PARADOXO: Anchieta, Kennedy e Itapemirim tiram nota baixa no Ideb
enquanto que Alfredo Chaves, Iconha e Piúma alcançam melhores
resultados
A reportagem do Jornal Espírito santo Notícias fez uma análise do resultado do Ideb nos
municípios de Anchieta, Alfredo Chaves, Iconha, Piúma, Cachoeiro, Presidente Kennedy,
Itapemirim, Rio Novo do Sul e Piúma. Notou-se que Alfredo Chaves fez bonito e quem mais
investiu passou vergonha com a nota baixa.
por Luciana Maximo
análise: Cristiano Bodart
O Governo Federal realiza a cada dois anos uma avaliação do Ensino Básico de todos os
municípios brasileiros. A avaliação é composta por dois índices: nota obtida pelos alunos na
Prova Brasil (ou Saeb) e o índice de reprovação. As provas são de Matemática e Língua
Portuguesa, sendo aplicadas no final das etapas de ensino (4º ano, 9º ano e 3º ano do Ensino
Médio). Esta avaliação, chamada Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), é
utilizada como termômetro para identificação da situação da qualidade da educação.
Reconhecendo a importância da educação básica, sobretudo das séries iniciais (1º ao 4º ano),
para o desenvolvimento educacional da sociedade, a reportagem apresenta um breve raio-x da
educação pública em nove (09) municípios do sul do estado (escolas municipais e estaduais) .
São eles: Alfredo Chaves, Iconha, Anchieta, Rio Novo do Sul, Cachoeiro, Piúma, Marataízes,
Itapemirim e Presidente Kennedy.
O Cientista Social/USC, mestre em Planejamento Regional e Gestão de Cidade/UCAM e
doutorando em Sociologia pela Universidade de São Paulo/USP, Cristiano das Neves Bodart
fez uma análise dos resultados quantitativos do Ideb nos nove municípios citados.
Presidente Kennedy (R$ 21.632,73), Anchieta (R$ 8.907,16) e Itapemirim (R$ 5.924,45) são,
nessa ordem, os municípios com a maior receita pública per capita do estado do Espírito
Santo. Em contrapartida, dentre as nove cidades analisadas, Cachoeiro de Itapemirim (R$
1.505,80), Rio Novo do Sul (R$1.938,25), Alfredo Chaves (R$ 2.420,90) e Iconha (R$
2.745,30) se apresentam, respectivamente, como os municípios com menor receita per capita.
Bodart argumenta que “há quem defenda, de olhos fechados, que o problema da educação é a
falta de investimento, porém o problema vai mais além”. Para ele, a sociedade e a própria
legislação brasileira pressionam os gestores públicos a investirem em educação, o que quase
sempre ocorre (sendo no mínimo 25% investido em educação). “Em um primeiro momento,
podemos pensar que os municípios que tem mais dinheiro para investir em cada habitante,
terá maiores condições de investir em educação. Mas será que isso realmente ocorre? Outra
questão que também merecem atenção é: Será que maiores investimentos em Educação, por si
só, estaria garantindo melhores desempenhos educacionais”?, questiona.
Partindo do princípio de que a Educação deve ter centralidade em uma administração pública,
segundo Cristiano Bodart é preciso questionar se Presidente Kennedy, Anchieta e Itapemirim,
que são os municípios com a maior receita pública per capita do estado, estariam igualmente
investindo mais recursos por aluno. Por meio dos dados levantados por Bodart e apresentados
em formato de tabela (ver tabela 1), afirmou que:
“Os municípios que mais investiram em educação (investimentos por aluno) foram os
municípios mais ricos. Chegando o município de Presidente Kennedy investir quase
R$20.000.00 anual em cada aluno matriculado na rede pública de ensino. Valor menor, mas
também elevado, investiu o município de Anchieta, chegando a quase 9,5 mil reais/ano por
aluno”.
Tabela 1. Receita per capita dos municípios selecionados, investimento por aluno em 2011 e
resultado no Ideb de 2011.
Posição
no Ideb
9º
4º
7º
3º
2º
8º
1º
6º
5º
Município
Pres. Kennedy
Anchieta
Itapemirim
Piúma
Iconha
Marataízes
Alfredo Chaves
Rio Novo do
Sul
Cachoeiro
Nota
Ideb
Receita per
capita
Investimento
por aluno
21.632,73
8.907,16
5.924,45
2.833,72
2.745,30
2.497,70
2.420,90
19.712,10
9.462,35
4.454,69
4.139,42
3.799,74
3.775,86
4.290,89
4,6
5,2
4,7
5,3
6,1
4,7
6,7
1.938,25
5.043,43
5,1
1.505,80
3.708,20
5,2
(séries
iniciais)
Fonte: Elaborado por Bodart com base no dados do Balanços municipais coletados no
Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCEES) in: Revista de Finanças dos
Municípios Capixabas, 2012. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira, Ideb, 2011.
MUNICÍPIOS RICOS, EDUCAÇÃO POBRE
Na analise ficou evidente que embora os municípios de Presidente Kennedy (R$ 19.712,10),
Anchieta (R$ 4,630,30) e Itapemirim (R$ 2,524,30) terem, dentre os nove municípios
selecionados, investido mais recursos por aluno em 2011, tais investimentos não garantiram
os melhores resultados no Ideb daquele ano.
De acordo com a análise realizada (como se ver no gráfico 1), a ampliação dos investimentos
por aluno em Presidente Kennedy ao longo dos últimos anos não garantiu melhores resultado.
Por outro lado, Alfredo Chaves manteve um crescimento no investimento (por aluno) em
educação bem mais modesto, porém alcançando melhores resultados a cada novo Ideb.
Mesmo com uma pequena redução no investimento em 2010, seu rendimento na avaliação
continuou ampliando-se.
Gráfico 1. Evolução dos resultados do Ideb (2005 -2011) e dos investimentos em educação
por aluno (em mil): Comparativo entre Alfredo Chaves e Presidente Kennedy.
Fonte: Elaborado por Bodart com base no dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira. Ideb – séries iniciais.
Vale ressaltar que Presidente Kennedy teve o pior resultado no Ideb dentre os nove
municípios. Itapemirim ficou em antepenúltimo (7ª lugar) e Anchieta em 4ª colocação. Os
melhores resultados foram de Alfredo Chaves (6,7 pontos) e Iconha (6,1), respectivamente.
De acordo com Cristiano Bodart, o problema da educação não se resolve apenas com
investimentos financeiros. O caso de Presidente Kennedy deixa isso bem claro. É necessário
fazer com que esses investimentos sejam mais eficientes, investir em formação profissional,
na motivação dos educadores, em projetos pedagógicos eficientes, em maior permanência da
criança na escola, investir em pesquisas capazes de identificar os problemas e criar programas
visando combate-los.
Gráfico 2. Evolução dos resultados do Ideb (2005 -2011): dos municípios com
melhores e piores notas dentre os nove municípios selecionados.
Fonte: Elaborado por Bodart com base no dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira. Ideb – séries iniciais.
Alfredo Chaves, assim como Iconha (ver gráfico 2), apresentou um incremento contínuo nos
resultados do Ideb ao longo do período de 2005 a 2011. Certamente os resultados de
melhorias na educação não são frutos de sementes plantadas hoje. Para Bodart, isso depende
de seu desenrolar histórico, especialmente no que diz respeito a centralidade que teve ou não a
educação naquele município.
“Como justificar o alto investimento na educação, em Presidente Kennedy e Itapemirim, com
resultados ruins no Ideb. Essa realidade aponta para a necessidade de melhorar a qualidade
dos investimentos”, questiona o sociólogo.
Gráfico 3. Evolução dos resultados do Ideb (séries iniciais) dos municípios de Alfredo
Chaves, Presidente Kennedy, Piúma, Anchieta, Itapemirim, Marataízes, Rio Novo do Sul e
Cachoeiro de Itapemirim (2005-2011)
Fonte: Elaborado por Bodart com base no dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira.
Se observados os resultados alcançados no Ideb (séries iniciais) pelos municípios em análise,
nota-se que a distância existente entre as notas do Ideb de Alfredo Chaves (4,7 em 2005; 5,5
em 2007; 5,9 em 2009 e; 6,7 em 2011) com as de Presidente Kennedy (3,2 em 2005; 3,9 em
2007; 3,2 em 2009 e; 4,6 em 2011) e Itapemirim (3,4 em 2005; 3,8 em 2007; 4,5 em 2009 e;
4,7 em 2011) foram grandes. Em 2005, Presidente Kennedy e Itapemirim obtiveram os piores
resultados dentre os nove municípios analisados, mantendo-se nessa posição durante as três
avaliações posteriores.
Não adiantou investir em na educação pública em Kennedy! o Ideb tem sido um fracasso
De acordo com a análise de Cristiano Bodart, a ampliação dos recursos públicos em
Presidente Kennedy não foi suficiente para maximizar a melhoria da educação no município.
Em 2005, a nota do Ideb era a pior entre os municípios vizinhos (Alfredo Chaves, Iconha,
Anchieta, Rio Novo, Cachoeiro de Itapemirim, Piúma, Marataízes e Itapemirim) e passado 6
anos, a situação continua a mesma.
Observa-se que Piúma e Anchieta oscilaram seus resultados no período, mas, em 2011,
apresentaram um rendimento pouco acima da média (5 pontos em uma escala que vai a 10).
Cachoeiro de Itapemirim manteve um crescimento constante, porém, saindo de 3,8 pontos,
alcançados em 2005, e atingindo, em 2011, 5,2 pontos. Anchieta superou a média ainda em
2009, porém seu rendimento em 2011 só ampliou mais 0,1 ponto em relação àquele ano,
atingindo 5,2 pontos, abaixo de Piúma (5,3 pontos).
Tabela 2. Ranking do Ideb (séries iniciais) em 2011 e notas dos demais anos de avaliação:
municípios selecionados.
Posição
em 2011
1º
2º
3º
4º
5º
6º
7º
8º
9º
Municípios
2005
2007
2009
2011
Alfredo Chaves
Iconha
Piúma
Anchieta
Cachoeiro
Rio Novo
Itapemirim
Marataízes
Pres. Kennedy
4,7
4,5
4,1
4,2
3,8
4,2
3,4
3,7
3,2
5,5
4,6
4,5
4,1
4,5
4,7
3,8
4,3
3,9
5,9
4,9
4,6
5,1
4,8
5,5
4,5
4,6
3,2
6,7
6,1
5,3
5,2
5,2
5,1
4,7
4,7
4,6
Fonte: Elaborado por Bodart com base no dados do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
Os piores resultados no Ideb continuam sendo os de Itapemirim, Kennedy e Marataízes
Os municípios de Itapemirim, Marataízes e Presidente Kennedy apresentaram os piores
resultados no Ideb, não atingindo sequer a média em nenhum ano de avaliação. “O que chama
mais atenção é o fato de Itapemirim e Presidente Kennedy ter recebido um incremento na
capacidade de investimento em educação e isso não ter sido aproveitado de forma adequada
para refletir na qualidade da educação desses municípios”, salientou Bodart. Em 2007, o
investimento anual por aluno em Itapemirim sofreu uma ampliação de cerca de 57%
(corrigindo a inflação acumulada no período).
Em Presidente Kennedy, no mesmo período, passou de cerca de 4,4 mil reais para quase 20
mil reais. Um incremento (corrigido pelo IPCA) de mais de 196,9%. Anchieta também foi
outro município que ampliou de forma muito significativa os investimentos por aluno (em
aproximadamente 71,7%) no entanto o resultado também ficou abaixo do que se esperava.
Nesse mesmo período, Itapemirim melhorou apenas 0,9 pontos; Presidente Kennedy apenas
0,7 pontos e; Anchieta apenas 1,1 ponto. Esses dados deixa em evidência que os recursos
financeiros destinados a educação não tem sido utilizados de forma eficiente.
Tabela 3. Acréscimo de nota no Idb entre 2007 e de 2011 e acréscimo de investimento por
aluno no período de 2007 a 2011 (IPCA corrigido em 2011).
Municípios Pres. Kennedy Marataízes
Anchieta Piúma Itapemirim Cachoeiro
Iconha Rio Novo
Alfredo Chaves Incremento no Incremento investimento no Ideb em (%) pontos 196,9 80,5 71,7 61,4 57,7 53,7 45,5 45,1 35,7 0,7 0,4 0,9 0,8 0,9 0,7 1,5 0,4 1,2 Fonte: Elaborado por Bodart com base no dados do
Balanços municipais coletados no Tribunal de Contas do
Estado do Espírito Santo (TCEES) in: Revista de Finanças
dos Municípios Capixabas, 2012. Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
Em Alfredo Chaves e em Iconha as crianças realmente aprendem
Mais uma conquista enobrece a rede municipal de educação de Alfredo Chaves com
resultados positivos alcançados pelo município no Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica do (Ideb), realizado no país em 2011. Mais uma prova dos avanços na Educação em
Alfredo Chaves,que estão sendo alcançados pela gestão do prefeito Dr. Fernando Lafayette
(PSB).
Alfredo Chaves teve o melhor resultado no Ideb com nota 7,0 (dentre as escolas municipais) colocando Alfredo Chaves em primeiro lugar – nota superior, inclusive, ao que o governo
federal estabelece para toda a rede pública do estado até 2021.
Para o aluno Rodrigo Pícoli Cavalini, 11 anos, estudante do 6º ano da Escola Municipal “Ana
Araújo”, o diferencial da aprendizagem é a participação da professora de português nas
construções dos textos, no incentivo a leitura e no uso de experiências de vida para enriquecer
a aula. “Ela conta histórias, faz recreação e com isso a turma fica entusiasmada em apreender.
Tenho em casa quatro caixas de livros que já li”.
A Secretária Municipal de Educação, Vera Lúcia Bona, atribui o desempenho á uma política
com foco na aprendizagem, na formação de professores e na parceria com a família. “Esse
mérito é de todos os profissionais da educação, familiares e comunidade que se envolvem, se
comprometem e acreditam na educação”, disse.
Na pesquisa de 2010, a educação municipal também comemorou com os resultados de 5.8
nas séries iniciais e 5.2 nas séries finais. (foto http://www.alfredochaves.es.gov.br/ texto
Danilo Ferraz)
“Os municípios de Alfredo Chaves e Iconha com menos dinheiro fez mais pela educação de
suas crianças do que municípios mais ricos, é o que se verifica a partir dos dados obtidos no
Ideb”, afirma Bodart. Foto que aponta para a urgência da necessidade dos gestores públicos
reverem a forma com que estão aplicando os recursos na educação.
Para Cristiano Bodart, “fica evidente que apenas criar dispositivos legais ou mesmo pressão
social para que haja maiores investimentos em educação não tem se convertido em maior
qualidade educacional nas séries iniciais. Municípios ricos têm até investido em educação,
mas parece que o grande volume de recursos tem feito os gestores públicos ‘gastarem’
dinheiro em educação, ao invés de ‘investirem’. Parece falta eficiência!”
Os municípios de Alfredo Chaves e de Iconha, que apresentaram melhores notas em 2011,
foram também os que apresentaram as melhores evoluções no Ideb. Tais municípios mesmo
estando entre os três municípios que tiveram uma menor ampliação do valor investido por
aluno, se destacaram nos resultados do Ideb. Bem diferente do que ocorreu com Presidente
Kennedy e Marataízes.
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