PROJETO DE PESQUISA É DO CAMPO: compreendendo aspectos da educação
pública ofertada para as populações rurais no Norte de Minas
Magda Martins Macêdo1
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes
[email protected]
Maria A. Afonso Oliveira2
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes
[email protected]
Resumo
O Projeto de Pesquisa É do Campo: compreendendo aspectos da Educação Pública ofertada
para as Populações Rurais no Norte de Minas, trabalha na perspectiva conceitual da Educação
do Campo, localizando sua problematização na região sertaneja de Minas Gerais, inicialmente
nos municípios de Montes Claros, Janaúba e Coração de Jesus. Tem como objetivo a
construção de um perfil do atendimento escolar público desenvolvido junto às populações
rurais do Norte de Minas e está relacionado a aspectos da oferta da educação escolar pública
para essas populações. Pesquisar-se-á junto às Secretarias Municipais de Educação, Escolas
do Campo e Comunidades Escolares, aspectos referentes ao currículo, didática, formação de
professores e gestão escolar. A metodologia da pesquisa será desenvolvida através do
paradigma interpretativo e exploratório, e é de natureza quali-quantitativa, trilhando os
caminhos da pesquisa participante e da análise documental. Como resultados esperam-se a
publicação de livro, artigos e resumos expandidos em periódicos qualificados, em eventos da
própria universidade e de outras instituições de ensino; a promoção de eventos acadêmicos na
Unimontes com a participação dos professores das redes municipais envolvidas; a criação de
site da pesquisa com objetivo de disponibilizar e interagir o debate sobre as questões
pesquisadas; a produção de 03 (três) slides-show para a devolução dos dados em cada
município participante. Através de ações como a criação de um grupo de estudos, com a
participação de outros acadêmicos e educadores regionais, propõe-se a fomentar a articulação
regional em torno desses temas. Nesse artigo serão apresentados os resultados parciais da
pesquisa.
Palavras-chaves: Educação escolar pública do campo; currículo e gestão escolar; formação
de professores.
1
2
Mestre em Desenvolvimento Social. Professora do DMTE/Unimontes.
Graduada em Pedagogia, pela Unimontes.
1
Introdução
O Projeto de Pesquisa “É do Campo: compreendendo aspectos da Educação Pública
ofertada para as Populações Rurais no Norte de Minas”, iniciado em 2010, quer dar
continuidade ao compromisso assumido pela Universidade Estadual de Montes Claros
(Unimontes) enquanto universidade pública, no sentido de contribuir no desvendamento e
discussão sobre diversos aspectos que compõem a problemática do atendimento educacional
feito nas escolas públicas para as populações do campo.
A Unimontes assume efetivamente o debate da Educação do Campo no ano de 2006
ao aprovar junto ao Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) 3, os
cursos de Magistério do Campo e Formação em Agroecologia/ Nível Médio e de
Alfabetização e Escolarização de Jovens e Adultos Assentados. Em 2008, dá início à
formação de professores em nível superior com o curso de Licenciatura em Pedagogia do
Campo, e de pós-graduação lato sensu na perspectiva da Educação à Distância (EAD) com o
Curso de Especialização em Educação do Campo.
Dessa maneira, a presente pesquisa visa analisar o atendimento escolar público
ofertado para as populações rurais em municípios norte mineiros na perspectiva da Educação
do Campo, considerando aspectos referentes ao processo político-pedagógico identificando os
desafios com que esta região tem se deparado no que diz respeito à oferta de uma educação
diferenciada, contextualizada e de qualidade para as populações do campo. Para tal, será
desenvolvida em três municípios norte mineiros qual sejam Montes Claros, Janaúba e
Coração de Jesus.
Como proposta metodológica, essa pesquisa transita através do paradigma
interpretativo e exploratório, ao propor desenvolver-se compreendendo o fenômeno
pesquisado através de desvendamento de aspectos do objeto e da revisão dos marcos
conceituais. Por fim, acredita no processo construtivo da pesquisa e na importância do
compartilhamento de seu significado e resultados com outras pesquisas para posteriores e
contínuos aprofundamento sobre o tema em questão.
3
Programa iniciado em 1998, que atende crianças, jovens e adultos dos assentamentos da reforma agrária, desde
o ensino fundamental até a pós-graduação. Pertence ao Ministério de Desenvolvimento Agrário e é de
responsabilidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). É fruto das mobilizações
das populações envolvidas nos processos de reforma agrária.
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O conceito de Educação do Campo
Educação do Campo é um conceito forjado há pouco mais de uma década, em 1998,
na I Conferência Nacional Por Uma Educação Básica do Campo, realizada em Luziânia,
estado de Goiás, a partir da intensificação da articulação dos movimentos sociais do campo. A
luta por uma educação diferenciada para as populações do campo tem se fortalecido e
diversos avanços têm sido registrados. Essa trajetória não foi linear nem tampouco realizada
sem uma consistente articulação da sociedade civil do campo através dos movimentos sociais,
na luta pela terra, por seus territórios, por educação e pelo respeito ao modo de viver e
conviver com seus pares e com a natureza. A partir daí, foram evidenciados avanços
significativos na elaboração dos marcos legais para a regulamentação da Educação do Campo,
considerada como um novo campo educacional e que contempla aspectos epistemológicos,
filosóficos, sociológicos, antropológicos e pedagógicos.
A Educação do Campo, então, é a que pensa „de dentro‟, com o olhar „a partir‟ da
realidade do campo, dos seus sujeitos, de suas especificidades culturais, no jeito de crer,
produzir, festejar – de ser. É a Educação do Campo, e não no campo, conhecida como
educação rural e que vem sendo pensada e executada de fora para dentro, nas comunidades e
não com as comunidades, que não apresenta vínculos com a dinâmica e contexto local.
Fernandes, Cerioli e Caldart, no texto preparatório da I Conferência Nacional “Por uma
Educação Básica do Campo”, afirmam:
Nosso propósito é conceber uma educação básica do campo, voltada aos interesses e
ao desenvolvimento sociocultural e econômico dos povos que habitam e trabalham no
campo, atendendo às suas diferenças históricas e culturais. Para que vivam com
dignidade e que, organizados, resistam contra a expulsão e a expropriação. Ou seja,
este do campo tem o sentido do pluralismo das idéias e das concepções pedagógicas:
diz respeito à identidade dos grupos formadores da sociedade brasileira (conforme os
artigos 206 e 216 da nossa Constituição). Não basta ter escolas no campo; queremos
ajudar a construir escolas do campo, ou seja, escolas com um projeto políticopedagógico vinculado às causas, aos desafios, aos sonhos, à história e à cultura do
povo trabalhador do campo. (FERNANDES; CERIOLI; CALDART, 2005, p. 27).
Arroyo, ao escrever quase dez anos após a edição da LDBEN, ainda aponta
aspectos dessa luta:
A questão que teremos de nos colocar é que escola, que concepção e prática
pedagógica, que estrutura escolar dará conta do direito à educação básica. Em outros
termos, devemos ter clareza, como educadores, de que pode estar acontecendo um
descompasso entre o avanço da consciência dos direitos e a educação escolar. O
3
movimento social avança. O homem, a mulher, a criança, o jovem no campo estão se
constituindo como novos sujeitos sociais, e a escola continuará ignorando essa
realidade nova? Não nos é pedido que como educadores dinamizemos a sociedade
rural a partir da escola, mas que dinamizemos a escola, nossa ação pedagógica, para
acompanhar a dinâmica do campo. (ARROYO, 2005, p. 73-74).
A Constituição Federal de 1988, fruto da mobilização da sociedade brasileira através
das Assembléia Constituinte, sem dúvida ampliou o conceito de cidadania e o direito à
educação, contudo não fez constar nenhuma especificidade no que se refere às populações
rurais, com exceção à referência feita ao direito à utilização da língua materna e processos
próprios de aprendizagem dos povos indígenas. Na Seção I Da Educação, do Capítulo III,
que trata Da Educação, da Cultura e do Desporto, o primeiro artigo diz:
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
(BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, p.104).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, editada em 1996, hoje
treze anos depois, representa um avanço nessa luta das populações rurais ao fazer constar em
seu texto-base as peculiaridades do campo, garantindo o direito a uma educação diferenciada
e abrindo possibilidades para a construção a e consolidação de escolas organizadas com outra
concepção tanto em sua estrutura de gestão escolar quanto epistemológica e didáticometodológica. O Artigo 28 da LDBEN trata do tema:
Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino
promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida
rural e de cada região, especialmente:
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e
interesses dos alunos da zona rural;
II - organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases
do ciclo agrícola e às condições climáticas;
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural.
(BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, 1996, p. 24).
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É nessa perspectiva que esse Projeto se instaura ao propor pesquisar o atual quadro
do atendimento escolar público para as populações do campo, assumindo sua parcela de
responsabilidade enquanto instituição produtora de conhecimentos nas áreas da Educação e da
Pedagogia, na Formação de Professores para atuarem nas escolas do campo e como
protagonista no Desenvolvimento Social do Norte de Minas.
Contexto, Objetivos, Metodologia e Estratégias da Pesquisa
A Pesquisa está sendo desenvolvida em 03 (três) municípios norte mineiros, qual
sejam Montes Claros, Janaúba e Coração de Jesus. Sendo objetos da pesquisa 03 (três)
Secretarias Municipais de Educação (SME‟s), 02 (duas) Escolas Públicas Rurais em cada
município e suas respectivas Comunidades Escolares, localizadas nos respectivos municípios.
O critério para a escolha das duas escolas leva em conta o fato de uma ser nucleada e a outra
multisseriada, pois se acredita que esses processos apresentam uma complexidade que merece
ser analisada no contexto da Educação do Campo.
A escolha dos municípios se deu por suas características identitárias e sócioeconômico-produtiva, e ainda pelo vínculo dos pesquisadores, acadêmicos e egressos. O
município de Montes Claros apresenta a característica de ser o maior centro urbano do Norte
de Minas, sendo importante pólo educacional, inclusive com a presença do campus da
Unimontes. De acordo com o censo demográfico (IBGE) de 2000, sua população urbana era
de 288.534 (94,21%) e sua população rural compreendia o total de 17.724 (5,79%) habitantes.
No que diz respeito a aspectos educacionais do município, de acordo com o IBGE,
foram efetuadas no ano de 2009, cerca de 19.216 matrículas no ensino fundamental na rede
municipal e 136 no ensino médio. Havia cerca de 962 docentes no ensino fundamental e 20 no
ensino médio. É interessante notar que em 2009, havia 61 escolas municipais de ensino
fundamental e somente 1 para o ensino médio. O IDEB (Índice de Educação Básica) do
município, atingiu 3.7 em 2009 de acordo com o MEC/INEP, seu Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) municipal é de 0,783.
O município de Janaúba está inserido na Mesoregião do Norte de Minas, na área
mineira do Semi-árido brasileiro e na micro-região da Serra Geral de Minas, da qual é a
cidade pólo. É considerado referência como pólo de desenvolvimento rural ao abrigar grandes
projetos de irrigação (Projeto Jaíba) e pecuária, dentre outros, sendo que ao mesmo tempo
abriga número significativo de assentamentos de reforma agrária do INCRA e uma grande
comunidade quilombola, denominada de Gurutubanos. Segundo o censo de 2000, sua
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população compreendia cerca de 61.647 habitantes, sendo que a população urbana era de
53.808 habitantes e a população rural de 7.753 habitantes. Tem como atividades principais a
agricultura, pecuária e serviços (comércio). É a segunda maior cidade Norte Mineira, com um
IDH 0, 716, ocupando uma Área 2189 km2.
Quanto à educação o nível de escolaridade ainda é baixo, principalmente, entre os
idosos, sendo a maioria analfabetos que só sabem ler e escrever o seu próprio nome.
Atualmente o município possui 74 escolas, sendo 38 escolas na zona rural e 36 escolas na
zona urbana dentre as quais 16 são escolas estaduais, 10 são escolas municipais, 04 são
escolas conveniadas com a prefeitura e 06 são escolas particulares. No ensino médio existem
10 escolas, sendo 07 da rede estadual e 03 particulares. Computando ao todo 1.020
professores para atender a 23.297 alunos em sua rede escolar. O IDEB do município na rede
municipal de ensino, em 2009, foi de 3.8 para o ensino fundamental.
O município de Coração de Jesus, município este considerado de pequeno porte, se
apresenta como de característica eminentemente rural, com uma população significativa de
agricultores familiares. Possui uma área de 2.236,24 km2 e faz parte do bioma do cerrado. No
ano de 2000, sua população rural era de cerca de 11.742 habitantes, sendo que a urbana era de
cerca de 13.936 pessoas, com um total de 25.678. Já em 2009 sua população total
compreendia cerca de 27.110 habitantes, de acordo com o Censo Demográfico do IBGE
(2000). Seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0, 680, segundo o Atlas de
Desenvolvimento Humano/PNUD (2000), sendo que o índice de pobreza é de 61% conforme
o IBGE.
O Índice da Educação Básica (IDEB), do município na rede municipal de ensino em
2007 foi de 2.8 para o ensino fundamental. E, de acordo com a portaria nº 1.173, de 23 de
setembro de 2010, o número de matrículas no ensino fundamental nas escolas estaduais
urbanas no município de Coração de Jesus nos anos iniciais, totalizou 1.198 e nos anos finais,
1.193. Já nas escolas estaduais rurais, o total foi de 477 nos anos iniciais e 474 nos anos
finais.
É nesse contexto de diversidade sociocultural dos municípios que serão analisados os
aspectos referentes ao Currículo, Didática, Formação de Professores e Gestão Escolar
identificando os desafios com que esta região tem se deparado no que diz respeito à oferta de
uma educação diferenciada, contextualizada e de qualidade para as populações do campo.
Para a atividade de nivelamento conceitual da pesquisa foi criado o Grupo de Estudos,
com a participação não só dos envolvidos quanto de outros acadêmicos e educadores
regionais, que através de estudos sistemáticos com os temas da Educação do Campo,
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Educação Contextualizada, Ruralidade, Diversidade Étnico-Cultural, Currículo, Didática,
Formação de Professores, Gestão Escolar, se propõe conseqüentemente fomentar a articulação
regional em torno desses temas. A pesquisa se propõe ainda a orientar acadêmicos em regime
de iniciação científica e estimular a produção de trabalhos científicos com os temas afins.
Esta pesquisa transita no paradigma interpretativo, em contraposição à perspectiva
positivista onde o pesquisador detém os significados do objeto, que a coloca em um novo
patamar de ciência, numa perspectiva de interação entre mundo e pesquisador, possibilitandose a capacidade de “interpretar e articular as experiências em relação ao mundo para si próprio
e para os outros.” (MOREIRA; CALEFFE, 2006, p.62). O pesquisador interpretativista, na
perspectiva da ciência social, interage com seu objeto, interpretando suas informações,
fazendo uma dentro das possíveis leituras a serem feitas e, ao desvendar aspectos daquela
realidade, se compromete com a realidade social em questão. Moreira e Caleffe afirmam, que:
As visões da relação entre o pesquisador e o pesquisado dependem da visão de
conhecimento do pesquisador. Nesse paradigma, o conhecimento é possível apenas
por meio dos processos interpretativos que o pesquisador aprende do seu encontro
com os sujeitos em questão. [...]
Portanto, o investigador e o investigado estão interligados de uma tal forma que os
resultados da investigação são uma criação literal do processo de investigação.
(MOREIRA;CALEFFE, 2006, p.63).
E, para que seja possível a interação com o fenômeno estudado, o pesquisador deve
buscar os conhecimentos já produzidos sobre o tema pesquisado, para que seja capaz de
dialogar com os dados levantados e a serem interpretados, e para que possa avançar no
desvendamento das problemáticas apresentadas pela realidade social.
Em relação às pesquisas exploratórias, os autores nos dizem que essas podem ser
vistas como a primeira etapa de determinada pesquisa, já que num primeiro momento,
constrói um painel geral sobre o fenômeno pesquisado e, que ao finalizar a pesquisa, esse
“passa a ser um problema mais esclarecido, passível de investigação mediante procedimentos
mais sistematizados. Essa afirmação se adéqua a essa pesquisa, já que o universo pesquisado
– o atendimento escolar feito pelas redes municipais de educação para as populações do
campo – se constitui em um fenômeno desconhecido do ponto de vista científico e
sistematizado, sendo que ao final da pesquisa um outro patamar de conhecimento sobre a
realidade social estudada espera ser alcançado, para posteriores estudos e intervenções
possíveis.
Nessa perspectiva, o caminho escolhido para essa pesquisa é o da Pesquisa
Participante e seus princípios. Nessa tipologia, a condição de participação não se dá apenas
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como meio de conhecer melhor a realidade estudada, como lente para esmiuçar mais os
meandros que se pretende elucidar, mas como compromisso com aquela realidade, com suas
necessidades e demandas apresentadas. As ações são engendradas a partir do processo do
conhecer aprofundado e participativo. Brandão assim se expressa:
A participação não envolve uma atitude do cientista para conhecer melhor a cultura
que pesquisa. Ela determina um compromisso que subordina o próprio projeto
científico de pesquisa ao projeto político dos grupos populares cuja situação de classe,
cultura ou história se quer conhecer porque se quer agir. (BRANDÃO, 1982, p.12).
Sendo assim, serão utilizadas entrevista semi-estruturada, observação participante e
dinâmicas grupais para o levantamento de dados, instrumentos metodológicos da pesquisa
participante e ainda da pesquisa etnográfica, já que adentraremos um universo do campo,
composto por uma diversidade e subjetividades expressivas no Norte de Minas. A partir da
percepção do papel social e transformador da academia, há o compromisso de momento
qualificado para devolução dos dados junto aos municípios e comunidades pesquisadas.
De natureza quanti-qualitativa, a pesquisa utilizará ainda da Análise Documental, ao
analisar os projetos político-pedagógicos e levantar dados sobre perfil pessoal e profissional
dos professores das redes municipais para posterior cruzamento e análise de dados.
Organizadas em 03 (três) grupos de trabalho, respectivamente um grupo para cada
município participante sendo composto por dois acadêmicos e um docente. Ressaltamos,
ainda, que os docentes envolvidos são pesquisadores do tema, trabalham e/ou residem nos
municípios de sua responsabilidade, que os acadêmicos pesquisam, residem e/ou têm origem
no município de sua atuação, e que os acadêmicos egressos defenderam o seu Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC) através de monografias sobre Educação do Campo, na Unimontes,
tendo desenvolvido suas pesquisas nos municípios envolvidos.
O processo de coleta de dados será desenvolvido durante os meses de maio a agosto de
2011 através de visitas às Escolas e Comunidades, onde serão utilizados instrumentos da
metodologia participativa (entrevistas semi-estruturadas, dinâmicas de grupo e observação
participante), e junto às SME‟s através de questionários e pesquisa documental. Como parte
das atividades previstas nessa pesquisa há a participação de discentes e docentes em eventos
acadêmicos e a publicação de artigos e de resumos expandidos. Prevê-se um evento para
devolução dos dados aos gestores públicos, professores e comunidades escolares de cada
município, e para tal, serão produzidos slides-show e cartilhas que agregarão os dados
levantados em cada realidade educacional municipal.
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Diante da participação de discentes de outros campi/municípios e pela pesquisa centrar
o seu local de trabalho em Montes Claros, optou-se pela realização de Encontros Mensais de
Estudo e Planejamento Geral nessa cidade. A atividade Estudo objetiva o nivelamento grupal
quanto ao referencial teórico, tanto no que diz respeito à Educação do Campo quanto ao
marco metodológico. Já a atividade Planejamento objetiva a definição das estratégias para
operacionalização da pesquisa, dentre elas: Elaboração de calendário das ações; Contato com
SME‟s, Escolas e Comunidades Escolares; Elaboração de instrumentos para levantamento de
dados; Elaboração de relatórios, produção de artigos etc. Os Encontros Mensais, então,
juntamente com a elaboração de relatórios por parte de toda a equipe são, nessa pesquisa,
importante estratégia de monitoramento da mesma, sendo que e-mail e telefone subsidiam o
processo de comunicação entre a equipe de professores e acadêmicos. Além de relatórios
mensais, serão produzidos também relatórios parciais e final, bem como a “alimentação”
permanente do site.
Salientamos que essa pesquisa é um projeto de parcerias e que alguns dos resultados
pretendidos, como pesquisa participante que se propõe, é a sensibilização, envolvimento e
mobilização tanto da Unimontes quanto das SME‟s através da participação ativa no processo
de coleta de dados e do acesso aos mesmos sobre o atendimento à Educação do Campo em
seus municípios. Como um dos instrumentos metodológicos é a observação participante, que
será utilizada no processo de coleta de dados sobre a gestão escolar nas escolas envolvidas,
faz-se imprescindível o estabelecimento dessa relação de parceria. Dessa forma, já foram
feitos contatos prévios junto às SME‟s, que prontamente demonstraram interesse na
efetivação dessa parceria na Pesquisa, que se propõe a trabalhar conjuntamente com essas
instâncias gestoras em alguns momentos de desenvolvimento do projeto. Esperando mais
autonomia e otimização das ações, tem-se buscado apoio financeiro para a pesquisa, através
de instituições de fomento como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas
Gerais (Fapemig).
O período de realização da pesquisa abrange 18 (dezoito) meses, respectivamente de
julho de 2010 a março de 2012, finalizando com a devolução dos dados em cada município
numa perspectiva participativa, e acreditando-se estar contribuindo no processo de reconhecimento pelo poder público municipal da urgência em se efetivar um atendimento
diferenciado, através de um conjunto de políticas públicas, para as populações que compõe o
universo rural dos municípios nortemineiros envolvidos.
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Resultados Parciais da Pesquisa É do Campo
Como importante ação no bojo da pesquisa foram realizados encontros para
nivelamento conceitual através do Grupo de Estudos, a princípio com a participação somente
do grupo da pesquisa, sendo que já no segundo encontro, foram convidados outros
acadêmicos e educadores regionais. Para tal foram realizados estudos de diversos textos sobre
educação do campo como o texto “A formação de educadores do campo como marca da
resistência”, proferido pelo Prof. Miguel G. Arroyo, no III Encontro Nacional de Pesquisa do
Campo / o III Seminário sobre Educação Superior e as Políticas para o Desenvolvimento do
Campo Brasileiro / I Encontro Internacional de Educação do Campo, eventos realizados na
Universidade de Brasília, em agosto de 2010; o texto-base da II Conferência Nacional Por
uma Educação Básica do Campo, realizada em Luziânia, em 2004; o Parecer nº 36/ 2002,
sobre as Diretrizes Operacionais e Resolução nº 1/ 2002, que institui as Diretrizes
Operacionais para a Educação Básica nas Escolas no Campo; a Resolução nº 2/ 2008, que
estabelece Diretrizes Complementares; a apresentação da dissertação Impasses, Interferências
e Perspectivas na Gestão Escolar Democrática da Educação: a experiência de uma Escola
Rural, de Maria Railma Alves. FAE/UFMG, 2003, professora do Departamento de Política e
Ciências Sociais (DPCS), da Unimontes.
Em todos os cinco meses da pesquisa foram realizados encontros para planejamento
das atividades a serem desenvolvidas. Nesse primeiro momento, as atividades foram
distribuídas por quatro grupos, sendo um de Montes Claros, um de Janaúba, um de Coração e
Jesus e outro responsável pelo Estado da Arte da Educação do Campo.
Criou-se ainda no espaço institucional da Unimontes uma sala na Plataforma Moodle,
cujos objetivos são a comunicação entre o grupo, sistematização de dados levantados dos
municípios, arquivamento dos textos estudados, os documentos da Pesquisa, as legislações
vigentes acerca da Educação do Campo e temas afins, e socialização de planejamento e ações
desenvolvidas. Contém um arquivo com o Estado da Arte da Educação do Campo o qual
permite a interação entre o grupo e mensalmente são anexados os planejamentos, atas das
reuniões, e textos estudados. Essa sala está em constante construção, sendo que outras
possibilidades já têm se apresentado para compô-la.
Foi criado na rede social um Grupo.com (édocampopesquisa) entre os participantes da
pesquisa, cujo objetivo tem sido o de viabilizar a troca de informações, encaminhamentos e
socialização de assuntos inerentes à pesquisa. No que diz respeito ao Grupo.com, tem-se
discutido de avançarmos no sentido de transformá-lo em um espaço regional para o debate
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ampliado sobre diversas temáticas afins à Educação do Campo, como questões ligadas à
reforma agrária, diversidade étnico-cultural, modelos de desenvolvimento regional, cultura
etc.
Deu-se início à efetivação das parcerias com SME‟s, sendo que já foi realizada uma
reunião com a Secretária Municipal de Educação de Montes Claros, que se mostrou favorável
ao desenvolvimento da pesquisa no município, já que esta se propõe a trazer dados relevantes
sobre a educação desenvolvida em duas escolas do campo (uma escola nucleada e uma
multisseriada). Foi ainda entregue um Termo de Parceria para ser analisado pelo setor jurídico
daquela instituição e encaminhado um contato na SME para que fossem agendadas as
primeiras ações a serem desenvolvidas. Quanto às outras duas SME‟s, Janaúba e Coração de
Jesus, os contatos estão em andamento.
Também foram levantados e organizados alguns dados, dentre eles educacionais, dos
municípios de Montes Claros, Coração de Jesus, Janaúba, apresentados anteriormente. Esses
foram pesquisados em institutos como IBGE Cidades, MEC, INEP, Atlas de
Desenvolvimento Humano, UNESCO. Esses dados se encontram na sala Projeto de Pesquisa
É do Campo, da Plataforma Moodle, e posteriormente comporão os slideshows para
devolução dos dados da pesquisa às comunidades escolares e SME‟s.
As ações futuras serão pautadas com o intuito de dar continuidade ao plano de
formação teórico-conceitual do grupo com ênfase na Pesquisa em Educação, para além das
referências temáticas da pesquisa e também aprofundar a formação teórico-conceitual sobre
Metodologia Participativa, caminho escolhido para a pesquisa. Espera-se finalizar o
estabelecimento das parcerias com as SME‟s e realizar visitas às comunidades escolares e
Escolas envolvidas na pesquisa. Serão feitas as coletas de dados sobre os aspectos eleitos, a
saber: formação e perfil dos professores nas SME‟s, currículo, didática e gestão escolar nas
Escolas e Comunidades. E ainda dar andamento ao levantamento do Estado da Arte da
Educação do Campo na Unimontes, produzir e publicar artigos e resumos expandidos em
eventos locais, regionais e/ou nacionais relativos a essa área de pesquisa, assim como
organizar evento acadêmico na Unimontes para este fim.
Referências
ARROYO, Miguel G. “A Educação Básica e o Movimento Social do Campo”. In
CALDART, Roseli S.; MOLINA, Mônica C. (Orgs). Por uma educação do campo. 2ª ed.
Petrópolis: Vozes, 2005. p.65-86.
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BRANDÃO, Carlos Rodrigues. “Pesquisar – Participar”. In: Pesquisa Participante. São
Paulo: Editora Brasileira, 1982, p. 9-16.
BRASIL. 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em
http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/. Acesso em 21 mar 2011.
BRASIL. 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em:
<http//portal.mec.gov.br/index.php> Acesso em: 6 mar 2011.
BRASIL. 2000. Censo. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/censo. Acesso em 21 mar
2011.
BRASIL. 2009. INEP. Disponível em: <http//portal.mec.gov.br/index.php>. Acesso em 24
fev 2011.
FERNANDES, Bernardo M.; CERIOLI, Paulo R.; CALDART, Roseli S. Primeira
Conferência Nacional “Por uma Educação Básica do campo”: texto preparatório. In:
ARROYO, Miguel G.;CALDART, Roseli Salete; MOLINA, Mônica C. (Orgs.). Por uma
Educação do Campo. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 21-62.
MOREIRA, Herivelto; CALEFFE, Luiz Gonzaga. Metodologia da pesquisa para o professor
pesquisador. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
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