estatística Descritiva para o pH da calda n pH calda 38 Mínimo Máximo 6,79 12,83 Média 9,87 Desviopadrão 2,21 Intervalo de Confiança 95% Limite Limite Inferior Superior 9,14 10,60 A Tabela 3 apresenta a distribuição por faixas de pH das caldas-debanheiro recebidas para realização do biocarrapatidograma. Uma análise por faixas de pH (Figura 1) demonstrou que caldas com pH na faixa de 11,0 até 11,9 foram as mais eficientes, com média de 94,1% de eficácia, enquanto que caldas com pH na faixa de 12,0 até 13,0, apresentaram uma eficácia média de 78,3%. Foi utilizada a prova nãoparamétrica de Kruskal-Wallis para comparação da eficiência do produto por faixas de pH. Os resultados foram significativos ao nível de 5%, indicando que deva existir relação entre pH e a eficiência. O teste foi complementado pela prova de Mann-Whitney. Ambos os testes encontram-se descritos em Callegari-Jacques (2004). Para Camargo (2004) existem diferentes fatores que interferem na eficácia do banheiro carrapaticida, alertando para a correta utilização e manutenção destes banheiros, na tentativa de evitar problemas de resistência dos carrapatos aos carrapaticidas. Tabela 3 – Faixas de pH 92 Calda Ph Freqüência % 6.0 - 6.9 1 2,6 7.0 - 7.9 11 28,9 8.0 - 8.9 4 10,5 9.0 - 9.9 5 13,2 10.0 - 10.9 1 2,6 11.0 - 11.9 6 15,8 12.0 - 13.0 10 26,3 Total 38 100,0 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 100,0% 94,1% 90,0% 82,0% 78,3% 80,0% Eficiência (%) 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 33,3% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% De 6,0 até 8,9 De 9,0 até 10,9 De 11,0 até 11,9 De 12,0 até 13,0 Faixas de pH Figura 1 – Eficiências médias por faixa de pH CONCLUSÃO Os resultados encontrados indicam que foram detectados problemas na calda carrapaticida utilizada, embora o amitraz, quando utilizado na diluição recomendada pelo fabricante, tenha se mostrado eficaz. A análise do pH permite concluir que o amitraz tem uma boa eficácia, desde que respeitados os valores de pH na faixa de 11,0 até 11,9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMARGO, M. A. R. Manejo do banheiro de imersão no controle de carrapatos. A Hora Veterinária nº 137, p.59-62, Jan/Fev 2004. CALLEGARI-JACQUES, S. M. 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Ciências Agrárias nº 38, p.57-66, Jul/Dez 2002. 94 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Desempenho e Características de Carcaça de Novilhos Superprecoces Inteiros e Castrados Submetidos ao Confinamento Performance and Dressing Percentage of Beef Cattle Bulls or Steers finished on Feedlot Gottschall, Carlos S. – Médico Veterinário, MSc. Professor do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA - RS. Martins, Franco M. - Eng. Agrícola. MSc. Professor do Curso de Medicina Veterinária e Engenharia Agrícola da ULBRA - RS. Ries, Leandro R. – Médico Veterinário, Empresa PLANEJAR/RS. Kroeff, Jorge R.; Silveira, Helena S.; Soares, Jean C. R.; Moraes, Marco A. Oaigen, Ricardo P. – Alunos do Curso de Graduação Med. Veterinária ULBRA/RS. Data de recebimento: 14/07/04 Data de aprovação: 21/09 Endereço para correspondência: Carlos Gottschall. E-mail: [email protected] Av. Miguel Tostes, 101, Canoas, RS. CEP: 92420-280 RESUMO O experimento teve por objetivo comparar o desempenho de bovinos de corte machos inteiros e castrados confinados. Foram utilizados 149 animais, sendo 117 bois e 32 touros, com idades entre 12 e 14 meses, distribuídos aleatoriamente em quatro mangueiras. Os animais foram confinados entre o período de setembro a dezembro de 2000, submetidos a uma dieta composta por silagem de milho e ração concentrada calculada conforme recomendação do NRC (1996). Os dados foram tabulados em planilha do MSExcel e analisados pelo sistema GIVENS de análise estatística. Os parâmetros avaliados foram o Peso Final (PF); Ganho Médio Diá- Veterinária em foco Canoas v. 2 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco n.1 maio/outubro de 2004 p.95-102 95 rio (GMD); Peso de Carcaça (PC) e Rendimento de Carcaça (RC). Os resultados obtidos tiveram como peso final 388,1kg para animais castrados e 417,0kg para animais inteiros (P<0,01). O ganho médio diário foi de 0,95kg/dia e 1,16 kg/dia (P<0,01) para animais castrados e inteiros, respectivamente. O peso de carcaça foi 202,3kg para os animais castrados e 220,8kg para animais inteiros (P<0,01). O rendimento de carcaça foi de 52,05% para animais castrados e 53,1% para animais inteiros (P<0,01). A partir desses resultados podemos concluir que os animais inteiros foram mais pesados ao final do experimento, apresentando um GMD superior (21,87%), o que associado a um maior rendimento de carcaça, resultou em carcaças pesando 18,5kg (9,1%) a mais no momento do abate. Palavras-chave: novilhos inteiros, castrados, ganho médio diário, rendimento de carcaça. ABSTRACT The objective of this experiment was to compare the feedlot performance of beef cattle bulls and steers. It was used 117 steers and 32 bulls, twelve to fourteen months old. The animals were randomly distributed into four groups. They were kept in feedlot between september to december of 2000, and fed with a diet composed by corn silage and grain calculated according NRC (1996). The analysis results was done in MSExcel spread sheet and the statistics analysis was done with GIVENS system, producing values of initial weight (IW); final weight (FW); average daily gain (ADG); carcass weight (CW) and dressing percentage (DP). The final weight was 388.1kg for steers and 417.0 kg for bulls (P<0.01). The average daily gain was 0.95kg/day and 1.16kg/day for steers and bulls respectively. The carcass weight of steers and bulls were 202.3kg and 220.8kg respectively (P<0.01). The dressing percentage was 52.05% and 53.10% for steers and bulls respectively. Thus it is concluded that the FW, the ADG (21.87%), and the DP of bulls were higher than steers, resulting in carcass 18.5kg (9.1%) heavier at the slaughter. Key words: bulls, steers, average daily gain, dressing percentage. INTRODUÇÃO A bovinocultura de corte no Brasil e Rio Grande do Sul, historicamente caracteriza-se por sistemas tradicionais de produção, sem a adoção de novas tecnologias, apresentando índices de baixa produtividade. Na busca de maior eficiência e competitividade no setor, faz-se necessário a revisão de alguns conceitos da atividade tradicional. Dentro deste 96 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco contexto, uma alternativa que deve ser mais divulgada e estudada é a utilização de machos inteiros para a produção de carne, devido a praticidade de adoção sem custo adicional. Na rotina da pecuária de corte, a castração é uma prática utilizada para facilitar o manejo dos animais, além de produzir carcaças de melhor qualidade com melhor aceitação no mercado. Os bovinos castrados produzem carcaças de melhor aparência e carne mais macia que os inteiros (RESTLE et al., 1996a). A utilização de animais não-castrados para produção de carne torna-se interessante sob todos aspectos, pois animais inteiros apresentam maior ganho de peso e eficiência alimentar, além de apresentarem carcaças com melhor conformação e maior proporção de músculo quando comparados a animais castrados (RESTLE, 1997; GOTTSCHALL, 1999) e segundo Di Marco (1993) o abate de animais inteiros jovens (menos de 22 meses) produz uma carcaça plenamente aceitável pelo consumidor. O fato dos animais terem de ser abatidos com 22 meses de idade parece ser uma dificuldade para implantação da técnica, porém Gottschall (2001) demonstra que através do planejamento nutricional com o uso de suplementação, pastagens e confinamento é inteiramente viável a redução da idade de abate dos machos para dois anos ou menos de idade. Além de resultar em maior desenvolvimento e produção de carne, animais inteiros são mais eficientes na conversão alimentar (RESTLE et al.; 1997). A testosterona promove melhor anabolismo do nitrogênio endógeno atuando com maior eficiência na fase em que os animais têm maior incremento de peso proporcionado pelo melhor nível de alimentação (FIELD, 1971; RESTLE et al., 1994a; RESTLE et al., 2000). No entanto, em nosso meio, o principal aspecto negativo das carcaças de machos inteiros é a deficiência de gordura de cobertura, o que leva a um maior escurecimento da parte externa dos músculos da carcaça durante o resfriamento, prejudicando seu aspecto, e consequentemente deprecia seu valor comercial (RESTLE et al, 1994a). O presente trabalho objetivou analisar características de carcaça e variações de peso de bovinos de corte inteiros e castrados superprecoces terminados em regime de confinamento. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido de 15/09/00 a 28/12/00 em propriedade particular localizada no município de Carazinho-RS. Foram comparados bovinos de corte superprecoces de raça cruzada com base Angus, sendo 32 machos inteiros e 117 castrados, com objetivo de analisar o peso final, v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 97 peso de carcaça, ganho médio diário e características de carcaça. Os animais foram submetidos ao confinamento e alimentados com dieta a base de volumoso, silagem de milho, e por concentrado com resíduo de soja, aveia, milho em grão moído e calcário calcítico, balanceada segundo NRC (1996). Os novilhos foram confinados com idade variando entre 12 e 14 meses. Os animais eram arraçoados 2 vezes ao dia, sendo o alimento distribuído através de um vagão forrageiro. Os piquetes apresentavam suprimento contínuo de água, através de bebedouros abastecidos através de bóias. As vendas foram escalonadas uma vez que os animais apresentaram diferente desenvolvimento e com isso diferente tempo de permanência em confinamento. Em média os animais ficaram confinados por 83,45 dias. As pesagens foram realizadas quando da entrada e saída dos animais do confinamento, e em intervalos de 30 dias durante o confinamento, para um melhor controle e ajuste de alimentação calculada conforme recomendações do NRC (1996). No frigorífico foram fornecidos os dados de: conformação, acabamento, peso de carcaça, classificação final e condenas. A análise dos dados de variação contínua foi feita pelo sistema GIVENS de análise estatística para dados desbalanceados e modelos fixos (FRIES, 1987). O delineamento experimental foi o completamente casualizado. As variáveis (peso final, ganho médio diário, rendimento de carcaça e peso de carcaça) foram submetidas a análise de variância (FRIES, 1987). O peso inicial foi utilizado no modelo matemático como covariável, sendo retirado do modelo quando não apresentou significância, como na análise para ganho médio diário e rendimento de carcaça. O modelo estatístico utilizado foi o seguinte: Yij = + Ti + Pij + eij Yij = observação j do animal que recebeu o tratamento i; = media geral Ti = efeito do tratamento i Pij = efeito do peso inicial no tratamento i referente a observação j; eij = erro aleatório associado a cada observação RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados relativos aos parâmetros de peso final, ganho médio diário, peso de carcaça e rendimento de carcaça, de animais inteiros e castrados, res- 98 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco pectivamente estão presentes na Tabela 1. Os efeitos da castração dos animais influenciaram negativamente os parâmetros analisados. Tabela 1 – Peso final, ganho médio diário, peso de carcaça e rendimento de carcaça de novilhos superprecoces inteiros e castrados. CASTRADOS INTEIROS Peso final (kg) 388,06 A 417,04 B Ganho médio diário (kg) 0,951 A 1,159 B Peso de carcaça (kg) 202,26 A 220,79 B Rendimento de carcaça (%) 52,05 A 53,10 B A,B, Médias na mesma linha, seguidas por letras diferentes, diferem significativamente entre si pelo teste-F (P<0,01). Os animais inteiros apresentaram um ganho médio diário superior aos castrados, respectivamente de 1,159kg/dia e 0,951kg/dia (p<0,01). Esta diferença de GMD foi de 0,208kg/dia ou seja 21,9%. Resultados semelhantes foram observados por ARTHAUD et al. (1977) citado por Restle et al. (2000), que abateram animais aos 15 meses de idade e encontraram um GMD de 0,960kg/dia e 0,750kg/dia, respectivamente para animais inteiros e castrados, sendo a diferença neste caso de 0,210kg/dia ou 28%. Da mesma forma Restle & Alves Filho (1992), citados por Restle et al. (1997), verificaram na recria de bezerros da raça Charolesa um GMD de 1,24kg/dia e 1,04kg/dia para animais inteiros e castrados, respectivamente, sendo a diferença de 0,200kg/dia ou 19,2%. Restle et al. (1997), em experimento com bezerros Hereford confinados desde o desmame até o abate aos 14 meses obtiveram um GMD de 1,23kg/dia contra 1,090kg/dia para animais inteiros e castrados, respectivamente, sendo a diferença de 0,140kg ou 12,8%. Restle (2000) cita um GMD de animais inteiros e castrados Braford e animais inteiros e castrados 3/4 Charolês 1/4 Nelore em confinamento dos 8 aos 14 meses de 1,286kg/dia contra 1,025kg/dia e 1,271kg/ dia contra 1,017kg/dia. Estes dados apresentados concordam com as observações de Field (1971) que comparando quatorze trabalhos achou um GMD médio favorável aos animais inteiros de 0,200kg/dia (1,16kg/dia contra 0,960kg/dia) ou 17%. Restle et al. (1996b) ainda observou que animais inteiros, em condição de pastagem, também apresentam ganho médio diário superior em comparação com castrados (0,581kg/dia contra 0,539kg/dia) sendo a diferença de 0,042kg/dia ou 7,78%. Embora os trabalhos apresentados demonstrem unanimidade em relação a superioridade dos animais inteiros para GMD, há uma variação na magnitude da resposta. Segundo Field (1970) uma das razões para as variações de GMD de animais inteiros e castrados nos diferentes trabalhos citados deve-se ao fato dos efeitos do detrimento da castração expressarem-se mais intensamente em altos planos de nutrição. v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 99 No presente trabalho os animais inteiros apresentaram rendimento de carcaça superior aos castrados, os resultados obtidos foram de 53,1% e 52,05%, respectivamente (p<0,01) (Tabela 1). A superioridade em relação ao rendimento de carcaça para animais inteiros é citada por Restle (2000) que comparando bezerros da raça Braford, inteiros e castrados, terminados em regime de confinamento dos 8 aos 14 meses de idade apresentaram uma diferença de 1,5 ponto percentual favorável aos inteiros (56,5% contra 55,0%), sendo a diferença de 12,3kg. Maiores rendimentos de carcaça para animais inteiros também foram obtidos por Champagne et al. (1969), citado por Restle et al. (1996b). Entretanto, Restle et al. (1994a), obteve 52,8% de rendimento de carcaça para animais inteiros e 52,1% para castrados, concluindo não haver diferença significativa entre os dois tratamentos. Field (1971) que comparando treze trabalhos achou uma média de 59,7% para animais inteiros e 59,6 para animais castrados, concluindo que a diferença no rendimento de carcaça é pequena. peso vivo(kg) O peso final dos animais inteiros foi 29 kg superior aos animais castrados (Tabela 1). Nesta análise a covariável peso inicial foi altamente significativa (p<0,01), sendo que cada kg a mais no peso inicial, representou 0,861 kg a mais no peso final. Restle et al. (1994b, 1996b), obtiveram maior peso final para animais inteiros em relação aos castrados. No presente trabalho os animais inteiros tiveram de permanecer no confinamento por maior tempo médio (86,52 dias contra 81,76 dias) para atingir acabamento adequado (Figura 1). 450 400 350 in te ir o s 300 c a s tr a d o s 250 86 .5 2 70 81 .7 6 60 50 40 30 20 10 in íc io 200 te m p o (d ) Figura 1 - Evolução gráfica do peso vivo, em kg, pelo tempo de permanência, em dias, conforme o tratamento. A diferença no tempo de permanência, 4,76 dias a mais para os animais inteiros, se analisada segundo o ganho médio diário dos animais inteiros, acarretaria em 5,52kg a mais no peso final. Entretanto, a diferença de peso ganho durante todo o período foi de 29kg a favor dos inteiros (417,04 kg contra 388,06 kg), resultado de maior GMD dos animais inteiros. Essa diferença a favor dos animais inteiros se torna muito interessante se pensarmos que a cada 13,4 animais confinados inteiros nas condições do experimento ganha-se 388 kg, ou seja um animal castrado. A cada 100 animais inteiros abatidos se estaria ganhando, em kg, o equivalente ao peso de abate de 7,5 animais castrados. 100 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco Um dos pontos mais importantes para fundamentar a utilização da tecnologia é o fato de os animais inteiros não terem sofrido nenhum tipo de discriminação através do preço pago pelos frigoríficos. Junto a esses foram colhidos os dados de conformidade, acabamento, condenas e a classificação final das carcaças. Tanto as carcaças dos animais inteiros quanto as dos castrados foram classificadas como de conformação retilínea, acabamento 3, classificação final 1 e não houveram condenas. Restle & Vaz (1997) concluíram que animais inteiros terminados em confinamento, apresentam gordura de cobertura satisfatória. Arthaud et al. (1977), citado por Restle & Vaz (1997) relatam que quando submetidos a altos níveis nutricionais durante a terminação, não há diferença na espessura de gordura entre animais inteiros e castrados, abatidos aos 12, 15 e 18 meses de idade. Segundo Gottschall (2001), através da manipulação da dieta é possível conseguir acabamento satisfatório, como no presente experimento. Em contrapartida, comparando as características de carcaça de animais inteiros e castrados em condições de confinamento e em pastagem, Restle et al. (1994a) e Restle et al. (1996a) concluíram que as carcaças de animais inteiros são deficientes em gorduras de cobertura. CONCLUSÕES Novilhos inteiros submetidos ao regime de confinamento apresentaram peso final e ganho médio diário superiores ao de animais castrados. Os pesos de carcaça e o rendimento das carcaças de novilhos inteiros abatidos superprecocemente foram superiores aos de novilhos castrados. Animais inteiros ou castrados não apresentaram diferenças quanto ao acabamento e conformação das carcaças. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DI MARCO, O. N. Crecimiento y Repuesta Animal. Mar del Prata, Associación Argentina de Producción Animal, 1993. 129p. FIELD, R. A. Effect of castration on meat quality and quantity. Journal of animal science. v.32, n.5, p.849-858, 1971. FRIES, L. A. 1987. GIVENS, um sistema de análises estatísticas de dados não balanceados por microcomputador. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 24. 1987, Brasília. Anais... Viçosa: SBZ. 1987. p. 278. v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 101 GOTTSCHALL, C. S. 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Os artigos científicos, revisões bibliográficas, relatos de casos e notas devem ser enviados em tres cópias redigidas em computador, em word, fonte 12, Times New Roman, espaço duplo entre linhas, folha tamanho A4 (21,0 x 30,0 cm), margem direita 2,5cm e esquerda 3cm. As páginas devem ser numeradas e rubricadas pelos autores. Os trabalhos devem ser acompanhados de ofício assinado pelos autores. Os artigos serão submetidos a exame por 3 pesquisadores com atividade na linha de pesquisa do tema a ser publicado, tendo a Revista o cuidado de manter sob sigilo a identidade dos autores e dos consultores. Disquetes serão solicitados após a submissão dos trabalhos e aprovação pelos consultores. 1- O artigo científico deverá conter os seguintes tópicos: Título (em português e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; INTRODUÇÃO (com revisão da literatura); MATERIAL E MÉTODOS; RESULTADOS E DISCUSSÃO; CONCLUSÃO; AGRADECIMENTOS; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 2- A revisão bibliográfica deverá conter: Título (em português e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; INTRODUÇÃO; DESENVOLVIMENTO; CONCLUSÃO; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 3- A nota deverá conter: Título (em português e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; seguido do texto, sem subdivisão, abrangendo introdução, metodologia, resultados, discussão e conclusão, com REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 4- O relato de caso deverá conter: Título (em português e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; INTRODUÇÃO (com revisão de literatura); RELATO DO CASO; RESULTADOS E DISCUSSÃO; CONCLUSÃO; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO Título Deve ser claro e conciso, em caixa alta e negrito, sem ponto final, em português e inglês. v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco 103 Autores Deve constar o nome por extenso de cada autor, abaixo do título, seguido de informação sobre atividade profissional, maior titulação e lugar/ano de obtenção, Instituição em que trabalha, endereço completo e E-mail. Resumo e Abstract O resumo deve ser suficientemente completo para fornecer um panorama adequado do que trata o artigo, sem, porém, ultrapassar 350 palavras. Logo após, indicar as Palavras-chave / Key words (mínimo de três) para indexação. Citações e Referências Bibliográficas Citações bibliográficas no texto deverão constar na INTRODUÇÃO, MATERIAL E MÉTODOS E DISCUSSÃO no artigo científico, conforme exemplo: um único autor (SILVA, 1993); dois autores (SOARES & SILVA, 1994); mais de dois autores (SOARES et al., 1996). Quando são citados mais de um trabalho, separa-se por ponto e vírgula dentro do parênteses (SOARES, 1993; SOARES & SILVA, 1994; SILVA et al., 1998). Referências devem ser redigidas em página separada e ordenadas alfabeticamente pelos sobrenomes dos autores, elaboradas conforme a ABNT (NBR-6023). Tabelas e Figuras As Tabelas e Figuras devem ser numeradas de forma independente, com números arábicos. As Tabelas devem ter o título acima das mesmas, escrito em letra igual à do texto, mas em tamanho menor. As Figuras devem ter o título abaixo das mesmas. Tabelas e Figuras podem ser inseridas no texto. Endereço para correspondência Revista VETERINARIA EM FOCO Rua Miguel Tostes, 101, Predio 14 - Sala 127 São Luís Canoas / RS - Brasil 92420-280 E-mail: [email protected] Impresso na Editora da ULBRA 104 v.2, n.1, maio/out. 2004 - Veterinária em Foco