O uso do telejornal na educação escolar
Tyciane Cronemberger Viana Vaz1
Decidimos abordar a pesquisa sobre ensino de telejornalismo de forma diferente. Ao invés de
abordar sobre o ensino nas instituições de ensino superior, fizemos uma pesquisa sobre o uso do
telejornal na educação escolar na cidade de Teresina, no Piauí. A convergência entre as áreas da
educação e comunicação pode ser o caminho para que os receptores da mídia sejam mais ativos.
Acreditamos que o avanço pode acontecer através de uma prática pedagógica que tenha o objetivo de
incentivar a discussão, reflexão e a reinterpretação do conteúdo televisivo.
Por conta da forte presença dos telejornais no cotidiano da sociedade, e da escola ser
considerada um espaço para formação de cidadãos, escolheu-se pesquisar sobre a presença dos
telejornais em salas de aulas. Outra questão motivadora dos estudos da relação entre a Comunicação
e a Educação está no fato de que a escola, como instituição formal de educação, não deve renunciarse da realidade retratada diante da televisão, e sim, colaborar para formação de cidadãos críticos e
receptores de informação preparados para questionar e discernir os fatos.
Escolas da rede pública municipal da cidade de Teresina foram utilizadas como objetos deste
estudo por abrigarem grande parte do público infantil e adolescente da capital, incluindo um público de
classe social mais baixa, que também se configura como maioria na capital.
Partiu-se do objetivo geral de pesquisar sobre a relação entre os telejornais e as escolas
públicas de Teresina. Observando ainda como os noticiários televisivos estão presentes na vida de
alunos de escolas públicas, e se os professores levam para salas de aula discussões de assuntos
abordados nos telejornais em salas. Leva-se em consideração a hipótese de que as instituições
escolares não trabalham pela formação de receptores críticos de mídia. Acredita-se que os temas
abordados nos telejornais pouco são discutidos em salas de aulas.
Para a concretização deste estudo, selecionamos duas escolas da rede pública municipal de
ensino e dentro destas, duas turmas de alunos de 13 e 15 anos da 8ª série de Ensino Fundamental.
Em seguida foram aplicados questionários pré-montados e diferenciados para alunos e professores,
total de 100 e 11, respectivamente.
As duas escolas foram: Centro de Educação Comunitária Parque Itararé e Escola Municipal
Professor Ofélio Leitão. O critério de escolha das instituições escolares foi correspondente à
quantidade de alunos. Portanto, a pesquisa atinge duas escolas com maiores quantidade de
adolescentes matriculados, ambas com mais de mil alunos matriculados e mais de 50 professores.
Educomunicação: primórdios
Segundo Fonseca (2004), o ponto de partida para a interlocução entre a Comunicação e a
Educação foi a introdução do pensamento pedagógico da Escola Nova, no final do século XIX, nos
Estados Unidos e Europa. O pensamento escolanovista introduziu uma mudança na relação entre
aluno e professor no sentido de uma aproximação mais pessoal e de deslocar o aluno do centro do
processo pedagógico. Dessa forma, pondo em cheque as bases da pedagogia tradicional,
fundamentada na autoridade do professor. “Entre as várias contribuições da Escola Nova, aponta-se a
preocupação com os métodos e recursos didáticos como um dos aspectos que permitiram o diálogo
entre Comunicação e Educação” (FONSECA, 2004, p. 25).
O pioneiro na Europa a utilizar os meios de comunicação na escola foi o pedagogo francês
Celestin Freinet. No ano de 1924, o educador estimulou os alunos a produzir um jornal impresso, e
ainda utilizou como recurso em sala de aula, o gramofone, rádio e projetor de cinema. Pode-se
1
Jornalista, mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo e especialista em Telejornalismo
pela Universidade Federal do Piauí.
considerar que o desenvolvimento da indústria cultural foi mais um fator motivador das relações entre
Comunicação e Educação.
Na América Latina, as pesquisas que aliaram a Educação e Comunicação em uma só
nomeação, a educomunicação, têm raízes em torno do argentino Mário Káplun. Ele iniciou os estudos
de uma metodologia voltada para educação e comunicação no final da década de 70, no Uruguai.
Káplun teve como cerce de seus estudos a educação, tendo a comunicação como uma ferramenta
básica para a cidadania e a inserção social. Ele construiu uma práxis educomunicativa, a
educomunicação e propôs a soma das áreas da Educação e da Comunicação com a proposta de
destacar a cidadania.
A Educomídia é um campo emergente de intervenção social e de prática profissional
que pode ser vista como área de especialização na qual o comunicador e o
educador se somam com o objetivo de serem produtores e agentes de um processo
social, tendo como protagonista grupos populares, resultado de um processo social,
tendo como protagonista grupos populares, resultado de uma necessidade
contemporânea que exige de ambos um papel educativo. (FERRARI IN: MARQUES
DE MELO et al., 2006, p. 10)
O modelo proposto por Káplun pregava pela comunicação educativa e popular como um
compromisso social e ético diante às comunidades de diferentes países da América latina. Mário
Káplun desenvolveu pesquisas com o uso do rádio para a formação cidadã.
A interlocução, a intercomunicação e a interação, na perspectiva ‘Kapluniana’ se
convertem em ações fundamentais de comunicadores reflexivos, permitindo o
entendimento sobre os receptores como sujeitos ativos, exercitando a cidadania e a
participação democrática nos processos de comunicação (GOBBI IN:MARQUES DE
MELO et al., 2006, p. 24-25).
O percussor da educomunicação tem grande influência do educador Paulo Freire,
principalmente nos que diz respeito aos preceitos de educação libertadora como prática da
comunicação. Ambos compartilham a proposta de educação ativa e transformação social. Nesta
perspectiva, os educandos não devem ser tratados como unidades receptoras de instrução.
Tecnologia, comunicação e educação
O mundo tem passado por grandes transformações tecnológicas, que aliadas à idéia de
globalização possibilitaram o surgimento da era em que tudo gira em torno da comunicação e da
informação. Acredita-se que essas transformações ocorridas têm sido rápidas, intensas e profundas,
que as pessoas não têm parado para refletir sobre os reflexos causados pela enxurrada de
potencialidades que elas oferecem. Nesse contexto, as Tecnologias da Informação e da Comunicação,
conhecidas como TIC, assumem cada vez mais um papel destacado na sociedade atual.
Todos os dias, a indústria da informação oferece uma gama de novidades, que atraem
crianças, adolescentes, jovens, adultos e até os idosos. Cada vez mais, os produtos, que na maioria
integra som e imagem, fazem parte do cotidiano das pessoas. A disponibilidade de recursos das novas
tecnologias aliada à necessidade da educação em utilizar esses recursos garante a aproximação cada
vez mais estreita entre a educação e comunicação.
Fonseca (2004) afirma que existe uma relação entre os paradigmas transmissivos entre das
áreas da Comunicação e Educação, principalmente no sentido de serem linear, unidirecional e
orientado para obtenção de efeitos. Na tabela 1, Fonseca (2004, p.40) apresenta a correlação entre os
paradigmas entre as duas áreas citadas.
Tabela 1: Correlação entre os paradigmas transmissivos da Comunicação e Educação
Comunicação
Educação
Objetivo
Transmissão de informação
Transmissão da herança cultural
Instituição
Os meios de comunicação coletiva
A escola
Atividade
Informar
Ensinar
Agente
O comunicador
O professor
Destinatário
O público
O aluno
Se há a relação próxima entre ambas as áreas, portanto, pode-se afirmar que diante dessa
imposição de novos referenciais, que incluem inovações nos modos de perceber e novas articulações
de discursos, as instituições de educação encontram-se em situações que as instigam para a
implantação de práticas que possam dar conta dessa realidade.
Destaca-se que há demanda para utilização de tecnologias no processo de educação. Dessa
forma, a prática pedagógica tradicional pode utilizar a mídia dentro das instituições escolares, nas mais
diversas formas, entre elas, leitura e produção de jornais impressos, observações de vídeos,
decodificação de mensagens dos meios de massa, presença de rádio na escola, leitura crítica das
matérias dos telejornais, além de discussões sobre os assuntos de destaque na mídia local e nacional.
A TV na escola e o telejornal em sala de aula
Questiona-se aqui o papel da escola em desenvolver dentro de suas ações pedagógicas ou,
pelo menos de forma paralela, ações em sala de aula que visem às linguagens não institucionais
escolar, como por exemplo, a utilização dos meios de comunicação.
Citelli et. al. (2002) critica a falta de discussão sobre os meios de comunicação nas instituições
escolares, apesar da forte presença na sociedade. O autor afirma ainda que o primeiro obstáculo vem
da própria instituição escolar que não vê o campo da comunicação de massa como objeto de reflexão
no universo da escola, mesmo que este campo esteja presente no cotidiano dos alunos e professores.
Ele defende uma abordagem pedagógica dos veículos de massa, como objetos de estudo na escola,
no sentido em que os educadores mostrem como a mídia opera as linguagens visual e verbal.
A participação dos programas infantis na formação do pré-adolescente ou
adolescente não é reconhecida pela escola, visto que pouco ou nada se discute na
sala de aula sobre eles. No entanto, uma leitura dialogada poderia indicar o modo
como o aluno se posiciona diante da produção televisiva, isto é, como ele opera as
mensagens do ponto de vista da construção do imaginário e da sua relação com o
mundo que o cerca. (CITELLI et. al, 2002, p. 50)
Os telejornais também são objetos de estudo importantes para o uso em sala de aula. Já que,
os noticiários televisivos ocupam um espaço considerável na vida dos telespectadores brasileiros. Os
assuntos em pauta muitas vezes fazem parte das conversas no dia a dia das pessoas. Abordando
assuntos de política, economia, esportes, cultura, entre outros, os telejornais geralmente são
transmitidos em horários de grande audiência e abrangem não só o público adulto, como também os
mais jovens.
Citelli et. al. (2002) afirma que a produção do telejornal conta com mecanismo criado par atrair
e agradar o telespectador de forma que possa “difundir preceitos e produtos ideológicos e
mercadológicos junto ao público”. O autor ainda afirma que ao assistir o telejornal é “como se
diariamente o telespectador alugasse um par de olhos. Esse é o momento de enxergar com os olhos
dos outros, de ver como aquele grupo de pessoas pensa e o que acha importante”. (p.69).
Acredita-se que o telejornal apresenta fragmentos da realidade para os telespectadores, e por
esta razão, é necessária a reflexão sobre vários aspectos, entre eles, citados por Citelli el.al. (2002),
causa, conseqüência e até mesmo o grau de veracidade do acontecimento. “É importante que a
comodidade oferecida pela situação de receptor passivo seja deixada de lado, para dar lugar ao uso da
capacidade crítica individual do telespectador, no sentido de interpretar e ‘dirigir’ a realidade, tirando
conclusões próprias”. (p.70).
Dessa forma, destaca-se que as instituições escolares devem ajudar os educandos a ‘decifrar’
os conteúdos dos noticiários televisivos, ou seja, o aluno deve ser estimulado a realizar uma leitura
crítica dos telejornais, buscando formas de reflexão sobre as causas, conseqüências e veracidade da
realidade fragmentada, apresentada na telinha. Para Citelli el.al. (2002), o educador deve ensinar que
por trás do fascínio e encantamento exercido pela TV, está o “mito” da credibilidade, competência e
eficiência do mundo da televisão.
Ao analisar o processo de produção do telejornal e descobrir a quantidade de
pessoas, dinheiro e tecnologia envolvidos, o professor começa a entender o êxito
que os telejornais, com apenas alguns minutos diários, têm junto aos seus alunos.
Ao perceber o quanto são manipulados pelas manhas e artimanhas da telinha, a
tendência é negá-la. Assim, a escola vem fazendo ao longo dos anos, e tentando
manter suas portas fechadas para este tipo de discurso, resistindo em vão, pois o
telejornal é assistido por grande parte dos alunos. (Citelli el.al., 2002, p.71).
Apesar de considerar um processo de grande importância no contexto educacional, Citelli et.
al. (2002) afirma que o uso o telejornal na educação não é tarefa fácil, e sim complexa. Por isso,
defende que os educadores devem estar preparados para estimular a percepção do aluno no sentido
de desenvolver o interesse pelas notícias, para que o educando faça críticas e tire suas conclusões.
Neste contexto, o educador deve ser mais do que telespectador, um analista e pesquisador. “O fato é
que o telejornal nos aproxima da história cotidiana, pelo menos daquela (re)apresentada por essa
mídia. Compreende-lo criticamente e utilizá-lo de maneira consciente pode vir a ser um importante
trabalho da escola”. (p.75).
Para o autor, o uso dos telejornais em sala de aula deve iniciar com análise da programação
mais assistida pelos alunos, sem desprezo por aquelas menos assistidas. Todos os aspectos
disponíveis nos telejornais devem ser discutidos em salas de aula, como cenário, técnicas de
produção, entrevistas, os fatos mais importantes e as opiniões expressas durante o noticiários. Com os
detalhes do telejornal, os professores e alunos terão condições de discutir as prováveis causas e
conseqüências e façam uma leitura crítica da realidade.
Para Citelli (2002), o mais interessante seria o professor gravar e passar o telejornal para o
grupo de alunos. Mas, no caso da possibilidade não dar certo, a turma pode assistir em casa no dia
anterior à aula de discussão.
Com capacidade de apontar falhas e meios que as solucionem, o aluno estará
criticamente pronto para receber o telejornal como um recurso didático dos mais
acessíveis. Neste momento, o professor poderá usar e abusar da cotidianidade, da
receptividade, da fácil assimilação, da contextualização através da pesquisa,
exemplificando, ilustrando, debatendo, analisando e principalmente apostando no
desenvolvimento global do aluno. (CITELLI et. al., 2002, p.77).
Acredita-se que existem outras formas de convergência entre o telejornal e a prática
pedagógica. Além da análise do conteúdo, os alunos também podem ter contato com a produção do
telejornal, ou quem sabe, eles mesmos produzirem materiais televisivos. Não se fala aqui em
transformar os alunos em jornalistas, muito menos a escola em redação de TV, mas oportunizar a
elaboração de notícias e uma aproximação de crianças e adolescentes com o mundo da televisão.
Uso do telejornal nas escolas públicas de Teresina
Questionamos sobre o acesso aos meios de comunicação, percebemos que o único que atinge
100% dos entrevistados, professores (Tabela 2) e alunos (Tabela 3) é a televisão. O rádio fica em
segundo lugar, seguido da internet, revista e por último jornal impresso. A TV, como afirma Vizeu
(2005, p.36), “é uma indústria cultural que tem participação decisiva na formação de identidades e no
crescimento econômico do país”.
Tabela 2: Professores: acesso aos meios de comunicação
Escola/meio
Televisão
Rádio
Jornal
Revista
comunicação
Impresso
Escola 1
05
05
02
03
Escola 2
06
05
05
05
Total
11
10
07
08
Tabela 3: Alunos: Acesso aos meios de comunicação
Turma/meio
Televisão
Rádio
Jornal
comunicação
Impresso
Turma A
23
17
3
Turma B
26
20
9
Turma C
27
25
10
Turma D
24
23
05
Total
100
85
27
Internet
04
05
09
Revista
Internet
7
10
12
11
40
9
11
13
14
47
Um dos questionamentos voltado para o professor foi se ele já desenvolveu projetos em torno
dos meios de comunicação com os alunos. O resultado pode ser visto na Tabela 4.
Tabela 4: Desenvolve projetos sobre os meios de comunicação na escola?
Escola/Resposta
SIM
NÃO
Escola 1
02
03
Escola 2
02
04
Total
04
07
Como se percebe a maioria dos professores não trabalha com os meios de comunicação
dentro do espaço escolar. Apenas quatro professores, do universo de 11 docentes entrevistados,
declararam que desenvolvem projetos sobre os veículos de comunicação com os alunos.
Instigados sobre quais seriam esses projetos, os professores foram um tanto contraditórios e
apenas um deles declarou, com detalhes, o trabalho desenvolvido em sala de aula. “Fizemos
pesquisas, coletamos notícias e apresentamos em grupo telejornais. Utilizamos atividades ligadas à
televisão, pois está mais próxima do aluno. Trabalhamos com jornal, produzimos pequenos jornais,
como informativos sobre a escola e a comunidade”. Professor 08, (Língua Portuguesa), Escola 2.
O professor 4 (Geografia) da Escola 1 disse “não foi bem projeto, mas discussões a respeito
desse poder de manipulação”. O professor 5 (História) da Escola 1 não especificou na resposta o
projeto, e o professor 11 (Matemática) da Escola 2 afirmou que o projeto foi “sobre consumo de água,
uma campanha educativa no sentido de evitar o desperdício de água”.
Nove professores responderam que acham importante o uso da televisão como ferramenta
pedagógica em sala de aula. Selecionamos logo mais três depoimentos sobre essa questão:
1. “Os vestibulares assim como concursos estão altamente contextualizados, sendo assim o
telejornal é o meio mais fácil para levar notícia rápida para os alunos”. Professor 3, Escola 1.
2. “É um instrumento que desperta interesse, assim pode ser usado para promover aprendizagem
de qualidade” Professor 4, Escola 1.
3. “Porque o aluno terá mais conhecimentos e saberá escolher melhor quais os programas
adequados para eles assistirem o que geralmente não acontece em casa, pos nem sempre os
pais podem acompanhar o que os filhos assistem” Professor 06, Escola 02.
Questionados se habitualmente trabalham os assuntos abordados nos telejornais, os docentes
em maioria, afirmaram que “sim”. Totalizando oito do universo pesquisado, como se pode ver na
Tabela 5.
Tabela 5: Costuma trabalhar os assuntos abordados nos telejornais em salas de aula?
Escola/Resposta
SIM
NÃO
Escola 1
04
01
Escola 2
04
02
Total
08
03
Os educadores que responderam positivamente neste quesito puderam explicar como se dá a
abordagem dos assuntos pautados pelos telejornais. Selecionou-se abaixo os depoimentos:
1. “Levantando questionamentos, ajudando os alunos a serem críticos naquilo que ouvem e vêem. A
minha disciplina abre leque para abordarmos os assuntos dos telejornais” Professor 1, Escola 1
2. “Comentando em sala de aula, e às vezes com gravação de CD”. Professor 3, Escola 1.
3. “Discutindo, debatendo os fenômenos produzidos no meio social”. Professor 4, Escola 1.
4. “1. Coleta de informações; 2. Identificação de termos-chave; 3. análise de contexto; 4. debate”.
Professor 5, Escola 1
5. “Através de textos e de debates”. Professor 6, Escola 02
6. “Peço aos alunos para assistir os jornais e dou liberdade para que o aluno comunique aos colegas”.
Professor 7, Escola 02.
7. “Pedindo que opinem sobre determinados assuntos que são divulgados ou produzam textos sobre
eles”. Professor 8, Escola 02.
8.”Discutindo com os alunos quando temos algum assunto de interesse, como gráficos, etc.”.
Professor 11, Escola 02.
Solicitamos aos alunos que pudessem enumerar a ordem de preferência dos meios de
comunicação, no caso, dos meios mais utilizados no dia a dia para os menos utilizados. O resultado foi
a televisão mais uma vez em primeiro lugar, seguido do rádio, a exemplo do questionamento anterior.
78% dos alunos apontaram a TV como meio mais utilizado. 11% consideram a TV como
segundo meio de comunicação de mais acesso; 4% dos alunos apontaram a TV em terceiro lugar; 1%
em quarto lugar e 3% apontaram a quinta colocação. Cita-se que 3% dos alunos não responderam a
questão de forma correta. O rádio é considerado o segundo meio mais utilizado pelos adolescentes na
pesquisa, 67% dos alunos apontaram o rádio como o segundo meio de mais acesso.
Sobre o telejornal, 85% dos alunos responderam assistem frequentemente e 15% assinaram
que “não” assistem. Na Tabela 6, têm-se a os telejornais da preferência dos alunos entrevistados.
Tabela 6: Telejornais: preferência
Telejornal
%
01. Jornal Nacional
77
02. Piauí TV (TV Clube)
45
03. Jornal da Globo
42
04. Jornal do SBT
39
05. Jornal do Piauí (TV Cidade Verde)
29
06. Comando 10 (TV Antena 10)
24
07. Jornal da Tarde (TV Meio Norte)
18
08. Jornal da Band
15
09. Ronda Policial
11
10. Jornal da Record
04
11.Globo Esporte
02
12. Fantástico
01
13. Esporte Record
01
14. Jornal Hoje
01
15. Jornal da Cultura
01
Percebe-se que o Jornal Nacional atinge a maioria dos entrevistados. 77% assistem ao
principal telejornal da TV Globo. O segundo telejornal mais visto é o Piauí TV, da TV Clube, afiliada à
Globo, 45% dos alunos assistem. O Jornal da Globo é o terceiro na preferência dos entrevistados,
atinge 42% do público. Destaca-se aqui a preeminência a TV Globo no que diz respeito à transmissão
de notícias para o público entrevistado.
Com relação à freqüência por dias da semana que os alunos assistem a telejornal, o resultado
foi o seguinte: a maioria dos alunos assiste a telejornais diariamente, total de 43% dos entrevistados.
33% dos alunos assistem em uma freqüência de duas a quatro vezes por semana; 16% raramente
assistem; 2% assistem somente uma vez por semana e 6% não responderam o quesito.
Indagados sobre a existência discussões sobre assuntos dos telejornais em salas de aula,
envolvendo professores e demais colegas, os adolescentes pesquisados, em maioria, destacaram que
“não”. O resultado pode ser visto na tabela 7.
Tabela 7: Existência de discussões sobre telejornais em sala de aula
Escolas/ Resposta
Sim
Não
Não respondeu
Escola 1
12
37
00
Escola 2
11
39
01
Total
23
76
01
Através do resultado, percebe-se que pouco se leva para sala de aula os assuntos abordados
nos noticiários televisivos. Tendo em vista que 85% dos alunos assistem a telejornais e somente 23%
declaram que há discussões em salas de aula. Este quesito demonstra uma contradição nas respostas
dos professores e alunos entrevistados. Nos resultados de pesquisa com docentes, nota-se que
72,72% dos professores declararam que costumam trabalhar assuntos abordados nos telejornais em
salas de aula.
Perguntamos também aos alunos se a escola deve realizar trabalhos sobre telejornais. Notouse (Tabela 8) que há interesse por parte dos alunos, mas as escolas pouco usufruem desse recurso
como ferramenta de auxílio pedagógico ou mesmo como atividades extras.
Tabela 8: Opinião dos alunos: a escola deve realizar trabalhos sobre telejornais?
Escolas/Resposta
Sim
Não
Não Respondeu
Escola 1
18
30
01
Escola 2
41
09
01
Total
59
39
02
Por fim, a pesquisa entre os alunos questionou a opinião sobre os porquês das escolas
realizarem trabalhos sobre os telejornais. Destaca-se que muitos alunos defenderam que seria
interessante aproximação da escola com os telejornais para que eles pudessem ficar mais informados,
outros citam que os telejornais ajudariam no aprendizado. Selecionou-se algumas respostas logo
abaixo:
1. “Porque os telejornais estão na nossa vida em todos os momentos”. Turma A, Escola 1.
2. “Para ficarmos informados dos assuntos do dia-a-dia do colégio”. Turma A, Escola 1.
3. “Porque seria bastante interessante abordar temas para saber o que os alunos e até os professores
pensam sobre os telejornais”. Turma A, Escola 1.
4. “Além de assistirmos, seria melhor discutir porque aprendemos mais com o que acontece com o
nosso país e estado atualmente”. Turma A, Escola 1.
5. “Para os alunos ficarem mais informados no dia-a-dia”. Turma B, Escola 1.
6. “Porque nos telejornais passam muitas coisas para o nosso ensino”. Turma B, Escola 1.
7. “Às vezes os telejornais mostram coisas importantes, que todos ficam sabendo quando se discute
em sala de aula”. Turma B, Escola 1.
8. “Deve ser muito interessante a gente ficar por dentro do assunto”. Turma B, Escola 1.
9.“Os telejornais são como estudo”. Turma B, Escola 1.
10. “Uma forma interessante de abordar determinados assuntos”. Turma C, Escola 2.
11. “Porque quem sabe possamos nos interessar mais pelos jornais”. Turma C, Escola 2.
12. “Porque os temas que os jornais exibem, com freqüência, são assuntos que nos ajudam na escola
e que tem a ver com os assuntos que estudamos”. Turma C, Escola 2.
13. “Seria legal, nós alunos, aprenderíamos muito sobre esse universo, acho que seria proveitoso”.
Turma C, Escola 2.
14. “Aquelas pessoas que não têm acesso as notícias passarão a ter, contanto que a escola exponha
através de jornais escolares por escrito, com notícias dos telejornais: tanto nacionais como
internacionais”. Turma D, Escola 2.
15. “Eu acho que muitos alunos andam desatualizados e seria bem legal expor mais trabalhos sobre os
telejornais”. Turma D, Escola 2.
Considerações
Na era onde as informações são rápidas e a mídia cada vez mais dinamizada, a televisão
assume função preponderante na socialização de crianças e adolescentes do país. O acesso dinâmico
à mídia é incontrolado pelos universos familiar e escolar. Principal meio de comunicação entre os mais
jovens, como ratificado nesta pesquisa, a televisão configura-se como uma cultura audiovisual
influente. Dessa forma, não há como desqualificar e muito menos ignorar sua presença em diversos
campos, principalmente na educação escolar.
Nas escolas, as crianças aprendem a ler, a dominar o vocabulário idiomático e a complexidade
de seus temas. Porém, como não há como negar o contexto onde essas crianças estão inseridas, em
especial pela forte presença da mídia em suas vidas. Dessa forma, surgem as perspectivas e
exigências em torno do papel das instituições escolares em considerar a educação como formadora de
cidadãos, apropriando-se de ferramentas como a televisão para preparar os educandos para o
enfrentamento da mídia. A escola pública, por atingir a maioria das crianças brasileiras, não deve fugir
desse papel.
Neste estudo verificou-se que a TV apresenta-se como o meio de comunicação mais presente,
tanto para alunos como para professores de escolas públicas. Mesmo reconhecendo a preponderância
da televisão no dia a dia dos educandos, nota-se que não existem intervenções sistematizadas por
parte das instituições escolares no sentido de formar os alunos em cidadãos críticos de mídia.
Constatou-se que a maioria dos professores considera importante o uso da televisão em sala
de aula. Mas, poucos são os que afirmam ter projetos voltados para área. Além disso, as discussões
sobre temas abordados nos telejornais não são reconhecidas pelos alunos, uma minoria afirma debater
assuntos dos telejornais em salas de aula, com professores e demais colegas.
Concluiu-se também que os telejornais são peças fundamentais para o saber dos adolescentes
entrevistados. A maioria afirma que assiste a telejornais e considera importante para a educação e para
informação dos acontecimentos locais, nacionais e internacionais. Portanto, reafirma-se que a
intervenção escolar no processo de leitura da mídia audiovisual é fundamental. Acredita-se que é
primordial que as crianças desenvolvam a capacidade de interpretar as informações que chegam, para
isso é preciso que passem por processos de amadurecimento da leitura crítica da mídia.
Nesta pesquisa não se busca oferecer um modelo de como as escolas devem trabalhar com a
idéia de ensinar para a mídia, em destaque a televisão. Mas, busca-se atentar para o fato de que se
existe forte e influente presença da televisão, em conseqüência dos telejornais, na vida das crianças e
adolescentes. Por conta disso, é necessário que a escola trabalhe com instrumentos para que seus
alunos estejam preparados para receber criticamente aquilo que chega através dos noticiários
televisivos. Além disso, é preciso que os educadores estejam preparados para essa função.
Sabe-se que os telejornais diariamente contam histórias, e dentro deste contexto, constroem
uma visão da realidade. Em meio a todas as ferramentas utilizadas para prender o telespectador, os
noticiários difundem junto ao público preceitos e produtos ideológicos e até mercadológicos. Por conta
disso, cabe ao telespectador crítico questionar e afastar aquilo que oculta a verdade ou está
mascarado.
Referências
CITELLI, Adilson et. al. Aprender e Ensinar com textos não escolares. 5ª ed. Vol. 3. São Paulo: Cortez,
2002.
FONSECA, Claúdia Chaves. Os meios de comunicação vão à escola?. Belo Horizonte: Autêntica/
FCH-FUMEC, 2004.
MARQUES DE MELO et. al. (orgs.). Educomídia, a alavanca da cidadania: o legado de Mário Kaplún.
São Bernardo do Campo: Cátedra Unesco: Universidade Metodista de São Paulo, 2006.
VIZEU, Alfredo. O lado oculto do telejornalismo. Florianopólis: Calandra, 2005.
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O uso do telejornal na educação escolar