HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL REGULAR: RELATO
DE EXPERIÊNCIA
ALMEIDA Simone Aparecida Pinheiro de – Colégio Estadual Arnaldo Jansen
e-mail: [email protected]
SOUZA, Andrea Rosane – Colégio Estadual Arnaldo Jansen
e-mail: [email protected]
Eixo Temático: Didática, Teorias, Metodologias e Práticas
Resumo
Esse relato refere-se a uma prática pedagógica realizada no Colégio Estadual Padre
Arnaldo Jansen – Ponta Grossa – PR, com turma de 5ª séries/6º ano modalidade regular
na disciplina de História com a temática Egito Antigo. Os alunos trabalharam em sala o
conteúdo de formação do Egito, aspectos sociais, culturais, relações de poder.
Realizaram construção do processo de mumificação construindo sarcófagos os quais
foram apresentados em seminário. Após apropriação desse processo os alunos
realizaram uma aula passeio ao Museu do Egito único do gênero no município e da
região. Após retorno à escola os alunos realizaram relatório sobre o trabalhado no
bimestre, bem como a construção de um jogo pedagógico “na trilha do Egito”. Com a
analise do relatório foi possível diagnosticar que atividades interligadas facilitam o
ensino aprendizagem contribuindo para com o crescimento do conhecimento do aluno.
Palavras-chave: Ensino de História - Estudo do Meio - Ensino aprendizagem.
Introdução
Aprender é a única coisa de que a mente nunca se
cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende.
(Leonardo da Vinci)
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Atualmente a realidade brasileira passa por processos de transformações sociais,
políticos e educacionais, bem como as novas abordagens historiográficas, incentivam os
debates sobre a necessidade de inserção de novas metodologias, técnicas e conteúdos de
ensino de História, mudanças essas que se percebem através de novos projetos políticopedagógicos de ensino aprendizagem.
Portanto, para discutir o ensino de história nos dias atuais, necessário se fazem
rever os processos formativos que se desenvolveram em diferentes espaços, e pensar
novas práticas, formas e fontes de educar cidadãos, numa sociedade complexa marcada
por diferenças e desigualdades. A educação permeia processos complexos, através de
fatores culturais, econômicos, políticos e religiosos, que são refletidos na dinâmica do
saber pedagógico. O que se pretende, é ultrapassar a concepção de ensino como mera
transmissão de conteúdos, e desenvolver um ensino que tenha como pressuposto a
investigação e a produção de conhecimentos por professores e alunos no espaço escolar,
oportunizar aos alunos a possibilidade de participar do processo do fazer, do construir a
História.
O professor deverá selecionar uma fonte histórica a qual o aluno deverá ser
capaz de extrair informações, posteriormente deverão avaliar criticamente de acordo
com procedimentos habituais que os historiadores utilizam ao fazer as criticas as fontes.
É importante comparar criticamente as fontes e reconhecer que o valor que elas
têm é determinado pelas perguntas (questionamentos) que fazemos sobe os dados que
oferecem sobre sua origem.
O ensino de História para ser útil e motivador, deve ter o objetivo de
desenvolver o pensamento crítico e a capacidade de envolver os alunos e professores
como autores e atores, agentes do processo. As problemáticas estudadas deverão estar
em consonância com a realidade sócio-cultural em qual o aluno se encontra.
O ensino de história deve respeitar as diferenças entre pessoas e povos,
diferentes textos e contribuir para a formação do cidadão, a fim de que possa ser capaz
de participar conscientemente da formação da sociedade e do mundo em que está
inserido. Considerando-as um elemento importante da vida democrática, visando
desenvolver a competência leitora, aprender a observar interpretar, emitir opiniões
sobre. Assim, quando o cidadão tem consciência da sua importância, ajuda a construir
um mundo melhor e isso forma a consciência histórica.
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Discussão teórica:
O ensino de história requer práticas e sistematização estruturada dos conteúdos
trabalhados em sala. O professor reflexivo busca alternativas que valorizem o
aprendizado de seus alunos.
Os conteúdos ao serem sistematizados são trazidos para discussão em sala de
aula e posteriormente planeja-se um estudo do meio objetivando desenvolver no aluno o
saber histórico pautado no presente.
O discurso sobre consciência histórica inclui a racionalidade nos
procedimentos de produção de sentido do espírito humano. Ele está
especialmente interessado naqueles modos de representação que dão ao
passado a forma distintiva de história. Além disso, ele tematiza o impacto da
história nas perspectivas futuras da vida humana. De modo resumido, pode-se
dizer que a memória apresenta o passado em um interrelacionamento mais
explícito com o presente, guiado por conceitos de mudança temporal e por
reivindicações de verdade; ele reforça especificidade temporal do passado
como uma condição para sua relevância no presente. (RUSEN, 2009, p. 165).
A escola é um espaço de construção de saberes encontro de sujeitos
mediatizados pelo professor
Prats (2006) destaca que é preciso que os alunos saibam reconhecer convenções
temporais cotidianas, que vão desde o “antes” e o “depois de” até as divisões clássicas
da História, ou estrutura secular, a origem convencional dos calendários.
Para que o aluno compreenda os fatos e consiga situá-los em seu contexto é
necessário saber localizar alguns acontecimentos simples em uma sequência temporal e
utilizar convenções cronológicas adequadas mediante o uso de linhas e outras
representações gráficas. Por isso o professor deverá saber situar alguns acontecimentos
causas e conseqüências em ordem de importância.
É em torno do conceito de mudança que se destaca esse objetivo de História, os
alunos devem chegar a demonstrar uma compreensão clara do conceito de mudança em
diferentes períodos de tempo e reconhecer algumas complexidades inerentes a idéia
mudança no momento de explicar problemas históricos.
O aluno deverá entender a importância das mudanças dos diferentes ritmos de
mudança, dos períodos de média, curta e longa duração.
O estudo de história tem nesse objetivo levar os alunos a reconhecerem que as
pessoas influenciam sobre um problema histórico e de as fontes de pesquisa são
variadas.
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Devem ainda reconhecer que a História em sua complexidade é provisória que
novos fatos e fontes podem surgir para explicar um problema histórico.
A aula de história é o momento em que, ciente do conhecimento que possui,
o professor pode oferecer a seu aluno a apropriação do conhecimento
histórico por um esforço e uma atividade com a qual ele retome a atividade
que edificou esse conhecimento. (SCHIMIDT, 2004, p.31).
A atividade se pautou por três momentos
Desenvolvimento
Planejamento
Avaliação.
O Planejamento se deu de forma conjunta com os alunos após eles terem acesso
ao conteúdo. Após realização do Planejamento os alunos desenvolveram as atividades
de construção de forma lúdica bem como a visita in locu.
Com a ação planejada, executada ou levada a bom termo, certamente
proporciona não só a emancipação do professor, mas conduz o educando a um exercício
em que o mesmo pensa por si só e age alicerçado numa conduta esperada ou desejada
pela ação proposta.
A avaliação se deu com a construção do relatório e do jogo “na trilha do Egito”.
Refere-se a um jogo de tabuleiro para se avançar casas. Joga-se os dados e o número
que aparece será o de avanço, há considerações em relação aos sujeitos do Egito (faraós
– escribas – soldados – camponeses – escravos), onde o jogador de forma lúdica
problematiza as relações sociais políticas, religiosas e econômicas reproduzidas por
esses sujeitos.
Segundo Perrenoud (1999), a avaliação da aprendizagem, é um processo
mediador na construção do currículo e se encontra intimamente relacionada à gestão da
aprendizagem dos alunos.
Para que o processo ensino-aprendizagem aconteça é necessário seguir um
método uma maneira de ordenar a ação seguindo os objetivos traçados.
Para Nérici (1977):
... Método etimologicamente, quer dizer caminho para se chegar a um fim,
para se alcançar um objetivo; representa a maneira de conduzir o pensamento
e as ações para atingir uma meta pré-estabelecida. É, também, a disciplinação
do pensamento e das ações, para se obter maior eficiência no que se deseja
realizar, pois pensar ou agir sem método, quase sempre, resulta em perda de
tempo e de esforços. (p.247).
Quando se age sem organização, sem método, tende-se a não colher os frutos,
que na verdade são os objetivos propostos em função de uma ação eficiente.
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A educação é um processo constante em nossas vidas. Desde a geração até o
envelhecimento nos educamos. A forma como o indivíduo se organiza para aprimorar
sua educação, deve então ser entendida como metodologia. Quer dizer, tanto a
educação, quanto o modo de agir disciplinadamente, com técnica e organização fazem
parte do nosso cotidiano.
Desta forma consegue-se abstrair que educação e método/ metodologia
caminham juntos.
Há nesse panorama uma situação que busca incessantemente a mudança, seja no
âmbito escolar e também no profissional. Entendemos que o professor deve procurar
meios para enfrentar a crise paradigmática que assola a vida dos nossos jovens e que
também prevaleça o interesse em buscar novas metodologias pedagógicas, que
permitam uma visão interdisciplinar, abolindo a segmentação do ensino e na escola.
No texto, encaminhado aos professores pelo Ministério da Educação e do
Desporto, em que há a apresentação dos Temas Transversais, pela secretaria de
Educação Fundamental lemos:
... Objetivos do ensino... os alunos sejam capazes de: compreender a
cidadania, como participação social e política; posicionar-se de maneira
crítica, responsável e construtiva... conhecer características fundamentais
do Brasil, nas dimensões sociais, materiais e cultuais... conhecer e
valorizar a pluralidade do patrimônio sócio-cultural brasileiro; perceber-se
integrante, dependente e agente transformador do ambiente; utilizar
diferentes linguagens do ambiente... (p.07).
Relato da prática pedagógica:
Para um primeiro contato com a história do Egito Antigo com a unificação dos
reinos, as relações de poder das dinastias, a sociedade, a economia, a cultura, as áreas do
conhecimento desenvolvidas, e a religiosidade procuraram levar os alunos no contato
com fontes bibliográficas o conhecimento dessa civilização que tanto contribuiu com a
história da humanidade
O segundo momento se deu a partir da discussão de um documentário da BBC
“A história Oculta do Egito”, onde os alunos puderam perceber algumas
particularidades da vida de pessoas comuns no Egito como a alimentação, o vestuário, a
maquiagem, a greve dos trabalhadores em uma construção no Vale dos Reis e
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principalmente com a religiosidade e a sua relação com a natureza, a partir de uma
relação passado e presente.
Após toda essa sensibilização os alunos construíram miniaturas de sarcófagos e
múmias os quais foram expostos na sala e no intervalo foi feito uma exposição para toda
a escola em seguida participaram de uma saída de campo no Acervo Egiptologia em
Ponta Grossa esse acervo reúne réplicas de peças egípcias das mais variadas utilidades
ligadas à economia, a vida social e privada, adereços em geral também podemos ver em
exposição objetos que representavam a religiosidade como estatuetas dos deuses
egípcios, ritual de mumificação, e um sarcófago, o acervo conta também com uma
máscara funerária original, a responsabilidade é do arqueólogo Moacir Elias Santos.
Após visualizar as peças acompanhados da monitoria do arqueólogo os alunos
foram orientados a reproduzir uma das peças da exposição e um jogo Na trilha do Egito
que repassa alguns momentos marcantes da história desse povo.
Estudo do Meio:
Estudo do Meio é uma técnica de ensino que se realiza por meio da pesquisa. A
compreensão mais elaborada da problemática da prática social se faz com pesquisa de
vários
tipos,
utilizando
instrumentos
metodológicos
diversos,
registrando
e
interpretando a realidade e propondo alternativas para as situações analisadas.
Feltran & Feltran Filho (2007) apontam que o estudo do meio não deve ser
entendido como fim em si mesmo, mas como técnica a serviço de fins claramente
definidos.
Marc Ferro, já o anunciava em um trecho, muito significativo para aqueles que
se dedicam a pensar sobre ensinar e aprender História nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental:
...não nos enganemos: a imagem que fazemos de outros povos, e de nós
mesmos, está associada à História que nos ensinaram quando éramos
crianças. Ela nos marca para o resto da vida. Sobre essa representação, que é
para cada um de nós uma descoberta do mundo e do passado das sociedades,
enxertam-se depois opiniões, ideias fugazes ou duradouras, como um amor
[...] mas permanecem indeléveis as marcas das nossas primeiras curiosidades,
das nossas primeiras emoções. (FERRO, 1983, p.11).
As reflexões realizadas a partir das ideias preconizadas por Ferro priorizam, na
maioria das vezes, aspectos acerca “do que” e “como ensinar” e, relega a um segundo
plano, ou até mesmo desconsideram que está explícito o fato da aprendizagem da
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História se relacionar com um processo de descobertas, impulsionado pela curiosidade
das nossas primeiras emoções, no intuito de conhecer o mundo, o passado e as
sociedades.
A formação contínua do professor é que irá respaldá-lo, para o bom desempenho
de sua função. Neste sentido, (VASCONCELLOS, 2002) afirma:
... A tarefa do professor é extremamente importante e complexa: deve estar
preparado para exercê-la, ou melhor, considerando que a prática é dinâmica e
aberta e que o professor não se propõe a realizar uma atividade mecânica e
repetitiva, deve estar constantemente se qualificando para exercê-la. Tal
qualificação, portanto, não se dá necessariamente a pior; pode-se dar antes
(reflexões para a ação), durante (reflexão na ação) e após a prática (reflexão
sobre a ação e sobre a reflexão para e na ação). Mesmo que saiu dos melhores
centros universitários sabe que não domina tudo o que a atividade educativa
exige, tendo necessidade de aprimoramento contínuo... (p. 123).
A atividade escolar é um processo planejado, intencional e dirigido ao educando,
com o objetivo de transformá-lo num cidadão crítico, criativo e feliz.
A pesquisa é essencial em história, pois leva o aluno a uma reflexão critica sobre
determinada realidade histórica.
Considerações Finais
Cabe ao professor e tão somente a ele a tarefa de contribuir para a construção do
conhecimento de cada um e ainda através de sua análise e sua inserção positiva permitir
que os alunos desenvolvam-se integralmente buscando sempre valorização do
indivíduo.
A atividade de Pesquisa participante foi significativa no processo de construção
do conhecimento dos alunos acerca da temática apresentada.
Educando e educadores constroem junto o conhecimento de forma
emancipatória. Por meio da práxis do estudo do meio houve a apropriação do
conhecimento.
A função do professor é permitir o acesso a uma formação cultural e científica
de qualidade, permitindo todos, indiscriminadamente, meios para a efetivação desta tão
propalada formação. Não podemos também dizer que a escola cumpre um papel de
maneira individual, não. Ela hoje é parceira de outros segmentos sociais e não pode
dissociar destes, pois não se constrói de maneira individual. Hoje há necessidade de
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inúmeras parcerias, o que legitima a verdadeira função escolar. O professor tem que
estar adequada a novas exigências educacionais.
A relação entre ensino-aprendizagem se faz presente de uma maneira
harmoniosa quando o ensino apresenta métodos alternativos.
Consideremos que toda a atividade desenvolvida desde o planejamento até a
execução da visita e o retorno para sala de aula finalizando o ciclo do aprendizado
naquele momento foi muito significativo, tanto para os alunos como para nós docentes.
...ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela
qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e
acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus
sujeitos apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de
objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina
ao aprender... (FREIRE, 2004, p. 23).
Optamos por finalizar com essa consideração de Paulo Freire e pontuamos que o
conhecimento nunca é acabado ele se constrói a cada momento e com certeza os alunos
sempre terão na memória essa atividade lúdica e ao mesmo tempo de conteúdo.
REFERÊNCIAS
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nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/ SEF, 1997.
FELTRAN, R.C.S e FELTRAN FILHO, A. Estudo do Meio. In: VEIGA, I. P. A.
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FREIRE, Paulo, Pedagogia da autonomia. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.
NÉRICE, I. G. Ensino Renovado e Fundamental, 2ª Edição, Editora Nobel, São
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1973.
PERRENOUD, Philippe. Avaliação – da excelência à regulação das aprendizagens
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RÜSEN, Jörn. Razão histórica: teoria da história: os fundamentos da ciência histórica.
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SULAIMAN, Samia Nascimento; TRISTÃO, Virgínia T. Estudo do Meio: uma
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VASCONCELLOS, C. dos S. – Coordenação do trabalho pedagógico – Do projeto
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história no ensino fundamental regular: relato de experiência