Soil physics characterization of agricultural
wetlands
M. R. Marques, M. Vilanculos & J. Mafalacusser
Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM)
December 2006
Projecto de Maneio de Risco, Mitigação dos Efeitos
da Seca, e de Melhoramento do Uso de Água na
Produção Agrícola na Bacia do Limpopo
(IIAM/UEM-FAEF/WATERNET – CP17)
CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS DE HISTOSSOLOS
(SOLOS ORGÂNICOS HIDROMÓRFICOS – MACHONGOS) DA REGIÃO DO BAIXO
LIMPOPO – DISTRITO DE XAI-XAI: MANEIO, NECESSIDADES DE DRENAGEM E
CONSERVAÇÃO DA ÁGUA E DA FERTILIDADE DOS SOLOS
Por:
M. R. Marques, M. Vilanculos e J. Mafalacusser
IIAM/DARN
Maputo, 2006
Instituto de Investigação Agrária de Moçambique, Direcção de Agronomia e
Recursos Naturais (IIAM-DARN)
Projecto de Maneio de Risco, Mitigação
dos Efeitos da Seca, e de Melhoramento
do Uso de Água na Produção Agrícola
na Bacia do Limpopo (IIAM/UEMFAEF/WATERNET – CP17)
Região Agrícola do Baixo Limpopo –
Distrito de Xai-Xai
Relatório Preliminar do Projecto
Caracterização das Propriedades Físicas e Químicas de Histossolos (Solos Orgânicos
Hidromórficos – Machongos) da Região do Baixo Limpopo – Distrito de Xai-Xai:
Maneio, Necessidades de Drenagem e Conservação da Água e da Fertilidade dos Solos
IIAM/DARN
Maputo, 2006
ESTUDO DOS MACHONGOS DA REGIÃO
DESENVOLVIMENTO HIDRO-AGRÍCOLA
DO
BAIXO LIMPOPO
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ÍNDICE
1
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1
1.1
1.2
1.3
1.4
2
MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................................... 7
2.1
2.2
3
GERAL ........................................................................................................................ 1
LOCALIZAÇÃO ............................................................................................................ 2
ÂMBITO DO ESTUDO ................................................................................................... 3
OBJECTIVOS ............................................................................................................... 5
DOCUMENTAÇÃO DE BASE.......................................................................................... 7
LEVANTAMENTO DE CAMPO ....................................................................................... 8
BREVE CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO ........................ 11
3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS ....................................................................................... 11
3.2 CLIMA ...................................................................................................................... 11
3.2.1 Precipitação...................................................................................................... 12
3.2.2 Temperatura do ar ............................................................................................ 14
3.2.3 Humidade relativa do ar................................................................................... 15
3.2.4 Evaporação ....................................................................................................... 15
3.2.5 Evapotranspiração potencial ........................................................................... 15
3.3 GEOMORFOLOGIA ..................................................................................................... 18
4
SOLOS .......................................................................................................................... 20
4.1 SOLOS ALUVIONARES NÃO HIDROMÓRFICOS (FLUVISSOLOS FS) ................................ 20
4.2 SOLOS HIDROMÓRFICOS ORGÂNICOS (HISTOSSOLOS – FT)......................................... 21
4.3 SOLOS SALGADOS E SÓDICOS (FLUVISSOLOS - FAZ) .................................................. 24
4.3.1 Salinização secundária ..................................................................................... 24
4.3.2 Sodicidade ........................................................................................................ 26
4.4 MAPA DE SOLOS E LEGENDA .................................................................................... 29
4.4.1 Solo Aluvionares Estratificados - Fs ................................................................ 30
Subsolo (média) .......................................................................................................... 31
4.4.2 Solos Aluvionares Argilosos - Fa ..................................................................... 31
4.4.3 Solos Hidromórficos Orgânicos (Solos Turfosos - Machongos) - Ft ............... 32
Figuras
Figura 1: Localização da área de estudo, correspondendo à Zona 1 - Machongos (Fonte:
COBA, 2003)
4
Figura 2: Mapa de localização dos vários blocos de drenagem e regadio da Região do Baixo
Limpopo (Fonte: COBA, 2003)
4
Figura 1: Vista da Região do Baixo Limpopo, a partir da encosta da serra, seguida dos
machongos onde se observam as parcelas de produção
5
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Figura 2: Mapeamento de recurso de terra da região do Baixo Limpopo, fundamental para o
zoneamento agrícola e gestão sustentável da base dos recursos agrícolas
6
Figura 3: Mapa de localizacao de observacoes
9
Figura 6: Distribuição da precipitação média mensal
133
Figura 7: Distribuição da precipitação pelas estações do ano ............................................ 133
Figura 8: Evolução mensal das médias das temperaturas máxima, mínima e média para XaiXai .............................................................................................................................. 144
Figura 9: Precipitação e evapotranspiracao mensal da estacao de Xai-Xai ........................ 177
Figura 4: Corte esquemático do Vale do Limpopo podendo observar-se as diferentes
unidades fisiográficas, com a zona de machongos ao longo da encosta da Serra
19
Fotos
Foto 1: Vista de uma das principais infra-estruturas que serve o esquema geral do regadio,
um dos grandes colectores de drenagem, o Rio Umbape. .............................................. 1
Foto 2: Assim como no caso anterior, outra das principais limitantes em termos de acesso,
era o grau de inundação e encharcamento dos terrenos. ................................................. 8
Foto 3: O acesso a muitos dos blocos apresentava um grau de dificuldade elevado devido ao
porte do caniço, vegetação dominante.. .......................................................................... 8
Foto 4: Após o regresso do campo, procedia-se à determinação do pH e salinidade das
amostras de solo recolhidas nos frascos. .................... Error! Bookmark not defined.0
Foto 5: Um dos perfis abertos na planície aluvionar, onde estão localizados os blocos de
rega, podendo ver-se no fundo da cova o nível de água do lençol freático .................. 10
Foto 6: Sondagem na turfa podendo observar-se a estratificação de camadas de turfa e
húmus à profundidade de 1 a 2 m ................................................................................. 22
Tabelas
Tabela 1: Valores da precipitação média mensal para a Estação de Xai-Xai ..................... 127
Tabela 2: Temperaturas médias mensais para a estação de Xai-Xai. ................................... 14
Tabela 3: Evaporação total mensal e evapotranspiração mensal (mm) para Xai-Xai .......... 16
Tabela 4: Relação Precipitação/Evapotranspiração mensal, e ETP/2, Estação de Xai-Xai.. 16
Tabela 5: Duração e frequência dos períodos de crescimento para Xai-Xai, . ..................... 22
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1
INTRODUÇÃO
1.1
GERAL
O Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), no âmbito da implementação
do Projecto de Maneio de Risco, Mitigação dos Efeitos da Seca, e de Melhoramento do Uso
de Água na Produção Agrícola na Bacia do Limpopo (WATERNET – CP17), em parceria
com a Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal da Universidade Eduardo Mondlane
(UEM), com o Projecto de Reabilitação Agrícola do Sector Familiar e da Barragem de
Massingir (MDSAR), a Direcção Provincial de Agricultura de Gaza (DPA), e a Direcção
Distrital de Agricultura de Xai-Xai (DDA), decidiram realizar um estudo de actualização da
informação sobre as principais características físicas e químicas dos solos hidromórficos
orgânicos, localmente designados por “machongos” e elaborar um plano estratégico de
utilização e desenvolvimento sustentado das terras agrícolas da Região do Baixo Limpopo,
na Província de Gaza, em Moçambique.
Foto 1: Vista de uma das principais infra-estruturas que serve o esquema geral do
regadio, um dos grandes colectores de drenagem, o Rio Umbape, que limita o vale
aluvionar e a zona dos machongos.
Neste propósito, deverá actualizar e determinar as condições e limitantes ao
desenvolvimento da produção agrícola irrigada, necessárias ao aumento da eficiência e da
competitividade do sector agrícola na região, tendo ainda presentes os principais sistemas
de produção e tipos de utilização de terra traduzidos no uso actual e potencial do recurso de
terra.
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O presente estudo pretende assim contribuir para um melhor conhecimento sobre a
realidade dos recursos de solo e água da região, como forma de responder a questões como:

primeiro, em que condições a região agrícola do Baixo Limpopo poderá ser competitiva
de uma forma sustentável no contexto regional?;

segundo, que projectos de investimento empresariais e públicos - para além dos que já
estão previstos no âmbito da reabilitação e reconstrução da infra-estrutura do regadio serão necessários para desenvolver esse potencial competitivo?
1.2
LOCALIZAÇÃO
A região em estudo, localiza-se na Província de Gaza, Distrito de Xai-Xai, a sensivelmente
5 km de distância da cidade de Xai-Xai, capital de distrito e da província. Grande parte da
área de estudo é dominada pela vasta planície aluvionar, e de inundação do Rio Limpopo,
região mais vulgarmente conhecida por Baixo Limpopo. O Rio Limpopo atravessa o distrito
na parte central e na direcção N-S, desaguando no Oceano Índico, 20 km a SW da cidade de
Xai-Xai. Trata-se de uma região onde a concentração da população é muito alta, devido à
importância sócio-económica da cidade de Xai-Xai, principal ponto de atracção e
responsável pelo crescente fluxo da população rural (detalhes da localização da área de
estudo apresentados na Figura 1).
A produção agropecuária do distrito é largamente dominada pelas produções de culturas
alimentares do sector familiar, constituindo a principal actividade sócio-económica do
distrito. As principais culturas produzidas são o milho, arroz, amendoim, feijão nhemba,
feijão boer, mandioca e batata doce. O sector privado é responsável por pequenas produções
de hortícolas com destaque para o tomate, cebola, alho e repolho, embora se verifique
algum crescimento nas áreas de produção de culturas como o milho e o arroz, e do grupo de
hortícolas.
A seguir ao distrito do Chókwè, é no distrito de Xai-Xai que se localiza o segundo maior
perímetro irrigado da província, ao longo da margem esquerda do Rio Limpopo, que
segundo vários autores (SOGREAH, 1993; Selkhozpromexport, 1984), totaliza
aproximadamente 8.000 ha de terras irrigáveis, desde as proximidades de Magula,
Chimbonhanine, Ponela e a cidade de Xai-Xai, compreendendo as terras da planície
aluvionar ou do vale. A restante área localizada entre os colectores ou valas de drenagem
principais de Inhacungo e Umpabe, e as encostas do circundante planalto arenoso (Serra),
de origem eólica, é caracterizada pela ocorrência de solos turfosos, machongos, com o
lençol freático à superfície, com cerca de 4.000 ha, sendo potencialmente utilizáveis para a
rega recorrendo ao maneio da profundidade do lençol freático para manutenção da
humidade do solo. O regadio em geral é conhecido por Regadio de Xai-Xai.
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Figura 5: Localização da área de estudo, correspondendo à Zona 1 - Machongos
1.3
ÂMBITO DO ESTUDO
De acordo com o programa de actividades constantes na componente Estudos Pedológicos,
há a considerar no contexto da Região do Baixo Limpopo e no que respeita às
possibilidades de utilização e desenvolvimento agrícola, dois tipos de intervenções em duas
Fases distintas (Figura 2). A Fase 1 considera na íntegra o aproveitamento e
desenvolvimento dos solos hidromórficos orgânicos, designados de Machongos, através do
redimensionamento e reabilitação do sistema (infraestrutura) de drenagem já existente,
integrando cerca de sete blocos de produção agrícola irrigada, perfazendo cerca de 4.738 ha
(COBA et al., 2003), nomeadamente:
(i) Nhancutze (701 ha),
(ii) Poiombo (339 ha),
(iii) Siaia (781 ha),
(iv) Nhocoene (922 ha),
(v) Chongoene (538 ha),
(vi) Fidel Castro (924 ha), e
(vii) Inhamissa (533 ha).
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A Fase 2 considera o redimensionamento e reabilitação do sistema e infra-estrutura do
regadio do Baixo Limpopo, área adjacente aquela ocupada pelos Machongos e ocorrendo na
planície de inundação do rio Limpopo, no seu sector mais a jusante, pertencente à região do
Baixo Limpopo, ocupada pelos solos da planície aluvionar. Esta planície compreende solos
deltaicos e ainda para-deltaicos, em consequência das deposições dos materiais finos, com
elevado potencial de fertilidade, escuros a negros, profundos e planos. O perfil na sua
maioria é bastante homogéneo, argilo-limoso ou fortemente argiloso, com argilas plásticas e
pegajosas, e por isso impermeáveis. O vale aluvionar coberto pela infra-estrutura de rega e
drenagem totaliza os 2.970 ha (Marques et al., 2002).
Figura 6: Mapa de localização dos vários blocos de drenagem e regadio da Região do
Baixo Limpopo (Fonte: COBA, 2003)
Os blocos de regadio estudados incluem:
(i) Ponela I, e Ponela II (415 ha),
(ii) Chimbonhanine I, II, III e IV (803 ha),
(iii) Magula Sul, e Magula Este (1.641 ha).
A área servida pelo sistema de rega e drenagem, coberta pela Fase 2, será desenvolvida
inicialmente no Bloco Ponela, com cerca de 500 ha, assumindo que será a área de rega
piloto ou experimental que servirá de base de desenvolvimento e gestão a adoptar para o
regadio. De acordo ainda com o Projecto, a Fase 1 é considerada como prioritária em
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termos de aproveitamento e desenvolvimento agrícola, não só devido ao seu potencial
imediato, como dos custos envolvidos na gestão do sistema de drenagem, assumindo que a
fonte de água depende apenas da manutenção da profundidade do lençol freático na área
onde ocorrem os machongos.
Outra das oportunidades que se oferecem, é do acesso a este tipo de terras por parte dos
agricultores familiares, considerados como os utilizadores melhor vocacionados para a
utilização daqueles terrenos, recorrendo à rega por infiltração através do maneio da
profundidade do lençol freático.
1.4
OBJECTIVOS
O presente relatório preliminar diz respeito ao estudo de actualização de solos, cujo
objectivo fundamental é o de recolher e estruturar a informação necessária para apoiar e
sustentar a formulação de uma estratégia de desenvolvimento para a Região do Baixo
Limpopo, servida pelo regadio de Xai-Xai.
Figura 7: Vista da Região do Baixo Limpopo, a partir da encosta da serra, seguida dos
machongos onde se observam as parcelas de produção
O estudo visa, especificamente, a elaboração de um diagnóstico do potencial ecológico
(solos e água) de base da região do Baixo Limpopo, Distrito de Xai-Xai, e uma
caracterização da situação agrária (agricultura, pastagens, e recursos naturais) actual.
Na medida do possível tentaremos, desde já, avançar com alguns considerandos sobre
possíveis alternativas culturais e possíveis melhorias a introduzir na organização e gestão
dos sistemas agrários estudados.
Nesse contexto e segundo as áreas propostas de intervenção do projecto, foi planificado e
realizado o estudo de solos à escala detalhada, nas áreas dos solos orgânicos hidromórficos,
na escala semi-detalhada, tendo em consideração os seguintes objectivos:



Validar e mapear as diferentes unidades de solos que ocorrem na área de estudo,
Caracterizar as propriedades físico-químicas dos solos das diferentes unidades de
mapeamento, indicando as suas limitações para a produção agrícola irrigada,
Avaliar do potencial das unidades de solos e classificação da sua aptidão para a
produção irrigada de diferentes culturas,
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

Disponibilizar os parâmetros básicos e técnicos para dimensionamento do sistema
de rega e drenagem, em função das características físicas dos solos e dos objectivos
de produção,
Elaborar as recomendações para o maneio de solo, água e planta, tendo presentes os
riscos resultantes de potenciais toxicidades ou de outras limitantes, como a
mineralização e acidificação dos solos orgânicos.
Tendo presentes tais elementos, pretende-se contribuir com conhecimento actual para
melhorar a gestão do recurso terra, salvaguardando o uso potencial e reduzindo as
possibilidades de degradação dos recursos. Considerando ainda a extensão da área, acesso,
proximidade de recursos hídricos, diferentes interesses sócio-económicos na perspectiva
dos utilizadores de terra e agricultores, e de outros agentes económicos importantes quanto
ao uso de um mesmo recurso e espaço (solo), o ordenamento do território é um processo de
gestão proactiva de conflitos que, ao ser capaz de explicitar as regras de um bom uso do
solo, evita o defraudar de expectativas ou a criação de especulações sobre o seu uso.
O objectivo central do ordenamento deve
ser, sempre, o da melhoria do bem comum.
No caso da agricultura a indefinição do uso
do solo gera, com muita frequência, um
modo de actuação deplector/destruidor (do
tipo do observado na indústria extractiva)
e/ou uma pressão especulativa nos preços
dos produtos, dos factores de produção, do
trabalho e da terra. Assim, a actualização
do conhecimento de um recurso como os
machongos e seu mapeamento, associado à
descrição detalhada das suas principais
caracterísitcas e qualidades é fundamental
na planificação do seu uso e
desenvolvimento.
Figura 8: Mapeamento de recurso de terra da
região do Baixo Limpopo, fundamental para o
zoneamento agrícola e gestão sustentável da
base dos recursos agrícolas.
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MATERIAIS E MÉTODOS
2.1
DOCUMENTAÇÃO DE BASE
Destaque para os diferentes estudos e respectivos relatórios e mapas realizados e
produzidos durante a vigência da assistência técnica soviética (Selkhozpromexport, 1984),
os quais são um inestimado contributo ao conhecimento e dinâmica dos solos, suas
propriedades físicas e químicas, e principais limitantes ao aproveitamento das terras da
região do Baixo Limpopo.
A sua consulta e revisão permitiram uma planificação, organização e amostragem de campo
cuidada e selectiva. De igual importância se reveste o 1º Relatório de Acompanhamento
(Inception and 1º Monitoring Report), produzido no âmbito da revisão dos critérios de base
para definição das possíveis soluções alternativas (COBA et al., 2003), e integrado na
reabilitação da infra-estrutura de rega e drenagem de Xai-Xai.
Outros estudos foram consultados para a caracterização da região de estudo elaborados no
contexto de desenvolvimento hidro-agrícola do Baixo Limpopo (SEHA, 1984), e ainda de
outros estudos mais recentes no domínio de planeamento do uso de terra do território do
Distrito do Xai-Xai (INIA, 1994 e 1995), e do Projecto de Reabilitação da Barragem de
Massingir e do Sector Agrícola Familiar (acp/BKS/Impacto, 2002).
Uma série de investigações no domínio dos machongos documentados em relatórios
técnicos foram sistematicamente utilizados na comparação dos resultados e na actualização
das características físicas e químicas dos principais tipos de solos e das principais
toxicidades limitantes à sua utilização para fins agrícolas (Mafalacusser et al., 1997; INIA
1986; SANAQUA, 1982; Monteiro, 1957), e necessidades de maneio de água.
Como mapa de base foi utilizada a carta de solos anexo ao relatório dos soviéticos para a
região do curso inferior do Limpopo, Xai-Xai, e os mapas dos estudos pedológicos parciais
dos Regadios de Chimbonhanine e Magula, para além do ortofotoplano actualizado e no
formato digital da área de estudo com a infra-estrutura de rega e drenagem (COBA et al.
2003). Este último mapa no seu formato digital, foi utilizado de forma sistemática na
localização das observações de campo (geo-referenciadas), tendo permitido a análise e
estudo comparativo dos dados de alguns dos atributos de solo e sua distribuição espacial,
tendo para o efeito sido utilizado o GIS instalado no DTA (ILWIS 3.1).
Esta informação sistematizada no GIS e georeferenciada permite o monitoramento temporal
e espacial da evolução das principais toxicidades identificadas no passado ao nível do solo e
da água de rega, e melhor caracterizar e perspectivar a situação actual e o futuro em termos
da agricultura irrigada, considerando os níveis de salinidade, sodicidade e acidez no solo
arável da área de estudo.
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2.2
LEVANTAMENTO DE CAMPO
O levantamento de solos foi realizado de 19 de Maio a 19 de Junho de 2004 (27 dias úteis),
tendo nele participado os seguintes técnicos: dr. Mário Ruy Marques, Engos Moisés
Vilanculos, Jacinto Mafalacusser, e Clemente Macia, e os Assistentes Técnicos José da
Graça e Lázaro Muiambo, permitindo constituir 3 equipes permanentes.
Tendo em consideração os objectivos do estudo e natureza do terreno, optou-se por
conduzir o levantamento de campo sempre que possível com uma rede densa de
observações (sondagens), obedecendo a uma rede de 100m X 50m aproximadamente (entre
linhas e nas linhas), no caso dos machongos, passando a distância entre observações para
100 e 150m cada, ao entrar no vale e sempre que se verificasse alguma homogenidade no
perfil do solo com a profundidade. Nem sempre foi possível o acesso e circulação ao longo
da área, devido à altura da vegetação, principalmente o caniço, bastante alto, e a condição
de encharcamento e inundação actuais de uma parte dos blocos, tendo dificultado a
observação da malha e densidade de observações planificada, pelo que poderão ter ocorrido
ligeiros desvios não correspondendo ao espaçamento desejado, e o mais uniforme possível
(Fotos 2 e 3).
Foto 3: O acesso a muitos dos blocos
apresentava um grau de dificuldade elevado
devido ao porte do caniço, vegetação
dominante.
Foto 2: Assim como no caso anterior,
outra das principais limitantes em termos
de acesso, era o grau de inundação e
encharcamento dos terrenos.
No total, foram realizadas 766 sondagens, falando dos Blocos de Drenagem nos
Machongos, e nos Blocos de Regadio, i.e. Ponela, Chimbonhanine e Magula, na sua
maioria a uma profundidade entre 2,00 e 3,00 m, na turfa, e 1,20 m nos solos aluvionares.
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Conforme se pode observar no mapa de localização de observações (Figura 5), uma parte
considerável da área encontrava-se, à data do trabalho de campo, inundada ou coberta com
vegetação bastante densa.
Em cada observação foram recolhidas informações gerais sobre o terreno, tais como a
fisiografia, vegetação, uso de terra, declive, classe de drenagem, para além da descrição das
características morfológicas do solo, como a profundidade das diferentes camadas do solo,
cores da matriz e das manchas (utilizando o livro de cores Munsell), textura e consistência
do solo, presença de CaCo3, e profundidades do solo e do lençol freático.
Figura 9: Mapa de localizacao de observacoes
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A descrição geral do terreno e morfologia do solo foi feita com base no manual para
descrição do solo e codificação para o banco de dados (SDB) em uso do DTA (INIA, 1995).
Cada sondagem foi amostrada para fins de determinação no campo do pH (acidez) e
salinidade do solo (CE 1:2,5), às profundidades de 0 – 20 cm, 40 – 60 cm, e de 100 – 120
cm (Foto 4). Foram assim realizadas 1.981 leituras de valores de pH e salinidade.
Foto 4: Após o regresso do
campo, procedia-se à
determinação do pH e
salinidade das amostras
de solo recolhidas nos
frascos.
Cerca de 10% do total das sondagens foram
amostradas (cerca de 180 amostras), tendo sido
recolhidas amostras de solo para análises físicas e
químicas no Laboratório de Solos, Plantas e Água
do INIA. Para além das sondagens, foram abertos e
descritos dez perfis representativos das diferentes
unidades de solo identificadas durante o estudo de
campo (Foto 5).
Nos perfis abertos, foi feita a descrição
pormenorizada das características morfológicas do
solo, com base no manual de descrição de solos
(INIA, 1995). Foram recolhidas amostras de solo
para análises química (cerca de 40), tais como pH
(em H2O e em KCL), conductividade eléctrica,
bases trocáveis, carbonatos, matéria orgânica,
nitrogénio total e fósforo, e análises físicas tais
como textura e densidade aparente, no Laboratório
do INIA.
Foto 5: Um dos perfis abertos na
planície aluvionar, onde estão
localizados os blocos de rega, podendo
ver-se no fundo da cova o nível de
água do lençol freático.
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3
BREVE CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO
3.1
CARACTERÍSTICAS GERAIS
A região em estudo localiza-se no Distrito de Xai-Xai, Província de Gaza, a sul da margem
esquerda do Rio Limpopo, e cerca de 5 km da sua foz, cobrindo uma área perto de 12.000
ha, estendendo-se pela principal unidade fisiográfica que é a planície aluvionar do Rio
Limpopo (Vale), limitado a Este pelo planalto arenoso (Serra), de origem eólica, sendo a
transição entre estas duas unidades fisiográficas, localmente feita muitas vezes por encostas
declivosas. Por ser a característica dominante, influenciando directa e indirectamente, o
aproveitamento e desenvolvimento agrário, condicionado à natureza e formação dos solos,
para além de outros factores como o regime hídrico, são a geomorfologia, solos, e ecologia
aqueles factores que maior destaque assumem na caracterização da região.
3.2
CLIMA
Considerando a sua localização a Sul de Moçambique e no litoral, o Distrito de Xai-Xai é
influenciado por diferentes sistemas que condicionam o estado do tempo e diferenciam as
estações do ano, nomeadamente o sistema de Anticiclones dos Oceanos Índico e Atlântico,
pela célula continental de altas pressões (estação seca), e pela depressão continental de
origem térmica (estação das chuvas). Ainda pela sua localização geográfica e talvez dos
factores mais importantes, o distrito está exposto à acção de sistemas frontais e
depressionários que transportam massas de ar polar marítimo responsáveis pelas chuvas e
aguaceiros em plena estação fresca e tradicionalmente seca, assim como chuvas e trovoadas
na estação das chuvas.
O relevo sem expressão e pouco acentuado tem pouca ou nenhuma influência sobre o clima
da região, podendo contudo exercer maior efeito a nível micro-climático. Dos principais
factores que exercem maior influência no clima é a sua proximidade do oceano, em
particular sobre a temperatura do ar, humidade do ar, precipitação e evapo-transpiração.
Em termos gerais podemos afirmar que o clima do distrito de Xai-Xai, segundo Reddy
(1986, 1984) é do tipo sub-húmido, caracterizado por grandes variações pluviométricas ao
longo do ano e entre os anos, por conseguinte com uma agricultura de sequeiro de baixo a
moderado risco. A precipitação média anual ronda os 1000 mm, ocorrendo, essencialmente,
de Novembro a Março e a evapotranspiração de referência média anual varia entre 1200 e
1500 mm. Este regime pluviométrico permite apenas um período de crescimento com uma
duração estimada em cerca de 120 dias (número de dias húmidos, R>ETP), apresentando a
região um risco moderado de perda de colheita para as culturas de sequeiro. Segundo Reddy
(1985), a probabilidade de ocorrência de secas nestas áreas e de perda das colheitas na
região era inferior a 30%, considerando o mês Fevereiro o mais seguro em termos de
probabilidade de sucesso da sementeira. A temperatura média anual varia entre 22.5 oC e
24oC, e o risco de ocorrência de geadas é nulo, mesmo durante a época fria.
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O distrito foi severamente afectado pelas recentes cheias de 2000, de cuja magnitude não
havia registo nem memória viva, tendo afectado severamente a vida económica e o tecido
social e a moral do distrito.
Feita esta breve descrição genérica do clima da região, passamos de seguida a um estudo
mais pormenorizado com base nos dados da Estação Meteorológica de Xai-Xai.
3.2.1 Precipitação
Uma das principais características do regime de chuvas do distrito é a sua irregularidade e
variabilidade. A precipitação média anual para Xai-Xai é de 1003 mm, apresentando um
CV de 33%, enquanto que o CV da precipitação média mensal para todos os meses é
superior ou igual a 66%, sendo superior a 100% nos meses de Fevereiro, Maio e Setembro.
Ainda ao nível do distrito, o padrão de distribuição da precipitação média anual é
influenciado pela distância da costa, registando-se valores mais altos na zona a Este (1000 a
1100 mm), comparativamente às zonas a noroeste e central (750 a 850 mm).
Quadro 1: Valores da precipitação média mensal para a Estação de Xai-Xai
JJAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ ANO
Precipitação média (mm)
123 10101106
147
96
78
55
47
35
37
59
95
124
1002
O início do período húmido (estação das chuvas), resultado de maiores precipitações após a
estação fresca e seca, um dos parâmetros mais irregulares e imprevisíveis do regime actual
de chuvas da região em estudo, ocorre mais cedo ao longo da costa (Out-Nov), e mais tarde
nas regiões do interior (Nov-Dez). Em Xai-Xai os maiores valores de precipitação ocorrem
nos meses de Novembro a Março, sendo os meses de Dezembro e Fevereiro os mais
chuvosos. Os dados disponíveis mostram ainda que para Xai-Xai se verifica em média um
decréscimo na precipitação durante o mês de Janeiro. A estação seca tem o seu início em
Maio e estende-se até Outubro, sendo os meses de Abril e Setembro considerados de
transição. Os meses mais chuvosos durante a estação seca são Julho, Agosto e Setembro.
Assim, podemos observar que existem dois períodos bem distintos quanto à queda
pluviométrica, a estação das chuvas ou húmida, onde ocorrem 75% da precipitação total,
entre Outubro e Abril, e a estação seca, de Maio a Setembro, com 25% do total de
precipitação.
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Precipitação (mm)
150,0
125,0
100,0
75,0
50,0
25,0
0,0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun
Jul Ago Set Out Nov Dez
Precipitação mm
Figura 10: Distribuição da precipitação média mensal
No período de Novembro a Março podem ocorrer valores altos de intensidade de
precipitação com os consequentes riscos de inundação e alagamento dos solos
imperfeitamente drenados. O mesmo ocorre nos meses mais chuvosos do período seco, de
Julho a Setembro, particularmente nos últimos anos após as cheias de 2000, em que é
comum a queda de chuvas intensas durante vários dias e ao longo de várias semanas,
dificultando o acesso às terras do vale devido às condições de alagamento temporário dos
solos.
Estação
seca
25%
Estação
húmida
75%
Figura 11: Distribuição da precipitação pelas estações do ano
Para a estação de Xai-Xai o número médio de dias chuvosos é de 106 por ano, enquanto em
termos mensais o número médio de dias de chuva varia de 6 dias no mês de Setembro, e 12
dias nos meses de Janeiro e Fevereiro. O número médio mensal de dias com chuvas
superiores a 10 mm varia de 0.9 em Setembro e 3.6 em Fevereiro.
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3.2.2 Temperatura do ar
Na área de estudo, a média das temperaturas médias varia de 18,4°C e 26,4 oC. A amplitude
da temperatura média mensal ao longo do ano varia na faixa dos 7-8 oC. Para toda a região,
os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro são aqueles que registam as temperaturas
médias máximas mais elevadas, e os meses de Junho e Julho o período de temperaturas
médias mínimas mais baixas. As temperaturas máxima e mínima absolutas observadas no
Xai-Xai foram de 43.8 oC e de 3.5 oC respectivamente. Na região, as temperaturas médias
mínimas variam entre 12 a 22 oC, e as médias máximas de 25 a 32 oC (Quadro 1). A
variação das temperaturas médias mensais pode ser observada na Figura 8.
Quadro 2: Temperaturas médias mensais para a estação de Xai-Xai
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
Temp. mínima
21,2 21,4 20,2 18,0 14,7
Temp. média
26,3 26,3 25,3 23,6 20,9
Temp. máxima
31,3 31,1 30,4 29,3 27,2
Fonte: Base de dados da FAO – Kassam et al. 1981
JUL
12,2
18,7
25,3
11,4
18,3
25,2
AGO
SET
13,0
19,7
26,5
15,0
21,5
28,0
OUT
17,4
23,4
29,4
NOV
19,0
24,5
30,1
DEZ
ANO
20,4
25,8
31,3
17,0
22,9
28,8
As amplitudes médias diárias da temperatura do ar localizam-se entre os 9 e os 15 oC, sendo
os valores mais elevados registados nas áreas localizadas no interior do distrito. Assim, nas
zonas do interior, as temperaturas médias são sempre superiores às registadas para Xai-Xai,
como resultado da influência oceânica em Xai-Xai e na costa em geral, atenuando as
temperaturas.
Em termos de classificação de zona térmica (Kassam et al., 1981), a região do distrito de
Xai-Xai faz parte da zona classificada como moderadamente quente – moderadamente
fresca, considerando que a média das temperaturas médias varia de 18,4°C e 26,4°C, i.e.
temperatura na época de crescimento.
Figura 12: Evolução mensal das médias das temperaturas máxima, mínima e média
para Xai-Xai
ºC
40,0
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
JAN FEV MAR ABR MAI
Mínima
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Média
Máxima
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3.2.3 Humidade relativa do ar
Em estudos mais gerais e eventualmente considerando regiões de grande dimensão, é
observada a tendência de diminuição da humidade relativa com o afastamento da costa, no
sentido S-N, e pelas amplitudes diárias de temperatura. A humidade relativa média anual é
maior na região Este (80.5% em Chongoene). A HR média mensal no interior, na região de
Maniquenique, varia entre 61 e 69%, com os valores mais baixos registados em Setembro Outubro e, os mais elevados em Fevereiro - Março. No caso de Xai-Xai, os valores variam
de 64% a 74%, com idêntica variação mensal relativamente à estação de Maniquenique. É
possível que a proximidade do rio também contribua para índices mais elevados de
humidade como no caso do Xai-Xai. Nesta região observa-se a maior amplitude de variação
anual, atingindo os 15% de diferença, comparativamente às outras sub-regiões, que
registam amplitudes menores (10%).
Nos meses de Junho a Agosto, com maior incidência no vale do rio e outra zonas baixas,
ocorrem nevoeiros matinais que apesar de não quantificado (em termos de água e
contribuição no balaço hídrico), aparenta ser benéfico para o crescimento das plantas, e que
eventualmente merecerá ser considerado.
3.2.4 Evaporação
A evaporação, definida como a transferência do valor de água da superfície terrestre para a
atmosfera depende de factores locais, muitos dos quais não são apenas meteorológicos, p.e.
cobertura do solo, temperatura do solo, disponibilidade de água no solo, e
localizacão/exposição geográfica, para além da condição atmosférica do momento e do
local, p.e. vento, humidade relativa e temperatura do ar. Em termos meteorológicos
procede-se à medição de uma grandeza relacionada com a evaporação, designada por
evaporação potencial, medida a partir de um recipiente permanentemente com água, o
evaporímetro.
Em função da sua localização e condição, Xai-Xai apresenta valores médios mensais de
evaporação potencial mais baixos do que as estações do interior, para realçar a importância
relativa da proximidade do ar (elementos climáticos temperatura, vento e humidade relativa
do ar). Os valores médios máximos mensais de evaporação ocorrem em Dezembro-Janeiro,
sendo a evaporação média para a região cerca de 1250 mm.
A evaporação anual é superior à precipitação em todos os meses exceptuando de Fevereiro
a Abril, nos quais a precipitação excede a evaporação. Contudo e mais para o interior, como
no caso de Maniquenique, a evaporação excede a precipitação em todos os meses
considerando o período analisado (1951-1995).
3.2.5 Evapotranspiração potencial
Assim como para a maioria dos elementos climáticos já descritos, também a condição
distância da costa exerce a sua influência na evapotranspiração potencial (ETP), sendo mais
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baixos junto a esta. Os valores de ETP média anual para a região de estudo variam entre
1200 e 1500 mm. No caso de Xai-Xai, a ETP média anual é de 1591 mm, sendo sempre
mais elevada que a precipitação anual, enquanto os valores de evapotranspiração média
mensal, são sempre menos variáveis que os da precipitação mensal, dada a sua dependência
de elementos climáticos mais regulares (humidade relativa, temperatura, insolação, radiação
e vento). Os valores de ETP mensal para Xai-Xai variam de 77 mm em Junho a 180 mm em
Dezembro. Salientar que esta máxima ocorre, em média, cerca de um a dois meses antes da
precipitação máxima (147 mm no mês de Fevereiro, para Xai-Xai). Este facto contribui
para um acentuado défice hídrico para as culturas semeadas no início de
Outubro/Novembro.
Quadro 3: Evaporação total mensal e evapotranspiração mensal (mm) para Xai-Xai
unid.
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Ano
Evaporação mm/Mês
123
103
102
95
87
74
84
103
122
126
134
130 1253
Evapomm/Mês
transpiração
potencial
177
148
141
113
94
77
86
111
138
161
167
180 1591
Os valores da evapotranspiração potencial e da precipitação, associados à capacidade de
retenção de água ao nível do solo, permitem definir para um dado local, a duração do
período de crescimento das culturas, podendo assim estimarem-se as necessidades de água
perante condições adversas, i.e. déficit hídrico.
O período de crescimento segundo Kassam et al. (1982), pode ser definido como o período
de tempo útil (número de dias) em que a precipitação e temperatura são considerados como
adequados ao crescimento de uma dada cultura, i.e. sempre que a precipitação exceda
metade da evapotranspiração potencial, assumindo um armazenamento de 100 mm de água
no solo.
Quadro 4: Relação Precipitação/Evapotranspiração mensal, e ETP/2 para a Estação
de Xai-Xai
Unid.
Jan
Precipitação mm/Mês 123
mensal
(P)
Evapomm/Mês
transpiração
potencial
mensal ETP
e ETP/2
Relação
P/ETP
%
Fev
Mar
147
10101106
Abr
96
Mai
Jun
78
55
Jul
47
Ago
35
Set
37
Out
59
Nov
95
Dez
124
1002
177
148
141
113
94
77
86
111
138
161
167
88.3
74
70.5
56.5
47
38.5
43
55.5
69
80.5
83.5
90
69
100
75
85
83
71
55
32
27
37
57
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Da observação do quadro anterior e do estudo conjugado da precipitação, evapotranspiração
potencial e da ETP/2, retiram-se alguns dados indicativos sobre as épocas de crescimento e
suas características.
Assim, é possível concluir que o período de crescimento junto à costa é superior a 210 dias,
tendo o seu início em finais de Novembro e princípios de Dezembro (de acordo com dados
históricos, séries das décadas entre 1950 e 1980, e 1990), prolongando-se até finais de
Maio, podendo fazendo uso da humidade residual e disponível nos solos, completar parte
do mês de Junho, embora nos meses de Julho a Outubro se registe um deficite hídrico,
podendo este e dependendo da variabilidade dos elementos climáticos chegar até
Dezembro. O deficite hídrico anual situa-se na faixa dos 100-550 mm, mas para a região do
estudo atinge os valores mais baixos (110 a 195 mm).
Para a região costeira de Xai-Xai, podem ser distinguidos quatro tipos de duração de
períodos de crescimento, sendo o mais comum a ocorrência do padrão de período de
crescimento caracterizado por dois períodos húmidos separados por um período seco. Em
média, pode dizer-se que este período de crescimento tem uma duração de 127-307 dias,
seguido por outro de 73 a 85 dias, enquanto a probabilidade de ocorrência de um terceiro
período de crescimento de cerca 49 dias é de 26%. Independentemente do número de
períodos de crescimento, importa referir que para a região de estudo e dependendo apenas
das chuvas, distinguem-se duas épocas de produção de culturas, uma de 185 dias e outra de
70 dias.
Figura 13: Precipitação e evapotranspiracao mensal da estacao de Xai-Xai
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Da leitura conjugada das diferentes variáveis, podemos concluir que as maiores exigências
de água por parte das culturas deverão ocorrer nos meses de Setembro a Dezembro, i.e., nas
épocas de maior temperatura e evaporação potencial e de menor humidade relativa do ar.
Quadro 5: Duração e frequência dos períodos de crescimento para Xai-Xai
Nº de períodos de crescimento (LGP)
Xai-Xai
LGP dias
Frequência
1 LGP
307 (9)
26
2 LGP
259 (26)
45
- Duração 1º
185 (31)
- Duração 2º
73 (58)
3 LGP
261 (9)
- Duração 1º
127 (38)
- Duração 2º
85 (58)
- Duração 3º
49 (65)
4 LGP
26
265 (*)
- Duração 1º
51
- Duração 2º
133
- Duração 3º
6
- Duração 4º
75
3
( ) coeficiente de variação em percentagem; (*) O coeficiente de variação não foi calculado
porque só ocorreu uma vez em Xai-Xai durante o período de observação.
3.3
GEOMORFOLOGIA
A extensa planície aluvionar do Rio Limpopo é relativamente plana, e a sua altitude
diminui de cerca de 16 m, ao nível da Aldeia Julius Nyerere (margem direita), até 0 m na
foz do rio, na confluência com o Oceano Índico. A planície apresenta características típicas
das planícies costeiras inundadas, ocorrendo meandros abandonados, diques naturais, bacias
de decantação, pântanos, lagoas (Inhacungo, Soane, Chigui, Chinangóti, e Inhamissa), e
mangais. O declive do terreno, no vale, varia em média de 0 a 1%. A paisagem dos aluviões
recentes contrasta, ao longo da margem do Rio Limpopo, com os diques naturais, mais
elevados, irregulares, melhor drenados, e ainda pelas dunas arenosas, onduladas a
ligeiramente onduladas, que limitam o vale, nas duas margens.
A planície aluvionar do Rio Limpopo é bem desenvolvida, sendo formada essencialmente
por sedimentos aluvionares, derivados do ciclo de cheias e inundações do rio, e ainda por
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depósitos deltaicos e para-deltaicos resultantes do ciclo de deposições de material fino de
origem estuarinha e marinha, associados aos depósitos marinhos dos Quaternários Médio e
Inferior, resultando no desenvolvimento de diferentes solos em função da posição que
ocupam no terreno, e dos regimes hídricos dominantes, quer de águas superficiais, quer de
águas subterrâneas. A melhor ou deficiente drenagens, interna e externa, associadas à
topografia, elemento fisiográfico, textura e estrutura do solo, contribuem para a formação,
desenvolvimento e ocorrência na área de estudo, de dois tipos de solos, os aluvionares
hidromórficos e os aluvionares não hidromórficos. De destaque a parte pantanosa que se
estende em forma de faixa ao longo da antiga margem do rio, i.e. actual bacia de decantação
do rio, entre o Vale e a Serra, caracterizada pela ocorrência de solos hidromórficos
orgânicos, turfosos, associados à permanente e elevada toalha freática originada pelo
escoamento resultante das encostas arenosas que, ou levou à submersão total do solo, dando
origem a um Machongo, ou criou uma toalha freática próxima da superfície, ocasionando
um solo sujeito a condições permanentes ou temporárias de má drenagem interna e típico
horizonte superficial orgânico (T´sovo) , de transição para os solos argilosos do Vale (Bila),
de elevada fertilidade e imperfeitamente a mal drenados, unidade dominante no Vale. O
Bila pode ser ainda diferenciado em função da presença ou não da fase salina, a qual poderá
variar de uma salinidade baixa a muito elevada, podendo ainda ser possível a ocorrência da
fase sódica, localmente.
A Serra (planalto arenoso), pode ser subdividida em diversas paisagens de acordo com a
topografia, a presença de depressões, e o grau de mobilidade das dunas arenosas de origem
eólica, onde o relevo é determinante, p.e. ao longo da faixa costeira, as dunas arenosas são
relativamente activas de relevo fortemente ondulado (Quaternário), enquanto mais para o
interior, exceptuando o caso de Nhacutze que tem uma mistura de relevo plano e ondulado,
a topografia é ondulada e altitude entre os 60 e 130 m. Todas as areias da Serra pertencem
ao Pleistoceno, normalmente de cores castanha-avermelhada nas partes superiores mais
elevadas e melhor drenadas, pardo-acastanhados a pardos nas encostas ou vertentes, na
transição para as baixas cinzento-amarelados, e raras vezes cinzentos escuros junto dos
declives inferiores da encosta e início das baixas.
Figura 14:Corte esquemático do Vale do Limpopo podendo observar-se as diferentes
unidades fisiográficas, com a zona de machongos ao longo da encosta da Serra.
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4
SOLOS
A distribuição dos principais tipos de solos é fortemente influenciada pela geomorfologia
da região, conforme se pode constatar da caracterização acima apresentada. Os solos da área
de estudo estão distribuídos segundo as duas principais unidades fisiográficas anteriormente
descritas, sendo aqui apenas descritos os solos do Vale ou da planície aluvionar do Rio
Limpopo, dada a sua importância em termos de potencial hidro-agrícola, e do maior
cuidado em termos de maneio (COBA et al., 2003; INIA, 1995 e 1994; Selkhozpromexport,
1984; Markov, 1980). No vale podemos assim distinguir quanto ao processo de formação
de solos, três processos nomeadamente:
(a) Processo de formação dos solos aluvionares não hidromórficos, (Fluvissolos);
(b) Processo de formação dos solos orgânicos hidromórficos, os Machongos
(Histossolos); e
(c) Processo de salinização secundária dos solos e sodificação.
4.1
SOLOS ALUVIONARES NÃO HIDROMÓRFICOS (FLUVISSOLOS FS)
Os solos aluvionares do rio Limpopo formaram-se por sedimentação dos materiais
transportados pelas águas do rio ao longo de séculos, num processo de acumulação dos
depósitos em suspensão, e diferenciados pela distância de deposição da partículas, i.e.
sedimentos grosseiros depositados mais perto do leito do rio, enquanto sedimentos mais
finos depositados mais longe do leito do rio.
Este processo de alternância dos ciclos de acumulação e reacumulação de sedimentos
determinam o tempo de formação do solo, variando entre os solos aluvionares recentes,
juvenis, de idade média até aos aluvionares antigos, os mais recentes caracterizados pelo
grau de estratificação do solo, verificando-se uma alternância de depósitos grosseiros
arensosos a finos, franco argilosos, argilo-limosos a argilosos, resultado da deposição,
respectivamente de partículas maiores e mais finas. Os processos aluvionares manifestamse ainda em função da velocidade de cheia do rio, e a jusante do Limpopo, onde a
velocidade cheias é reduzida, a tendência é de deposição das partículas argilosa e limo,
finas e muito finas.
A topografia plana, com um gradiente muito reduzido (quase nulo), resultando num
escoamento superficial muito lento (localmente inundado durante a estação das chuvas e
nos anos húmidos parcialmente também inundado), e na presença de texturas muito finas,
originando uma permeabilidade muito baixa, e do lençol freático próximo da superfície,
contendo outros elementos químicos, para além da contribuição da água escoada das
encostas, contendo os mesmos elementos, favorecem a formação e síntese da argila rica no
mineral montmorilonite. O perfil do solo em geral é de cores muito escuras, de cinzento
escura a preto, que se deve também à composição especial de húmus.
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Os solos argilosos ricos em montmorilonite apresentam as seguintes caracterísitcas e
propriedades físicas:
(a) Alto grau de expansão no estado húmido e de contracção no estado seco,
(b) Permeabilidade lenta e consequentemente uma quantidade reduzida de água
disponível para as plantas,
(c) Taxa de infiltração lenta, < a 25 cm/dia,
(d) Acumulação progressiva de sais nas camadas superficiais devido à ascensão capilar e
evaporação de água subterrânea salina, como resultado da forte estrutura e alta
capacidade de retenção de água devido à maior força molecular,
(e) Presença de fendilhamento do solo quando seco resultado da contracção,
(f) Percentagem elevada de matéria orgânica até uma profundidade considerável,
(g) Fertilidade natural do solo elevada e resposta adequada aos níveis óptimos de
adubação em função do potencial e reserva de nutrientes no solo.
Há contudo duas propriedades das argilas à base de minerais de montmorilonite que são
determinantes em relação à presença da matéria orgânica e do fendilhamento. No primeiro
caso, a alta percentagem de matéria orgânica (3 a 6% no solo superficial, e 1,6 a 3,3% no
subsolo 50-70 cm), composição e sua distribuição no solo é resultado da presença de
montmorilonite nas argilas. Porque a textura é pesada, a oxidação e lavagem pela água é
difícil, devido às fortes ligações entre as substâncias húmicas e a argila.
No segundo caso, o fendilhamento resultante da redução da humidade no solo, poderá estar
associado à maior ou menor salinização, i.e. a concentração de sais é maior nos solos cujo
fendilhamento é menor. No caso dos solos dominados pelas argilas na base de
montmorilonite a sua maior susceptibilidade à dispersão dos agregados resultante do
fendilhamento ocorre em condições de humidade no solo de cerca de 30% (de peso), o que
condiciona a profundidade mínima do nível do lençol freático, ou seja profundidade óptima
do nível de água subterrânea neste tipo de argilas é de 1,2 a 1,4 m, favorecendo a relação de
forças moleculares de ligação sendo maiores que as capilares e prevenindo assim a
ascenção de sais por capilaridade, sendo pois crucial a manutenção da humidade do solo.
Outra característica de defesa deste tipo de argilas é a sua capacidade de formar agregados
finos friáveis, que protege as camadas inferiores contra a perda de humidade, o que poderá
ser condicionado na presença de elevada percentagem de sódio assimilável.
4.2
SOLOS HIDROMÓRFICOS ORGÂNICOS (HISTOSSOLOS – FT)
Este grupo compreende aqueles solos em que a existência de uma toalha de água freática,
próxima da superfície (0-25 cm) ou acima desta, determinou a evolução do perfil do solo e
da sua aptidão natural. No caso dos solos da área de estudo, que ocupam o sopé das
encostas e as baixas de transição entre a Serra e o Vale, a condição de encharcamento
permanente ou quase, ao longo do ano, através da água proveniente do escoamento lateral
das dunas arenosas, resulta numa situação anaeróbica fundamental no processo de formação
dos solos orgânicos, turfosos, conhecidos por Machongos.
ESTUDO DOS MACHONGOS DA REGIÃO
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Os machongos são solos organo-hidromórficos, que devido às condições prevalecentes
anaeróbicas, provoca a formação de um horizonte superior orgânico de material vegetal
semi-decomposto, de cores cinzento-escura a preta. Na sua distribuição e considerando a
topografia, do sopé da encosta até ao vale, o horizonte de materiais ou detritos semidecompostos assentam normalmente sobre material arenoso intensamente lavado, até
horizontes mais fortes, como no caso do vale, formados sobre aluviões de textura argiloarenosa, argilo-limosa a argilosa. Por outro lado, a espessura da camada de turfa ou dos
detritos semi-decompostos varia de mais de 3 m de profundidade junto às encostas, até 30
cm junto do vale (Foto 6). A profundidade e espessura da turfa foi um dos critérios
utilizados no mapeamento dos machongos, para além da salinidade e acidez. A área
actualmente ocupada pelos machongos da margem esquerda do rio Limpopo, e entre
Nhacutze (mais a montante) e Inhamissa (a jusante, nas proximidades de Xai-Xai),
apresenta em geral graves problemas de drenagem, estando muitas das áreas da maioria dos
blocos inundadas, encontrando-se apenas actualmente aproveitadas para a produção
agrícola 5% da área total.
Foto 6: Sondagem na turfa
podendo
observar-se
a
estratificação de camadas de
turfa e húmus à profundidade
de 1 a 2 m.
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A vegetação dominante é de características pantanosas, desde o caniço, onde se encontram
verdadeiras reservas, juncos e papiro, ocupando verdadeiras manchas cerradas e de difícil
acesso.
Os solos orgânicos hidromórficos na presente amostragem de campo não apresentam
quaisquer limitações em termos de salinidade, quer ao nível da camada superficial (0-20
cm), quer nas camadas mais profundas (40-60 cm e 100-120 cm), ou se presente, a
salinidade é baixa, embora na zona mais próxima do vale, nalguns dos blocos e localmente
possam ocorrer valores comparativamente mais altos, podendo considerar-se
moderadamente salgados, na camada mais profunda (100-120 cm), conforme se pode
observar nas Figuras 11, 12 e 13 que a seguir se apresentam mostrando a distribuição
espacial da salinidade para cada profundidade.
Nas áreas onde o lençol freático se encontra próximo da superfície (25-50 cm), ou à
superfície (0-25 cm), o pH da camada superficial do solo e subsequentes varia de
ligeiramente e muito ligeiramente ácido até muito ligeiramente alcalino, podendo
considerar-se o cenário dominante. Contudo, blocos houve que a situação de drenagem é
melhor resultando na maior profundidade do nível do lençol freático, o que concorre devido
ao processo rápido de oxidação da matéria orgânica, perante uma situação de mais oxigénio
disponível e porconseguinte ambiente favorável à sua mineralização, resultando na
acidificação ou diminuição do pH do solo. Outra consequência da mineralização da matéria
orgânica no solo, quando sujeito a melhores condições de drenagem, envolve a desidratação
do material vegetal e da argila, aumentando e melhorando deste modo a consistência, a
contracção, fendilhamento, aeração, e a actividade biológica, resultando no assentamento
(“subsidence”) do solo, com implicações futuras para o dimensionamento do sistema de
drenagem e rega.
O que se pode ainda salientar no que respeita ao aproveitamento e utilização dos
machongos é das possíveis consequências da sua degradação quando mal explorados, sendo
essa degradação rápida, e sempre progressiva, resultando numa situação irreparável e de
perda completa do solo. O destaque na utilização agrícola dos machongos vai para o maneio
de água pois se é um facto que a água ocorre em excesso, de forma permanente, e de boa
qualidade, também é verdade que em geral é escasso o indispensável elemento mineral.
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Figura 15: Níveis de salinidade à
profundidade de 0 – 20 cm.
Figura 16: Níveis de salinidade à
profundidade de 40 – 60 cm
Figura 17: níveis de salinidade à
profundidade de 100 – 120 cm.
4.3
SOLOS SALGADOS E SÓDICOS (FLUVISSOLOS - FAZ)
4.3.1 Salinização secundária
A salinização de solos deriva de diferentes processos e da dinâmica da gestão de água a
montante e jusante da região de estudo, das condições da água subterrânea, e do maneio
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localizado do solo e da água ao nível dos blocos de rega, considerando o processo de
salinização secundária. Queremos contudo salientar que, não descuramos as possibilidades
de localmente, os solos da Região do Baixo Limpopo, apresentarem problemas de
salinização primária, derivada do processo de formação dos solos desenvolvidos sobre
depósitos de origem marinha, sobre os quais assentam actualmente os solos aluvionares. A
sedimentação destes sobre um ambiente salino implica conterem minerais que, ao
meteorizarem-se, podem produzir elevados teores de sais e de sódio trocável, tanto nos
solos como na água subterrânea.
Em períodos posteriores à salinização primária, ocorreu e ocorre paralelamente o processo
de salinização secundária que, de acordo com estudos e investigações anteriores (INIA,
1995 e 1994; Selkhozpromexport, 1984; Markov, 1980), contribue para o aumento de sais
nos solos da área de estudo. Das investigações passada e actual constata-se que uma parte
considerável dos solos são salgados à profundidade da zona radicular, apresentando valores
entre 1mS/cm e 3mS/cm, principalmente nos blocos de rega na parte mais oriental do
regadio, i.e. Magula Este. O solo superficial mostra raramente uma salinidade elevada nos
restantes blocos. A salinidade do solo superficial está evidentemente associada às camadas
salgadas do subsolo. Tal pode ser demonstrado pela salinidade das camadas às maiores
profundidades (Figuras 12 e 13), em particular os mapas mostrando a distribuição da
salinidade das profundidades 40-60 cm e 100-120 cm, que mostram a progressão das áreas
afectadas pela salinidade e as tendências. A extensão das camadas ligeiramente afectadas e
afectadas aumenta em superfície, enquanto as outras em intensidade da salinidade. O
primeiro caso verifica-se na parte norte da planície e na parte sul e sudeste da área estudada,
enquanto o segundo caso ocorre na parte a sudoeste da área de estudo, i.e. nos Blocos de
Chimbonhanine e Magula Sul. A localização destas áreas ou manchas de alta salinidade
ocorre vulgarmente associada à presença de condições deficientes de drenagem natural, i.e.
topografia plana, gradiente e declive <1%, das características climáticas dominantes
(temperatura, precipitação e evapotranspiração), e da má qualidade da água subterrânea. A
salinidade do solo à profundidade de 100-120 cm é crítica podendo atingir valores
superiores a 3 mS/cm, resultado da excessiva concentração de sais na água do lençol
freático (> 10 g/l), e condições deficientes de maneio.
A área estudada dos blocos de rega que em melhores condições se encontra na altura do
estudo é de Ponela, mas potencialmente salinos se não se tomarem as respectivas medidas
de mitigação de forma a reduzir os potenciais efeitos de salinização secundária, uma vez
que a salinidade do solo é em grande parte afectada pela qualidade de água de rega, método
de rega, práticas de maneio, características das culturas, presença de sais solúveis no solo e
de outros factores, em especial os climáticos, discutidos detalhadamente no estudo da
COBA (2003).
Na ausência de precipitação, a evapotranspiração causa um fluxo de água ascendente,
podendo resultar na acumulação de sais nas camadas superficiais. Dependendo do fluxo de
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água, poderá ocorrer salinização ou pelo contrário a lavagem de sais do perfil do solo. O
problema poderá ser agravado considerando as necessidades de drenagem nos blocos
irrigados perante a humidade em excesso resultante da contribuição da água do lençol
freático (flutuação em função das recargas de água das encostas e de precipitação caída nas
zonas vizinhas), da precipitação registada nos blocos agrícolas, e dos excedentes das regas.
Um factor importante e que relaciona os diferentes processos, determinante numa condição
de equilíbrio, é a profundidade e a qualidade da água subterrânea. Se existe uma ligação
entre a água que se evapora da superfície do perfil e o lençol freático, o fluxo capilar de
água com sais ascendente será alimentado pela água subterrânea, sendo esse fluxo muito
maior quanto maior fôr também a profundidade do lençol freático, fora do alcance das
forças que regulam a evaporação de água do solo, correspondendo ao nível crítico do lençol
freático. No caso da área de estudo, e na presença de argilas pesadas ao longo de todo o
perfil do solo, esse nível é estimado em 1,20 m de profundidade.
Outros factores que concorrem para o agravamento dos índices de salinidade do solo,
directa ou indirectamente ligados ao deficiente maneio do solo e água, incluem:
▫ A rega com água do Rio Limpopo com teor elevado em sais, dependendo da estação
do ano e efeito das marés, i.e. influência da intrusão salina,
▫ A rega com água do Rio Limpopo com elevado teor em sais e proveniente do
sistema de drenagem das águas do Regadio de Chókwè, e posteriormente utilizada
no Regadio de Baixo Limpopo,
▫ O deficiente funcionamento do sistema de drenagem que não permite a lavagem
adequada dos sais presentes no solo e na água e consequente drenagem no Limpopo,
▫ Drenagem de água dos blocos dependente da influência das marés que avançam pelo
curso do Limpopo para montante, estando a saída da água através do sistema de
comportas condicionada pela baixa-mar, concorrendo no caso de precipitação
excessiva em períodos relativamente curtos, à permanência de água das chuvas
durante vários dias no interior do perímetro originando um nível freático elevado
(situação comprovada 15 dias após abertura de um perfil de solo na planície tendo o
lençol freático, que se encontrava a sensívelmente 1,20 m, após chuvas persistentes,
atingindo a superfície,
▫ Ausência de lavagem dos sais nos solos com água de rega de boa qualidade,
▫ Baixa permeabilidade, e textura argilosa dos solos e drenagem interna má a muito
má,
▫ Presença de sais de sódio que concorrem para a degradação das propriedades físicas
do solo e porconseguinte, agravando a permeabilidade e drenagem dos solos.
4.3.2 Sodicidade
A sodicidade do solo é expressa pela percentagem de sódio trocável (PST) do complexo de
troca. A PST é calculada do total de catiões, posteriormente comparada à capacidade de
troca catiónica. Estudos anteriores confirmam a gravidade da sodicidade na área de estudo,
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estimando em cerca de 60% da área afectada pela presença de uma concentração muito
elevada de sais de sódio nos solos (Selkhozpromexport, 1984). A capacidade de adsorção é
em geral alta (40-60% mg/equiv./100 g solo), sendo a PST entre 5 e 40%. Há sectores da
área de estudo onde o teor em sódio atinge os 9 mg/100 g solo, como consequência do
processo de dissulfatização que caracteriza os períodos secos excessivos.
Em quase todos os casos a sodicidade, como a salinidade, aumenta com a profundidade,
fazendo com que os valores indicados sejam quase todos referentes ao subsolo, mostrando o
grau de contaminação dos horizontes mais profundos.
As elevadas percentagens de sódio presentes não afectam únicamente as plantas em termos
da característica química (toxicidade de sódio), mas talvez até com maior gravidade as
características físicas. Devido à instabilidade da estrutura do solo sob cultivo, a
permeabilidade por si já baixa, acaba por ser afectada ainda mais com a presença de sódio
no solo, causando problemas sérios de arejamento, resultado da grande dispersão da argila,
e porconseguinte originando uma estrutura maciça, muito compacta, que por sua vez
concorre para reduzir a permeabilidade do subsolo, e assim contribuindo para a degardação
da drenagem do solo.
Assim como para a salinidade, para além da sodicidade actual, é importante tomar em
consideração estimativas da PST do solo no futuro, tendo presente a qualidade de água de
rega do Rio Limpopo. A informação da composição química da água do rio foi obtida de
observações realizadas durante um período médio de 15 anos, para duas estações, de
Sicacate (1973-1992), e Xai-Xai (1981 – 1993), que distam 65,2 km e 24,7 km da foz do rio
respectivamentede, de acordo com a informação disponível no Monograma da Bacia do Rio
Limpopo e no relatório de Selkhozpromexport (1984), referidos no relatório de diagnóstico
do projecto (COBA, 2003).
Tabela 1: Características médias da água do Rio Limpopo
E38 – Estação de Xai-Xai (24,7 km da foz do rio)
Origem
ECe
ECiw
Ca2+
Mg2+
(mS/cm)
(mS/cm)
(mg/l)
(mg/l)
(1)
(1)
(1)
(1)
1,2
0,62
41,29
24,09
Média
0,9
0,60
8,01
20,50
Mínimo
1,5
0,65
102,0
27,68
Máximo
Na+
(mg/l)
(1)
216,7
210,3
222,9
Cl(mg/l)
(1)
672,9
109,9
1772,5
NO3
(mg/l)
(1)
12,77
0,00
30,00
NH4
(mg/l)
(1)
2,33
0,00
11,10
CO.3
(mg/l)
(2)
7,80
-
pH
(1)
8,12
8,02
8,22
Fonte: (1) Monografia da Bacia do Rio Limpopo;
(2) Estudo de Viabilidade da Produção Agrária existente na Empresa Agrária de
Xai-Xai no Curso
Inferior do Limpopo (Selkhozpromexport, 1984).
Temperatura da água – 21 a 24°C.
ECe – Conductividade eléctrica da água;
ECiw – Condictividade eléctrica da água de rega;
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MO
(mg/l)
(1)
5,84
4,00
7,68
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De acordo com ILACO (1981), a qualidade da água do rio, segundo os dados apresentados
na Tabela 1, apresenta algumas restrições para a sua utilização na rega, sendo classificada
como pouco salgada (0,26 a 0,75 mS/cm). É contudo importante observar-se que, com base
apenas nestes valores, a rega com água do rio só será possível desde que a CE da água seja
inferior a 2 mS/cm, valores considerados baixos não causando qualquer dano ao nível das
principais culturas (0,75 a 2,25 mS/cm apresenta riscos para rega, em particular no caso de
solos argilosos mal a muito mal drenados). Valores de CE da água superiores a 2 mS/cm
não são aceitáveis para sua utilização na rega, em particular quando associados à presença
de sódio, de extrema importância na classificação da qualidade de água de rega.
Considerando a PST da água do rio, os valores são altos a muito altos, pois variam de 60 a
cerca de 80%, sendo o complexo de troca quase na sua totalidade ocupado ou dominado
pelos iões de Na+ expressa em meq/l (Tabela 1).
Atendendo à concentração de sódio expressa em meq/l, obtém-se os valores apresentados
na tabela seguinte, de acordo com o relatório de COBA (2003), onde SAR representa a
razão de absorção de sódio, que permite avaliar o risco de alcalinização do solo, e SARaj é
a razão de absorção de sódio ajustada, ambos determinados em função da concentração
total de outros catiões presentes no solo ou na água, i.e. Ca e Mg. A SAR valor médio para
a estação do rio mais próxima do Xai-Xai é de 6,6 meq/l. A SARaj é determinada tendo em
consideração a concentração de carbonatos (CO3) e bicarbonatos (CO3H). Se considerarmos
este último valor, e a mesma escala de classificação usada para a SAR, então estaremos
perante um perigo médio de sodicidade.
Tabela 2: Valores de SAR e SARaj
para o Rio Limpopo, Estação de XaiXai.
Xai-Xai
SAR
SARaj
Média
6,6
13,2
Assim, e tendo em consideração o sistema de classificação do US Salinity Laboratory,
existem algumas restrições na utilização da água do rio junto a Xai-Xai para rega, sendo a
qualidade de água, de acordo com COBA (2003), de salinidade elevada, não podendo ser
utilizada em solos mal drenados, agravado no caso da área de estudo e devido à sua textura
argilosa, perante água com concentração média de sódio, concorre para a
impermeabilização do solo, o que justifica o acompanhamento da qualidade de água de
rega.
No que se refere ao perigo da sodicidade e de salinidade, através dos dados apresentados, é
possível observar que a sua concentração aumenta de montante para jusante do rio,
apresentando níveis mais elevados de toxicidade na zona mais próxima de Xai-Xai
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(Ponela/Umbape). Dizer que a água proveniente do rio apresenta ainda alguns problemas
quanto à solubilidade de carbonatos e bicarbonatos de cálcio e magnésio que, através da sua
precipitação, poderá resultar no aumento da concentração de sódio e SAR da solução do
solo. Continuando a associar os diferentes elementos, referir também que o valor da
concentração de magnésio (CMg = 49,0), se encontrar já próximo do valor máximo
admissível (CMg = 50,0), a partir do qual a água já se considera como de baixa qualidade e
de sérios riscos de utilização para a rega das culturas.
4.4
MAPA DE SOLOS E LEGENDA
A terminologia usada no presente estudo pedológico, é baseada no manual de descrição e
codificação de solos em uso na base de dados de solos (SDB) e os solos são classificados
segundo a legenda da FAO/UNESCO do “Mapa Mundial de Solos, Legenda revista” (FAO
et al. 1997).
Na cartografia de solos do Distrito de Xai-Xai na escala de 1:100.000 (INIA-DTA, 1995), a
área de estudo, e particularmente a zona do Vale, aparecem mapeadas três principais
unidades de solos, sendo considerados solos do vale, classificados como solos derivados de
sedimentos fluviais constituídos por depósitos relativamente recentes. Portanto a legenda
foi elaborada de forma a realçar a influência da paisagem e da geologia, onde a planície de
inundação do rio assume maior importância, sendo atribuída a letra “F” indicando a
unidade geomorfológica. As características dominantes da rocha-mãe, na qual os solos se
desenvolvem, e no caso presente associada aos sedimentos aluvionares recentes do Rio
Limpopo, são representadas pelas letras “a, z e t”, correspondendo ao grau de estratificação
do solo, percentagem de argila, presença e profundidade da turfa e respectivo grau de
decomposição, respectivamente.
No presente estudo, para além das características já referidas, a legenda descreve ainda com
maior detalhe as características essenciais na diferenciação das unidades de mapeamento,
delineadas no mapa de solos, i.e. atributos de solo como a textura, cor, drenagem,
profundidade, pH (acidez), salinidade-sodicidade, e teor de matéria orgânica.
O símbolo para a fase pedológica segue-se ao do agrupamento dos solos, por exemplo, Fsg –
solo aluvionar mosqueado (g refere-se à fase “gley”). Estas fases pedológicas podem ainda ser
sub-faseadas considerando diferentes níveis de salinidade e sodicidade, e da profundidade de
ocorrência das fases pedológicas, por exemplo, Faz - solo aluvionar argiloso salgado.
Assim os seguintes símbolos foram usados no presente estudo, para identificar os
agrupamentos de solo ou seja, as unidades de mapeamento (ver o mapa de solos)
Fs – Solos aluvionares estratificados
Fa – Solos aluvionares argilosos
Ft – Solos turfosos.
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4.4.1 Solo Aluvionares Estratificados - Fs
Os solos aluvionares estratificados, de textura fina a média, não a pouco salino em todo o
perfil, ocorrem na faixa estreita de aluviões recentes ao longo da margem esquerda do rio
Limpopo, denominado fisiográficamente como dique natural. Actualmente, grande parte
desta área é ocupada por agricultores familiares, praticando uma agricultura de subsistência,
pois a mesma assenta sobre camadas sedimentares argilosas a argilo-arenosas intercaladas
de camadas de solo franco-argilo-arenoso. A caracterização geral desta unidade é baseada
na informação obtida no estudo de (Selkhozpromexport, 1984). Não foram feitas nenhumas
observações de campo, por não ter sido proposto como constituintes das área prioritária do
projecto.
Mapa 1: Mapa de solos da área de estudo
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A área total ocupada por esta unidade é cerca de 334 ha. O material de origem é constituída
de sedimentos aluvionares do rio Limpopo. Os solos são em geral moderadamente a bem
drenados, profundos, por vezes com camadas estratificadas devido a deposições fluviais,
onde a transição é geralmente abrupta, plana a irregular, e a permeabilidade é moderada a
lenta.
Geralmente a textura destes solos é argilosa a argilo-limosa, no solo superficial, com a
presença de camadas mais ligeiras (franco-argilo-arenosa), com apenas cerca de 20% de
argila. Os níveis de cálcio e magnésio são geralmente altos a muito altos no solo superficial
e no subsolo.
Características físicas e
químicas
pH (H2O)
P assimilável Olsen (ppm)
Matéria orgânica (%)
N-Total "Kjeldahl" (%)
Ca trocável
Mg trocável
K trocável
Na trocável
CTC
–
efectiva
(meq/100g)
Saturação por bases
PST - Na/CTC efectiva
(%)
CE 1:2,5 /pasta saturada
Areia grossa (%)
Areia fina (%)
Limo (%)
Argila (%)
Solo
superficial
(0 –25cm)
6,7
2,4
2,5
0,10
19
2,1
Avaliação
qualitativa
Subsolo
(média)
Avaliação
qualitativa
mto lig. acido
muito baixo
média
baixo
alto
muito alto
7,2
1,0
1,7
0,75
14 – 42
3,9 - 9,6
mto lig. alcalino
muito baixo
média
muito baixo
alto a mto alto
muito alto
4,0
49
extr. alto
muito alta
2-3
40
extr. alta
alta
100
5
muito alta
baixa
100
10
muito alta
média
0,1
15,5
25,5
12,3
46,7
muito baixa
0,6
5,3
16,8
27,1
50,8
baixa
Argilosa
Argilosa
4.4.2 Solos Aluvionares Argilosos - Fa
Estes solos desenvolvem-se nas partes centrais do vale, entre o rio e as encostas de dunas
arenosas. São característicos das grandes planícies de inundação. Solos aluvionares com
texturas argilosas, drenagem imperfeita a má, por vezes salinos e sódicos. A descrição
morfológica desta unidade, complementada no Anexo 1, (descrição de perfis e respectivos
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resultados analíticos), é idêntica para todos os perfis diferindo apenas, na espessura dos
diferentes horizontes, da profundidade do lençol freático, presença de manchas ferruginosas
ao longo do perfil, e presença de evidências de processos de redução ou de redução e
segregação de ferro. Estes solos subdividem-se segundo os níveis de salinidade no solo
superficial e no subsolo, obedecendo ao seguinte critério:
1.
2.
3.
4.
Classe 1
Classe 2
Classe 3
Classe 4
0 – 0,8 mS/cm
0,81 – 1,6 mS/cm
1,61 – 3,2 mS/cm
> 3,20 mS/cm
Não a pouco salinos
Moderadamente salinos
Salinos
Muito salinos
4.4.3 Solos Hidromórficos Orgânicos (Solos Turfosos - Machongos) - Ft
São solos com uma camada superficial constituída apenas de detritos orgânicos não ou
semi-decompostos, com uma espessura igual ou superior a 25 cm. A definição da espessura
difere de acordo com o Mapa dos Solos do Mundo (FAO, UNESCO e ISRIC 1997). Para
sua diferenciação tomou-se como base a profundidade de acumulação dos mesmos detritos
orgânicos não decompostos de seguinte modo:
1.
2.
3.
4.
Ft1 - Solos orgânicos hidromórficos com espessura
Ft2 - Solos orgânicos hidromórficos com espessura
Ft3 - Solos orgânicos hidromórficos com espessura
Ft4 - Solos orgânicos hidromórficos com espessura
< 30 cm
30 – 100 cm
100 – 200 cm
> 200 cm
Os solos hidromórficos orgânicos desenvolvem-se na parte da bacia de decantação do vale
do Limpopo, na zona a Sueste da área de estudo, ocupando uma área de cerca de 3.185 ha,
distribuídos de seguinte modo: Ft1 = 539ha; Ft2 = 1.012ha; Ft3 = 396ha; Ft4 = 1.239ha.
As áreas próximas da zona central do vale, de sedimentos fluviais, localmente denominado
“Bila”, com influência da água subterrânea de características salina, influência a parte
ocidental da unidade que apresenta níveis um pouco elevados de salinidade. Ao contrário,
as áreas próximas das dunas arenosas da Serra, recebem a água subterrânea de melhor
qualidade, resultado do escoamento lateral das dunas, não se notando a presença de
salinidade nessa região. A maioria da área não está sendo explorada na sua totalidade
devido à destruição das valas de drenagem ou obstrução das mesmas durante as cheias de
2000. Durante os trabalhos de campo do presente estudo, alguns canais estavam na fase de
limpeza e recuperação para se poder drenar o excesso de água através da vala principal de
drenagem, o Colector Umbape. Geralmente estes solos desenvolvem-se num meio ambiente
húmido onde o lençol freático pode ocorrer próximo da superfície, à superfície ou acima da
superfície do solo formado por material orgânico. Devido às condições de hidromorfismo,
geralmente os 20 cm superficiais são constituídos por resíduos vegetais mal decompostos,
ou apenas uma pequena percentagem está decomposta. Os níveis de pH são moderadamente
ácidos podendo ser mais severos nos locais actualmente em regime de exploração.
ESTUDO DOS MACHONGOS DA REGIÃO
DESENVOLVIMENTO HIDRO-AGRÍCOLA
DO
BAIXO LIMPOPO
E
POSSIBILIDADES
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Recursos Naturais (IIAM-DARN)
Referências e Bibliografia Consultadas
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Soil physics characterization of agricultural wetlands