Área do conhecimento: G.3.1 - Filosofia
Uma abordagem erótica e imagética da educação moral em Platão
1. Estudante de doutorado
*[email protected]
da
Faculdade
de
Educação
da
Universidade
Estadual
de
Campinas
–
FE/Unicamp
Palavras Chave: Platão, Educação moral, Eros.
Introdução
Este trabalho resulta de um conjunto de apontamentos
obtidos ao final de um período de pesquisa desenvolvido
na Universidade de Salamanca (doutorado sanduíche no
exterior). O tema da referida pesquisa abrangeu o campo
dos estudos filosóficos, mais precisamente no tocante às
relações entre a educação moral, o erotismo e as imagens
dentro do universo platônico. Platão reconhece no poder
de persuasão das imagens uma potência pedagógica
(erótica e moral) capaz de modelar a conduta do individuo
tanto no âmbito político (forjando o bom cidadão) quanto
no âmbito anímico (formando a moral do homem virtuoso).
Por intermédio das imagens, Platão pretenderia, por assim
dizer, dissolver os conflitos políticos e domesticar os
impulsos irracionais da alma. Colocadas sob esse ponto
de vista, as imagens seriam aliadas e não adversarias da
razão, posto que elas atuariam, desse modo, em
conformidade com os ditames da racionalidade e não em
contrariedade para com eles. O objetivo principal deste
trabalho é o de explicitar essa capacidade ou potência
pedagógica das imagens (e especialmente delas) em
moralizar a alma humana, incutindo-lhe uma espécie de
desejo ou inclinação para um tipo de conduta que Platão
considera virtuosa.
Resultados e Discussão
A metodologia utilizada para esta investigação é a
pesquisa bibliográfica, a qual consiste no recorte e na
seleção do tema dentro do corpo dos textos platônicos. O
principal diálogo utilizado foi o Fedro, onde está
concentrada grande parte dos argumentos filosóficos de
Platão quanto ao papel moralizador e pedagógico das
imagens. O caráter erótico da educação, segundo o Fedro,
está relacionado à posição intermediária da educação
entre a ignorância (o não conhecimento) e o desejo pela
sabedoria. Tal como a divindade Eros, educação é um
desejo, desejo pelo que não se possui. Uma eterna e
constante busca. As imagens, por sua vez, seriam dentro
dessa narrativa alegórica (Platão utilizava-se dela para
expor muito de seus argumentos) uma espécie de
alimento nutritivo da alma humana para essa busca do
verdadeiro conhecimento, racional e perfeito. Assim, este
tipo de conhecimento verdadeiro, estimulado pelas boas
imagens (conjunto de representações cujo conteúdo
expressa uma moralidade adequada) visaria promover na
alma humana, em contínuo processo de aprendizagem,
um apreço, desejo ou inclinação ao Bem. Este Bem,
dentro do contexto filosófico de Platão, possui acepção de
ideia ou paradigma moral (o bom cumprimento das
obrigações de cidadão, por exemplo) e deve ser tido como
modelo para toda formação humana.
Conclusões
Ao final deste período de pesquisa obtivemos alguns
apontamentos interessantes com respeito ao potencial
pedagógico das imagens, notadamente em seu aspecto
moralizador. As imagens seriam para o filósofo os
melhores e mais adequados instrumentos pedagógicos
para o estímulo da boa conduta moral posto que a ação de
educar, num primeiro momento, estaria mais próxima do
procedimento psicológico de incutir determinadas
verdades mediante convenientes exemplos (a coragem de
Aquiles ou a astúcia de Ulisses, entre outros). Além disso,
devido ao seu caráter erótico, intermediário, as imagens
nem de todo constituem verdades ou falsidades, mas sim
potencialidades para o Bem e para a razão. A
conveniência desses exemplos atuaria (por decisão do
Governante-educador) como um critério de verdade válido
segundo uma finalidade educativa almejada: coragem e
astúcia dentro de um contexto de defesa da pólis, por
exemplo, seriam condizentes com as diretrizes da boa
moralidade e reta conduta almejadas.
Agradecimentos
Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo - FAPESP pelo financiamento do
estágio sanduíche numa das mais renomadas instituições
de ensino espanholas por meio da concessão da Bolsa de
Estágio de Pesquisa no Exterior – BEPE, bem como ao
professor Dr. Ignacio García Peña pela acolhedora e
cordial estadia na Faculdade de Filosofia da Universidade
de Salamanca – FF/Usal. Ademais, também aclaro o apoio
e respaldo da orientadora de doutorado no Brasil,
professora Drª. Lidia Maria Rodrigo. Este trabalho em
muito resulta da confiança e do incentivo da referida
agência de fomento e dos valiosos e profícuos
conhecimentos adquiridos ao longo do estágio, sob a
simultânea supervisão dos professores García e Rodrigo.
____________________
CORNFORD, F. M. Principium Sapientiae: as origens do pensamento filosófico
grego. Tradução de Maria Manuela Rocheta dos Santos. Lisboa: Calouste
Gulbenkian, 1989.
DETIENNE, M. Os mestres da verdade na Grécia arcaica. Tradução de Andréa
Daher. Rio de Janeiro: Zahar, 1988.
DODDS, E. R. Os gregos e o irracional. Tradução de Leonor de Carvalho.
Lisboa: Gradiva, 1988.
GOLDSCHMIDT, V. Os diálogos de Platão: estrutura e método dialético.
Tradução de Dion Macedo. São Paulo: Loyola, 2002.
JAEGER, W. Paideia: a formação do homem grego. Tradução de Artur Pereira.
São Paulo: Martins Fontes, 1995.
PEÑA, I. G. “El Banquete: de la visión abstracta de Eros a la historia de amor de
Alcibíades”. Anales del Seminario de Historia de la Filosofía, Madrid, vol. 24,
pp. 7-41, 2007a.
_________. El Jardín del alma: Mito, Eros y escritura en el Fedro de Platón.
Salamanca: Universidade de Salamanca, 2009. (FF – Tese de Doutorado)
PLATÃO. Diálogos. Volumes I a XIII. Tradução Carlos Alberto Nunes. Belém:
UFPA, 1973-1986.
67ª Reunião Anual da SBPC
Download

Uma abordagem erótica e imagética da educação moral em Platão