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Classificação do artigo 23 jan 2015 O Globo
[email protected] MERVAL PEREIRA oglobo. globo.com/ blogs/ blogdomerval
A encruzilhada dos BRICS
O contraste entre os países do BRICS pôde ser medido ontem pela ambição de seus representantes no
debate promovido pela Globonews aqui no Fórum Econômico Mundial, em Davos.
De um lado, Índia e China falando de um crescimento do PIB em torno de 7%a 8% nos próximos
anos, enquanto do lado do Brasil, com a perspectiva de crescimento perto de zero este ano, o ministro
Marcelo Neri teve que fazer uso de metáforas para estabelecer o país como um membro efetivo do grupo,
que vem decepcionando o criador do acrônimo, economista Jim O´Neill, e um dos principais investidores
internacionais, o presidente da Nissan­Renault Carlos Ghosn.
Disse Neri que o país está retornando ao “caminho do meio”, que havia escolhido no primeiro governo
Lula, unindo uma política econômica de mercado ortodoxa, favorável à iniciativa privada, com a
manutenção de programas sociais. Ele citou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como “um dos
melhores economistas que se poderia encontrar”, e destacou que sua origem na Escola de Chicago,
dentro de um governo de esquerda, fará com que os embates de tendências na sociedade explicitados nas
eleições presidenciais encontrem uma convergência.
Com a mediação de Silio Boccanera, o programa será apresentado amanhã na Globonews. A definição
de Ghosn resume bem o estado de espírito em relação ao BRICS: “Nós continuamos a investir nesses
países (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) porque investimos não para os próximos dois ou três
anos, mas para os próximos 10 a 15 anos, e sabemos do potencial dessas economias. Por isso, estamos
decepcionados".
O representante da China, Justin Lin, professor da Escola Nacional do Desenvolvimento da
Universidade de Beijing, justificou o fato de o país não crescer mais como em anos anteriores, a taxas
superiores a 10% ao ano. Segundo ele, não é possível manter a média dos últimos 36 anos, em que o
país cresceu a 9,7%, porque a situação mundial mudou muito, a fraqueza das economias internacionais
não permite que a China mantenha exportações fortes e faz com que se volte mais para o consumo
interno.
Mas acrescentou que a China será capaz de manter um crescimento médio de 7% nos próximos anos,
mantendo­se como “a máquina de crescimento do mundo”. Da mesma maneira, Arun Jaitley, ministro
das Finanças do novo governo da Índia, disse que o país fará as reformas necessárias para voltar a crescer
a taxas de 8% ao ano, e salientou que a queda do preço do petróleo vai ajudar a Índia a controlar a
inflação.
Ao contrário, o representante da Rússia, Alexei Kudrin, reitor da Escola de Artes Liberais e Ciências da
Universidade de São Petersburgo, disse “que a Rússia vai ter que aprender a viver com preços de petróleo
mais moderados”. Para tanto, será preciso fazer as reformas estruturais que foram postergadas e
diversificar a economia, o que a longo prazo pode ajudar a melhorar a situação econômica.
Também a África do Sul, segundo seu ministro de Finanças, Nhlanhla Musa Nene, se esforçará para
retomar as reformas estruturais que permitam crescimento econômico com programas sociais de apoio
aos pobres, embora tenha salientado que serão necessárias medidas de contenção de despesa para
reencontrar o equilíbrio fiscal, mesma situação do Brasil, que foi representado pelo ministro Marcelo Neri,
que salientou sempre a queda da desigualdade de renda no Brasil desde 2011.
Ele admitira em outro debate que “houve uma redução no crescimento e uma estabilidade na queda
da desigualdade. Voltamos aos níveis de desigualdade dos anos 80 na América Latina e 60 no caso
brasileiro”. Mas ontem destacou que mesmo com um crescimento econômico baixo nos últimos dois anos,
de 0,8% ao ano do PIB per capita, a renda média das pessoas medidas pelas pesquisas domiciliares cresce
5,5% ao ano no mesmo período.
Neri usou muito a expressão “caminho do meio”, referindo­se à estratégia chinesa de uma economia
de mercado com forte atuação governamental, para dizer que o objetivo da nova equipe econômica é
retomar o caminho do crescimento com distribuição de renda que foi a tônica do país antes da crise
financeira de 2008.
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