Observatório da Criação de Empresas
Observatório da Criação de Empresas
O Observatório da Criação de Empresas é um projecto desenvolvido pelo IAPMEI,
com a colaboração da Rede Portuguesa de Centros de Formalidades das
Empresas (CFE), que tem por objectivo conhecer as características dos novos
empresários e das novas sociedades, os seus pontos fortes e as suas principais
necessidades e, dessa forma, estudar o fenómeno da criação de empresas em
Portugal.
Criado no início de 1999, este Observatório tem vindo, desde então, a recolher um
conjunto de informações relevantes sobre os empreendedores e as start-ups
portuguesas, fundamentais ao desenvolvimento de políticas públicas dirigidas às
empresas portuguesas e, consequentemente, ao reforço da competitividade da
estrutura empresarial nacional.
Os dados que apresentamos de seguida têm origem no mais recente relatório
realizado no âmbito deste Observatório, e resultam da análise dos inquéritos
recolhidos no 2º semestre de 2000, respeitantes a 2083 empresas e a 2126
empresários.
O perfil dos empreendedores portugueses
Os empreendedores em Portugal são, na generalidade, muito jovens sendo que,
em média, têm 35 anos e que a maioria tem entre 25 e 40 anos. As mulheres já
têm
uma
representatividade
interessante,
em
termos
globais,
enquanto
empresárias, constituindo perto de 1/3 dos novos empresários, mas esta
proporção não é idêntica em todos os sectores. Construção (17%) e Indústria
(25%) são ainda sectores onde o peso das mulheres empresárias é relativamente
reduzido.
A maioria dos empreendedores são casados (66%) e têm como habilitações
literárias o ensino secundário (27%) ou uma licenciatura (21%). Note-se, no
entanto, que é muito significativa (40%) a quantidade de empreendedores que
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têm, no mínimo, frequência universitária (frequência universitária, licenciatura,
mestrado, pós-graduação ou doutoramento). Saliente-se ainda que, quanto mais
novos são os empreendedores, maior o grau académico que possuem.
Gráfico 1 – Habilitações literárias dos empreendedores
Os empreendedores são, na sua maioria, trabalhadores por conta de outrém
(33%), sendo que o sexo feminino apresenta um peso maior nesta variável.
Destaque-se, neste domínio, que 44% dos inquiridos já foram empresários
anteriormente e que 66% destes continuam a ser sócios de outra sociedade.
Curiosamente, a larga maioria dos empreendedores (83%) pretende manter a sua
situação profissional, enquanto que apenas 46% pretende dedicar-se a tempo
inteiro à sua empresa. De salientar que, dos restantes inquiridos, dois terços
esperam vir a dedicar-se a tempo inteiro à nova empresas apenas quando os
resultados o permitirem, o que pode denotar alguma aversão ao risco (ou reduzida
capacidade para arriscar).
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Gráfico 2 – Situação profissional actual dos empreendedores
Também interessante é o facto de quase metade dos empreendedores indicar que
a ideia de negócio foi sua. No que respeita a aconselhamento, verifica-se que 80%
dos empresários se aconselharam com terceiros relativamente à viabilidade da
ideia enquanto negócio. Neste domínio é de destacar a importância do cônjuge,
mas também da família e amigos, o que confirma a importância das redes sociais
no processo de criação de empresas. De salientar, por um lado, que o núcleo
familiar é o mais procurado para efeitos de aconselhamento e, por outro, que
apenas 16% dos empreendedores se aconselham com indivíduos que não fazem
parte das redes sociais de maior proximidade.
Elemento digno de nota é o facto de o período de tempo que decorre entre a
geração da ideia e a criação da empresa propriamente dita ser relativamente
longo, sendo em 40% dos casos superior a um ano.
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Gráfico 3 – Aconselhamento relativamente à viabilidade da ideia
No
processo
de
criação
da
sua
empresa,
os
empreendedores
nacionais
consideram que a influência do meio se faz sentir essencialmente através de 8
factores:
“expectativa
de
lucro”,
“expectativa
de
procura
e
de
incentivos”,
“expectativa de facilidade de fornecimentos”, “expectativa de facilidade de criar
estrutura”,
“expectativa
de
aproveitar
insucessos
de
outras
empresas”,
“expectativa de facilidade em identificar os clientes”, “expectativa de apoio familiar
e facilidade na criação de uma empresa”, e “expectativa de facilidade em
identificar e conhecer a concorrência”. Curiosamente, os indivíduos mais novos e
com habilitações literárias superiores afirmam que as expectativas de procura e
incentivos e de lucro foram aquelas que mais os influenciaram na decisão de criar
a sua empresa, enquanto que nos mais velhos prevalece a expectativa de
aproveitar o insucesso de outras empresas, bem como a expectativa de apoio
familiar e de facilidade de criar uma empresa.
As start-ups em Portugal
A larga maioria das empresas criadas irá desenvolver a sua actividade nos
sectores dos serviços (40%) e comércio (27%). Curiosamente, perto de metade
das empresas destes sectores estão instaladas em grandes cidades ou na sua
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periferia, enquanto que mais de metade das empresas dos transportes e da
indústria se encontram instaladas em zonas rurais ou em pequenas cidades.
Gráfico 4 – Empresas criadas (amostra) por sector de actividade
As novas empresas são maioritariamente sociedades por quotas (85%) e
apresentam, em média, 2 sócios. Mais de metade das empresas (55%) têm sócios
familiares, sendo que a quase totalidade destas é apenas constituída por sócios
de uma única família.
Refira-se que a larga maioria das empresas pretende iniciar a actividade com o
capital
social
mínimo.
No
entanto,
registam-se importantes diferenças entre
sectores, sendo que as empresas da indústria, transportes e turismo iniciam a sua
actividade com um capital social mais elevado.
Por outro lado, será de salientar que a grande maioria das empresas (86%) prevê
criar, no primeiro ano de actividade, menos de 5 postos de trabalho (para além
dos sócios).
De notar ainda que apenas 41% das empresas pensa elaborar um plano de
negócios.
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Gráfico 5 – Postos de trabalho a criar no 1º ano de actividade
Ainda que não dependam destes para iniciar a actividade da nova empresa (93%
dos inquiridos criaria a empresa mesmo sem sistemas de incentivos), 38% das
novas empresas pretende recorrer a sistemas de incentivos. De destacar o peso
do sector industrial na intenção de concorrer a incentivos.
O investimento médio apresentado pelas empresas recém-criadas é de cerca de
27 mil contos, sendo as rubricas com maior peso a aquisição de equipamento
(38% do investimento total), a aquisição de instalações (17%) e o fundo de maneio
(15%). De salientar que as empresas iniciam normalmente a sua actividade subcapitalizadas. Analisando por sector de actividade, constata-se que a Indústria
investe
fundamentalmente
Construção
em
terrenos
em
equipamento
(46%)
e
(43%)
equipamento
e
instalações
(22%),
o
(29%),
Comércio
a
em
equipamento (34%) e em instalações (50%), o Turismo em instalações (50%) e
em equipamento (27%), os Transportes em equipamento (80%), e que os serviços
apresentam uma maior dispersão, destacando-se o equipamento (28%), terrenos
(23%) e instalações (20%).
A maioria das novas empresas apresenta uma expectativa de facturação limitada
para o 1º ano de actividade, inferior a 10 mil contos. Interessante será verificar que
estas empresas tencionam efectuar 96% da sua facturação em Portugal, sendo
que o mercado local (num raio de 25 km da sede) é considerado o mercado alvo
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preferencial. A proximidade marca também o comércio externo, já que os
principais mercados de destino das exportações são Espanha (1.8%) e França
(0.5%).
Gráfico 6 – Facturação esperada no 1º ano de actividade
Foram identificados seis factores de diferenciação à entrada no mercado, os quais
são valorizados de forma diferente pelos empresários dos vários sectores. Assim,
a Indústria pretende efectuar a diferenciação pelo produto, pelas condições
oferecidas e pelo preço; a Construção pretende efectuar a diferenciação pelas
condições oferecidas e pelo preço; o Comércio pretende efectuar a diferenciação
pelo preço, pelo produto, pelas condições oferecidas e pelo design; o Turismo
pretende efectuar a diferenciação pelo serviço ao cliente e pelo preço; os
Transportes pretendem efectuar a diferenciação pelo preço, pela proximidade,
pelas condições oferecidas e pelo produto; e os Serviços pretendem efectuar a
diferenciação pelo serviço ao cliente.
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Os objectivos estratégicos das novas empresas são a satisfação dos clientes, a
qualidade total e a rentabilidade. As diferenças existentes entre os sectores são
visíveis no quadro seguinte:
Gráfico 7 – Objectivos estratégicos por sector de actividade
Por último, foram identificados oito grandes constrangimentos ao desenvolvimento
das empresas, designadamente financeiros, de gestão, do Estado, legais e de
qualidade, concorrenciais, de mercado, de apoio financeiro do Estado e de custo e
financiamento.
Janeiro de 2001
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Relatório do Observatório da Criação de Empresas - EICPME