UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
ELIANI SANTOS
A PERCEPÇÃO DE ESTUDANTES DE PSICOLOGIA EM RELAÇÃO À MORTE
DE PACIENTES HOSPITALIZADOS
Palhoça
2008
2
ELIANI SANTOS
A PERCEPÇÃO DE ESTUDANTES DE PSICOLOGIA EM RELAÇÃO À MORTE
DE PACIENTES HOSPITALIZADOS
Relatório de pesquisa apresentado na disciplina de
Trabalho de Conclusão de Curso II, como requisito
parcial para obtenção do título de psicólogo da
Universidade do Sul de Santa Catarina - Unisul
Orientadora: Profª. Alessandra d´Avila Scherer, Msc.
Palhoça
2008
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pela minha vida e por ter me abençoado nos
momentos mais difíceis desta caminhada.
À minha família, especialmente meus pais, Irony e Sandra, minha irmã Luana e
todos os meus familiares que inclui avós, tios e tias, primos e primas, pelo amor, compreensão
e apoio que me dedicaram em toda essa caminhada.
Ao meu namorado William, amigo e companheiro nesta trajetória importantíssima
em minha vida, pelo seu carinho, apoio e compreensão dedicados, por estar ao meu lado nos
momentos mais difíceis e por fazer parte dessa realização.
A todos os meus amigos e colegas de fora e àqueles que fazem parte do curso, que
em algum momento me dedicaram a sua atenção, apoio e carinho.
A minha querida orientadora Alessandra, pelo incentivo, apoio e por apostar em
mim e no meu empenho, bem como pela sua presença, que me proporcionou crescimento e
me auxiliou nesse período longo e agradável que passamos juntas.
As carinhosas professoras Simone Vieira e Cristiane Peixoto, que aceitaram com
alegria ao meu pedido de fazerem parte deste momento tão especial em minha vida.
As amizades que tive a oportunidade de realizar e de compartilhar momentos
inesquecíveis durante esse agradável período.
Aos pacientes que atendi no Serviço de Psicologia da Unisul e no Hospital de
Caridade, por auxiliarem na ampliação e desenvolvimento da minha percepção em relação à
Psicologia e a vida.
Aos estudantes de psicologia entrevistados, por aceitarem com carinho e alegria
fazerem parte da realização desta pesquisa.
A todos, que de alguma maneira me apoiaram e me incentivaram a realizar este
sonho, com carinho, muito obrigada!
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RESUMO
Hospitalização e morte são temas que, normalmente, quer-se dissociar. A crença plausível é
que, ao internar-se, o paciente recupere a saúde e retome a sua vida plena. Assim, o estagiário
de Psicologia Hospitalar ao se deparar com essa situação poderá reagir de formas diversas.
Diante disso, o presente trabalho investigou a percepção de estudantes de psicologia em
relação à morte de pacientes hospitalizados. Este trabalho tem o objetivo então, de
compreender a percepção de estudantes de psicologia, em relação à morte de pacientes
atendidos por eles no contexto hospitalar. A teoria foi fundamentada nos estudiosos da
Tanatologia e Psicologia Hospitalar. A pesquisa é exploratória e qualitativa e as informações
foram coletadas por meio de entrevistas semi-estruturadas, realizadas com quatro (4)
estudantes, estagiários da nona e décima fases de Psicologia Hospitalar. Para a construção da
análise e a obtenção dos resultados, foram apanhados os dados para a sua categorização e
após esse procedimento, foram relacionadas às categorias com o referencial teórico aqui
explorado. As análises foram realizadas através do tom subjetivo dado pelos informantes da
pesquisa com o respaldo e o suporte dados pela teoria existente. Na análise foi possível
identificar: significados diferentes com relação à morte como ato finito, como uma passagem
ou ainda, a morte como perda; sentimentos e emoções tais como impotência e frustração
diante da perda de pacientes por eles atendidos; os estudantes apresentaram também reações
como choro e perplexidade; as dificuldades percebidas pelos estudantes diante da morte no
contexto hospitalar foram relatadas pela falta de experiências de perdas vivenciadas por eles,
bem como, relatos da falta de preparo acadêmico para lidar com esse acontecimento, em face
de inexistência de disciplinas específicas correlatas. Houve também relatos, onde se verificou
estratégias de enfrentamento utilizadas para lidar com essa situação, tais como, rezar, pensar
sobre a morte, chocar-se com a perda, bem como chorar e realizar rituais de despedida.
Palavras-chave: Morte. Psicologia Hospitalar. Estudantes de Psicologia.
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LISTA DE SIGLAS
PUCMG – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
PUCPR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná
PUCRS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
PUCRJ- Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
PUCSP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
UFBA – Universidade Federal da Bahia
UFG – Universidade Federal de Goiás
UFPR – Universidade Federal do Paraná
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina.
UFSM – Universidade Federal de Santa Maria
UNB – Universidade de Brasília
USP – Universidade de São Paulo
UCPEL – Universidade Católica de Pelotas
UNISUL - Universidade do Sul de Santa Catarina
E1, E2, E3 e E4 – Identificação dos Estudantes
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8
1.1 PROBLEMÁTICA ...............................................................................................................8
1.2 OBJETIVOS....................................................................................................................... 12
1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 12
1.2.2 Objetivos Específicos..................................................................................................... 12
1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 13
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 18
2.1 PSICOLOGIA DA SAÚDE E PSICOLOGIA HOSPITALAR ......................................... 18
2.2 A FORMAÇÃO ACADÊMICA EM PSICOLOGIA.........................................................25
2.3 PSICOLOGIA E MORTE ..................................................................................................27
2.3.1 A morte e suas representações no desenvolvimento humano.................................... 27
2.3.2 Morte, Luto e Separação............................................................................................... 31
2.3.3 O psicólogo diante da morte ......................................................................................... 36
2.4 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO – MECANISMOS DE COPING ..................37
2.4.1 Coping e Controlabilidade ............................................................................................ 40
2.4.2 Gênero e seleção de respostas de coping...................................................................... 41
2.4.3 A aprendizagem das estratégias de coping .................................................................. 41
2.4.4 Apoio Social.................................................................................................................... 41
3 MÉTODO ............................................................................................................................. 43
3.1. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA............................................................................43
3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA................................................................................... 44
3.3 TÉCNICA DE COLETA DE DADOS............................................................................... 44
3.4 ANÁLISE DE DADOS ......................................................................................................45
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .................................................................. 47
4.1 O SIGNIFICADO DA MORTE .........................................................................................48
4.2 SENTIMENTOS E EMOÇÕES.........................................................................................51
4.2.1 Pensamentos sobre a morte .......................................................................................... 55
4.3 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DOS ESTUDANTES DIANTE DA PERDA
DE PACIENTES ...................................................................................................................... 59
4.3.1 Dificuldades percebidas pelos estudantes frente à situação de perda do paciente .. 63
4.3.2 Experiências de perdas vivenciadas............................................................................. 66
7
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................69
6. CRONOGRAMA................................................................................................................ 72
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 73
APÊNDICES ........................................................................................................................... 77
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA ................................................................. 78
ANEXOS ................................................................................................................................. 79
ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido............................................... 80
ANEXO B – Termo de Consentimento para Gravações de Voz ........................................ 82
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1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho investigou a percepção de estudantes de psicologia, em
relação à morte de pacientes hospitalizados. Nesse aspecto, procurou-se identificar o
significado da morte para os estudantes de psicologia, bem como os pensamentos, emoções,
sentimentos e por último às estratégias de enfrentamento utilizadas por eles diante da perda
dos pacientes.
Esse estudo teve o alicerce das referências teóricas relativas à psicologia da saúde
e psicologia hospitalar; a formação acadêmica em psicologia; psicologia e morte, que se
desdobra nas questões da morte e suas representações no desenvolvimento humano; morte,
luto e separação, o psicólogo diante da morte e, por fim, as estratégias de enfrentamento que
ofereceram suporte teórico aos recursos utilizados pelos estudantes ao vivenciarem a morte
dos pacientes.
1.1 PROBLEMÁTICA
O presente texto objetiva discutir sobre a percepção da morte de pacientes
hospitalizados para estudantes de psicologia. Para isto, inicialmente, foi realizado uma análise
geral sobre a percepção das pessoas sobre a morte ao longo do tempo.
A percepção que as pessoas têm em relação à morte foi-se modificando no
decorrer do tempo e da história. As maneiras como as pessoas encaram a morte também muda
com o passar do tempo. A morte sempre teve um caráter misterioso, provocando fascínio, mas
também medo, questionamentos e até certa curiosidade nas pessoas para decifrar esse
mistério.
Na cultura ocidental, de um modo geral, a morte, é um tema difícil de ser
discutido e refletido pelas pessoas. Entretanto, ao longo do tempo, percebeu-se que o ser
humano, a exceção do ser humano primitivo, já tinha uma certeza com relação à sua morte.
Embora as pessoas tivessem essa certeza, dependendo do vínculo que a relação entre elas
possuía, a morte de alguém próximo poderia causar bastante sofrimento ao enlutado. A morte
é uma realidade chocante para as pessoas, que abala profundamente as estruturas emocionais
9
e psíquicas de cada um que a vivencia, diante da perda de um ente querido. A possibilidade de
ocorrer à morte provoca um impacto nas pessoas, por elas não estarem preparadas e por não
preverem de que maneira e em que momento ela acontecerá. “Na verdade, o Homem sempre
viveu sob o impacto da morte.” (CAMON, 2003, p. 73).
Quando se remeteu à Antiguidade, pôde-se identificar que o homem não afastava
do seu pensamento a idéia de que iria morrer. A morte surgia com mais rapidez e na maioria
das vezes, as pessoas não sabiam o seu motivo. Nessa época, as pessoas adoeciam com mais
facilidade, devido à sua fragilidade em relação às doenças e pela falta de prevenção e
tratamento. A expectativa de vida das pessoas era mais curta, elas sabiam que não viveriam
por muito tempo. (CAMON, 2003).
As pessoas tinham a consciência da morte como algo natural, elas reagiam com
naturalidade e pensavam na morte como algo que realmente faz parte da vida e se faz presente
nela, assim era mais fácil a sua aceitação. Camon (2003, p. 75), descreve que:
Antigamente, o velório ocorria na casa do morto, contando com a participação da
família, amigos, parentes e comunidade. O velório caracterizava-se pelo momento
de rever e se despedir do falecido, estimulando as emoções, trazendo-as à tona para
que se baixassem as defesas diante da situação de morte. As crianças participavam
naturalmente do processo de despedida. O ritual durava dias e as emoções eram
expressas de forma clara e direta. Vale lembrar a presença de carpideiras nos
velórios, que tinham como objetivo evitar que as emoções fossem reprimidas. Essas
mulheres, através de seus cantos e orações, facilitavam a expressão de sentimentos,
evitando a “vergonha” de chorar ou sofrer pela perda, facilitando a elaboração do
luto.
Antigamente as pessoas eram incentivadas e encorajadas a enfrentarem o processo
de luto da perda de seus entes queridos. As pessoas evitavam reprimir suas emoções e o
sofrimento para a elaboração do seu luto.
Na Idade Média, as pessoas doentes permaneciam em suas casas para esperarem a
recuperação ou a chegada da morte, pois ainda não existiam hospitais. O enfrentamento das
pessoas diante da morte nesse período era parecido com a Antiguidade. As pessoas eram
liberadas para viverem o seu processo de luto, podendo exteriorizar os seus sentimentos
diante de uma perda, sem que isto fosse uma vergonha. (KOVÁCS, 1992).
Nessa época houve o surgimento de epidemias que abalaram a sociedade. Não
existiam defesas tecnológicas eficientes, que combatessem as doenças que iam surgindo com
grande facilidade. As pessoas estavam mais suscetíveis a adquirirem essas doenças e então, a
única certeza que restava a elas, seria a certeza de que a morte chegaria logo.
Camon (2003, p. 73), confirma isto quando nos coloca que:
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No século XIV, por exemplo, a “peste negra”, que determinou graves perturbações
econômicas, sociais e psicológicas, caracterizou a visão catastrófica da morte que
atormentava e angustiava a sociedade. A morte era prematura, infligia tormento
insuportável e tornava o Homem um objeto repugnante para si e para o outro.
Adultos e crianças sabiam que logo morreriam e o indivíduo arcava sozinho e por si
a fúria da “morte negra”, pois não havia defesa tecnológica eficiente; os
procedimentos médicos eram inúteis, o controle e os ajustamentos sociais e a
religião e a magia pouco ajudavam. A morte, portanto, era inevitável. Não havia
promessa de gloriosa mortalidade e a morte era fonte de terror e castigo. A
expectativa de vida era limitada, havia maior proximidade física com a morte e
sensação de pouco controle sobre a natureza.
O ser humano era dominado pela própria morte, sem poder fazer algo que pudesse
combatê-la ou adiá-la, pois não havia recursos para o seu controle. Com isto, essa falta de
controle sobre a morte prematura, provocava muita angústia nas pessoas.
Com o decorrer do tempo e as mudanças históricas, sociais e econômicas, houve
também modificações na maneira como as pessoas começaram a encarar a morte. Essas
mudanças foram significativas para a transformação na maneira de pensar sobre a morte e são
características que provem da modernidade.
Entre as mudanças que ocorreram na sociedade moderna, que interferiram na
maneira de lidar com a morte, estão o avanço da ciência e tecnologia para a cura das doenças,
a evolução da medicina, dos procedimentos médicos que se tornaram mais eficientes e o ser
humano que passa a se achar um ser onipotente, se percebe como o centro de tudo, onde tudo
pode controlar, pretendendo ter o controle também de algo que é inevitável, que é a morte.
Assim, a morte deixa as casas, sai do cotidiano das pessoas e se ausenta da sociedade para
marcar presença nos hospitais. (CAMON, 2003).
O ser humano passa a se achar capaz de combater a morte com o avanço da
ciência, deixando de pensar nela e crendo que é algo distante ou que parece não acontecer
consigo, não estando preparado para o seu adoecimento, sofrimento e a morte. Ela é temida e
vista como um tabu, um tema que é bastante evitado pelas pessoas. Desta forma, o homem
começa a utilizar o silêncio para afastar a morte inevitável do seu cotidiano e aquilo que era
exigido, como a vivência do processo de luto, agora é proibida na sociedade moderna.
(CAMON, 2003).
Desta forma, Camon (2003, p. 74), considera que “na sociedade atual, prevalece a
negação da temática da morte”. O homem pretende através da ciência, buscar a sua
imortalidade, sendo difícil aceitar a morte, não consegue se aceitar como um ser finito,
tendendo a negá-la.
A morte deixa as casas, se ausentando da sociedade. Agora, na modernidade,
diferente da Idade Média e Antiguidade, torna-se vergonhoso chorar ou vivenciar a dor e a
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tristeza pela morte de alguém, não é mais permitida a elaboração do luto. (KOVÁCS, 1987
apud CAMPOS, 1995). Com a mudança na dinâmica dos hospitais e sua função, que
passaram a ser a cura e a reabilitação das pessoas, já não se pode mais conviver com a morte,
ela então se escondeu e os cuidados necessários ao paciente passam a fazer parte do trabalho
realizado nos hospitais.
Os hospitais com a sua função curativa pretendem evitar a morte a qualquer custo.
Em virtude disto, de acordo com Campos (1995), institui-se na medicina o modelo biomédico
de atenção, que considera somente o aspecto biológico do ser humano. Esse cuidado
biomédico era exercido pela equipe médica, que era constituída pelos médicos e enfermeiros,
que tinham como propósito a manutenção da vida através da cura biológica dos pacientes.
No entanto, aos poucos foi se percebendo a necessidade de outros cuidados com
os pacientes. Esses iam além do cuidado biomédico, para uma atenção que abrange outros
aspectos que compõem o ser humano, mudando o conceito dessa atenção para uma atenção
biopsicossocial, havendo a inserção de outros profissionais na área da saúde, atuando no
hospital e, em especial, o Psicólogo. (CAMPOS, 1995).
A função do psicólogo no hospital é atender às necessidades subjetivas do
paciente, que envolvem a sua hospitalização, o seu adoecimento e também questões relativas
à morte. Segundo Campos (1995, p 81), “o psicólogo deve buscar aliviar o sofrimento do
paciente, propiciando o falar de si, da doença, da família, de seus medos, fantasias,
esclarecendo suas dúvidas”. Nas suas funções inclui também a atuação do psicólogo, no
sentido de preparar o paciente para a hospitalização, exames, cirurgia e inclusive para a morte,
trabalhando com ele de modo individual ou em grupo.
Tendo em vista, através de um panorama geral, as mudanças que foram ocorrendo
na percepção e na maneira das pessoas enfrentarem a morte ao longo do tempo, percebeu-se
uma necessidade de conhecer mais sobre esse fato em relação ao profissional da saúde que, na
modernidade passou a encará-la mais de perto. Portanto, o foco que este trabalho se propôs a
ter então, foi o psicólogo.
Para o psicólogo que trabalha no hospital, a morte poderá se fazer presente no seu
dia-a-dia, fazendo parte do seu cotidiano. O psicólogo também é humano e por isto, acreditase que, como tal, tenha dificuldades para enfrentar a morte, assim, também os estudantes de
Psicologia, que ainda estão em processo de formação e como o profissional, esperam que o
paciente seja curado e o seu tempo de vida seja prolongado. (CAMPOS, 1995). Assim, diante
das dificuldades que existem, a subjetividade dos estudantes de psicologia e profissionais da
área pode se chocar com a morte, quando esses se dão conta da finitude.
12
Considerando que o psicólogo e em especial, estudantes de Psicologia poderão
também sofrer com a morte de pacientes hospitalizados e esse sofrimento pode ser maior se o
profissional não estiver preparado para lidar com essa situação. È necessário instrumentalizarse ao longo da sua formação para que, sejam exitosos nas suas intervenções junto à equipe de
saúde, familiares e pacientes, a fim de prepará-los melhor para a situação de morte. Dessa
forma, chegou-se diante do seguinte questionamento:
Qual a percepção de estudantes de Psicologia, em relação à morte de
pacientes por eles atendidos no contexto hospitalar?
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Compreender a percepção de estudantes de Psicologia, em relação à morte de
pacientes atendidos por eles no contexto hospitalar.
1.2.2 Objetivos Específicos
- Verificar o significado da morte para estudantes de Psicologia;
- Identificar os pensamentos e as emoções desses estudantes, diante da morte de
pacientes hospitalizados por eles atendidos;
- Identificar as estratégias de enfrentamento apresentadas por esses estudantes,
diante da morte de pacientes hospitalizados por eles atendidos.
13
1.3 JUSTIFICATIVA
A morte é um tema relevante a ser tratado pelos profissionais de Psicologia,
porque ela faz parte da vida do ser humano. A Psicologia tem o propósito de promover o
alívio e a diminuição do sofrimento das pessoas, o qual pode ser causado também pelo
processo de morte que o próprio indivíduo está vivenciando ou quando esse está lidando com
a morte de pessoas próximas. Portanto, a morte, objeto desse estudo, constituiu-se em um
tema significativo para que haja a reflexão, a sensibilização e questionamentos para o
psicólogo.
Segundo Kovács (1992), a Psicologia enquanto: ciência, arte, reflexão e prática
cuidam do ser humano na sua relação com o outro e com o mundo, propondo-se a auxiliar as
pessoas a viverem melhores e mais felizes. A Psicologia trabalha também para que as pessoas
tenham uma qualidade de vida, lidando com sentimentos e emoções que elas vivenciam.
Dessa forma, fez sentido estudar a morte, porque as questões que a envolvem estão
relacionadas às emoções e provocam alterações no estado emocional das pessoas.
Para tanto, Kovács (1992) diz que, a morte e o morrer são questionamentos que
podem estar presentes nas diferentes áreas de atuação do psicólogo. As perdas, luto e morte
fazem parte do desenvolvimento humano, temas com os quais o Psicólogo lida
frequentemente.
Ainda, segundo Kovács, a morte é um problema na atuação do psicólogo,
considerando que:
[...] Hoje em dia este problema vem se tornando muito importante para o psicólogo,
que está sendo chamado para trabalhar em hospitais, clínicas, com pacientes
portadores de doenças graves e também com suicidas. Pouco se tem escrito sobre
este profissional diante da questão da morte. O que não deixa de ser um paradoxo,
porque se a morte é uma preocupação universal do homem, e a psicologia estuda a
relação do homem com o mundo, então a morte deveria ser área de preocupação
primordial da psicologia, como campo de estudo e como prática profissional.
(KOVÁCS, 1992, p. 229).
Dessa forma, a reflexão sobre o tema é fundamental para o futuro profissional.
Considerou-se que os estudantes de Psicologia, principalmente aqueles que realizam estágio
de Psicologia Hospitalar, precisarão de um suporte para que, estejam mais preparados para
atuarem melhor nas situações decorrentes da morte de seus pacientes hospitalizados.
14
Quanto mais houver trabalhos de pesquisa realizados, reflexões e exploração deste
tema, o acesso aos recursos para o psicólogo enfrentar a morte na sua atuação profissional,
poderá ser facilitado. Sabe-se que é difícil para as pessoas falarem sobre a morte e essa
dificuldade se dá também nas Universidades, porque a morte é vista como um tabu.
(CAMON, 2002). Por esses motivos, entre outros, que estudos e reflexões sobre a morte
poderão facilitar o seu enfrentamento.
O interesse pelo tema surgiu diante do desejo de compreender melhor a percepção
que as pessoas têm em relação à morte, entender como elas lidam quando estão diante da
morte, vivenciada por uma pessoa próxima e também entender melhor qual é a percepção do
estudante de Psicologia sobre a morte do paciente que ele atendeu. Tal compreensão poderá
auxiliar os estudantes de Psicologia no trabalho com seus pacientes, principalmente no âmbito
hospitalar. Além disso, a morte é um tema que suscita muita curiosidade e dessa curiosidade
também partiu o interesse.
Esse tema é relevante academicamente pelo fato de que, pouco se discute nas
Universidades sobre a morte e se faz necessário tratar mais sobre esse assunto, ainda mais nos
cursos de Psicologia que esse tema precisa ser bastante trabalhado. Existem poucas
Universidades brasileiras que contemplam disciplinas nos seus currículos acadêmicos do
curso de Psicologia, que trabalham o tema da morte. (KOVÁCS, 1992).
Essa ausência de disciplinas que tratem da morte pode implicar na formação do
psicólogo e na sua preparação, podendo também ocasionar dificuldades para o profissional
bem como, para o estudante lidar com a morte de seus pacientes, no caso de psicólogos que
atuam no contexto hospitalar. Dessa forma, já que existe a escassez dessas disciplinas, e, não
é tão simples haver uma mudança em nível nacional nos currículos com relação a esse
problema, torna-se um desafio realizarmos pesquisas no meio acadêmico, contemplando esse
tema.
Para fundamentar a relevância científica e acadêmica desse estudo, foram
realizadas pesquisas nos currículos do Curso de Graduação em Psicologia, de algumas
universidades brasileiras1, conforme estará explicitado na tabela a seguir, o que confirmou a
insuficiente oferta de disciplinas relacionadas ao tema da morte nas seguintes universidades:
1
UFBA. Disponível em: http://www.ffch.ufba.br/ffch_graduacao.html. Acesso em: 30 abr. 2008;
UFG. Disponível em: http://www.prograd.ufg.br/uploads/files/matriz-curricular-psicologia.pdf. Acesso em: 30
abr. 2008;
UFPR.
Disponível
em:
http://www.ufpr.br/adm/templates/p_index.php?template=1&Cod=390&hierarquia=6.3.2.42.1. Acesso em: 30
abr.
2008;
UFSM.
Disponível
em:
http://www.ufsm.br/pppnovo/pdf/cursos_de_graduacao/psicologia/08_curriculo/01_estrutura_curricular/01_cont
15
Tabela 1 – Oferta de disciplinas relacionadas ao tema da morte em algumas universidades
brasileiras.
Universidade
Oferece a disciplina com o
Não Oferece a disciplina
tema da morte
com o tema da morte
UFBA
X
UFG
X
UFRJ
X
UFPR
X
UFSM
X
UFSC
X
UNB
X
USP
X
PUCMG
X
PUCRJ
X
PUCSP
X
PUCPR
X
UCPEL
X
PUCRS
X
Fonte: Sites das Universidades Brasileiras2
Essa pesquisa realizada nas grades curriculares favoreceu esse trabalho, por ter
constatado que, dentre os Cursos de Psicologia oferecidos por todas essas universidades
brasileiras, há uma disciplina que aborda o tema da morte, que é oferecida pela USP, porém
eudos_das_diretrizes_curriculares_e_disciplinas_da_ufsm/conteudos.pdf. acesso em: 30 abr. 2008; UFSC.
Disponível
em:
http://notes.ufsc.br/aplic/curgrad.nsf/27985f7d0220152b8525639200750d4d/d1f5cab7c5cf487603256e16005622
52/$file/psicologia%20%5bcurriculo%2019911%5d.pdf. acesso em: 30 abr. 2008;
UNB. Disponível em: http://www.serverweb.unb.br/matriculaweb/graduacao/curriculo.aspx?cod=2739. Acesso
em: 30 abr. 2008; USP. Disponível em: http://www.ffclrp.usp.br/. Acesso em: 07 maio 2008; PUCMG.
Disponível
em:
http://www.pucminas.br/cursos/index_graduacao.php?tipo=1&pagina=3&menu=53&cabecalho=1&lateral=1&c
urso=2&mostra=disciplinas. Acesso em: 30 abr. 2008;
PUCRJ. Disponível em: http://www.puc-rio.br/ensinopesq/ccg/psicologia.html#sobreocurso. Acesso em: 30 abr.
2008; PUCSP. Disponível em: http://www.pucsp.br/psicologia/estrutura_curso/index.htm. Acesso em: 07 maio.
2008; PUCPR. Disponível em: http://www.pucpr.br/cursos/graduacao/ccbs/psicologia/estrutura_curricular.php.
Acesso em: 30 abr. 2008;
UCPEL. Disponível em: https://www.ucpel.tche.br/sapu/mostradisciplinascurso.php3?codcurso=2514. Acesso
em: 30 abr. 2008; PUCRS. Disponível em: http://www.pucrs.br/psico/. Acesso em: 02 maio. 2008; UFRJ.
Disponível em: http://www.psicologia.ufrj.br/portal/course/index.php. Acesso em: 15 maio. 2008
2
Id.
16
trata-se de uma disciplina optativa, que se denomina de Psicologia da Morte, de cinco (5)
créditos, implantada pela primeira vez em 1986 no curso de Psicologia.
Além dessa universidade, constatou-se pela pesquisa realizada em revistas
indexadas, que a UFRJ disponibiliza uma disciplina relativa à morte, de forma opcional, que
se chama Tanatologia, com quatro (4) créditos.
É importante que haja principalmente na formação acadêmica de psicologia essa
disciplina, pois é possível imaginar as dificuldades enfrentadas pelos estagiários de
psicologia, iniciantes nesse processo e a necessidade que eles possuem, de terem um suporte
maior, para uma atuação mais eficaz diante da situação. Assim, essa pesquisa justificou-se
também pela necessidade de compreensão diante da morte, para que haja uma possível
preparação de estudantes de psicologia, que poderão vivenciar essa realidade com pacientes
hospitalizados, como também poderão se deparar com pacientes que estão vivenciando as
suas perdas. Esse trabalho pretende contribuir também para a conscientização da importância
de se falar sobre a morte, aprendendo a não negá-la ou temê-la, e sim, facilitar o acesso às
estratégias de enfrentamento funcionais ou saudáveis diante da situação.
Sabe-se que há muitos trabalhos realizados, com base no tema da morte.
Entretanto, percebeu-se, através de pesquisa realizada nas revistas científicas indexadas, que
existem poucos trabalhos acadêmicos que falem do psicólogo ou do estudante de psicologia,
lidando com a morte no contexto hospitalar, onde essa situação pode fazer parte da sua rotina
diária e da sua vida profissional.
E quando se trata de trabalhos realizados sobre a morte, não se pode deixar de
citar as contribuições de Kovács. Ela é uma das mais importantes escritoras brasileiras sobre a
morte. As suas contribuições mais importantes foram publicações sobre o tema, através do
livro Morte e Desenvolvimento Humano, Vida e Morte e outros. Num dos seus artigos, ela
ressalta a importância que Wilma da Costa Torres tem sobre esse tema.
Torres foi pioneira da Tanatologia no Brasil, tendo que desbravar campos ainda
desconhecidos e lutar contra preconceitos. Ela deu enorme contribuição para essa área.
Foi na década de 1970 que surgiram as suas primeiras publicações sobre o tema nos
Arquivos Brasileiros de Psicologia, envolvendo pesquisas referentes ao
desenvolvimento do conceito da morte em crianças nos vários estágios, sua principal
área de pesquisa. (KOVÁCS, 2004, p. 95).
Segundo Kovács (2004), em 1981 foi criado por Torres o primeiro curso de
especialização em Tanatologia no Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), da
17
Fundação Getúlio Vargas com os temas: Significado humano, histórico, antropológico e
social da morte; Morte e educação; Morte institucionalizada e Psicologia do doente terminal.
“Naquele contexto, desenvolveu também, um setor de documentação e consultoria que
chegou a reunir 2000 fichas em 44 entradas, envolvendo vários temas relacionados ao luto,
suicídio, abordagem do paciente terminal, entre outros.” (KOVÁCS, 2004, p. 95).
Segundo Kovács (2004), a área de Tanatologia foi desenvolvida por Torres
também na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ministrando disciplinas na
graduação e pós-graduação. Ela deixou vários livros e artigos e sua contribuição se torna
perene para nós.
Ainda se tratando das contribuições em pesquisa e trabalhos sobre a morte, há
muitas outras publicações realizadas, que são relevantes para o aprofundamento no assunto e
para a promoção de possíveis intervenções diante desse evento que faz parte da vida. Entre os
principais autores sobre esse tema, não se pode esquecer de citar Elizabeth Kübler-Ross com
o seu clássico sobre “A morte e o Morrer”, onde conta experiências com pacientes em fase
terminal, Phillipe Áries, com seu clássico sobre a Morte no Ocidente e outras obras.
Após tratar sobre a relevância científica e acadêmica desse trabalho, coube expor
a relevância social que esse tema representa em uma pesquisa. Esse estudo terá a sua
contribuição e importância socialmente, pela possibilidade de apresentar subsídios para se
pensar em procedimentos que possam ser realizados pelos profissionais de psicologia, em
relação à morte de pacientes hospitalizados. Dessa forma, poderá apresentar meios de
proceder com intervenções para a preparação do paciente para a sua morte, preparação dos
seus familiares para o enfrentamento da morte de seu ente querido e o seu processo de luto,
como também a promoção de cuidados e atenção para com a equipe de saúde, especialmente,
a preparação do estudante de psicologia, diante da perda de seus pacientes.
A morte é um tema de grande importância e profundidade na vida das pessoas,
pois ela faz parte do desenvolvimento humano. Por isso, é necessário que as universidades, as
pessoas e a sociedade em geral se acostumem a falar e escrever sobre a morte, como também
saber enfrentá-la, pois talvez somente assim, terão a consciência sobre ela e sobre a finitude.
18
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 PSICOLOGIA DA SAÚDE E PSICOLOGIA HOSPITALAR
A Psicologia começou a trilhar novos caminhos para atender às necessidades e
demandas que aparecem na sociedade, decorrentes das suas mudanças. Isso ocasionou a
ampliação da sua área de atuação. Ela deixa de ser um conhecimento exclusivamente clínico e
começa a atuar e se expandir para outras áreas além da organizacional, a educacional e a
clínica para a área jurídica, a área da saúde, como a Psicologia Hospitalar e outras.
Essas transformações que vêm ocorrendo na Psicologia são frutos de uma
ampliação da percepção dessa ciência, frente à totalidade que constitui o ser humano,
voltando-se para uma visão histórica e social dos indivíduos. Através dessa visão em relação
ao ser humano, segundo Camon (2002), a Psicologia passa a se preocupar também com a sua
saúde, começa a se inserir nessa área, dando base à constituição da Psicologia da Saúde, que
abrange a Psicologia Preventiva e de Tratamento.
Dessa maneira, em relação à Psicologia da Saúde, Camon considera então, que ela
deve ser:
[...] uma psicologia que considere a compreensão orgânica da psicossomática, da
psico-oncologia, os avanços da psiconeuroimunologia, as especificidades da
psicologia hospitalar nos detalhamentos de sua intervenção nas diferentes doenças
apresentadas pelo paciente e, acima de tudo, uma psicologia que leve em conta a
historicidade do paciente. (CAMON, 2002, p.11).
E como ela deve ser uma psicologia que, considere a compreensão da
psicossomática, é preciso entender essa relação. Assim, a psicossomática está entre os
aspectos de grande atenção da Psicologia da Saúde, como também chama a atenção da
medicina. A psicossomática compreende a relação da emoção com a alteração orgânica de um
indivíduo e a sua interação com o meio ambiente que ele vive, ou seja, [...] “estuda como o
fato corporal está integrado no fato psíquico, que, por sua vez, está integrado no fato
relacional ambiental. Essa integração biopsicossocial é o objeto da ciência psicossomática”
(RIECHELMANN, 2002, p. 182).
Como mencionado o conceito biopsicossocial, é preciso entender que ele surgiu
com a intenção de ampliar a visão que existia que era uma visão biomédica do profissional da
19
saúde, o médico sobre o indivíduo doente, que o limitava e o reduzia ao aspecto biológico da
sua doença. A partir daí, o indivíduo passa a ser visto também como um ser psíquico e social
e começa a se perceber a necessidade de inclusão de outros profissionais na área da saúde,
além dos médicos e enfermeiros e entre outros, o psicólogo para atender a outras demandas,
surgindo então à necessidade de se formar uma equipe interdisciplinar. Dessa maneira,
segundo Neme (2003):
O fortalecimento da Psicologia da Saúde estimula o desenvolvimento de:
concepções biopsicossociais sobre saúde e adoecimento; conhecimentos e técnicas
que permitam intervir para a promoção, manutenção, prevenção e tratamento da
doença; e competências para a inserção interdisciplinar da Psicologia em realidades
sócio-institucionais cada vez mais complexas. (NEME, 2003, p. X).
Além dessas relações da Psicologia com a saúde, há também a psico-oncologia
que está entre os elementos que integram a Psicologia da Saúde e é outro exemplo de trabalho
interdisciplinar. Ela refere-se a um novo e recente campo de conhecimento, que faz a união de
intervenções da medicina com especialidade em oncologia e intervenções que provém da
psicologia. Ela se propõe à realização de um trabalho interdisciplinar, pois de um lado está o
médico, promovendo intervenções de caráter biológico e de outro, o psicólogo, intervindo no
âmbito da subjetividade.
Costa Júnior (2001, p.37), considera que:
É possível descrever a psico-oncologia como um campo interdisciplinar da saúde
que estuda a influência de fatores psicológicos sobre o desenvolvimento, o
tratamento e a reabilitação de pacientes com câncer. Entre os principais objetivos da
psico-oncologia está a identificação de variáveis psicossociais e contextos
ambientais em que a intervenção psicológica possa auxiliar o processo de
enfrentamento da doença, incluindo quaisquer situações potencialmente estressantes
a que pacientes e familiares são submetidos.
Sendo assim, a psico-oncologia busca proporcionar ao paciente com câncer, uma
qualidade de vida diante dos procedimentos e eventos estressantes que possa sofrer, fazendo
com que ele encontre a melhor forma de enfrentar o seu tratamento. (COSTA JÚNIOR,
2001). A psico-oncologia então, busca proporcionar uma qualidade de vida aos seus pacientes
oncológicos.
A psiconeuroimunologia é outro conceito que compõe a Psicologia da Saúde. Esse
conceito surge com a intenção de ampliar ainda mais a visão biopsicossocial do indivíduo.
Sendo assim, já não basta mais somente uma atuação interdisciplinar ou multidisciplinar dos
profissionais da saúde, surgindo também o conceito de transdisciplinariedade, atrelado ao
20
conceito de psiconeuroimunologia. Através desses conceitos, percebe-se que “numa equipe
verdadeiramente transdisciplinar, os profissionais arrolados saberão dividir suas parcelas de
responsabilidade e sincronizar-se com a atuação do outro de forma adequada, conferindo-lhe
igual porção de competência” (VASCONCELLOS, 2002, p. 33).
A transdisciplinariedade se propõe a relação entre todos os profissionais, para a
promoção do bem estar e da recuperação da saúde do paciente, onde todas as profissões são
valorizadas pela sua competência e importância no tratamento. Sendo assim, a
psiconeuroimunologia apresenta novas possibilidades para o futuro do conhecimento na área
da saúde, entendendo que:
[...] a divisão atualmente existente, entre ciências médicas e ciências psicológicas
não tem mais sentido. Não se justifica mais formarem médicos e psicólogos
separadamente. Essas duas profissões tratam da saúde e por isso se completam e se
integram. Somente uma formação médico-psicológica ou psicomédica poderia
então, instrumentalizar o profissional tornando-o capaz de compreender o fenômeno
saúde ou doença de uma forma integrada. Não mais se justifica que o paciente seja
atendido fragmentadamente. (VASCONCELOS, 2002, p. 33).
Dessa forma, podemos perceber que essa consideração revela que, o psicólogo
deverá ter noção dos aspectos biológicos e objetivos do fenômeno saúde-doença e o médico
dos aspectos psicológicos e subjetivos dessa ambigüidade, sendo que terão de ser
consideradas todas as dimensões que envolvem o ser humano nessa relação. Dessa forma, se
faz uma relação da psiconeuroimunologia com a transdisciplinariedade.
Portanto, a psiconeuroimunologia integra os aspectos psíquicos, neurológicos e
imunológicos, sendo eles relacionados a tudo que envolve o ser humano, provocando
alterações no seu estado, através das influências que algo tem sobre outro. Por exemplo, não
há como se tratar de emoção sem considerar o aspecto cognitivo, como também, falar em fé
sem um corpo que a contenha, falar em fenômenos físicos, sem as reações químicas e assim
como todos os outros aspectos que estão interligados. (CAMPOS, 1992). Mas esse conceito já
está sofrendo ampliação, a fim de envolver outros aspectos, e já se comenta sobre a
Psiconeuroimunoendocrinologia, que irá abranger mais os aspectos que envolvem a saúde do
ser humano.
Assim, a saúde vai ampliando seus conceitos e modificando-os para o seu
aperfeiçoamento diante do tratamento com o ser humano, para que assim, com o objetivo de
prevenir as doenças e promover a reabilitação dos pacientes, e de acordo com as
possibilidades, prolongar a vida. E a Psicologia da Saúde vai caminhando junto dessas
21
transformações, para que, dentro da sua proposta, consiga contribuir também para, melhorar a
qualidade de vida das pessoas.
Essas “mudanças na forma de inserção dos psicólogos da saúde e a abertura de
novos campos de atuação têm introduzido transformações qualitativas na prática que
requerem, por sua vez, novas perspectivas teóricas”. (SPINK apud CHIATTONI, 2002, p.
74). Percebe-se que a Psicologia Hospitalar também está fazendo o seu movimento. Dessa
forma, ela vem tomando outros delineamentos no âmbito da investigação científica.
(GIANNOTTI apud CHIATTONI, 2002).
O psicólogo da saúde atua em determinados campos, se apropriando do modelo
clínico, organizacional e educacional e entre os seus campos de atuação, está o hospital,
inserção que constitui a Psicologia Hospitalar. Portanto, para falar sobre a Psicologia
Hospitalar é necessário entender um pouco sobre a história do hospital.
Segundo Lima Gonçalves (1983) e Borba (1985) (apud CAMPOS, 1995), o
hospital nasceu na Antiguidade com uma função mais social do que terapêutica, recolhendo as
pessoas das ruas para prestar-lhes uma devida assistência. Entre elas, estavam os pobres, as
pessoas consideradas insanas, os enfermos, viajantes e peregrinos, assim como todas as
pessoas que não tinham recursos mínimos para viver.
Mas o hospital começa a fazer sua história mesmo a partir da Era Cristã, por volta
do ano 360 d.C. com a função de restaurar a saúde, prestando assistência, de acordo com as
condições que existiam na época. Assim, “Os primeiros hospitais foram criados como locais
de isolamento, onde a caridade se exercia como uma prática de cristianismo” (CAMPOS,
1995, p. 18). Esses eram os primeiros modelos de assistência prestados através da caridade.
Conforme a sua história e o seu desenvolvimento, o hospital passa por três
momentos diferentes enquanto instituição que atende pessoas doentes:
De acordo com Campos (1995), a primeira instituição pública ou privada
denominada hospital começou a atuar com o tratamento dos doentes, tendo uma função
curativa. Depois foi criada uma segunda instituição, ligada ao poder público, que se
preocupava com a prevenção das doenças, que estava voltada aos problemas de saúde das
comunidades, que eram as unidades de saúde. E, com a superação da divisão entre o
atendimento curativo e preventivo, o terceiro momento de evolução dos hospitais se deu, pela
necessidade de atuar em todos os serviços de saúde, desde a prevenção até a reabilitação,
atendendo a toda a população.
O hospital deve ser o lugar que procure manter o bem-estar físico, social e mental
do homem, atendendo as necessidades que há na sociedade, considerando as dificuldades, os
22
anseios e as angústias das pessoas. Segundo Lima Gonçalves (1983 apud CAMPOS, 1995, p.
21):
[...] o hospital representa a própria força do homem na batalha contra a morte,
recuperando, reabilitando e promovendo a saúde e, sendo um sistema aberto, sofre
as influências de seu meio, da evolução e mudanças que ocorrem na técnica, na
educação, na comunicação, na sociologia, na economia e na política. Nesse sentido é
que deve haver uma adequação do hospital às exigências decorrentes das
características da sociedade que ele serve, correspondendo às expectativas e às
necessidades de saúde da população.
Nesse caso, como o hospital é uma instituição que cuida da saúde da população e
a saúde não é somente o bem-estar físico do indivíduo, era preciso cuidar também dos
aspectos psíquico e social. Conforme o conceito dado pela Organização Mundial da Saúde,
ela designa “o completo bem-estar físico, psíquico e social, ocorrendo conjuntamente, e não
apenas a ausência de doença ou enfermidade”. (CAMPOS, 1995, p. 54).
A partir disso, surge o conceito biopsicossocial sobre o ser humano, surgindo
também à necessidade de inclusão de outros profissionais que atuem junto do médico, cada
um com um papel específico na manutenção da saúde tanto individual, como coletiva.
(CAMPOS, 1995). E, junto da inclusão desse conceito, começa então a existir o
reconhecimento da interdisciplinariedade.
A interdisciplinariedade, de acordo com Campos (1995), determina que cada
profissional, com a sua especialidade vai atuar junto dos outros, buscando atingir o mesmo
objetivo. Entre os profissionais da saúde que deverão atuar juntos, a fim de promover a
interdisciplinariedade, está o psicólogo. Sendo assim, a partir daqui, será dado ênfase a esse
profissional, para tratar sobre a Psicologia Hospitalar.
Não é fácil inserir o modelo biopsicossocial na instituição hospitalar, pois ainda é
muito forte a presença do modelo biomédico. Segundo Lima Gonçalves (1983 apud
CAMPOS, 1995), foi no fim do século XIX e início do século XX que ocorreram os avanços
tecnológicos e o surgimento da medicina científica, sendo assim, a função e o papel dos
hospitais se transformaram para o tratamento das doenças, servindo o indivíduo e a
comunidade. O poder e a autonomia sobre o funcionamento do hospital eram concentrados no
grupo médico, predominando o modelo biomédico de atuação, frente ao tratamento das
doenças. Esse modelo valoriza o aspecto biológico das doenças, reduzindo o indivíduo que
possui uma enfermidade a um órgão doente. Em função disso, também há muitas resistências
23
de outros profissionais da saúde e da própria instituição hospitalar, com relação à atuação do
psicólogo, dificultando e impedindo o seu trabalho.
A entrada do psicólogo no hospital, não era esperada pelos outros profissionais da
saúde. Mas ainda, segundo Campos (1995), a Psicologia Hospitalar é extremamente
importante, pois quando uma pessoa busca atendimento hospitalar, ela não vai somente com
seu corpo e o seu órgão doente, mas leva também a sua subjetividade, envolvendo a sua
família que, participa do seu processo de adoecimento, hospitalização e recuperação e, todos
necessitam de atendimento psicológico.
Sobre o paciente e o seu adoecimento, percebe-se que não é simplesmente uma
alteração funcional, mas que a doença se relaciona com suas vivências passadas e que, além
das suas angústias, depressões e outros fatores, há algo mais profundo que abrange o seu
modo de ser, sua história e seu modo de relacionar-se com o mundo. (CAMPOS, 1995). Dessa
forma, é necessário que haja sempre um atendimento psicológico aos pacientes, a fim de
trabalhar com eles, questões que vão além do seu aspecto físico.
Em relação à atuação do Psicólogo no hospital, Campos (1995, p. 14) considera
ainda que:
O psicólogo tem uma atuação dentro do Hospital, como um profissional da saúde,
envolvendo o indivíduo e as áreas social e da Saúde Pública, buscando sempre o
bem-estar individual e social, utilizando também informações das áreas de
Medicina, Enfermagem, Serviço Social, Nutrição e outras áreas afins.
No entanto, os recursos técnicos e metodológicos utilizados, que provém de outras
áreas da Psicologia, como também, as suas bases teóricas, nem sempre proporcionam uma
adequação das atividades realizadas pelo psicólogo no contexto hospitalar, dificultando
também a delimitação da identidade da Psicologia Hospitalar. Dessa maneira, é preciso que os
psicólogos sempre reflitam sobre o seu saber e a sua prática em psicologia hospitalar, para
que estejam sempre associados ao seu objeto de estudo dentro do hospital, que são o paciente,
a doença e a saúde, como também os seus aspectos biopsicossociais envolvidos.
(CHIATTONE, 2002).
O psicólogo precisa rever a sua atuação no ambiente hospitalar, pois está muito
presente ainda no exercício da sua função nas instituições de saúde, o modelo clínico
tradicional. O modelo clínico tradicional, sendo utilizado no contexto hospitalar pela
psicologia pode provocar um exercício desastroso, causando o distanciamento da realidade
institucional, a inadequação na assistência e o exercício do poder por um falso saber.
24
Esse modelo trabalha entre outras, questões individuais que, envolvem o
comportamento, os interesses, os problemas do cotidiano, mudanças e autoconhecimento,
além de questões relativas a experiências afetivas e cognitivas dos indivíduos. (CAMON,
2002). Sendo assim, o modelo clínico tradicional apresenta um foco diferenciado da demanda
hospitalar, deixando de atender às necessidades inerentes a esse contexto.
O papel da Psicologia Hospitalar é atender às demandas existentes que, estão
relacionadas ao adoecimento e à hospitalização dos pacientes, atendendo as necessidades de
acordo com a instituição. Dessa forma, ela exige mesmo de psicoterapeutas experientes,
conhecimentos mais específicos e técnicas mais adequadas a essa situação. (PENNA, 1992
apud CAMON, 2002).
Com a utilização de técnicas mais específicas dentro do hospital, o psicólogo
poderá satisfazer mais as necessidades do paciente frente ao seu adoecimento e à sua
hospitalização, através de uma atuação mais focada nesse contexto. Sendo assim, o psicólogo
no hospital deverá atuar, a fim de buscar o alívio do sofrimento, dando a oportunidade do
paciente falar sobre si, sobre a família, sobre a sua doença, as suas fantasias e seus medos
relacionados ao seu adoecimento, procurando tirar-lhe todas as suas dúvidas. (CAMPOS,
1995).
Cabe ao psicólogo também, preparar o paciente para a sua internação, como
também para receber alta do hospital, ajudando-o a encarar uma nova etapa de sua vida. Nesse
caso, o psicólogo pode atuar de modo individual ou em grupo, preparando o paciente também
para exames, cirurgias e para a morte. (CAMPOS, 1995).
A morte é uma realidade dentro do hospital que, abala todas as pessoas que estão
à sua volta e é uma situação que, familiares e profissionais da saúde e, em especial o
psicólogo, enfrentarão diante do paciente hospitalizado. Segundo Camon (2002), ela
representa a situação mais difícil de ser encarada por todas as pessoas, os familiares e amigos
pela perda de seu ente querido e os profissionais da saúde, entre eles, o psicólogo, por
contribuírem e lutarem no contexto hospitalar para a manutenção da vida das pessoas.
O hospital está marcado pela luta constante entre a vida e a morte, pela esperança
de melhora, cura, minimização ou suspensão do sofrimento. Está marcado também pela
presença da morte, que provoca tensão nos profissionais da saúde que, estão preparados e
treinados para salvar vidas, mas sempre angustiados frente à perspectiva da morte, da derrota,
pois a instituição hospitalar existe para a cura, não admitindo nada que transcenda esse
princípio. (CAMON, 2002). Dessa forma o hospital, a Psicologia da Saúde e a Psicologia
Hospitalar têm uma bela função, que através da união dos profissionais se faz o trabalho e a
25
luta para preservar a vida, promovendo e recuperando a saúde, através da busca pelo bemestar total das pessoas, porém sabe-se infelizmente, que nem sempre isso é possível.
2.2 A FORMAÇÃO ACADÊMICA EM PSICOLOGIA
Como esse projeto de pesquisa está relacionado ao estudante de psicologia, é
necessário tratar-se também de forma sintetizada, a questão da sua formação acadêmica, com
foco no entendimento da sua atuação no contexto hospitalar, diante de pacientes
hospitalizados, que estão em processo de morte. Dessa forma, esse texto se propõe questionar,
o suporte que essa formação oferece para o estudante de psicologia, para o enfrentamento da
morte de seus pacientes.
Em relação à formação acadêmica, é interessante constatar que, a Psicologia,
pressupondo o estudo da relação do homem com o mundo, praticamente desconsidere o
estudo da morte, o que é evidenciado também nos trabalhos e publicações na área. Dessa
maneira, mesmo a morte sendo uma preocupação universal do homem, a psicologia
permanece distanciada desse aspecto importante. Constata-se que, diariamente o psicólogo, na
sua atuação profissional, se depara com as mais diversas situações, onde a morte está presente
no cotidiano. A morte do colega, a separação, a morte do filho, o temor à morte, as perdas e
assim por diante. (CAMON, 2002)
Além disso, a morte ronda os hospitais e, é a inimiga a ser vencida nesse contexto,
refletindo também o “fracasso” das condutas terapêuticas. Ela é inerente à existência humana,
mas é também um medo universal, um tabu e que os profissionais da saúde percebem como se
não fosse possível para si. (CAMON, 2002). Dessa forma, é importante que a Psicologia
esteja mais atenta para essa realidade e possa oferecer uma formação que esteja mais
adequada aos estudantes, abrangendo aspectos como esses que, também são essenciais para a
atuação profissional dos psicólogos.
De acordo com Camon (2002), somente há poucos anos, as faculdades de
psicologia passaram a se preocupar com a necessidade dessa nova área. “Porém, nos
currículos universitários, o tema ainda não está incluído, o que causa dificuldades, quando o
psicólogo despreparado, adentra ao contexto hospitalar”. (CAMON, 2002, p. 134).
A maioria das universidades ainda preserva nos seus currículos, uma formação em
Psicologia com o seu foco voltado para a atuação em clínica, o que dificulta a atuação dos
26
psicólogos em outras áreas. Deveria existir uma formação mais generalista, que
disponibilizasse mais atenção a outras áreas da Psicologia, para que o psicólogo estivesse
mais preparado, para lidar com questões que vão além do que se percebe em clínicas ou em
consultórios.
Nos hospitais a realidade é estranha e distante do psicólogo, sem que ele consiga
perceber que existem para si também, possibilidades de adoecimento e morte. De acordo com
Camon (2002), a formação em Psicologia não proporciona ao psicólogo que atua no contexto
hospitalar, perceber que ele também é humano como seus pacientes, não permite esses
envolvimentos, ensinando o psicólogo a estar acima dessas questões, procurando manter uma
neutralidade máxima. Então, se o psicólogo está sendo preparado para manter essa
neutralidade, surgem questionamentos sobre a sua preparação para atuar nos hospitais, diante
do processo de morte dos pacientes, sobre o fato de que a sua formação não lhe deu esse
suporte.
Tanto o psicólogo como os outros profissionais da saúde foram preparados para
proporcionar a cura dos pacientes e não para a morte deles. Segundo Kovács (1992 apud
CAMON, 2002), uma das formas mais usadas pelo profissional é a formação reativa, a
conquista da doença, o desafio da morte e a tentativa de tomar medidas heróicas para salvar o
paciente a todo custo.
Como trabalhar com as questões da morte faz parte da tarefa do psicólogo no
hospital, através do seu contato diário com ela, o profissional poderá “[...] reexperimentar
medos infantis de separação, abandono e o medo de sua própria mortalidade.” (KOVÁCS,
1992 apud CAMON, 2002, p. 122). O psicólogo, diante da morte de pacientes hospitalizados
poderá reviver emoções e experiências relacionadas à sua infância, sofrendo um impacto que
está relacionado com questões pessoais suas que, de certo modo, não foram resolvidas, o que
dificulta o seu trabalho e o seu contato frente a essa situação. Sendo assim, “reconhecer as
questões que envolvem a morte e o morrer torna-se difícil, porque sempre o psicólogo reporta
aos seus sentimentos, questionamentos sobre a sua própria mortalidade, a sua própria vida”.
(CAMON, 2002, p. 135).
Diante dessas dificuldades então, o psicólogo precisa se perceber enquanto pessoa
igual ao seu paciente, definindo a sua tarefa no contexto hospitalar, através do
reconhecimento pessoal e profissional da morte. (CAMON, 2002). Mas, para que haja essa
possibilidade, é importante que o psicólogo receba uma formação que, lhe dê o devido suporte
e prepare-o para essa missão. Dessa forma, ele conseguirá desenvolver melhor a sua tarefa,
podendo atingir um contato mais próximo com o paciente e o seu sofrimento, auxiliando-o e
27
preparando-o para que tenha uma boa recuperação e no caso de morte, para que, esse consiga
vivenciar o seu processo de morte mais adequado e com isso, merecer uma morte digna.
2.3 PSICOLOGIA E MORTE
2.3.1 A morte e suas representações no desenvolvimento humano
Esse capítulo apresentará questões sobre a morte diante do ser humano,
relacionada às suas representações, a forma como ele encara esse processo e como ele se dá,
de acordo com as fases do desenvolvimento humano. Dessa forma, será possível entender um
pouco, como as atitudes e percepções sobre a morte se processam para o ser humano na sua
vida.
Em cada fase do desenvolvimento da pessoa, a morte é vista e percebida de forma
diferente, pois está relacionado às suas vivências, o seu conhecimento, à sua idade e a outros
fatores que influenciam para essa diferenciação. Cada pessoa tem a sua própria representação
da morte, seja pela tradição cultural ou familiar de cada uma ou até mesmo pela investigação
pessoal, atribuindo a ela personificações, qualidades e formas. (KOVÁCS, 1992).
Segundo Kovács (1992, p. 2),
Desde todos os tempos em busca da imortalidade, o homem desafia e tenta vencer a
morte. Nos mitos e lendas essa atitude é simbolizada pela morte do dragão ou
monstro. Os heróis podem conseguir tal façanha, mas os mortais não. E o homem é
um se mortal, cuja principal característica é a consciência de sua finitude, isso o
diferencia dos animais, que não têm essa consciência [...].
Mas, embora o homem tenha a consciência de sua finitude, ele busca a eternidade,
com o desejo de continuar sempre jovem, preservando a sua força e beleza e usufruindo de
seus prazeres da juventude. Ainda, de acordo com Kovács (1992, p. 2), “não acreditamos em
nossa própria morte, agimos como se ela não existisse, fazemos planos para o futuro, criamos
obras e filhos, imaginamos que estes perpetuarão o nosso ser”.
Para que o homem não viva toda a sua vida limitada pela realidade da morte, ele
tem possibilidades de ocultá-la cultural ou psicologicamente. E a forma psicológica de ocultar
28
a morte se dá, pelos mecanismos de defesa, utilizando a negação, a repressão, a
intelectualização ou o deslocamento. (KOVÁCS, 1992).
No entanto, essas defesas, ao mesmo tempo em que libertam o homem do seu
medo com relação à morte, o impede de usufruir de sua vida, limitando-o nas suas
experiências. É possível perceber que o medo da morte está presente em todas as fases do
desenvolvimento humano, pois faz parte desse processo. Segundo Kovács (1992, p. 14), “o
medo de morrer é universal e atinge todos os seres humanos, independente da idade, sexo,
nível sócio-econômico e credo religioso.” Esse medo está relacionado ao medo da solidão, da
separação de quem se ama, de estar só diante da morte, medo da doença e sofrimento antes da
morte, entre outros. Em pesquisa realizada, “verificou-se, então, que pessoas que têm um
nível maior de ansiedade apresentam mais medo da morte, ou seja, o medo da morte evoca
ansiedade”. (HOELTER, 1979 apud KOVÁCS, 1992, p. 14).
De acordo com Kovács (1992, p. 3), “a morte faz parte do desenvolvimento
humano desde a mais tenra idade”. A autora considera também que, nos primeiros meses de
vida a criança vive a ausência da mãe, que representa a sua morte, pelo fato da criança não
conseguir viver nenhum momento sem ela. Esta é a representação mais forte de todos os
tempos, que diz respeito à morte como ausência, perda, separação, e a conseqüente vivência
de aniquilação e desamparo.
O ocultamento da verdade para a criança perturba o seu processo de luto. A
criança é poupada, por acreditar-se atualmente, que ela não sabe nada sobre a morte. No
entanto, para Kovács (1992), toda a criança já vivenciou a morte e a perda, seja de um
animalzinho de estimação, de algum parente próximo ou até mesmo, já viu a morte de pessoas
em algum programa na TV, fazendo com que percebesse que esses seres que morreram,
ficaram diferentes do que eram quando vivos.
Segundo Kovács (1992, p.3), “para a criança é muito difícil definir a vida e a
morte [...], pois na sua percepção a morte é não-movimento, cessação de algumas funções
vitais como alimentação, respiração; mas na sua concepção a morte é reversível, pode ser
desfeita [...]”. A criança acredita que depois da morte a pessoa poderá voltar a viver e a se
movimentar.
A criança também vive as suas perdas sofrendo, chorando e se desesperando
diante delas e como o adulto, depois ela se conforma. Mas ela só vai expressar a sua dor, se
ela souber que aconteceu uma morte, entretanto ela percebe que algo aconteceu quando os
adultos agem de forma diferente. (KOVÁCS, 1992).
29
Faz parte do desenvolvimento da criança, o pensamento mágico e o sentimento de
onipotência. Isto faz com que a criança se questione quando ela percebe a morte dos outros, se
ela morrerá também, pois ela se percebe como um herói que vence o mal e a morte representa
para si o desconhecido e o mal. Da mesma forma ocorre quando a morte passa a ser concreta
para a criança pela TV, através da violência, dos assassinatos, acidentes e assim, ela se
protege com a crença de que só ocorre com os outros e não com ela. (KOVÁCS, 1992).
Outra característica dessa fase que a criança apresenta, é o sentimento de culpa
sobre a morte, que está relacionado ao pensamento mágico e onipotente e com a sua
socialização. Esses provocam nela o desejo de morte, e quando a morte ocorre, ela relaciona o
seu desejo com a ocorrência, conforme Kovács (1992).
Quando a criança deixa essa fase e torna-se adolescente, ela leva consigo algumas
representações e deixa outras, que já não fazem mais parte do seu desenvolvimento. O
adolescente carrega consigo para essa fase, determinada representação da morte, igual àquela
que ele tinha quando criança.
Os adolescentes também se sentem heróis da mesma forma que as crianças, porém
se sentem mais potentes. Nesse caso, “[...] não há lugar para a morte, que representa a derrota,
o fracasso, [...] aqui está representada a visão atual da morte: fracasso, derrota, incompetência
[...].” (KOVÁCS, 1992, p. 5). O adolescente é onipotente a ponto de não dar espaço para a
morte, vivendo a sua vida, desafiando-a e ultrapassando todos os seus limites possíveis,
acreditando que ela nunca acontecerá consigo.
Só que, diante dessa coragem de desafiar a vida, pode estar a sua morte também e
não somente a do outro. E o adolescente, pelo seu desenvolvimento cognitivo, ele sabe que a
morte não é reversível, mas é definitiva. Além disso, o adolescente pode viver mortes
concretas que ocorrem com amigos, colegas, ocorrendo devido a acidentes, assassinatos,
overdose ou doenças e o pensamento do adolescente conclui que ele, sendo um herói, nunca
morrerá, embora ele sofra momentos de dúvida e insegurança. (KOVÁCS, 1992).
A ocorrência de mortes devido à drogadição, que envolvem acidentes ou doenças
é muito grande. Para o adolescente, “a droga traz a representação da morte ligada às grandes
viagens, à percepção diferente do mundo, a um estado alterado de consciência.” (KOVÁCS,
1992, p. 6). Sendo assim, o adolescente não percebe o consumo de drogas, podendo ser uma
ameaça à sua vida e provocar a sua morte, pois está relacionada apenas a uma alteração da sua
consciência. Essas são algumas representações que o adolescente tem sobre a morte.
O final da adolescência é uma fase de muitas mudanças, quando o jovem vai
adquirindo responsabilidades e preocupações com relação ao seu projeto de vida e o seu
30
futuro. Sendo assim, de acordo com Kovács (1992), a pessoa deixa os seus impulsos e desejos
de ultrapassar limites, desafiar a vida, tornando-se uma pessoa mais calma e ponderada e
assim, inicia-se a fase adulta.
O adulto carrega consigo experiências da sua infância e adolescência e, quando
pensa nelas, provoca grandes transformações internas. Essas transformações ocorrem também
com relação à morte, pois ela deixa de ser algo que acontece somente com os outros, passando
a perceber que pode acontecer consigo também. A possibilidade da morte traz um novo
significado para a vida, pois não existe mais todo o tempo do mundo e os limites não podem
ser extrapolados. Nessa fase então, começa a ressignificação dos seus valores, onde o homem
abandona alguns da sua juventude e admite outros. (KOVÁCS, 1992).
Embora o homem em todos os tempos, tente driblar e vencer a morte, a diferença
entre a consciência na vida adulta com a consciência na adolescência sobre a morte, é que ela
é inexorável, pois sempre será vitoriosa e nenhum herói poderá vencê-la. A morte possui
outros atributos também, que são o mistério, o poder e a força. (KOVÁCS, 1992). Essas são
maneiras de os adultos representarem a morte.
Depois dessa fase, vem à velhice, que traz consigo estigmas e atributos negativos,
devido às perdas corporais decorrentes da idade, às perdas financeiras e a separação da família
que é inevitável. É nessa fase que, o ser humano começa a pensar e sentir que a morte está
próxima e será inevitável.
Conforme Kovács (1992, p. 11), “a morte como limite nos ajuda a crescer, mas a
morte vivenciada como limite, também é dor, perda da função, das carnes, do afeto. É
também solidão, tristeza, pobreza. Uma das imagens mais fortes da morte é a da velhice [...]”.
Essa imagem com relação à morte na velhice permanece, pois, quanto mais anos de vida a
pessoa tiver, mais real e próxima será a sua morte.
No entanto, o que mais preocupa as pessoas mais velhas são essas mudanças que
ocorrem com elas, devido ao aparecimento de doenças, dores, o sofrimento, por não poderem
mais fazer tudo aquilo que faziam antes, devido às limitações que vão surgindo, como
também o medo de sofrerem de modo geral, o medo da separação da família e a solidão. Com
relação ao medo da morte, somente sentirão esse medo, aquelas pessoas que não tiveram uma
vida satisfatória, pois aquelas pessoas que obtiveram uma vida satisfatória, uma vida
agradável, não temerão. (KOVÁCS, 1992).
31
2.3.2 Morte, Luto e Separação
A morte é um assunto evitado pelas pessoas, embora elas tenham muitas dúvidas e
questionamentos sobre ela. Assim as pessoas são impedidas de expressarem seus sentimentos,
pensamentos e emoções e de lidarem de forma saudável com a situação. De acordo com
Zimerman (2000, p. 117),
[...] morte e morrer são duas palavras que as pessoas costumam evitar dizer e duas
questões sobre as quais a maioria procura não pensar. Essa dificuldade de conviver e
de trabalhar com a idéia da morte atrapalha enormemente sua elaboração e impede
que se lide com tranqüilidade com as perdas, que são naturais e ocorrem
inevitavelmente ao longo da vida [...]
Quando pessoas próximas morrem, isso vem acompanhado de luto, perda e
separação, trazendo sentimentos difíceis de serem administrados. Para Kovács (1992, p. 149),
“a morte do outro se configura como a vivência da morte em vida. É a possibilidade de
experiência da morte que não é a própria, mas é vivida como se uma parte nossa morresse,
uma parte ligada ao outro pelos vínculos estabelecidos”. Essa morte traz recordações da
infância, quando havia separação entre mãe e filho, mesmo que fosse momentânea e até a
separação ou a morte de pessoas próximas. É o tipo de morte que ocorre com todas as
pessoas.
De acordo com Kovács (1992), a morte enquanto perda supõe um sentimento,
uma pessoa e um tempo, evocando sentimentos fortes. Esses sentimentos de perda são
praticamente insuportáveis para as pessoas e elas procuram formas de aliviá-los.
Segundo Kovács (1992, p. 150), “ver a perda como uma fatalidade, ocultar os
sentimentos, eliminar a dor, apontar o crescimento possível diante dela, podem ser formas de
negar os sentimentos que a morte provoca, para não sofrer”. Porém, de acordo com a autora é
necessário viver esses momentos, expressando os sentimentos que são fundamentais para o
desenvolvimento do processo de luto.
Conforme Kovács (1992), o processo de luto diz respeito a um conjunto de
reações diante de uma perda. Para Bowby (1985 apud Kovács, 1992), o processo de luto se dá
em quatro fases: primeiro vem à fase em que a pessoa entra em choque, que poderá perdurar
por algumas horas ou semanas, esta fase poderá vir acompanhada pelos sentimentos de
desespero e raiva. Nesta etapa podem surgir expressões emocionais e ataques de pânico; a
segunda fase é aquela que experimenta a expressão do desejo da presença e a busca da pessoa
32
perdida, que pode durar meses ou anos. Nesta fase também, a pessoa pode sentir raiva quando
percebe que realmente houve uma perda, que provoca desespero, inquietação, insônia e
preocupação. Existe também a ilusão de que pode ser um pesadelo, tendo a fantasia de que a
pessoa irá voltar. Há então a realidade da perda, bem como a esperança do reencontro. A raiva
também surge quando o enlutado sente-se responsável pela morte do outro, ou pela frustração
da busca inútil, como também quando há o sentimento de que o morto não se cuidou de forma
adequada, evocando a sensação de abandono. Essa raiva pode se manifestar através da
irritabilidade ou através de uma profunda amargura. A esperança intermitente, os
desapontamentos repetidos, o choro, a raiva, as acusações e a ingratidão com as pessoas
próximas também se manifestam nesta fase; a terceira fase é o período da desorganização e do
desespero, onde há a constatação da perda como definitiva, trazendo um sentimento de
profunda tristeza, a sensação de que nada mais tem valor e vem acompanhada de um desejo
de morte; A quarta e última fase é aquela em que ocorre uma reorganização da pessoa, que
vem acompanhada de uma aceitação pela perda definitiva e a constatação de que ela precisa
iniciar uma vida nova. Há em alguns casos de viúvos e viúvas, a necessidade de aprenderem
novas habilidades, que eram funções da pessoa que morreu. Nesta etapa, surge à saudade e a
necessidade da presença da pessoa que morreu e junto com a morte vem à tristeza pela falta
da pessoa. O processo de luto nunca será totalmente concluído. Algumas pessoas buscam
novos relacionamentos e outras ficam sozinhas.
Essas são as fases necessárias para que, haja uma vivência de luto adequada pela
pessoa que perde um ente querido. De acordo com Kovács (1992), a pessoa que vive o seu
luto adequadamente, não sofrerá as conseqüências pela não vivência desse sentimento no
futuro.
Quando se trata do luto, não se pode deixar de falar um pouco sobre essa vivência
na velhice, que é a fase em que a pessoa sofre diversas perdas. Nesse momento da vida, a
pessoa sofre perdas físicas, sociais e psíquicas, além daquelas que dizem respeito à morte de
seus companheiros ou cônjuges e de seus entes queridos em geral.
Em relação ao enfrentamento sobre a morte do parceiro, Doll (2002, p. 1000)
considera que:
Não há dúvida de que a cultura influencia os comportamentos das pessoas,
especialmente em uma situação de crise como a perda do parceiro e o confronto com
a morte. Nessa situação, que é percebida pela maioria das pessoas como um choque,
a existência de formas rituais de expressar sua dor e de agir em relação a outras
pessoas pode ser uma ajuda e uma orientação para a pessoa enlutada.
33
As pessoas enfrentam a morte de acordo com a sua cultura. Porém, há maneiras de
perceber a morte que são universais. Para Rosenblatt (2001 apud DOLL, 2002, p. 1000):
A morte é percebida em todas as culturas como um problema, e a reação de luto à
perda do parceiro ou de uma pessoa querida também se encontra em todos os
lugares. Porém, a forma concreta de lidar com a morte e de expressar o luto varia
muito, dependendo da cultura na qual a pessoa vive e pode ir de um rápido passar
adiante até uma obrigação de mostrar tristeza, dor e desespero durante um longo
período.
Sobre a morte, há diferenças que podem ser provocadas pelos valores e crenças
distintos.
[...] Por exemplo, o impedimento da expressão de luto para que os outros membros
da sociedade não sejam lembrados das dores das próprias perdas. As diferenças
culturais também são influenciadas pelo que uma pessoa perde com a morte do
parceiro, como o sustentador da família, o parceiro sexual, o companheiro, etc.
(ROSENBLATT, 2001 apud DOLL, 2002, p.1000).
Em pesquisa realizada sobre o impacto gerado nas pessoas sobre a morte do
parceiro, Davidson (2000, apud DOLL, 2002, p. 1002) concluiu que:
[...] as mulheres sentem mais a falta daquilo que os homens representavam para elas,
como segurança social, status social ou a vida social, enquanto os homens sentem
mais a falta daquilo que as esposas faziam para eles, como organizar a casa, cuidar
deles e os aspectos emocionais vinculados a isso.
Porém, fala-se que tanto o homem quanto a mulher sentem a falta um do outro
enquanto pessoa.
Em relação à perda do parceiro, para as pessoas mais velhas em geral, de acordo
com Doll (2002), há menos impacto do que para uma pessoa mais jovem, quando a morte é
menos esperada. A respeito disso, Doll (2002, p. 1005) cita que:
[...] pessoas mais velhas também têm, em geral, mecanismos de controle emocional
mais desenvolvido, e, por já terem passado por um número maior de perdas, podem
ter desenvolvido formas melhores de lidar com a perda e o luto. Por outro lado,
pessoas idosas são mais vulneráveis, tanto física quanto socialmente, e a perda do
parceiro de longa data significa, em geral, muito mais do que somente a perda de
uma pessoa amada.
Para uma pessoa mais velha, a perda de seu parceiro acarretará maiores
dificuldades de manter os seus contatos sociais, de resolver seus problemas e realizar suas
tarefas, como também a sua recuperação será mais demorada. Porém, as pessoas mais velhas
sofrerão menor impacto emocional e com isto, terão uma incidência depressiva mais fraca.
34
Segundo Doll (2002), a pessoa que vivencia uma perda, terá comportamentos
vinculados a sentimentos que são modificados nessa situação. A pessoa apresenta agitação,
inquietação, choro e uma tendência a se retrair socialmente.
Já no caso do significado que a pessoa dá para a perda que teve, será pessoal.
Cada perda provocada pela morte acarretará uma experiência pessoal a cada ser humano, onde
cada qual irá reagir de forma diferente. De acordo com Doll (2002, p. 1007), “[...] a perda do
parceiro ou de uma pessoa querida pode ter significado muito diverso para as pessoas,
dependendo da sua biografia, dos seus valores e suas crenças”. Por “outro lado, o impacto e as
conseqüências dependem da constituição anterior, tanto física, quanto psicológica e social.”
A maneira como a pessoa vai enfrentar a situação estressante causada pela perda,
de acordo com Doll (2002), vai depender de fatores que poderão influenciar esse processo.
Assim, é preciso considerar a circunstância da morte, o contexto em que ela se dá o apoio
social e a antecedência de doenças, mas principalmente a biografia e a estrutura psicológica
da pessoa que vai viver o processo de luto.
As teorias que abordam o tema, relacionado ao luto têm diferentes concepções
sobre essa experiência. A seguir serão apresentadas as teorias cognitivas, teorias psicanalíticas
e teorias de construção social.
As teorias cognitivas do estresse se baseiam no conceito de enfrentamento, que
consiste no esforço cognitivo e comportamental da pessoa, em lidar com as demandas internas
e externas que uma determinada situação provoca. (STROBE & SCHUT, 2001 apud DOLL,
2002). O impacto de um evento estressante vai depender da avaliação individual, que a pessoa
fizer sobre ele. Segundo Doll (2002), no caso da perda de uma pessoa importante, os esforços
que a pessoa fará para lidar com ela, dependerão da sua percepção e avaliação sobre esse
acontecimento. Esse evento estressante pode significar para uma pessoa um desafio e assim,
ela enfrentará de forma ativa, enquanto que, para outra pessoa poderá representar uma
sobrecarga, de difícil enfrentamento e assim ela terá um comportamento evasivo, ou seja, um
comportamento de fuga ou evitação.
Existem dois tipos de estratégias de enfrentamento para as teorias cognitivas. São
denominadas estratégias centradas no problema e centradas na emoção. As estratégias de
enfrentamento, que estão centradas no problema são aquelas que levam a pessoa para a ação.
Já, as estratégias de enfrentamento baseadas na emoção são as defesas internas, que a pessoa
busca para aliviar o seu sofrimento.
“Enfrentamentos favoráveis acarretam emoções
positivas; enfrentamentos desfavoráveis ou a impossibilidade de encontrar soluções causam
angústia [...]”. (DOLL, 2002, p. 1007).
35
A perda de uma pessoa importante traz sentimentos negativos, mas também
poderá trazer consigo sentimentos positivos para o enlutado. De acordo com Doll (2002), a
existência de sentimentos positivos numa situação de luto, que é, predominantemente, triste e
negativa, ajuda a pessoa a enfrentar as suas perdas e, especialmente, a lidar com as suas
emoções frente à imutabilidade da morte.
Segundo as teorias de estresse, a readaptação depois da perda de uma pessoa
significativa, se baseia no uso adequado de estratégias de enfrentamento. Os critérios para a
elaboração da perda ou para a adaptação são, principalmente, a diminuição da angústia e a
predominância de sentimentos positivos. (DOLL, 2002).
No caso das teorias psicanalíticas, entre as suas contribuições sobre a recuperação
após ocorrer uma perda, existe uma análise sensível e compreensiva das reações
imediatamente depois da morte do parceiro. Desta maneira, Doll (2002) cita que, essa análise
é feita especialmente em relação aos sentimentos, às vezes controversos, experimentados pela
pessoa enlutada, como tristeza pela perda, saudade em relação à pessoa perdida e, ao mesmo
tempo, raiva por ter sido abandonada.
Outro aspecto importante que Doll (2002) menciona, é que quando os sentimentos
em relação ao falecido e ao luto são suprimidos, há um risco de a pessoa desenvolver outras
formas de luto patológicas. Já está comprovado em várias pesquisas, que há um grupo de risco
entre as pessoas enlutadas que, apresentam altos índices de depressão e tendência para
doenças mentais.
Em relação às teorias de construção social, de acordo com Doll (2002), as
pesquisas nesse campo, se baseiam no interacionismo simbólico. Dessa forma, o significado
da perda e da pessoa falecida é negociado em interações sociais da pessoa enlutada, com as
demais ao seu redor.
Há um novo modelo para se compreender e avaliar o processo de luto proposto
por Walter (1999) apud Doll (2002, p. 1008), o qual considera que:
As relações com a pessoa falecida são mantidas, basicamente por conversas, ou com
outras pessoas falecidas, por exemplo, nas visitas ao cemitério, ou com as pessoas
que conheciam o falecido. Mesmo se a conversa não ajuda diretamente na
diminuição da angústia, ela ajuda no processo de construção de uma biografia da
pessoa falecida. Segundo Walter, o processo de luto é resolvido quando a pessoa
enlutada consegue construir uma biografia estável da pessoa falecida, que possibilita
à pessoa enlutada integrar a memória da pessoa falecida na sua vida atual.
36
Em cada uma das teorias há uma maneira diferente de processar e avaliar o luto, a
fim de compreender se ele está sendo vivido adequadamente. As teorias auxiliam as pessoas
de forma adequada, para que elas vivam os seus lutos de maneira saudável.
2.3.3 O psicólogo diante da morte
Há poucos escritos sobre o psicólogo, enquanto profissional diante da questão da
morte ou do processo de morte vivenciado por seus pacientes. Há algumas reflexões sobre o
trabalho com pacientes portadores de doenças graves, que são os pacientes terminais.
Em artigo elaborado por Torres e Guedes (1987 apud KOVÁCS, 1992, p. 233),
foi tecido reflexões sobre o psicólogo e a questão da terminalidade, onde cita que:
[...] o primeiro ponto a ser considerado para quem vai trabalhar com pacientes
terminais, é o de caminhar em direção ao medo em relação à morte e o morrer.
Assim como ocorre com outros profissionais de saúde, é uma tarefa difícil defrontarse com a própria negação, para aí poder entender a da instituição de saúde e a do
paciente. Essa negação pode manifestar-se no silêncio ou na omissão ante a questão
da morte.
Dessa forma, é difícil para o psicólogo trabalhar essas questões com os pacientes,
que poderão ir de encontro com as suas, como nesse caso, pode surgir à negação com relação
às questões que envolvem a morte.
De acordo com Kovács (1992), a negação está
relacionada ao fato, de que o psicólogo, também não quer aceitar a morte de seus pacientes,
como também não quer perceber-se como ser finito, por isso tende a negá-la.
Ainda com relação a essas dificuldades, as autoras Torres e Guedes (apud
KOVÁCS, 1992, p. 233), consideram que, “trabalhar com o sofrimento ou a perda de
significado da existência pelo paciente, pode despertar no profissional as mesmas vivências,
ferindo o seu narcisismo, e a sua onipotência, colocando-o diante do incompleto e do nãoterminado”. Sendo assim, o psicólogo terá a possibilidade de vivenciar as mesmas
experiências que seu paciente.
O profissional vai utilizar de algumas estratégias para enfrentar e trabalhar com o
paciente sobre a questão da morte. Segundo Kovács (1992 apud CAMON, 2002), “uma das
formas mais usadas pelo profissional é a formação reativa, a conquista da doença, o desafio da
morte e a tentativa de tomar medidas heróicas para salvar o paciente a todo custo [...]”.
37
Tratar da morte também faz parte da tarefa do psicólogo no hospital. Através do
seu contato direto com a morte, o profissional pode “[...] reexperimentar medos infantis de
separação, abandono e o medo de sua própria mortalidade.” (KOVÁCS, 1992 apud CAMON,
2002, p. 122). O psicólogo pode reviver emoções e experiências relacionadas à sua infância.
Além disso, Camon (2002, p. 135) considera também que “reconhecer as questões
que envolvem a morte e o morrer torna-se difícil, porque sempre o psicólogo reporta aos seus
sentimentos, questionamentos sobre a sua própria mortalidade, a sua própria vida”. Sendo
assim, diante do aspecto pessoal, o psicólogo precisa lidar com a sua dor e angústia para
suportar a dor do outro, percebendo-se como ser humano dotado de finitude.
2.4 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO – MECANISMOS DE COPING
O conceito de estratégia de enfrentamento refere-se, às estratégias que promovem
uma adaptação dos indivíduos às situações estressantes que ele enfrenta. Assim, de acordo
com Cerqueira (2000) apud Zakir (2003), o coping, que pode significar “ajustamento” ou
enfrentamento, tem como centro, os acontecimentos da vida dos indivíduos que, podem ser as
perdas, as dificuldades, fatos inesperados ou tragédias.
O coping apresenta uma distinção na sua forma de atuação. Essa distinção está
relacionada às estratégias de enfrentamento, que estão voltadas para a emoção e outras que
estão voltadas à ação dos indivíduos para a resolução de seus problemas, diante de uma
situação que provoca estresse.
Segundo Folkman e Lazarus (1984, apud ZAKIR, 2003):
[...] há dois tipos principais de estratégias, que equivalem às duas grandes funções
do coping: coping centrado no problema e coping centrado na emoção. O primeiro
tipo de estratégia se dirige as situações mutáveis, enquanto que o segundo tipo a
situações imutáveis. Neste modelo, estratégias de coping são ações deliberadas,
orgânicas ou não, emitidas em resposta a um estímulo estressor devidamente
identificado.
Uma ação que pode ser utilizada pelo indivíduo através do coping centrado na
emoção, identifica-se, por exemplo, quando esse usa ingerir tranqüilizantes, visando atingir a
área somática ou até mesmo, quando, por exemplo, o indivíduo se entrega às fantasias,
buscando uma recuperação do seu estado emocional. Essas duas estratégias poderão
38
promover uma minimização da tensão, provocada por um agente estressor. No caso do
coping centrado no problema, o indivíduo partirá para a ação, buscando a solução para o seu
problema, através da mudança da sua relação com o ambiente e das contingências
responsáveis pela tensão. (ANTONIAZZI, DELL’AGLIO E BANDEIRA, 1998 apud
ZAKIR, 2003).
A tensão é designada como evento estressor, como um estresse que a pessoa
enfrenta. Em relação ao significado do estresse, Peixoto (2004, p. 4) considera que:
“A palavra “stress” tornou-se comum atualmente, sendo utilizada para justificar desde
as dificuldades de relacionamento amoroso a problemas de saúde. O seu significado
vem do latim stringere que significa estreitar. Segundo Lazarus e Folkman, (1984) por
volta do século XIV, o termo foi utilizado para descrever experiências e condutas
humanas, significando dificuldade, sofrimento, aflição e adversidade. No final do
século XVII, passou a ser utilizado nas ciências físicas”.
Essas são algumas considerações necessárias sobre o estresse, que depende dos
mecanismos de coping. Os mecanismos de coping dividem-se em padrões diretos e padrões
indiretos. Segundo Lorencetti e Simonetti (2005), os padrões diretos contêm habilidades para
solucionar problemas, afetando as suas demandas. E os padrões indiretos são aqueles que não
modificam as demandas, mas promovem o ajuste do indivíduo às situações que não podem ser
resolvidas. As estratégias utilizadas através desse modelo, que é o coping paliativo, contêm os
mecanismos de negação, repressão, isolamento ou fuga. Sendo assim, quando se trata do
enfrentamento relacionado ao problema ou à situação causadora de estresse, a pessoa
trabalharia, a fim de manejá-lo ou modificá-lo, visando controlar ou lidar com a ameaça, o
dano ou o desafio. Essas são chamadas de estratégias ativas de aproximação em relação ao
estressor, como solução de problemas e planejamento. No caso do enfrentamento com foco na
emoção, a sua principal função seria regular a resposta emocional causada pela situação
estressora. Assim, a pessoa poderia representar atitudes de afastamento ou paliativas em
relação à fonte de estresse, utilizando a negação ou comportamento de esquiva diante da
situação. No entanto, essas estratégias poderão ser utilizadas acompanhadas de outras.
(CARVER, SCHEIER & WEINTRAUB, 1989; ENDLER & PARKER, 1999; VITALINO,
RUSSO, CARR, MAIURO & BECKER, 1985 apud E. M. F. SEIDL & COLS, 2001).
A esquiva diante das situações tem uma função própria. De acordo com Peixoto
(2004, p. 22), “as estratégias de esquiva referem-se a estratégias cognitivas e/ou
comportamentais, que têm a função de evitar o contato com o estressor ou ainda mesmo a
evitar pensamentos sobre o evento provocador de estresse e suas implicações”.
39
Quando o indivíduo escolhe estratégias de enfrentamento, focalizadas no
problema, apresentará aspectos relacionados à solução para o estresse que ele está
vivenciando. Dessa forma, o indivíduo terá uma aproximação com o seu problema, para fazer
uma reestruturação cognitiva e possivelmente percebê-lo de maneira positiva. Nesse caso, o
indivíduo poderá apresentar pensamento fantasioso, receptividade ao apoio social
disponibilizado por terceiros, como também, a busca de suporte social. (E. M. F. SEIDL &
COLS, 2001).
No entanto, quando o indivíduo utiliza estratégias focalizadas na emoção, a sua
maneira de lidar com o estressor será diferente, com a exceção de pensamentos fantasiosos
que, se apresentam nos dois mecanismos de coping. Além desse aspecto, o indivíduo
apresentará respostas de esquiva, autoculpa, reações de culpabilização de outra pessoa pelo
seu problema, como também pensamentos fantasiosos e irrealistas voltados para a solução
mágica do problema e reações emocionais negativas como raiva ou tensão. (E. M. F. SEIDL
& COLS, 2001). Além desses aspectos, o indivíduo busca também enfrentar o seu problema,
através de pensamentos e comportamentos religiosos, que trazem sentimentos de esperança e
fé. São práticas religiosas que estão relacionadas às estratégias de enfrentamento focalizadas
no problema, bem como focalizadas na emoção. (E. M. F. SEIDL & COLS, 2001).
As pessoas buscam também enfrentar situações estressantes, através de atividades
físicas e psíquicas e procuram estabelecer contato com outras no meio social. São ações
praticadas pelas pessoas, ligadas aos mecanismos de coping, que são denominadas de
enfrentamentos e podem ser classificados em físico, psicointelectual, social e em espiritual.
Lorencetti e Simonetti (2005) citam alguns exemplos, que dizem respeito a essas
ações. No caso da estratégia de enfrentamento relacionada ao aspecto físico, ocorre quando o
indivíduo vai fazer caminhadas, nadar ou utilizar-se de técnicas de relaxamento; o aspecto
psicointelectual relaciona-se, por exemplo, com a utilização de meditação, a realização e a
confecção de trabalhos artesanais, fantasias e reavaliação cognitiva; o enfrentamento pelo
aspecto social ocorre quando o indivíduo procura freqüentar um clube, realizar atividades de
recreação em grupos e conversa com amigos e o enfrentamento pelo aspecto espiritual se dá,
quando o indivíduo, por exemplo, participa de atividades religiosas, lê livros religiosos,
conversa com padres, pastores e utiliza orações.
40
2.4.1 Coping e Controlabilidade
O coping apresenta funções que estão relacionadas à controlabilidade. Segundo
Folkman e Lazarus (1984, apud ZAKIR, 2003, p. 94), “as funções do coping são duas: alterar
as relações indivíduo-ambiente, controlando a situação geradora de tensão (coping centrado
no problema) ou modular a resposta emocional evocada pela situação-problema (coping
centrado na emoção)”.
No caso do coping centrado na emoção, existe mais freqüência diante de situações
incontroláveis, situações que não podem ser evitadas. O coping centrado na emoção é
utilizado pelos indivíduos que, se sentem incapazes de agir sobre o estressor. No caso do
coping centrado no problema, esse é utilizado por indivíduos com condições razoáveis de
controle sobre os eventos estressores.
Os estressores são distinguidos por Lipp (1996) apud Peixoto (2004, p. 6) em externos
e internos. Assim:
“Os externos são os eventos que acontecem no ambiente, mas que afetam o
organismo. Eles independem, muitas vezes, da vontade das pessoas [...]. Os
estressores internos são aqueles que dependem do próprio indivíduo, ou seja, referemse à “maneira de ser da pessoa”, seu padrão de comportamento, a forma como
expressa seus sentimentos, entre outros. Um evento estressor terá significados
diferentes para as pessoas, dependendo em muito de suas crenças, valores, história de
vida, e da avaliação que o indivíduo realizará da situação [...]”
Sendo assim, o estresse pode ocorrer fora do organismo do indivíduo, como pode
ocorrer internamente. Essas duas dimensões estão ligadas ao coping no problema e na
emoção, de acordo com Lazarus e Folkman (1984) apud Peixoto (2004, p. 22):
“[...] O coping focalizado no problema pode ser interno quando inclui reestruturação
cognitiva como, por exemplo, a redefinição do elemento estressor. Pode ser externo
quando inclui estratégias, tais como negociar para resolver um conflito, discutir com a
pessoa responsável pela situação, tentando modificá-la. Já o coping focalizado na
emoção é definido como um esforço para regular as emoções associadas ao estresse.
[...] A função desta estratégia é reduzir sensações desconfortáveis ocasionadas pelo
estresse”.
41
2.4.2 Gênero e seleção de respostas de coping
Segundo Zakir (2003), é possível diferenciar as respostas de coping entre homens
e mulheres, através da controlabilidade, pois os homens exercem mais controle sobre os
estressores, assim eles utilizam mais o coping centrado no problema. Já no caso das mulheres,
as respostas de coping se restringem com mais freqüência, no tipo centrado na emoção. Essas
respostas são diferentes entre os gêneros desde a infância.
Segundo Ferreira (1997 apud ZAKIR, 2003), a sensibilidade, a amabilidade e
orientações pró-sociais, que estão associadas à feminilidade das mulheres, podem estar na
base do coping centrado na emoção. No caso dos homens, as respostas mais comuns são a
independência, a assertividade e a orientação para a realização de metas. Essas respostas estão
relacionadas aos aspectos do coping centrado no problema.
2.4.3 A aprendizagem das estratégias de coping
As crianças têm o primeiro acesso, na sua infância às respostas de coping
centrado no problema, pois possuem restrições verbais, que não lhe dão condições ainda de
acessarem a sua dimensão emocional, o seu mundo das emoções. Quanto mais nova a criança
for, mais difícil será o seu alcance às respostas relacionadas ao coping centrado na emoção.
Sendo assim, ela só poderá aprendê-lo no final da sua infância. (COMPAS, 1987 apud
ZAKIR, 2003).
Cada indivíduo escolherá a forma de enfrentar as situações estressantes que lhe
surgirem, de maneira particular. As respostas de coping que os indivíduos escolherão,
dependerão do contexto, das experiências e resultados que eles obtiveram no passado, com a
escolha de determinada estratégia de enfrentamento.
2.4.4 Apoio Social
As respostas de apoio social implicam na busca de um “suporte social”. Essas
respostas dependem da situação em que o indivíduo se encontra e envolvem outra pessoa. De
acordo com Zakir (2003, p. 97):
42
[...] são respostas sociais e implicam em alguma forma de estimulação social.
Constituem-se em interações sociais, que não se concretizam sem a atuação de um
outro indivíduo. Se não existissem variáveis sociais, se não houvesse a situação,
com sua rede de apoio, sua estrutura, a resposta provavelmente não ocorreria.
Ainda, segundo Zakir (2003), para que o indivíduo possa recorrer ao “apoio
social”, ele deverá ser capaz de estabelecer contatos com os outros e saber usar os recursos
que aprendeu, recursos esses, que são indispensáveis ao convívio social. Ele deverá ser
também sensível às contingências para que, realize uma escolha congruente com a situação
que está vivendo.
43
3 MÉTODO
3.1. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
A caracterização dessa pesquisa é de natureza qualitativa, pelo fato desse trabalho
ter buscado a compreensão de fenômenos que envolvem a percepção de estudantes de
Psicologia, especificamente estagiários de Psicologia Hospitalar, sobre a morte de pacientes
hospitalizados. Dessa forma, como a pesquisa pretendeu compreender a percepção, ela teve
um caráter qualitativo.
Os resultados obtidos através dessa pesquisa sofreram alterações, devido à
subjetividade que está envolvida, na relação do sujeito pesquisador com o objeto pesquisado.
Nesse sentido, de acordo com Chizotti (1998), a pesquisa qualitativa parte do princípio de
que, existe uma relação de dependência entre o mundo e o sujeito, em que o sujeitoobservador é um integrante ativo do processo de conhecimento, dando significado aos
fenômenos interpretados.
O delineamento dessa pesquisa se deu, pelo levantamento de dados e informações
que são indispensáveis para a compreensão de fenômenos possíveis de identificar, de acordo
com os objetivos que essa pesquisa se propôs a atingir, fenômenos esses que estão
relacionados ao modo de sentir, pensar e agir de pessoas envolvidas no determinado contexto,
realizando uma “descrição profunda de processos, sentidos e conhecimentos” (RAUEN, 2002,
p.192). O procedimento se caracterizou pelo questionamento que foi realizado com os
participantes, cuja percepção que eles têm sobre a morte de pacientes hospitalizados, desejouse compreender.
Essa pesquisa foi realizada através do método exploratório, que se deu pela
inserção do pesquisador no campo, onde os fenômenos pesquisados estiveram presentes na
realidade, proporcionando a coleta de dados e informações necessárias para a identificação
das questões que se propôs pesquisar. (MAZZOTI, 1998). A pesquisa explorou o seu objeto
de estudo determinado, no seu campo específico, onde os fenômenos estavam, para que,
pudesse chegar o mais próximo possível das respostas, que os seus questionamentos
procuraram responder.
44
3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA
A população estudada foi aquela em que os indivíduos possuíam pelo menos uma
característica em comum, definida para a investigação (RAUEN, 2002). Assim, a população
escolhida para a realização da pesquisa foram estudantes de Psicologia, especificamente
aqueles que estavam realizando estágio no Hospital de Caridade, sem restrição ao sexo e que
estavam cursando a sua graduação pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL.
Como requisito, foram estudantes que estavam realizando o primeiro e o segundo semestre de
estágio, sendo essa experiência limitada pelo tempo que é estipulado pela grade curricular do
curso.
A escolha desses participantes na pesquisa justificou-se pelo fato de que, o
estudante teve contato com pacientes que depois vieram a falecer, vivenciando a perda do
paciente. Dessa forma, por ser estagiário do Hospital de Caridade, teve a possibilidade de
expor a sua vivência nesse campo de atuação e a sua percepção na relação com esses
pacientes, com um caráter experiencial e de aprendizado frente à situação, tendo tido a
influência da sua inexperiência profissional.
O tempo definido se deu, em virtude do cronograma que existe na grade curricular
acadêmica, que delimita o período de estágio de Psicologia Hospitalar. Dessa maneira, foi
respeitado o cronograma de acordo com o período estipulado.
3.3 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
Como técnica de coleta de dados, foram realizadas entrevistas semi-diretivas ou
semi-estruturadas (Apêndice A), que proporcionaram o relacionamento entre o pesquisador e
o participante para a obtenção de informações importantes, abordando os temas estabelecidos
pelo pesquisador previamente, a fim de alcançar os objetivos da pesquisa. Esse tipo de
instrumento possibilitou que o entrevistado se sentisse livre para expor as suas percepções,
sem que fosse limitado a responder de acordo com perguntas estruturadas, mas sim por meio
de um roteiro pré-estabelecido. “Esta técnica tem a capacidade de facilitar o afloramento de
dados corrigidos de afetividade e emoção” (BARROS E LEHFELD, 2003, p. 82).
45
Foram escolhidos pelo menos 4 (quatro) participantes, em virtude do tempo
limitado para a coleta de dados. Os participantes foram escolhidos, de acordo com os critérios
estabelecidos pela pesquisadora. Após serem escolhidos os participantes, foi agendado com
cada um deles o dia e a hora disponível para a realização da entrevista, como também o local,
conforme a possibilidade de cada um.
As entrevistas foram realizadas com a utilização de um gravador. As gravações
foram digitais e o registro das informações obtidas posteriormente foi transcrito manualmente,
a fim de realizar a análise dos dados.
O participante foi informado sobre todos os procedimentos e todas as questões
pertinentes à pesquisa, que foram explicadas de forma clara e objetiva, orientando-o sobre os
objetivos reais do estudo. Somente após o cumprimento dos compromissos éticos que
permeiam a pesquisa e mediante a aceitação dos participantes, é que ela foi realizada. Dessa
forma, somente após todos os esclarecimentos necessários à realização da entrevista, como a
garantia ao sujeito pesquisado sobre a manutenção do sigilo das informações coletadas e dos
dados fornecidos ao seu respeito, garantia do anonimato, o esclarecimento sobre a
possibilidade de desistência a qualquer momento por parte do entrevistado, sem prejuízo
algum ao mesmo, além da permissão do participante diante da gravação da entrevista é que o
participante foi convidado a assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo
A) e um Termo de Consentimento para Gravação de Voz (Anexo B). O instrumento de coleta
de dados foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Unisul, para que o mesmo
fizesse as suas considerações.
3.4 ANÁLISES DE DADOS
A análise qualitativa, diz respeito ao estudo das informações obtidas, através do
comunicado verbal do entrevistado. Ela se propôs analisar o discurso do entrevistado, através
de questionamentos que dizem respeito ao fenômeno que foi pesquisado.
Existe uma etapa seguida para a realização da análise dos dados. Conforme Barros
e Lehfeld (2003), essa etapa se deu, pela organização e descrição dos dados; redução dos
dados; interpretação através de categorias teóricas de análise e para a sua finalização, a análise
de conteúdos. Após a organização e descrição das informações, foi realizada uma redução dos
dados, segmentando os dados em elementos que pudessem ser submetidos à categorização.
46
Esses elementos constituem uma unidade de análise, de classificação ou de registro.
(RAUEN, 2002).
Para a construção das categorias de análise foi necessário realizar o recorte dos
conteúdos, seguindo passo a passo, a fim de permitir também a classificação deles.
Essa classificação reuniu os dados obtidos, de acordo com a sua distribuição e
seleção em classes ou grupos, de acordo com os objetivos e interesses da pesquisa (BARROS
E LEHFELD, 2003).
A análise é a parte mais importante numa pesquisa, pois permite que o
pesquisador apresente os resultados obtidos em seu trabalho.
47
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
A apresentação e análise dos dados foram elaboradas, conforme a relação do
discurso dos sujeitos entrevistados com a teoria elaborada pelos autores, que foram citados no
referencial teórico desse trabalho, através da percepção da pesquisadora. O desenvolvimento
da análise constitui-se, através da relação dos estudantes entrevistados com a situação de
perda, de morte de pacientes, vivenciada no contexto de estágio hospitalar.
Os entrevistados que contribuíram para essa pesquisa foram quatro (4) estudantes
de Psicologia, que realizam estágio de Psicologia Hospitalar, da nona e décima fases, no
Hospital de Caridade da cidade de Florianópolis. O quadro abaixo irá identificá-los desta
maneira:
ENTREVISTADO
IDADE
SEXO
ESCOLARIDADE
PROFISSÃO
RELIGIÃO
E1
26 anos
Masculino
Superior Incompleto
Estudante
Católica
E2
24 anos
Feminino
Superior Incompleto
Estudante
Protestante
E3
26 anos
Feminino
Superior Incompleto
Estudante
Católica
E4
21 anos
Feminino
Superior Incompleto
Estudante
Espírita
Quadro 1 – Quadro síntese de apresentação dos sujeitos
Fonte: Dados primários, 2008
Considerando a tabela acima, percebe-se que as idades dos entrevistados variam
de 21 a 26 anos, sendo que dois (2) deles têm idade igual há 26 anos, uma delas possui idade
igual a 24 anos e outra possui idade igual a 21 anos. Eles são todos estudantes de Psicologia,
contendo assim o Ensino Superior Incompleto e, dentre os quatro (4) participantes, apenas um
(1) é do sexo masculino. Com relação à religiosidade deles, constatou-se que dois estudantes
são adeptos da religião Católica, uma estudante é Protestante e a outra é adepta da doutrina
Espírita. É importante ressaltar que eles são estudantes, que estão realizando estágio de
Psicologia Hospitalar, da nona e décima fases. Faz-se essencial considerar as diferenças entre
os entrevistados, considerar os seus perfis, a fim de facilitar a percepção da influência que
essas diferenças poderão ocasionar nas respostas, no sentido de dar tons variados a elas,
podendo facilitar também a análise dos dados.
Com o intuito de realizar a análise dos dados apresentados pelos entrevistados,
foram primeiramente construídas categorias para facilitar esse procedimento. Essas categorias
foram dividas entre: O Significado da Morte; Sentimentos e Emoções e Pensamentos sobre a
48
morte; Estratégias de Enfrentamento; Dificuldades percebidas frente à situação de perda do
paciente e por último a categoria: Experiências de perdas vivenciadas. Essas categorias darão
o tom da análise dos dados coletados e os resultados obtidos pela pesquisa realizada.
Com relação à primeira categoria denominada O Significado da Morte, irá retratar
os conceitos, o entendimento, a compreensão e o significado que tem a morte, para os
estudantes de Psicologia entrevistados. No caso do significado que a pessoa dá para a perda,
seja ela de um familiar ou, no caso de estudantes que vivenciaram a perda de pacientes, será
particular.
4.1 O SIGNIFICADO DA MORTE
A percepção que as pessoas têm em relação à morte, vai modificando no decorrer
do tempo e da história. O significado da morte é um dado que pode variar para cada pessoa,
conforme o seu modo de ver o mundo, suas vivências e sua percepção, que são particulares
para cada um. De acordo com Kovács (1992), cada pessoa tem a sua própria representação da
morte, seja pela tradição cultural ou familiar de cada uma ou até mesmo pela investigação
pessoal. Diante disso, na pesquisa realizada, o significado da morte variou bastante entre os
entrevistados. Cada um trouxe uma compreensão diferente do outro, em suas respostas. O
entrevistado E1 trouxe como resposta em relação ao significado da morte, o seguinte
entendimento pessoal:
“Pra mim, a morte significa a limitação da pessoa humana. Pessoalmente, o
significado que eu dou, é que é um mistério a morte, eu acho que não só pra mim, quanto pra
todo mundo, acho que a morte é um grande mistério (...). Então representou essa limitação
das pessoas, né, tipo assim, às vezes, a gente vê a morte do outro, a gente lembra que vai
morrer também, a morte representa assim, a limitação que as pessoas têm (...). Foi uma
perda, né, querendo ou não eu tinha um certo apego ali e foi uma perda assim (...)”. E1
Nessa narrativa do estudante 1, foi percebido que ele trouxe três enfoques
diferentes para a morte, sendo que ele coloca que é a limitação da pessoa humana, é um
mistério e ao mesmo tempo, ele expressa a morte enquanto perda.
49
O significado da morte, enquanto limitação do ser humano pode ter o mesmo
sentido que finitude, pois quer expressar que a vida da pessoa tem um fim, tem um limite e
esse limite é a morte. Conforme Kovács (1992, p. 11), “a morte como limite nos ajuda a
crescer, mas a morte vivenciada como limite, também é dor, perda da função, das carnes, do
afeto. É também solidão, tristeza, pobreza. [...]” De acordo com a fala, relacionando com o
que Kovács (1992) explica, o estudante significou a morte dessa maneira.
Em relação ao significar a morte enquanto um mistério, os adultos atribuem a ela
esse sentido. De acordo com Kovács (1992), a morte possui outros atributos também, que são
o mistério, o poder e a força. Os adultos representam a morte como mistério, porque é algo
inexplicável.
O estudante apontou também na sua narrativa que, vendo a morte do outro, a
gente lembra que vai morrer também, pois segundo o estudante, havia estabelecido um
vínculo naquela relação. Diante disso, Kovács (1992), considera que, a morte do outro
configura-se como a própria morte, é a experiência da morte como se, uma parte nossa que
está ligada ao outro pelos vínculos estabelecidos, tivesse morrido. É a possibilidade que a
pessoa tem de pensar na sua própria finitude.
Outro significado constatado neste relato do estudante, foi que a morte da paciente
que ele atendia, foi vivenciada como uma perda. Para Kovács (1992), essa perda supõe um
sentimento, uma pessoa e um tempo, evocando sentimentos fortes, pois era um momento que
o estudante vivia enquanto estagiário, naquela relação, estabelecendo certo vínculo e a
paciente tinha a sua importância naquela situação.
A entrevistada E2 trouxe em sua narrativa, um significado diferente sobre a
morte, expressando que:
“(...) Eu vejo a morte assim... como um fim (...). Então pra mim é isso, é o fim (...)
Então eu acredito que hoje o luto e a morte são muito mais catastróficos do que eram antes
(...)”. E2
A estudante 2 aponta o seu significado da morte enquanto o fim, que designa a
finitude do ser humano. Ela significa a morte nesse sentido, tem a percepção dela como um
fim, porém considerou que hoje o luto e a morte são muito mais catastróficos do que eram
antes. O ser humano quer vencer a morte e tirá-la da sua realidade para não sofrer, não
vivenciar o luto. Com relação a isso, Kovács (1992, p. 2) considera que:
50
Desde todos os tempos em busca da imortalidade, o homem desafia e tenta vencer a
morte. Nos mitos e lendas essa atitude é simbolizada pela morte do dragão ou
monstro. Os heróis podem conseguir tal façanha, mas os mortais não. E o homem é
um se mortal, cuja principal característica é a consciência de sua finitude, isso o
diferencia dos animais, que não têm essa consciência [...].
Isso quer apontar que as pessoas, nesse caso, os estudantes que, significaram a
morte como um fim possuem essa consciência da finitude do ser humano.
Para a entrevistada E3, o significado dado à morte é semelhante ao da entrevistada
E2, pois quer dizer:
“O fim da vida, seria o mais propício assim, né, um término, uma passagem pra
algum lugar, mas o depois é o que eu fico me perguntando, sabe. A morte em si tem um
significado que é o fim da vida, acabou né, é até ali e deu (...). É uma perda muito grande
assim pra todo mundo, porque tu ta ali no meio da família, então tu vê eles abalados, né
(...).” E3
Na narrativa da estudante 3, percebeu-se também três significados diferentes do
que é a morte. Ela significou a morte enquanto o fim da vida, que está relacionado ao
término, designando também a finitude, uma passagem pra algum lugar e com o
significado de perda. É interessante constatar que essa estudante apontou três significados, os
quais, cada um deles está relacionado a cada um dos demais estudantes.
O significado da morte como o fim da vida, um término, designando a finitude,
está relacionado aos estudantes 1, 2 e 3. Assim como perda está relacionada também ao
estudante 1 e 3. Em relação ao significado da morte como uma passagem pra algum lugar, diz
respeito à estudante 4. A análise feita dessa narrativa também está relacionada, com a análise
apresentada com os discursos dos demais estudantes.
A entrevistada E4 expressou a sua compreensão e o seu significado sobre a morte
em seu relato, da seguinte maneira:
“A minha compreensão pessoal da morte, é uma compreensão um tanto religiosa,
por causa da concepção principalmente espírita. Pra mim a morte é uma passagem e não
representa finitude como para muitas pessoas e sim uma mudança de estado para uma
continuação (...)”. E4
51
A estudante 4 expressou o seu significado da morte, com a influência da doutrina
espírita, que relaciona a morte como uma passagem, uma mudança de estado para uma
continuação. Nesse sentido, a morte para ela não é um fim, mas uma passagem para outra
vida. Esse significado se deu através de uma visão religiosa.
Após ter realizado a análise sobre o significado da morte para os estudantes de
Psicologia, o trabalho irá ater-se então, à segunda categoria elaborada sobre Sentimentos e
Emoções. Essa categoria, assim como o Significado da Morte podem ser apresentados para
cada pessoa de maneira diferente.
4.2 SENTIMENTOS E EMOÇÕES
A morte é uma situação que, pode trazer emoções e sentimentos diversos a todas
as pessoas que estão diante dela, sejam eles familiares, parentes, amigos e até mesmo
profissionais ou estudantes, estagiários que vivenciam a perda de pacientes. De acordo com
Camon (2003), a morte é uma realidade chocante para as pessoas, que abala profundamente as
estruturas emocionais e psíquicas de cada um que a vivencia, diante da perda de um ente
querido. As questões que envolvem a morte estão relacionadas às emoções e provocam
alterações no estado emocional das pessoas e essa experiência também pode ocorrer com o
estudante de psicologia que se depara com a morte de pacientes, no contexto hospitalar.
Sendo assim, essa categoria vai abordar os dados, referentes aos sentimentos e
emoções vivenciados pelos estudantes de psicologia, diante da morte de pacientes
hospitalizados, que eles tenham atendido no contexto de estágio hospitalar. Diante dos dados
fornecidos pelos informantes, percebeu-se que houve diferenças com relação aos sentimentos
e emoções experimentados, que a seguir serão explicitados.
O E1 e a E3 expressaram uma emoção parecida, que vivenciaram ao saber da
morte de pacientes, nas seguintes narrativas:
“Então, eu senti um certo desconforto... Eu lembro que eu fiquei triste também
(...)”. E1
“(...) Aí, depois, como eu te falei, indo no ônibus, daí sim me veio né, florescer as
emoções, depois que eu saí do hospital, peguei um ônibus, fui pra casa, aí veio emoções
52
assim de, ai, não chorei, mas fiquei muito triste, sabe, triste, a gente fica triste, fiquei muito
triste assim, eu não queria ter perdido o paciente, a gente nunca quer que as pessoas morram
né, por mais que tu saiba que isso vai acontecer, mas não é um desejo né, não é desejo
nenhum (...) Eu fiquei muito triste nesse dia, outra vez que eu perdi um paciente, eu fiquei
muito irritada, outra emoção que veio também, eu fiquei brava assim com a vida, com as
coisas, mas também não perdi muitos né, então eu oscilo entre essas duas emoções, que eu já
experienciei, que foram mais ou menos assim (...)” E3
Na primeira narrativa, o estudante 1 expressou que ele sentiu um desconforto
emocional, apresentando também a tristeza enquanto uma emoção vivenciada naquele
momento, devido à perda de um paciente que ele estava prestando atendimento. Esse
desconforto apresentado pelo relato do E1 parece estar ligado a um desejo de que, a morte não
ocorra ou que talvez não esteja preparado para lidar com ela, que vem acompanhado de uma
tristeza pela perda vivenciada.
A E3 também expressou na sua narrativa, muita tristeza diante da perda de um
paciente. De acordo com Kovács (1992), a morte é também vivenciada com a emoção, com o
sentimento de tristeza. A tristeza é uma emoção característica de uma perda experimentada,
pela situação de morte de uma pessoa que se estabeleceu certo vínculo.
A estudante 3 apresentou, uma variação de seus sentimentos e emoções
experimentados nas situações de perda dos pacientes. Ela expressou que ficou chateada, aí
depois expressou uma fala freqüente, com relação ao sentimento de tristeza por ter perdido o
paciente. Num outro caso de morte do paciente, ela relatou que experimentou uma irritação.
Além dessas emoções, a paciente expressou que ficou brava com a vida, com as coisas,
dizendo que oscilou entre essas duas emoções.
A estudante 3 apresentou também uma irritação, diante da perda de um paciente
dizendo que ficou brava com a vida, com as coisas, emoção esta que pode ser decorrente da
raiva, da revolta. A raiva, num processo de luto pela perda de alguém é uma emoção bastante
expressada nas suas fases, principalmente na segunda. Segundo Bowby (1985 apud Kovács
1992), essa raiva pode se manifestar através da irritabilidade ou através de uma profunda
amargura. É interessante constatar, que a estudante tenha vivenciado uma emoção que está
ligada ao processo de luto.
A E2 e a E4, experimentaram um sentimento semelhante em uma de suas
narrativas:
53
“O que representou pra mim, primeiro, impotência! Impotência minha por ta
atendendo aquele paciente, a gente acha que a gente poderia ter feito mais por ele enquanto
vida... Então, fica uma lacuna na gente mesmo, então quando eu perdi os meus pacientes, eu
me senti assim, vazia... Então eu acho que é isso, pra mim é vazio e impotência”. E2
“(...) dá a sensação de não poder fazer muita coisa, sabe, de impotência e a
sensação de trabalho inacabado, porque eu nem comecei a trabalhar nada com ela... Então
uma sensação de impotência absurda, eu acho que é a que mais cabe nesse momento e de
chateação mesmo assim, de ficar chateada: puxa vida, não deu de... de insatisfação com o
trabalho sabe (...)” E4
Após essas narrativas, serão apresentados outros relatos, relacionados aos
sentimentos e emoções relatadas pela estudante 2:
“(...) E como foi a minha primeira paciente, foi o meu primeiro contato com a
morte aqui dentro do hospital, eu fiquei com medo, eu fiquei com medo e... fiquei fraca
assim...” E2
“Teve horas que eu me senti injustiçada pelo mundo e teve horas que eu me senti
leve, eu me senti com o meu dever cumprido (...)” E2
A estudante 2 expressou vários sentimentos e emoções, na situação de morte de
pacientes que ela atendeu. Ela experimentou, segundo os seus relatos, sentimentos de vazio e
impotência diante da perda de pacientes, por achar que poderia ter feito mais por eles
enquanto vivos, sentindo que ficou uma lacuna nela mesma.
Na sua segunda narrativa, a estudante 2 relatou que, no caso da perda da primeira
paciente atendida por ela, por ter sido o seu primeiro contato com a morte dentro do hospital,
ela experimentou o medo, que expressa uma emoção vivida naquele momento. Já, na terceira
narrativa, ela expressou que teve horas em que ela se sentiu injustiçada pelo mundo e teve
horas que se sentiu leve, com o seu dever cumprido.
A estudante 4 relatou a sua vivência de sentimentos de impotência, a sensação
de trabalho inacabado e de insatisfação com o trabalho. Percebeu-se que a experiência
dela é parecida com a experiência da estudante 2.
Os sentimentos de impotência vivenciados pelas estudantes, segundo as suas
narrativas, estão relacionados à necessidade de seu processo de crescimento, por perceberem
54
que não puderam realizar algo mais pelas pacientes, enquanto elas viviam e esse vazio pode
ter traduzido essa falta percebida pela estudante 2. De acordo com Kovács (1992), a visão
atual da morte está representada pelo fracasso, pela derrota e pela incompetência. Essa visão
pode estar relacionada, aos sentimentos de impotências experimentadas pelas duas estudantes.
A sensação de trabalho inacabado, constatada pela estudante 4 está vinculada também ao
sentimento de impotência, por ela ter percebido que não podia fazer algo a mais pela paciente.
O fato da estudante 2 ter-se sentido injustiçada pelo mundo, ocorreu nas situações
em que ela perdeu pacientes que, segundo seus relatos, haviam lutado bastante para viver e
que ela havia trabalhado bastante com eles. Nesse sentido, percebeu-se que há um sentimento
de revolta pelas mortes, existe uma não-aceitação pelas perdas dos pacientes, devido ao fato
dela ter constatado que trabalhou em função da recuperação deles. Da mesma forma, a
estudante 4 relatou a sua insatisfação com o trabalho, devido à presença da morte, o que
provoca a dor da perda que é comum a todos os seres humanos. Nesses casos, de acordo com
Kovács (1992), é como se a pessoa e nessa situação, o profissional ou as estudantes de
psicologia pensassem que não há lugar para a morte, que representa a derrota, o fracasso, o
que pode ferir a onipotência, os colocando diante do incompleto e do não-terminado. Na
análise dessas narrativas da E2 e da E4, que apresentaram sentimentos semelhantes, percebeuse que existe uma relação entre eles, pois todos os sentimentos estão vinculados pelo
significado que eles possuem.
Quando a E2 relatou que se sentiu leve, está relacionado aos casos de pacientes
que ela perdeu que sofreram muito, que estavam sozinhos, que não tinham família. Nesse
sentido, a estudante expressou que sentiu um alívio, como se a morte nesses casos fosse uma
solução encontrada, além de sentir que o seu dever com relação àqueles pacientes foi
cumprido. De acordo com Doll (2002), a pessoa que vivencia uma perda, dependendo das
circunstâncias, poderá experimentar também sentimentos positivos, como nesse caso, a
sensação de alívio. Essa sensação de alívio não deixa de significar uma aceitação com relação
a uma determinada situação de morte de outra pessoa.
Além desses sentimentos vivenciados pela E2, ela experimentou o medo, emoção
que está relacionada à perda da primeira paciente atendida por ela, no contexto hospitalar. O
profissional e nesse caso o estudante de psicologia, diante da morte de pacientes poderá “[...]
reexperimentar medos infantis de separação, abandono e o medo de sua própria mortalidade”.
(Kovács 1992 apud Camon 2002, p. 135) Além disso, Kovács (1992) considera que, esse
medo, está relacionado também ao medo da solidão, da separação de quem se ama, de estar só
diante da morte, medo da doença, sofrimento antes da morte, entre outros.
55
É importante ressaltar que durante o seu relato, a estudante 2 pontuou que, cada
caso foi diferente para ela, que teve pacientes que sofreram muito, que estavam sozinhos, sem
familiares no hospital, então nesses casos ela se sentiu aliviada e nos outros casos em que a
família estava junto do paciente, lutando com ele pela sua recuperação, ela teve esses
sentimentos de vazio, impotência, sentindo-se também injustiçada pelo mundo.
Através desses dados e da análise realizada, percebeu-se que duas estudantes
experimentaram o sentimento de impotência. Além desse sentimento, a E2 sentiu-se
injustiçada pelo mundo em determinadas situações de perda de pacientes e em outras se sentiu
aliviada e com o seu dever cumprido, bem como vivenciou o medo diante da morte. Já no
caso da E4, além desse sentimento de impotência, ela expressou a sensação de trabalho
inacabado, bem como a insatisfação pelo trabalho nas falas apresentadas. Sendo assim, é
preciso aprender a aceitar que vai existir dor nessas situações, é importante vivenciá-las e não
ir contra essa experiência. Em relação ao vazio sentido pela E2, é interessante ressaltar que ele
pode estar relacionado com a sensação de trabalho inacabado da E4.
Através da análise realizada com as narrativas dos E1 e E3, percebeu-se também
que houve uma semelhança de emoções vivenciadas por eles. Os dois estudantes expressaram
a tristeza, como uma emoção que experimentaram diante da morte dos pacientes. Além dessa
emoção, no caso da E3, ocorreu uma irritação, demonstrado pelo discurso de que ela ficou
brava com a vida e com as coisas.
Esses foram os principais sentimentos e emoções, que os estudantes expressaram
nas suas narrativas. Sendo assim, em seguida, o trabalho abordará a próxima categoria, que
foi denominada como Pensamentos sobre a morte.
4.2.1 Pensamentos sobre a morte
Conforme o contexto histórico e social, a morte é vista como mistério,
provocando dúvidas e questionamentos às pessoas que se deparam com ela, pela necessidade
de obterem uma resposta. A morte e morrer foram sempre assuntos difíceis de ser falado e
refletido pelas pessoas. De acordo com Camon (2003), na Antiguidade, pôde-se identificar
que o homem não afastava do seu pensamento a idéia de que iria morrer. A morte surgia com
mais rapidez e na maioria das vezes, as pessoas não sabiam o seu motivo. Nessa época, as
pessoas adoeciam com mais facilidade, devido à sua fragilidade em relação às doenças e pela
56
falta de prevenção e tratamento. A expectativa de vida das pessoas era mais curta, elas sabiam
que não viveriam por muito tempo.
No entanto, houve mudanças na maneira de pensar sobre a morte na sociedade
atual. Ainda, de acordo com Camon (2003), com o avanço da ciência, o ser humano passa a se
achar capaz de combater a morte, deixando de pensar nela e crendo que é algo distante ou que
parece não acontecer consigo, não estando preparado para o seu adoecimento, sofrimento e a
morte. Ela é temida e vista como um tabu, um tema que é bastante evitado pelas pessoas.
Dessa forma, o homem começa a utilizar o silêncio para afastar a morte inevitável do seu
cotidiano e aquilo que era exigido, como a vivência do processo de luto, agora é proibida na
sociedade moderna.
Diante disso, a categoria a ser explicitada a partir daqui, será: Pensamentos sobre
a morte, com o intuito de identificar quais os pensamentos que ocorreram aos estudantes de
Psicologia, no momento em que souberam da morte de pacientes, por eles atendidos, no seu
estágio no hospital. Os pensamentos também podem ocorrer, de forma variada de pessoa para
pessoa. Nesse momento então serão apresentadas as falas dos estudantes.
A E3 relatou os pensamentos que lhe ocorreram, diante da notícia da morte de
pacientes que ela atendeu, aduzindo:
“(...) tu fica mais introspectiva, pensando até mesmo nos teus projetos de vida, eu
fico muito pensando assim: ai, como é a vida: um dia tu ta aqui e (...)” E3
“Pensamentos? Nossa! Vêm todos assim. Vem de indignação, frustração, todos,
todos os péssimos, até aquele momento que tu pára, respira, reflete né e aí depois começa a
botar a cabeça no lugar, porque eu acho que não tem como não ficar um pouco indignada
assim, ai que saco, né! (...) mas depois que eu dei uma estabilizada, eu tive pensamentos
assim de chateação assim, né: ai que droga, eu não acredito mais em nada, ai, cadê esse
Deus que né (...) a gente começa a pensar mais na morte quando a gente ta nesse meio, só
que daí quando... se tu se depara assim logo e ta bem no iniciozinho, aí tu pensa, pensa
assim, fica dias pensando, bah, que droga, eu não queria que tivesse sido assim! E3
“(...) Tu vai ficando também mais consciente de que tu vai morrer (...)” E3
É interessante perceber que nestas narrativas da E3, sobre os seus pensamentos
diante da morte de pacientes que ela atendeu, ela expressou o que sentiu, pois nesses discursos
57
se apresentaram pensamentos que se remetem a sentimentos de indignação, frustração e
chateação frente a esses acontecimentos. Aqui se pôde constatar que os pensamentos e
emoções, sentimentos estão interligados. No entanto, ela pôde perceber que ficou mais
introspectiva, pensando até mesmo nos seus projetos de vida. Além disso, a E3 percebeu
que começou a pensar mais na morte quando se inseriu nesse meio, no contexto
hospitalar.
Na sua primeira narrativa, a estudante mencionou que ficou mais introspectiva e
que foi possível pensar até mesmo nos seus projetos de vida, estando diante da morte de
pacientes. Dessa forma, a pessoa quando está diante da morte de outra, tende a pensar mais
sobre a sua vida, sobre os seus projetos de vida. De acordo com Camon (2002), o psicólogo e
nesse caso pode-se remeter à situação de perda vivenciada pela estudante de psicologia, à qual
reportou aos seus sentimentos, questionamentos relacionados à sua própria vida.
Na segunda narrativa, a estudante expressou pensamentos que se relacionam aos
sentimentos de indignação e frustração. Esses sentimentos podem surgir, de acordo com
Camon (2002), pela tentativa que o profissional ou no caso, o estudante farão de driblar a
morte, que é a principal inimiga a ser vencida no contexto hospitalar, o que reflete também no
“fracasso” das condutas terapêuticas, quando esse desejo não é alcançado. Da mesma
maneira, de acordo com Kovács (1992 apud Camon 2002), uma das formas mais usadas pelo
profissional é a formação reativa, a conquista da doença, o desafio da morte e a tentativa de
tomar medidas heróicas para salvar o paciente a todo custo [...]”
Além desses pensamentos relatados pela estudante 3, ela expressou também que,
começou a pensar mais na morte quando ela se inseriu nesse meio, no contexto hospitalar.
Relatou a consciência de sua própria morte, de sua finitude. De acordo com Camon (2002), o
psicólogo e nessa situação, a estudante de psicologia teve a experiência de reportar aos seus
sentimentos, questionamentos sobre a sua própria mortalidade.
Dando continuidade à demonstração dos dados, a partir de agora então, serão
apresentadas os relatos da E4, que representaram os seus pensamentos com relação à situação
de morte de pacientes por ela atendidos, que foram as seguintes:
“(...) aqui a gente olha pros pacientes no hospital, pensando sempre que eles vão
ficar bem, que eles estão ali pro tratamento pra irem pra casa, pra melhorar a saúde, a gente
atende com o viés de ajudá-los a melhorar a sua saúde e a gente esquece que às vezes a gente
precisa ajudá-los a morrer, né. Mas na hora me veio mesmo pensamentos das situações em
58
que eu a atendi e o quanto a gente não pode fugir da morte e ela ta aí e acontece inclusive
enquanto a gente ta dormindo e seja lá onde for, inclusive no hospital”. E4
Nessas narrativas, percebeu-se que a E4 apresentou os seus questionamentos, os
seus pensamentos e reflexões com relação ao trabalho realizado com os pacientes, antes da
sua morte, percebendo a necessidade de poder ajudá-los a enfrentar essa situação. A
estudante expressou em seu relato, a intenção do trabalho com os pacientes, do atendimento
prestado a eles, a fim de ajudá-los a recuperarem a sua saúde, sem pensar na possibilidade da
morte. De acordo com Camon (2002), o hospital está marcado pela luta constante dos
profissionais entre a vida e a morte de pacientes, pela esperança de melhora, da cura, da
minimização ou suspensão do sofrimento, não admitindo nada que transcenda esse princípio e
isso é também vivenciado pelos psicólogos e estudantes de psicologia inseridos nesse
contexto.
Diante dessas narrativas, percebeu-se que a estudante 3 passou por um processo de
frustração e indignação diante da morte, levando-a pensar sobre os seus projetos de vida e
sobre sua própria mortalidade. No caso da estudante 4, surgiram pensamentos sobre o objetivo
que tem o trabalho com os pacientes hospitalizados, que é a sua cura, percebendo que às vezes
é preciso ajudá-los a morrer também. Essa estudante também, nessa situação vivenciada fez
reflexões sobre a morte. Com isso, pôde-se perceber que o contexto hospitalar que as
estudantes estavam inseridas e diante da morte dos pacientes, proporcionou reflexões e
questionamentos sobre esse assunto.
Após o trabalho tratar dos pensamentos que ocorreram nas situações de perda de
pacientes vivenciados pelos estudantes, será explicitado o tema sobre Estratégias de
Enfrentamento diante da perda de pacientes. Essa categoria tem o propósito de identificar, as
maneiras que os estudantes utilizam para enfrentarem a morte, a perda de pacientes que eles
tenham atendido e o quê eles fazem para lidar com os sentimentos que vivenciam, pela perda
de pacientes que eles tenham constituído um vínculo.
59
4.3 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DOS ESTUDANTES DIANTE DA PERDA
DE PACIENTES
As Estratégias de Enfrentamento estão ligadas às Reações dos estudantes, diante
da morte dos pacientes. São os mecanismos de enfrentamento e de defesa, utilizados pelas
pessoas para lidarem com um sofrimento ou situação difícil que estão vivendo.
Dessa maneira, o conceito de estratégia de enfrentamento refere-se, às estratégias
que promovem uma adaptação dos indivíduos às situações estressantes que ele enfrenta.
Assim, de acordo com Cerqueira (2000) apud Zakir (2003), o coping, que pode significar
“ajustamento” ou enfrentamento, tem como centro, os acontecimentos da vida dos indivíduos,
que podem ser as perdas, as dificuldades, fatos inesperados ou tragédias.
O coping apresenta uma distinção na sua forma de atuação. Segundo Zakir (2003),
essa distinção está relacionada às estratégias de enfrentamento, que estão voltadas para a
emoção e outras que estão voltadas à ação dos indivíduos para a resolução de seus problemas,
diante de uma situação que provoca estresse.
As pessoas terão maneiras particulares e singulares de lidar com a morte. Elas
enfrentam a morte de acordo com a sua cultura. Porém, há maneiras de perceber a morte que
são universais. Para Rosenblatt (2001 apud DOLL, 2002, p. 1000),
A morte é percebida em todas as culturas como um problema, e a reação de luto à
perda do parceiro ou de uma pessoa querida também se encontra em todos os
lugares. Porém, a forma concreta de lidar com a morte e de expressar o luto varia
muito, dependendo da cultura na qual a pessoa vive e pode ir de um rápido passar
adiante até uma obrigação de mostrar tristeza, dor e desespero durante um longo
período.
Diante dessas considerações, a partir de agora serão apresentadas pelas narrativas
dos estudantes, as estratégias que eles utilizaram, para lidarem com a questão da morte no
contexto hospitalar, bem como as suas reações diante dessa situação.
O relato da E3 expressou suas estratégias de enfrentamento, da seguinte maneira:
“(...) porque tem essa parte assim que eu sou muito religiosa, eu acredito, né,
tudo, mas eu to sempre brigando com Deus, porque se ele não faz as coisas que eu peço, ai
porque aqui no hospital tem uma santinha lá em baixo e uns peixinhos, daí volta e meia eu
vou lá, olho pra ela e peço uma ajuda (...)” E3
60
A estudante 3 relatou que é muito religiosa, que acredita em Deus e às vezes pede
ajuda para uma santinha que existe no hospital. O fato de ela ser muito religiosa, de crer em
algo, é uma maneira dela enfrentar as situações difíceis. Essa estratégia de enfrentamento
apontada pela estudante, através de práticas religiosas está relacionada ao coping focalizado
no problema, bem como o coping focalizado na emoção, onde o indivíduo busca também
enfrentar uma situação estressante, como nesse caso, a perda de pacientes através de
comportamentos religiosos, que trazem sentimentos de esperança e fé. (E. M. F. SEIDL &
COLS, 2001).
Há exemplos de ações realizadas pelas pessoas, no aspecto espiritual para
enfrentarem uma situação difícil. Lorencetti e Simonetti (2005) citam que, o enfrentamento
pelo aspecto espiritual se dá, quando o indivíduo, por exemplo, participa de atividades
religiosas, lê livros, conversa com padres, pastores e utiliza orações. Nesse caso, a estudante
utilizou a oração, como uma estratégia de enfrentamento diante da morte dos pacientes.
A E3 relatou outras estratégias de enfrentamento, na sua fala seguinte:
“(...) Então assim, eu já pensei muito mais sobre isso, né, na fase inicial,... porque
daí eu entrei no hospital e já de cara um paciente morreu, né. Então eu acho que de uma
certa forma me fez cair a ficha, eu acho que de uma vez: olha, você ta num ambiente que é
assim que funciona e isso pode acontecer, então você tem que procurar sentir também, né, os
mecanismos de defesa ou de adaptação que vão te propiciar, de enfrentamento pra ti poder
ajudar o outro, né, porque é importante que a gente tenha isso bem estabelecido, não digo
bem, que um dia tu não vai pegar um paciente e ele vai morrer e tu não vai chorar, eu acho
que tu tem o direito e acho que até é uma forma adaptativa tua, né (...)” E3
Nessa fala então, a estudante pontuou que, conseguiu encontrar os recursos
adaptativos para lidar com a morte no seu estágio de Psicologia Hospitalar, ressaltando
também que o ato de chorar pode ser da mesma maneira, uma forma adaptativa. Nesse
sentido, de acordo com outros relatos feitos pela estudante, constatou-se que ela reagiu diante
da perda de pacientes, deixando de lado suas emoções naquele momento, a fim de ter
condições para auxiliar àqueles que estavam precisando da sua ajuda.
De acordo com Lorencetti e Simonetti, as estratégias de enfrentamento ou
mecanismos de coping, dividem-se em padrões diretos e indiretos. Os padrões diretos contêm
habilidades para solucionar problemas, afetando as suas demandas. E os padrões indiretos são
aqueles que não modificam as demandas, mas promovem o ajuste do indivíduo às situações
que não podem ser resolvidas. As estratégias utilizadas através desse modelo, que é o coping
paliativo, contêm os mecanismos de negação, repressão, isolamento ou fuga. Nesse caso, foi
61
utilizada a estratégia de enfrentamento com foco na emoção, a qual, sua principal função seria
regular a resposta emocional causada pela situação estressora. Sendo assim, percebeu-se que a
estudante enfrentou a situação naquele momento possivelmente através da repressão de seus
sentimentos e emoções.
Na sua última narrativa, aí a estudante 3 expressou a maneira como vivenciou as
suas emoções e sentimentos, provocados pela morte dos pacientes:
“(...) Assim, por exemplo, já me veio esses sentimentos assim de ter passado aqui
esses processos de morte, tomando banho no chuveiro, de repente vem: ai, que saco, a
morte... Então é bem louco assim ou no ônibus eu penso na morte, quando eu to no chuveiro,
deitada e assim, eu não, eu procuro não evitar isso, porque é uma forma de me acalmar
também, sabe, me deixa mais aliviada (...) é importante que tu esteja vendo isso sempre, o
que ta acontecendo em ti.” E3
Na última narrativa, a estudante expressou que vivencia esses sentimentos e
pensamentos em relação à morte, em diversos lugares e situações, fora do contexto hospitalar,
sem evitar isso, porque faz com que ela sinta-se calma e aliviada, ressaltando a importância de
estar sempre percebendo o que está acontecendo consigo. A estudante precisou vivenciar
essas emoções, para que se sentisse melhor. Essas são estratégias de enfrentamento baseadas
na emoção, são as defesas internas que a pessoa busca para aliviar o seu sofrimento.
“Enfrentamentos favoráveis acarretam emoções positivas; enfrentamentos desfavoráveis ou a
impossibilidade de encontrar soluções causam angústia [...]”. (DOLL, 2002, p. 1007).
Dessa forma, percebeu-se que, a estudante utilizou-se de estratégias de
enfrentamento saudáveis, diante da perda dos pacientes. De acordo com Kovács (1992), é
necessário viver esses momentos, expressando os sentimentos que são fundamentais para o
desenvolvimento do processo de luto.
Em relação à E2, a sua reação e a maneira como ela lidou com a perda do paciente
ocorreu da seguinte forma:
“Assim... eu fiquei em choque assim, eu não acreditava..., eu fiquei incrédula, né
(...)” E2
62
“Da minha primeira paciente, a minha primeira reação foi chorar, segurar o
choro, mas chorar assim. Chorei. E eu vou te dizer a minha segunda reação, eu fui lá me
despedir (...) a gente tem uma reação meio de espanto, né (...)” E2
A E2 relatou duas situações nessas narrativas, onde experimentou reações
diferentes. Numa situação de perda de um paciente, ela ficou chocada, não acreditava na
morte e ficou incrédula. Já, na outra situação, as suas reações foram chorar e depois se
despedir da paciente.
Com relação ao fato da estudante 2 chocar-se com a morte de um paciente, como
uma reação diante dessa perda, está relacionado ao processo de luto, bem como reagir através
do choro, expressado na sua fala. Para Bowby (1985 apud Kovács, 1992), o processo de luto
se dá em quatro fases: primeiro vem à fase em que a pessoa entra em choque, por algumas
horas ou semanas, esta fase poderá vir acompanhada pelos sentimentos de desespero e raiva.
No caso do choro, ele vem acompanhado pela esperança intermitente, os desapontamentos
repetidos e outros que são caracterizados na segunda fase do processo de luto.
Outra maneira da estudante enfrentar essa perda foi buscada, através de um ritual
de despedida. Assim como na Idade Antiga, esse ritual é importante para a pessoa aceitar a
perda. Segundo Camon (2003, p.75):
Antigamente, o velório ocorria na casa do morto, contando com a participação da
família, amigos, parentes e comunidade. O velório caracterizava-se pelo momento
de rever e se despedir do falecido, estimulando as emoções, trazendo-as à tona para
que se baixassem as defesas diante da situação de morte. As crianças participavam
naturalmente do processo de despedida. O ritual durava dias e as emoções eram
expressas de forma clara e direta. Vale lembrar a presença de carpideiras nos
velórios, que tinham como objetivo evitar que as emoções fossem reprimidas. Essas
mulheres, através de seus cantos e orações, facilitavam a expressão de sentimentos,
evitando a “vergonha” de chorar ou sofrer pela perda, facilitando a elaboração do
luto.
As pessoas eram liberadas para viverem o seu processo de luto, podendo
exteriorizar os seus sentimentos diante de uma perda, sem que isto fosse uma vergonha.
(Kovács, 1992).
Essas foram às reações e estratégias de enfrentamento apresentadas pelos
estudantes, ao saberem da morte dos pacientes que eles atenderam. Percebeu-se que todas as
estratégias apresentadas pelas estudantes foram consideradas saudáveis.
A próxima categoria vai tratar sobre as dificuldades percebidas pelos estudantes,
frente à situação de perda do paciente.
63
4.3.1 Dificuldades percebidas pelos estudantes frente à situação de perda do paciente
As dificuldades sentidas pelos estudantes, com relação à morte e à perda de
pacientes podem ser identificadas por diversas implicações. Neste caso, as dificuldades
podem estar implicadas na formação acadêmica do psicólogo, bem como nas experiências e
questões relacionadas à sua subjetividade e à sua vida pessoal. A morte é uma realidade
dentro do hospital, que abala todas as pessoas que estão à sua volta e é uma situação que,
familiares e profissionais da saúde e, em especial o psicólogo, enfrentarão diante do paciente
hospitalizado. Segundo Camon (2002), ela representa a situação mais difícil de ser encarada
por todas as pessoas, os familiares e amigos pela perda de seu ente querido e os profissionais
da saúde, entre eles o psicólogo, por contribuírem e lutarem no contexto hospitalar para a
manutenção da vida.
Sendo assim, nesse momento, o trabalho se propõe a discutir sobre esse tema, que
se define através das narrativas dos estudantes, como as dificuldades que eles enfrentaram
diante da perda de pacientes. Nesses dados obtidos contém a falta de experiência dos
estudantes, bem como a falta de discussão sobre esse tema essencial para a Psicologia que é a
morte.
Seguindo adiante com as falas, o E1 expressa suas dificuldades nos determinados
discursos:
“(...) deu pra vê que a morte não é um assunto que é debatido, a gente não tem
aula que fale especificamente sobre a morte ou alguma disciplina, né (...) mas tipo assim, no
curso eu acho que devia ter mais, ter mais espaço pra isso, ainda mais quando a gente vai
pro hospital, né (...)” E1
“(...) quando eu tive a primeira experiência que eu fiz aquela cara assim e a
colega já me deu assim um puxão, porque claro assim, a gente novinho assim, vamos
começar o estágio, imagina né, tu acha o quê, ta a morte, a morte, estudamos sobre a morte e
pouco ainda, né, porque na faculdade a gente tem bem pouca coisa sobre a morte, eu acho
que a única matéria que eu estudei sobre a morte foi em sistêmica e aí, ainda tu acha que tu
ta toda up pra ta ali, só que daí a gente vê que o buraco é mais embaixo, né. (...)” E3
64
Na primeira narrativa do E1, percebeu-se que foi difícil para ele, enfrentar a perda
de pacientes em seu estágio no hospital. Ele percebeu essa dificuldade por não ter tido uma
disciplina que trate especificamente da morte, ressaltando a necessidade de que haja mais
espaço para discussões sobre o assunto
Com relação ao relato da E3, a estudante expressou a sua dificuldade na primeira
experiência de perda de um paciente, que foi no início de seu estágio, a necessidade que existe
disso ser bem elaborado para que o estagiário não se coloque a chorar junto com a família.
Além disso, a E3 pontuou a escassez de estudos sobre a morte, quando disse: ...estudamos
sobre a morte e pouco ainda, né, porque na faculdade a gente tem bem pouca coisa sobre a
morte, eu acho que a única matéria que eu estudei sobre a morte foi em sistêmica e aí, ainda
tu acha que tu ta toda up pra ta ali, só que daí a gente vê que o buraco é mais embaixo, né.
Diante dessa narrativa, a estudante 3 também relacionou a ausência de uma disciplina, que
discuta sobre a morte, com as suas dificuldades e com a falta de preparo percebidos por ela,
para lidar com essa situação. Diante disso, é necessário ressaltar a importância que têm
estudos que abordam esse tema.
De acordo com Camon (2002), somente há poucos anos, as faculdades de
psicologia passaram a se preocupar com a necessidade dessa nova área. “Porém, nos
currículos universitários, o tema ainda não é incluído, o que causa dificuldades, quando o
psicólogo despreparado, adentra ao contexto hospitalar”. (CAMON, 2002, p. 134). Dessa
forma, é importante que a Psicologia esteja mais atenta para essa realidade e possa oferecer
uma formação que esteja mais adequada aos estudantes, abrangendo aspectos como esses que,
também são essenciais para a atuação profissional dos psicólogos.
Além dessa dificuldade, os estudantes apresentaram outras. O E1 expressou outras
dificuldades enfrentadas também pela perda dos pacientes, diante da seguinte fala:
“(...) eu sei que a morte não é algo desejado, mas saber lidar com ela no ambiente
de trabalho, isso aí aumenta a qualidade de vida da pessoa. Você imagina assim: uma pessoa
toda vez que vai atender alguém, ela pensa na própria morte, imagina: atende vinte pessoas,
numa ala de pacientes terminais, aí cada paciente que ela vai atender, aí ela lembra que ela
vai morrer também, né, isso aí gera um stress terrível. E tipo assim, muita gente que faz parte
da psicologia, têm esse problema né, tem esse problema e é pouco discutido, imagina num
ambiente de hospital, a gente né, eu nunca tinha lidado com essa situação, de atender
pacientes terminais, pra mim no início isso foi um stress, no começo assim, pra mim foi bem
estressante, mas aí depois eu comecei a me acostumar... Mas no início, eu não tava muito
65
confortável não, ali fazendo estágio, ah, eu não tava à vontade, tinha algo que me
incomodava que era isso. (...)” E1
No segundo relato, o E1 pontuou que, a experiência de atender pacientes numa ala
em que a morte está muito presente no cotidiano, faz com que a pessoa fique lembrando que
ela vai morrer também e isso, segundo o estudante gera um estresse terrível. O estudante
considerou também que isso é um problema para quem faz parte da psicologia e é pouco
discutido. Expressou também a sua dificuldade no início de seu estágio, em lidar com a perda
de pacientes, por ter sido bem estressante para ele, por não estar muito confortável e à vontade
realizando aquela atividade, como também teve a compreensão de que, o que lhe incomodava
era essa questão da morte naquele contexto.
Através da narrativa do E1, constatou-se que toda vez que atendia um paciente
terminal, ele lembrava na sua morte, o que gerava-lhe um estresse muito grande. Isso também,
pode estar relacionado à não aceitação da angústia que ele vivenciava naqueles momentos.
Diante dessa constatação, Zimerman (2000, p. 117) considera que:
[...] morte e morrer são duas palavras que as pessoas costumam evitar dizer e duas
questões sobre as quais a maioria procura não pensar. Essa dificuldade de conviver e
de trabalhar com a idéia da morte atrapalha enormemente sua elaboração e impede
que se lide com tranqüilidade com as perdas, que são naturais e ocorrem
inevitavelmente ao longo da vida [...]
O estudante acrescenta ainda neste relato, que a sua experiência no início foi bem
estressante, que ele não se sentia confortável ao enfrentar à perda dos pacientes, no contexto
de estágio hospitalar e que esse problema que é vivenciado pelos estudantes de psicologia,
deveria ser mais discutido. De acordo com Camon (2002), a presença da morte no contexto
hospitalar provoca tensão nos profissionais da saúde que, estão preparados e treinados para
salvar vidas, mas sempre angustiados frente à perspectiva da morte, da derrota, pois a
instituição hospitalar existe para a cura, não admitindo nada que transcenda esse princípio.
A E3 apresentou outra dificuldade sua diante da morte, na seguinte fala:
“(...) meu Deus, mas será que eu dou conta disso, fiquei assustada ao mesmo
tempo, mas fiquei pensativa, ai, mas tem a minha família, mas a gente sabe esse elo assim
(...)” E3
Neste relato, a estudante teve questionamentos em relação à sua condição de
enfrentar ou não à perda de pacientes, levando-a pensar na sua família, no vínculo que tem
com ela, deixando-a assustada. De acordo com Camon (2002), essa narrativa também está
66
relacionada ao fato de que o psicólogo, quando reconhece as questões que envolvem a morte,
ele reporta aos seus sentimentos, questionamentos sobre a sua própria vida. Essa fala foi bem
importante, porque retratou o quanto os estudantes podem transferir a questão da perda do
paciente, para a sua vida pessoal.
Considerando essas narrativas dos estudantes, percebeu-se que uma de suas
dificuldades e talvez a mais importante a ser considerada no contexto de estágio de Psicologia
Hospitalar, foi sentida com relação à ausência de disciplinas que tratem especificamente sobre
o tema da morte.
O passo seguinte a ser dado nesse trabalho será apresentar e discutir, analisando a
categoria elaborada sobre: Experiências de perdas vivenciadas. Esse tema vai tratar sobre as
experiências de morte que os estudantes tiveram nas suas vidas. Esses dados poderão ter
grande relevância na pesquisa, a fim de identificar se, a falta de experiências vividas com
relação à morte poderia trazer limitações para as intervenções dos estudantes, na sua maneira
de lidar com a perda de pacientes, no seu campo de estágio.
4.3.2 Experiências de perdas vivenciadas
As experiências que a pessoa tiver na sua vida, farão uma grande diferença na
maneira como irão encarar determinadas situações. As vivências são muito importantes para o
crescimento e a maturidade da pessoa. De acordo com Kovács (1992), a morte é encarada e
percebida pelas pessoas de maneira diferente, pois está relacionada às suas vivências e ao seu
conhecimento, bem como outros fatores que influenciam. Dessa forma, as experiências que os
estudantes tiveram na sua vida pessoal, com relação à morte podem influenciá-los na sua
percepção e enfrentamento diante dela.
Sendo assim, esse ponto da análise se prestará a identificar com os dados, se na
exposição dos estudantes, as experiências de perdas vivenciadas ou a ausência delas
proporcionou dificuldades em lidar com a morte de pacientes por eles atendidos, no contexto
hospitalar.
Na entrevista do E1 não consta dados e informações, relacionados à experiência de
perdas vivenciadas por ele. Já, no caso da E2, ela apresentou duas narrativas que estão
relacionadas à ausência de experiência com morte:
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“(...) Então eu acredito que hoje se tu me perguntar se eu to preparada pra morte
de familiares, eu vou te dizer que não, porque eu nunca perdi, eu tenho as minhas duas avós,
os meus dois avôs, eu tenho todo mundo da minha família, eu nunca perdi ninguém (...)” E2
Embora a E2 tenha tido uma experiência de perda de uma amiga, que foi relatada
em outro relato, ela não se sente preparada para enfrentar a morte, porque ela nunca perdeu
ninguém de seus familiares.
Sobre essas experiências, a E3 relatou que:
“(...) eu também não tive muitos processos de morte na minha família, então o
único parente que eu perdi foi o meu avô, de toda a minha árvore genealógica, só o meu avô,
então eu sou bem despreparada pra morte, né (...)” E3
Aqui nessa narrativa, a E3 expressou que sua falta de preparo para a morte é
também decorrente de não ter tido muitas experiências de morte com seus familiares.
A próxima narrativa será da E4, que também representou a falta de experiências de
perdas com seus familiares. Ela expressou isso da seguinte maneira:
“(...) Eu não tive na minha vida muitas situações de proximidade com a morte, eu
tive dois familiares: um tio e um avô que morreram, únicas pessoas da família, próximas que
morreram, então eu não tenho muito essa questão com a morte, muito de vivência mesmo com
a situação da morte, sabe, mas fui primeiro pela questão teórica, né, do estudo, só que eu
acho que apesar do conhecimento embasar melhor, de saber lidar melhor, o sofrimento existe
e não vai sumir porque a gente entende melhor sobre a morte (...)” E4
Essa estudante relatou que, não passou na sua vida por situações de proximidade
com a morte, não teve muitas vivências com relação a perdas. E ressaltou também que apesar
do conhecimento, da questão teórica e do estudo proporcionar a ela um saber lidar melhor
com a morte, o sofrimento existe. O sofrimento vivenciado diante de uma perda importante
seja ela de familiares, amigos e até mesmo no caso de estudantes com relação aos pacientes,
só pode ser negado a sua existência, porque mesmo com experiências e conhecimento ele não
deixa de existir.
As três estudantes entrevistadas relataram a falta de experiências vivenciadas com
relação à morte, sentindo que não estão preparadas para enfrentá-la. Isso poderá ser um
68
indicador também de possíveis dificuldades apontadas por elas, em lidar com a perda de
pacientes. Pelo discurso e percepção semelhantes, cabe nesse caso, realizar uma análise
somente, pois as três falas apresentam os mesmos resultados.
A maneira como a pessoa vai enfrentar a situação estressante causada pela perda,
de acordo com Doll (2002), vai depender de fatores que poderão influenciar esse processo.
Dessa forma, é preciso considerar esses fatores, como a circunstância da morte, o contexto em
que ela se dá, o apoio social e a antecedência de doenças, mas principalmente a biografia e a
estrutura psicológica da pessoa que vai viver o processo de luto. Diante disso, pôde-se
perceber que, poucas experiências de perdas vivenciadas pelas estudantes foi fator
considerado possibilitador de dificuldades, para lidarem com a morte dos pacientes, assim
como o seu processo de crescimento. Ou seja, é possível que, se elas tivessem tido mais
experiências de morte em suas vidas e uma maturidade psicológica suficiente, entre outros
fatores que também são essenciais, enfrentariam melhor a perda de seus pacientes.
69
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse momento, o trabalho partirá para a etapa final, onde serão realizadas as
principais considerações e apresentados os resultados essenciais a que essa pesquisa atingiu.
As pessoas selecionadas para a realização dessa pesquisa foram estudantes de psicologia, que
realizam estágio no Hospital de Caridade. Foram escolhidos 4 (quatro) estudantes com faixa
etária entre 21 e 26 anos de idade, estagiários da nona e décima fases do curso de psicologia.
O número de pessoas envolvidas nesse trabalho foi limitado, devido à dificuldade em
encontrar estagiários que tivessem vivenciado a morte de pacientes por eles atendidos.
A partir de agora, é importante ressaltar os pontos principais, que proporcionaram
um entendimento e uma compreensão mais ampliada sobre a percepção dos estudantes de
psicologia em relação à morte de pacientes hospitalizados, que foi o principal objetivo a ser
alcançado. Sendo assim, em relação ao significado da morte, foi constatado que os estudantes
apresentaram, na maioria de suas experiências pessoais uma compreensão diferente. Porém, o
significado da morte enquanto o fim da vida, enquanto a finitude do ser humano foi
apresentado por 3 (três) estudantes, sendo que um deles tem a representação da finitude como
a limitação do ser humano. Uma (1) das estudantes significou a morte vivenciada como perda
e mistério, enquanto 2 (duas) expressaram o entendimento da morte como uma passagem para
algum lugar, através de uma concepção religiosa.
A segunda etapa da análise se propôs a identificar os sentimentos, as emoções e
pensamentos que os estudantes experimentaram diante da morte dos pacientes. Sendo assim,
em relação aos sentimentos e emoções vivenciados por eles, identificou-se: a tristeza, a
irritação e o medo diante da morte. Outros sentimentos importantes, identificados também
pelas estudantes entrevistadas, foram: a impotência, a sensação de trabalho inacabado e a
insatisfação com as intervenções profissionais realizadas, sentimentos estes, vinculados à
sensação de fracasso, derrota e incompetência. É interessante enfatizar que os entrevistados
teceram suas falas, sentimentos e emoções vivenciados enquanto estudantes, enquanto
profissionais que lidam com a morte de pacientes hospitalizados. No entanto, também
demonstraram sentimentos e emoções iguais às pessoas que perderam seus familiares e
iniciam o processo de luto.
Ainda nessa etapa, a análise identificou os reflexos mais marcantes que ocorreram
aos estudantes em sua vida pessoal, ao saberem da morte dos pacientes. Entre esses
70
pensamentos foram identificados: reflexões sobre a vida e sobre a própria morte, sobre a
finitude, constatando que esses pensamentos começaram a surgir no contexto hospitalar;
pensamentos também que estão relacionados aos sentimentos de frustração e indignação pela
morte; como também pensamentos que relacionam a hospitalização somente à recuperação e à
cura dos pacientes e não à morte, visando à necessidade de trabalhar também com eles essas
questões.
O próximo aspecto da análise realizada foi identificar as estratégias utilizadas
pelos estudantes, para lidar com a morte dos pacientes. Diante disso, foram identificadas as
seguintes estratégias: comportamentos religiosos, como a utilização de orações, que trazem
sentimentos de esperança e fé; a repressão dos sentimentos e emoções presentes na
constatação da morte dos pacientes, no contexto hospitalar; a liberação e a vivência das
emoções em outros lugares, fora desse contexto, como forma de sentir alívio e calma; o choro
como uma reação e a realização de ritual de despedida do paciente.
Além desse aspecto, foram constatadas dificuldades percebidas pelos estudantes,
com a perda dos pacientes.
Essas dificuldades foram identificadas como: ao atender o
paciente terminal, os estudantes tiveram lembranças constantes com relação aos seus
familiares, à vida e à própria morte e isso ocasionou um grande desconforto e estresses
vivenciados por essa experiência; outras dificuldades também apontadas pelos entrevistados
foram: a falta de discussões sobre a morte e a ausência de uma disciplina específica sobre o
tema na formação acadêmica de psicologia, que foram percebidas por eles também, como
desencadeadoras do despreparo para lidarem com essa situação no contexto hospitalar.
Outro ponto a ser ressaltado também, está relacionado às experiências de perdas
vivenciadas pelos estudantes. Eles relataram poucas experiências de morte vivenciadas, com
relação aos seus familiares, como um dos motivos também, do despreparo deles para lidarem
com a morte.
Contudo, percebeu-se que além desses aspectos relevantes na pesquisa,
identificados pelos dados obtidos, há outros que também precisam ser considerados. Existe a
possibilidade do repertório comportamental reduzido, referente às estratégias de
enfrentamento diante da morte, ocorrer devido à idade dos entrevistados (21 a 26 anos), bem
como o contexto social vivido por eles. Há que se considerar também que, no processo de
instrumentalização do estudante de psicologia, pressuponha a sua própria psicoterapia.
Até aqui foi realizada uma síntese importante, sobre os resultados que essa
pesquisa atingiu. Diante disso, vale ressaltar que os aspectos analisados através dos dados
coletados, conseguiram responder aos objetivos que o estudo se propôs alcançar.
71
Esse estudo foi realizado por uma pesquisadora iniciante nesse processo de
pesquisa, de investigação. Contudo, o seu método de abordagem procurou manter as devidas
precauções ao lidar com a subjetividade dos estudantes de psicologia, que no contexto de
estágio hospitalar se encontravam diante da morte, da perda de pacientes, situação esta que
abala todas as pessoas que a vivenciam, mobilizando as estruturas emocionais e psíquicas de
cada um. As dificuldades também se estendem ao pesquisador, que em outro momento
também vivenciou no contexto de estágio hospitalar, a perda de pacientes, bem como em
outros momentos, durante a realização da pesquisa, foi colega de seus entrevistados. Neste
sentido, deve-se ressaltar a importância do Comitê de Ética na atenção, avaliação e decisão
das condições em que os procedimentos dessa pesquisa foram realizados.
A morte não é uma situação confortável, enfrentada pelos profissionais e por todas
as pessoas que se deparam com ela, assim como não é fácil realizar um estudo de um tema tão
profundo e complexo, como é a morte numa sociedade que prefere negar a sua existência, no
lugar de enfrentá-la. Por isso, foi muito importante a realização dessa pesquisa, a fim de
ampliar a percepção sobre a morte também como estudante, que em outro momento vivenciou
essa experiência, podendo constatar emoções, sentimentos e dificuldades experimentadas,
assim como as estratégias utilizadas para lidar com a situação, iguais ou parecidas com as dos
colegas entrevistados. Esses fatos podem ter constituído um viés de pesquisa.
Esse trabalho não tem a pretensão de levantar, junto às universidades brasileiras, a
discussão sobre a importância que têm a inserção de disciplinas acadêmicas específicas sobre
a morte e discussões sobre o tema, como também não terá esse alcance. Porém, ele poderá
oferecer subsídios para se pensar em procedimentos que possam ser realizados pelos
profissionais de psicologia, frente à morte de pacientes hospitalizados. Desta forma, poderá
também apresentar meios de proceder com intervenções para a preparação do paciente para
sua morte, preparação dos familiares para o enfrentamento da perda de seu ente querido e o
processo de luto, a promoção de cuidados e atenção à equipe de saúde, especialmente, a
preparação dos estudantes de psicologia, diante da perda de pacientes por eles atendidos. A
morte é um tema de grande importância e profundidade na vida das pessoas, como também é
uma situação bem impactante para quem a vivencia. Por isso, foi importante pesquisar e sem
dúvida sempre será essencial a abordagem desse tema, que significa a finitude do ser humano.
Sendo assim, percebe-se a necessidade de novas pesquisas que envolvem o tema, com a
proposta de futuras investigações sobre os procedimentos ou intervenções realizados por
estudantes (estagiários) ou profissionais das demais áreas especializadas da saúde.
72
6. CRONOGRAMA
Atividades
Qualificação do Projeto TCC - I
Encaminhamento para o Comitê de
Ética
Revisão bibliográfica
Coleta de dados
Análise e interpretações dos dados
Meses
Jun. Jul. Agos. Set. Out. Nov.
X
X
X
X
X
Entrega da pesquisa TCC – II
X
Apresentação da pesquisa TCC – II
X
Quadro2: Cronograma de atividades
Fonte: Elaboração da autora.
73
REFERÊNCIAS
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ZIMERMAN, G. I. Velhice: Aspectos Biopsicossociais. Porto Alegre: Artes Médicas Sul,
2000.
77
APÊNDICES
78
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Idade: _______________ Sexo: ________________ Escolaridade: __________________
Profissão: ______________________________
Conforme podemos perceber ao longo da história, as pessoas possuem um conhecimento e um
significado diferente do que é a morte, de acordo com o contexto histórico e social vivido.
Portanto, há várias maneiras de significar a morte.
1. Por favor, fale-me qual é o significado da morte para você?
2. O que representou a morte de um paciente por você atendido, durante o seu estágio no
hospital?
3. Que pensamentos lhe ocorreram ao saber da morte de pacientes por você atendidos?
4. Como você se sentiu diante dessa notícia?
5. Qual foi a sua reação?
6. Existe algo que você queira falar que não foi perguntado?
79
ANEXOS
80
ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP UNISUL
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO
Declaro que fui informado sobre todos os procedimentos da pesquisa cujo tema é “A
percepção de estudantes de Psicologia em relação à morte de pacientes hospitalizados”.
Estou ciente de que a pesquisa será realizada obedecendo aos seguintes critérios:
a- O tempo de realização das entrevistas será de 40 a 50 minutos;
b- O horário para a realização das entrevistas, será combinado com os participantes,
considerando a disponibilidade dos mesmos e será agendada pelo próprio pesquisador com
antecedência;
c- Para o armazenamento das informações, a entrevista será gravada com a permissão do
participante e posteriormente transcritas para que se possa garantir o registro de todas as falas
do participante. Para o tratamento e análise das falas, serão feitos, após a realização das
entrevistas, quadros com os questionamentos dela surgidos. A análise de conteúdo será feita
através da descrição das falas do participante, com o intuito de concluir o conhecimento
produzido;
d- A pesquisa será realizada no Hospital de Caridade ou no local a ser combinado com o
participante;
e- Os instrumentos utilizados para a coleta de dados serão o guia da entrevista semiestruturada, previamente elaborado e o gravador de voz;
f- No caso da pesquisa acontecer dentro do hospital, a pesquisadora estará vestida de acordo
com as normas do mesmo, com um jaleco branco e sapatos fechados.
Os riscos e desconfortos apresentados pela pesquisa são mínimos, porém no caso de haver
desconforto emocional durante a entrevista, terei direito a interromper a entrevista e receber
atendimento psicológico. Estarei contribuindo para a produção de conhecimento científico
sobre a percepção de estudantes de Psicologia em relação à morte de pacientes hospitalizados.
Este conhecimento poderá ser útil na atuação de profissionais psicólogos da área hospitalar.
81
Estou ciente que durante os procedimentos práticos deste estudo serei acompanhado pela
pesquisadora.
Declaro que fui informado sobre todos os procedimentos da pesquisa e que recebi, de forma
clara e objetiva, todas as explicações pertinentes ao projeto e que todos os dados a meu
respeito
serão
sigilosos.
Eu
compreendo
que
neste
estudo
as
medições
dos
experimentos/procedimentos de tratamento serão feitas em mim. E que poderei ter acesso às
informações da pesquisa a qualquer momento.
Declaro que fui informado que posso me retirar do estudo a qualquer momento.
Nome por extenso: ___________________________________________________________
RG: ______________________________________________________________________
Local e data: _______________________________________________________________
Assinatura: _________________________________________________________________
PESSOAS PARA CONTATO:
PESQUISADOR RESPONSÁVEL:
Alessandra d´Avila Scherer
ALUNA RESPONSÁVEL:
Eliani Santos
NÚMERO DO TELEFONE:
(48) 9156-8008
NÚMERO DO TELEFONE:
(48) 96069340
ENDEREÇO:
Rua Antonio Schroeder, n.º103
Apartamento 302.
Barreiros – São José
ENDEREÇO:
Av Mauro Ramos, nº. 1754
Apto 41
Centro – Florianópolis
82
ANEXO B – Termo de Consentimento para Gravações de Voz
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP UNISUL
CONSENTIMENTO PARA GRAVAÇÕES DE VOZ
Eu _________________________________________________________________ permito que
o grupo de pesquisadores relacionados abaixo obtenha gravação de minha pessoa para fins de
pesquisa científica, médica e/ou educacional.
Eu concordo que o material e informações obtidas relacionadas à minha pessoa possam ser
publicados em aulas, congressos, eventos científicos, palestras ou periódicos científicos. Porém, a
minha pessoa não deve ser identificada, tanto quanto possível, por nome ou qualquer outra forma.
As gravações de voz ficarão sob a propriedade do grupo de pesquisadores pertinentes ao estudo e
sob sua guarda.
Nome do sujeito da pesquisa e/ou paciente: __________________________________________
RG: ______________________________________________________________________
Endereço: _________________________________________________________________
Assinatura: ________________________________________________________________
Equipe de pesquisadores:
Instituição de Ensino: Universidade do Sul de Santa Catarina – Fone: (48) 3321-3000
Professora: Alessandra d´Avila Scherer - Fone: (48) 9156-8008
Aluna: Eliani Santos - Fone: (48) 96069340
Data e Local onde será realizado o projeto:
Florianópolis, __________________________________
Adaptado de: Hospital de Clínicas de Porto Alegre / UFRGS
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universidade do sul de santa catarina eliani santos a