CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO
SARAH LIRA VIEIRA
CRÉDITO CONSIGNADO: UM ESTUDO DE CASO COM SERVIDORES
PÚBLICOS DA SECRETÁRIA EXECUTIVA REGIONAL VI DA PREFEITURA
MUNICIPAL DE FORTALEZA
FORTALEZA
2014
1
CRÉDITO CONSIGNADO: UM ESTUDO DE CASO COM SERVIDORES
PÚBLICOS DA SECRETÁRIA EXECUTIVA REGIONAL VI DA PREFEITURA
MUNICIPAL DE FORTALEZA
SARAH LIRA VIEIRA¹
MARCO AURÉLIO J. MERICHELLI²
RESUMO
O crédito consignado vem tomando um espaço de destaque entre as modalidades
de créditos presentes no mercado. Isso se dá tanto pelos baixos juros aplicados
como pela garantia que as entidades que praticam essa modalidade têm do retorno
do capital. O servidor público é um dos clientes que usufruem desse crédito. O
objetivo deste trabalho é investigar os efeitos do crédito consignado para os
servidores públicos da Secretaria Executiva Regional VI, da Prefeitura Municipal de
Fortaleza, do setor de serviços gerais. Foram utilizadas como método para obtenção
dos dados pesquisa bibliográfica e entrevista semiestruturada.
Palavras-Chaves: Crédito Consignado. Servidor Público. Prefeitura Municipal de
Fortaleza.
ABSTRACT
The payroll loans has been taking a prominent space between the modalities of
credits on the market. This is by the low interest applied as ensuring that entities who
practice this sport have the return of capital. The public server is one of the
customers who take advantage of this credit. The aim of this study is to investigate
the effects of payroll loans for public servants of the Regional Executive Secretariat
VI, of Prefeitura Municipal de Fortaleza, general services sector. Were used as a
method to obtain the bibliographical research data and semi-structured interview.
Key Words: Payroll Loans. Public Server. Prefeitura Municipal de Fortaleza.
_________________________
1 Sarah Lira Vieira, Acadêmica do Curso de Bacharelado em Administração de Empresas pela
Faculdade Cearense – FaC.
2 Marco Aurélio Jarreta Merichelli, Mestre em Administração.
2
SUMÁRIO: 1 Introdução; 2 Sistema Financeiro Nacional e
seus Órgãos Reguladores; 2.1 Subsistema Normativo;
2.1.1 CMN; 2.1.2 BACEN; 2.1.3 CVM; 2.2 Subsistema
Operativo; 2.2.1 Instituições Bancárias; 2.2.2 Instituições
Não Bancárias; 3 Instituições Financeiras; 4 Empréstimos;
5 Prefeitura De Fortaleza; 6 Servidor Público Municipal; 7
Margem Consignada; 8 Metodologia; 9 Entrevistas; 10
Análise De Dados 11 Considerações Finais; Referências;
Anexos
3
4
1
INTRODUÇÃO
A Confederação Nacional do Comércio - CNC realiza mensalmente a
Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor - PEIC
NACIONAL, que vem sendo realizada desde janeiro de 2010, coletando dados em
todo território nacional, com uma amostra de cerca de 18.000 consumidores. Por
meio da PEIC (2014), foi identificado que houve uma pequena baixa no percentual
de famílias endividadas em relação a março de 2014 quando comparado com o
mesmo período no ano de 2013, variando de 61,2%, em março de 2013, para 61,0%
em março de 2014. Já o percentual de dívidas ou contas em atraso avançou neste
período, passando de 19,5% em março de 2013 para 20,8% em março de 2014.
Outra variável importante, que avançou neste período, segundo a PEIC 2014, foi o
percentual de famílias que não terão condições de pagar suas dívidas, que passou
de 6,3%, em 2013, para 7,1%, em 2014.
Este trabalho aborda aspectos relacionados às causas e consequências
de um processo de abertura de crédito consignado, tendo como objeto de estudo os
servidores públicos da Secretaria Executiva Regional VI da Prefeitura Municipal de
Fortaleza (SER VI), mais especificamente aqueles que trabalham no cargo de
serviços gerais.
Sobre esse tema foi elaborado um estudo do estado da arte no início de
2014, relativo a assuntos que se assemelham ao estudo realizado por este trabalho,
discriminado pelos autores a seguir, com o intuito de expor as principais ideias e
percepções que norteiam esse tema.
De acordo com Scheraiber, (2009) a temática sobre crédito e o
empréstimo consignado é vista por uma vertente que considera a publicidade e o
marketing aplicado a essa prática de liberação de crédito muito expansiva e abusiva,
já que acaba induzindo aos tomadores a prática do dinheiro fácil e com juros
mascarados. E deixa claro que defende a prática do crédito consignado sob uma
ótica que vise a proteção do consumidor, respaldado por instituições financeiras que
atuem de acordo com o Sistema Monetário Nacional, norteadas por princípios
básicos como: equidade, boa-fé e equilíbrio; além de defender a alteração e
implementação de novas vertentes na legislação no que se diz respeito aos juros
1
praticados, e o cuidado na concessão de direito aos correspondentes bancários,
visto que são a parte mais próxima dos tomadores, e que esses tem grande poder
de influência sobre suas decisões.
Já Sampaio (2008) buscou, através dessa pesquisa, agrupar informações
sobre empréstimos consignados, visto que este tema vem crescendo em termos de
popularidade caracterizando uma grande demanda no que diz respeito à captação
de recursos para os cofres públicos. Também foi constatada uma forte relação entre
os aspectos econômicos, a política monetária do país, os juros, a legislação que
muito favoreceu a obtenção de crédito fácil e livre de inadimplência, bem como a
demanda da sociedade na obtenção dessa modalidade de crédito.
Flores, Vieira e Coronel (2012), retratam em seu estudo uma análise
sobre a tendência (propensão) ao endividamento e a percepção de risco de um
grupo de servidores, ele descreve que mesmo com uma profissão estável e a
tendência aos gastos serem mais atrativos, o público estudado, ou seja, servidores
públicos de uma universidade, demonstram uma comportamento mais conservador
no que se refere ao endividamento.
Barreto, Vieira e Silva (2011) buscam, através de pesquisa, identificar o
perfil do público tomador bem como os motivos que os levaram a essa aquisição.
Portanto, foi visto que na amostra verificada há uma predominância de
tomadores de baixa renda, casados, e que buscam nos empréstimos uma forma de
adquirir bens ou realizar outras obrigações bancárias. Porém, mesmo o empréstimo
consignado sendo visto como uma vantagem ou um benefício para o seu publico, é
preciso que ele esteja acompanhado de muita orientação financeira, planejamento e
cautela para que ele não se torne mais um fator agravante de endividamento.
O Banco Central cita o estudo feito por Rodrigues, Chu, Alencar e Takeda
(2006), que tem como objetivo avaliar a diferença entre as taxas de juros do
empréstimo consignado e o crédito pessoal concedido a pessoas físicas, visto que é
notória a diferença redutiva do crédito consignado. Essa diferença se dá
principalmente pela garantia imposta da concessão do crédito consignado, sendo
assim, o banco pode reduzir sua taxa, visto que está garantido o retorno do recurso
emprestado e a eliminação da inadimplência, dessa forma conclui-se porque as
taxas de juros praticadas pelo crédito pessoal é mais elevado, devido ao risco
dessas operações.
2
O estudo realizado por Figueredo e Carvalho (2012) mostra a evolução do
crédito consignado no Brasil entre os anos 2000, que teve essa notável ascensão,
principalmente após o reconhecimento da Lei 10820/03, que permite os descontos
do crédito na folha de pagamento desde 2003 e aos incentivos do governo.
Ferreira (2008), por meio do seu estudo sobre crédito consignado e
superendividamento, considera que estes dois fatores andam lado a lado, visto que
a automatização dos descontos em folha de pagamento por muitas vezes
impossibilitam o consumo e suprimento das necessidades básica dos tomadores.
Também é observado que o endividamento afeta cada vez mais as famílias
brasileiras, que procuram essa alternativa muitas vezes para liquidar antigas dividas,
e acabam não notando que apenas substituem uma divida por outra. Sendo assim,
esse artigo propõe a reflexão e futura análise de propostas que visem reorganizar a
legislação que norteia esse tema.
Gomes (2011) relata em seu estudo medidas que possam evitar ou
amenizar o superendividamento causado pela prática do crédito consignado. O
crescimento dessa linha de crédito teve grande aceitação devido a um conjunto de
vantagens, tais como: juros mais atrativos e reduzidos que as demais linhas de
crédito, bem como o baixo risco de inadimplência. Mesmo com certas vantagens, o
crédito consignado pode se tornar um risco aos seus tomadores, pois estes, no ato
da contratação, podem realizar operações com agentes falsos e revelar informações
e documentos importantes que possam ser manuseados com má fé. Outro ponto
que precisa de cuidados é o recebimento de agentes de crédito nas residências dos
clientes, pois aumenta o risco para esse público, além do risco relacionado à
falsificação de documentos, proporcionando golpes de estelionatários. Também
buscou-se, através dessas medidas corretivas, a proibição de vendas casadas e as
taxas de abertura de crédito, assim essas medidas buscam proteger o consumidor
contra o marketing abusivo, muitas vezes manuseados com falta de clareza,
informações restritas, cláusulas abusivas e falta de transparência, isso é possível
pois são usados mecanismos como, teto de juros, banco de dados de reclamações e
limites de endividamento que foram adotadas por instituições de proteção ao crédito
e ao consumidor bem como influência da legislação de cada Estado acompanhada
3
de punições, e mesmo ainda não solucionando por completo todas as falhas,
reduzem significativamente os abusos causados sobre o tema.
Dessa forma, concluímos o estudo da arte. Continuaremos com a
apresentação da problemática do trabalho, bem como os passos da metodologia
aplicada a pesquisa.
Este estudo baseia-se na questão-problema: como vivem os funcionários
da Prefeitura Municipal de Fortaleza que são tomadores recorrentes de crédito
consignado?
A partir deste problema, o trabalho tem como objetivo investigar os
efeitos do crédito consignado para os servidores do setor de serviços gerais da
Secretaria Executiva Regional VI da Prefeitura Municipal de Fortaleza.
Para tanto, a coleta de dados foi feita através de pesquisa bibliográfica e
optou-se por elaborar uma pesquisa com uma abordagem qualitativa por meio da
aplicação de entrevistas semiestruturadas aos servidores municipais da SER VI no
setor de serviços gerais.
O trabalho torna-se importante devido sua busca em apresentar algumas
causas e consequências que advém da prática do crédito consignado para seu
público tomador, tentando despertar uma análise crítica de percepção antes de
decidir realizar essa modalidade de crédito, para que haja uma busca de
desenvolver um futuro planejamento financeiro.
O trabalho está dividido em onze capítulos. O primeiro se refere à
introdução. O segundo capítulo faz abordagem ao Sistema Financeiro Nacional e
seus órgãos reguladores bem como a divisão de seus subsistemas. Já o capitulo
seguinte apresenta as Instituições Financeiras. O quarto capítulo refere-se aos
empréstimos, com análise mais aprofundada em empréstimos consignados. Já no
quinto, são feitas abordagens relacionadas a Prefeitura de Fortaleza e sua divisão
em regionais. O sexto capítulo tece informações sobre os servidores públicos e a
margem consignada vem logo em seguida, no sétimo capítulo. No oitavo capítulo,
apresenta-se a metodologia. O nono capítulo aborda a entrevista aplicada. Em
seguida vem o décimo capítulo referenciando a análise de dados. E por fim, as
considerações finais, no décimo primeiro capítulo.
Dessa forma encerramos a apresentação da fase introdutória deste trabalho.
4
2 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (SFN) E SEUS ÓRGÃOS REGULADORES
Daremos continuidade, analisando o sistema financeiro nacional, que é a
base norteadora do fluxo de dinheiro, bem como os órgãos responsáveis pela
regularização desse sistema, suas características e atribuições.
Para Gitman (2010), o Sistema Financeiro é o conjunto de instituições que
se dedicam a obter e aplicar recursos, mantendo um fluxo entre quem empresta e
quem toma emprestado, isso é possível, pois existem dois tipos de grupos
relacionados à renda. São chamados agentes superavitários aqueles que têm renda
superior a seus gastos, já os deficitários têm seus gastos superiores à sua renda.
Sendo assim, pode-se observar que devido aos agentes superavitários
conseguirem poupar sua renda, eles a investem nas instituições financeiras que, ao
capitarem esse capital, podem emprestá-la a quem necessita de crédito, ou seja,
àqueles que não conseguem poupar para liquidar suas dívidas, os chamados
agentes deficitários.
Rudge e Cavalcante (1998, p. 49), afirma que o Sistema Financeiro
Nacional “é o conjunto de instituições e instrumentos financeiros que possibilita a
transferência de recursos dos ofertadores finais para os tomadores finais e cria
condições para que os títulos e valores mobiliários tenham liquidez no mercado”.
Sendo assim, pode-se entender que o SFN é responsável por regular,
fiscalizar e obter recursos. A obtenção de recursos pode ser adquirida daqueles que
possuem mais renda, e assim, através das instituições financeiras, podem ser
emprestados a quem precisa, mediante o incremento de juros e correções.
Segundo Rossetti (2000), Passos e Nogami (1998) a estrutura do SFN
divide-se em dois subsistemas: o Normativo, aquele que é responsável por fiscalizar
e regular as operações e o Operativo ou de Intermediação, que é responsável pelas
intermediações financeiras.
2.1 Subsistema Normativo
O Subsistema Normativo é composto pelo Conselho Monetário Nacional
(CMN), o Banco Central (BACEN) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
5
2.1.1 Conselho Monetário Nacional (CMN)
O CMN foi criado com o objetivo de substituir o antigo Conselho da
superintendência da Moeda e do Crédito (COMOC), é portanto, um órgão federal
que se integra a administração federal direta (NIYAMA E GOMES, 2008).
Segundo Mellagi F. e Ishikawa (2007, p. 116), o CMN “é o principal órgão
normativo do sistema financeiro, não lhe cabendo função executiva”.
Pode-se dizer, portanto, que é responsável por manter o SFN em pleno
funcionamento. Para que isso seja alcançado, são formuladas normas e diretrizes
que devem ser seguidas com a máxima eficiência.
Segundo a Lei nº 9.069, de 29 de junho de 1995, “Compõe o CMN, o
ministro de estado da fazenda, na qualidade de presidente, o ministro de estado de
planejamento, orçamento e gestão e o presidente do Banco Central do Brasil”.
As principais atribuições do CMN segundo o que diz na Lei nº 4.595, de
31 de março de 1964 nos artigos 3º e 4º, são:
Adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da
economia nacional e seu processo de desenvolvimento; regular os calores
interno e externo da moeda e o equilíbrio no balanço de pagamento do país;
orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras; propiciar o
aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros; zelar pela
liquidez e solvência das instituições financeiras; disciplinar o credito em
todas as suas modalidades e as operações creditícias em todas as formas.
Ou seja, pode-se observar que o CMN procura manter o bom
funcionamento das operações que envolvem a moeda, o cambio e o crédito, ele
também é responsável por regular e fiscalizar a atuação das instituições financeiras,
se preocupando em manter o mercado com um bom nível de liquidez e solvência de
suas dívidas, ou seja, evitando a inadimplência.
2.1.2 Banco Central do Brasil (BACEN)
O Banco Central foi desenvolvido a partir de uma necessidade, em
meados do século XX, de se criar um banco que contasse com todos os dados das
operações econômicas do país.
Dessa forma, em dezembro de 1964, é instituída a Lei n° 4.595, que cria o
Banco Central do Brasil, uma autarquia Federal, criada para substituir a antiga
SUMOC - Superintendência da Moeda e do Crédito, que foi criada em 2 de fevereiro
6
de 1945 através do Decreto-lei 7.293, e detinha o papel que hoje é do BACEN. O
início das atividades do BACEN iniciou-se de fato em março de 1965.
De acordo com Rudge e Cavalcante (1998, p.54), “O Banco Central,
entidade autárquica vinculada ao Ministério da Fazenda, é um órgão executivo.
Cabe-lhe cumprir e fazer cumprir as disposições que lhe são atribuídas pela
legislação em vigor e as normas emanadas do CMN”.
A principal função do Banco Central é controlar a disponibilidade da
moeda e do crédito no mercado, ou seja, ele tem a função de executar as políticas
cambiais e monetárias do país. (SALOMÃO N., 2011)
Pode-se entender, portanto, que ele regula a emissão da moeda e a
disponibilidade de crédito no mercado, controlando as taxas de juros, buscando
manter a estabilidade e o crescimento dessas operações.
Suas principais atribuições são, segundo (NIYAMA E GOMES, 2008): a
emissão de moeda, determinar os percentuais de recolhimento compulsório, ou seja,
os juros aplicados, realizar a renegociação de empréstimos as instituições
financeiras, além de realizar a fiscalização das instituições financeiras e aplicar as
penalidades se algo desviar do que está previsto. O banco central também é
responsável por desenvolver normas a serem seguidas, além de executá-las e
fiscalizá-las.
Então se pode observar que o Banco Central tem uma relação de grande
responsabilidade com o sistema financeiro, respondendo principalmente as diretrizes
do CMN e desempenhando um papel de extrema importância tanto no mercado
financeiro, como na fiscalização das operações realizadas pelas instituições
financeiras.
2.1.3 Conselho de Valores Mobiliários (CVM)
Segundo o BACEN, o CVM, instituído pela Lei 6.385, de 7 de dezembro
de 1976:
É responsável por regulamentar, desenvolver, controlar e fiscalizar o
mercado de valores mobiliários do país. Para este fim, exerce as funções
de: assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa e
de balcão; proteger os titulares de valores mobiliários; evitar ou coibir
modalidades de fraude ou manipulação no mercado; assegurar o acesso do
público a informações sobre valores mobiliários negociados e sobre as
companhias que os tenham emitido; assegurar a observância de práticas
7
comerciais equitativas no mercado de valores mobiliários; estimular a
formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários; promover a
expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado de ações e
estimular as aplicações permanentes em ações do capital social das
companhias abertas.
O CVM está vinculado ao ministério da fazenda e recebe orientação do
Conselho Monetário Nacional. Pode-se observar, de acordo com lei citada acima,
que o CVM tem o controle do mercado de valores mobiliários que se referem às
ações, debêntures, ou outros títulos emitidos, além de se preocupar em incentivar o
crescimento do mercado de ações, que é o seu foco principal. Sendo assim,
podemos dizer que a CVM busca basicamente a captação de recursos e a
movimentação do mercado de ações.
2.2 Subsistema Operativo
Para Rudge e Cavalcante (1998, p. 50), “as instituições financeiras que
operam no mercado são classificadas segundo a natureza das obrigações
secundárias que emitem e tipos de operações a que estão autorizadas a realizar”.
Ou seja, a natureza das obrigações se refere à classificação da instituições
financeiras em bancárias e não bancárias.
2.2.1 Instituições Bancárias
Segundo Mellagi F. e Ishikawa (2007, p. 123), as Instituições Bancárias
“são as que intermediam recursos e têm como fonte depósitos à vista e a prazo e
têm capacidade de criar moeda [...], destacando-se: Bancos Comerciais, Caixas
Econômicas e Cooperativas de Crédito/Bancos Cooperativos”.
Os Bancos Comerciais têm em seu principal ramo de atuação, a captação
de recursos com características de curto e médio prazo, esses recursos são
inseridos nos comércios, indústrias ou pessoas físicas e jurídicas, atuando como
capital de giro para esses mercados. Já as Cooperativas de Crédito exercem suas
operações limitando-se aos seus associados, na concessão de crédito e prestação
de serviços. O modo como estas instituições captam seus recursos varia de acordo
com as operações que ele exerce, como: os descontos de títulos; abertura de crédito
8
simples e em conta corrente; empréstimo para capital de giro; depósito a vista ou a
prazo, etc. (NIYAMA E GOMES, 2008)
2.2.2 Instituições Não Bancárias
Para Mellagi F. e Ishikawa (2007, p. 123), as Instituições não Bancárias
“são as que intermediam recursos, mas não têm capacidade de criar moeda [...]
destacando-se Bancos de Desenvolvimento e Bancos de Investimentos”.
Para tanto, entende-se que os Bancos de Desenvolvimento tem como
principal atividade apoiar os empreendimentos e operações de crédito que
proporcione
ao
país
crescente
desenvolvimento,
o
Banco
Nacional
de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS) é um exemplo. Enquanto os bancos
de investimentos captam seus recursos para realizar operações de investimentos ou
financiamentos para abastecer o capital fixo ou de movimentação das empresas. As
operações desses bancos concentram-se em médios e longos prazos, e tem como
suas principais operações: financiamento de capital fixo e capita de giro; repasse de
empréstimos; depósitos a prazo fixo e empréstimos internos e externos. (SALOMAO
N., 2011).
Portanto, concluímos o referencial no que tange o sistema financeiro,
seus órgãos reguladores, bem como as divisões subsequentes entre eles, além de
suas características e atribuições.
9
3
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
Neste capítulo serão dispostas informações acerca das instituições
financeiras, bem como suas características, objetivos e atribuições.
A Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, no artigo 17, diz que:
Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em
vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como
atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de
recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou
estrangeira, e a custodia de valor de propriedade de terceiros.
Parágrafo único. Para efeitos desta lei e da legislação em vigor equiparamse às instituições financeiras as pessoas físicas que exerçam quaisquer das
atividades referidas neste artigo, de forma permanente ou eventual.
Portanto, pode-se entender, segundo Gitman (2010), que as instituições
financeiras têm como principal intuito intermediar e promover a captação de
investimentos sob forma de poupança de pessoas físicas, empresas ou órgãos
governamentais, assim, os recursos poderão ser repassados como empréstimos ou
aplicações. A poupança que um determinado cliente deposita pode servir de crédito
para empréstimos para outro indivíduo ou empresas, que precisem de recurso e não
os têm. Entende-se, então, que as instituições financeiras precisam manter suas
operações de crédito em constante andamento para que haja fluidez no mercado
financeiro.
As instituições financeiras têm como sua principal fonte de aplicação de
recursos captados e maior fonte de receita, as operações de crédito. As
modalidades de crédito são definidas pela legislação, e é assim que são definidas
quais as modalidade de crédito que cada instituição de crédito poderá usar, para
isso, o BACEN estabelece a nomenclatura contábil que poderá ser utilizada, isso se
dá de acordo com o destino dos recursos e a atividade predominante do tomador de
crédito. (Niyama e Gome, 2008).
Dessa forma, o autor citado classifica as operações de crédito em:
Empréstimos, quando as operações não possuem um destino específico, ou um
vínculo que comprove a utilização de seus recursos. Ou seja, o tomador não precisa
informar o destino dos recursos que tomou emprestado, exemplo: capital de giro,
pessoal, adiamento e depositante; Títulos Descontados, quando as operações de
10
descontos de títulos, podem ser sob a forma de duplicatas ou promissórias; e
Financiamento que, diferente das demais modalidades, tem destino específico e tem
vínculo à comprovação da aplicação de recursos. Exemplo: financiamento de
imóveis, rurais, máquina e equipamentos.
Sendo assim, concluímos as definições referentes as instituições financeiras,
analisando seus objetivos e características mais marcantes.
11
4
EMPRÉSTIMOS
Daremos início a introdução do empréstimo, seus conceitos, espécies e
características mais relevantes a esta pesquisa, dando ênfase principalmente ao
empréstimo consignado que é o objeto de estudo deste trabalho.
Segundo o BACEN (2011), o empréstimo bancário é:
Um contrato entre o cliente e a instituição financeira pelo qual ele recebe
uma quantia que deverá ser devolvida ao banco em prazo determinado,
acrescida dos juros acertados. Os recursos obtidos no empréstimo não têm
destinação específica.
Pode-se observar, portanto, que o empréstimo é o firmamento de um
contrato entre duas partes, onde uma tem recursos em grande quantidade e pode
emprestá-los a quem não tem ou precisa para um determinado fim. Para isso, essa
negociação ocorre desde que a parte tomadora do empréstimo se comprometa em
devolver esses recursos em um prazo determinado e ainda com a quantia inicial
acrescida de juros.
Os empréstimos e financiamentos podem variar de acordo com cada
banco ou financeira autorizada, eles podem ser classificados como: crédito pessoal,
consignado, para construção, imóveis, veículos entre outros. O público em geral
também é bastante extenso, podendo ser destinados a pessoas físicas, jurídicas,
específicos para servidores públicos, aposentados e pensionistas do INSS, ou ainda
servidores federais das forças armadas.
Neste trabalho, é dada ênfase aos empréstimos consignados destinados
aos Servidores Municipais da Prefeitura de Fortaleza do setor dos serviços gerais.
Segundo a Lei n° 10.820, de 17 de Dezembro de 2003, Artigo 1°:
Os empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT,
aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1° de maio de 1943, poderão
autorizar, de forma irrevogável e irretratável, o desconto em folha de
pagamento dos valores referentes ao pagamento de empréstimos,
financiamentos e operações de arrendamento mercantil concedidos por
instituições financeiras e sociedades de arrendamento mercantil, quando
previsto nos respectivos contratos.
Segundo o Banco Central do Brasil (2011), Empréstimo Consignado é:
Uma modalidade de empréstimo em que o desconto da prestação é feito
diretamente na folha de pagamento ou de benefício previdenciário do
contratante. A consignação em folha de pagamento ou de benefício
depende de autorização prévia e expressa do cliente para a instituição
financeira.
12
Pode-se, portanto, observar que o crédito consignado em folha de
pagamento é uma modalidade de crédito que estabelece um desconto no salário do
tomador, a fim de pagar a respectiva dívida junto ao banco que emprestou os
recursos. Essa modalidade de crédito garante a quem emprestou a liquidação do
crédito, pois a parcela acertada no contrato de empréstimo será descontada nos
proventos do servidor, sem que este possa desviar o pagamento para outros fins e
se tornar inadimplente. O fato de a inadimplência ser descartada no crédito
consignado dá aos bancos a possibilidade de gerar juros mais competitivos e
atraentes ao seu público.
Sendo assim, concluímos o capítulo a respeito de empréstimos,
destacando
os
tipos
e
destinatários
dos
empréstimos,
e
dando
ênfase
principalmente ao empréstimo consignado.
13
5
PREFEITURA DE FORTALEZA
Este capítulo busca trazer informações acerca da Prefeitura Municipal de
Fortaleza, bem como suas divisões, e análise mais enfática na Regional VI, por se
tratar do ambiente profissional da pesquisadora, onde a mesma realizou o estudo
pertinente a este trabalho.
A Prefeitura Municipal de Fortaleza por intermédio da sua Secretária de
Planejamento, Orçamento e Gestão – SEPOG gera efeitos de empréstimos ou
financiamentos junto a Estabelecimentos Oficiais de Crédito. Ou seja, a SEPOG
disponibiliza a margem que refere-se ao cálculo de 30% dos proventos do servidor
público e o libera para a obtenção de empréstimos junto aos bancos ou instituições
financeiras, assim, o servidor deve comparecer até a regional em que está lotado
para solicitar o documento de carta margem que refere-se a parcela máxima a ser
paga em um empréstimo, que só será entregue mediante documento de identidade
e comprovação da função pela matrícula do servidor que consta em seu contra
cheque.
A Prefeitura de Fortaleza divide-se em seis regionais e cada uma tem um
raio de atuação de acordo com os bairros. A abordagem desse trabalho está
concentrada apenas na Regional VI, onde os servidores municipais lotados nessa
unidade será o objeto de estudo.
FIGURA 1 – Mapa do município de Fortaleza
Fonte: Prefeitura Municipal de Fortaleza
14
A Secretaria Regional VI (SERVI) tem aproximadamente 600 mil
moradores o que corresponde a 42% do território de Fortaleza, divididos em 29
bairros: Aerolândia, Ancuri, Alto da Balança, Barroso, Boa Vista (unificação do
Castelão com Mata Galinha), Cambeba, Cajazeiras, Cidade dos Funcionários,
Coaçu, Conjunto Palmeiras (parte do Jangurussu), Curió, Dias Macedo, Edson
Queiroz, Guajerú, Jangurussu, Jardim das Oliveiras, José de Alencar (antigo
Alagadiço Novo), Messejana, Parque Dois Irmãos, Passaré, Paupina, Parque
Manibura, Parque Iracema, Parque Santa Maria (parte do Ancuri), Pedras, Lagoa
Redonda, Sabiaguaba, São Bento (parte do Paupina) e Sapiranga. A SER VI tem
objetivo de atender os moradores, garantir a melhoria de vida aos habitantes e a
preservação das potencialidades naturais da região.
FIGURA 2: Mapa dos bairros da Regional VI.
REGIONAL
REGIONAL6 6
Fonte: Prefeitura Municipal de Fortaleza
Para este trabalho, a questão relevante é os servidores que compõem
esta unidade, mais especificamente os servidores da área de serviços gerais, pois
eles serão alvo da pesquisa a qual se quer investigar as causas e consequência ao
15
tomar junto aos bancos e instituições financeiras autorizadas, o empréstimo
consignado.
16
6
SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL
A importância deste capítulo é mostrar o objeto alvo do estudo proposto,
a definição do objeto, seus direitos, especificamente, o de tomar empréstimos junto
a instituições de crédito.
Segundo o Art. 1º - Esta Lei regula o regime jurídico dos servidores
municipais de Fortaleza, tendo em vista o disposto no art.39, da Constituição da
República Federativa do Brasil e na Lei Complementar nº002, de 17de setembro de
1990, diz que:
Servidor Público Municipal, para fins deste Estatuto, é a pessoa legalmente
investida em cargo público de provimento efetivo, de carreira ou isolado, ou
de provimento em comissão, que perceba remuneração dos cofres públicos
e cujas atribuições correspondam a atividades caracteristicamente estatais
da Administração Pública Municipal. (Redação dada pela Lei nº 6.901, de 25
de junho de 1991).
Todo servidor público tem direito a utilizar 30% dos seus rendimentos com
empréstimos ou financiamentos, junto às instituições oficiais de crédito, para isso, é
disponibilizado no setor pessoal de cada regional um documento chamado de carta
margem.
Segundo a Lei Nº 10.820, de 17 de dezembro de 2003:
Art. 1o Os empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, poderão
autorizar, de forma irrevogável e irretratável, o desconto em folha de
pagamento dos valores referentes ao pagamento de empréstimos,
financiamentos e operações de arrendamento mercantil concedidos por
instituições financeiras e sociedades de arrendamento mercantil, quando
previsto nos respectivos contratos.
§ 1o O desconto mencionado neste artigo também poderá incidir sobre
verbas rescisórias devidas pelo empregador, se assim previsto no
respectivo contrato de empréstimo, financiamento ou arrendamento
mercantil, até o limite de trinta por cento.
Portanto, pudemos nos aprofundar um pouco nas características que
norteiam o servidor público como alvo para constituir a pesquisa deste trabalho.
17
7
MARGEM CONSIGNÁVEL
Neste capítulo, busca-se expor as principais características da margem
consignável, fator de direito de todo servidor público, sendo esta destinada ao nosso
foco de estudo que é o empréstimo consignado.
A margem é um documento que se refere ao valor máximo legalmente
disponível para ser descontado por mês diretamente da folha do servidor público,
esse valor diz respeito ao que ele pode pagar por mês sem que sua renda seja
afetada drasticamente, para isso é concedido até trinta por cento (30%) dos seus
proventos.
O documento de margem é produzido pela Prefeitura Municipal de
Fortaleza por intermédio da sua Secretária de Planejamento, Orçamento e Gestão –
SEPOG, sendo esta regida pela Lei Municipal 4375/74 e Decreto Municipal 11793, e
por tanto gera efeitos de empréstimos ou financiamentos junto a Estabelecimentos
Oficiais de Crédito.
A partir da margem, que diz o valor Máximo permitido da parcela que
poderá ser descontada por mês do contra cheque do servidor público, é que poderá
ser calculado o máximo de receita que ele poderá tomar junto aos bancos ou
financeiras. Esse cálculo pode variar, de acordo com os prazos escolhidos, valores
adquiridos ou bancos e instituições financeiras e suas diferentes taxas de juros.
18
8
METODOLOGIA DE PESQUISA
Esse capítulo busca apresentar a metodologia utilizada na pesquisa,
caracterizando quais métodos e procedimentos foram necessários para o seu
desenvolvimento.
Para Gil (2002, p. 41), a classificação de uma pesquisa se faz mediante
aos seus objetivos gerais, e podem ser divididas em: exploratórias, descritivas e
explicativas. Segundo ele, a pesquisa exploratória “tem como objetivo proporcionar
maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a
construir hipóteses”.
Dessa maneira, com base nos objetivos, esta pesquisa pode ser
classificada como exploratória. Segundo o autor já citado, este tipo de pesquisa
busca alavancar e impulsionar a formulação de ideias e percepções para aperfeiçoálas, de modo flexível para considerar com mais ênfase a totalidade do fato estudado,
além de propor uma maior proximidade a ele.
Em relação à forma de abordagem do problema, a pesquisa pode ser
considerada como qualitativa, pois segundo Richardson (1999), esse método busca
captar de forma minuciosa as informações necessárias relatadas pelo entrevistado
para resolução do problema, se diferenciando do método quantitativo que utiliza
como base instrumentos estatísticos para compreensão do problema.
Foi utilizada pesquisa bibliográfica, que segundo Lakatos e Marconi
(2003), engloba toda bibliografia já publicada relacionada ao assunto estudado com
o intuito de aproximar o pesquisador a tudo que foi produzido.
Para essa pesquisa também foi utilizada a técnica de uma entrevista
semiestruturada, que “é o encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas
obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversão
de natureza profissional” (LAKATOS E MARCONI, 2003, p. 195).
A entrevista foi realizada com cinco funcionários do setor de serviços
gerais da Regional VI, sendo eles entrevistados no início do ano de 2014. A escolha
desta pesquisa está fundamentada na observação da pesquisadora, no curso de sua
experiência profissional, em analisar os efeitos que o crédito consignado traz aos
tomadores desse crédito, bem como se os recursos obtidos foram bem utilizados e
se satisfizeram as pretensões destes clientes. Os entrevistados foram escolhidos
19
devido sua participação na tomada do crédito ser mais frequente, essas pessoas
possuem baixo poder aquisitivo, em torno de um salário mínimo, gastos superiores à
sua renda e propensão de busca pelo crédito. Em aproximadamente, quatro anos de
trabalho como agente de crédito a pesquisadora raramente atendeu clientes com
poder aquisitivo mais alto, e por isso o interesse em investigar como vivem esses
funcionários que são tomadores recorrentes de crédito consignado e os fatores que
norteiam essa propensão.
Para essa entrevista se tornar válida, primeiramente foi realizado um préteste, que, no entanto não obteve êxito, pois foi realizado com um servidor fora do
público alvo, o que impossibilitou o alcance dos resultados esperados. A aplicação
do pré-teste foi muito importante, pois demonstrou os erros que seriam expostos
antes da aplicação da entrevista oficial, permitindo a correção dos mesmos. Então o
pré-teste foi reformulado e dois dias depois reaplicado, com perfeição, validando
assim a pesquisa.
20
9
ENTREVISTAS
O público objeto deste estudo foi escolhido baseado na observação da
pesquisadora, por ser o mais ativo na busca por tomada de crédito, então surgiu a
curiosidade de investigar os motivos que os levavam a terem uma rotina de crédito
tão ativa.
A pesquisadora encontrou cada um de seus entrevistados na Regional VI,
ambiente de trabalho de ambas as partes. A partir daí, foi feita uma busca pelos
interessados em realizar a entrevista, e todos os questionados em participar,
aceitaram, totalizando 5 funcionários.
A entrevista, então, foi marcada no próprio local de trabalho dos
entrevistados, e realizada em dias distintos, totalizando 3 dias de entrevistas, com
duração de aproximadamente quinze minutos cada uma.
A pesquisadora apresentou-se para os entrevistados da seguinte forma:
“Bom dia/tarde, eu me chamo Sarah, sou aluna do curso de
Administração da Faculdade Cearense e venho através desta pesquisa coletar
informações sobre o questionamento feito em meu trabalho de conclusão de curso,
que tem como objetivo identificar os efeitos do crédito consignado para os servidores
do setor de serviços gerais da Secretária Regional VI.”
As pesquisas completas estão disponíveis em anexo.
Em seguida foram feitas as seguintes perguntas e obtidas as seguintes
respostas, destacados os seus principais pontos:
9.1 Primeira Entrevista
A primeira entrevista foi realizada com a Sr.(a) F.C.S., de 60 anos, viúva.
Ocorreu as 09h27min, de uma segunda-feira.
PESQUISADORA: Como é a estrutura da sua casa?
21
F.C.S.: É uma casa pequena, só tem três cômodos, ela é alugada, mas é boa de
morar, não tem luxo “né” porque a gente não pode, mas é toda arrumadinha.
(...)
P. Quais as despesas mais importantes para pagar?
F.C.S.: Sempre pago primeiro o aluguel da casa, “aí” depois a luz, água, e as pessoas
que me ajudam eu pago assim que eu posso, porque eu não gosto de ficar devendo
elas, e se eu precisar de novo elas vão poder me emprestar.
P. Como é adquirida a renda da família?
F.C.S.: Só daqui da regional, eu não faço mais nada não até porque eu me canso
muito, já estou velha.
P. Você tem o hábito de fazer empréstimos?
F.C.S.: Quando eu tenho precisão eu faço “né”, se eu puder eu faço, mas também eu
sempre estou tendo precisão. Às vezes é uma necessidade. Quem é que não tem hoje
em dia, “né”.?
P. Antes de fazer um empréstimo, você costuma pesquisar onde têm melhores juros?
F.C.S.: Não, não, eu não dou atenção a isso não, dando pra tirar o que eu preciso já tá
bom.
P. Como você reage ao saber que o juros do empréstimo que vai fazer está muito alto?
F.C.S.: Fica meio “coisado” mais é o jeito que tem, é isso mesmo fazer o que “né”.
Quem precisa assim que nem eu, não pode ligar pra isso não.
P. O que você já conseguiu adquirir com o dinheiro dos empréstimos que fez?
F.C.S.: Minha filha, não leve a mal, não fiz nada de importante não eu só faço pra
pagar as dívidas que eu tenho, sempre estou pagando as minhas dívidas, que eu peço
aqui na regional uma ajuda, ou no mercantil, ou da outra vez que eu fui roubada, às
vezes “ne” quando acaba o dinheiro na semana a gente pede a um e outro, essa
semana já eu pedi 10 reais a um, 20 a outro, e o pior é que é pouco, mas de pouquinho
em pouquinho quando eu vou ver dá bem muito dinheiro “aí” o jeito é fazer empréstimo.
(...)
P. Depois do empréstimo feito e as parcelas começarem a ser descontadas, como ficou
a distribuição do dinheiro? Foi preciso cortar alguma coisa?
F.C.S.: Graças a Deus é só eu em casa “né” “aí”, fica ruim a gente diminui uma coisa e
outra, “aí” é preciso fazer mais dívidas, mas imagina se eu tivesse que sustentar mais
alguém, o que eu ganho mal da pra mim. Mas eu por um lado aproveitei sabe pra quê?!
Fazer uma dieta diminui a comida, num instante eu emagreci. (risos)
22
(...)
P. Por qual motivo você escolhe determinada financeira, ou banco ou agente de
crédito?
F.C.S.: Ah! Eu gosto de quem me dê atenção, quando agente chega no banco aquele
povo é todo alvoroçado pra gente ir embora, e as meninas que fazem pra mim não,
elas são calmas tentam me ajudar, eu gosto, só que uma vez, faz é tempo, teve uma
que me enganou, mandou eu assinar uns papéis e “aí” eu nem sabia o que era direito,
quando eu fui ver tinha um empréstimo descontando e eu nunca vi a cor do dinheiro.
P. Em qual faixa de parcelas que você costuma fazer seus empréstimos? Isso é
importante?
F.C.S.: É melhor sempre fazer em mais vezes porque o desconto no meu contra
cheque fica pequeno “aí” da pra suportar mais legal, se fosse um desconto mais alto
“aí” que eu ia “pro brejo” mesmo (risos).
P. Você se preocupa em não ter restrições nos órgãos de cobrança ao consumidor,
como SPC ou SERASA? Por quê?
F.C.S.: Eu me preocupo, mas não tem o que fazer, eu ganho pouco, tenho muitas
dividas e é difícil, mas tem que ir se virando. Teve uma vez que uma amiga minha
pediu pra eu tirar um empréstimo pra ela, e ela ficar pagando, mas só me deu uns
cinco meses e sumiu, eu ainda estou pagando esse empréstimo que foi em 72
vezes, “aí” meu nome foi pro SPC, mas como era que eu ia pagar se não tenho nem
pra mim imagine para os outros.
(...)
9.2 Segunda Entrevista
A segunda entrevista foi realizada com o Sr. F.P.G., de 67 anos, casado.
Ocorreu as 14h35min de uma terça-feira.
PESQUISADORA: Como é a estrutura da sua casa?
F.P.G.: A minha casa não é muito grande não, tem só quatro compartimento, mas é
boa de morar, graças a Deus.
(...)
P. Como essas pessoas ajudam nas despesas?
F.P.G.: A minha mulher ajuda, mas é pouco porque ela tem muitas doenças, “aí” depois
que compra os remédios é que sobra um dinheirinho. A minha filha não ajuda em nada
não, eu é que ajudo ela, eu pago o aluguel dela, às vezes eu atraso o pagamento e ela
fica é sem falar comigo.
(...)
P. Como é adquirida a renda da família?
23
F.P.G.: A minha é toda aqui na regional, faço limpeza das salas, do jardim às vezes,
mas já estou é cansado. E a minha mulher é aposentada.
(...)
P. Antes de fazer um empréstimo, você costuma pesquisar onde têm melhores juros?
F.P.G.: Não, sobre isso “aí” eu não observo não, pra mim o importante é tirar o
dinheiro, só que eu só tiro numa precisão, quando estou precisando “ai” eu faço
mesmo, vou atrás.
P. Como você reage ao saber que o juros do empréstimo que vai fazer está muito alto?
F.P.G.: Ah, eu fico assim, fico meio triste, porque tem empréstimo que é muito alto, e
tem outros que é mais ou menos, eu gosto de fazer nesses que são mais ou menos.
Um dia fui fazer com uma menina, mas ela botou o pior pra mim, ai eu chorei lá pedi a
ela pra baixar, eu acho que ela ficou com pena de mim e baixou, “aí” eu fiz.
P. O que você já conseguiu adquirir com o dinheiro dos empréstimos que fez?
F.P.G.: Primeiramente eu terminei de fazer minha casa, comprei tijolos, cimento. “Aí”
depois o outro já foi pra rebocar, depois fiz outro pra murar a casa, um muro bem alto,
cimentei o quintal. O outro que eu fiz tirei R$ 3.500,00 e mudei todos os moveis lá de
casa que estava precisando, o fogão, a geladeira, uma estante, mesa, essas coisas.
(...)
P. Em qual faixa de parcelas que você costuma fazer seus empréstimos? Isso é
importante?
F.P.G.: Em menos vezes é melhor “né”, mais “aí” o desconto fica grande e não tem
quem aguento, “aí” eu vou fazendo em muitas vezes mesmo, em 60 ou 72 vezes. Só
teve uma vez que eu consegui fazer em menos que foi em 36 vezes.
P. Você se preocupa em não ter restrições nos órgãos de cobrança ao consumidor,
como SPC ou SERASA? Por quê?
F.P.G.: Ah, graças a Deus eu até hoje não entrei no SPC não, eu tento pagar tudo
em dia pra nunca entrar, por isso que às vezes quando eu não posso pagar eu faço
um empréstimo e pago as minhas dívidas.
(...)
9.3 Terceira Entrevista
24
A terceira entrevista foi realizada com a Sr.(a) V.S.B, de 60 anos, casada.
Ocorreu as 10h15min, de uma quarta-feira.
PESQUISADORA: Como é a estrutura da sua casa?
V.S.B.: A minha casa tem 4 compartimentos, ela é até boazinha, mas só que quando
chove alaga, já hoje eu saí de casa parecendo uma piscina, nem tem saneamento lá. A
cozinha é a pior, “aí” eu “atrepo” os meus moveis pra não estragar.
(...)
P. Como é adquirida a renda da família?
V.S.B.: A minha é aqui na regional e eu ganho uma pensão do meu pai que morreu, e o
meu marido que trabalha como pedreiro, mas nesse tempo de chuva fica ruim de
trabalhar “aí” eu tenho que bancar mais.
P. Você tem o hábito de fazer empréstimos?
V.S.B.: Eu faço muitos empréstimos, meu contra cheque é cheinho, lotado.
P. Antes de fazer um empréstimo, você costuma pesquisar onde têm melhores juros?
V.S.B.: Eu tento pesquisar, mas não entendo muito dessas coisas não, quando eu vejo
que dá pra tirar “aí” eu tiro e pronto.
P. Como você reage ao saber que o juros do empréstimo que vai fazer está muito alto?
V.S.B.: “Aí” eu fico pensando “né”, que quando agente faz é muito bom quando recebe,
serve muito, mas quando acaba o dinheiro, “aí” bate o arrependimento e já é tarde
demais “né”.
P. O que você já conseguiu adquirir com o dinheiro dos empréstimos que fez?
V.S.B.: Ah, eu comprei uma moto pro meu marido ir trabalhar, fazer os serviços dele e
tudo, mas ele foi roubado, só que os descontos continuam “né”, ainda falta dois anos
pra terminar de pagar, mas o banco não quer saber disso não. Mas eu já comprei outra
moto tomara que ninguém leve. Ah, eu fiz uma reforma também ajeitando um
pouquinho da casa, mas o dinheiro não deu pra fazer tudo que eu queria.
P. O seu último empréstimo foi feito por qual motivo?
V.S.B.: Vou negar não, foi pra organizar o aniversário de 19 anos da minha neta. Foi
ótimo, ela ficou tão feliz.
(...)
P. Se você pudesse fazer mais empréstimos, seria feito para usar em quê?
V.S.B.: Ah, eu faria, mesmo estando acochado eu faria, eu queria ajeitar a cozinha da
minha casa pra não alagar mais.
25
(...)
P. Você se preocupa em não ter restrições nos órgãos de cobrança ao consumidor,
como SPC ou SERASA? Por quê?
V.S.B.: Me preocupo, mas fazer o quê, o meu nome já está lá faz muito tempo.
9.4 Quarta Entrevista
A quarta entrevista foi realizada com a Sr.(a) R.J.L., de 49 anos, casada,
mãe de 3 filhos. Ocorreu as 15h30min, de uma quarta-feira.
PESQUISADORA: Como é a estrutura da sua casa?
R.J.L.: É uma casinha simples com três cômodos, piso de cimento, sem forro, quando
chove molha a gente.
P. Quantas pessoas moram com você?
R.J.L.: Oito pessoas. Sou eu, minhas três filhas, um genro e duas netas
P. Como essas pessoas ajudam nas despesas?
R.J.L.: Ajudam só a “comer” o dinheirinho que eu ganho, nenhuma trabalha.
P. Quando o Sr(a). recebe o seu salário, com o que o sr. gasta?
R.J.L.: Ah, meu dinheiro vai todo pra bodega, passo o mês comprando fiado e quando
recebo o salário dá nem pra ver o dinheiro direito, vai todo pro seu Zé da bodega, eu
pago, sobra nada, sobra só a vontade de ficar com o dinheiro, por isso que às vezes eu
faço empréstimo.
(...)
P. Como é adquirida a renda da família?
R.J.L.: A renda nossa é todinha é só da faxina que eu faço na prefeitura, mais às vezes
eu faço “bico” fim de semana por fora pra completar meu dinheiro.
P. Você tem o hábito de fazer empréstimos?
R.J.L.: Não é um habito, é uma necessidade, eu preciso comprar remédio, roupa, e o
dinheiro não sobra, quando eu pago a energia e o gás, vai o dinheiro todo embora, aí
precisa fazer empréstimo, por que o dinheiro pro outro mês fica pouco.
(...)
P. O seu último empréstimo foi feito por qual motivo?
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R.J.L.: Foi pra pagar um agiota, que me emprestou dinheiro e estava me cobrando “aí”
eu fiz o empréstimo pra pagar, porque ele já estava ficando com raiva e eu com medo
“né”.
(...)
P. Depois do empréstimo feito e as parcelas começarem a ser descontadas, como ficou
a distribuição do dinheiro, foi preciso cortar algumas coisa?
R.J.L.: Já num tinha nada né, ficou pior, porque eu fiz a feira, e acabou né, aí no outro
mês a gente teve que diminuir a despesa na bodega.
(...)
9.5 Quinta Entrevista
A quinta entrevista foi realizada com o Sr. F.A.M., de 51 anos, casado.
Ocorreu as 16h20min, de uma quinta feira.
PESQUISADORA: Como é a estrutura da sua casa?
F.A.M.: É uma casa normal, com quatro cômodos, um quarto, sala, banheiro e cozinha,
é pequeno sabe, mas é boazinha. Só que falta rebocar, e colocar o piso porque é
aquele piso “morto”.
P. Quantas pessoas moram com você?
F.A.M.: Só mora eu e minha mulher.
P. Como essas pessoas ajudam nas despesas?
F.A.M.: Ela ajuda assim, ela não tem trabalho certo, de carteira assinada ela não tem,
mas ela passa a semana ajudando a cuidar de duas filhas de uma sobrinha dela, “aí”
ela ganha uma ajuda, e também trabalha de cozinheira quando alguém precisa ela faz
esse serviço, “aí” dá pra ajudar né, não é muito não, mas ajuda.
(...)
P. Como é adquirida a renda da família?
F.A.M.: Ah, minha renda vem daqui da regional e como eu saiu cedo daqui eu fico
procurando com quem quiser um serviço, limpo a frente das casas dos meus vizinhos,
servente de pedreiro, ou até aqui na regional quando alguém pede um favor eu vou
fazer “aí” sempre eles me dão um trocado, uma ajudinha, eu sei que qualquer coisa
que apareça eu vou fazendo, qualquer coisa que dê um dinheirinho. E a minha mulher
“né” que me ajuda com o que pode, ela também faz uma coisa ou outra e “aí” agente
vai ”levando”.
27
P. Você tem o hábito de fazer empréstimos?
F.A.M.: Claro! Eu já estou lotado de empréstimo até a tampa! Sempre que dá. Mas já
estou doidinho aqui pra fazer de novo e não tenho margem.
P. Antes de fazer um empréstimo, você costuma pesquisar onde têm melhores juros?
F.A.M.: Pesquiso nada, pra quê? É tudo alto mesmo, não adianta procurar. Eu até sei
onde é melhor, mas não posso fazer lá porque meu nome tá “sujo” “aí” eles não
aceitam, “aí” eu faço no que dá mesmo.
P. Como você reage ao saber que o juros do empréstimo que vai fazer está muito alto?
F.A.M.: Me sinto assim sem saber o que fazer “né”, tem que fazer o empréstimo “né”,
"aí” eu não ligo, a vida da gente é assim mesmo, a gente fica triste porque não da pra
tirar muito dinheiro, “aí” depois fica feliz porque recebeu o dinheiro e pagou as contas,
“aí” depois fica triste de novo porque o dinheiro acabou e não deu pra fazer quase
nada.
P. O que você já conseguiu adquirir com o dinheiro dos empréstimos que fez?
F.A.M.: O meu primeiro empréstimo, me lembro como se fosse hoje, comprei cimento,
umas telhas, terminei de fazer minha casa “né”, que não está lá essas coisas mas é
minha “aí” é bom “né”, depois em outro empréstimo eu comprei uma televisão e um
armário pra cozinha e um fogão novo que minha mulher estava pedindo. Todo dia ela
me perturbava “aí” eu comprei.
(...)
P. Sobrou algum dinheiro ou precisou de algum complemento?
F.A.M.: Sobrou, era bem pouquinho, “aí” eu tomei umas cervejinhas.
(...)
P. Se você pudesse fazer mais empréstimos, seria feito para usar em quê?
F.A.M.: Ah como eu queria, eu ia fazer pra colocar o piso na minha casa e rebocar as
paredes, dá uma geral nela sabe.
(...)
P. Em qual faixa de parcelas que você costuma fazer seus empréstimos? Isso é
importante?
F.A.M.: Eu não ligo pra isso não, faço em 60 vezes em 84 vezes, o que eu quero é tirar
mais dinheiro, se eu fizer em poucas vezes não libera muito dinheiro “aí” não adianta
porque eu preciso de muito, são muitas dívidas.
28
P. Você se preocupa em não ter restrições nos órgãos de cobrança ao consumidor,
como SPC ou SERASA? Por quê?
F.A.M.: Não me preocupo não, se eu fosse me preocupar com isso eu estava era
morto, porque só o que eu tenho são dívidas, e o meu nome já saiu “né” depois que
passou cinco anos, mas voltou de novo, ”aí” minha filha não tem jeito não.
P. Por qual motivo você refinanciaria ou renovaria um empréstimo?
F.A.M.: Ah, eu gostaria de fazer assim um bem grande, pagar todas as minhas
dívidas, ajeitar minha casa e ainda ficar com dinheiro no bolso, mas isso é só sonho,
agente só sonha, quando agente acorda tá é “lascado”.
(...)
Ao final da entrevista a reação de cada entrevistado foi muito positiva,
pareciam satisfeitos com sua colaboração, e sentiram-se importantes por terem suas
opiniões destacadas e expostas em um estudo como esse, já que nunca haviam
participado de algo semelhante.
Dessa forma, concluímos a apresentação dos principais pontos de cada
entrevista e daremos continuidade com a análise de dados no próximo capítulo.
29
10
ANÁLISES DE DADOS
Já em posse dos dados coletados separadamente pela pesquisadora,
conforme foi apresentado em entrevista semiestruturada divulgada acima em seus
pontos principais de cada entrevistado, podemos tecer algumas considerações.
Inicialmente, baseado no estudo conduzido por Ferreira (2008), podemos dizer que
a classificação da inadimplência pode ser dividida em ativa ou passiva, sendo estas
diferenciadas pelo ato praticado de boa-fé ou não, frente ao superendividamento.
Diz ainda que o superendividamento pode ser ativo quando o tomador de
crédito atua ativamente para colocar-se diante uma situação em que não possa
honrar suas dívidas, caso este que não se aplica na referida entrevista, pois
sabemos que o crédito consignado não dá margem para tal escolha, sendo seus
descontos compulsoriamente efetivados na folha de pagamento.
Ora, sendo assim, podemos encaixar os entrevistados acima, como
aqueles que fazem parte do superendividamento passivo, encaixando-se em
situações que fogem ao seu controle, ou seja, imprevisíveis, tais como, desemprego,
divórcio, doença ou morte de algum familiar, ou mesmo um acidente, sendo estas
situações maiores motivadores para agravar a capacidade de pagamento de suas
obrigações, propiciando a elevação da tomada de crédito e consequentemente o
superendividamento.
Para dar início a análise da entrevista, foram destacadas as seguintes
características: A faixa de idade dos entrevistados está entre 49 e 67 anos, nota-se
que são pessoas quase na 3ª idade, onde todos eles possuem uma aparência
cansada, com marcas faciais, que sugerem uma vida difícil e cheias de dificuldades.
Também foi observado que a maioria deles vive apenas com seus
cônjuges, e apenas um dos entrevistados tem uma família numerosa, mas ambas as
formas familiares trazem as mesmas dificuldades.
A casa onde vivem é pequena, apenas com o essencial para sua
sobrevivência, onde a maioria demonstra um desejo igualitário de poder ter um lugar
melhor para morar, já que destacam imperfeições em suas casas, tais como, um
vazamento na cozinha, um cômodo que alaga com fortes chuvas, paredes sem
reboco e piso sem cerâmica, o que os levam várias vezes em busca de crédito.
30
Já na análise da renda que ganham e na ajuda que recebem, foi notado
que a renda principal é a do trabalho que executam na regional 6, sendo que alguns
deles procuram os chamados “bicos” em busca de aumentar a renda, pouco dos
companheiros que vivem com eles tem condições de ajudar nas despesas da casa.
Também é visível que a grande preocupação dos entrevistados é a de
poder prover as necessidades básicas da casa, como alimentação, água, luz e
aluguel. Nenhum deles possui carro, sendo seu principal meio de transportes, o
coletivo, sendo assim, podemos constatar que vivem uma vida muito simples, sem
luxo.
Já na segunda parte da entrevista, em que foram indagadas perguntas
sobre informações a respeito da tomada de crédito, pode-se fazer a seguinte
avaliação:
Para todos os entrevistados o hábito de fazer empréstimos é comum,
para uns é feito por necessidade, outros já são acostumados e esperam sempre por
uma nova chance de repetir o feito. Para uns nota-se que os empréstimos são feitos
especialmente para pagar dívidas adquiridas de todas as formas, outros, para livrarse de cobranças de agiotas. Mas uma coisa fica certa: a busca pelo crédito está
norteada pela busca de uma vida melhor, com mais qualidade de vida, seja em
forma de alimentação, condições de moradia, ou apenas de viver.
Também foi constatado que apesar da pouca preocupação em buscar
juros melhores, alguns deles, não veem outra forma de lidar com as taxas abusivas
de juros, apenas o fazem, sendo que alguns deles não demonstram preocupação
alguma, pelo contrário, buscam tomar o crédito em parcelas quase infinitas, tentando
retirar o maior valor possível da operação, e apesar de um ou outro saber que as
parcelas menores seriam melhores na questão de juros e evitaria o endividamento
em longo prazo, eles também sabem que isso não será possível para nenhum deles,
tanto pela pouca ou nenhuma margem que possuem, como por saberem que em
quantos menos parcelas, menos o montante a retirar.
Foi possível notar também que, em sua maioria, os entrevistados
investiram parte de seus empréstimos para terminar ou consertar as imperfeições
em suas casas, essa atitude realmente é favorável, pois se trata de um investimento
em um imóvel próprio, que ao passar do tempo tem seus valores atualizados no
mercado. Os valores tomados nos empréstimos também foram utilizados para
31
comprar móveis para casa e até uma moto para um companheiro. Mas, infelizmente,
tem parte deles que não levam o empréstimo e seus descontos a sério, dando um
tratamento ou destino supérfluos.
Outro fato marcante, foi quando obtivemos as respostas sobre como ficou
a situação dos entrevistados após os descontos começarem a ser feitos. Pode-se
observar que mudou bastante as condições anteriores de sobrevivência de cada um
deles, onde tiveram que diminuir os gastos em fatores essenciais à vida, como
alimentação, até gerando um desconforto, onde uma das entrevistadas riu da
situação como se já estivesse acostumada e disse que aproveitou para fazer dieta.
E mesmo sabendo das duras condições que o empréstimo e os
descontos estavam provocando em seu salário, ao serem perguntados se fariam um
novo empréstimo se pudessem, todos os entrevistados disseram que sim, fazendonos perceber que não há um conhecimento muito profundo da parte deles sobre os
males que isso pode acarretar ao longo do tempo.
Essa análise também pode mostrar a fragilidade do tomador de crédito,
quanto à abordagem de um banco ou agente de crédito, pois todos os entrevistados
relataram que o que mais o atraem nessa relação é o tipo de tratamento que
recebem, se são bem tratados, com simpatia e respeito. Mas o que preocupa é que
esses fatores podem ser fictícios, apenas para efetivar a venda e garantir a
assinatura do contrato, fato que fica comprovado pelos próprios entrevistados
quando dizem que possuem descontos em sua folha de pagamento sem se recordar
do acordo firmado entre as partes.
Um dos fatores que mais chamou a atenção da pesquisadora foi quanto à
preocupação dos entrevistados em terem seu nome nos órgãos restritivos ao
crédito. Ora, sabemos que o crédito consignado não dá margem ao inadimplemento,
mas leva o seu público tomador a se comprometerem com outros tipos de crediários
que levam seu nome a restrição de crédito. Assim, muitos deles com o nome restrito
em outros mercados, se veem fazendo mais crédito consignado para quitar essas
dívidas adquiridas. Daí, quando perguntados se isso lhes dava preocupação, eles
disseram que não, que esse fator não era importante, sendo que apenas um deles
não está restrito, segundo o próprio entrevistado, à custa de empréstimos feitos para
liquidar essas dívidas anteriores.
32
E já no caso de uma possível renovação, boa parte deles o faria, para fins
que variam entre quitar dívidas, reformar a casa, motivos de doença e para alguns
apenas pra ter um “dinheirinho” na mão.
Sendo assim, concluímos a análise dos dados e extraímos como síntese
a seguinte afirmação: O empréstimo consignado é um mal necessário pra essas
pessoas, que veem nesse crédito uma possível saída pra problemas do presente, o
que não há preocupação é com as questões futuras. Mas quem se importa? O
Governo, que mantém os olhos fechados para essa realidade? Os bancos ou
instituições financeiras, que buscam cada vez mais aumentar seu leque de opções
para expandir mercado? Os agentes de créditos, que são estimulados com
comissões altíssimas? Ou os próprios tomadores de crédito, como estes
entrevistados, que talvez já estejam tão calejados com a situação, que apenas riem,
sem ter muitas esperanças de mudanças, vão assim levando a vida como podem,
mas uma coisa é certa e comprovada nesta pesquisa, apesar de tantas dificuldades,
o sorriso no rosto de cada um dos entrevistados é único, feliz e arrebatador.
33
11
CONSIDERAÇÔES FINAIS
O intuito deste trabalho é identificar os efeitos que o crédito consignado
traz, principalmente, para este conjunto de servidores que compõe o cargo de
serviços gerais. A importância dessa ação é a de tentar despertar em seus
tomadores um olhar crítico antes de efetuar a busca pelo crédito, para que essa
aquisição não seja desenfreada, sem motivo, e principalmente sem planejamento.
Essa pesquisa identificou por meio de um estudo de arte, que esse tema
já era abordado frequentemente em outras pesquisas, trazendo a ideia de que é
necessário um olhar mais profundo para os problemas que essa modalidade de
crédito traz.
É visível que há um descompasso em mostrar quão repleto de órgãos
reguladores compõem o nosso SFN, que segundo o referencial teórico, seria
responsável por regular e fiscalizar a prática de qualquer modalidade que envolva a
circulação de crédito. Bem, essas atribuições elaboradas pelos órgãos reguladores
deixam muito a desejar, pois com base no que foi exposto nessa pesquisa, os
tomadores de crédito vivem a mercê das instituições financeiras, juros abusivos, e
muitas vezes cegos por um controle de opinião muito forte e abusivo que as mídias
induzem nessas pessoas.
Essa pesquisa tentou responder a questão problema: como vivem os
funcionários da Prefeitura Municipal de Fortaleza que são tomadores recorrentes de
crédito consignado? Para chegar a uma resposta, delimitou-se o público alvo, para
os servidores que compõem o cargo de serviços gerais, e com eles foi realizada
uma entrevista com abordagem qualitativa, pois essa permitia maior proximidade ao
problema, já que seria exposto por quem o conhece de perto.
Quando as entrevistas estavam sendo realizadas, pode-se notar que os
tomadores de crédito nunca passaram por algo assim, nunca tiveram alguém
interessado em saber como eles estavam depois de adquirir o crédito e se isso
mudou a sua vida, para melhor ou para pior.
No decorrer das respostas obtidas, esta pesquisadora entendeu que a
vida desses tomadores havia sim, melhorado temporariamente. Eles puderam
adquirir bens de consumo, fazer obras em suas moradias e até viver algum
momento de lazer e familiar, mas o problema que identificamos por mais grave era
34
os fatos posteriores, aqueles que ninguém se importou até agora. Ora, o que veio
depois do dinheiro recebido com a tomada do empréstimo foi apenas sufoco e
dívidas, visto que nenhum deles estava preparado para planejar o seu orçamento.
Sendo assim, esse estudo verificou as seguintes perguntas sem
respostas: se é possível identificar que um dos principais agravantes na vida dessas
pessoas é a falta de instrução para desenvolver um bom planejamento financeiro,
que permitiria que esses descontos de forma compulsória não afetassem
drasticamente as suas necessidades principais deixando-as em segundo plano, por
que os órgãos reguladores dessas modalidades de créditos não inserem medidas de
ensino que possam preparar esses tomadores para essa realidade? Porque ainda
existem tomadores de crédito que são enganados por agentes de crédito e
instituições financeiras? E porque não há medidas efetivas e rápidas para puní-los?
Porque as escolas não criam uma metodologia de ensino que englobe essas
questões desde a base? Bom, porque não se busca resolver o problema, antes que
ele vire uma “bola de neve”, se é visivelmente possível?
Para concluir esse estudo, gostaria de acrescentar o meu desejo em
continuá-lo por meio de especialização, e que esse trabalho me incentivou a fazer
mais por essas pessoas. O agente de crédito é um dos responsáveis pela elevação
desses problemas, já que estão tão próximos aos servidores. Às vezes deixam de
perceber que existe alguém do outro lado que precisa de um olhar mais cuidadoso,
que possa identificar os seus problemas e que estejam dispostos a ajudar. E esse
trabalho me aproximou ainda mais a essa realidade, tanto no aspecto profissional,
quanto no aspecto humano.
35
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ANEXOS
39
ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA COM OS SERVIDORES PÚBLICOS DA
SECRETÁRIA EXECUTIVA REGIONAL VI DA PREFEITURA MUNICIPAL DE
FORTALEZAPÚBLICO ALVO: SERVIDOR PÚBLICO DA AREA DE SERVIÇOS
GERAIS
Bom dia/tarde, eu me chamo Sarah, sou aluna do curso de Administração da
Faculdade Cearense e venho através desta pesquisa coletar informações sobre o
questionamento feito em meu trabalho de conclusão de curso, que tem como objetivo
identificar os efeitos do crédito consignado para os servidores do setor de serviços
gerais da Secretária Regional VI.
ENTREVISTA 1
Estamos aqui com o Sr.(a) F.C.S., de 60 anos, Viúva.
40
Primeiramente vamos traçar o perfil básico, referente ao ambiente de
moradia e escolar e renda do servidor que será entrevistado.
PESQUIADORA. Como é a estrutura da sua casa?
F.C.S.: É uma casa pequena, só tem três cômodos, ela é alugada, mas é boa de
morar, não tem luxo “né” porque agente não pode, mas é toda “arrumadinha”.
(A entrevistada rir parece conformado, levando como pode essa situação.)
P. Quantas pessoas moram com você?
F.C.S.: Só mora eu e Deus. Eu tenho três filhas, mas, nenhuma mora comigo, e o meu
marido já morreu.
P. Como essas pessoas ajudam nas despesas?
F.C.S.: Ninguém me ajuda não, eu tenho essas minhas filhas, mas elas nem lembram
que eu existo, é muito triste, mas eu tenho Deus pra me ajudar.
(A entrevistada fala com o ar de tristeza pela situação.)
P. Quando o sr.(a) recebe o seu salário, com o que o sr.(a) gasta?
F.C.S.: Ah! O primeiro de tudo é o aluguel da casa, uma vez quando eu fui assaltada,
quase eu fui despejada, porque não tinha como pagar, “aí” pago também as coisas de
casa “né”, que é pouca porque é só eu em casa. Pago também minhas dívidas, minhas
“coisinhas”, comida, essas coisas.
P. Quais as despesas mais importantes para pagar?
F.C.S.: Sempre pago primeiro o aluguel da casa, “aí” depois a luz, água, e as pessoas
que me ajudam eu pago assim que eu posso, porque eu não gosto de ficar devendo
elas, e se eu precisar de novo, elas vão poder me emprestar.
P. Como é adquirida a renda da família?
F.C.S.: Só daqui da regional, eu não faço mais nada não até porque eu me canso
muito, já estou velha.
(Nota-se as expressões de cansaço e fadiga da entrevistada.)
Para finalizar vamos coletar informações acerca da tomada de crédito
consignado
P. Você tem o hábito de fazer empréstimos?
F.C.S.: Quando eu tenho precisão eu faço “né”, se eu puder eu faço, mas também eu
sempre estou tendo precisão. Às vezes é uma necessidade. Quem é que não tem hoje
em dia, “né”.
41
(A entrevistada ri, como se fosse normal àquela situação.)
P. Antes de fazer um empréstimo, você costuma pesquisar onde têm melhores juros?
F.C.S.: Não, não, eu não dou atenção a isso não, dando pra tirar o que eu preciso já tá
bom.
P. Como você reage ao saber que o juros do empréstimo que vai fazer está muito alto?
F.C.S.: Fica meio “coisado” mais é o jeito que tem, é isso mesmo fazer o que “né”.
Quem precisa assim que nem eu não pode ligar pra isso não.
P. O que você já conseguiu adquirir com o dinheiro dos empréstimos que fez?
F.C.S.: Minha filha, não leve a mal, não fiz nada de importante não eu só faço pra
pagar as dívidas que eu tenho, sempre estou pagando as minhas dívidas, que eu peço
aqui na regional uma ajuda, ou no mercantil, ou da outra vez que eu fui roubada, às
vezes “né” quando acaba o dinheiro na semana agente pede a um e outro, essa
semana já eu pedi 10 reais a um, 20 a outro, e o pior é que é pouco, mas de pouquinho
em pouquinho quando eu vou ver da bem muito dinheiro “aí” o jeito é fazer empréstimo.
(A entrevistada mostra que sabe que os motivos que a leva a fazer um empréstimo não
é tão importante.)
P. O seu último empréstimo foi feito por qual motivo?
F.C.S.: Pagar dívida! Só tenho isso mesmo, todo dia é uma dívida diferente. E eu não
sei como é que ainda não deu esse mês pra pagar tudo.
P. Sobrou algum dinheiro ou precisou de algum complemento?
F.C.S.: Sobrou nada, porque foi pouquinho que liberou, deu só pra pagar e pronto, olhe
lá.
P. Depois do empréstimo feito e as parcelas começarem a ser descontadas, como ficou
a distribuição do dinheiro? Foi preciso cortar alguma coisa?
F.C.S.: Graças a Deus é só eu em casa “né” “aí”, fica ruim agente diminui uma coisa e
outra, “aí” é preciso fazer mais dívida, mas imagina se eu tivesse que sustentar mais
alguém, o que eu ganho mal da pra mim. Mas eu por um lado aproveitei sabe pra que?!
Fazer uma dieta diminui a comida, num instante eu emagreci. (risos)
(A entrevistada mostra com orgulho que emagreceu, e tenta levar a situação com
naturalidade.)
P. Se você pudesse fazer mais empréstimos, seria feito para usar em quê?
F.C.S.: Seria pra quitar o meu nome com o pessoal aqui da regional, porque eu
trabalho aqui e fico vendo “né” às pessoas que me emprestaram o dinheiro e eu fico
42
meio assim, com vergonha de às vezes atrasar, por isso eu faria pra quitar todas as
minhas dívidas.
(A entrevistada mostra-se envergonhada em estar nessa situação perante os colegas
de trabalho.)
P. Por qual motivo você escolhe determinada financeira, ou banco ou agente de
crédito?
F.C.S.: Ah! Eu gosto de quem me dê atenção, quando agente chega no banco aquele
povo é todo alvoroçado pra gente ir embora, e as meninas que fazem pra mim não,
elas são calmas tentam me ajudar, eu gosto, só que uma vez, faz é tempo, teve uma
que me enganou, mandou eu assinar uns papéis e “aí” eu nem sabia o que era direito,
quando eu fui ver tinha um empréstimo descontando e eu nunca vi a cor do dinheiro.
(A entrevistada parece se apegar principalmente ao agente de crédito que faz seus
empréstimos.)
P. Em qual faixa de parcelas que você costuma fazer seus empréstimos? Isso é
importante?
F.C.S.: É melhor sempre fazer em mais vezes porque o desconto no meu contra
cheque fica pequeno “Aí” dá pra suportar mais legal, se fosse um desconto mais alto
“aí” que eu ia “pro brejo” mesmo (risos).
P. Você se preocupa em não ter restrições nos órgãos de cobrança ao consumidor,
como SPC ou SERASA? Por quê?
F.C.S.: Eu me preocupo, mas não tem o que fazer, eu ganho pouco, tenho muitas
dividas e é difícil, mas tem que ir se virando. Teve uma vez que uma amiga minha
pediu pra eu tirar um empréstimo pra ela, e ela ficar pagando, mas só me deu uns
cinco meses e sumiu, eu ainda estou pagando esse empréstimo que foi em 72
vezes, “aí” meu nome foi pro SPC, mas como era que eu ia pagar se não tenho nem
pra mim imagine para os outros.
(A entrevistada demonstra pouca importância, e mostra-se chateada por ter confiado
em pessoas desonestas.)
P. Por qual motivo você refinanciaria ou renovaria um empréstimo?
F.C.S.: Eu só tenho uma preocupação, é esse monte de dívidas que eu tenho, se eu
pudesse fazer seria pra isso, mas faz é tempo que eu estou sem margem por isso
pede a um e a outro.
43
ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA COM OS SERVIDORES PÚBLICOS DA
SECRETÁRIA EXECUTIVA REGIONAL VI DA PREFEITURA MUNICIPAL DE
FORTALEZAPÚBLICO ALVO: SERVIDOR PÚBLICO DA AREA DE SERVIÇOS
GERAIS
Bom dia/tarde, eu me chamo Sarah, sou aluna do curso de Administração da
Faculdade Cearense e venho através desta pesquisa coletar informações sobre o
questionamento feito em meu trabalho de conclusão de curso, que tem como objetivo
identificar os efeitos do crédito consignado para os servidores do setor de serviços
gerais da Secretária Regional VI.
ENTREVISTA 2
Estamos aqui com o Sr. F. P. G., de 67 anos, casado.
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Primeiramente vamos traçar o perfil básico, referente ao ambiente de moradia e
renda do servidor que será entrevistado.
PESQUISADORA: Como é a estrutura da sua casa?
F.P.G.: A minha casa não é muito grande não, tem só quatro compartimento, mas é
boa de morar, graças a Deus.
P. Quantas pessoas moram com você?
F.P.G.: Mora só eu e minha mulher, agente criava uma menino de 16 anos, mas ele
morreu “tá” com quinze dias, desde novinho ele mora com agente. “Aí” eu tenho uma
filha e um neto, o meu neto é deficiente, anda todo desmantelado, da é muito trabalho
e ela mora vizinho a mim.
P. Como essas pessoas ajudam nas despesas?
F.P.G.: A minha mulher ajuda, mas é pouco porque ela tem muitas doenças, “aí” depois
que compra os remédios é que sobra um “dinheirinho”. A minha filha não ajuda em
nada não, eu é que ajudo ela, eu pago o aluguel dela, às vezes eu atraso o pagamento
e ela fica é sem falar comigo.
(O entrevistado demonstra profunda emoção pela perda.)
P. Quando o sr. recebe o seu salário, com o que o sr. gasta?
F.P.G.: Ah, eu pago água, pago luz, o gás, e compro o cestão de alimento que é mais
barato.
P. Quais as despesas mais importantes para pagar?
F.P.G.: O mais importante é a luz, agua que é caro, e o plano de se enterrar (funerária)
e a comida “né”.
P. Como é adquirida a renda da família?
F.P.G.: A minha é toda aqui na regional, faço limpeza das salas, do jardim às vezes,
mas já estou é cansado. E a minha mulher é aposentada.
(O entrevistado demonstra cansaço com a rotina de trabalho pesado para sua idade.)
Para finalizar vamos coletar informações acerca da tomada de crédito
consignado
P. Você tem o hábito de fazer empréstimos?
F.P.G.: Faço sim, num é muito bom não, mas eu faço, é uma precisão. E eu não gosto
de comprar fiado, naqueles galegos, prefiro fazer um empréstimo.
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P. Antes de fazer um empréstimo, você costuma pesquisar onde têm melhores juros?
F.P.G.: Não, sobre isso “aí” eu não observo não, pra mim o importante é tirar o
dinheiro, só que eu só tiro numa precisão, quando estou precisando “aí” eu faço
mesmo, vou atrás.
P. Como você reage ao saber que o juros do empréstimo que vai fazer está muito alto?
F.P.G.: Ah, eu fico assim, fico meio triste, porque tem empréstimo que é muito alto, e
tem outros que é mais ou menos, eu gosto de fazer nesses que são mais ou menos.
Um dia fui fazer com uma menina, mas ela botou o pior pra mim, “aí” eu chorei lá pedi a
ela pra baixar, eu acho que ela ficou com pena de mim e baixou “aí” eu fiz.
P. O que você já conseguiu adquirir com o dinheiro dos empréstimos que fez?
F.P.G.: Primeiramente eu terminei de fazer minha casa, comprei tijolos, cimento. “Aí”
depois o outro já foi pra rebocar, depois fiz outro pra murar a casa, um muro bem alto,
cimentei o quintal. O outro que eu fiz tirei R$ 3.500,00 e mudei todos os moveis lá de
casa que estava precisando, o fogão, a geladeira, uma estante, mesa, essas coisas.
P. O seu último empréstimo foi feito por qual motivo?
F.P.G.: O último agora recente, tirei R$ 1.500,00 pra enterrar esse menino que morava
comigo. Paguei o caixão, que é caro.
P. Sobrou algum dinheiro ou precisou de algum complemento?
F.P.G.: Sobrou, “aí” eu sai e fiquei gastando fiz uma feirinha, comprei as coisas
necessária pra dentro de casa, carne, peixe, toda semana é uma coisa.
P. Depois do empréstimo feito e as parcelas começarem a ser descontadas, como ficou
a distribuição do dinheiro, foi preciso cortar algumas coisa?
F.P.G.: Ficou muito ruim não, mas tem que diminuir as despesas, ir arrochando mais
“né”, se não fica ruim.
P. Se você pudesse fazer mais empréstimos, seria feito para usar em quê?
F.P.G.: Ah agora, agora não estou precisando de nada não, graças a Deus, e nem se
eu tivesse não dava porque minha margem já acabou, agora só quando a margem
aumentar, “aí” se precisar eu faço.
P. Por qual motivo você escolhe determinada financeira, ou banco ou agente de
crédito?
F.P.G.: Ah eu gosto de fazer com quem me trata bem, se for simpática e tudo, pra
fazer, porque é bom quando as pessoas se preocupam em ajudar agente, às vezes os
juros pode ate ser alto, mas, eu me agradando da pessoa eu faço.
(O entrevistado parece se apegar principalmente ao agente de crédito que faz seus
empréstimos.)
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P. Em qual faixa de parcelas que você costuma fazer seus empréstimos? Isso é
importante?
F.P.G.: Em menos vezes é melhor “né”, mas “aí” o desconto fica grande e não tem
quem aguente, “aí” eu vou fazendo em muitas vezes mesmo, em 60 ou 72 vezes. Só
teve uma vez que eu consegui fazer em menos que foi em 36 vezes.
(O entrevistado parece ter muita familiaridade em fazer empréstimos.)
P. Você se preocupa em não ter restrições nos órgãos de cobrança ao consumidor,
como SPC ou SERASA? Por quê?
F.P.G.: Ah graças a Deus eu até hoje não entrei no SPC não, eu tento pagar tudo
em dia pra nunca entrar, por isso que às vezes quando eu não posso pagar eu faço
um empréstimo e pago as minhas dividas.
(O entrevistado demonstra a importância de ter o nome limpo e orgulha-se em
mantê-lo por tanto tempo.)
P. Por qual motivo você refinanciaria ou renovaria um empréstimo?
F.P.G.: Não, agora tão cedo eu não renovo não, porque fica é mais caro e demora
mais a terminar a pagar. A minha filha é que quer que eu renove pra comprar um
carro pra ela, “aí” eu disse: minha filha eu ando é de bicicleta ou de ônibus e você
quer andar de carro? Pode esquecer, mal tenho dinheiro pra manter minha casa e a
sua quanto mais comprar um carro.
47
ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA COM OS SERVIDORES PÚBLICOS DA
SECRETÁRIA EXECUTIVA REGIONAL VI DA PREFEITURA MUNICIPAL DE
FORTALEZAPÚBLICO ALVO: SERVIDOR PÚBLICO DA AREA DE SERVIÇOS
GERAIS
Bom dia/tarde, eu me chamo Sarah, sou aluna do curso de Administração da
Faculdade Cearense e venho através desta pesquisa coletar informações sobre o
questionamento feito em meu trabalho de conclusão de curso, que tem como objetivo
identificar os efeitos do crédito consignado para os servidores do setor de serviços
gerais da Secretária Regional VI.
ENTREVISTA 3
Estamos aqui com o Sr. (a) V.M.S.R., de 60 anos, casada.
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Primeiramente vamos traçar o perfil básico, referente ao ambiente de moradia e
renda do servidor que será entrevistado.
P. Como é a estrutura da sua casa?
V.M.S.R.: A minha casa tem 4 compartimentos, ela é até “boazinha”, mas só que
quando chove alaga, já hoje eu sai de casa parecendo uma piscina, nem tem
saneamento lá. A cozinha é a pior, “aí” eu “atrepo” os meus moveis pra não estragar.
P. Quantas pessoas moram com você?
F.P.G.: Só mora meu marido e eu, eu tenho duas filhas, mas já são casadas e não
moram comigo.
P. Como essas pessoas ajudam nas despesas?
F.P.G.: O meu marido ajuda nas despesas, ele trabalha de pedreiro.
P. Quando a sr.(a) recebe o seu salário, com o que o sr. (a) gasta?
F.P.G.: Eu faço o mercantil, pago alguma coisa que eu estou devendo e o resto eu fico
mantendo de pouquinho.
P. Quais as despesas mais importantes para pagar?
F.P.G.: Tem a luz, água, fazer as compras no mercantil, e a parcela do computador que
eu dei pra minha neta.
P. Como é adquirida a renda da família?
F.P.G.: A minha é aqui na regional e eu ganho uma pensão do meu pai que morreu, e o
meu marido que trabalha como pedreiro, mas nesse tempo de chuva fica ruim de
trabalhar “aí” eu tenho que “bancar” mais.
Para finalizar vamos coletar informações acerca da tomada de crédito
consignado
P. Você tem o hábito de fazer empréstimos?
F.P.G.: Eu faço muitos empréstimos, meu contra cheque é cheinho, lotado.
P. Antes de fazer um empréstimo, você costuma pesquisar onde têm melhores juros?
F.P.G.: Eu tento pesquisar, mas não entendo muito dessas coisas não, quando eu vejo
que dá pra tirar “aí” eu tiro e pronto.
P. Como você reage ao saber que o juros do empréstimo que vai fazer está muito alto?
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F.P.G.: Ah, eu fico pensando “né”, que quando agente faz é muito bom quando recebe,
serve muito, mas quando acaba o dinheiro, “aí” bate o arrependimento e já é tarde
demais “né”.
P. O que você já conseguiu adquirir com o dinheiro dos empréstimos que fez?
F.P.G.: Ah! Eu comprei uma moto pro meu marido ir trabalhar, fazer os serviços dele e
tudo, mas ele foi roubado, só que os descontos continuam “né”, ainda falta dois anos
pra terminar de pagar, mas o banco não quer saber disso não. Mas eu já comprei outra
moto, tomara que ninguém leve. Ah, eu fiz uma reforma também ajeitando um
pouquinho da casa, mas o dinheiro não deu pra fazer tudo que eu queria.
P. O seu último empréstimo foi feito por qual motivo?
F.P.G.: Vou negar não, foi pra organizar o aniversário de 19 anos da minha neta. Foi
ótimo, ela ficou tão feliz.
P. Sobrou algum dinheiro ou precisou de algum complemento?
F.P.G.: Sobrou, mas só deu pra uns dias que eu usei nas despesas da casa.
P. Depois do empréstimo feito e as parcelas começarem a ser descontadas, como ficou
a distribuição do dinheiro, foi preciso cortar algumas coisa?
F.P.G.: Ficou ruim, tive que diminuir, mas “aí” qualquer coisa o meu marido ajuda
também “né”.
P. Se você pudesse fazer mais empréstimos, seria feito para usar em quê?
F.P.G.: Ah! Eu faria, mesmo estando acochado eu faria, eu queria ajeitar a cozinha da
minha casa pra não alagar mais.
(É visível o sentimento de desejo que a entrevistada tem em ter um lugar melhor para
morar.)
P. Por qual motivo você escolhe determinada financeira, ou banco ou agente de
crédito?
F.P.G.: Ah eu gosto de fazer com quem me trata bem, quem se preocupa em ajudar.
(A entrevistada parece se apegar principalmente ao agente de crédito que faz seus
empréstimos.)
P. Em qual faixa de parcelas que você costuma fazer seus empréstimos? Isso é
importante?
F.P.G.: Eu faço mais em 60 ou 72 vezes, eu acho importante fazer em menos “né” que
termina mais rápido, mas não dá pra mim, se não eu tiro pouco e não da pra pagar
minhas coisas.
(A entrevistada parece ter muita familiaridade em fazer empréstimos.)
50
P. Você se preocupa em não ter restrições nos órgãos de cobrança ao consumidor,
como SPC ou SERASA? Por quê?
F.P.G.: Me preocupo, mas fazer o quê, o meu nome já está lá faz muito tempo.
P. Por qual motivo você refinanciaria ou renovaria um empréstimo?
F.P.G.: Assim, por exemplo, eu estou precisando aterrar meu quintal, ajeitar minha
cozinha, essas coisas, “aí” eu faria se desse.
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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA COM OS SERVIDORES PÚBLICOS DA
SECRETÁRIA EXECUTIVA REGIONAL VI DA PREFEITURA MUNICIPAL DE
FORTALEZAPÚBLICO ALVO: SERVIDOR PÚBLICO DA AREA DE SERVIÇOS
GERAIS
Bom dia/tarde, eu me chamo Sarah, sou aluna do curso de Administração da
Faculdade Cearense e venho através desta pesquisa coletar informações sobre o
questionamento feito em meu trabalho de conclusão de curso, que tem como objetivo
identificar os efeitos do crédito consignado para os servidores do setor de serviços
gerais da Secretária Regional 6.
ENTREVISTA 4
Estamos aqui com o Sr.(a) R.J.L, de 49 anos, casada, mãe de 3 filhos.
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Primeiramente vamos traçar o perfil básico, referente ao ambiente de moradia e
renda do servidor que será entrevistado.
P. Como é a estrutura da sua casa?
R.J.L.: É uma casinha simples com três cômodos, piso de cimento, sem forro, quando
chove molha a gente.
(A entrevistada rir parece conformado, levando como pode essa situação.)
P. Quantas pessoas moram com você?
R.J.L.: Oito pessoas. Sou eu, minhas três filhas, um genro e duas netas
P. Como essas pessoas ajudam nas despesas?
R.J.L.: Ajudam só a “comer“ o dinheirinho que eu ganho, nenhuma trabalha.
(A entrevistada parece irritado.)
P. Quando o sr. recebe o seu salário, com o que o sr. gasta?
R.J.L.: Ah! Meu dinheiro vai todo pra bodega, passo o mês comprando fiado e quando
recebo o salário dá nem pra ver o dinheiro direito, vai todo pro seu Zé da bodega, eu
pago, sobra nada, sobra só a vontade de ficar com o dinheiro, por isso que às vezes eu
faço empréstimo.
P. Quais as despesas mais importantes para pagar?
R.J.L.: A comida, a feira “né”, eu pago a luz e a água, mas ainda bem que vem
pouquinho, eu gasto mais é na comida mesmo, vai o dinheiro todo embora.
P. Como é adquirida a renda da família?
R.J.L.: A renda nossa todinha é só da faxina que eu faço na prefeitura, mais às vezes
eu faço “bico” fim de semana por fora pra completar meu dinheiro.
Para finalizar vamos coletar informações acerca da tomada de crédito
consignado
P. Você tem o hábito de fazer empréstimos?
R.J.L.: Não é um hábito, é uma necessidade, eu preciso comprar remédio, roupa, e o
dinheiro não sobra, quando eu pago a energia e o gás, vai o dinheiro todo embora, “aí”
precisa fazer empréstimo, porque o dinheiro pro outro mês fica pouco.
P. Antes de fazer um empréstimo, você costuma pesquisar onde têm melhores juros?
R.J.L.: Às vezes eu pesquiso, mas tem hora que não tem jeito, agente faz no que dá
mesmo, no que facilita mais.
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P. Como você reage ao saber que os juros do empréstimo que vai fazer está muito
alto?
R.J.L.: Eu fico indignado com o governo com esses juros alto, mas também não posso
deixar de fazer o empréstimo porque estou precisando.
P. O que você já conseguiu adquirir com o dinheiro dos empréstimos que fez?
R.J.L.: Consegui fazer uma reforma em casa, rebocar as paredes que não eram
rebocadas e trocar o telhado, e pagar às contas mesmo.
P. O seu último empréstimo foi feito por qual motivo?
R.J.L.: Foi pra pagar um agiota, que me emprestou dinheiro e estava me cobrando “aí”
eu fiz o empréstimo pra pagar, porque ele já estava ficando com raiva e eu com medo
“né”.
P. Sobrou algum dinheiro ou precisou de algum complemento?
R.J.L.: Sobrou um pouco, “aí” eu fiz uma feira maior e levei pra casa pra dar uma
aliviada no salário do outro mês.
P. Depois do empréstimo feito e as parcelas começarem a ser descontadas, como ficou
a distribuição do dinheiro, foi preciso cortar algumas coisa?
R.J.L.: Já num tinha nada “né”, ficou pior, porque eu fiz a feira, e acabou “né”, “aí” no
outro mês a gente teve que diminuir a despesa na bodega.
P. Se você pudesse fazer mais empréstimos, seria feito para usar em quê?
R.J.L.: Seria pra aumentar minha casa, fazer mais um cômodo, porque tem muita gente
“aí” fica apertada pra tanta gente.
(É visível o sentimento de desejo que a entrevistada tem em ter um lugar melhor para
morar).
P. Por qual motivo você escolhe determinada financeira, ou banco ou agente de
crédito?
R.J.L.: Pela taxa dos juros que são cobrados, e se eu tiver confiança em quem vai fazer
o empréstimo, porque tem uma menina que eu só faço com ela.
(A entrevistada parece se apegar principalmente ao agente de crédito que faz seus
empréstimos.)
P. Em qual faixa de parcelas que você costuma fazer seus empréstimos? Isso é
importante?
R.J.L.: Em até 60 meses “né”, o importante é conseguir tirar mais dinheiro não importa
em quantas parcelas seja.
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(A entrevistada parece ter muita familiaridade em fazer empréstimos.)
P. Você se preocupa em não ter restrições nos órgãos de cobrança ao consumidor,
como SPC ou SERASA? Por quê?
R.J.L.: Eu me preocupo, mais às vezes não tem jeito, e também daqui a cinco anos
sai “né”.
(A entrevistada demonstra pouca importância, pois sabe que tem um tempo para
seu nome ficar limpo novamente.)
P. Por qual motivo você refinanciaria ou renovaria um empréstimo?
R.J.L.: Se aparecesse alguma coisa importante pra fazer, alguém ficar doente, ou
dívida muito alta, essas coisas.
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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA COM OS SERVIDORES PÚBLICOS DA
SECRETÁRIA EXECUTIVA REGIONAL VI DA PREFEITURA MUNICIPAL DE
FORTALEZAPÚBLICO ALVO: SERVIDOR PÚBLICO DA AREA DE SERVIÇOS
GERAIS
Bom dia/tarde, eu me chamo Sarah, sou aluna do curso de Administração da
Faculdade Cearense e venho através desta pesquisa coletar informações sobre o
questionamento feito em meu trabalho de conclusão de curso, que tem como objetivo
identificar os efeitos do crédito consignado para os servidores do setor de serviços
gerais da Secretária Regional 6.
ENTREVISTA 5
Estamos aqui com o Sr. F.J.LS. de 51 anos, casado.
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Primeiramente vamos traçar o perfil básico, referente ao ambiente de moradia e
renda do servidor que será entrevistado.
P. Como é a estrutura da sua casa?
F.J.L.S: É uma casa normal, com quatro cômodos, um quarto, sala, banheiro e cozinha,
é pequeno sabe, mas é boazinha. Só que falta rebocar, e colocar o piso porque é
aquele piso “morto”.
P. Quantas pessoas moram com você?
F.J.L.S: Só mora eu e minha mulher.
P. Como essas pessoas ajudam nas despesas?
F.J.L.S: Ela ajuda assim, ela não tem trabalho certo, de carteira assinada ela não tem,
mas ela passa a semana ajudando a cuidar de duas filhas de uma sobrinha dela, “aí”
ela ganha uma ajuda, e também trabalha de cozinheira quando alguém precisa ela faz
esse serviço, “aí” dá pra ajudar “né”, não é muito não mas ajuda.
P. Quando o sr. recebe o seu salário, com o que o sr. gasta?
F.J.L.S: O que eu gasto na minha casa é a alimentação, pago o mercadinho lá perto de
casa que eu pego as coisas quando falta em casa, agua, luz e a fatura do cartão, pago
as roupas, perfume que o pessoal aqui da regional me vende fiado, essas coisas.
P. Quais as despesas mais importante para pagar?
F.J.L.S: Primeiro a luz, água, a fatura do cartão porque eu parcelo as compras no
mercantil “aí” a gente ganha um carnê pra pagar, e o resto, as dividas que eu faço que
são muitas, com todo mundo que me ajuda.
P. Como é adquirida a renda da família?
F.J.L.S: Ah, minha renda vem daqui da regional e como eu saiu cedo daqui eu fico
procurando com quem quiser um serviço, limpo a frente das casas dos meus vizinhos,
servente de pedreiro, ou até aqui na regional quando alguém pede um favor eu vou
fazer “aí” sempre eles me dão um “trocado”, uma ajudinha, eu sei que qualquer coisa
que apareça eu vou fazendo, qualquer coisa que dê um dinheirinho. E a minha mulher
“né” que me ajuda com o que pode, ela também faz uma coisa ou outra e “aí” a gente
vai levando.
Para finalizar vamos coletar informações acerca da tomada de crédito
consignado
P. Você tem o hábito de fazer empréstimos?
F.J.L.S: Claro! Eu já estou lotado de empréstimo até a tampa! Sempre que dá. Mas já
estou doidinho aqui pra fazer de novo e não tenho margem.
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P. Antes de fazer um empréstimo, você costuma pesquisar onde têm melhores juros?
F.J.L.S: Pesquiso nada, pra quê? É tudo alto mesmo, não adianta procurar. Eu até sei
onde é melhor, mas não posso fazer lá porque meu nome está “sujo” “aì” eles não
aceitam, “aí” eu faço no que dá mesmo.
P. Como você reage ao saber que o juros do empréstimo que vai fazer está muito alto?
F.J.L.S: Me sinto assim sem saber o que fazer “né”, tem que fazer o empréstimo “né”,
“aí” eu não ligo, a vida da gente é assim mesmo, a gente fica triste porque não dá pra
tirar muito dinheiro, “aí” depois fica feliz porque recebeu o dinheiro e pagou as contas,
“aí” depois fica triste de novo porque o dinheiro acabou e não deu pra fazer quase
nada.
P. O que você já conseguiu adquirir com o dinheiro dos empréstimos que fez?
F.J.L.S: O meu primeiro empréstimo, me lembro como se fosse hoje, comprei cimento,
umas telhas, terminei de fazer minha casa “né”, que não tá lá essas coisas mas é
minha “aí” é bom “né”, depois em outro empréstimo eu comprei uma televisão e um
armário pra cozinha e um fogão novo que minha mulher estava pedindo. Todo dia ela
me perturbava “aí” eu comprei.
P. O seu último empréstimo foi feito por qual motivo?
F.J.L.S: O último foi tão pouco, mas foi pra pagar umas dívidas que eu fiz, só deu pra
tirar bem pouquinho, uns R$ 550,00, “aí” eu paguei o pessoal.
P. Sobrou algum dinheiro ou precisou de algum complemento?
F.J.L.S: Sobrou, era bem pouquinho, “aí” eu tomei umas cervejinhas.
(O entrevistado rir descontraído.)
P. Depois do empréstimo feito e as parcelas começarem a ser descontadas, como ficou
a distribuição do dinheiro, foi preciso cortar algumas coisa?
F.J.L.S: Ah, atrapalhar sempre atrapalha mas a gente tenta levar, “empurrando” como
dá. Só é ruim porque diminui ainda mais o que eu ganho, e já é pouco fica menos
ainda.
P. Se você pudesse fazer mais empréstimos, seria feito para usar em quê?
F.J.L.S: Ah, como eu queria, eu ia fazer pra colocar o piso na minha casa e rebocar as
paredes, dá uma geral nela sabe.
(É visível o sentimento de desejo que a entrevistada tem em ter um lugar melhor para
morar.)
P. Por qual motivo você escolhe determinada financeira, ou banco ou agente de
crédito?
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F.J.L.S: Eu faço assim onde é mais fácil pra mim, e aqui na regional tem um menina
que faz tempo que trabalha aqui “aí” ela que faz pra mim, eu confio nela, mas tem
vezes que não dá pra fazer.
(A entrevistada parece se apegar principalmente ao agente de crédito que faz seus
empréstimos.)
P. Em qual faixa de parcelas que você costuma fazer seus empréstimos? Isso é
importante?
F.J.L.S: Eu não ligo pra isso não, faço em 60 vezes em 84 vezes, o que eu quero é tirar
mais dinheiro, se eu fizer em poucas vezes não libera muito dinheiro “aí” não adianta
porque eu preciso de muito, são muitas dívidas.
(A entrevistada parece ter muita familiaridade em fazer empréstimos.)
P. Você se preocupa em não ter restrições nos órgãos de cobrança ao consumidor,
como SPC ou SERASA? Por quê?
F.J.L.S: Não me preocupo não, se eu fosse me preocupar com isso eu estava era
morto, porque só o que eu tenho é dívida, e o meu nome já saiu “né” depois que
passou cinco anos, mas voltou de novo, “aí” minha filha não tem jeito não.
(A entrevistada demonstra pouca importância, pois sabe que tem um tempo para
seu nome ficar limpo novamente.)
P. Por qual motivo você refinanciaria ou renovaria um empréstimo?
F.J.L.S: Ah, eu gostaria de fazer assim um bem grande, pagar todas as minhas
dívidas, ajeitar minha casa e ainda ficar com dinheiro no bolso, mas isso é só sonho,
a gente só sonha, quando agente acorda tá é “lascado”.
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