Aguiar, C.M.L. & Garófalo, C.A. 2006. Biologia de Nidificação de Espécies de Centris
(Hymenoptera, Apidae, Centridini). Anais do VII Encontro Sobre Abelhas, Ribeirão
Preto, Universidade de São Paulo, em CD-Rom.
BIOLOGIA DE NIDIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DE Centris (HYMENOPTERA,
APIDAE, CENTRIDINI).
Cândida M. L. Aguiar & Carlos A. Garófalo
As abelhas da tribo Centridini apresentam diversificação dos substratos de
nidificação. A maioria das espécies de Centris nidifica no solo (Coville et al., 1983). Dos
subgêneros representados no Brasil, as espécies com este hábito de nidificação estão
incluídas em Centris s. str. (12), Melacentris (23), Paracentris (5) e Trachina (5). A
nidificação no interior de cavidades preexistentes é o hábito típico das espécies incluídas
nos subgêneros Hemisiella, Heterocentris e Xanthemisia (Coville et al.,1983). As espécies
incluídas no subgênero Ptilotopus nidificam no interior de cupinzeiros (Vesey-Fitzgerald,
1939; Michener & Lange, 1958; Laroca et al., 1993; Gaglianone, 2001).
A distribuição espacial dos ninhos no solo pode variar desde isolada até agregações,
as quais podem ter centenas de ninhos por m2. Agregações têm sido registradas em C.
caesalpiniae (Rozen & Buchmann, 1990), Centris mixta tamarugalis (Chiappa & Toro,
1994) e Centris aenea (Michener & Lange, 1958; Aguiar & Gaglianone, 2003).
Os ninhos podem conter uma única célula, como em C. leprieuri (Madeira-da-Silva,
2004) e C. flavofasciata (Vinson et al., 1987), mas a maioria das espécies constrói várias
células por ninho, comumente arranjadas em série linear ao final de um túnel. Algumas
exceções à disposição das células em série linear vertical foram registradas, como em C.
mixta tamarugalis, em cujos ninhos encontram-se até 8 células dispostas lado a lado, ao
final de um túnel simples (Chiappa & Toro, 1994), e em C. fuscata, em cujos ninhos as
células podem estar dispostas lado a lado, ao longo da porção final oblíqua do túnel
(Camillo et al., 1995).
Os ninhos das seguintes espécies brasileiras de Centris que nidificam no solo foram
descritos: C. leprieuri (Gottsberger et al., 1988; Madeira-da-Silva, 2004), C. flavifrons
(Vinson & Frankie, 1988), C. collaris e C. fuscata (Camillo et al. 1993), C. dorsata
(Laroca et al., 1993) e C. aenea (Aguiar & Gaglianone, 2003).
Nidificação em cavidades preexistentes. As espécies dos subgêneros Hemisiella,
Heterocentris e Xanthemisia nidificam exclusivamente em cavidades preexistentes, tais
como ninhos abandonados de vespas (Vesey-FitzGerald, 1939), em células velhas de
abelhas (Batra & Schuster, 1977, Linsley et al., 1980), paredes de barro (Bertoni, 1918),
buracos em madeira (Michener & Lange, 1958). Ninhos de várias espécies de Hemisiella e
Heterocentris têm sido obtidos a partir de diferentes tipos de ninhos-armadilha na Costa
Rica (Frankie et al., 1988, 1993, Vinson & Frankie, 2000) e em diversos habitats no Brasil
(Camillo et al. 1995, Pereira et al. 1999, Morato et al. 1999, Jesus & Garófalo 2000,
Garófalo 2000, Viana et al. 2001; Aguiar & Martins 2002, Camarotti-de-Lima, 2004;
Madeira-da-Silva, 2004; Aguiar & Garófalo, 2004, 2005).
O material utilizado para a construção das células pelas espécies de Hemisiella é
basicamente solo, trazido para os ninhos nas escopas das fêmeas, o qual pode estar
misturado a óleos florais (Coville et al., 1983; Vinson et al. 1993, 1996; Pereira et al 1999;
Morato 1999; Silva et al., 2001; Aguiar & Garófalo, 2004; Aguiar et al., 2006). As espécies
de Heterocentris têm sido registradas utilizando serragem de madeira Coville et al. (1983) e
material vegetal (pólen, fragmentos de anteras, filetes, raspas de sacos polinícos e fibras)
(Jesus & Garófalo, 2000). Um aspecto descrito para várias espécies que nidificam em
cavidades é a presença de um revestimento de material oleoso na superfície externa da
parede de fechamento do ninho. Este revestimento proporciona maior proteção ao ninho,
pois a parede torna-se endurecida após recebê-lo (Pereira et al., 1999; Jesus & Garófalo,
2000), dificultando o ataque de parasitas (Gazola & Garófalo, 2003).
O subgênero Hemisiella está representado no Brasil por seis espécies (Silveira et al.,
2002), sendo que destas, os ninhos de C. nigripes não são conhecidos. Informações sobre
os ninhos foram produzidas para C. dichootricha (Morato et al., 1999), C. tarsata (Silva et
al. 2001, Aguiar & Martins, 2002, Aguiar & Garófalo, 2004; Madeira-da-Silva, 2004), C.
trigonoides (Frankie et al. 1988; 1993; Madeira-da-Silva, 2004; Aguiar et al. 2006), C.
vittata (Frankie et al. 1988, Pereira et al. 1999; Garófalo, 2000) e C. lanipes (Bertoni 1918;
Michener & Lange, 1958). A maioria destes trabalhos inclui dados sobre a abundância
sazonal da fundação de ninhos em vários biomas neotropicais, taxas de mortalidade e
parasitismo. Estudos detalhados sobre o comportamento de nidificação, incluindo
observações intra-nidais, estão disponíveis para C. vittata (Pereira, 1997; Pereira et al.,
1999), C. tarsata (Aguiar & Martins, 2003) e C. trigonoides (Aguiar et al., 2006).
O subgênero Heterocentris está representado no Brasil por cinco espécies (Silveira
et al., 2002). Há informações sobre arquitetura dos ninhos, abundância sazonal das
nidificações e mortalidade de algumas espécies, obtidas em cavidades artificiais, tais como
C. analis (Jesus & Garófalo, 2000; Aguiar & Martins, 2002; Aguiar et al., 2005) e C.
terminata (Morato et al., 1999; Martins, 2003). Ninhos de C. bicornuta foram obtidos na
Amazônia brasileira (Morato et al., 1999) e na Costa Rica (Frankie et al., 1988), enquanto
os de C. difformis permanecem desconhecidos. Apenas para C. analis existe estudo
detalhado sobre o comportamento de nidificação (Jesus, 1995) e sobre o comportamento
dos cleptoparasitas (Gazola & Garófalo, 2003). O subgênero Xanthemisia está representado
no Brasil por três espécies: C. bicolor, C. ferruginea e C. lutea (Silveira et al., 2002).
Destas, apenas C. lutea já foi registrada nidificando em cavidades preexistentes, utilizando
lascas de madeira como material para a construção das células (Vinson et al., 1996).
Informações sobre a biologia de nidificação de abelhas são de fundamental
importância para fomentar escolhas de espécies nativas com vistas à utilização em
programas de manejo de polinizadores. O desenvolvimento da metodologia de ninhos-
armadilha permitiu a obtenção em larga escala de ninhos de abelhas que nidificam em
cavidades, incrementando significativamente o conhecimento de diversos aspectos da
biologia de nidificação destas espécies. Em contra partida, a de obtenção de ninhos de
espécies que nidificam em solo, que constituem a maior parte da fauna de abelhas
brasileira, faz com que o conhecimento da biologia destas espécies seja esparso e pontual.
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