O executivo, o catador de lixo, o menino e as tartarugas
Marcos Perillo*
“A maioria dos meus mestres não se lembra das lições que me deram. Eu me lembro de todas
elas.”
Essa estória quem me contou foi um amigo e eu achei bastante interessante. Vamos chamá-lo
de Marcos para fins de anonimato.
Executivo de sucesso, acostumado a ocupar cargos de presidência e vice-presidência, Marcos
me ligou dizendo ter passado por uma experiência muito positiva. Teve a sensação de ter
ensinado algo realmente valioso, muito mais que os ensinamentos e decisões que estava
acostumado a dar em seu dia a dia profissional.
Há algum tempo ele decidiu que toda vez que fosse para a sua casa de praia, algo que faz em
média duas vezes por mês, ele dedicaria ao menos 40 minutos por dia para coleta de lixo
plástico da orla marítima. Isso o fazia sentir bem. O anonimato na figura do catador de lixo
aliado ao ato de ajudar na limpeza dos mares, de fato trazia para ele uma sensação de paz
interior.
Em uma dessas caminhadas ecológicas, junto com seu fiel instrumento de trabalho, um saco
de 50 litros de lixo, ele encontrou um menino de uns oito anos de idade que perguntou: você é
catador de lixo? Não, ele respondeu. Faço isso porque quero ver os mares mais limpos e não
quero mais que tartarugas morram. Como assim? Perguntou o menino sobre as tartarugas. É
que estatisticamente a maioria das mortes de tartarugas é decorrente da ingestão de lixo
plástico. Elas confundem com algas ou águas-vivas, seus alimentos naturais, e engolem.
Morrem literalmente entupidas! O menino, com olhar triste, disse que nas férias passadas
tinha uma tartaruga enorme ali na praia. Tava viva? Perguntou Marcos. Não, estava morta,
respondeu. É... ela deve ter engolido plástico, falou Marcos. Despediram-se. O garoto
continuou suas brincadeiras na areia e meu amigo continuou sua caminhada.
No retorno, quando o saco de lixo já estava quase transbordando, Marcos viu o garoto
correndo em sua direção. Quando chegou, ofegante, ele disse: trouxe isso para você! Em uma
mão tinha uma garrafa PET e na outra, um desses sacos plásticos de supermercados. Ora, você
virou catador de lixo? Não, respondeu o menino, eu faço isso por que eu não quero ver mais
tartarugas mortas por causa de lixo. Grande garoto, falou Marcos. Cuide bem das tartarugas.
Com certeza terás uma vida mais feliz e com paz.
Nunca mais se encontraram.
É essa a estória que ele me contou.
* Marcos Perillo é vice-presidente técnico do IBEF PR.
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