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Classificação do artigo 22 mai 2015 O Globo
ANTÔNIO WERNECK, VERA ARAÚJO E RODRIGO BERTOLUCCI [email protected]
Alemão disse aos médicos que foi
torturado
Diretor do Miguel Couto revela que vítima de explosão contou ter sofrido um
assalto em seu apartamento
Diretor do Miguel Couto diz que o alemão Markus Muller, atendido na unidade, contou ter sido
torturado por bandido que o cortou e ameaçou explodir o prédio. O alemão Markus Muller, de 51 anos,
revelou aos médicos do Hospital Miguel Couto, logo após dar entrada com ferimentos e queimaduras pelo
corpo, que foi torturado por um assaltante que invadiu sua casa, o apartamento 1001 do Edifício Canoas,
em São Conrado, onde, na última segunda­feira, houve uma explosão provocada por vazamento de gás,
como revelou o “RJ­TV”, da Rede Globo. Segundo o diretor da unidade, o médico Luiz Alexandre, Muller,
que está internado em estado grave no Hospital Pedro II, com 50% do corpo queimados, contou repetidas
vezes que o criminoso, além de fazer cortes em seu corpo com uma faca, também ameaçava explodir o
edifício.
PABLO JACOB/20­05­2015
Destruição. Apartamentos do Edifício Canoas, em São Conrado, onde uma explosão atingiu
todas as 72 unidades
— Ele disse que um homem teria entrado no apartamento querendo um relógio Rolex dourado e
dinheiro, e passou a noite o torturando com uma faca, provocando lesões pelos braços e pelo corpo.
Depois disso, ameaçou explodir tudo — afirmou o médico, acrescentando mais detalhes ditos pela vítima,
assim que deu entrada no Hospital Miguel Couto.
Ainda segundo explicou Luiz Alexandre, essa pessoa teria dado uma bebida avermelhada para o
alemão antes de dizer que iria explodir tudo. A equipe médica pensa em duas hipóteses: ou realmente a
história é verdadeira ou ele teve algum tipo de surto psicótico. Para o diretor do Miguel Couto, as lesões
longitudinais e superficiais parecem mais compatíveis com faca do que com ferimentos causados por
estilhaços.
A versão contada por Markus Muller, no entanto, ainda não convenceu os peritos da Polícia Civil que
trabalham no caso. Eles acreditam que, por serem superficiais, as lesões não teriam sido provocadas por
faca, mas por estilhaços de vidros e outros objetos cortantes que foram violentamente arremessados
depois da explosão. Os policiais, entretanto, continuam trabalhando com três hipóteses: acidente
provocado por vazamento, assalto e tentativa de suicídio.
Peritos ouvidos pelo GLOBO disseram que os cortes são superficiais, e o maior deles foi feito nas costas
de Muller, medindo cerca de dez centímetros.
— Os cortes não passam da pele. São compatíveis com cacos de vidro. Pontas de vidro poderiam ter
produzido os ferimentos, mas não dá para descartar autolesão — explicou um perito que examinou o
alemão.
O vidro espalhado pelo apartamento do alemão pode ser do blindex que dividia a área de serviço da
cozinha, onde ocorreu a explosão. Os vidros voaram para vários cômodos. Quando os bombeiros chegaram
para socorrer Muller, eles o encontraram sentado numa poltrona de couro, na qual havia um pedaço de
vidro preso. A vítima estava em estado de choque.
O alemão segue internado no Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz. Ontem, ele apresentou uma
pequena melhora. O trabalho dos médicos tem sido hidratar o corpo de Muller, que vem consumindo dez
litros de soro por dia. Ele tem queimaduras graves de segundo e terceiro graus.
A opinião dos peritos ouvidos pelo GLOBO é semelhante ao do coordenador do Laboratório de Ciências
Forenses da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Nelson Massini. O perito acredita que o próprio
alemão tenha provocado os ferimentos descritos pelos médicos. Massini também afirma que ele pode ter
ateado fogo ao próprio corpo. Imagens feitas por um operário da obra do metrô mostram uma pessoa
supostamente em chamas na varanda do apartamento de Muller, logo depois da explosão. De acordo com
o perito, não há sinais de incêndio dentro do imóvel.
— A chama está se movimentando, e a única coisa que pegou fogo naquele ambiente foi ele, com as
vestes que usava. Podemos dizer que foi ele mesmo que saiu e circulou, veio para a varanda, voltou e
sentou naquela cadeira depois da explosão — afirmou ele ao “Bom Dia Rio", da Rede Globo.
Sem descartar qualquer hipótese, os policiais civis da 15ª DP (Gávea), responsáveis pelas
investigações das causas da explosão, voltaram ontem à tarde ao apartamento do alemão. Eles
recolheram facas encontradas na casa para ver se são compatíveis com os ferimentos e cortes percebidos
pelos médicos no corpo de Muller. Também foram apreendidos dois celulares, que passarão por análise.
— Queremos saber com quem ele (alemão) falou ou recebeu ligações — disse um policial que participa
das investigações.
Os agentes também ouviram os depoimentos do síndico do prédio, Jorge Alexandre de Oliveira, e de
um sargento do Corpo de Bombeiros, que resgatou Muller do apartamento 1001 e o socorreu, levando­ o
para o Hospital Miguel Couto. O delegado Pires Lage mandou recolher também o computador e o notebook
de Muller para análise. Ele quer saber se há alguma pista do que aconteceu no apartamento antes da
explosão.
— Não podemos descartar nenhuma hipótese ou possibilidade. Estamos requisitando imagens de todas
as câmeras do prédio, em especial as dos elevadores, dos corredores, da portaria e da garagem. Vamos
analisar cada uma — disse um outro policial.
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