EDUCAÇÃO EM SAÚDE COMO PRÁTICA SANITÁRIA DE RESULTADOS
NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE: ESTUDO LONGITUDINAL NO
ESPAÇO COMUNITÁRIO
Franciele Emily Iamaguchi (PIBIC/Fundação Araucária-UEM), Jorge Juarez
Vieira Teixeira (Orientador), e-mail: [email protected]
Universidade Estadual de Maringá/Departamento Análises
Clínicas/Maringá,PR.
Área: Ciências da Saúde, sub-área: Saúde Pública
Palavras-chave:
medicamentosas.
idoso,
tratamento
farmacológico,
interações
Resumo:
O estudo das interações medicamentosas constitui um desafio profissional
importante e que ainda é pouco estudado. Somado a isso, outro problema
comum na população idosa trata-se da adesão à terapêutica prescrita.
Esses constituem provavelmente as mais importantes causas de insucesso
das terapêuticas e o conhecimento aparece como uma alternativa para
enfrentar essas questões. O presente trabalho teve por objetivo avaliar o
conhecimento da população idosa a respeito de seu tratamento
medicamentoso, fornecer informações para sua melhoria e detectar
interações clinicamente relevantes. Para isso, foi realizado estudo
retrospectivo e longitudinal, com visita mensal durante 9 meses, com 103
pacientes com 60 anos ou mais que utilizavam mais de 1 medicamento
prescrito. Foram encontradas diversas interações medicamentosas, sendo 6
de risco grave. Além disso, 87,5% dos entrevistados afirmaram que
conhecer mais sobre a sua doença faz diferença no tratamento.
Introdução
Múltiplos fatores influenciam na incidência de interações medicamentosas
em pacientes, como: genéticos, condições gerais de saúde, funções renal e
hepática, consumo de álcool, tabagismo, dieta e também fatores ambientais
podem estar envolvidos, por isso a prescrição de múltiplas medicações é
uma realidade que requer atenção e cuidado constante. Esse cuidado inclui
a revisão das medicações em uso e o conhecimento extensivo destas,
sempre tentando minimizar o número de substâncias utilizadas, monitorando
e valorizando efeitos colaterais e tóxicos, e quando interações clinicamente
relevantes são constatadas, deve-se pensar na possibilidade de substituição
dos fármacos participantes por outros que não interajam.
O estudo das interações medicamentosas constitui um desafio
profissional importante e que ainda é pouco estudado. Este problema
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aumenta com um número crescente de novos fármacos disponíveis para o
clínico e com o uso múltiplo em pacientes. Dessa forma os serviços de
saúde devem aprender a lidar com as interações medicamentosas
clinicamente importantes.
Outra questão relevante de pesquisa trata-se da adesão à terapêutica
prescrita. Nos EUA a não adesão responde por 40 a 55% das prescrições.
Esta situação é grave porque expõe o paciente a um maior risco de
hospitalizações e morbidade. Os índices de adesão são piores em situações
que requerem tratamentos longos e quando há necessidade de alteração no
estilo de vida, fatos que ocorrem rotineiramente com o idoso devido às
doenças crônicas. Este problema constitui provavelmente a mais importante
causa de insucesso das terapêuticas, introduzindo disfunções no sistema de
saúde através do aumento da morbidade e da mortalidade. Para garantir
uma melhor conduta frente à doença e o sucesso da terapêutica, a
informação aparece como ferramenta de forte impacto.
Para a Organização Mundial de Saúde, a finalidade da educação
pública é proporcionar informações aos indivíduos e às coletividades e
impulsionar a formação de atitudes e de confiança, para que à população
seja permitido utilizar os medicamentos de modo adequado, sensato e
inócuo. Vários estudos prospectivos têm evidenciado que o fornecimento de
informações ao paciente representa importante parcela do cuidado em
saúde, tendo impacto em várias doenças e é reconhecida pelo seu potencial
na redução de custos junto a diversos contextos da assistência. esta
pesquisa teve por objetivo avaliar o conhecimento da população idosa a
respeito de seu tratamento medicamentoso, fornecer informações para sua
melhoria e detectar interações clinicamente relevantes.
Materiais e métodos
Trata-se de um estudo retrospectivo e longitudinal, realizado no período de
novembro 2009 a julho 2010. Os critérios utilizados para inclusão dos
pacientes foram: ter 60 anos e mais, estarem cadastrados na base de dados
do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) -Programa Hiperdia da
Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila Esperança, Maringá-PR, e utilizar ao
menos dois medicamentos prescritos. A população inicial foi constituída de
139 pacientes que atenderam aos critérios de interesse. Durante o
desenvolvimento do estudo, 36 candidatos foram perdidos por diversos
motivos (falecimento, mudança de endereço, recusa em participar, não
utilizar mais de um medicamento, endereço errado). Portanto a amostra final
foi composta de 103 pacientes. Para coleta dos dados foi aplicado um
formulário semi-estruturado previamente testado em população semelhante,
sendo que a mesma não foi utilizada na pesquisa definitiva. Os formulários
foram aplicados nas visitas domiciliares realizadas, sendo registradas
informações sobre os medicamentos e o número de medicamentos
utilizados por cada um, além de dados sócio-demográficos. Os
medicamentos foram analisados na base de dados do Medscape® e
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Micromedex®. Os dados foram organizados e tabulados no Soft Epi Info
versão Windows 3.5.1.
Resultados e Discussão
A maioria dos 103 entrevistados utilizava de 2 a 6 medicamentos (81,9%),
sendo que a amplitude de medicamentos utilizados por cada pessoa variou
de 2 a 16. Dentre os pacientes entrevistados foram relatados 79 princípios
ativos diferentes. Quanto ao conhecimento, os entrevistados foram
questionados se conheciam a finalidade de cada um dos medicamentos
utilizados. E a média de conhecimento apresentada foi de 3 medicamentos,
ou seja, existem muitos medicamentos utilizados os quais os pacientes não
conheciam suas finalidades, o que pode ser resultado da polifarmácia
associada a idade avançada dos entrevistados. Após o acompanhamento
realizado essa média aumentou para 3,5.
O conhecimento sobre as interações também foi avaliado, e
inicialmente apenas 29,2% possuíam informações de que os medicamentos
podem interagir entre si. Após as visitas domiciliares, 83,3% dos
entrevistados afirmaram ter esse conhecimento. Foi também questionado do
interesse em saber mais sobre as suas doenças, e mais da metade dos
pacientes (55,3%) mostrou interesse em obter mais informações. Foi
verificado que 80,3% dos entrevistados afirmaram conhecer as
conseqüências do não tratamento de suas doenças e 87,5% afirmaram que
conhecer mais sobre a sua doença faz diferença no tratamento.
Ao se avaliar o uso concomitante dos medicamentos nas bases de
dados, foram registradas 380 interações entre os 79 medicamentos
utilizados pelos pacientes. Como a maioria deles utiliza-se dos mesmos
medicamentos, diversas interações foram encontradas mais de uma vez,
sendo, desse modo, detectadas 189 diferentes interações do tipo drogadroga.
O grau de severidade das interações indicou variados potenciais: 27
classificadas como de risco menor, 156 de risco médio e 6 de risco grande.
As interações de risco grande presentes foram: AAS/Ibuprofeno,
Espironolactona/Losartan, Amiodarona/Hidroclorotiazida, Amitriptilina/Cloreto
de Potássio, Fluconazol/Sinvastatina e Metildopa/Timolol. Essas interações
foram encontradas em oito pacientes que além dessas apresentaram
também interações de grau médio, o que preocupa devido ao alto risco que
este paciente está exposto. Foram detectadas também interações do tipo
droga-alimento além de uma paciente que apresentava efeitos tóxicos pelo
uso excessivo de metformina.
Outro problema encontrado foi que, 27,1% dos entrevistados
afirmaram usar medicamentos por conta própria, o que pode agravar o
potencial de risco das interações.
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Conclusões
Foi possível observar uma variedade de medicamentos prescritos a essa
população, fruto do grande número de doenças que acometem essa faixa
etária e também a prática da polifarmácia. As interações do tipo drogaalimento podem ser elucidadas de forma mais tranqüila, garantida mediante
o processo do aconselhamento do paciente no momento da prescrição e da
dispensação.
Todavia as interações droga-droga merecem esforço e atenção
continuada dos profissionais de saúde, além da conscientização dos
pacientes para a não automedicação. Também pode-se afirmar que a
população deseja esse tipo de ação por parte dos profissionais de saúde
uma vez que a maioria afirmou que conhecer mais sobre a sua doença faz
diferença no tratamento.
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