REJEIÇÃO À MATEMÁTICA: CAUSAS E FORMAS DE INTERVENÇÃO
Leonardo Rodrigues dos Reis1
RESUMO
Este texto trata dos motivos mais pertinentes que levam os alunos a não gostarem de Matemática. Por
meio de pesquisas bibliográficas e de uma pesquisa realizada em uma escola pública da periferia de
Brasília, pode-se verificar que as causas mais freqüentes para a rejeição são: dificuldade por parte dos
alunos em lidar com a disciplina, falta de motivação de professores e alunos, o rigor matemático, a falta
de ligação entre a matemática escolar e o cotidiano dos alunos, experiências negativas envolvendo esta
matéria e a maneira como os professores desenvolvem suas atividades. Conhecer estas causas é
imprescindível para propor formas de intervir nesta realidade e procurar adequar as práticas docentes
visando tornar o ensino-aprendizagem desta disciplina mais interessante e atrativo para os alunos.
Palavras-chave: Matemática, ensino, aprendizagem, educação.
1 - INTRODUÇÃO
Em educação matemática, um dos interesses dos estudiosos é buscar metodologias que
alterem, aprimorem e melhorem o ensino-aprendizagem desta disciplina, tida, ainda,
como difícil e em muitos casos rejeitada pelos discentes de todas as classes sociais e em
todos os níveis de escolaridade.
Os alunos culpam os professores, que por sua vez dizem fazer o máximo para seguir o
planejamento, porém se “correrem demais” com a matéria os alunos não acompanharão,
formando, dessa forma, um círculo vicioso.
Quais seriam as causas dessa rejeição à matemática? A família, a mídia, o contexto
social em que os alunos estão inseridos influenciam na dificuldade em se aprender
Matemática? A rejeição surge da dificuldade na aprendizagem ou é a rejeição que leva à
dificuldade em se aprender Matemática? A forma como o professor aborda o conteúdo
influencia os alunos a rejeitar essa disciplina?
Essas são questões centrais para começar uma investigação teórica sobre as causas e
formas de intervenção à rejeição matemática. Outras questões surgirão a partir dessas e
outros aspectos devem ser levados em consideração quando pretende-se investigar
alguma coisa em ensino-aprendizagem, pois se deve levar em conta as relações sociais
dos alunos, identificar seu perfil psicológico, social e econômico para conhecer um
pouco da realidade desses alunos.
Para isso, antes de tudo, é preciso fazer um diagnóstico das dificuldades dos alunos, o
que é muito difícil devido as contradições de nossas cidades e de nosso país onde se
observa problemas em diversas áreas como: carência alimentar, falta de escolas, de
atendimento médico-hospitalar, segurança, dentre outros. Isso tudo associado a um
quadro de concentração de renda gritante. Todos esses elementos influenciam na escola
e em suas atividades pedagógicas pois, enquanto instituição social e dentro desse
contexto, a escola tende a reproduzir as mesmas características da sociedade.
1
Licenciando do curso de Matemática da Universidade Católica de Brasília-UCB
e-mail: [email protected]
2 - DA REJEIÇÃO
Segundo o dicionário,2 rejeição significa recusa, desaprovação; ainda rejeitar: recusar,
não admitir, repelir; e rejeitável: recusável, inaceitável.
Segundo Campos (1996), Freud, em sua Teoria da Evolução da Personalidade afirma
que assim como existe uma energia física que governa os fenômenos naturais também
existe uma energia psíquica de natureza libidinosa que influi diretamente sobre o
comportamento humano. Um conceito fundamental da teoria freudiana é a noção de
pulsões ou de instintos básicos. Um deles representa o impulso para a vida criativa e a
preservação do organismo enquanto indivíduo e espécie, a este instinto dar-se o nome
de “eros” que possui natureza sexual. Lembrando que para Freud a sexualidade se
relaciona com o bem-estar do organismo, ou seja, tudo que preserve sua integridade e
proporcione funcionalidade.
Então, segundo a teoria freudiana, se alguma atividade não agrada, ou se o indivíduo
executando essa atividade, não sente bem-estar físico ou mental naturalmente,
instintivamente irá recusá-la, rejeitá-la, uma vez que não atende a sua sexualidade. No
caso da Matemática, poucas são as pessoas que afirmam ter aptidão, ou não tenham tido
alguma experiência desagradável com esta disciplina, inclusive profissionais bem
sucedidos em suas respectivas áreas, por exemplo: médicos, administradores entre
outros. Em compensação são muitos os que expressam ter aversão, medo, pavor à
Matemática, decorrente de experiências passadas, seja com professores ou com algum
conteúdo dos diversos existentes na área. Existem pessoas que têm fobia à Matemática.
Uma fobia é uma espécie particular de medo. A palavra fobia deriva do grego phobia e
significa pânico, terror. Ela apresenta as seguintes características: desproporção entre
emoção e a situação que a provoca, medo sem explicação por algo ou alguma coisa,
falta de controle e tendência a evitar o que lhe traz medo. A aversão à Matemática é
descrita pela Academia Brasileira de Psicologia pelo “medo mórbido irracional,
desproporcional, persistente e repugnante de números ou da Matemática”. É preciso
levar em consideração que em uma turma existem vários tipos de pessoas e classes
sociais e que nem todos desenvolvem aptidões matemáticas, optando por outras áreas do
conhecimento. Lidar com esta diversidade é missão muito difícil, pois o professor
pouco motivado por questões salariais, condições do trabalho que dignifique sua
atuação enquanto formador de opinião e agente transformador da sociedade, atarefado,
com várias turmas, todas com um número excessivo de alunos com carências e
deficiências diferentes, com realidades diferentes, não consegue acompanhar o
desenvolvimento de todos.
Então para despertar o interesse dos alunos o professor poderia partir do conhecimento
espontâneo dos mesmos, pois todos eles trazem para a escola uma carga cultural
significativa adquirida em suas relações sociais fora do ambiente escolar. Isso tem a ver
com a etnomatemática onde se salienta e se analisa as influências de fatores sócioculturais sobre o ensino, a aprendizagem e o desenvolvimento da Matemática, ou seja,
cada povo, cada cultura e cada subcultura desenvolve a sua própria matemática.
(Ferreira, 2002).
Por isso, para D’Ambrósio (1986) é muito difícil motivar com fatos e situações do
mundo atual uma ciência que foi criada e desenvolvida em outros tempos em virtude
2
BUENO, Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa, São Paulo: Lisa, 1992.
dos problemas de então, de uma realidade, de percepção, necessidade e urgências que
nos são estranhas.
Uma das hipóteses que pode ser levantada a partir daí é a de que quando o aluno não
consegue relacionar os conteúdos matemáticos ensinados a ele na escola com sua
vivência, suas atividades fora da escola, a tendência é evitar a Matemática por não ter
sentido para ele. Para a maioria dos estudantes não há construção do conhecimento
matemático. Por isso em vez de compreenderem passam a memorizar os conteúdos para
conseguirem notas nas provas e em vez de desenvolverem raciocínio eles desenvolvem
a memória e não buscam o efetivo conhecimento matemático. Com isso uma
porcentagem pequena de alunos aprende realmente Matemática, muitos a “odeiam” e
outros afirmam não entendê-la, como mostra uma pesquisa em que se buscou identificar
dificuldades existentes na relação que os alunos tinham com a Matemática através de
depoimentos dos próprios alunos. (Chamie, 1990).
Nesta pesquisa observou-se, por meio dos depoimentos dos alunos, que existe uma
relação de causa-efeito entre achar a Matemática uma matéria difícil e por este motivo a
achar chata e consequentemente não gostar dela. Aqui o achar difícil é condição para o
não gostar. No entanto o estudo revela também uma relação de causa-efeito só que em
sentido contrário, os alunos acham a Matemática uma matéria chata e por isso não se
interessam em aprender gerando dificuldade, ou seja, o não gostar implica o achar
difícil, não querer entender. O estudo revela que a dificuldade em Matemática é tida
como natural, o que gera nos alunos insegurança e medo, às vezes não decorrente da
falta de estudo, mas de terem assimilado ou aceitado a Matemática como algo realmente
difícil e que somente quem tem aptidão consegue aprender. É entendimento entre
educadores matemáticos que a aversão generalizada e o insucesso em Matemática é uma
realidade cotidiana dos estudantes e que deve-se procurar meios para que a Matemática
deixe de ser um fator de seleção e exclusão e se transforme em um instrumento de
inclusão nas escolas e na sociedade.
3 - AS CAUSAS DA REJEIÇÃO
Levando em consideração a pesquisa bibliográfica feita e os questionários aplicados aos
alunos de uma escola pública de Samambaia, cidade localizada na periferia de Brasília,
as principais causas encontradas para a rejeição à Matemática foram:
•
Falta de motivação do professor ao ensinar e falta de motivação dos
alunos em aprender.
•
A idéia pré-concebida e aceita pelos alunos de que a Matemática é difícil.
•
O rigor da Matemática.
•
Experiências negativas que os alunos tiveram com esta matéria.
•
Falta de relação entre a Matemática ensinada na escola e o cotidiano do
aluno.
•
A prática do professor, as relações que este estabelece com os alunos e a
forma como ensina e avalia.
Para evidenciar estas causas seguem alguns depoimentos dos alunos pesquisados quanto
às experiências desagradáveis que haviam tido com a matéria em questão:
“Eu não gosto da matéria de Matemática porque é muito complicada”.
“Tenho muita dificuldade com esta disciplina porque o professor acha que nós já
sabemos Matemática e as coisas não são dessa forma”.
“Existem algumas matérias em Matemática que complicam, como algumas equações
que envolvem as incógnitas, frações e expressões numéricas diferentes”.
Mesmo tendo dificuldades com a Matemática e não entendendo o conteúdo explicado
pelo professor os alunos reconhecem a importância da disciplina:
“Quando não consigo entender nada fico muito preocupado por deixar uma coisa muito
importante sem ter conhecimento”.
Alguns alunos revelam não se dedicarem ao estudo da disciplina:
“Muitas vezes não entendo muito de Matemática por isso eu não me dedico a essa
matéria”.
É comum em nossa sociedade ouvirmos frases de repulsa à Matemática como:
“Matemática é muito difícil”, “Matemática é chata”, “eu odeio esta matéria”. Então uma
pessoa que desde criança, antes mesmo de entrar na escola ouve esses e outros
comentários sobre a Matemática acaba se convencendo de que esta disciplina é
realmente difícil e passa a rejeitá-la, dizendo que não nasceu para isso e que não tem o
dom, como se o gosto ou a habilidade para a Matemática fosse algo que acompanha a
pessoa ao nascer, inato.
4 - JUSTIFICATIVA
É fácil observar na comunidade escolar que a relação entre aluno e Matemática não é
das mais amistosas. Muitos são enfáticos quando afirmam não gostarem desta
disciplina, até mesmo os alunos que têm bom rendimento declaram sua rejeição, não
sentem prazer em resolver problemas de Matemática, declaram ainda que não gostam
das aulas, pois são muito chatas. Que não entendem nada do que o professor fala, dentre
outras queixas. Este fato pode ser observado desde os primeiros anos de escolarização
até os cursos superiores. Sem dúvida a Matemática é rigorosa em suas demonstrações e
aplicações e necessita ser assim para ser fiel ao modelo que pretende representar,
precisa ser exata ou chegar bem próximo para dar credibilidade ao fenômeno estudado.
Talvez por ser tão rígida provoca certo medo aos alunos que a acham difícil criando
assim uma relação áspera, às vezes até traumática que pode culminar em dificuldade,
falta de interesse e rejeição.
Estudar esta relação é muito importante, pois entendendo as causas desta rejeição diante
da Matemática pode-se buscar formas de intervenção para tornar o ensino desta
disciplina mais atrativo e motivador, desmistificando a idéia pré-concebida de que é
uma matéria difícil, que poucos conseguem aprender.
5 - METODOLOGIA
Para realizar a pesquisa foram aplicados questionários aos alunos de uma escola pública
localizada na cidade satélite de Samambaia-DF. A escola tem 2900 alunos matriculados
e foram escolhidos para responderem aos questionários os alunos da 3ª série do Ensino
Médio devido à faixa etária e nível de escolaridade que pressupõe maior maturidade e
consciência.
O questionário conta com perguntas sobre o contexto no qual estes alunos estão
inseridos procurando captar seu cotidiano. Conta ainda com perguntas que visam
detectar o grau de rejeição dos alunos em relação à Matemática.
Os questionários foram aplicados a 285 alunos sendo 165 do noturno e 121 do matutino
todos da 3ª série do Ensino Médio. De posse dos resultados foram analisados os dados
com o objetivo de identificar as causas de tal rejeição e propor formas de intervenção
nesta realidade.
6 - ANÁLISE DOS RESULTADOS
Dentre os alunos que responderam aos questionários, quanto à profissão do pai
observam-se funções variadas, porém as que mais apareceram foram as profissões de
motorista (22 ocorrências) e pedreiro (16 ocorrências). A escolaridade dos pais em sua
maioria (46%) é o Ensino Fundamental. Sendo que 63 pais (22%) possuem o Ensino
Médio, apenas 10 (3,5%) concluíram o Curso Superior e 52 pais (18,2%) não são
alfabetizados.
Tabela 1: Relação entre escolaridade do pai e profissão de maior ocorrência nos
questionários
Profissão do pai motorista
Escolaridade do pai Total
Não Alfabetizado
5
Ensino Fundamental
10
Ensino Médio
6
Não opinou
1
Total Global
22
Quanto à profissão da mãe, as profissões que mais apareceram foram do lar (88
ocorrências), doméstica (29 ocorrências) e diarista (14 ocorrências). A escolaridade das
mães, assim como a dos pais, em sua maioria, 147 mães (52%), é o Ensino
Fundamental. As que concluíram o Ensino Médio totalizam 80 pessoas (28%). Apenas
13 mães são graduadas em cursos superiores e 31 (10%) não são alfabetizadas.
Tabela 2: Profissões de maior ocorrências das mães
Profissão da mãe Total
Diarista
14
Do lar
88
Doméstica
29
Total Global
131
Das três profissões citadas acima, levando em consideração possuírem o Ensino
Fundamental, 77 delas concluíram esta etapa. Veja tabela 3.
Tabela 3: Distribuição da escolaridade (Ensino Fundamental) entre as profissões de
maiores incidências
Escolaridade da mãe Ensino Fundamental
Profissão da mãe
Total
Diarista
7
Do lar
54
Doméstica
16
Total Global
77
O grupo familiar da amostra estudada é em sua maioria numeroso variando entre 3 e 7
pessoas por residência, totalizando 84% da amostra.
Segundo Coleman (apud Carvalho, 1980) as variáveis que têm forte influência sobre a
relação entre aluno e escola e que podem refletir no seu rendimento e consequentemente
na sua não aceitação do ambiente escolar são: condições sócio-econômicas da família,
material de leitura disponível no lar, nível educacional dos pais, bens materiais
existentes na casa, número de pessoas na família e aspirações e interesses dos pais.
Em contrapartida, Conceição (apud Sipavicius, 1987) relata que estudantes que vivem
em melhores condições ambientais sócio-econômicas tais como: famílias com maior
renda, melhor grau de instrução, cujos pais têm ocupações de maior prestígio social, e
em que a situação de vida não exige o trabalho da mãe fora do lar, está associado ao
melhor rendimento escolar do aluno.
O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) realizado em 2003
também revela que estudantes cuja família participa de forma mais direta no cotidiano
escolar, apresenta um desempenho superior em relação àquela onde os pais estão
ausentes do seu processo educacional. As conversas com os filhos sobre a escola, as
orientações nas tarefas de casa, a cobrança na assiduidade e incentivo aos hábitos de
leitura contribuem para o despertar do gosto pelos estudos.
Fatores escolares, sociais e culturais devem ser levados em consideração, porque a
desigualdade social é refletida para dentro das escolas nas condições de acesso, ingresso
e permanência principalmente para as populações de baixa renda, onde se observam
problemas de toda ordem que se potencializam pela falta de oportunidades de se
educarem.
Dentre os 285 alunos que fizeram parte da amostra estudada, 120 (42%) excluiriam a
Matemática do currículo escolar. Deste universo de 120 alunos, 110 afirmaram não
gostar de estudar Matemática representando 92% do total de alunos que excluiriam esta
disciplina do currículo escolar atual. Esses dados mostram o nível de rejeição dos
alunos pela Matemática. Este fenômeno pode ser explicado por diversos motivos, entre
eles a falta de pré-requisitos fundamentais de tópicos matemáticos básicos, como por
exemplo, as quatro operações, operações com inteiros dentre outros. Pelo fato dos
conteúdos em Matemática serem acumulativos, se um aluno não aprender os
fundamentos básicos no início, carregarão essas dificuldades por toda sua vida escolar,
pois será muito difícil “pegar o trem andando” e em muitos casos não há possibilidade
por parte dos professores de rever os conteúdos estudados anteriormente.
Ide (2002), em um estudo sobre dificuldades na aprendizagem concluiu que as
dificuldades dos alunos ocorrem principalmente nas séries iniciais, com alunos das
camadas mais desfavorecidas da população e que são usuárias, a maioria, do sistema
público de ensino.
“Um aluno pode, por exemplo, saber praticamente tudo sobre a Proclamação da
República Brasileira e ignorar completamente as capitanias hereditárias. Mas não será
capaz de estudar Trigonometria se não conhecer os fundamentos da Álgebra, nem
entenderá essa última se não souber as operações aritméticas”. (Lima, 1995).
“Tradicionalmente, o ensino de Matemática é feito pelo acúmulo de conteúdo.
(D’Ambrósio, 1986).
Outro motivo que faz com que os alunos não gostem de Matemática está ligado ao fato
deles acharem esta disciplina difícil. Na pesquisa realizada, 219 alunos declararam
terem dificuldades nesta matéria o que representa 77% do total de alunos da amostra.
Mas o que faz a Matemática ser “mais difícil” que as outras disciplinas?
“A Matemática é uma disciplina que se destaca em relação às outras, muito mais pela
dificuldade que representa para muitos alunos do que pela sua importância enquanto
área de conhecimento. Dificuldade entendida como algo complexo, complicado, custoso
de entender e de fazer”. (Thomaz, 1999).
Confrontando os alunos que disseram ter dificuldades em Matemática com sua renda
familiar fica evidenciado que a renda é um fator que influencia na aprendizagem dos
alunos. Entre os alunos que têm dificuldades em Matemática, 24 deles têm renda
familiar menor que R$ 300,00 e 94 têm renda entre R$ 300,00 e R$ 800,00, levando em
consideração que as famílias da amostra são em sua maioria numerosas.
Tabela 4: Relação entre renda e dificuldade em Matemática
Tem dificuldade
Renda
Sim
Total
Menos de R$300,00
Entre R$300,00 e R$800,00
Entre R$800,00 e R$1.300,00
Entre R$ 1.300,00 e R$ 1.800,00
Acima de R$1.800,00
Brancos
Total Global
24
94
58
25
11
7
219
“Ao contrário das demais matérias estudadas na escola, que lidam diretamente com
objetos e situações concretas, a Matemática trata, em sua essência, de verdades abstratas
daí a dificuldade dos alunos em entenderem seus conteúdos”. (Lima, op.cit.). Sem
dúvidas, a Matemática exige dos alunos precisão, maior concentração e cuidado, pois se
estes cometerem pequenos erros em uma determinada questão podem comprometer o
resultado esperado. Por outro lado, mesmo não alcançando o resultado esperado esses
alunos mesmo não percebendo estão exercitando virtudes como a perseverança, a
dedicação e a ordem durante os anos de escola, hábitos que serão úteis em um futuro
próximo.
Então por exigir dedicação, empenho e ordem a Matemática é difícil, o que dizer das
regras gramaticais, das fórmulas de Física e da classificação dos elementos químicos?
Por isso qualquer pessoa que não possua necessidades especiais, sem talentos ou dons
inatos pode aprender toda a Matemática do Ensino Básico desde que tenha o mínimo de
empenho e perseverança e esteja disposta a aprender. Isso tudo, lógico, com uma
orientação adequada.
Mas a pesquisa aponta que os estudantes, ainda não perceberam a força e importância
da Matemática, pois seus hábitos de estudos demonstram que dificilmente conseguirão
resultados satisfatórios sequer nas avaliações escolares. Dos respondentes 145 (51%)
disseram estudar Matemática menos de uma hora por dia, 96 deles (34%) disseram que
não estudam Matemática durante o dia, ou seja, não se dedicam o bastante, nem
perseveram o suficiente para mudarem esse quadro de dificuldade em que estão. Isso
nos aponta outro motivo para o não gostar de Matemática, “pouca dedicação aos estudos
por parte dos alunos e da sociedade que os cerca, a começar pela própria família”.
(Lima, op.cit.). As impressões que os alunos têm ou tiveram da Matemática, mesmo
antes de entrarem na escola podem gerar um sentimento de rejeição a disciplina.
Segundo Tatto e Escapin (2003), uma criança que antes de entrar na escola, sempre
ouviu seus pais e irmãos comentarem que a Matemática é difícil, e que não gostam dela,
mentaliza isso e quando tem seus primeiros contatos com a matéria e encontram
dificuldades em algum conteúdo ela passa a acreditar nas opiniões dos pais e irmãos.
Conclusão: passa a não gostar da disciplina assim como seus familiares.
Outra relação muito importante para o estudo da rejeição à Matemática é a relação não
gostar X achar difícil. Dos alunos que participaram da pesquisa 154 afirmaram terem
dificuldades e não gostarem da matéria, ou seja, 54% dos alunos. Como mostra a tabela
5.
Tabela 5: Relação não gostar/achar difícil
Gosta de matemática
Tem dificuldade
não
sim
(em branco)
Total Global
não
13
154
4
171
sim
42
58
5
105
(em branco)
4
5
9
Total Global
55
216
14
285
Para Thomaz (1999), “a dificuldade em Matemática, além de consciente para os alunos
é colocada como o principal motivo de não gostarem desta disciplina, é um fator
marcante na vida da maioria dos estudantes, é algo que tem proporcionado resistência
ao aprender”.
A dificuldade na aprendizagem de Matemática como já foi dito está ligado a fatores
sócio-econômicos. Mas também como disse Lima, “à mera preguiça dos alunos em
estudar” está afirmação foi comprovada na pesquisa. Dentre alunos que disseram
estudar Matemática menos de uma hora por dia (146 alunos), 77 alunos (52%) disseram
não gostar de matemática e a achar difícil. Veja tabela 6.
Tabela 6: Relação não gostar/achar difícil entre alunos que estudam Matemática menos
de 1 hora por dia
Hábito de estudo - menos de 1 hora
Contagem de hábito de estudo Gosta de matemática
Tem dificuldade
não
sim
(em branco) Total Global
não
5
25
30
sim
77
32
2
111
(em branco)
1
4
5
Total Global
83
57
6
146
Apenas 8 (oito) alunos revelaram que se dedicam ao estudo desta disciplina mais de 2
horas por dia. Todos eles gostam de estudar Matemática, 4 deles disseram terem
dificuldades e 4 disseram não sentirem dificuldades em Matemática.
Tabela 7: Relação entre dificuldade e gosto pela Matemática de alunos que estudam
esta disciplina mais de 2 horas por dia
Hábito de estudo - mais de 2 horas
Contagem de hábito de estudo Gosta de matemática
Tem dificuldade
sim
Total Global
não
4
4
sim
4
4
Total Global
8
8
Outro fator que influencia na maneira dos alunos encararem a aprendizagem de
Matemática está relacionada com as atividades dos professores e as impressões que
estes alunos têm deles. Nos questionários respondidos pelos alunos observou-se que
seus professores atuais, em geral, dão aulas expositivas e não utilizam as tecnologias
que lhes são disponibilizadas para dinamizar mais as aulas de Matemática. Os trabalhos
são feitos em sua maioria 68% (193 ocorrências) individualmente. Os recursos
escolhidos para análise das atividades docentes foram o vídeo cassete, o computador (ou
sala de informática), material concreto (matérias de jornais, jogos e outros materiais que
tirem os alunos da rotina do quadro e do giz) e o retroprojetor que são recursos
disponíveis na escola estudada.
Apesar da escola pesquisada ter uma sala de vídeo, 92% (263 alunos) disseram que seu
professor de Matemática nunca utiliza este recurso para dar aulas. Quanto ao uso do
computador ou da sala de informática que existe na escola, 91% (259 alunos) disseram
que o professor nunca utiliza esta tecnologia nas aulas.
D’Ambrósio (1986) chama a atenção para a necessidade urgente do uso do computador
nas aulas de Matemática. Para ele, Matemática e tecnologia não marcham de forma
paralela. Para Marasini (1999), “O professor deve usar o computador e deve saber seu
papel num mundo onde a tecnologia avança em velocidade surpreendente”.
Os professores da escola estudada não costumam ligar a Matemática com temas atuais
seja da ciência ou da sociedade, a pesquisa constatou que os professores não utilizam
materiais concretos nas aulas. Dos alunos que responderam aos questionários 61% (175
alunos) disseram que o professor nunca utiliza jogos, matérias de jornais ou revistas e
outros materiais para dinamizar as aulas. E 88% (250 alunos) responderam que os
professores nunca utilizam o retroprojetor na sala de aula. É possível que ainda não
compreenderam a importância de tais recursos para a construção do conhecimento
matemático, para tornar a aula mais atrativa e dinâmica ou até mesmo para que os
alunos tenham acesso a estas tecnologias, pois com certeza ao saírem da escola lhes
serão exigidos domínios de algumas destas tecnologias e a importância do ensino da
Matemática para a formação da cidadania, desenvolvendo competências para as
resoluções e situações da realidade.
7 - FORMAS DE INTERVENÇÃO DA REJEIÇÃO À MATEMÁTICA
Após identificar as principais causas para a rejeição à Matemática, na literatura e nos
questionários aplicados aos alunos de uma escola pública de Samambaia-DF, é possível
propor alternativas para mudar este quadro que ora se apresenta. Para a efetivação
destas propostas é imprescindível a participação dos professores, pois estes se
constituem os principais agentes para mudar este quadro de rejeição diante da
Matemática.
Propor algo novo não se trata de ignorar e eliminar os conhecimentos já existentes, mas
de conciliá-los numa “reconstrução do conhecimento” (D’Ambrósio, 1990) onde
princípios éticos, valores humanos e amor façam parte desta reconstrução.
Seguem algumas sugestões de intervenção:
• Fazer uma reflexão e auto-avaliação para detectar erros na prática pedagógica.
• Conhecer a realidade socioeconômica dos alunos. A baixa escolaridade dos
pais, o grupo familiar e a renda são fatores que influenciam no processo de
aprendizagem.
• Procurar, quando possível, sanar as dúvidas dos alunos advindas de anos
anteriores.
• Utilizar as tecnologias disponíveis, sempre que puder e as circunstâncias
permitirem.
• Resgatar a importância da Matemática.
• Estabelecer conexões entre a matemática ensinada na escola com a História da
Matemática.
• Promover laços de afetividade com os alunos. Isso ajuda os alunos a gostarem
mais do professor e conseqüentemente da Matemática.
• Fazer a ligação da Matemática acadêmica com a realidade do aluno (quando
possível).
• Desafiar o aluno a superar dificuldades, propondo criatividade e perseverança.
• Não desprezar as construções Matemáticas dos alunos e suas experiências.
• Considerar a carga cultural dos alunos.
8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
As causas da rejeição à Matemática podem estar associadas aos alunos, considerando
sua renda familiar, a escolaridade de seus pais, seus hábitos de estudos e às impressões
que têm da Matemática e do professor. Conhecendo as principais causas é possível que
se faça uma intervenção eficaz.
O professor, se por um lado contribui para a rejeição, também é o principal agente para
que essa intervenção ocorra. É necessário que haja, uma mudança na forma de educar,
uma mudança que faça com que desperte nos alunos o interesse e a motivação em
aprender Matemática e despertar o gosto pela mesma. O professor deve ser orientador,
mediador e organizador das construções dos alunos, respeitando sua bagagem cultural,
levando em consideração que para uma única situação problema podem existir diversas
maneiras de resolução.
Ouvir as queixas dos alunos é importante, pois se a grande maioria revela não gostar de
Matemática é porque algo realmente está errado. E os que não gostam vão evitar essa
matéria, procurando cursos superiores que têm pouca Matemática. Isso reflete no
desenvolvimento tecnológico do país, tendo em vista ser esta disciplina a base para
outras ciências.
Ressalto, finalmente, que a pesquisa desenvolvida não pretende de forma alguma
esgotar o tema em questão e sim contribuir com a discussão a respeito e propor aos
educadores o desafio de dar continuidade ao presente estudo.
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REJEIÇÃO À MATEMÁTICA - Universidade Católica de Brasília