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ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES E EXPECTATIVAS DOS ALUNOS DE CIÊNCIAS
CONTÁBEIS NA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA QUANTO AO PERFIL DO
PROFESSOR E INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO
Marcelo Daiha Castro Araujo
PMIRPGCC - UNB/UFPB/UFPE/UFRN
Claudio Moreira Santana
PMIRPGCC - UNB/UFPB/UFPE/UFRN
RESUMO
O ensino superior vem passando por um processo de transformação em busca da
democratização das oportunidades e com isso diminuindo a qualidade do ensino. O
conhecimento das percepções e expectativas dos alunos ajuda o professor a formar um retrato
de seus alunos, facilitando a busca pela melhoria no processo ensino/aprendizagem. Esta
pesquisa tem como objetivo analisar os alunos do curso de Ciências Contábeis da
Universidade de Brasília, de forma a evidenciar a preferência dos alunos em relação às
características e atuação de professores e, ainda, a percepção e a expectativa em relação à
carreira profissional no mercado de trabalho após a conclusão da graduação. Utilizou-se como
instrumento de coleta de dados questionário composto por 32 assertivas em Escala Likert, 7
perguntas objetivas e 1 pergunta aberta adaptado de Camargos, Camargos e Machado (2006).
Observou-se que os alunos buscam professores com atitudes encorajadoras, que atuam em
sala de aula de forma a demonstrar a aplicabilidade do conteúdo ministrado e que rejeitam o
relacionamento estritamente profissional. As expectativas quanto ao mercado de trabalho
mostram que o aluno da Universidade de Brasília busca ingressar no mercado de trabalho com
pretensões salariais acima da média recebida no mercado e que a maioria pretende ingressar
no serviço público.
Palavras-chaves: Ensino de contabilidade. Pretensões profissionais e salariais. Percepções e
expectativas educacionais.
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INTRODUÇÃO
O ensino superior no Brasil vem passando por um processo de sucateamento em busca
da democratização de oportunidades. Prédios, equipamentos e professores foram
improvisados para que tivessem um número maior de cursos e vagas. Este processo visa
diminuir custos para aumentar e democratizar as oportunidades, concomitantemente,
diminuindo a qualidade no processo de formação do aluno. Atualmente, os professores são
recrutados entre profissionais de sucesso em suas áreas de atuação e, na sua maioria, estão
despreparados para o magistério, não tendo noção do que é exigido para a formação do aluno
(VASCONCELOS, 2000; LAFFIN, 2002).
A facilidade de abertura de Instituições de Educação Superior (IES) proporcionada
pela LDB de 1996 faz com que o ambiente educacional se torne cada vez mais competitivo.
Com o acirramento da concorrência por vagas no mercado de trabalho, faz-se necessário ao
profissional moderno em Ciências Contábeis posicionar-se como sujeito principal de seu
processo formativo, com capacidade de apreensão e análise crítica tanto de sua área de
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atuação como de seu posicionamento frente a seus públicos, colegas de profissão, clientes e,
com isso, poder atender às demandas cada vez maiores. Esse ambiente foi um dos
responsáveis pela mudança na percepção do profissional contábil, fazendo com que o
contador, que antes era considerado um mero responsável por aberturas e fechamentos de
empresas, passasse a ocupar posição de destaque nas tomadas de decisões e gestão das
companhias (WALTER, 2005).
Os contadores também têm sido exigidos a ampliar suas habilidades para atender de
forma eficaz as demandas desse novo ambiente, dessa forma, habilidades pessoais,
entendimento do negócio e participação mais ativa no processo de gestão passaram a integrar
o novo perfil do profissional contábil (CARDOSO, 2006).
A partir deste novo cenário, houve a necessidade de adequar a formação superior em
contabilidade para a capacitação profissional para a prática do novo mercado. A formação
universitária passou a confundir-se com formação profissional, fazendo com que os alunos
esperem da universidade o preparo necessário ao ingresso no mercado de trabalho (seja na
área privada ou na área pública).
Para Furlani (1998), a Universidade tende a abandonar o seu caráter universal,
humanista, para tornar-se um mero instrumento de formação profissional. Com isso, a
Universidade toma destaque como a formadora capaz de desenvolver a excelência humana e
profissional de seus alunos, qualificando-os para o desempenho competente e fortalecimento
da imagem da profissão de contador.
As IES, que nesse cenário, assumem o papel de formadora de mão-de-obra e de
profissionais para o mercado de trabalho, têm que estar sempre atentas às exigências e
demandas do mercado e à percepção e às preferências de seus alunos quanto às condições e à
qualidade de ensino que estão sendo oferecidos (CAMARGOS; CAMARGOS; MACHADO,
2006).
A percepção que o aluno tem de seu processo de formação, aliada ao
comprometimento dos professores e da interação entre professores e alunos, pode influenciar
suas tomadas de decisões quanto à sua área de atuação e criação de expectativas após a
formação.
Dessa forma, a questão central que se pretende verificar é: Qual a percepção dos
alunos do curso de Ciências Contábeis da Universidade de Brasília, regularmente
matriculados no segundo semestre de 2007, em relação à inserção no mercado de trabalho e
suas percepções quanto ao ensino e relacionamento com o corpo docente?
O objetivo deste estudo analisar a percepção do aluno de Ciências Contábeis da
Universidade de Brasília sobre professores e sobre as suas expectativas quanto ao ingresso no
mercado de trabalho. Pretende-se ainda delinear as preferências desses alunos pelas áreas de
atuação e suas expectativas quanto ao retorno financeiro esperado no exercício de sua
profissão ou de sua área de atuação.
Este trabalho apresentará o cenário no qual o aluno da UnB, matriculado no curso de
Ciências Contábeis, está inserido, considerando suas percepções no decorrer do curso.
Composto de introdução, referencial teórico contextualizando o assunto, metodologia
utilizada para coleta dos dados analisados, da análise dos resultados e considerações finais.
Nos resultados são abordados primeiramente os aspectos ligados a identificação básica do
respondente por sexo, turno e disciplinas, seguidos da análise sobre as expectativas de
inserção no mercado de trabalho, áreas preferidas para atuação e remuneração esperada pelo
futuro profissional contábil da UnB. A análise é finalizada com os resultados sobre a
percepção dos alunos no que diz respeito a estratégias de avaliação, aplicação do conteúdo
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programático, comportamento esperado dos professores e o relacionamento dos alunos com o
corpo docente.
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REFERENCIAL TEÓRICO
Ao longo da história da educação, muitos educadores têm ressaltado que o
conhecimento do aluno é o ponto de partida para qualquer ação pedagógica. Embora para o
exercício de sua prática de ensino o docente trace um perfil, ainda que superficial, de “quem é
o seu aluno”, nem sempre essa fotografia possui contornos nítidos (GODOY, 1998).
Nesse, sentido, a relação que se estabelece no ambiente de aprendizagem é descrita da
seguinte forma:
A relação entre aluno/aluno(s) e entre professor/aluno(s) é uma tríade,
que inclui não só o objeto de conhecimento a compartilhar, mas,
também, a transmissão das experiências vividas e as aprendizagens
dos alunos anteriormente ocorridas, que se presentificam na
argumentação e discussão de pontos de vista (TOSCHI, 2002, p. 18).
Ao assumir o desafio de formar o aluno, a Universidade deve tomar frente à formação
do sujeito social, além de profissional, o que implica necessariamente em uma perspectiva
construtora e cooperadora do conhecimento (SILVA, 2002).
A formação é entendida como o complemento da formação básica. É a adaptação do
profissional à evolução de sua profissão. Nesta formação ninguém melhor que a própria
pessoa para saber o que precisa para realizar seus projetos de vida ou suas ambições. No
entanto, a Universidade deve prover ou facilitar para que os meios existam e sejam de
qualidade (CASALI, 1997).
Um desses meios é o professor, logo, para Moreira (1998), o relacionamento do
professor com seus alunos e a percepção que os alunos têm de seu professor forma a primeira
fase de estudos que é decisiva: o aluno busca classificar o professor em termos
comportamentais – como acessível ou não-acessível, motivador ou não-motivador, etc.
O relacionamento criado entre esses agentes é a fase crítica do processo, pois pode
resultar rapidamente em uma deterioração do processo de formação (SILVA, 2002). Esta
interação ajudará na formação das expectativas dos alunos enquanto futuros profissionais,
portanto,
Diante da vocação da Universidade em investir na formação do sujeito
e das exigências de qualificação que o mundo do trabalho espera do
futuro profissional, será nesse contexto que o jovem poderá alcançar
tais propósitos e encontrar sua realização como sujeito histórico e
construtor da realidade. (SILVA, 2002, p. 396).
O conhecimento do sujeito em formação, aliado ao relacionamento com o corpo
docente deve definir o objetivo do ensino superior. Tal objetivo deve considerar a formação
do cidadão ético e comprometido. Assim,
O objetivo da universidade, na graduação, de educar seus alunos para
o exercício pleno da cidadania deveria implicar propiciar-lhes, além
das habilidades para o exercício profissional, uma formação geral e
humanista, dotada de visão crítica da sociedade em que irão atuar.
Significa formar o cidadão ético, comprometido com sua época e local
de atuação. É a possibilidade de preparar não apenas recursos
humanos capacitados profissionalmente como também agentes da
transformação social. (FURLANI, 1998, p. 15).
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Este cenário define a forma pela qual o relacionamento entre professores e alunos deve
ser visto e tratado para que, somado aos resultados deste estudo, possam contribuir para que o
corpo docente mantenha um posicionamento alinhado com as percepções e expectativas de
seus alunos resultando em uma formação de qualidade, preparar o aluno para o mercado de
trabalho sem abandonar o caráter humanista da Universidade, formando com isso
profissionais socialmente responsáveis comprometidos com sua profissão, com seus clientes e
colegas de trabalho.
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METODOLOGIA
O estudo foi realizado com uma população-alvo de 237 estudantes regularmente
matriculados no segundo semestre de 2007 no curso de Ciências Contábeis da Universidade
de Brasília (UnB). Os alunos respondentes do questionário aplicado foram selecionados por
meio de amostragem estratificada por etapas de suas graduações, sendo selecionados alunos
matriculados em Contabilidade Geral I (CGI), Teoria Contábil (TC) e Laboratório ContábilEmpresarial (LCE) dos turnos manhã e noite, disciplinas de início, meio e fim do curso
respectivamente. A população-alvo e a amostra de 148 alunos estão distribuídas conforme
tabelas 1 e 2.
Tabela 1: População-alvo por sexo e disciplina
Turno
Manhã
Noite
Disciplina
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Contabilidade Geral I
18
31
6
39
Teoria Contábil
11
27
9
28
Laboratório Contábil-Empresarial
14
14
15
25
Total
43
72
30
92
Tabela 2: Amostra de alunos respondentes por disciplina sexo e turno
Turno
Disciplina
Manhã
Noite
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Contabilidade Geral I
11
23
4
28
Teoria Contábil
8
16
7
20
Laboratório Contábil-Empresarial
7
10
5
9
Total
26
49
16
57
Os questionários foram aplicados durante o mês de outubro de 2007, em dias
diferentes, nas três disciplinas e nos dois turnos. A amostra foi composta pelos alunos que
encontravam-se presentes em sala de aula no momento da aplicação do questionário. O tempo
médio de resposta dos questionários foi de 20 minutos, sendo que os alunos foram orientados
a marcar em seu questionário apenas uma resposta nas 32 assertivas elaboradas na escala
Likert, com as opções: discordo plenamente, discordo, indiferente, concordo e concordo
plenamente, nas 7 opções objetivas e, além disso, orientados a responder conforme suas
opiniões na questão aberta relativa ao nível de renda desejado. O questionário foi adaptado de
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Camargos, Camargos e Machado (2006), aplicado em projeto de pesquisa do Departamento
de Administração da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
As informações a respeito de identificação foram opcionais, sendo informado
claramente nas instruções do questionário sobre o aspecto voluntário dos respondentes e a
preservação das suas identidades.
Na apuração dos dados referentes às questões objetivas, levantaram-se aspectos como
população dividida por turno, sexo, idade, se exerce função assalariada na área contábil ou em
outras áreas, área da contabilidade preferida para atuação após a conclusão do curso e
expectativas de exercer a profissão de Contador.
Os valores apurados estão classificados em forma percentual, ou seja, aplicou-se a
proporção entre os respondentes para a mesma assertiva em relação ao público-alvo.
Para efeito da análise dos dados, foram considerados apenas os alunos respondentes ao
questionário. Optou-se por este critério tendo em vista que existem alunos em situação de
trancamento de disciplina e não houve como identificar alunos em situação de abandono da
disciplina, proporcionando assim uma leitura mais fiel dos valores apurados.
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RESULTADOS E ANÁLISE
As Tabelas 1 e 2 evidenciam a maioria formada pelos alunos do sexo masculino no
curso de Ciências Contábeis da UnB, levantou-se ainda a questão da queda da diferença no
decorrer do curso. Enquanto alunos do sexo feminino matriculados em CGI representam
22,7% do total, ao final do curso, os alunos do mesmo sexo representam 38,7% dos
matriculados em LCE. Para efeito de comparação, os alunos do sexo masculino representam
77,3% dos alunos matriculados em CGI e 61,3% dos alunos matriculados em LCE. Esta
comparação demonstra que o egresso de alunos do sexo masculino é significativamente maior
que os do sexo feminino até o momento analisado.
Cabe salientar que tal afirmação leva em consideração apenas os alunos matriculados
em tais disciplinas, podendo haver distorções considerando a opção do aluno por freqüentar a
disciplina LCE ou outras disciplinas ao final do curso, já que há possibilidade de alunos
optarem por cursar disciplinas optativas ou do módulo livre ao término da graduação. No
entanto essa afirmação baseia-se considerando que dos respondentes da disciplina LCE, 93,6
declararam estar cursando do 8º semestre (posição no fluxo) em diante.
A Tabela 3 mostra a população dividida por disciplina e idade.
Tabela 3: Alunos por disciplina e idade em percentual (%).
15 a 17
18 a 24
25 a 49
Maiores de
Disciplina
anos
anos
anos
50 anos
Contabilidade Geral I
3,6
76,4
20
Teoria Contábil
84,6
15,4
Laboratório Contábil-Empresarial
73,1
26,9
-
De acordo com a Tabela 3 a maior concentração de alunos respondentes situa-se na
faixa dos 18 a 24 anos, perfazendo um percentual da amostra de 78,3%. Comparando-se os
dados da Tabela 2 com a Pesquisa Mensal de Empregos divulgada pelo Instituto Brasileiro de
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Geografia e Estatística (IBGE) em 25/10/2007, tal concentração mostra que a maioria dos
alunos regularmente matriculados em tais disciplinas não pertence à maior concentração da
População Economicamente Ativa (PEA) demonstrada naquela pesquisa.
Para o IBGE, em outubro de 2007, 2,3% da PEA situam-se na faixa dos 15 aos 17
anos, 17,4% situam-se entre 18 aos 24 anos, 62,1% (grande maioria) na faixa dos 25 aos 49
anos e 18% na faixa de 50 anos ou mais.
A comparação com a Pesquisa Mensal de Empregos do IBGE é interessante, pois dos
alunos que responderam a pesquisa, 52,4% declararam estar trabalhando (considerando
estágio), no entanto, dos alunos matriculados em CGI apenas 32,8% trabalham; dos alunos
matriculados em TC, 62,7% trabalham e dos alunos inscritos em LCE, 76,7% dos
respondentes trabalham. A análise mostra a inserção gradual no mercado de trabalho dos
alunos matriculados na Universidade de Brasília no decorrer do curso de graduação. Esta
inserção indica que a universidade pode estar formando profissionais para o mercado de
trabalho.
O aumento da inserção no mercado de trabalho vinculada a área contábil pode ser
observada no Gráfico 1.
Gráfico 1: Representação dos alunos que trabalham por área (%)
Observou-se que a inserção no mercado de trabalho aumenta à medida que o aluno vai
avançando na conclusão de sua graduação e que está vinculada a inserção no mercado de
profissionais contábeis. Nota-se a evolução no aumento da ocupação em áreas vinculadas ao
curso de graduação enquanto há um decréscimo em outras áreas. Quando se observa o
aumento de 32,8% dos alunos de início de graduação matriculados em CGI que trabalham
para 76,7% dos alunos em final de graduação matriculados em LCE, conclui-se que o
ingresso desses novos trabalhadores na área contábil se dá pela realização da graduação.
Quanto ao aumento do ingresso no mercado de trabalho na área contábil, a análise do
questionário mostra que a maioria dos alunos de Ciências Contábeis da UnB não almeja o
exercício da profissão de Contador como autônomo/empresário ou na área privada.
Questionados sobre a pretensão de exercer a profissão após a conclusão da graduação, 69,1%
dos alunos respondentes da pesquisa afirmaram que pretendem exercer a profissão no serviço
público. A grande diferença entre as opções pode ser observada no Gráfico 2.
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Gráfico 2: Pretensão dos alunos ao exercício da profissão (% por área)
A opção dos alunos pelo ingresso no serviço público fica mais evidente quando
perguntou-se qual a área da contabilidade preferida para atuação pelos alunos.
Tabela 4: Área de atuação preferida pelos alunos (%).
Geral ou
Disciplina
Gerencial Pública
Financeira
Contabilidade Geral I
14,3
7,9
22,2
Teoria Contábil
19,5
14,6
29,3
Laboratório Contábil-Empresarial
17,9
25
42,9
Auditoria
55,6
36,6
14,2
A Tabela 4 mostra a concentração da preferência dos alunos por áreas afetas ao
serviço público como Contabilidade Pública e Auditoria.
A diferença observada pela pretensão pelo ingresso no mercado de trabalho
direcionado ao serviço público demonstra a possível busca pela estabilidade proporcionada
pelo emprego público atualmente. No entanto, considerou-se que, pela análise dos resultados
da pergunta aberta, a respeito da remuneração que garantiria um bom nível de vida, há uma
pretensão salarial muito acima da média-país. Praticamente não houve variação entre os
alunos matriculados nas três disciplinas, o que corrobora o resultado do Gráfico 2, haja vista
que o ingresso no serviço público garante salários acima da média e de forma imediata.
A Tabela 5 mostra a pretensão salarial dos alunos das três disciplinas, as faixas
salariais estão divididas conforme a Pesquisa Nacional de Empregos para que seja possível a
comparação com a realidade praticada no mercado.
Tabela 5: Pretensão salarial em percentual (%).
Disciplina
Até
R$ 760
R$ 761
a
R$ 1.900
R$ 1.901
a
R$ 3.800
R$ 3.801
a
R$ 7.600
Acima
de
R$ 7.600
Contabilidade Geral I
Teoria Contábil
Laboratório Contábil-Empresarial
-
-
6,3
5,9
10,3
31,8
54,9
34,5
61,9
39,2
55,2
Comparou-se então, a média dos salários pretendidos pelos alunos com as médias
divulgadas em outubro de 2007 pela Pesquisa Nacional de Empregos no Gráfico 3.
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Gráfico 3: Pretensão salarial por segmento.
A média pretendida assemelha-se à média salarial recebida pelos que atuam no serviço
público. Na Tabela de Remuneração dos Servidores Públicos Federais divulgada em setembro
de 2007 pelo Ministério do Planejamento, a média salarial dos servidores federais com
carreiras afins a contabilidade como: auditores-fiscais da Receita Federal/Previdência
Social/Trabalho, analistas do BACEN, peritos criminais em início de carreira é de R$
9.321,51. Não foi considerada a opção pela docência por não estar disponível.
A partir da análise quanto às expectativas dos alunos, foram analisadas as questões
relacionadas à percepção dos alunos em relação ao ensino e as respostas referentes às suas
preferências por quatro fatores: estratégias de avaliação, aplicação do conteúdo programático,
relacionamento e comportamento do corpo docente.
Quanto às expectativas pelo ingresso no mercado de trabalho, verificou-se que,
comparando com a população economicamente ativa do país, o aluno da UnB inicia sua
graduação com participação no mercado de trabalho abaixo da média divulgada pelo IBGE,
no entanto, a quantidade de alunos que ingressam no mercado de trabalho aumenta
proporcionalmente ao avanço no curso e esse ingresso parece ser efetivamente direcionado à
área contábil.
Essa análise da expectativa de ingresso no mercado de trabalho considerou a
característica da cidade de Brasília em oferecer maior número de oportunidades no serviço
público. Verificou-se pois, que os alunos têm uma pretensão salarial bem acima da média
paga pelo mercado privado. Há de ser considerado que a grande maioria dos alunos almeja o
ingresso no serviço público, o que demonstra a preocupação com a segurança e eleva a
exigência salarial dos alunos para a manutenção de um bom nível de vida, levando-se em
conta, conforme analisado anteriormente, que o retorno financeiro no serviço público é maior
e mais rápido, tendo em vista o ingresso via concurso público.
No fator Estratégias de Avaliação, consideraram-se as assertivas a seguir:
Prefiro professores que aplicam avaliações com várias questões, com uma maior diluição dos pontos.
Prefiro professores que ao invés de avaliações individuais ("provas"), utilizam o sistema de trabalho individual
para avaliar o aluno.
Prefiro professores que avaliam os alunos por meio da participação dos alunos nos trabalhos de classe.
Prefiro professores que não aplicam avaliações individuais ("provas"), mas avaliam o aluno por sua participação
em trabalhos em grupos, realizados durante o curso.
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Prefiro professores que aplicam avaliações compatíveis com o conteúdo ministrado em sala de aula. (nem acima,
nem abaixo, no que se refere ao nível da avaliação).
Prefiro professores que aplicam avaliações subjetivas (“discursivas”).
Prefiro professores que aplicam avaliações objetivas (“múltipla escolha”).
Os resultados para o fator Estratégias de Avaliação mostraram que houve
concentração de respostas na opção concordo para as assertivas sobre diluição de pontos entre
as questões da avaliação (44,9%) e participação em trabalhos de classe (46,9%). Verificouse ainda que há preferência de 44,9% dos alunos pela aplicação de provas objetivas, enquanto
que 31,3% concordam pela aplicação de provas subjetivas (discursivas). No entanto, entre os
respondentes, 60,5% concordam plenamente que as avaliações aplicadas aos alunos devem
respeitar o conteúdo ministrado em sala de aula.
As respostas referentes à rejeição dos alunos demonstraram concentração nas opções
discordo (37,4%) e indiferente (32%) na assertiva a respeito da avaliação por participação em
trabalhos em grupo.
Concluiu-se que, no que diz respeito a estratégias de avaliação, que o aluno prefere
que a avaliação seja feita por meio de provas objetivas ou trabalhos em classe, com diluição
de pontos entre as questões aplicadas e respeitando o conteúdo ministrado em sala de aula.
No fator Aplicação do Conteúdo, consideraram-se as assertivas a seguir:
Prefiro professores que além das aulas expositivas, costumam fazer trabalhos em grupo.
Prefiro professores que induzem os alunos a refletir sobre o conteúdo apresentado.
Prefiro professores que chegam à sala de aula e expõem o conteúdo, sem promover debates ou polêmica.
Prefiro professores que explicam a matéria mostrando aos alunos as possibilidades de sua aplicação prática.
Prefiro professores que durante a exposição da matéria, dirigem perguntas aos alunos, visando atrair-lhes a
atenção e induzi-los ao raciocínio.
Prefiro professores que repetem a explicação várias vezes até que todos os alunos da classe consigam
acompanhar o raciocínio.
Prefiro professores que no decorrer da exposição, solicitam exemplos para o assunto que está sendo explicado,
promovendo discussões.
Prefiro professores que procuram esclarecer as dúvidas dos alunos no decorrer da exposição.
Prefiro professores que expõem a matéria sem interrupções, deixando reservado para o final um espaço para
esclarecer possíveis dúvidas.
Prefiro professores que são mais diretos e objetivos durante as explicações.
Prefiro professores que utilizam a Internet como recurso didático.
Com a maior quantidade de assertivas para a análise do fator Aplicação do Conteúdo
adotou-se o critério dos percentuais de resposta dos alunos para as opções concordo e
concordo plenamente, haja vista a maior concentração de respostas nessas opções.
As maiores concentrações de respostas entre todas as assertivas do questionário
encontram-se nesse fator. Reafirmando que a Universidade é vista pelos alunos como
formadora de profissionais para o ingresso no mercado de trabalho, verificou-se que 96,9%
dos alunos esperam que os professores explique a matéria mostrando-lhes as possibilidades de
sua aplicação na prática; 96,6% preferem professores que induzam a reflexão sobre o
conteúdo apresentado; 76,9% preferem professores que promovam discussão sobre os
assuntos apresentado; 83% preferem professores diretos e objetivos em suas explicações;
97,2% preferem que as dúvidas sejam esclarecidas no decorrer da exposição, enquanto que
40,1% discordam que o esclarecimento de dúvidas seja deixado para o final da aula e que
68,7% são favoráveis ao uso da internet como recurso didático.
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A pesquisa do fator mostrou que 71,4% dos alunos são favoráveis aos debates ou
polêmicas em sala de aula.
A análise do fator aplicação do conteúdo demonstrou que os alunos preferem
professores mais diretos e objetivos, que induzam a discussão e mostrem as possibilidades de
aplicação prática, fazendo-nos concordar com a afirmação de Furlani (1998) de que a
Universidade tende a tornar-se formadora de profissionais para o mercado de trabalho.
O fator Comportamento do professor foi analisado, considerando-se as assertivas a
seguir:
Prefiro professores que têm a capacidade de envolver/despertar o interesse no aluno pelo conteúdo que leciona.
Prefiro professores que incentivam os alunos a exporem seus trabalhos diante da turma.
Prefiro professores que são sempre pontuais.
Prefiro professores que durante as atividades em grupo, sentam com os alunos para esclarecer dúvidas e/ou
fornecer "dicas" úteis para facilitar a aprendizagem.
Prefiro professores que utilizam humor durante as aulas.
Prefiro professores que durante as atividades em grupo, permanecem sentados ou realizando outras atividades,
deixando o grupo mais à vontade.
Prefiro professores que elogiam e encorajam os alunos no decorrer do aprendizado.
A análise da preferência dos alunos com relação ao comportamento de seus
professores mostrou que 90,1% dos alunos esperam uma atitude por parte de seus professores
de encorajamento aos alunos durante a aprendizagem; 78,8% são favoráveis à busca do
professor por tentar despertar o interesse do aluno; 54,4% apóiam o incentivo a exporem seus
trabalhos diante da turma; 76,1% preferem professores que sejam pontuais. Observou-se ainda
a preferência de 78,8% dos alunos por professores bem-humorados.
Nas assertivas referentes ao comportamento do professor diante de trabalhos em
grupos apurou-se 87,1% dos alunos responderam que preferem a aproximação do professor
para esclarecimento de dúvidas e fornecimento de dicas úteis para facilitar a aprendizagem,
enquanto que 49,6% rejeitam que os professores realizem outras tarefas e deixem o grupo
mais à vontade.
Com a análise do fator Comportamento verificou-se a preferência por professores
participantes, envolvidos com a aprendizagem, pontuais, que busquem despertar o interesse
pelo conteúdo proposto induzindo os alunos ao raciocínio e principalmente pelos que
encorajam os alunos no decorrer do aprendizado.
O comportamento dos professores pode ajudar a definir o tipo de relacionamento que
será mantido entre professores e alunos. Com isso, analisou-se o fator Relacionamento entre
professores e alunos considerando as assertivas a seguir:
Prefiro professores que são abertos ao diálogo e aceitam críticas e/ou sugestões.
Prefiro professores que gastam algum tempo da aula conversando com os alunos sobre assuntos gerais.
Prefiro professores que dispõem-se a ouvir os alunos sobre assuntos de natureza informal.
Prefiro professores que são flexíveis e geralmente se adaptam às necessidades dos alunos.
Prefiro professores que mostram-se preocupados com a aprendizagem dos alunos.
Prefiro professores que aproximam-se dos alunos por meio de conversas informais.
Prefiro professores que têm um relacionamento estritamente profissional com os alunos.
As respostas dos alunos às assertivas demonstram o relacionamento desejado pelos
alunos com seus professores. A análise das respostas mostra que 93,9% dos alunos preferem
professores abertos ao diálogo que aceitem sugestões ou críticas; 86,4% preferem professores
flexíveis e que se adaptam às necessidades dos alunos; 96,9% preferem professores que se
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mostram preocupados com a aprendizagem dos alunos. Quanto à aproximação dos
professores para conversas informais, 57,8% dos alunos apóiam, mesmo número observado
para conversas sobre assuntos gerais, enquanto que 38,8% manifestaram indiferença.
Verificou-se ainda que 51,7% dos alunos rejeitam professores que mantenham um
relacionamento estritamente profissional.
Quanto ao relacionamento concluiu-se que os alunos valorizam professores flexíveis,
abertos a sugestões e ao diálogo, preocupados com a aprendizagem de seus alunos e que os
alunos rejeitam o relacionamento estritamente profissional com o corpo docente.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para Moreira (2006), é muito importante que os professores e pesquisadores estejam
conscientes da complexidade dos aspectos filosóficos que fundamentam a pesquisa social,
pois o objeto da investigação – o mundo social – é o mesmo tanto para os pesquisadores das
ciências sociais, quanto para os professores. A maior diferença reside no porquê de o
indivíduo desejar fazer pesquisa.
Logo, este estudo iniciou-se com um porquê: a vontade de conhecer os alunos do
curso de Ciências Contábeis da Universidade de Brasília, a partir de suas preferências e
percepções quanto aos aspectos relacionados ao ensino, aprendizagem, relacionamento com
os professores e às suas expectativas quanto ao ingresso no mercado de trabalho.
Formou-se, conforme Godoy (1998), um retrato dos alunos da Universidade de
Brasília matriculados no segundo semestre de 2007 e tratar do relacionamento esperado pelos
alunos com seus professores.
Buscou-se formar este retrato dos alunos através da amostragem por alunos
matriculados em disciplinas de início, meio e final do curso de graduação o que talvez possa
ter limitado a análise, juntamente com o fato de não terem sido coletados dados de alunos em
processo de trancamento de matrícula ou dos ausentes no ato da aplicação do questionário.
Os resultados demonstraram que o aluno da Universidade de Brasília busca prepararse para o mercado de trabalho, com pretensões salariais acima da média praticada no
mercado, disposto a manter um relacionamento informal e aberto com seus professores e
busca obter do corpo docente atitudes de comprometimento e encorajamento na busca pela
aprendizagem. Verificou-se ainda a ausência de alunos respondentes ao questionário com
idade superior a 50 anos, levanta-se com isso a hipótese de que, na cidade de Brasília, pessoas
nesta faixa etária não buscam o ingresso na Universidade de Brasília ou investir na formação
no ensino superior.
Observou-se a diferença entre a pretensão salarial dos alunos e a praticada no mercado
onde há de ser considerada a característica da cidade de Brasília, com grande percentual de
sua população trabalhando no serviço público. A hipótese de comparar os resultados com as
pretensões salariais de outras cidades do País deve ser levada em consideração.
Os resultados observados neste estudo podem servir para que seja possível uma
aproximação entre a realidade e desejos dos professores, alunos e da Universidade, com
entendimento de que os alunos possuem trajetórias, experiências, razões, esperanças e
expectativas distintas, o que faz com que cada um manifeste de maneira diferente a forma
como preferem interagir no ambiente de aprendizagem.
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REFERÊNCIAS
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1 ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES E EXPECTATIVAS DOS ALUNOS