CONDIÇÕES DA RELAÇÃO ESCOLA/COMUNIDADE: UM ESTUDO DE
CASO NO MUNICÍPIO DE PALHOÇA – SC
Leticia Viglietti
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
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Resumo
O presente artigo discute a relação entre uma escola do campo e sua comunidade
num município dentro do perímetro metropolitano (Grande Florianópolis). Pretende-se
refletir sobre o que ocorre com uma comunidade com o processo de urbanização que
historicamente vem sendo vivenciado em comunidades rurais, onde diversos reflexos
podem ser observados, inclusive na educação, ponto que será destacado neste trabalho.
Neste processo se desenvolve o que será chamado de “uma escola no campo com
mentalidade urbana”, desconexa dos interesses, demandas, tradições e cultura local da
comunidade. Por isto serão apresentadas pesquisas, dados e reflexões construídas ao
longo das idas à campo no tempo comunidade do curso de Licenciatura em Educação do
Campo, da UFSC, que traz enquanto proposta a intervenção de seus graduandos nas
comunidades em que suas pesquisas são desenvolvidas, numa direção de construir
conhecimento que atenda às demandas sociais postas pela comunidade. Para fazer estas
reflexões será apresentado o caso da escola Escola Municipal Prof. Antonieta Silveira
de Souza e sua comunidade, no município de Palhoça/SC. Serão apresentados os dados
e reflexões resultados do trabalho de pesquisa que se tem desenvolvido, com a
finalidade de estudar e compreender a relação existente entre escola-comunidade-escola.
A metodologia utilizada foi: levantamento de dados bibliográficos, construção de
relatório de campo, de diário de campo e entrevistas qualitativas e quantitativas com
moradores da comunidade, funcionários da escola, pais e alunos.
Palavras-chave: Relação escola/comunidade, condições da escola, condições da
comunidade.
Toda história tem o seu começo...
O Brasil, desde as suas origens teve os seus territórios incorporados sob a forma
de exploração do seus ricos biomas, como demonstra o seu nome, dado pela exploração
do pau-brasil. Constituindo se a agricultura na mola mobilizadora da economia do país,
mais especificamente como apresenta Pádua (2003, p 42), o modelo do agronegócio
exportador continua a ser o hegemônico no meio rural brasileiro.
Este modelo econômico sustentou uma estrutura social hierárquica totalmente
desigual que se mantém enraizada na sociedade brasileira. O país é hoje considerado
uma potência emergente, mas ainda paga as consequências da sua conformação social
perpetuada por séculos. Se bem que já não se lhe pode considerar como um país pobre,
mas sim como
um país com muitos pobres (...) o aprofundamento das
desigualdades sociais persiste sendo um dos grandes
desafios. Em 1960, 10% dos mais ricos tinham uma
renda 34 vezes superior à renda apropriada pelos 10%
mais pobres. Três décadas depois, aprofundaram se as
desigualdades na distribuição de renda, pois essa
diferença aumento para 78 vezes. ( WRUBLEVSKI,
VENDRAMINI. 2009, p.38).
O século XX acarreou um série de transformações de conjuntura econômica,
política, social e cultural que se amalgamaram numa vertente urbanizante. Esta nova
postura determinou o abandono de seus lares para milhões e milhões de pessoas que
migraram do meio rural ao urbano. Com a queda da bolsa de 1929 nos Estados Unidos,
a baixa do preço do café e do comércio mundial em praticamente 2/3 partes, afetou-se
fundamentalmente aos países que tinham sua economia fundada na exportação. Se deu
assim o ponta-pé inicial na corrida urbanista no Brasil. Este processo se acelerou ainda
mais em mediados do século XX. Dada a situação política do Brasil (ditadura militar),
se favoreceu a implementação da modernização conservadora, pacote composto pela
Revolução Verde e a aplicação de uma legislação trabalhista no meio rural. Estes fatos
desintegraram as formas tradicionais de moradia e parceria existentes no campo, assim
como os objetivos de união dos camponeses na época para resistir a este processo. A
fazenda converteu-se numa empresa organizada e dirigida pelos padrões racionais desta.
Os vínculos de trato pessoal, passaram a ser de patrão e empregado: o capital redobra
suas forças no campo, expulsando os agora proletários rurais, ou lhes submetendo a
condições ainda piores que as do seus pares urbanos, como é o caso dos bóias frias.
Estas condições se mantêm e aprofundam em pleno século XXI, produzindo um
“continuum” de longa duração na expulsão de população do meio rural para o urbano.
Num processo que pode ser chamado como de desrurarilzação, pois não se atinge a
promessa de uma vida melhor. Os novos habitantes pouco acesso têm às luzes da
cidade, são convidados que carregam o estigma de clandestino no seio da sua pátria. E
constituem as periferias, uma orla de pessoas que habitam em condições que agridem os
Direitos Fundamentais de todo ser humano.
Palhoça: o impacto do global no local
Palhoça está atrelada à Florianópolis, entrelaçando-se em sua evolução no
decorrer da história. Foi fundada em 1793 como guarita, guarnição de armas, munições
e fornecimentos para a então Ilha de Desterro. Logo foi o caminho das tropas de gado
vindas de Lages para a Ilha que marcou a sua relação. No século XIX chegaram os
primeiros colonos alemães e italianos na promessa de terra e de um país de paz e
oportunidades. Também outros grupos étnicos, como libaneses e japoneses, se
estabeleceram na região. Os colonizadores adotaram a agricultura de subsistência, a
pesca e as atividades em entreposto comercial. Produziam mandioca, cana-de-açúcar,
café, feijão, banana e laranja e os revendiam em Florianópolis.
Nos anos 1960 e 1970, quando Florianópolis se expande, se inicia também as
grandes transformações em Palhoça. Dentro da visão desenvolvimentista (Brito, 2007),
veio a abertura da BR 101, produzindo a explosão nas atividades turísticas de
Florianópolis que, consequentemente, determinou um maior crescimento urbano. Isto
afetou Palhoça que se transforma num dos principais municípios receptores de
migrantes. Chegam milhares de imigrantes de todas as partes de Santa Catarina e de
outros Estados. No princípio moradores do meio rural dos municípios mais próximos,
depois do interior de Santa Catarina (principalmente provenientes da Serra). Este
movimento migratório se expande a outros Estados.
O município tem então uma explosão demográfica e, assim, começa a sofrer as
consequências de uma urbanização imediata. Esta vertente migratória se enquadra num
fenômeno particular: a litoralização da população em Santa Catarina.
Palhoça se consolida como o epicentro da periferia. No princípio atuando como
cidade dormitório, recebendo migrantes que diariamente iam à Florianópolis para
trabalhar e/ou estudar. Nos últimos 30 anos ocorre uma aceleração no processo de
urbanização- industrial do município. As novas dinâmicas da economia provocam
mudanças estruturais na constituição social e demográfica. As atividades agropesqueiras se restruturaram, o setor secundário é a fonte principal do PIB municipal,
mas o setor terciário tende a se erguer como o novo pilar e o município passa a se
transformar no cinturão industrial da RMF.
Hoje o seu slogan é o de ser a cidade mais dinâmica do Estado e a 7ª do país,
exercendo poder de atração para milhões de pessoas que chegam ao município. Percebese, claramente, que a taxa de natalidade recua, uma vez que a maior parte do seu
crescimento vem do recebimento de populações nascidas em outro município. Além
disto observa-se também o crescimento mais que proporcional da população localizada
no meio urbano frente à localizada no meio rural e o aumento da importância, na
população total, do grupo etário 15 a 50 anos, típico de regiões que recebem migrantes.
Embora faltem dados mais consolidados sobre a realidade das condições de vida
das pessoas que vivem nas periferias urbanas, no geral com crescimento desordenado
(BRITO, 2007), são um claro indicio do baixo nível de renda da população e as
dificuldades, quando não a total falta de acesso às políticas de saúde e moradia de
qualidade. Casagrande (2006), estudando as causas das migrações para a Região
Metropolitana de Florianópolis, demonstra como estas são as condições mais comuns de
vida das populações nos municípios de seu entorno. Assim, verifica-se a dualidade com
que o município vem se desenvolvendo: um profundo crescimento na arrecadação e nos
números do PIB, mas sem a constituição da infra-estrutura necessária que acompanhe o
crescimento da população. A maioria da população de Palhoça vive em condições suburbanas: sem acesso a saneamento, hospitais ou serviços de saúde próprios, sem
construção de creches, escolas ou salas de aulas que acompanhem este crescimento
demográfico.
A Comunidade de Guarda do Cubatão
Se têm poucos registros históricos da comunidade da Guarda do Cubatão, onde
se localiza a Escola Antonieta Silveira de Souza. Em sua maioria são aqueles oferecidos
pelas pessoas mais antigas da comunidade e por pesquisas realizadas por historiadores.
Segundo estes, a comunidade se origina com a vinda dos europeus (Luso-açorianos)
chegados na Enseada de Brito em meados do século XVIII, como sesmeiros do
governador da Capitania de Santa Catarina, considerando-lhes os “primeiros
proprietários de terras” na região. Assim, no século XVIII, José Luiz Marinho, Manoel
de Miranda Bitencourt, João de Souza Bitencourt, Manoel Vieira Fernandes, José
Rodrigues da Costa receberam “braças” de terras em regime de sesmarias. Pouco tempo
depois famílias vindas dos Açores, chegaram à região. Desbravaram e cultivaram as
terras, onde o solo fértil e a abundante água foram fatores que se conformaram nos
principais parceiros para o assentamento de uma comunidade com base agrícola. As
casas eram de pau-a-pique (barro, cipó, bambu e madeira) e serviam tanto de moradia
como de engenho: cana de açúcar mascavo, melado, cachaça e farinha de mandioca
eram elaborados neles. Os moradores sobreviviam da lavoura de café, mandioca, milho,
cana-de-açúcar e verduras. Vendendo ou trocando o excedente navegando pelo Rio
Cubatão que também lhes proporcionava o peixe (cará, trairá, piabas, saru, etc.). O rio
se constituiu na principal fonte de vida da comunidade, sendo também um ponto de
encontro e socialização (as mulheres iam a lavar a roupa, as crianças e jovens se
divertiam e refrescavam nele). A população foi aumentando, se construiu a igreja da
comunidade. Em 1960 é fundada a escola Prof. Antonieta Silveira de Souza.
A situação se mantém bastante estável até a década de 1970, quando se faz uma
grande dragagem na foz do rio, abrindo a sua boca, e com as cheias da maré a água
salgada do mar começou a se misturar com a do rio, deixando-la salobra e imprópria
para consumo, assim como para irrigar as plantações. Nesta década começa também a
crescer consideravelmente a população da região; pessoas da Serra de Santa Catarina,
Urubici, Bom Retiro, Alfredo Wagner e do Estado de Paraná foram chegando e fixandose na comunidade, para logo trazer outros membros da sua família e/ou conhecidos da
sua cidade ou região para trabalhar com eles. A comunidade cresceu também com
pequenos comércios que foram se abrindo como padaria e mercado. Cresceu tanto, que
por insistência dos moradores se inaugurou a Escola Daniel Carlos Weingartner em
1974, pois a Escola Antonieta já não dava conta do número de vagas. Os novos
migrantes trouxeram consigo também novos produtos para produzir como o tomate,
cenoura, beterraba. Mas a carestia das sementes levou a que pouco a pouco se fossem
buscando outras formas de renda. Se começaram a lotear os campos como forma de se
obter dinheiro, também se produz uma subdivisão da terra familiar, filhos e netos
permanecem na comunidade mas já não dá para trabalharem a terra, por ser muito
pouca, como fala AUED & PAULILO (2004).
Atualmente alguns se dedicam à agricultura, outros são empregados em outras
fazendas ou fazem parcerias com os donos da terra. Muitas vezes são somente os
homens que trabalham a terra e a mulher complementa a renda com trabalhos
esporádicos fora de casa (faxineiras). Porém há também muita mão de obra ocupada na
construção civil e na empresa de água mineral local. Os demais vão para Palhoça ou
Florianópolis para trabalhar seja em fábricas ou serviços ou estão desempregados.
Os loteamentos se produziram na sua maioria de forma irregular, não sendo
respeitada a mata ciliar o que, junto com a extração de areia do rio e a abertura da sua
boca, acarreou inundações de grande envergadura como à de 1995, que levou 33 casas.
Há falta de esgoto na comunidade (a maioria tem fossa séptica que se infiltra no rio) e o
uso continuo de agrotóxicos que acabam indo para o rio, ocasionam prejuízos
ambientais e sociais. Assim, os peixes que antanho alimentaram a comunidade já não
existem mais, e a agua hoje é imprópria para banho e consumo.
O próprio Rio Cubatão, que foi fonte de vida da comunidade, agora é o seu
divisor. De um lado a rua Santo Anjo da Guarda com a escola Antonieta Silveira de
Souza com Ensino fundamental e Médio, a igreja, transporte coletivo e grande parte do
comércio. Do outro, a rua Jacob Vilain Filho, única rua calçada, com um número menor
de moradores, que devem atravessar diariamente ao outro lado para ter acesso ao
transporte público e serviços. A ponte pênsil, única via de conexão, traz insegurança
para muitos vizinhos, que acabam chegando à BR 101 e ao centro de Palhoça com mais
facilidade que à sua própria comunidade.
Para além disto, exerce também a divisão política. No ano 2000, por decisão
municipal, um lado do rio é considerado zona rural e do outro, urbana. Em 2007 logo
após uma enchente, se construiu um complexo habitacional, dando força nos
loteamentos da região, fundamentalmente para construção de habitações populares.
Hoje se tem um bairro dividido em dois: de um lado urbano e do outro rural, uns com
maior aceso aos serviços públicos que os do outro lado. Por isto o sentimento dos
povoadores do lado “rural” é de inferioridade com respeito aos do lado “urbano”. Há a
previsão da instalação de mais dois complexos habitacionais, mas não a construção da
infra-estrutura suficiente para proporcionar qualidade de vida a os seus habitantes, assim
como para conservar o meio-ambiente.
A Escola Antonieta Silveira de Souza
Fundada em 1960 sob a órbita Estadual, em 1965 já contava com 120 matrículas.
O seu nome se deve à Sra. Antonieta Silveira de Souza que foi a primeira professora a
lecionar na escola. Décadas depois passou a ser administrada pelo município. Hoje
quase não se tem registros históricos da escola, devido à referida transição de
administração assim como a sucessiva rotação de seus funcionários. No ano 2003 foi
inaugurado o novo prédio escolar que, segundo relatos de moradores, se deu sob a
perspectiva de começar com outros loteamentos.
A escola funciona de 1ª á 8ª série e conta com 9 turmas no horário matutino, 9
no vespertino e 4 turmas do EJA à noite. O prédio escolar é compartilhado com o
Estado à noite para o funcionamento do CEJA. O numero de alunos é de 475, sem
contabilizar 69 que assistem a EJA.
Para a elaboração das entrevistas que permitissem conhecer melhor as condições
da comunidade, da escola e da sua relação, partiu-se das seguintes questões: Quem são
eles? Quais são as suas expetativas? Que relação tem com a escola/comunidade? Que
significado dão a esta relação? Quais são as dificuldades da relação? Procurou-se
através da aplicação de questionários com pais e alunos duas informações importantes a
considerar: situação sócio-econômica (lugar de origem, trabalho, ingresso médio,
escolarização) e a relação deles com a escola (significado, presença/ausência, problemas
e melhorias). Por sua vez nos professores se considerou se são efetivos ou ACT
(Admissão por Contratação Temporária), tempo de trabalho na escola, expectativas de
trabalho (pretende continuar nessa escola?), suas condições de trabalho (onde moram,
como fazem para chegar a escola, remuneração, condições estruturais para ensinar), a
relação com à comunidade (grau de conhecimento e envolvimento com os alunos e
comunidade) e causas atribuídas por eles à existência ou inexistência de relação entre
comunidade e escola.
O questionário com os pais foi o que maior dificuldade teve de aplicação, pois
dificilmente encontrou-se algum na escola: Os que forma achados eram pais de crianças
que estão nas séries inferiores, 1º e 2º ano. Com os entrevistados (um total de 12 pais), a
metade eram nativos da comunidade. Dos não nativos 4 eram do centro de Palhoça, 1 do
Rio Grande do Sul e 1 de Florianópolis. Quando perguntados sobre por quê tinham se
mudado, dizerem que por razões de segurança, tranquilidade e busca de trabalho. Com
respeito à composição familiar, 8 dizerem morar na casa pai, mãe e irmãos e 4 a família
é composta por mãe e irmãos.
Com respeito a onde trabalham, 35% estão na construção civil, 25% são de
diaristas domésticos, 20% são aposentados, 10% são autônomos e mais 10% em outros
empregos. No que concerne à renda familiar: 83,3% declararam receber de 1 a 2 salários
mínimos e 16,7% entre 3 e 4. Noventa por cento não concluiu o ensino fundamental e o
10% restante não o fez com o médio.
Em relação à escola, 50% diz que não são chamados com frequência, 16,6% às
vezes, e o 33,3% são chamados com frequência. Quando foi questionado quantas vezes
foram chamados para reuniões no decorrer do ano, 83,3% diz que foram chamados uma
única vez e para discutir questões referentes aos livros didáticos e funcionamento da
escola ao começo do ano. O 16,6% diz nunca ter sido convocado. A fala mais repetida
foi que a escola trabalha com agenda escolar (bilhetes) e que se não mandam nada é por
que tudo esta certo. A escola chama quando é preciso falar de alguma questão pontual
dos seus filhos. Em relação a isto, na fala com os funcionários da escola surgiu que os
alunos não entregam os bilhetes para os pais, é comum acharem os bilhetes rasgados e
jogados na rua após a saída destes da escola.
Quando foram perguntados se a escola consegue discutir á realidade da
comunidade e famílias, 17% diz que sim, 33% diz que não e o 50% que às vezes ou em
alguma coisa. Quanto à questão da razão de enviar seus filhos para a escola, e por que
para essa escola, as respostas citadas se podem agrupar em: por que sem estudo não vão
ser ninguém na vida; para ele aprender, brincar e se desenvolver; para ter uma profissão
no futuro; por que é importante eles aprenderem para ver que é o que querem da vida.
Em quanto ao porque na escola Antonieta, todos dizem que por que é a única que há na
comunidade. Além disso, 90% espera que à escola proporcione um bom ensino a seus
filhos, e o 10% que ensine respeito e a ser educados.
Também o 90% não estão muito satisfeitos com a qualidade de ensino
proporcionado pela escola e 10% não estão nada satisfeitos com a qualidade de ensino.
Foi dito que o ensino é fraco, alguns falaram isto com respeito à alfabetização, mas
todos concordaram que a principal debilidade esta nas séries finais (5ª a 8ª), surgindo
falas como que na 5ª série ensinam adição e substração quando eles na sua época viam
álgebra. Ou que a educação é fraca sem mais explicação. Assim como que há muitos
alunos repetentes, maiores da idade, que dificultam a continuidade das aulas e geram
violência dentro da sala de aula e da escola.
Quando perguntado acerca das expectativas que tinham da escola, 66,7%
esperam que a escola proporcione um bom ensino à seus filhos, 16,7% quer que se
produzam aprendizados mais profundos e o 16,6% que seja ensinado respeito.
Os problemas mais citados da escola foram a falta e rotação de professores
66,6%, a violência na escola 25% e o 8,4% não souberam responder quais são os
principais problemas da escola. Dentre os mais escutados: “os professores faltam muito
e ensinam pouco, chega fim de ano e são passados de ano, não se sabe como pois não
aprenderam nada”. “Os professores faltam ou mudam e quando retomam voltam a ver
de novo as mesmas coisas”. O problema da falta de professores foi algo também
observado na minha convivência na comunidade, onde quase diariamente os pais ou
próprios alunos ligavam ou iam para a escola para perguntar se teriam aula nesse dia.
No que diz respeito à violência na escola, a grande maioria dos pais diz que com
a nova diretora melhorou consideravelmente o vandalismo e indisciplina dos alunos da
escola, pois foram impostas regras que antes não se tinham. A diretora definiu estes
temas como de principal preocupação, dizendo que na hora de assumir a escola havia
virado “terra de ninguém”. Sem regras tanto para os alunos como para os próprios
funcionários. Os professores se acostumaram a faltar, sair da escola antes da hora
deixando as crianças “soltas” na comunidade. Os alunos também se acostumaram à falta
de disciplina tendo sérios problemas de violência dentro e fora da escola, assim como
havia começado o comércio de drogas na escola e no entorno desta. Se constituindo no
ponto principal para ser trabalhado.
A falta de professores foi também um tema de abordado. A diretora atribuiu às
causas as mesmas razões que à violência: à antiga falta de controle. Este aspeto foi
também observado durante a aplicação dos questionários, uma vez que professores,
diretora e funcionários administrativos se desdobravam para cobrir as faltas, tanto da
sala de aula como da administração. O quadro de professores está composto por 22
profissionais, dos quais somente dois estão efetivados, o resto é ACT. Também dois é o
número deles que mora na comunidade (1 efetivo, 1 ACT). Dos demais, quase todos
moram no centro de Palhoça e alguns em São José, dependendo todos do ônibus para
chegarem à escola. Isto traz transtornos pois as vezes se atrasam devido ao horário deste
que nem sempre é cumprido à regra. Todos contam com o 3º grau completo com
especialização em ensino fundamental ou estão formados em Pedagogia. Alguns deles
se mostraram interessados em continuar estudando mas não achavam tempo para isto,
outros já falaram que não achavam útil fazer-lo pois a Prefeitura somente pagaria R$100
a mais por ter um Mestrado. Acham que os cursos de formação continuada
proporcionados são suficientes. A maioria não sabe se vai continuar nessa escola
(incluindo-se também aqui o pessoal administrativo). Pois desejam trabalhar numa mais
próxima do centro de Palhoça para evitar os transtornos da locomoção. Cabe destacar
que quase o 100% começou neste ano. Em média trabalham 40 horas por semana e têm
duas turmas da mesma série, uma por turno. Não contam com hora atividade. Recebem
em promédio R$ 900,00 de salário. Relatam a falta de materiais para dar aula, desde giz,
papel, lápis, caneta, até a falta de jogos lúdicos e material didático em geral. Pouco ou
nada se relacionam com a comunidade, dizem que com algum pai que eles chamam o
que “aparece” para falar com eles, mas descrevem a comunidade através dos alunos
como carentes, tanto material como afetivamente. Dizem que os alunos não estão
motivados para vir à escola é atribuem isto a fato da escola não possuir suporte que
atraia ao aluno: “o mundo lá fora lhes é mais atraente”, além que os pais não se fazem
presentes: “as famílias não apoiam as crianças nem se envolvem na sua educação”.
Acham eles muito indisciplinados, sendo comum a falta de respeito e de atenção em
sala de aula.
O questionário com os alunos foi aplicado para à 7ª e 8ª série, num total de 88
alunos. Considerando como extra idade na sétima série aos alunos com 15 ou mais anos
e na oitava com 16 ou mais anos de idade, verificou-se que o 26% dos alunos estão
acima a idade da sua série, fato que se relaciona com o histórico escolar de reprovação e
evasão. Nos anos 2008 e 2009 em média repetiram de série o 12,86% da população
escolar, assim como o 3,5% abandonaram a escola.
Quanto à situação sócio-econômica familiar, quase o 30% (29,5%) vivem em
famílias não estruturadas na tríade pai/mãe/filhos e o 65,4% destes dizem não ter
contato ou conhecimento dos familiares diretos (pai, mãe e ou irmãos). Quanto ao
número de irmãos, 64,7% dos alunos tem de 0 a 2. Quando o tema abordado foi o
trabalho, o primeiro elemento a surgir foi que o 9% declarou trabalhar, sendo que alguns
deles ainda não alcançaram a idade mínima para ser aprendiz (14 anos). Com respeito à
família, 63,6% disseram que esta tem aporte na renda de dois ou mais membros (pais,
irmãos), e quase o 8% dos adultos não esta trabalhando. O 29% dos adultos trabalha em
serviços, 18% na construção civil, 12% não sabe ou não responderam onde seus pais
trabalham, 11% de diarista, 8,2% na indústria, 7,4% na agropecuária, 6,6% no
transporte (motoristas), 3,3% como autônomo e o 4,5 % em outros empregos. Em
relação ao local de trabalho, 68% responderam ser fora da comunidade, a maioria na
grande Florianópolis (centro de Palhoça, São José) e muitos em Florianópolis ou em
outros pontos do Estado ou em outros Estados. Um dado relevante foi que o 17% ou não
sabiam responder à pergunta. Considerando se também o questionário aplicado com os
pais se pode considerar que muitos deles têm trabalhos temporários ou esporádicos, pois
grande parte deles trabalham na construção civil, como autônomo ou de diarista.
Ao se perguntar sobre a escolarização dos pais: 20% não soube responder sobre
isto. Dos que responderam, praticamente o 70% tinha abandonado seus estudos no
ensino fundamental, e o 10% chegou a concluir o ensino médio.
Quando a pergunta foi sobre o seu lugar de procedência: 57,9% não eram nativos
da comunidade. Os lugares mais citados foram Santo Amaro, Paraná, Florianópolis,
Alfredo Wagner, centro de Palhoça, surgindo também Estados como Pernambuco e
Mato Grosso. Em quanto à origem dos pais, 20,4% são nativos, e quase um 80%
provém de Paraná, Alfredo Wagner, Urubici, São Joaquim, a Serra, Florianópolis, Santo
Amaro, Xanxerê, Rio do Sul, Chapecó, Campos Novos, São Luiz, Anitápolis, Paulo
Lopes, Angelina, Imbituba, Ituporanga, Laranjeiras do Sul, Jaguaruna, Bom Retiro,
Blumenau, Joinville, Pernambuco e Mato Grosso. Assim, observou-se que quase toda a
população já passou pelo processo migratório. Outro aspeto relevante foi que 26% de
todos eles dizem já ter morado em pelo menos um lugar diferente, claro indicador da
sua mobilidade .
Quando o tema perguntado foi a escola, o primeiro elemento a surgir foi a
repetição do discurso dos pais, observando-se a internalização e apropriação do mesmo
por estes. Todos falaram que iam à escola para “ser alguém na vida”, “não ter a vida dos
seus pais” ou para “ter um futuro ou emprego melhor”. 55,7% disseram gostar de ir à
escola, 17 % não gosta e 27,3% mais ou menos. As respostas sobre o que gostam da
escola podem se agrupar na seguinte ordem decrescente: brincar, ver os amigos e jogar
bola que, juntos, chegou a 65%. Dos professores e diretora 8% e finalmente de estudar
somente 2%. Não gostam da escola: violência entre companheiros 25,7%, os
professores e a falta destes 25%, não gostam nada nela 15%, já o 9% gosta de tudo na
escola.
Perguntados se a escola ensina coisas que lhe interessam, 63,6% diz que sim;
23,9% falou que são poucas as coisas que lhes interessam; 11,4% não tem nenhuma
coisa que lhe interesse na escola e 1,1% não soube responder. A pergunta seguinte foi se
o ensinado tem a ver com a sua vida. 56,8% falou que sim, 25% diz que poucas coisas,
13,6% diz que não tem a ver com a sua vida e 4,6% não soube responder a questão. Ao
ser-lhes perguntado que gostariam aprender, as respostas foram, esportes 17%, internet,
computação 14,8% , coisas diferentes 12,5%, não souberam dizer 11,4%, nada mais
além do já estudado 11,4%, música e dança 10,2% , nada 9%, línguas 8%, reciclagem
3,4%, educação sexual 2,3%. Quando foi perguntado o que mudariam da escola, 18%
diz que tudo, 17,4% os professores, 15% a infraestrutura, 15% as disciplinas, 12% não
mudaria coisa alguma, 10% o material esportivo, 6,6% as carteirinhas e 6% o uniforme.
Apontamentos sobre a relação escola-comunidade
Nota-se, a falta de diálogo entre seus membros. Pelo qual é impossível não se
questionar sobre às possíveis causas desta situação, as suas implicações e repercussões e
como se poderia modificá-la. Se pode afirmar que a comunidade vive num pleno
processo de transformação social, deixando para trás uma rede social com base agrícola
e caracterizada pelas suas relações interpessoais de estreito conhecimento e
solidariedade. “...hoje nos vem perguntar por alguém e a gente não os conhece, não
sabemos onde moram, quem são, não podemos lhes informar” (Caderno da realidade,
Abril 2010 em fala de antiga moradora da comunidade). “...Até pouco tempo atrás, as
pessoas produziam e vendiam os seus produtos ao SEASA, o restante era repartido à
comunidade, o dono plantava a terra e dava trabalho aos vizinhos, hoje os produtos são
vêm de fora e se tem muitos desempregados na comunidade” (Caderno da realidade,
Junho 2010, em fala com funcionária da escola Daniel Carlos Weingartner e moradora
da comunidade). Verifica-se que o tecido social tem-se desintegrado paralelamente ao
avanço dos loteamentos da região. Se analisando a estrutura social, o tipo de empregos,
a mobilidade a que as famílias são submetidas, a desestruturação familiar que provoca
instabilidade emocional e falta de referenciais, o baixo nível de educação dos pais e o
escasso tempo para compartilhar atividades com os seus filhos, a agressão do meio
ambiente que ocasiona a degradação da saúde e qualidade de vida.
Pode-se considerar que estas situações acabam afetando as relações de tipo
familiar (note-se que muitas crianças não souberam responder questões como onde
nasceram os seus pais e irmãos, que estudo tem, em que trabalham); entre os membros
da própria comunidade (aqueles alunos não tão bem sucedidos são vistos em grande
medida como a causa dos problemas da escola) e com a própria escola. Fatores que
atuam reforçando o processo de alienação dos membros da comunidade.
Por outro lado, verifica-se o distanciamento da escola da comunidade e desta
com a escola. Uma escola sem identidade, sem história, que não reconhece seus sujeitos
além da sua vinculação administrativa. Fica assim a escola historicamente relacionada
às mudanças da sociedade. Ou dito nas palavras de Maria Luísa S. Ribeiro (1981, p 18).
...Aceita-se que para se chegar a uma compreensão do
fenômeno social... há que ter em mente ser ele um dos
elementos de superestrutura que em unidade com o seu
contrário -infra-estrutura- formam a estrutura social. Esta
infra-estrutura, entendida como o modo do ser humano
produzir sua existência, está em constante mudança com
vistas a uma eficiência cada vez maior. Estas mudanças é
que pressionarão, de forma determinante, as respectivas
mudanças nos elementos que compõem a superestrutura,
que está sendo entendida como a unidade entre dois
elementos contrários que são as ideias e as instituições.
Diante disso, a organização escolar, enquanto uma
instituição social criada pela e para a sociedade como um
dos instrumentos de transmissão de cultura enquanto bem
de consumo...,é um elemento de superestrutura.. e, por
tanto, determinado pela infra-estrutura.
Assim, não é de estranhar a situação em que escola está, nem a sua falta diálogo
com a comunidade e/ou da abordagem dos problemas da comunidade. Pois a escola,
como aparelho ideológico do Estado, se limita a reproduzir o ideal hegemônico. Agindo
como elemento desagregador em vez de unificador da comunidade. Sendo neste caso o
seu papel, o de facilitador da aplicação das políticas locais que refletem uma concepção
de desenvolvimento decantada das que vêm sendo aplicadas em todo o Brasil há varias
décadas. Conseguindo-se por seu intermédio, dispersar e imobilizar a população.
Noam
Chomsky
(www.facebook.com/note.php?note_id=149046878470132,
5/10/2010), elaborou uma lista de 10 estrategias de manipulação da população. E no
ponto 7 refere-se a manter o público na ignorância e mediocridade. Fazer que o público
seja incapaz de compreender as tecnologias e métodos utilizados para o seu controle e
submissão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais
pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância das classes inferiores
das classes sociais superiores seja e se mantenha impossível de alcançar para as classes
inferiores”.
A pesquisa demonstrou claramente isto no significado que pais e alunos dão para
a escola, limitando-a a uma função meramente utilitária (para ser alguém na vida, para
ter uma vida melhor, para ter acesso a bons trabalhos). Ou em muitos casos uma função
depositária, pois da a sensação que os pais muitas vezes enviam a seus filhos para ela
pois senão ficariam sozinhos em casa. Se havendo perdido aqui até a expectativa
anterior pois consideram que o nível dela é ruim e vão a ela simplesmente por que é a
única escola pública da região. Por sua vez os professores lhe outorgam um significado
de simples vínculo empregatício, em grande medida dadas as próprias condições de
trabalho. A maior preocupação é de arrumar material para dar aula, ou de não perder o
horário do ônibus para ir a trabalhar ou voltar para casa que a de conhecer a realidade da
comunidade e de seus alunos.
Considerações finais
A relação escola-comunidade depende de uma situação estrutural e conjuntural, que
envolve e determina tanto a sociedade civil, como o Estado. Se concordando com a
concepção de Florestan Fernandes, quem diz que a educação deve ser assumida como
um problema social por todos. Assim como com as teorias crítico-reprodutivistas que
dizem que a escola tal como hoje está estruturada se limita a um rol de reprodução das
condições atuais (SAVIANI, 2009) . Sob um manto de aparente igualdade e liberdade
conserva o status quo, postergando as mudanças necessárias para obter uma sociedade
mais equitativa.
Fazendo uso da figura da sinecdoque, a situação da escola estudada indica não
diferir substancialmente do restante das escolas públicas. Mas cabe se perguntar a quem
é que isto favorece. Não acaba a escola virando num divisor das águas? Não ajuda a
implementar praticamente um sistema em que uns mandam e outros obedecem? Onde a
educação proporcionada às classes mais populares é de baixa qualidade e sem o sentido
real, que permita modificar a situação de opressão? Limitando-se, assim, a proporcionar
os conhecimentos necessários para continuarem nos trabalhos mais pesados, menos
remunerados e pior conceituados na hierarquia social? Onde está essa tal de liberdade?
E a igualdade?
Como já foi relatado, a escola, se localiza numa comunidade em que atualmente
sofre várias mudanças (migrações, baixa renda, trabalhos precários) sendo assim, as
famílias tem muitas dificuldades de acompanhar a vida escolar de seus filhos. A própria
escola apresenta também dificuldades na sua relação com a comunidade, parecendo se
condicionar à mera reprodução das relações sociais, onde se tem comportado com uma
mentalidade plenamente urbana e urbanizante.
As mudanças necessárias implicam uma formação política do pessoal atuante na
escola de forma a alcançar uma visão crítica da realidade escolar e da comunidade para
agir com a responsabilidade social que o seu cargo demanda. Ou seja, que aceitem o
desafio de descobrir o que é historicamente fatível de contribuir para a transformação do
mundo, num lugar mais humano, menos discriminatório, mais justo e democrático. Mas
também abrange modificações ainda mais profundas no próprio seio do Estado, sendo
fundamental devolver à escola as condições que lhe permitam alcançar o seu real
sentido social.
Referencias
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WENDEL, Enrique. A recente metropolização em Santa Catarina: Processo
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FEDERACIÓN NACIONAL DE PROFESORES DE ENSEÑANZA SECUNDÁRIA.
¿Cómo la educación puede contrarrestar la manipulación? In. Espaço público para
o debate da Educação Pública
www.facebook.com/note.php?note_id=14904687847013 (5/10/2010)
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