LITERAFRO - www.letras.ufmg.br/literafro Machado de Assis “Um dos melhores e mais fiéis retratos de Machado de Assis, - porque sem retoque, - até agora inédito e tirado no atelier dos irmãos Bernardelli. Serviu de modelo a um desenho de bico de pena e guache de Henrique, que, no entanto, branqueou as feições do grande escritor”. (MAGALHÃES JÚNIOR, 1957: 321) Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 1839, na cidade do Rio de Janeiro, no Morro do Livramento. Mestiço, filho de Francisco José Machado de Assis e D. Maria Leopoldina Machado de Assis, ambos agregados de uma pequena propriedade rural. A criança teve como madrinha de batismo Dona Maria José de Mendonça, viúva de Bento Barroso Pereira, que havia sido senador, oficial do exército e ministro, e, como padrinho, o Oficial da Ordem Imperial do Cruzeiro o Sr. Joaquim Alberto de Souza. Entre a casa rica da madrinha, e a casa pobre dos pais, Machado de Assis passou a infância. Ficou órfão de mãe ainda criança, encontrando a afeição materna na madrasta, uma mulata de nome Maria Inês. A criança, que se tornaria o maior escritor da literatura brasileira, não teve durante a infância uma educação escolar contínua, estudou como pôde, tendo como primeira mestra a própria madrasta e muitas vezes desvendando sozinho os mistérios da língua nacional. Quando tinha 12 anos, foi surpreendido pelo falecimento do pai. Consta que, para sobreviverem, Maria Inês, a madrasta, fazia quitutes, que o menino vendia pelas ruas do bairro São Cristóvão, onde ficava sua residência. Ainda na adolescência, teve oportunidade de estudar francês ao freqüentar assiduamente a casa de uma família estrangeira. Conforme salienta Lúcia Miguel Pereira, biógrafa do escritor, ele “metia-se na sua roupinha surrada, esforçando-se por não gaguejar, corria para a casa de Mme. Gallot apenas tinha uma folga e lá ficava, a falar, a conversar, todo ouvidos, todo atenção, certo de que assim estava preparando o futuro”. (PEREIRA, 1988: 44). Comenta-se ainda que tenha sido coroinha da Igreja da Lampadosa. Quando tinha por volta dos 16 anos, foi aprendiz de tipografia, ofício que exerceu na Imprensa Nacional, até os 19 anos. Trabalhou ainda na Livraria Paula Brito, reduto dos intelectuais cariocas, onde iniciou os primeiros contatos com críticos, LITERAFRO - www.letras.ufmg.br/literafro poetas e jornalistas da época, além de ter acesso aos grandes clássicos da literatura universal. No periódico editado por Brito, A Marmota Fluminense, saiu a primeira publicação de Machado, o poema “Ela”, com data de 12 de janeiro de 1855. Mais tarde, fez carreira como funcionário público, tendo sido, por um período de quinze anos, chefe da segunda seção da Diretoria da Agricultura do Ministério da Agricultura. Segundo Sidney Chalhoub (2003:10), um dos “principais assuntos da seção” era a escravidão e os processos relativos à “aplicação da lei de 28 de setembro de 1871, depois apelidada Lei do Ventre Livre”. Colaborou na imprensa em periódicos tais como Correio Mercantil e Semana Ilustrada. Foi no jornal que Machado iniciou sua carreira como escritor, e em 1859 vêm a público suas primeiras crônicas. Em 1864, estréia na poesia com Crisálidas. Seis anos mais tarde, começa a trilhar o caminho da prosa de ficção, com a publicação de Contos fluminenses, ao qual se segue Ressurreição – seu primeiro romance. Este não logrou sucesso, pois foi (e ainda é) criticado por apresentar um enredo simples, que se desenrola em torno do casal, quase uma crônica de costumes. Em 1866, chega ao Rio de Janeiro a senhorita Carolina Novais, irmã de Faustino Xavier de Novais, poeta satírico português de quem Machado havia ficado íntimo. O namoro entre o escritor e a portuguesa firmava-se, apesar da oposição da família, reduzida aos três irmãos, que a essa altura já estavam instalados na cidade. A respeito desse fato, Pereira comenta: “Não se podiam os portugueses conformar em ver a irmã unir-se a um mulato. Era a cor de Machado a única alegação que contra ele faziam, mostrando destarte ignorar-lhe completamente a doença [a epilepsia], sem o que teriam lançado mão de mais esse argumento”. (PEREIRA, 1988: 112) Apesar das forças contrárias, Carolina e Machado casaram-se em 12 de outubro de 1869 e viveram juntos por 35 anos. Durante a vida matrimonial, ela foi esposa exemplar, dedicando sua vida a cuidar do marido e da doença que o acometia, a acompanhar a sua produção literária, muitas vezes, servindo-lhe de revisora. Em 1885, vem a público a Revista Brasileira – periódico dirigido por José Veríssimo – do qual faziam parte ilustres literatos: Machado de Assis, Taunay, Joaquim Nabuco, Silva Ramos, Lúcio de Mendonça, Graça Aranha, José Veríssimo, Inglês de Sousa, João Ribeiro e Sousa Bandeira, que se reuniam para discutir literatura. Dessas reuniões surgiu a idéia de fundar uma associação literária para oficializar os encontros desses escritores. Em 1886, nascia então a Academia Brasileira de Letras, tornando-se Machado o seu primeiro presidente eleito – posto que ocupou de 1897 até seu falecimento em 29 de setembro de 1908. A decisão de dar ao escritor o cargo é assim justificada pela sua biógrafa: “Não só era o maior escritor vivo, como desde a mocidade se empenhara em congregar os homens de letras. Além disso, a sua crença na missão da literatura faria dele, como fez, o mais votado dos presidentes, o homem talhado para dirigir uma associação literária”. (PEREIRA, 1988: 214) Machado perdeu a esposa em 1904, vítima de um tumor no intestino. Viúvo e solitário, apesar de contar com a presença dos amigos, tais como José Veríssimo, Joaquim Nabuco, e principalmente Mário de Alencar, que conhecera ainda menino LITERAFRO - www.letras.ufmg.br/literafro quando da amizade com o pai, José de Alencar, o escritor tornava-se mais introspectivo. Com o falecimento da mulher, agravaram-se as crises epilépticas. Além disso, sua visão tornava-se cada vez mais debilitada, passou a sofrer de problemas do intestino e de uma úlcera na língua, provavelmente de fundo canceroso, proveniente do fato de mordê-la durante as convulsões. Apesar da enfermidade, continuava a produzir. Em julho de 1908, publicou seu último livro Memorial de Aires, considerado o mais biográfico de seus textos. Em 29 de setembro de 1908, faleceu o escritor, em sua residência, rodeado de amigos.