REPERCUSSÕES DO ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL NA FAMÍLIA:
ASPECTOS DA QUALIDADE DE VIDA E DA CAPACIDADE FUNCIONAL DO
PORTADOR
Solange Aparecida Banóski1,
João Estevam Giunt Ribeiro2
RESUMO
Introdução: Este estudo é baseado no acompanhamento de uma família, na qual possui
um paciente portador de AVC de 70 anos, do sexo masculino, possuindo hemiplegia
direita e conseqüentemente diminuição de capacidade funcional. Objetivo: Identificar e
caracterizar o perfil da qualidade e estilo de vida e a capacidade funcional.
Metodologia: Trata-se de um estudo qualitativo estruturado nos princípios do Estudo de
Caso, realizado na área de abrangência do PSF Paracatuzinho, na cidade de Paracatu
Minas Gerais, durante um período de um ano e seis meses, nos anos de 2006 e 2007. A
coleta de dados foi feita através de visitas domiciliares e informações dadas pela equipe
do PSF, os quais foram registrados em um “diário de bordo”. Foram coletados dados
referentes ao histórico familiar, hábitos gerais, atividades diárias, alimentação e stress,
observando as mudanças no estilo de vida antes e após o AVC. Resultados: Conseguiuse conscientizar a família quanto aos tratamentos fisioterápicos e fonoaudiólogos.
Também houve mudanças na dieta, a família aderiu a uma dieta hipossódica,
1
Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade Atenas, Paracatu-MG.
2
Professor do curso de Medicina da Faculdade Atenas de Paracatu, MG.
hipocalórica, hipolipídica, introduzindo mais frutas e verduras. O retorno social
proporcionou um melhor desenvolvimento funcional ao paciente, tornando-o menos
depressivo e mais comunicativo e independente para suas atividades básicas.
Conclusão: Os déficits funcionais e cognitivos, mudança de personalidade ou
comportamental, bem como da comunicação, são alterações impostas pelo AVC. Elas
geram níveis de incapacidades, comprometendo não somente o paciente, mas a família e
a comunidade produzindo um impacto muito grande, gerando incertezas, devido às
crises recorrentes e à sobrecarga física, emocional e financeira.
PALAVRAS-CHAVE: Família; Acidente vascular cerebral; Estilo de Vida; Qualidade
de Vida;
I INTRODUÇÃO
I.1 ESTADO DA ARTE
Pesquisas em diversos países, inclusive no Brasil, têm mostrado que o estilo de
vida, mais do que nunca, passou a ser um dos mais importantes determinantes da saúde
de indivíduos, grupos e comunidades. Segundo Nahas (2003), o estilo de vida se define
como um conjunto de ações habituais que refletem as atitudes, os valores e as
oportunidades na vida das pessoas. O estilo de vida ativo passou a ser considerado
fundamental na promoção da saúde e redução da mortalidade por todas as causas.
Gonçalves & Vilarta (2004), caracterizam estilo de vida como os hábitos
aprendidos e adotados durante toda a vida, relacionados com a realidade familiar,
ambiental e social. O conjunto de adaptações biológicas e culturais experimentadas
durante a vida resulta em características que, dependendo do tipo adotado, podem
refletir sobre os aspectos de saúde e bem-estar.
Segundo Machado (1995), nos dias atuais, devidos as mudanças acentuadas no
estilo de vida das pessoas, as doenças crônicas representam problemas relevantes de
saúde. Isto ocorre porque muitas vezes levam a incapacitação progressiva, além de
apresentarem altas taxas de morbi-mortalidade em idades cada vez mais precoces.
No grupo das doenças cardiovasculares, considerando a faixa de idade entre 20 a
59 anos, o acidente vascular cerebral agudo (AVC) corresponde a pouco mais de 80%
das internações pelo Sistema Único de Saúde no ano investigado. Mas, além da elevada
incidência, há também que se considerar as sérias conseqüências médicas e sociais que
podem resultar de um AVC, como: as seqüelas de ordem física, de comunicação,
funcionais, emocionais, entre outras (Falcão, 2001).
O AVC ocorre devido a um distúrbio circulatório no cérebro, e se divide em dois
tipos (isquêmico ou hemorrágico) sendo as seqüelas variadas de acordo com a região
afetada. Se a lesão acontecer no hemisfério direito, por exemplo, o paciente pode ter
comprometimento dos movimentos e do campo de visão do lado esquerdo. Se for no
hemisfério esquerdo, os danos podem ser alterações na fala e dificuldades de raciocínio.
Cerca de 85% dos derrames são isquêmicos (Gomes, 2007).
Segundo Falcão (2001), as incapacidades verificadas, após o AVC, repercutem
ou são reveladas de modo diferente para homens e mulheres e que os sintomas
depressivos e problemas de comunicação apresentam maior força entre as mulheres.
Mas, o AVC, independentemente do gênero, é causa de insatisfação com a vida e de
limitações funcionais diversas, pela perda da autonomia decorrente das incapacidades.
Sabe-se que, o acidente vascular cerebral como também, a maioria das doenças
que afetam o aparelho circulatório apresentam uma forte ligação com o perfil do estilo
de vida das pessoas. Estas, de uma forma geral apresentam comportamentos negativos
com relação à saúde, adotando comportamentos que prejudicam o seu estado geral, seja
através dos fatores de risco, como o tabagismo, uso abusivo do álcool, sedentarismo,
hipertensão e diabetes, ou pelo histórico familiar (Gomes, 2007).
Neste trabalho é apresentado um estudo de caso de um indivíduo com seqüelas
de acidente vascular cerebral.
I.2 CONTEXTUALIZAÇÃO
A família assistida é composta de dois membros idosos M.J.G.L., 65 anos, sexo
feminino e M.F.L. 70 anos, sexo masculino. Casados há 46 anos têm sete filhos, dos
quais apenas um filho, nora, neto e uma das netas residem com o casal. A estrutura
familiar é exposta no genograma da família (figura 1), atualizado em setembro de 2007.
Figura 1: Genograma ilustrando a família, atualizado em setembro de 2007.
O senhor M.F.L. apresenta histórico de acidente vascular cerebral isquêmico
ocorrido em 12/04/2003, teve como área lesionada o lado esquerdo e possui hipertensão
arterial. O paciente pesquisado apresenta seqüelas na marcha no lado direito e faz uso
de
seis
medicamentos
que
servem
para
controlar
a
pressão
arterial,
a
hipercolesterolemia, reduzindo assim, a possibilidade um novo acidente vascular
cerebral.
Antes de ser acometido pela doença, há cinco anos, exerceu várias atividades:
pedreiro, pintor, comerciante. Era tabagista, etilista e apresentava hipertensão arterial
não tratada corretamente, o que levou a ter conseqüências.
A união do casal se realizou quando eles ainda eram muito jovens, e logo em
seguida vieram os filhos, juntamente com as dificuldades financeiras, mas mesmo
assim, o casal tem orgulho de ter conseguido oferecer oportunidades a eles.
Após 40 anos de união, devido a um estilo de vida inadequado para a saúde
(tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, dieta) o chefe da família sofreu um AVC
(acidente vascular cerebral), que fez com que toda a família ficasse mais unida para
ajudar nos cuidados do paciente, o qual se tornou dependente para realizar todas as suas
atividades e necessidades vitais.
Todos os filhos estudaram, constituíram famílias e na medida do possível,
ajudam no que for necessário nos cuidados com o pai e necessidades diárias.
A família é de origem humilde, reside na abrangência do PSF Paracatuzinho na
cidade de Paracatu-MG, em casa simples de alvenaria, forrada, com seis cômodos,
possuindo rede de água e esgoto, sem muito luxo, porém confortável. O ambiente
domiciliar é limpo e aconchegante. Há um bom relacionamento familiar entre os pais,
filhos e netos, porém o casal, não tem um bom convívio social devido aos problemas de
saúde e a incapacitação funcional devido ao AVC. A renda familiar do casal é dois
salários mínimos de aposentadoria, onde são investidos em alimentos e medicamentos,
sendo necessária uma ajuda dos filhos quando há gastos extras. O paciente
acompanhado faz uso de sete medicamentos diferentes para tratamento e prevenção de
maiores agravos à saúde, assim como, monitoração das seqüelas causadas pelo AVC.
Nesta família, o problema de saúde causado pelo AVC, trouxe conseqüências
como aumento de despesas, agravando a situação financeira da família. Outras
mudanças também ocorreram como a chefia da família, que passou a ser exercida pela
Senhora M.J.G.L., tendo que trabalhar para sustentar a casa até o marido ser aposentado
por invalidez. Também causou um estado de depressão pelo fato de dependência total
da família para realizar todas as atividades e necessidades, deixando de trabalhar e
conviver com outras pessoas. Assim a família passou a ser a âncora, onde todos os
filhos e netos estão presentes, participando dos problemas e dando suporte para a
matriarca. Assim, sua casa está sempre movimentada e assistida pelos filhos e netos,
onde todos a chamam carinhosamente de “mãe”. Apesar das dificuldades, a família é
unida vivendo em harmonia.
I.3 JUSTIFICATIVA
As mudanças nos hábitos e no estilo de vida têm contribuído para o aumento na
incidência de doenças crônico-degenerativas, as quais constituem motivo de grande
preocupação por seus aspectos limitantes. A doença crônica produz na família um
impacto muito grande, gera incertezas, devido às crises recorrentes e à sobrecarga física,
emocional e financeira.
I.4 OBJETIVO
O objetivo deste estudo foi identificar e caracterizar o perfil da qualidade e estilo
de vida e a capacidade funcional do portador de acidente vascular cerebral, para uma
possível mudança na adoção de comportamentos saudáveis e preventivos.
I.5 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Orientar quanto à importância da fisioterapia e fonoaudiologia para melhorar as
condições físicas e funcionais do paciente.
Mudanças na dieta, adotando uma dieta hipossódica, hipocalórica e hipolipídica
para evitar maiores complicações à saúde do paciente.
Reintrodução do paciente no convívio social.
Orientar sobre o armazenamento e uso correto das medicações.
Orientar quanto à prática de exercícios físicos regularmente.
II METODOLOGIA
II.1 TIPO DE ESTUDO
Trata-se de um estudo qualitativo estruturado nos princípios do Estudo de Caso.
II.2 ÁREA DE ESTUDO
O estudo foi realizado na área de abrangência do PSF Paracatuzinho, na cidade
de Paracatu Minas Gerais, na residência da família selecionada, durante um período de
um ano e seis meses, nos anos de 2006 e 2007. A família foi acompanhada por alunos
da disciplina de Interação Comunitária do Curso de Medicina da Faculdade Atenas.
II.3 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados durante visitas realizadas na residência da família e
informações dadas pela equipe do PSF através de fichas cadastrais, os quais foram
registrados em um “diário de bordo”, sendo este, apresentado ao professor no fim de
cada semestre para avaliação. Os dados levantados foram utilizados para o
conhecimento da família e seus problemas, a partir dos quais, foram elaborados
estratégias de intervenção para melhoria na qualidade de vida.
II.4 CRITÉRIO DE SELEÇÃO DOS SUJEITOS
A seleção da família estudada foi realizada pela equipe do PSF, não havendo
critérios de seleção específicos.
II.5 INSTRUMENTOS OU TÉCNICAS UTILIZADAS
Durante a disciplina de Interação Comunitária, os alunos acompanharam
famílias, sendo aplicada a Metodologia da Problematização. Sendo esta, a base para o
reconhecimento de que o estudo acontece no seio da realidade física, psicológica e
social. A realidade é vista como “problema”, isto é, como algo que pode ser resolvido
ou melhorado. O protagonista da aprendizagem é o próprio aluno, o qual deve conhecer
a realidade para transformá-la.
Segundo Berbel (1998), a Metodologia da Problematização tem uma orientação
geral como todo método, caminhando por etapas distintas e encadeadas a partir de um
problema detectado na realidade. Constitui-se uma verdadeira metodologia, entendida
como um conjunto de métodos, técnicas, procedimentos ou atividades intencionalmente
selecionadas e organizados em cada etapa, de acordo com a natureza do problema em
estudo e as condições gerais dos participantes.
A proposta foi a de assistir a família, por meio de visitas domiciliares, sendo
realizadas no período de um ano e seis meses, nos anos de 2006 e 2007, totalizando 15
visitas, nas seguintes datas: 1º - 17 de março/2006; 2º - 11 de abril/2006; 3º - 05 de
maio/2006; 4º - 19 de maio/2006; 5º - 02 de junho/2006; 6º - 23 de junho/2006; 7º - 11
de agosto/2006; 8º - 6 de outubro/2006; 9º - 10 de novembro/2006; 10º - 24 de
novembro/2006; 11º - 1 de março/2007; 12º - 12 de abril/2007; 13º - 30 de agosto/2007;
14º - 20 de setembro/2007; 15º - 25 de outubro/2007.
Inicialmente, as visitas se destinaram ao conhecimento da família para busca de
informações sobre o seu passado e presente, onde se buscou conhecer a família, suas
necessidades e limitações, principalmente as dificuldades enfrentadas pela família e as
mudanças ocorridas após a doença, ou seja, observando a realidade da família. Num
segundo momento, no decorrer da disciplina, destinou-se à busca dos pontos chaves
para a melhor compreensão dos principais problemas da família para que fosse possível
elaborar estratégias e soluções para os mesmos e assim prosseguir com a intervenção.
Após observação e levantamento dos principais problemas, foi feita a teorização dos
mesmos para o conhecimento teórico destes problemas, sendo realizado fora da área do
estudo, através da consulta de livros e artigos acadêmicos. A partir do conhecimento
teórico sobre os problemas, elaboraram-se hipóteses de solução, para serem aplicados
durante a intervenção. A aplicação da intervenção baseou-se em apresentar hipóteses de
soluções para os problemas, além de orientações e informações prestadas, destinando-se
a melhorar a qualidade de vida da família assim como, mudanças nos hábitos e
comportamentos. Ao final, fez-se uma análise das melhorias obtidas após a intervenção
comparando-as com o estilo de vida da família antes da intervenção.
II.7 ANÁLISE DOS DADOS, TRATAMENTO ESTATÍSTICO
Este estudo não possui resultados com dados estatísticos. Os resultados obtidos
foram analisados pela autora, considerando a realidade em que a família se encontra.
III RESULTADOS
III.1 DESCRIÇÃO
Durante o período de acompanhamento foram levantados problemas, dentre
estes, destacamos a deficiência na qualidade de vida incluindo a falta de socialização do
paciente devido à incapacidade de comunicação e movimentação, um estilo de vida
deficiente na alimentação, atividades físicas e a não realização da fisioterapia e
fonoaudiologia, sendo estes essenciais para melhorar a capacidade funcional do
paciente, assim como, realizar algumas atividades básicas sem dependência.
A intervenção foi aplicada nesses problemas de forma a conscientizar a família
sobre os benefícios das mudanças no estilo de vida, proporcionando uma melhor
qualidade de vida.
Conseguiu-se conscientizar a família quanto aos tratamentos fisioterápicos e
fonoaudiólogos, a qual procurou a secretaria de saúde para que o paciente pudesse fazer
o tratamento gratuitamente. Sendo iniciado após o início da intervenção. Durante
algumas visitas, foi possível observar melhorias nos movimentos e comunicação. Pois o
paciente passou a se levantar do local que estivesse em repouso e a se alimentar
sozinho, e melhorou a comunicação conseguindo dizer algumas palavras. Dessa forma
ele consegue se expressar melhor sendo entendido por todos que estão à sua volta.
Também houve mudanças na dieta, através das orientações a família aderiu a
uma dieta hipossódica, hipocalórica, hipolípidica, introduzindo mais frutas e verduras
evitando assim agravos como hipertensão, diabetes mellitus e dislipidemias, sendo
estes, agravantes para o paciente com seqüelas do AVC.
O paciente e sua esposa passaram a freqüentar o grupo de idosos no bairro –
PROMAN – onde são desenvolvidas atividades educativas e de socialização para a
terceira idade, proporcionando melhores condições físicas e psicológicas. O retorno
social proporcionou um melhor desenvolvimento funcional ao paciente, tornando-o
menos depressivo e mais comunicativo e independente para suas atividades básicas,
melhorando os seus relacionamentos com a família, parentes e vizinhos. Sua esposa
passou a cuidar mais de si própria, melhorando sua auto-estima.
IV DISCUSSÃO
IV.1 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Nas primeiras visitas observou-se que o paciente era acamado, desanimado,
depressivo, queixoso, com hemiplegia direita e pressão arterial em média de 120/80
mmHg. O paciente faz uso de sete medicamentos: Fenobarbital 100 mg; Fenitoína 100
mg; Furosemida 40 mg; Captopril 25 mg; Marevan 5 mg; Ácido fólico 5 mg; e Iodeto
de Potássio xarope. As orientações realizadas foram quanto à importância da prática da
fisioterapia e fonoaudiologia e exercícios físicos leves, o retorno ao convívio social, o
retorno periódico a consultas médicas, a importância de uma dieta correta para a
patologia, cuidados na administração dos medicamentos.
O ESTILO DE VIDA ANTES O AVC
Para verificar o perfil do estilo de vida antes e após o acidente vascular cerebral,
utilizou-se um instrumento contendo os seguintes componentes: histórico familiar,
hábitos gerais, atividades diárias, alimentação, stress, além de outras informações.
No histórico familiar nota-se a presença de diabetes mellitus (DM), hipertensão
arterial sistêmica (HAS) e acidente vascular cerebral (AVC) em parentes
consangüíneos. Quanto aos hábitos gerais o paciente apresentava hipertensão arterial
não controlada, colesterol e ácido úrico elevados, além de fazer uso de bebidas
alcoólicas e ser tabagista.
A atividade de trabalho era variada, pedreiro, pintor e por último comerciante,
trabalhando em torno de 8 horas diárias. Não praticava atividades de lazer, considerava
o trabalho como uma opção lazer. Não praticava nenhum esporte, realizava uma
caminhada como meio de deslocamento para o trabalho. Com relação ao exercício e a
atividade física, na maior parte de sua fase adulta, foi pouco ativo. Porém anos antes de
sofrer o AVC, considerava-se ativo.
A alimentação era rica em gorduras e pobre em frutas e verduras, realizava 3
refeições diárias. Não realizava nenhum tipo de dieta e não fazia uso de medicamentos.
Quanto ao componente stress durante a sua vida ativa antes do AVC, não
apresentava níveis considerados, sempre teve uma vida com despesas controladas. No
quesito outras informações, foram descrito que antes do AVC não apresentava nenhum
sintoma a nível físico e/ou orgânico.
Observa-se diante do exposto, que fatores como stress elevado, alimentação rica
em gordura, a hipertensão não controlada, estilo de vida pouco ativo, e a obesidade,
além dos valores elevados de colesterol total e acido úrico e do histórico familiar
positivo a doença cardíaca, já demonstravam a predisposição ao acidente vascular
cerebral ou qualquer outro tipo doença do aparelho cardiovascular.
O ESTILO DE VIDA APÓS O AVC
Considerando a atualidade após o AVC, o indivíduo viu-se deprimido, incapaz,
dependente e obrigado a mudanças no seu estilo de vida, a fim de garantir uma melhor
qualidade de vida e uma sobrevida durante mais alguns anos.
Neste estudo observou-se que atualmente o paciente apresenta hipertensão
arterial e mantêm os valores de colesterol, triglicérides e acido úrico nos níveis normais,
através de medicamentos.
Encontra-se com limites nos movimentos devido à paralisia do lado direito do
corpo e apresenta problemas circulatórios (varizes). Não praticava atividade de lazer e
exercícios físicos regulares, passou a fazê-los após a intervenção. Dentre os exercícios
físicos destaca-se a prática da fisioterapia e os exercícios prescritos pelo fisioterapeuta,
sendo realizados em casa com a ajuda de sua filha. Não tem nenhuma atividade diária
ativa após o AVC.
A alimentação é rica em frutas e verduras, evita comidas gordurosas, calóricas
realizando 4 ou 5 refeições diárias. Submete-se a uma dieta para manter o peso.
A família não relata o componente stress para o paciente, apenas a depressão e
dependência física o que às vezes o torna “rebelde” e “teimoso”.
Destaca-se também, a importância do exercício físico regular para o seu estado
atual, os exercícios fisioterápicos e fonoaudiólogos, deixando-o com mais disposição,
mais força física e consciente sobre a adoção do estilo de vida ativo. Dentre as
mudanças ocorridas relata-se mais cuidado com alimentação, a prática da fisioterapia e
fonoaudiologia, atividades de lazer e exercício físico regular.
IV.2 COMPARAÇÃO COM OUTROS ESTUDOS
Zétola & Novak (2001), realizaram análise epidemiológica de 164 pacientes com
acidente vascular cerebral, a fim de caracterizar os principais tipos de AVC e fatores de
risco associados. Neste estudo diagnosticou-se a trombose como provável causa de
AVC isquêmico em 68 (48%) pacientes. A hipertensão arterial foi o fator de risco mais
prevalente estando presente em 91 (63,8%) dos pacientes com AVC isquêmico. O
tabagismo foi observado em 85 (60,3%) pacientes, o abuso do álcool foi presente em 28
(19,25%) pacientes e 19 (13,58%) mulheres eram usuárias de anticoncepcionais. Entre
as doenças do metabolismo destacou-se dislipidemia mista em 33 (23,47%),
hipercolesterolemia isolada em 3 (2,14%) e diabetes mellitus em 19 (13,58%) pacientes.
Histórico familiar de AVC esteve presente em 59 (41,85%) pacientes.
Em estudo que procurou investigar o efeito de um programa de atividade física e
recreativa regular na saúde e qualidade de vida geral de 18 pessoas com seqüelas de
acidente vascular isquêmico, Costa & Duarte (2002), encontraram melhorias em todos
os componentes avaliados pelo questionário (SF-36). Concluíram também que a
realização da atividade física regular ou sistemática, através de um programa
adequadamente estruturado, que leve em consideração os interesses, as limitações e as
potencialidades das pessoas portadoras de seqüelas do AVC, podem constituir num
importante elemento para melhoria da auto-imagem, auto-realização e auto-capacitação,
além dos ganhos fisiológicos, interferindo positivamente sobre a saúde física e a
capacidade funcional deste público.
Segundo Gomes (2005), compreende-se, que diante das seqüelas apresentadas
pelos portadores de AVC o equilíbrio tem uma importância significativa na melhoria da
confiança, da independência e da auto-estima, e que conseqüentemente levaria a
melhoria da qualidade de vida, através dos aspectos relacionados à saúde.
IV.3 DIFICULDADES E LIMITAÇÕES
Na maioria das visitas foi necessário a ênfase nas orientações prestadas, pois
inicialmente se notava grande resistência da família em relação às mudanças nos hábitos
de vida do paciente, o que afetaria indiretamente nos hábitos de toda a família. Após
algumas visitas, notou-se que o paciente encontrava-se mais animado, aderiu a
exercícios leves, atividades de lazer e a família seguiu as orientações quanto a uma dieta
mais saudável.
V CONCLUSÃO
V.1 SÍNTESE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS
As principais mudanças observadas no estilo de vida do paciente foram a
alimentação, a dependência física para suas atividades, o isolamento social e o uso de
medicamentos. As limitações apresentadas na marcha dificultam a realização das
atividades da vida diária, onde se manteve dependente, porém após a prática da
fisioterapia e fonoaudiologia o paciente se apresenta menos dependente e mais
comunicativo como no início das visitas.
Dentre as mudanças do estilo de vida, com a prática de exercícios físicos
regulares e o controle alimentar, o uso correto dos medicamentos e o retorno ao
convívio social, aparecem como comportamentos importantes para a melhoria da
qualidade de vida, dando-lhe maior disposição e autonomia em seus movimentos.
Porém, deve-se manter um controle nos cuidados para afastar os fatores de risco que
possam agravar o estado de saúde do paciente e também da família.
Acredita-se que as mudanças no componente alimentar por meio de dietas
hipossódica, hipolipídica e hipocalórica, tem contribuído de forma significativa para a
manutenção dos níveis de colesterol, triglicérides, glicemia, assim como a manutenção
da pressão arterial. A necessidade da manutenção do peso corporal total, já que o
paciente não possui mais uma vida ativa, é essencial para trazer melhores contribuições,
seja física ou psicológica.
O uso de muitos medicamentos provoca resistência em relação ao paciente e
também alguns incômodos, devido principalmente a stress químico que o organismo é
submetido, afetando diretamente na qualidade de vida deste indivíduo.
Os
déficits
funcionais
e
cognitivos,
mudança
de
personalidade
ou
comportamental, bem como da comunicação, são alterações impostas pelo AVC. Elas
geram níveis de incapacidades, comprometendo não somente o paciente, mas a família e
a comunidade.
V.2 SUGESTÕES DE NOVAS PESQUISAS
Com o acompanhamento do paciente M.F.L., percebeu-se que há necessidade de
novos estudos, buscando o acompanhamento e análise do papel do cuidador do doente.
Neste estudo observou-se uma sobrecarga da senhora M.J.G.L. esposa, em relação aos
cuidados com o marido.
V.3 PROPOSIÇÕES DE RECOMENDAÇÕES DE INTERVENÇÕES
Através deste estudo, percebe-se a importância do acompanhamento domiciliar
do paciente e da sua família, o que possibilita a identificação das dificuldades
enfrentadas no cotidiano e no relacionamento entre os integrantes da família e, por
conseguinte, o estabelecimento de planos de intervenções para a assistência mais
adequados à realidade familiar e necessidades do paciente.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a equipe do PSF Paracatuzinho pelo acolhimento dos alunos da
Faculdade Atenas, pela colaboração e por fornecer as informações necessárias da
família acompanhada.
Em especial, agradeço a colaboração e cooperação da família estudada em
aceitar o acompanhamento e fornecer todas as informações necessárias para a realização
deste estudo. Agradeço também por essa família ter me proporcionado grandes alegrias,
motivações e principalmente, uma experiência de vida, na qual tive a honra de verificar
que apesar das dificuldades, é possível viver em harmonia e felicidade.
ABSTRACT
Introduction: This study is based on monitoring of a family, which has a patient with
cerebrovascular accident of 70 years, of the masculine sex, with right hemiplegia and
consequently decrease of functional capacity. Objective: To identify and characterize
the profile of quality and style of life and functional capacity. Methodology: This is a
qualitative study on the principles of structured case study, conducted in the area of
coverage of family health programme Paracatuzinho in the city of Paracatu - Minas
Gerais, for a period of one year and six months in the years 2006 and 2007. Data
collection was done through home visits and information provided by the team of
family health programme, which were recorded in a log-book. Were collected die on
family history, general habits, daily activities, nutrition and stress, observing the
changes in lifestyle before and after the cerebrovascular accident. Results: It is the
family awareness about the treatment physiotherapy and speech therapists. There were
also changes in diet, the family joined a hyposodic diet, calorie, hypolipidic, introducing
more fruits and vegetables. The social returns provided a better functional development
to the patient, making it less depressing and more communicative and independent for
their basic activities. Conclusion: The functional and cognitive deficits, personality or
behavioral change and communication, are changes imposed by cerebrovascular
accident. They generate levels of disabilities, compromising not only the patient but the
family and community producing a very large impact, creating uncertainties due to
recurring crises and overload physical, emotional and financial.
Keywords: Family; Cerebrovascular Accident; Lifestyle; Quality of Life.
REFERÊNCIAS
Berbel, N. N. A Problematização e a Aprendizagem Baseada em Problemas:
Diferentes Termos ou Diferentes Caminhos? Interface - Comunicação, Saúde,
Educação, v.2, n.2. 1998.
Costa, A. M. & Duarte, Edison. Atividade física e a relação com a qualidade de vida,
de pessoas com seqüelas de acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI). Revista
Brasileira de Ciência e Movimento, 10(1): 47-54, jan. 2002.
Falcão, I.V. Acidente Vascular Cerebral Precoce: Implicações para adultos em idade
produtiva atendidos pelo Sistema Único de Saúde. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant,
Recife, (4) 1: 95-102 , Jan./Mar. 2004.
Gomes, M. A. & Gomes, M. B. A. Aspectos do estilo de vida e da capacidade
funcional do portador de acidente vascular cerebral (AVC): um estudo de caso.
Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 104 - Enero de 2007.
Gonçalves A. & Vilarta R. Qualidade de vida e atividade física - Explorando teoria e
prática. São Paulo, Manole, 2004.
Machado, H.B. Enfrentando a condição crônica de saúde após um acidente
vascular cerebral: um estudo de caso. Dissertação de Mestrado, Faculdade de
Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, 1995.
Nahas, M. V. Atividade física, saúde & qualidade de vida. (3 Ed) Londrina:
Midiograf, 2003.
Zétola, V. H. F. & Nóvak, E. M. Acidente Vascular Cerebral em Pacientes Jovens Analise de 164 Casos. Arquivos de neuropsiquiatria, 59(3-b):740-745. 2001.
Download

repercussões do acidente vascular cerebral na família