UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
ANNE NOEMI FRANÇA MIRANDA
NAS ÁGUAS DO RIO POTENGI: carta de zoneamento arqueológico subaquático
(Século XVII)
NATAL/RN
2015
ANNE NOEMI FRANÇA MIRANDA
NAS ÁGUAS DO RIO POTENGI: carta de zoneamento arqueológico subaquático
(Século XVII)
Monografia apresentada ao Curso de
História da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, sob a orientação do Prof.
Dr. Roberto Airon Silva, para a avaliação
da disciplina Pesquisa Histórica II.
NATAL/RN
2015
ANNE NOEMI FRANÇA MIRANDA
NAS ÁGUAS DO RIO POTENGI: carta de zoneamento arqueológico subaquático
(Século XVII)
Monografia apresentada ao Curso de
História da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, para a avaliação da
disciplina Pesquisa Histórica II.
Aprovada em: ____/____/____.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________
Prof. Roberto Airon Silva
(Orientador/UFRN)
______________________________________________________________________
Profa. Fátima Martins Lopes
(História/UFRN)
______________________________________________________________________
Prof. Sebastião Leal Ferreira Vargas Netto
(História/UFRN)
Dedico este trabalho à minha família, Afonso de França
Miranda, Veralúcia França Miranda, João Henrique
França Miranda e Inês Miranda (in memoriam).
AGRADECIMENTOS
Ao nosso Deus, acima de tudo, por ter me dado força para superar as dificuldades e
determinação para não desistir de meus objetivos.
À minha mãe Veralúcia França Miranda pela dedicação e amor incondicional, bem
como a meu pai, Afonso de França Miranda, pelo afeto, incentivo e meu maior exemplo
de determinação.
À meu irmão João Henrique França Miranda pelo afeto, companheirismo e paciência.
À todos os meus familiares.
Ao meu orientador, professor Roberto Airon Silva, pela competência profissional,
paciência, ensinamentos, incentivo e amizade.
Aos meus amigos do LARQ (Laboratório de Arqueologia), Gerlane Mendes, Jônatas
Ferreira, Aressa Nascimento, Artur Vinicius, Anne Passos, Camila Duarte, Daniel
Bertrand, Ismael Paiva, Isac Karon, Erick Cauann, Samantha Simpliano, Paulo
Henrique, Álvaro Giannini e Thaise Rodrigues pelos momentos de descontração e
aprendizagem que levarei para o resto da vida.
À Angélica Thaís, minha irmã de coração, pelo incentivo, afeto, alegria, amizade,
cumplicidade e por trilhar juntamente comigo esses quatro anos de curso.
À Dennys Willy pela amizade e valiosa ajuda com o acervo do NEHAD (Núcleo de
Estudos Históricos de Arqueologia e Documentação).
Aos meus amigos do LABIM (Laboratório de Imagens), Alyne Barreto, Iris Alvares,
Jerlimar Adeltrudes e José Daniel, pela ajuda com os mapas.
Aos amigos e professores do curso de História, pelos momentos felizes, de descontração
e aprendizagem.
Aos funcionários do CCHLA (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes) pelo
carinho e amizade.
As minhas amigas Bruna Carvalho e Kívia Passos pelo afeto, apoio e incentivo.
À todos que de alguma forma me ajudaram nessa etapa, a quem serei eternamente grata.
“As paixões são como ventanias que enfurnam as velas
dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazêlos naufragar, mas se não fossem elas, não haveriam
viagens nem aventuras nem novas descobertas”.
(Voltaire)
RESUMO
O rio Potengi como espaço favorável a navegação há muito tempo é temática corrente
na historiografia norte-rio-grandense, porém esse ambiente de navegação e suas
apropriações humanas não foram analisados através de um olhar arqueológico. Foram
analisados relatos de cronistas do século XVII, a cartografia e a iconografia histórica
portuguesa e holandesa do período e as obras de cunho historiográficas produzidas
durante o século XX e referentes ao Rio Grande do Norte além de obras recentemente
publicadas dentro da área de conhecimento da geografia e da geomorfologia do estuário
do Potengi. Utilizando-se de uma abordagem interdisciplinar entre a Arqueologia e a
História, e situada no campo da arqueologia histórica e da especialidade da arqueologia
subaquática o trabalho teve por finalidade produzir um zoneamento das áreas de
potencial arqueológico subaquático ligado à navegação no estuário do rio Potengi
durante o século XVII. Foram aplicados três procedimentos metodológicos correntes no
campo da arqueologia histórica a fim de atingir os objetivos desse trabalho que foram: a
prospecção documental; a análise tipológica e o zoneamento arqueológico. O trabalho
inicia pela descrição do ambiente natural e os tipos de ambientes aquáticos na Bacia
Hidrográfica do rio Potengi. Depois disso, identifica e analisa as apropriações feitas
pelo homem nesse espaço para a navegação durante o século XVII e apresenta as
terminologias utilizadas nesse período para os espaços de navegação, bem como a
tipologia das embarcações. Essas tipologias permitem compreender melhor a cultura
material relacionada à navegação no século XVII e pode facilitar a identificação de
vestígios de embarcações no ambiente aquático do rio Potengi por parte dos
arqueólogos. A carta de zoneamento arqueológico apresentada ao final além de seu
caráter informativo para a pesquisa constitui-se num importante instrumento para a
gestão do patrimônio arqueológico local.
.
Palavras-chave: Estuário do Potengi (RN); Tipologias da navegação (século XVII);
Zoneamento arqueológico subaquático.
ABSTRACT
The Potengi River estuary as favorable space navigation has long been current topic in
the Rio Grande do Norte historiography, but this navigation environment and its human
appropriations have not been analyzed by an archaeological systematic look. The aims
of the analysis sought reading of the seventeenth century chronicler’s reports, mapping
and the Portuguese and Dutch historical iconography of the period and the works of
historiographical nature produced during the twentieth century and for the Rio Grande
do Norte in addition to recently published works within the geographical area of
expertise and geomorphology of the Potengi estuary. Using an interdisciplinary
approach between archeology and history, and situated in the scientific field of
historical archeology and the specialty underwater archeology work aimed to produce a
zoning of areas of underwater archaeological potential on the navigation at the mouth of
the Potengi River during the seventeenth century. Three streams methodological
procedures were applied in the field of historical archeology in order to achieve the
objectives of this work were: a documentary investigation; the typological analysis and
the archaeological zoning. The work begins with the description of the natural
environment and the types of aquatic environments in the hydrographic basin of Potengi
river. After that identifies and analyzes the appropriations made by the man in this area
for navigation during the seventeenth century and presents the terminology used in that
period for navigation spaces, as well as the types of vessels. These types allow better
understand the material culture related to navigation in the seventeenth century and can
facilitate the identification of traces of vessels in the aquatic environment of the Potengi
river by the archaeologists. The archaeological zoning map presented at the end addition
to its explanatory character for research it is an important tool for the management of
local archaeological heritage.
Keywords: Rio Potengi estuary (Brazil - RN); Navigation and types of vessels (XVII
century); Underwater archaeological zoning.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Bacia hidrográfica do Potengi e sua localização ......................................... 28
Figura 2 - Bacia hidrográfica do Potengi ....................................................................... 29
Figura 3 - Estuário do Potengi ....................................................................................... 30
Figura 4 - Vegetação de restinga nas proximidades do Forte ........................................ 31
Figura 5 - Vegetação de mangue nas proximidades do rio Potengi .............................. 32
Figura 6 - Ventos Alísios ............................................................................................... 33
Figura 7 - Imagem com as nomenclaturas “Barra do Rio Grande” próximo a
desembocadura do rio e “Puttigi” ao longo de seu curso .............................................. 36
Figura 8 - Imagem com as nomenclaturas “Potiji ou Rio Grande” na desembocadura do
rio e “Potiji” ao longo de seu leito ................................................................................. 36
Figura 9 - Imagem ilustrando a barra do rio Potengi ..................................................... 39
Figura 10 - Imagem ilustrando baixo coberto no rio Potengi ........................................ 39
Figura 11 - Imagem dos recifes descobertos em baixa-mar e preamar ......................... 40
Figura 12 - Imagem da pedra que se descobre em baixa-mar de águas-vivas ............... 41
Figura 13 - Representação do estuário do rio Potengi no século XVII ......................... 44
Figura 14 - Representação cartográfica de alguns locais que serviram como portos e
ancoradouros para embarcações na capitania do Rio Grande ....................................... 46
Figura 15 - Imagem representando pontos de ancoragens nas proximidades da
fortaleza.......................................................................................................................... 47
Figura 16 - Imagem do surgidouro de navios com profundidade de 350 pés nas
proximidades do forte. Zona de Apropriação de Ancoragens (ZAA-01) ...................... 48
Figura 17 - Imagem da esquadra holandesa ancorada em uma das curvas do rio Potengi.
Zona de Apropriação de Ancoragens (ZAA-02) ........................................................... 49
Figura 18 - Imagem do surgidouro de navios que vêm acima. Zona de Apropriação de
Ancoragens (ZAA-03) .................................................................................................. 50
Figura 19 - Imagem das embarcações holandesas ancoradas fora do estuário do rio
Potengi. Zona de Apropriação de Ancoragens (ZAA-04) ............................................. 51
Figura 20 - Representação das casinhas dos pescadores próximas ao riacho Salgado .. 52
Figura 21 - A nomenclatura “Rede” na gravura indica possivelmente o local de prática
da pescaria no rio Potengi. Zona de Apropriação do Porto de Pescaria (ZAPP-01) ..... 53
Figura 22 - Representação do riacho Guajaí. Zona de Apropriação do Portinho de
Muller (ZAPM-01) ........................................................................................................ 54
Figura 23 - Representação da fortaleza na rocha e no recife em pequeno .................... 56
Figura 24 - Representação do arrecife na desembocadura do rio Potengi ..................... 57
Figura 25 - Representação dos arrecife na desembocadura do rio Potengi e do Castelo
Keulen ............................................................................................................................ 57
Figura 26 - Representação da área correspondente aos arrecifes sobre os quais foi
construída a fortaleza. Zona de Apropriação do Forte (ZAF-01) ................................. 59
Figura 27 - Imagem de uma nau portuguesa ................................................................. 61
Figura 28 - Imagem de uma caravela latina portuguesa ................................................ 62
Figura 29 - Imagem de uma caravela redonda portuguesa ........................................... 62
Figura 30 - Naus portuguesas no estuário do Potengi apreendidas por holandeses ...... 63
Figura 31 - Galeões holandeses fundeados fora do rio Potengi .................................... 64
Figura 32 - Imagem de uma nau e um galeão português ............................................... 65
Figura 33 - Imagem representando da portinhola, e o canhão alojado no berço sobre
rodas ............................................................................................................................... 66
Figura 34 - Imagem de batéis adentrando o rio Potengi guiando as duas embarcações
portuguesas .................................................................................................................... 68
Figura 35 - Imagem de uma canoa próximo ao Castelo Keulen ................................... 68
Figura 36 - Representação da área dragada do canal de acesso ao Porto de Natal (AI.
Drag-01) ......................................................................................................................... 71
Figura 37 - Área que sofreu maior impacto com as obras de derrocagem no estuário do
rio Potengi (AI.Der-01) ................................................................................................. 72
Figura 38 - Localização das Obras Fixas realizadas até a década de 1980 ................... 74
Figura 39 - Imagem do Dique da Limpa ....................................................................... 73
Figura 40 - Banco das Velhas no estuário do rio Potengi ............................................. 75
Figura 41 - Ponte Newton Navarro no estuário do rio Potengi ..................................... 75
Figura 42 - Assoreamento causado pela construção do Dique da Limpa ...................... 76
Figura 43 - Guia Corrente da Redinha ........................................................................... 77
Figura 44 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-01 (ZPA-01) ...................... 78
Figura 45 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-01 (ZPA-01) ...................... 79
Figura 46 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-02 (ZPA-02) nas
proximidades do Canto do Mangue ............................................................................... 80
Figura 47 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-02 (ZPA-02) ...................... 80
Figura 48 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-03 (ZPA-03) nas
proximidades da Pedra do Rosário ................................................................................ 81
Figura 49 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-03 (ZPA-03) ...................... 82
Figura 50 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-04 (ZPA-04) ...................... 83
Figura 51 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-04 (ZPA-04) ...................... 83
Figura 52 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-05 (ZPA-05) ...................... 85
Figura 53 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-05 (ZPA-05) ...................... 85
Figura 54 - Riacho do Rego Moleiro ............................................................................. 86
Figura 55 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-06 (ZPA-06) ...................... 87
Figura 56 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-07 (ZPA-07) ...................... 88
Figura 57 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-07 (ZPA-07) ...................... 88
Figura 58 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-07 (ZPA-07) ...................... 89
Figura 59 - Carta de Zoneamento Arqueológico Subaquático do século XVII ............ 91
Figura 60 - ZPA-06 localizado no Riacho do Rego Moleiro.......................................... 90
Figura 61 - Canoas monóxilas no jardim da Fundação de Cultura Aldeia
Guajiru ........................................................................................................................... 92
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Obras de dragagem realizadas entre os anos de 1902-2011
Tabela 2 - Obras de derrocagem no estuário do rio Potengi entre os anos de 1903-2011
Tabela 3 - Obras fixas que ocorreram no estuário do rio Potengi entre os anos de 1927 a
1960
Tabela 4 - Coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-01)
Tabela 5 - Coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-02)
Tabela 6 - Coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-03)
Tabela 7 - Coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-04)
Tabela 8 - Coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-05)
Tabela 9 - Coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-06)
Tabela 10 - Coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-07)
LISTA DE SIGLAS
AI.Der-01 – Área impactada pela derrocagem-01
AI.Drag-01- Área impactada pela dragagem-01
CODERN - Companhia Docas do Rio Grande do Norte
DPHDM - Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha
IDEMA - Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente
IHGRN - Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
USP – Universidade de São Paulo
ZA- Zona de apropriação
ZAA-01 – Zona de apropriação de ancoragem-01
ZAA-02 – Zona de apropriação de ancoragem-02
ZAA-03 – Zona de apropriação de ancoragem -03
ZAA-04 – Zona de apropriação de ancoragem-04
ZAF-01 - Zona de apropriação do forte-01
ZAPM-01 – Zona de apropriação do portinho de Muller-01
ZAPP-01 – Zona de apropriação do porto de pescaria-01
ZPA-01 – Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-01
ZPA-02 – Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-02
ZPA-03 – Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-03
ZPA-04 – Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-04
ZPA-05 – Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-05
ZPA-06 – Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-06
ZPA-07 – Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-07
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 15
CAPÍTULO 1- O ESTUÁRIO DO RIO POTENGI SOB A PERSPECTIVA DA
ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA .......................................................................... 18
1.1 - ARQUEOLOGIA, ARQUEOLOGIA HISTÓRICA E SUBAQUÁTICA ........... 18
1.2 - UMA ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA DO ESTUÁRIO DO RIO POTENGI
DURANTE O SÉCULO XVII ................................................................................ 22
1.3 - NAS ÁGUAS DO ANTIGO RIO GRANDE: A GEOGRAFIA DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO POTENGI................................................................... 28
CAPÍTULO 2 – SOB AS ÁGUAS DO POTENGI: APROPRIAÇÕES HUMANAS
DO SÉCULO XVII, TERMINOLOGIAS DA NAVEGAÇÃO E A TIPOLOGIA
DAS EMBARCAÇÕES ............................................................................................... 35
2.1 - NOMENCLATURAS HISTÓRICAS DO RIO POTENGI NOS SÉCULOS XVI E
XVII ............................................................................................................................... 35
2.2 - TERMINOLOGIAS UTILIZADAS PARA OS ESPAÇOS DE NAVEGAÇÃO .38
2.3 - O ESTUÁRIO DO RIO POTENGI NO SÉCULO XVII E AS APROPRIAÇÕES
HUMANAS ................................................................................................................... 42
2.3.1 – O Porto do Potengi ............................................................................... 45
2.3.2 - Surgidouros no rio Potengi e arredores ............................................ 47
2.3.3 - O porto de Pescaria do Potengi, Portinho de Dirck Muller e o Forte dos
Reis Magos ........................................................................................................ 52
2.4 TIPOLOGIA DAS EMBARCAÇÕES .................................................................... 60
CAPÍTULO 3 – PASSADO E PRESENTE DO ESTUÁRIO DO RIO POTENGI:
PERTURBAÇÕES DO CONTEXTO ARQUEOLÓGICO NOS SÉCULOS XX E
XXI E ZONEAMENTO ARQUEOLÓGICO SUBAQUÁTICO............................. 69
3.1 – O CONTEXTO ARQUEOLÓGICO DO ESTUÁRIO DO POTENGI:
TRANSFORMAÇÕES E PERTURBAÇÕES .............................................................. 69
3.1.1- Obras no estuário do rio Potengi (1902-2011) .................................... 70
3.2 – CARTA DAS ZONAS DE POTENCIAL ARQUEOLÓGICO SUBAQUÁTICO
DO ESTUÁRIO DO RIO POTENGI ............................................................................ 78
3.3 – VESTÍGIOS MATERIAIS LIGADOS A NAVEGAÇÃO DO SÉCULO XVII.. 92
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 93
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 96
FONTES ....................................................................................................................... 99
ANEXOS ..................................................................................................................... 100
15
INTRODUÇÃO
A importância do rio Grande (Potengi) como um ambiente favorável a
navegação foi descrito desde o século XVI pelo cronista Gabriel Soares de Souza no
Tratado Descritivo do Brasil de 1587. Porém foi durante o século XVII, quando
ocorreu a fundação da povoação do Natal e a presença holandesa na capitania do
Rio Grande que a importância desse ambiente foi evidenciado por meio de
cartografias e iconografias históricas, bem como em relatos da época.
O rio Potengi, mais precisamente a área que compreende ao seu estuário, foi
utilizado durante o século XVII tanto como um espaço de passagem quanto uma via
de navegação para fins comerciais e de conquista, assim como também um espaço
de permanência onde embarcações ficavam ancoradas por horas ou até mesmo por
alguns dias, sendo considerado o principal porto da capitania do Rio Grande.
Partindo desta delimitação espaço-temporal que compreende o estuário do rio
Potengi durante o século XVII, foram levantados alguns questionamentos: Quais
foram as apropriações feitas pelo homem no estuário do rio Potengi durante o século
XVII e onde estão localizadas estas apropriações? Quais as terminologias utilizadas
para os espaços de navegação neste período? Que tipo de embarcações eram
utilizadas para navegar o rio Potengi durante o século XVII? Quais são as
características geográficas atuais da Bacia Hidrográfica do rio Potengi? Onde estão
localizadas no contexto espacial atual, as zonas de potencial arqueológico
subaquático ligados a navegação no rio Potengi durante o século XVII?
A importância do rio Potengi como um ambiente favorável à navegação durante
o século XVII foi temática apresentada na historiografia sobre o Rio Grande do
Norte, porém esse ambiente de navegação e suas apropriações não foram
devidamente analisados através de um olhar arqueológico. Este trabalho através de
uma abordagem interdisciplinar entre a Arqueologia e a História, tem por objetivo
geral a produção de uma carta das zonas de potencial arqueológico subaquático
ligadas à navegação no estuário do rio Potengi durante o século XVII, sendo esta
carta um importante instrumento de gestão do patrimônio arqueológico municipal,
16
viabilizando a lei 6.938 publicada em 31/08/81 de conservação ambiental, do qual
engloba os recursos culturais.
A fim de serem cumpridos os objetivos deste trabalho, foram descritos o
ambiente natural e os tipos de ambientes aquáticos na Bacia Hidrográfica do rio
Potengi; identificadas e analisadas as apropriações feitas pelo homem nesse rio
durante o século XVII e as terminologias utilizadas nesse período para os espaços de
navegação, bem como a tipologia das embarcações; e por fim, apresentado um
zoneamento das áreas de potencial arqueológico do século XVII no contexto atual
do ambiente aquático do estuário do rio Potengi.
Este trabalho constituiu a etapa chamada na arqueologia de fase prévia ao
campo, fase em que foi delimitado o espaço a ser estudado, bem como feito o
levantamento de informações sobre o contexto histórico e ambiental desse espaço, a
fim de serem delimitadas as áreas de maior potencial arqueológico subaquático.
Este trabalho está situado no campo da arqueologia histórica e da especialidade
da arqueologia subaquática ou de ambientes aquáticos. No continente americano a
arqueologia histórica estuda a cultura material produzida no período moderno, sendo
a arqueologia das sociedades que deixaram registros escritos. O estuário do rio
Potengi, nosso objeto de estudo, por ser um ambiente úmido também está inserida
na especialidade da arqueologia subaquática ou arqueologia dos ambientes
aquáticos.
A arqueologia histórica utiliza uma série de fontes de informação para sua
investigação, dentre essas fontes estão: os artefatos, a arquitetura, documentos
escritos e as imagens pictóricas. O quadro de fontes utilizadas neste trabalho foi
dividido em duas categorias: as fontes documentais primárias e as fontes
documentais secundárias. Com relação às fontes primárias foram utilizadas relatos
de cronistas do século XVII, cartografias e iconografias históricas portuguesas e
holandesas do período. Com relação às fontes documentais secundárias estão as
obras historiográficas referentes ao Rio Grande do Norte produzidas durante o
século XIX, obras sobre o referencial teórico e pesquisas recentes na área da
17
geografia e da geomorfologia, para se ter uma melhor compreensão das variáveis
ambientais sofridas no estuário do rio Potengi ao longo do tempo.
Após a análise das fontes já mencionadas foram aplicados três procedimentos
bastante correntes na arqueologia a fim de traçar os objetivos e produzir os capítulos
deste trabalho: prospecção documental, análise tipológica e zoneamento
arqueológico.
No primeiro capítulo foi compreendido que este trabalho utilizou uma
abordagem interdisciplinar entre a Arqueologia e a História, inserida no campo da
arqueologia histórica e na especialidade da arqueologia subaquática ou de ambientes
aquáticos. Ficou compreendido como o objeto de estudo fora analisado na
historiografia por autores como Frei Vicente de Salvador, Tavares de Lyra, Rocha
Pombo, Câmara Cascudo e Olavo de Medeiros Filho e foi abordado sobre a
geografia da bacia hidrográfica do Potengi, da qual faz parte o estuário.
No segundo capítulo foi apresentado as diversas nomenclaturas utilizadas para
referir-se ao rio Potengi durante o século XVII, as diversas terminologias utilizadas
para os espaços de navegação de acordo com a época, foram identificadas e
analisadas as apropriações humanas que ocorreram no rio Potengi durante o século
XVII, bem como evidenciadas a tipologia das embarcações utilizadas em sua
navegação no período.
No terceiro capítulo foram evidenciadas as perturbações do contexto
arqueológico, obras de dragagem, derrocagem e obras fixas que ocorreram no
estuário do rio Potengi entre os anos de 1902-2011, produzida uma carta das zonas
de potencial arqueológico subaquático do estuário do rio Potengi ligados à
navegação durante o século XVII, bem como foi feito um levantamento dos
vestígios matérias encontrados referentes a navegação nessa época.
18
CAPÍTULO I – O ESTUÁRIO DO RIO POTENGI SOB A
PERSPECTIVA DA ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA
1.1 - ARQUEOLOGIA, ARQUEOLOGIA HISTÓRICA E SUBAQUÁTICA
Na atualidade a Arqueologia vem sendo conceituada de forma ampla como “[...] a
produção do conhecimento sobre o passado humano, a partir da pesquisa dos vestígios
materiais da cultura, de todas sociedades e de todas as épocas” (KERN, 1999). Os
vestígios materiais do passado que chegam aos dias atuais são restos incompletos da
cultura material produzida pelas sociedades humanas, que nos ajuda a compreender suas
atividades cotidianas, bem como suas transformações de hábitos e comportamentos,
permitindo-nos reconstruir parcelas de suas histórias (KERN, 1999).
Nas últimas cinco décadas foi reconhecido que a Arqueologia contribuiu não
somente para a compressão da pré-história ou da Antiguidade como também para
períodos mais recentes da nossa história, como bem é exposto por Roberto Airon Silva
(2010, p.49) sobre o papel da arqueologia no Brasil “[...] a arqueologia, então, busca
realizar uma análise das situações de ocupação humana pré-histórica e indígena e as
ocupações humanas de caráter histórico (colonial ou pós-colonial)”.
Na segunda metade do século XX a Arqueologia Histórica foi reconhecida como um
campo da pesquisa arqueológica, pois para Charles Orser Jr:
[...] a definição de Arqueologia Histórica que está surgindo atualmente
à caracteriza como o estudo arqueológico dos aspectos materiais- em
termos históricos, culturais e sociais concretos- dos efeitos do
mercantilismo e do capitalismo trazidos da Europa no final do século
XV e que continua em ação até hoje. (ORSER, 2000, p. 21-22, tradução
nossa)
Ainda sobre essa definição do campo da arqueologia histórica, segundo Roberto
Airon Silva:
Apesar de se discutir na atualidade qual a definição ideal para uma
arqueologia dita “histórica”, se considerou aqui como arqueologia
19
histórica toda e qualquer estudo relacionado a elementos materiais
dispostos ou não na paisagem, e que têm alguma vinculação direta ou
indireta com a sociedade aqui desenvolvida a partir dos mercantilismos
de colonização empreendidos pela Coroa portuguesa desde o século
XVI e suas relações com o universo indígena aqui existente. (SILVA, R.,
2010, p.47)
O termo Arqueologia Histórica tem sido utilizado no continente americano para
identificar o estudo da cultura material produzida no período moderno, porém o termo
Arqueologia Histórica com tal definição não é utilizado na Europa ou na Ásia tendo em
vista que nesses continentes a escrita já existia antes do período moderno e o estudo da
cultura material abrange outros campos da arqueologia, como por exemplo a
Arqueologia Clássica (FUNARI, 2002).
Segundo Orser Jr.(2000) a arqueologia histórica por ter um caráter multidisciplinar,
se aproximando de outras ciências como a antropologia, sociologia e sobre tudo da
história, assim, utiliza uma série de fontes de informação para sua investigação, dentre
essas fontes podemos citar algumas como: os artefatos, a arquitetura, as informações
orais, documentos escritos e as imagens pictóricas. A disponibilidade de tais fontes de
informação vai depender do sítio e do caso estudado.
Ainda que a utilização de documentos escritos se mostre bastante importante,
devemos ter consciência que sua produção foi resultado de uma ação humana é que essa
documentação está sujeita a imprecisões, falseamentos ou desconhecimentos dos fatos
por parte de seus autores (ORSER JR, 2000). O mesmo ocorre com as cartografias e
iconografias históricas, embora sejam importantes fontes para a arqueologia histórica,
principalmente no que diz respeito à localização de sítios enquanto lugares de ocupação
ou mesmo edificações essas fontes também estão sujeitas aos mesmos problemas da
documentação escrita. Desta maneira o trabalho de escavação arqueológica se faz
necessário pois a cultura material encontrada pode tanto confirmar ou complementar as
fontes escritas, cartográficas e iconográficas como também podem contradizê-las.
Além dos campos de atuação na arqueologia, também existem as especialidades
dentro da prática arqueológica, e dentre elas destacam-se: a arqueologia urbana, a
arqueologia da paisagem, a etnoarqueologia e a arqueologia subaquática.
20
A chamada Arqueologia Subaquática ou de Ambientes Aquáticos, ao contrário do
que se pensa, pode ser realizada tanto em ambientes totalmente submersos quanto em
ambientes parcialmente submersos e está associada a áreas de ambientes marítimos,
lagoas, rios, zonas de maré, entre outros. A diferença existente entre a arqueologia feita
em ambientes aquáticos e a arqueologia terrestre se dá justamente no contexto ambiental
em que cada uma é realizada, porém ambas utilizam-se dos mesmos conceitos e
terminologias e empregam os mesmos métodos e técnicas (RAMBELLI, 2006). Gilson
Rambelli ao se referir à arqueologia subaquática deixa claro que:
Como sua escala de tempo acompanha a epopeia humana sobre o
planeta, este pode ser representado por: vestígios de habitações de
milhares de anos (sítios arqueológicos pré-históricos) que ficaram
submersos devido as alterações do nível do mar; cidades históricas
(sítios arqueológicos históricos), como por exemplo Porto Royal, na
Jamaica, que devido a movimentos sísmicos foi quase coberta pelo mar
em 7 de junho de 1692. (RAMBELLI, 2006, p. 90, tradução nossa)
Neste trabalho a abordagem teórica da Arqueologia utilizada é a perspectiva da New
Archaeology (Nova Arqueologia) ou arqueologia processual. A New Archaeology,
enquanto abordagem na arqueologia, surgiu nos Estados Unidos na década de 1960
fruto de uma insatisfação dos pesquisadores que reconheciam as limitações de uma
arqueologia tradicional voltada a discussões fragmentadas que contemplavam apenas
alguns aspectos da sociedade do passado. Dentre alguns de seus conceitos básicos, da
Nova Arqueologia ou arqueologia processual, foi destacado que a arqueologia deixa de
ter um caráter puramente descritivo e passa a buscar o caráter explanatório, a explicar o
passado humano através do uso de teorias. Para a abordagem processual as pesquisas
deveriam resolver questões específicas, afim de evitar o volume de dados obtidos de
forma aleatória em campo e o desenvolvimento de uma perspectiva ecossistêmica, na
qual se buscava estabelecer relações entre meio ambiente e cultura (ROBRANHGONZÀLEZ, 1999-2000).
Alguns conceitos foram fundamentais para a execução deste trabalho, ou seja, os
conceitos de: “ambientes aquáticos”; “tipologia de embarcações” e do “zoneamento
arqueológico”. Segundo Gilson Rambelli (2010) os ambientes aquáticos englobam
regiões de águas oceânicas, marítimas e águas interiores, o que compreende os oceanos,
mares, lagoas, lagos, rios, represas, poços, manguezais entre outros. A arqueologia
subaquática ou de ambientes aquáticos estuda os testemunhos das ações humanas e suas
21
apropriações nesses ambientes aquáticos, que conservaram ou não suas características
naturais, que podem estar situados inteiramente ou parcialmente no meio aquático.
A tipologia de embarcações, o segundo aspecto chave, busca classificar as
embarcações de acordo com suas semelhanças e diferenças em relação umas às outras
(FUNARI, 2010), permitindo observar as mudanças que ocorreram ao longo do tempo
na forma de fabricação, no tipo de matéria-prima utilizada nesse processo. Com a
análise da tipologia das embarcações que adentravam no estuário do Potengi durante o
século XVII, foi possível compreender os tipos de artefatos que eventualmente podem
ser encontrados em escavações arqueológicas nesse local.
O zoneamento Arqueológico”, enquanto terceiro conceito chave, trata da definição
espacial das áreas ou zonas de maior probabilidade de ocorrências dos vestígios
arqueológicos (JULIANI, 1994-1995). No Brasil, a lei 6.938 publicada em 31/08/81,
estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, a qual visa a conservação ambiental,
englobando os recursos culturais. Desta maneira, a Arqueologia passou a ser solicitada
no
processo
de
planejamento
ambiental
(CALDARELLI,1999).
Todos
os
empreendimentos que causam um impacto ambiental nas zonas definidas como áreas de
potencialidade arqueológica devem por obrigatoriedade, passar por um estudo
arqueológico. A elaboração de um zoneamento arqueológico viabiliza a aplicação da lei
6.938 publicada em 31/08/81 em curto prazo, sendo utilizado como um instrumento de
gestão do patrimônio arqueológico municipal (JULIANI, 1994-1995).
22
1.2 - UMA ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA DO ESTUÁRIO DO RIO POTENGI
DURANTE O SÉCULO XVII
Desde o primeiro século de colonização a presença francesa em terras
portuguesas na América foi fato corrente citados em relatos como o Tratado Descritivo
do Brasil de Gabriel Soares de Souza de 1587 e da mesma forma é representado na
cartografia do Jacques de Vaulx Claye de 1579. No século XVII uma série de
cartografias e iconografias portugueses e holandeses foram produzidas abordando a
importância do rio Grande (Potengi), mais precisamente o seu estuário, como um
ambiente favorável a navegação. Dentre tais foi destadado a cartografia do George
Marcgrave Praefectura de Paraíba, et Rio Grande, 1643 e os desenhos aquarelados de
João Teixeira Albernaz, o velho.
A primeira obra a historicizar e a abordar a importância do rio Potengi como um
ambiente de navegação foi a História do Brasil de 1627 do Frei Vicente de Salvador.
Em sua obra o autor se referiu a necessidade de se construir uma fortaleza no
Rio Grande. Os franceses que vinham comercializar com os potiguares também saiam
para roubar os navios que iam e vinham de Portugal. Afim de evitar maiores danos
causados pelos franceses foi ordenado a Manuel Mascarenhas Homem, capitão mor de
Pernambuco e a Feliciano Coelho de Carvalho, capitão mor da Paraíba a construção de
um forte na barra do rio Grande, a fim de expulsar os franceses.
Desta maneira foi organizada uma expedição conquistadora ao Rio Grande.
Mascarenhas Homem saiu de Olinda e seguiu por terra até o porto da Paraíba, onde sob
suas ordens saíram quatorze embarcações com destino a capitania do Rio Grande. Por
terra seguiram as tropas comandadas por Feliciano Coelho, que não conseguiram chegar
ao Rio Grande devido a uma epidemia de varíola.
Mascarenhas Homem chegou ao rio Grande no dia 25 de dezembro de 1597.
Sobre sua chegada Frei Vicente de Salvador coloca que:
[...] mandou Manuel Mascarenhas dois caravelões descobrir o
rio, o qual descoberto e seguro, entrou a armada à tarde guiada
pelos marinheiros dos caravelões que o tinham sondado. Ali
desembarcaram e se entrincheiraram de varas de mangues para
começarem a fazer o forte e se defenderem dos potiguares, que
não tardaram muitos dias que não viessem uma madrugada
23
infinitos, acompanhados de cinquenta franceses, que haviam
ficado das naus do porto dos Búzios, e outros que ali estavam
casados com potiguaras. (SALVADOR, 1975, p. 268).
Durante a primeira metade e início da segunda metade do século XX uma série
de obras de referência sobre a história do Rio Grande do Norte foram produzidas
referindo-se ao rio Potengi durante o século XVII como um espaço de navegação,
dentre elas a obra de Augusto Tavares de Lyra História do Rio Grande do Norte de
1921, a obra de Rocha Pombo História do Estado do Rio Grande do Norte de 1922 e a
História do Rio Grande do Norte de 1955 de Câmara Cascudo.
Augusto Tavares de Lyra foi sócio efetivo e um dos membros fundadores do
Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN). Em sua obra História
do Rio Grande do Norte de 1921 foi observado a prevalência de uma abordagem
política e a utilização quase que integral de documentos históricos.
Tavares de Lyra ao se referir ao rio Potengi em sua obra utilizou trechos do
Tratado Descritivo do Brasil de Gabriel Soares de Souza referentes a capitania do Rio
Grande, informando que pelo rio Grande entrava navios de todos os portes durante o
século XVI. Com relação a presença holandesa na capitania do Rio Grande durante o
século XVII através de registros escritos contidos na Revista do Instituto Arqueológico
de Pernambuco, n. 34, p.139, Tavares de Lyra informa que “O principal porto desta
capitania é o mesmo Rio Grande, e depois a barra de Cunhaú [...]” (LYRA, 2008,
p.109) evidenciando a importância do rio Potengi como um ambiente de navegação.
A obra de Rocha Pombo História do Estado do Rio Grande do Norte de 1922 foi
produzido por meio de uma encomenda feita pelo governador Ferreira Chaves, com o
objetivo de comemorar o centenário da Independência do Brasil que estava se
aproximando (SILVA, A.). Em sua obra prevalece, assim como no livro supracitada de
Tavares de Lyra, uma abordagem política, rica em narrativas dos fatos históricos e a
utilização de documentos históricos. Rocha Pombo também fez menção em seu livro as
obras de: Tavares de Lyra (O Rio Grande do Norte, 1911), Frei Vicente de Salvador
(História do Brasil), Nestor Lima (A matriz de Natal-1915), dentre outros. Rocha
Pombo assim como Tavares de Lyra escreveram em um período em que a identidade
regional estava em evidência, tal evidência pode ser notada no prefacio de seu livro.
Segundo Rocha Pombo (1922, p. 07) “mesmo nesse dia não se há de esquecer que a
24
própria vida de uma nação tem de fazer-se ou regular-se pelo concurso de cada unidade
regional das que formam essa nação”.
Sobre o rio Potengi durante o século XVII em meio ao episódio da conquista da
capitania do rio Grande pelos holandeses, Rocha Pombo informa que durante a
investida holandesa o capitão Lichthardt aprisionou duas embarcações portuguesas que
se encontravam ancoradas próximo ao forte “Quando forçara a barra na tarde de 8 de
Dezembro, tomara Lichthardt conta de duas caravelas que tinham sido abandonadas
pelos tripulantes” (POMBO, 1922, p. 102). Desta maneira, Rocha Pombo em sua obra
também ressalta a importância do rio Potengi como um ambiente favorável a
navegação.
Luís da Câmara Cascudo, historiador norte-rio-grandense, escreveu a obra
História do Rio Grande do Norte, que foi editada pela primeira vez em 1955 com o
apoio do Governo de Sylvio Pedroza, difere das obras de Tavares de Lyra e Rocha
Pombo por apresentar uma abordagem cultural, porém nas três obras supracitadas é
notável a rejeição do elemento estrangeiro, seja ele francês ou holandês, em detrimento
do elemento de origem portuguesa.
Sobre o rio Potengi Câmara Cascudo informa sobre a edificação da Fortaleza
dos Reis Magos, obra construída sobre o arrecife na barra do rio “A planta é do padre
Gaspar de Samperes que fora mestre nas traças de engenharia na Espanha e Flandres
antes de entrar para a Companhia de Jesus. É a forma clássica do Forte marítimo,
afetando o modelo do polígono estrelado[...]” (CASCUDO, 1955, p. 24)
Ainda segundo Cascudo, após a edificação da fortaleza o Rio Grande já contava
com uma estrutura construída para a sua defesa, porém faltava a capitania uma cidade e
para seu surgimento era indispensável a pacificação dos indígenas que insistiam com os
ataques mesmo após a expulsão dos franceses. Foi somente após a missão dos jesuítas
Gaspar de Samperes, Francisco Pinto e Francisco de Lemos que se conseguiu chegar a
uma perfeita harmonização entre indígenas e brancos. Após esse episódio foi fundada a
cidade a meia légua do forte, da qual conhecemos hoje por cidade de Natal. O
povoamento se deu de forma lenta tendo em 1614 apenas doze casas (CASCUDO,
1955). Tal fato ressalta a importância da fortaleza para o surgimento da povoação do
Natal que foi edificada as margens do rio Potengi.
25
Outras importantes obras de referência sobra a história do Rio Grande do Norte
foram produzidas no final da segunda metade do século XX pelo historiador Olavo de
Medeiros Filho dentre elas os livros Aconteceu na Capitania do Rio Grande de 1977,
Os Holandeses na Capitania do Rio Grande de 1998, No Rastro dos Flamengos de
1989 e Naufrágios no litoral potiguar de 1988 e pela historiadora Denise Mattos
Monteiro Introdução à História do Rio Grande do Norte de 2000.
Olavo de Medeiros Filho era sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do
Rio Grande do Norte e grande estudioso do período colonial sendo considerado
historiador autodidata. As obras de Olavo de Medeiros Filho embora de certo modo
sejam descritivas, assim como as obras de frei Vicente de Salvador, Tavares de Lyra,
Rocha Pombo e Câmara Cascudo, elas se diferem dessas demais por desenvolverem
uma perspectiva espacial, não apenas citando os espaços como também localizando-os
no contexto espacial atual.
No comentário presente na obra Aconteceu na capitania do Rio Grande de
Olavo de Medeiros Filho, o presidente do IHGRN Enélio Lima Petrovich destaca que:
“E graças ao senso revisionista de que é possuidor, Olavo de Medeiros Filho chega a
conclusões divergentes das estabelecidas pelos seus antecessores”. O livro Aconteceu na
Capitania do Rio Grande teve seu lançamento no ano de 1977 e foi reeditado no ano de
1997, ano em que se fazia quatrocentos anos da entrada da expedição de Mascarenhas
Homem na foz do rio Potengi e a obra Os Holandeses na Capitania do Rio Grande de
1998 foi publicada como o sexto volume da Coleção Cultural do Instituto Histórico
Geográfico do Rio Grande do Norte.
Na obra No rastro dos Flamengos o autor utiliza uma série de relatos
neerlandeses sobre expedições pelo interior da capitania do Rio Grande e Paraíba que
tinham por finalidade encontrar minas de ouro e prata. É através desses relatos que o
autor propôs em sua obra identificar geograficamente os locais percorridos pelos
flamengos durante o século XVII nessas expedições.
Na obra Naufrágios no litoral potiguar de 1988, Olavo de Medeiros Filho
utilizou uma série de documentos do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do
Norte referentes a naufrágios que ocorreram ao longo do litoral entre os anos de 1678 a
1823.
26
Sobre o rio Potengi Olavo de Medeiros Filho coloca que quando a capitania do
Rio Grande foi incorporado ao domínio holandês em 1633, uma expedição composta
por onze embarcações dirigiu-se à capitania com 808 soldados, iniciando-se o ataque
terrestre e a investida por mar. Em 08 de dezembro de 1633 parte das tropas holandeses
desembarcaram na praia de Ponta Negra (atual praia de Areia Preta) no número de 600
homens comandados pelo tem. cel. Balthazar Bymae e a outra parte das tropas
holandesas penetraram no rio Potengi, sob as ordens do comandante Jan Cornelissen
Lichthardt, a fim de atacarem o forte por mar (MEDEIROS FILHO, 2010). Não tardou
para começar os combates entre holandeses e portugueses que só teve seu desfecho com
a rendição portuguesa no dia 12 de dezembro de 1633 (MEDEIROS FILHO, 1997).
Em sua obra Naufrágios no litoral Potiguar, Olavo de Medeiros Filho através
de documentações de época relata o naufrágio do navio mercante holandês
“Hortermeer” em 1678 na barra do rio Potengi, com uma carga considerável de
mercadorias que foram levadas a leilão na praia da fortaleza (MEDEIROS FILHO,
1988).
Denise Mattos Moteiro é doutora em História pela USP e professora aposentada
pela UFRN, local onde lecionou várias disciplinas, entre elas História do Rio Grande do
Norte. Em sua obra Introdução à História do Rio Grande do Norte, Denise Matos se
refere a expedição de conquista e ocupação da capitania do Rio Grande em 1597
comandada por Feliciano Coelho e Mascarenhas Homem, fazendo menção ao rio
Potengi:
A expedição marítima, por seu lado, desembarcou finalmente na
foz do Rio Grande (atual Potengi) e principiou a construção de
um forte, inicialmente de madeira, em 6 de janeiro de 1598, sob
a cerrada reação dos Tupis-Potiguara da região. (MONTEIRO,
2000, p. 310)
A autora também faz menção a importância do rio Potengi como um espaço de
navegação durante o século XIX, colocando que o aumento da atividade comercial no
Rio Grande do Norte trousse como consequência um aumento do número de navios que
passou a frequentar o porto de Natal. Sobre isso:
Em 1853, foi estabelecida a primeira linha regular de navegação
costeira a vapor que ligava o Rio Grande a outras províncias
nordestinas. Tratava-se da Companhia Pernambucana, que
passou a incluir, inicialmente, Natal e Macau entre seus portos
27
de escala (1857), e mais tarde o porto de Areia Branca (1867).
Data desse período uma série de iniciativas que visava, em
última instância, estimular as relações da economia da província
com o mercado mundial: a criação da capitania do porto de
Natal (1859), os primeiros estudos para o melhoramento do
mesmo porto (1860) [...]. (MONTEIRO, 2000, p. 133).
Somente no ano de 1902 o Plano Diretor Portuário iniciou a primeira obra de dragagem
que aprofundou o canal de acesso, a fim de que embarcações de maior calado chegassem até o
porto de Natal.
28
1.3 - NAS ÁGUAS DO ANTIGO RIO GRANDE: A GEOGRAFIA DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO POTENGI
A bacia hidrográfica do rio Potengi está localizada no Estado do Rio Grande do
Norte na atual região brasileira do Nordeste (Figura 1). Segundo Rodrigo de Oliveira
Santos (2010) através de análises disponibilizadas pelo IDEMA (2010) esta bacia
apresenta uma área de aproximadamente 4.100Km.
Figura 1 Bacia hidrográfica do Potengi e sua localização. Fonte: IDEMA (2010). Imagem
retirada da Dissertação de: SANTOS, Rodrigo de oliveira. Avaliação da produção de
sedimentos na bacia Hidrográfica do Rio Potengi através do Modelo Swat. Dissertação
(Pós-Graduação em Engenharia Sanitária)- Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal, 2010. P. 33.
29
O rio Potengi nasce nas proximidades da Serra de Santana no município de
Cerro Corá correndo em direção a cidade de São Tomé até desaguar no Oceano
Atlântico. Segundo Eugênio Pires Frazão (2003) o volume de água na rede hidrográfica
do Potengi é mais intensa na região de baixo curso devido as ações das marés do
estuário e ao maior volume de chuvas nessa região, enquanto boa parte de sua rede
hidrográfica de médio e alto curso apresenta seca durante boa parte do ano. Segundo o
mapa da Hidrografia do Potengi disponibilizado no trabalho de Rodrigo de O. Santos
(2010) (Figura 2) percebemos que dentre seus principais afluentes estão o Jundiaí, o
Riacho do Salgado e o Riacho Pedra Branca.
Figura 2 Bacia hidrográfica do Potengi. Fonte: IDEMA (2010). Imagem retirada da Dissertação
de: SANTOS, Rodrigo de oliveira. Avaliação da produção de sedimentos na bacia
Hidrográfica do Rio Potengi através do Modelo Swat. Dissertação (Pós-Graduação em
Engenharia Sanitária)- Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010. p. 34.
30
Para Eugênio P. Frazão (2003) “Os estuários são ambientes sedimentares
costeiros cuja evolução depende da interação entre parâmetros hidráulicos, sedimentares
e aspectos morfológicos, e onde a atividade biológica é uma condicionante
fundamental”.
Segundo Pritchard (apud BAPTISTA NETO, 2004, p. 201) os “Estuários são
corpos d’água costeiros, semiconfinados, onde ocorre a mistura de água doce, vinda do
continente, com água salgada do oceano”. O estuário do rio Potengi tem uma extensão
de aproximadamente 27 km (Figura 3). Por estar localizado em uma região costeira na
cidade de Natal-RN se mostrou bastante favorável ao desenvolvimento de atividades e
ações humanas desde o século XVI até os dias atuais, sendo palco de intensas atividades
marítimas e portuárias, constituindo-se dentro da bacia hidrográfica do Potengi o
ambiente aquático de foco deste trabalho.
Figura 3 Estuário do Potengi. Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 06 fev.
2015.
Com relação ao contexto geológico do estuário do Potengi e áreas adjacentes
Eugênio Pires Frazão coloca que:
A área estudada situa-se no litoral oriental do Estado do Rio
Grande do Norte, inclusa na bacia litorânea denominada Bacia
Sedimentar Costeira Pernambuco-Paraíba-Rio Grande do Norte,
de idade cretácea. São encontradas ainda uma sequência tércio-
31
quartenária (Formação Barreiras) e sedimentos quartenários
recentes (dunas fixas ou móveis, aluviões, terraços fluviais e
mangues. (FRAZÃO, 2003).
Com relação a vegetação característica do estuário do Potengi percebe-se uma
predominância de dois tipos: a restinga, vegetação que se encontra sobre o solo arenoso
por isso tão comum em dunas e praias (Figura 4) e a vegetação de mangue (Figura 5).
Oswaldo Frota-Pessoa ao se referir a esta última coloca que:
Mangue- Esta subzona inclui a vegetação das áreas de contato
da água salgada do mar com a doce do rio, onde, em vista da
pouca velocidade destes, se depositam finos sedimentos que
vem em suspensão, dando origem a solos pantanosos, negros”.
(FROTA-PESSOA, 1970, p. 42-43)
Figura 4 Vegetação de restinga nas proximidades do Forte. Fotografia de Anne Noemi França
Miranda. Data: 24 maio de 2015. Coordenadas UTM: 25M0256783/9362340.
32
Figura 5 Vegetação de mangue nas proximidades do rio Potengi. Fotografia de Anne Noemi
França Miranda.
Ainda segundo Oswaldo Frota-Pessoa (1970) o nome mangue tanto pode ser
aplicado a formação vegetal como também as espécies que ali habitam. Em alguns casos
algumas espécies de mangues, como é o caso da Rhizophora mangle popularmente
conhecido como mangue vermelho, podem alcançar um porte arbóreo sendo sua
madeira utilizada em construção.
Segundo Adauto Gouveia Motta o clima de Natal é quente e árido nos períodos
de estiagem e quente e húmido nos períodos chuvosos. A temperatura média anual da
cidade de Natal é de 26,6°C. Com relação aos ventos o que se percebe é a
predominância dos ventos alísios em Natal, que sopram das zonas tropicais para as
zonas equatoriais (Figura 6). Ainda segundo o autor os ventos são mais fortes nos meses
de agosto e setembro e mais fracos no mês de abril. A maior incidência de chuvas no
Rio Grande do Norte é justamente na área onde Natal está localizada, com uma média
anual de 1380 milímetros. Os meses de maior incidência chuvosa vai do mês de abril a
julho, sendo o mês de junho o mais chuvoso.
33
Figura 6 Ventos Alísios. Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 09 fev. 2015.
Durante o século XX e a primeira década do século XXI uma série de obras
foram realizadas ao longo do estuário do Potengi, tanto obras fixas como a construção
de espigões1, do Dique da Limpa2 e da ponte Newton Navarro, como também obras que
causaram um maior impacto imediato a morfologia do rio como as obras de dragagens3
e de derrocagens4. No ano de 1902 visando melhorias de acesso ao porto de Natal que
1
Espigões ou esporões são estruturas que tem por objetivo direcionar o fluxo das correntes marítimas.
Obra responsável pela contenção das areias.
3
Procedimento de retirada do sedimento do leito do rio aumentando sua profundidade.
4
Processo de destruição ou remoção de rochas totalmente ou parcialmente submersas.
2
34
se localiza no interior do estuário do Potengi o Plano Diretor Portuário iniciou a
primeira obra de dragagem do canal de acesso5.
Segundo Sandra Maria de Souza Barbosa (1983) os portos que estão localizados
no interior dos estuários geralmente apresentam dificuldades de acesso devido ao
deposito de grande volume de sedimentos em seu leito, provocando assoreamento. Tais
sedimentos podem ser transportado tanto pelos ventos como também podem ser de
origem marítima, fluvial ou até mesmo do retorno dos matérias já dragados. Deste modo
entre os anos de 1902-2011 o estuário do Potengi já passou por uma série de
intervenções humanas que modificou de forma considerável sua morfologia.
5
Canal que faz a ligação entre o porto e o alto-mar.
35
CAPÍTULO 2 – SOB AS ÁGUAS DO POTENGI: APROPRIAÇÕES
HUMANAS
DO
SÉCULO
XVII,
TERMINOLOGIAS
DA
NAVEGAÇÃO E A TIPOLOGIA DAS EMBARCAÇÕES
2.1 NOMENCLATURAS HISTÓRICAS DO RIO POTENGI NOS SÉCULOS XVI
E XVII
O rio Potengi, que em tupi-guarani significa algo semelhante a “rio dos
camarões” foi registrado com diversas nomenclaturas por cronistas e cartógrafos dos
séculos XVI e XVII. No ano de 1579 o Potengi já era evidenciado na cartografia do
francês Jacques de Vaux de Claye com a denominação de Pottiou. No ano de 1587 o
português Gabriel Soares de Souza escreveu Tratado descritivo do Brasil de 1587, ao se
referir ao rio utiliza a nomenclatura de Rio Grande: “Deste Rio Pequeno ao outro Rio
Grande são três léguas; o qual está em altura de cinco graus e ¼” (SOUZA, 2000, p.
40).
No início do século XVII através do desenho aquarelado de João Teixeira
Albernaz, o velho, datado de 1616 (Figura 7) tanto aparece a nomenclatura de Barra do
Rio Grande próximo a desembocadura do rio como também aparece a nomenclatura de
Rio Puttigi ao longo de seu leito.
Na obra Descrição das Capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio
Grande de 1630, o holandês Adrien Verdonck utilizou a nomenclatura Rio Grande para
designar tal rio “[...] o rio chamado Rio Grande, um muito grande e belo lugar, por este
motivo e porque os franceses e ingleses ali aportavam frequentemente com seus navios
[...]” (VERDONCK apud MEDEIROS FILHO, 2010, p. 35).
Na cartografia do holandês George Marcgrave, em Praefectura de Paraiba, et
Rio Grande de 1643 (Figura 8) observa-se que o rio próximo a sua desembocadura é
nomeado como Potiji ou Rio Grande e ao longo de seu leito e apenas denominado de
Potiji.
36
Figura 7 Imagem com as nomenclaturas “Barra do Rio Grande” próximo a desembocadura do
rio e “Puttigi” ao longo de seu curso. Fonte: Imagem editada do Desenho aquarelado de João
Teixeira Albernaz, o velho de 1616. Imagem retirada do livro de: MIRANDA, João Maurício
Fernandes de. Evolução Urbana de Natal em 400 anos (1599-1999). Natal: Governo do Rio
Grande do Norte/Prefeitura de Natal, 1999. p. 41.
Figura 8 Imagem com as nomenclaturas “Potiji ou Rio Grande” na desembocadura do rio e
“Potiji” ao longo de seu leito. Fonte: Imagem editada da Cartografia de George Marcgrave
“Praefectura de Paraiba, et Rio Grande, 1643”.
Referência:
Disponível em:
<http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/02460006)>. Acesso em: 21 jan. 2015).
37
Nas cartografias históricas e iconografias apresentadas é frequente a utilização
da terminologia Rio Grande, porém também nota-se a utilização de terminologias como
Pottiou, Puttigi, ou Potiji para o mesmo rio. Segundo Olavo de Medeiros Filho (2010,
p. 35) nos dois primeiros séculos de colonização eram empregadas diversas outras
designações para o referido rio, dentre eles: “Poitiiou, Potengi, Pottegie, Potigi, Potii,
Potiou, Potingi, Potoxi, Potuxi, Pottigi...”. Apesar de suas diversas nomenclaturas, o que
tanto os relatos como a cartografias de George Marcgrave deixam evidentes é a
utilização de tal rio como um curso de água navegável por franceses, ingleses,
portugueses e holandeses ao longo dos dois primeiros séculos de colonização da
capitania.
38
2.2 TERMINOLOGIAS UTILIZADAS PARA OS ESPAÇOS DE NAVEGAÇÃO
Algumas terminologias utilizadas na navegação do século XVII são bastante
frequentes em documentos escritos, cartografias e iconografias da época, como é o caso
da palavra porto e ancoradouro. Outras terminologias aparecem com menor frequência,
porém são tão importantes quanto para a compreensão da navegação no período.
A primeira nomenclatura apresentada é porto. Segundo Martín Fernández de
Navarrete (1831) em seu Diccionario Marítimo Español os portos são sítios ou lugares
abrigados que possuem fundeadouros ou surgidouros para ancorar navios
resguardando-os das ondas e correntes marítimas. Os portos podem ser tanto naturais
quanto artificiais, nesse último caso, os portos são construídos ou formados por obras
hidráulicas de todas as espécies.
A palavra porto era utilizada em duas situações: a primeira para indicar
ambiente abrigado da influência das ondas e correntes marítimas; e a segunda para
indicar local de ancoragem.
A segunda terminologia apresentada é a de ancoradouros que segundo o mesmo
autor são sítios ou lugares a propósito para jogar as ancoras e amarrar os navios.
Poderiam ser chamados também de fundeadouro, surgidouros ou até mesmo de portos.
Os ancoradouros poderiam estar localizados em um porto (ambiente abrigado) como
também poderiam estar localizados em ambientes não abrigados das ondas e correntes
marítimas.
Analisando anotações realizadas em iconografias históricas observa-se outras
terminologias também utilizadas na navegação. Na gravura Relação das praças-fortes,
povoações e causa de importância que sua majestade tem na costa do Brasil, de Diogo
de Campos Moreno, de 1609, aparecem terminologias como água morta e baixo.
Na gravura o ponto D representa à “Barra com 31 palmos d’água morta” (Figura
9). Segundo Navarrete (1831) água morta ou água serena é a água sem correnteza, sem
movimento ou água parada.
39
Figura 9 Imagem ilustrando a barra do rio Potengi. Fonte: Imagem editada da Gravura
Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que sua majestade tem na
costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609.
Na gravura o ponto F representa o “Baixo coberto” (Figura 10). A palavra baixo
é uma terminologia genérica para todo ponto do mar que seja de pedra ou areia e que
não há água o bastante para possibilitar a passagem de embarcações sobre ele, sendo os
baixos uma das causas de encalhamentos e naufrágios de embarcações (NAVARRETE,
1831).
Figura 10 Imagem ilustrando baixo coberto no rio Potengi. Fonte: Imagem editada da
Gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que sua majestade
tem na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609.
40
No manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1631 também
aparece algumas nomenclaturas como baixa-mar, preamar e águas-vivas. No
manuscrito o ponto C representa os “Recifes descobertos em baixa-mar e preamar”
(Figura 11). Para Martín F. de Navarrete (1831) a palavra baixa-mar se refere ao estado
do mar em seu maior recuo, chamado atualmente de maré baixa. Já a preamar se refere
ao estado do mar em seu maior avanço, chamado também de maré alta.
Figura 11 Imagem dos recifes descobertos em baixa-mar e preamar. Fonte: Imagem editada
Manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1631. Imagem retirada do CD
Nova Lusitânia História da Guerra Brasílica.
41
Ainda no mesmo manuscrito o ponto D representa uma “Pedra que se descobre
em baixa-mar de águas-vivas” (Figura 12). A palavra água-viva representa água que
está sempre em movimento, que está com toda sua força (NAVARRES, 1831).
Figura 12 Imagem da pedra que se descobre em baixa-mar de águas-vivas. Fonte: Imagem
editada do Manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho, de 1631. Imagem retirada
do CD Nova Lusitânia História da Guerra Brasílica.
42
2.3 - O ESTUÁRIO DO RIO POTENGI NO SÉCULO XVII E AS
APROPRIAÇÕES HUMANAS
Durante o século XVII o rio Potengi foi representado em cartografias históricas
portuguesas e holandesas, como as já mencionadas Praefectura de Paraiba, et Rio
Grande, 1643 de George Marcgrave e o manuscrito aquarelado de João Teixeira
Albernaz, o velho, de 1631. A cartografia holandesa, nesse período, tentava representar
de forma precisa os contornos físicos dos espaços, principalmente costas e rios
(BLACK, 2005), porém, assim como a documentação escrita as cartografias não se
ausentam de imprecisões.
Relatos também foram produzidos durante essa época informando sobre a
geografia do rio Potengi. Segundo Olavo de Medeiros Filho (2010), o comandante da
frota holandesa Bouwen Heysen informa em seu relato que o Potengi encontrava-se a 5
graus e 42 minutos sul, uma indicação muito próxima da que temos hoje que é de 5
graus e 46 minutos sul.
Dados sobre o clima nas proximidades do Potengi também foram colhidos entre
os anos de 1640 a 1642. Através do livro “História Natural do Brasil” de Jorge
Marcgrave, Olavo de Medeiros Filho (2010) informa que os meses de menor
precipitação pluviométrica nesse período eram os meses de outubro, novembro e
dezembro e os de maior precipitação eram entre os meses de março a agosto, tal como
ainda ocorre na atualidade. Os ventos que predominavam eram os ventos leste e boreal,
o estudo das correntes aéreas se mostravam bastante importantes para a navegação
marítima da época. É provável que a observação das variações climatológicas tenham
sido feitas no Castelo Keulen6 (Fortaleza dos Reis Magos), localizado na barra do rio
Potengi.
Na estampa holandesa Afbeeldinghe van T’fort op Rio Grande ende
Belegeringhe (Planta do Forte Grande e Arredores) se observa a representação do
estuário do rio Potengi no século XVII (Figura 13). Na margem direita do rio estão
representados a lagoa do Jacó ou da campina, que estava ligada ao rio Potengi pelo
riacho dos Corvos ou Urubus e o Castelo Keulen (Fortaleza dos Reis Magos),
construído sobre o arrecife na barra do rio. Na margem esquerda estão representados o
riacho Salgado (Sout Rivier) ou riacho Jaguaribe como é conhecido atualmente, casas de
6
Castelo Keulen foi a nomeação dada pelos holandeses a Fortaleza dos Reis Magos.
43
pescadores (Visschers Huysen) e um rio que é descrito como sendo navegável, que
segundo Olavo de Medeiros Filho (2010) poderia se tratar do rio da Redinha que
desaguava no rio Potengi até mais ou menos o ano de 1890.
Tanto na margem direita quanto esquerda do rio Potengi estão representados os
bancos de areia e observa-se na desembocadura do riacho dos Corvos ou Urubus e na
entrada da barra do rio a presença de pedras que apresentavam riscos para a navegação.
O rio Potengi, durante o século XVII, foi utilizado tanto como um espaço de
passagem quanto uma via de navegação para fins comerciais e de conquista, assim
como também um espaço de permanência onde embarcações ficavam ancoradas por
horas ou até mesmo dias. As apropriações humanas que ocorreram nesse ambiente
aquático durante o século XVII devem ser compreendidas em um espaço que tanto
poderia apresentar condições naturais favoráveis à navegação, portanto não sendo
necessárias intervenções humanas no ambiente, como poderia também apresentar
condições apenas parciais para a navegação, sendo nesse caso necessário intervenções
humanas no ambiente aquático.
O rio Potengi, por tratar-se de um ambiente utilizado pelo homem durante o
século XVII, abrigou uma cultura material de navegação do período que pode ser
perceptível tanto em sítios de naufrágios (vestígios de embarcações) como também em
outros objetos não necessariamente ligados à navegação, mas que estiveram
relacionados ao cotidiano do homem daquela época, e que por algum motivo foram
descartados nesse ambiente aquático.
44
Figura 13 Representação do estuário do rio Potengi no século XVII. Fonte: Imagem editada da
estampa “Afbeeldinghe van T’fort op Rio Grande ende Belegeringhe” (Planta do Forte Grande e
Arredores).
45
2.3.1 O PORTO DO POTENGI
Os portos são exemplos de apropriações humanas em ambientes aquáticos. Na
capitania do Rio Grande durante o século XVII se tinha conhecimento de diversos
portos, dentre eles o porto do Rio Grande ou Potengi que é descrito como sendo o
principal da capitania.
O principal porto desta capitania é o mesmo Rio Grande, e
depois a barra de Cunhaú. Tem ainda alguns recifes e pequenas
baías, que servem para os navios e embarcações de pouco porte,
como a baía Formosa, ponta da Pipa, ponta dos Búzios, ponta
Negra, a baía Marten Tysson, ao norte do rio Grande [...]
(Revista do Instituto Arqueológico de Pernambuco, n. 34, p.
139 apud LYRA, 2008, p. 109).
Na cartografia de George Marcgrave intitulada Praefectura de Paraiba, et Rio
Grade de 1643 (Figura 14) estão representados alguns desses locais que serviram como
portos ou ancoradouros para embarcações. A localização da “Barra de Cunhaú”, que é
evidenciada na citação acima, só foi possível através da identificação na cartografia do
rio “Curematài” que desagua nessa mesma barra.
Através da documentação histórica, das cartografias e iconografias que
atualmente encontram-se disponíveis não é possível afirmar que ocorreram obras
hidráulicas no estuário do Potengi durante o século XVII que tivessem por objetivo o
melhoramento do porto. Através da análise da documentação o que podemos observar é
que o estuário do rio Potengi já possuía as características naturais de um porto tanto pela
existência em sua barra dos arrecifes, que diminuíam a influência das ondas e correntes
marítimas, como também pelas curvas do rio Potengi ao longo de seu leito, que serviam
como abrigos para as embarcações.
46
Figura 14 Representação cartográfica de alguns locais que serviram como portos e ancoradouros
para embarcações na capitania do Rio Grande. Fonte: Imagem editada da cartografia de George
Marcgrave intitulada Praefectura de Paraiba, et Rio Grade de 1643.
47
2.3.2 SURGIDOUROS NO RIO POTENGI E ARREDORES
Os ancoradouros também chamados de surgidoros ou fundeadoros é outro tipo
de apropriação humana utilizada durante o século XVII no estuário do rio Potengi. Para
se obter uma melhor compreensão deste trabalho ao se referir à apropriação humana
denominada de porto compreende-se o espaço abrigado da influência das ondas e
correntes marítimas e ancoradouro, fundeadouro ou surgidouro como o local onde é
jogado a âncora para amarrar os navios que podem sofrer influências mais significativas
das ondas e correntes marítimas por não estarem necessariamente em um ambiente
abrigado.
Através da análise da historiografia sobre o Rio Grande do Norte, de
manuscritos, de gravuras e estampas, foi possível identificar algumas zonas de
apropriação de ancoragens no rio Potengi e em seu entorno.
No manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho, de 1631 há
evidências da possível existência de um surgidouro de navios, com profundidade de 350
pés nas proximidades do forte (Figura 16).
Também na gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de
importância que sua majestade tem na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de
1609, estão representadas nas proximidades do forte ancoras com a nomenclatura
“porto”, indicando os locais onde eram fundeadas as embarcações (Figura 15).
Figura 15 Imagem representando pontos de ancoragens nas proximidades da fortaleza. Fonte:
Imagem editada da Gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que
sua majestade tem na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609.
48
Embora tal representação da existência de três ancoradouros nas proximidades
do forte se mostre mais detalhada com relação aos possíveis locais utilizados para
amarrar embarcações, estas correspondem perfeitamente com a localização descrita no
manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho, de 1631 que indica não
somente a existência do surgidouro como também traz informações de sua
profundidade.
No episódio da tomada da capitania do Rio Grande pelos holandeses no dia 8 de
dezembro de 1633 também há relatos do grupo que seguiu por mar, em navios sob o
comando de Jan Cornelissen Lichthart conduzidos por Van Ceulen, as quais forçaram a
entrada na barra do rio Potengi e encontraram junto ao forte duas embarcações
fundeadas que foram abandonadas pelos seus tripulantes portugueses, sendo essas
embarcações capturadas e incorporadas a esquadra flamenga (MEDEIROS FILHO,
2010), fato que também reforça a possível existência de ancoradouros nas imediações
do forte durante o século XVII.
Desta forma a primeira zona de apropriação de ancoragens (ZAA-01)
identificada estava localizada nas proximidades do forte.
Figura 16 Imagem do surgidouro de navios com profundidade de 350 pés nas proximidades do
forte. Zona de Apropriação de Ancoragens (ZAA-01). Fonte: Imagem editada do Manuscrito
aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1631. Imagem retirada do CD Nova Lusitânia
História da Guerra Brasílica.
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Através da estampa Verovinge Van Rio Grande in Brasil, anno 1633 de Isaak
Commelyn, que representa o episódio da conquista da capitania do Rio Grande pelos
holandeses, foi possível perceber que o grosso da esquadra holandesa ancorou em uma
das curvas do rio Potengi próximo a antiga lagoa do Jacó (Figura 17). Desta maneira, a
segunda zona de apropriação de ancoragens (ZAA-02) identificada estava localizada nas
imediações do antigo riacho dos Corvos ou Urubus que segundo Medeiros Filho (2010)
corresponde ao nosso atual Canto do Mangue.
Figura 17 Imagem da esquadra holandesa ancorada em uma das curvas do rio Potengi. Zona de
Apropriação de Ancoragens (ZAA-02) Fonte: Imagem editada da estampa Verovinge Van Rio
Grande in Brasil, anno 1633 de Isaak Commelyn.
Ainda no estuário do Potengi, foi identificado uma terceira zona de apropriação
de ancoragens (ZAA-03) que segundo o manuscrito aquarelado de João Teixeira
Albernaz, o velho de 1631 indica a existência de um “surgidouro de navios que vêm
acima” que estava localizado nas proximidades da povoação do Natal (Figura 18).
50
Figura 18 Imagem do surgidouro de navios que vêm acima. Zona de Apropriação de
Ancoragens (ZAA-03). Fonte: Imagem editada do Manuscrito aquarelado de João Teixeira
Albernaz, o velho de 1631. Imagem retirada do CD Nova Lusitânia História da Guerra
Brasílica.
Quando da conquista holandesa da capitania do Rio Grande no ano de 1633
parte das tropas invasoras seguiu por terra e a outra parte seguiu por mar com a
finalidade de penetrar o rio Potengi em embarcações. As tropas que seguiram por terra
desembarcaram em uma angra ao norte da Ponta Negra que segundo Medeiros Filho,
(2010) compreende o trecho sul da atual praia de Areia Preta.
Ainda sobre a marcha holandesa por terra, na fonte holandesa Diário da
Expedição, de autor anônimo, fica evidenciado a existência de uma zona de ancoragens
na angra já citada:
Continuando a marcha na ordem prescrita, na distância de dois
tiros de mosquete da praia, e sendo informados de que a mesma,
além de muito estreita, na preamar ficava alagada, dirigimo-nos
para o interior por um passo, que também estava entrincheirado.
Chegados ao planalto, divisamos ao largo uma vela aproando
para os nossos navios ancorados na angra, e logo presumimos
fosse o Pegassus com a companhia de Mansvelt; mas não
esperávamos por ela e prosseguimos a marcha. (ANÔNIMO
apud LYRA, 2008, p. 80)
51
Desta maneira foi identificado uma quarta zona de apropriação de ancoragens
(ZAA-04) na angra ao norte da Ponta Negra (atual praia de Areia Preta), localizado fora
do estuário do rio Potengi, porém nas proximidades de sua desembocadura. A existência
de tais ancoradouros também são evidenciados na estampa holandesa Verovinge Van
Rio Grande in Brasil, anno 1633 de Commelyn da qual se observa navios holandeses
fundeados no oceano próximos ao rio Potengi (Figura 19). Sendo a zona de apropriação
de ancoragens (ZAA-04) a única não abrigada no porto do rio Potengi.
Figura 19 Imagem das embarcações holandesas ancoradas fora do estuário do rio Potengi. Zona
de Apropriação de Ancoragens (ZAA-04). Fonte: Imagem editada da estampa Verovinge Van
Rio Grande in Brasil, anno 1633 de Commelyn.
52
2.3.4 O PORTO DE PESCARIA DO POTENGI, PORTINHO DE DIRCK
MULLER E O FORTE DOS REIS MAGOS
Foram também identificadas a partir das fontes escritas, cartografias e
iconografias, outras apropriações referentes ao século XVII, dentre elas há evidências
da existência de um porto de pescaria no rio Potengi que tinha por finalidade abastecer a
Fortaleza dos Reis Magos com pescados para o consumo da guarnição portuguesa.
Segundo Medeiros Filho (2010, p. 35) “Tal peixe achava-se armazenado sob a forma de
peixe seco, em algumas casinhas de pescadores”. Através da estampa holandesa
Afbeeldinghe van T’fort op Rio Grande ende Belegeringhe (Planta do Forte Grande e
Arredores) observa-se a representação das casinhas dos pescadores próximas ao riacho
Salgado (Figura 20).
Ainda segundo Medeiros Filho (2010) quando os holandeses conquistaram a
capitania do Rio Grande o general Van Ceulen soube da existência do estoque de
peixes, mandou apreendê-lo e ordenou o seu transporte para a embarcação holandesa
Overyssel. Os peixes apreendidos pertenciam ao capitão-mor que tinha por objetivo
vende-los às duas embarcações portuguesas que estavam fundeadas no rio Potengi, a
cada cinco peixes pescados quatro eram para o capitão-mor e apenas um era para o
pescador, porém a abundância do pescado era tão grande nesse rio que os pescadores se
sujeitavam a imposição (CARVALHO apud MEDEIROS FILHO, 2010).
Figura 20 Representação das casinhas dos pescadores próximas ao riacho Salgado. Fonte:
Imagem editada da Afbeeldinghe van T’fort op Rio Grande ende Belegeringhe (Planta do Forte
Grande e Arredores).
53
Na Descrição do Rio Grande de Domingos da Veiga (apud LYRA, 2008, p. 58)
foi possível perceber essa abundância de peixes no rio Potengi “É este rio o mais fértil
de peixes que há na Bahia, digo no Brasil, e nele se faz muito grandes pescarias. E as
mesmas pelas costas no verão de que vai muito peixe salgado a Paraíva e a
Pernambuco”.
A existência de um porto de pescaria no rio Potengi também é
evidenciado segundo (MEDEIROS FILHO, 2010) no Translado do auto da repartição
de terras capitania do Rio Grande que informa da existência de um porto de pescaria
defronte para a fortaleza.
Na gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que
sua majestade tem na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609 aparece a
nomenclatura Rede possivelmente indicando o local de prática da pescaria durante o
século XVII no rio Potengi. Para Medeiros Filho (2010) o local do porto de pescaria
corresponde a nossa atual praia da Redinha (Figura 21).
Desta forma a zona de apropriação do porto de pescaria (ZAPP-01) no estuário
do rio Potengi compreende a atual praia da Redinha defronte ao forte, englobando
também a zona de apropriação de ancoragens (ZAA-01), já que esses ancoradouros
possivelmente foram utilizados para fins de pesca.
Figura 21 A nomenclatura “Rede” na gravura indica possivelmente o local de prática da
pescaria no rio Potengi. Zona de Apropriação do Porto de Pescaria (ZAPP-01) Fonte: Imagem
editada da Gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que sua
majestade tem na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609.
54
Olavo de Medeiros Filho ao referir-se ao episódio da morte do alemão Jacob
Rabbi no ano de 1646 por meio das crônicas holandesas, evidencia a existência de um
portinho pertencente a Dirck Muller ou Rodrigo Moleiro em um dos riachos que
constituem o atual estuário do rio Potengi. Segundo o autor, a casa de Muller ficava a
três léguas do forte por via fluvial a margem direita do riacho Guajaí, local onde estava
localizado o portinho. O riacho Guajaí, nossa zona de apropriação (ZAPM-01) foi
representado na cartografia holandesa de George Marcgrave Praefectura de Paraiba, et
Rio Grade de 1643 (Figura 22). Segundo Medeiros Filho (1989) o antigo “portinho” de
Dirck Muller corresponde ao atual porto da casqueira no riacho do Rego Moleiro.
Figura 22 Representação do riacho Guajaí. Zona de Apropriação do Portinho de Muller
(ZAPM-01). Fonte: Imagem editada da cartografia de George Marcgrave intitulada Praefectura
de Paraiba, et Rio Grade de 1643.
55
A única apropriação humana no estuário do Potengi durante o século XVII que
se tem claras evidências que resultou na alteração do ambiente natural pelo homem
ocorreu nos arrecifes na barra do rio Potengi, que serviu como base solida de
sustentação para a edificação da Fortaleza dos Reis Magos.
Durante o século XVI os danos causados pelos franceses pelo roubo de
embarcações e pela relação amistosa que possuíam com os potiguares fez com que
retardasse a colonização sistemática portuguesa, sendo necessário expulsar os franceses
e construir um forte na capitania do Rio Grande. Segundo o Frei Vicente de Salvador:
Informado Sua majestade das cousas da Paraíba, e que todo o
dano lhe vinha do Rio Grande, onde os franceses iam comerciar
com os potiguares, e dali saíam também a roubar os navios, que
iam e vinham de Portugal, tomando-lhes não só as fazendas,
mas as pessoas, e vendendo-as aos gentios, para que as
comessem, querendo atalhar a tão grandes males, escreveu a
Manuel Mascarenhas Homem, capitão-mor em Pernambuco,
encomendando-lhe muito que logo fosse lá fazer uma fortaleza
e povoação, o que tudo fizesse com o conselho e ajuda de
Feliciano coelho[...] (SALVADOR,1975, p.267)
A escolha da barra do rio Potengi para a edificação da fortaleza se deveu pela
sua posição estratégica, o que garantiu uma construção de características clássicas de
forte marítimo. Da Fortaleza podia ver as matas no seu entorno, o oceano e o rio
Potengi, o que possibilitava um maior controle do fluxo de embarcações que entravam e
saiam da barra do rio e garantia uma visão estratégica no caso de tentativas de invasões
estrangeiras a capitania. Diogo de Campos na Razão do Estado do Brasil ao se referir a
posição do forte deixa claro que:
A fortaleza dos Reis está em cinco graus da Equinocial; ao sul
tem o assento e sítio que se vê na sua planta fol. 124, e por
natureza olha ambas as costas deste Estado, assim a do norte a
sul, como a de leste e oeste, até o Maranhã, donde se acaba
nossa conquista; pelo qual respeito foi este porto o mais
desmandado, e mais defendido dos corsários que outro do
Brasil; porquanto vinham aqui do resgate da Mina a sarar das
enfermidades de Guiné, e consertando suas naus, e fornecendo
de mantimentos, água e lenha, que lhes davam os índios nesta
parte, aportavam depois onde lhes parecia, o que hoje não
podem fazer com tanto cômodo por razão desta fortaleza, a qual
também importa para favorecer nossos navios [...] (CAMPOS
apud LYRA, 2008, p. 51)
56
Os arrecifes sobre os quais foi edificada a fortaleza dos Reis Magos são
representados em diversas cartografias e descrito em alguns relatos do século XVII.
Dentre esses relatos pode ser citada a Descrição do Rio Grande de Domingos da Veiga
(apud LYRA, 2008, p. 57) que evidencia que: “A fortaleza do rio Grande é a maior e
mais bem traçada que há no estado do Brasil, está situada na terra firme sobre arrecifes
da banda do sul do rio, mas de modo que de maré cheia fica por todas as partes rodeada
de mar e de águas vivas; se não pode ir a ela se não depois que abaixa a maré”.
Na gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que
sua majestade tem na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609 através das
anotações feitas no próprio desenho tem-se conhecimento que o ponto marcado com a
letra A representa o “Verdadeiro retrato da fortaleza na rocha e no recife em pequeno”.
(Figura 23) e no manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1631 o
ponto C indica “Recifes descobertos em baixa-mar e preamar” (Figura 11).
Figura 23 Representação da fortaleza na rocha e no recife em pequeno. Fonte: Imagem editada
da Gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que sua majestade tem
na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609.
Na estampa holandesa Afbeeldinghe van T’fort op Rio Grande ende
Belegeringhe (Planta do Forte Grande e Arredores) observa-se a representação tanto dos
arrecifes como do Castelo Keulen. (Figura 24). O mesmo pode ser observado na obra
57
Fort Ceulen (1637) do pintor holandês Frans Post, da qual nota-se o forte ao fundo e os
arrecifes à esquerda da imagem (Figura 25).
Figura 24 Representação do arrecife na desembocadura do rio Potengi. Fonte: Imagem editada
da estampa Afbeeldinghe van T’fort op Rio Grande ende Belegeringhe (Planta do Forte Grande
e Arredores).
Figura 25 Representação dos arrecife na desembocadura do rio Potengi e do Castelo Keulen.
Fonte: Imagem editada do Fort Ceulen (1637) do pintor holandês Frans Post. Imagem retirada
do CD Nova Lusitânia História da Guerra Brasílica.
58
Através de relatos produzidos durante o século XVII pelos holandeses tem-se
indícios da existência de um poço na parte interna da fortaleza que foi perfurado no
arrecife com o intuito de se obter água limpa.
Diogo de Campos na obra Razão do Estado do Brasil de 1612 nega a existência
de qualquer estrutura no forte que tivesse tal objetivo, muito pelo contrário, ele relata a
dificuldade que se tinha de abastecer a fortaleza com tal líquido (CAMPOS apud
LYRA, 2008, p. 54) “Toda esta fortaleza do Rio Grande está por acabar [...] não tem
poço nem cisterna, nem fonte, antes com muito trabalho, todos os dias, se provêm de
muito longe, em vasilhas de água ou de cacimbas da praia”. Ao se referir aos motivos
que levaram o forte a se render mediante a invasão holandesa (CASCUDO, 1955 p. 73)
coloca que um dos motivos foi a ausência de uma cisterna capaz de abastecer a
guarnição “O Forte não tinha água, faltava-lhe cisterna, já notada anos antes nas
descrições oficiais. Acima de tudo houve um fator determinante. Existiam dunas que
ficavam a cavaleira do forte.”
Ao se referir ao relatório de H. Hamel, Adriaen van Bullestrate e P. Jansens Bas
de 1646 que trata da fortaleza José Antonio Gonsalves de Mello (apud MEDEIROS
FILHO, 1997, p. 26-27) deixa claro que:
E que no interior da praça do mesmo há uma certa capelinha; na
qual recentemente foi achado um poço na mencionada rocha ou
arrecife, tendo em cima a largura de um pé e meio e em baixo
com um contorno de três pés, o qual poço sempre produz e
fornece água limpa, boa e potável, em todas as marés, a saber:
com maré baixa cerca de 225 Kannen (1 kan= cerca de um litro)
e com maré alta 350 Kannen, mais do dobro do que seria
necessário para manter a guarnição em caso de assédio; supõese que a razão de um arrecife, que se estende pelo mar, produzir
água doce, é que embaixo do arrecife deve haver areia
conchíferas porosas, que purgam a água do mar da salinidade e
assim a destilam, por algumas rachas ou fendas, para dentro do
poço.
Através dos relatos supõe-se que a perfuração do poço na rocha ou no arrecife se
deu após o ano de 1612, depois da produção da obra Razão do Estado do Brasil de
Diogo de Campos.
O poço faz parte de uma estrutura maior construída que é a
fortaleza, desta forma a área correspondente ao arrecife sobre a qual foi edificada a
referida construção é a nossa zona de apropriação (ZAF-01) (Figura 26).
59
Figura 26 Representação da área correspondente aos arrecifes sobre os quais foi construída a
fortaleza. Zona de Apropriação do Forte (ZAF-01). Fonte: Imagem editada do Manuscrito
aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1631. Imagem retirada do CD Nova Lusitânia
História da Guerra Brasílica.
60
2.4 TIPOLOGIA DAS EMBARCAÇÕES
Através da tipologia das embarcações compreende-se melhor os tipos de
embarcações que eram utilizadas para navegar no rio Potengi durante o século XVII e a
cultura material que estava relacionada a navegação no período.
No século XVI Gabriel Soares de Souza no Tratado descritivo do Brasil de 1587
deixa claro que o rio Grande ou Potengi poderia acomodar embarcações de todos os
portes: “Neste Rio Grande podem entrar muitos navios de todo o porte, porque tem a
barra funda de dezoito até seis braças, e entra-se nele como pelo arrecife de
Pernambuco, por ser da mesma feição.” (SOUZA, 2000, p. 40).
No século XVII Domingos da Veiga em sua Descrição do Rio Grande também
deixa claro que: “Não pode entrar pela barra mais que um navio como em o recife de
Pernambuco, porém de qualquer parte que seja poderá entrar por ser esta barra muito
mais funda” (VEIGA apud LYRA, 2008, p. 57) confirmando que a barra do rio Potengi
durante os séculos XVI e XVII possuía uma profundidade considerável a ponto de
entrar no estuário embarcações de grande porte, como bem é representado em
cartografias e iconografias do século XVII.
No manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho,j de 1631 estão
representadas embarcações ao longo do rio Potengi que pelas suas tipologias tratavamse de naus portuguesas comumente utilizadas durante os século XVI e XVII,
apresentando gurupés, castelo de popa e de proa, velas redondas no mastro do traquete e
no mastro grande e vela latina no mastro da mezena (Figura 27). Segundo Francisco C.
Domingues (p. 50) sobre as naus portuguesas:
As naus de Quinhentos típicas tinham três ou quatro cobertas,
castelos de popa e proa cuja arquitetura estava perfeitamente
integrada na estrutura do casco, e três mastros com pano
redondo nos de vante (traquete e grande), e latino no de ré
(mezena). Os construtores navais ainda no século XVII
disputavam sobre a vantagem das naus de três cobertas sobre as
de quatro, e vice-versa, o que entre outros factores tinha a ver
com a tonelagem.
61
Figura 27 Imagem de uma nau portuguesa. Fonte: Imagem editada do Manuscrito aquarelado de
João Teixeira Albernaz, o velho de 1631. Imagem retirada do CD Nova Lusitânia História da
Guerra Brasílica.
As caravelas, termo genérico utilizado para uma grande variedade de tipologias
de embarcações, também eram bastante comuns durante o século XVII. Segundo
Francisco C. Domingues (p. 23) “A palavra caravela encontra-se de 1255 a 1766 em
documentos portugueses, e mais não seria preciso para se subentender a grande
variedade de tipos arquitetônicos e funcionais agrupados sob este termo genérico”.
Dentro desse termo genérico estão as embarcações portuguesas conhecidas como
caravela latina (Figura 28), utilizada durante o século XV nas viagens de exploração do
Atlântico. Este tipo de embarcação de dois a três mastros, nos quais envergava pano
latino e possuía castelo de popa, chegavam a ter entre 20 e 30 metros de comprimento
tendo capacidade de carga entre 80 a 130 toneladas (RIBEIRO, 2013), e a caravela
redonda ou de armada (Figura 29) que surgiu no final do século XV, possuía quatro
mastros sendo que no traquete envergava o pano redondo e nos demais o pano latino.
Possuía castelo de popa e de proa, tinha uma capacidade de carga entre 180 e 240
toneladas e podia embarcar cerca de vinte peças de artilharia.
62
Figura 28 Imagem de uma caravela latina portuguesa. Fonte: Disponível em:
<http://www.causamerita.com/descob_embarc_1.htm>. Acesso em: 28 mar. 2015.
Figura 29 Imagem de uma caravela redonda portuguesa. Disponível
<http://www.causamerita.com/descob_embarc_1.htm>. Acesso em: 28 mar. 2015.
em:
63
Na estampa holandesa Verovinge Van Rio Grande in Brasil, anno 1633 de
Commelyn que representa o episódio da conquista da capitania do Rio Grande pelos
holandeses foi possível perceber várias tipologias de embarcações dentro e fora do
estuário do rio Potengi. Próximo ao forte estão representadas duas embarcações que
pelos relatos tratavam-se de “caravelas” portuguesas abandonadas pela tripulação
mediante a investida holandesa. Segundo Tavares de Lyra (2008) as duas embarcações
apreendidas pelo almirante holandês Lichthardt possivelmente pertenciam a expedição
de Francisco Vasconcelos da Cunha. Analisando a estampa o que podemos concluir é
que as embarcações descritas como “caravelas” na estampa são representadas com
características de naus portuguesas (Figura 30) possuindo gurupés, castelo de popa e de
proa, velas redondas no mastro do traquete e no mastro grande e vela latina no mastro
da mezena. Segundo Tavares de Lyra (2008, p. 88-89) uma das embarcações
portuguesas que foram abandonadas no rio Potengi possuía canhões:
A 14, faziam descarregar as caravelas que Lichthardt apreendera ao
chegar, continuavam o inventário começado na véspera, transferiam o
seu acampamento para Natal, ponto que julgaram preferível para
melhor vigiar a terra, e deixavam no forte apenas uma companhia para
guarnece-lo [...] A 17, retiraram duas peças de bronze, ainda existentes
em uma das caravelas, e os mastros de ambas, levantavam a planta da
entrada da barra e do rio [...]
Figura 30 Naus portuguesas no estuário do Potengi apreendidas por holandeses. Fonte: Imagem
editada da estampa Verovinge Van Rio Grande in Brasil, anno 1633 de Isaak Commelyn.
64
Na estampa holandesa Verovinge Van Rio Grande in Brasil também estão
representadas embarcações da esquadra holandesa. Segundo Rocha Pombo (1922, p. 92)
“Compunha-se de 11 embarcações a esquadrilha, sendo 4 navios grandes e 7 patachos”.
Através da imagem podemos identificar entre as maiores embarcações galeões
holandeses fundeados tanto fora do rio Potengi (Figura 19) quanto dento do estuário,
próximos ao antigo riacho dos Corvos ou Urubus (Figura 17), porém pela estampa não
fica evidente a existência de embarcações do tipo patacho.
Os galeões são embarcações que apresentam gurupés, castelo de popa e de proa,
popa em formato quadrado, quatro mastros e uma quantidade considerável de canhões a
bordo (Figura 31). Segundo William C. Cesar:
Das pequenas e manobreiras caravelas portuguesas e naus
ibéricas, evolui-se para carracas e os galeões de meados do
século XVI. Este último, que no século XVII chegou a montar
mais de três mastros, tornou-se um navio legendário de
extraordinário armamento e manobra ligeira que poderia servir
simultaneamente como mortífero navio de guerra e eficaz navio
mercante. (CESAR, p. 25)
Figura 31 Galeões holandeses fundeados fora do rio Potengi. Fonte: Imagem editada da estampa
Verovinge Van Rio Grande in Brasil, anno 1633 de Commelyn.
65
De acordo com D. João de Castro (apud DOMINGUES, p. 57) os galeões
portugueses se diferenciavam das naus por possuírem quatro mastros sendo no mastro
grande e no traquete erguidos panos redondos e no mastro de mezena e contra-mezena
panos latinos (Figura 32); já a nau era dotada de três mastros com pano redondo no
mastro grande e no mastro do traquete e pano latino no mastro da mezena. Embora
exista essa diferenciação entre naus e galeões, em alguns casos uma mesma embarcação
era citada na documentação portuguesa ora como sendo “nau”, ora como sendo
“galeão”. Ainda segundo Francisco C. Domingues (p. 69) “[...] mesmo em documentos
técnicos é frequente que uma mesma embarcação seja designada por nau e por galeão,
garantindo-nos que a distinção não era completamente clara para os homens do tempo”.
Figura 32 Imagem de uma nau e um galeão português. Fonte: Tábuas dos Roteiros da Índia de
D. João de Castro. Imagem retirada do livro de: DOMINGUES, Francisco Contente. Navios
Portugueses dos séculos XV e XVI. Porto: Câmara Municipal da Vila do Conde e Museu de
Vila do Conde. p.56.
A dificuldade de distinguir os tipos de embarcações durante o século XVI e
XVII não era um problema referente apenas às tipologias de naus e galeões, mas
abrangia diversas outras tipologias. Sobre isso Fernando Oliveira (apud DOMINGUES,
p.69) coloca que “Os nomes das em espécies, ou maneiras dos navios e barcos, assim de
66
um género como do outro, são quase incompreensíveis, assim por serem muitos, como
pela muita mudança que fazem de tempo, e de terra em terra.
Para Marques Esparteiro (apud RIBEIRO, 2013, p.158) o galeão era “muitíssimo
superior à nau como navio de guerra, de vela, em poder ofensivo, manobra, velocidade e
em bolina” sendo o galeão uma embarcação mais especializada em combate do que em
cargas, embora fosse inegável que servia para a guerra sem nunca ter deixado de ser
empregado no transporte de mercadorias.
Os galeões por serem embarcações especializadas em combate levavam canhões
em suas cobertas. Segundo William C. Cesar (p. 25-26) foi a partir do século XIV que
os canhões começaram a ser levados para os navios, inicialmente os canhões de
pequeno porte que eram utilizados para matar homens (canhões men killers), mas que
eram incapazes de causar grandes danos à estrutura das embarcações inimigas. Com o
surgimento das portinholas, pequenas aberturas ao longo do costado, foi possível
colocar canhões nos conveses inferiores de maior calibre capazes de destruir
embarcações (canhões ship killers). Os canhões passaram a ser colocados em berços
sobre rodas o que facilitava o seu reposicionamento e seu transporte (Figura 33).
Figura 33 Imagem representando da portinhola, e o canhão alojado no berço sobre rodas. Fonte:
Acervo DPHDM. Imagem retirada do artigo de: CESAR, William Carmo. Velas e canhões no
expansionismo holandês do século XVII. Revista Navigator, n. 10, p. 23-37.
67
Segundo Tavares de Lyra (2008) a esquadra holandesa enviada para conquistar
a capitania do Rio Grande em 1633 era composta por onze embarcações sendo elas:
Overyssel (navio com 26 canhões), Teer Weer. De Vlaermuis, Campen (navio com 22
canhões), Pernambuco, Naerden, Pegasus, De Leenwerick, De Spieringh, De Vos e
Ceulen. As embarcações Naerden, Pegasus e De Vos ficaram fora do estuário enquanto
que as demais embarcações forçaram a barra subindo o rio Potengi. No Diário de
Expedição de autor anônimo, é relatado o confronto entre o navio Overyssel e as tropas
do forte:
À tarde transportou-se o sr. von Ceulen para bordo do
Overyssel, fazendo o inimigo alguns tiros, indo cair uma das
balas junto à proa do Overyssel, o que Joachim Gysen não quis
deixar passar sem resposta, e fez quatro ou cinco disparos
contra o forte, com pontaria certeira, que varou algumas das
casas. Retorquindo, os contrários lançaram uma palanqueta na
câmara do Overyssel, fazendo voar estilhaços e uma tina de
água sobre o sr. von Ceulen e os outros capitães que com ele
estavam jantando, sem contudo molestar ou ferir ninguém; mas,
acertasse o tiro um pouco mais acima, e teria levado do sr. von
Ceulen ambas as pernas. (ANÔNIMO apud LYRA, 2008, p.
81).
Na estampa holandesa Verovinge Van Rio Grande in Brasil também estão
representadas três batéis holandeses movidos a remo guiando as embarcações
portuguesas abandonadas próximo ao forte (Figura 34). Os batéis eram embarcações
menores que eram transportados em embarcações de grande porte. As embarcações
auxiliares ou de menor porte eram utilizadas para sondar as condições de abrigo para as
naus, no desembarque de contingentes, exploração costeira e no auxílio de navios
maiores, afim de evitar encalhamentos em rios (DOMINGUES).
Outro tipo de pequena embarcação também utilizada é a canoa, segundo Martín
F. de Navarrete (1831) as canoas são pequenas embarcações construídas de um único
tronco de árvore muito comuns na América. Esse tipo de canoa construída de apenas um
tronco é de origem indígena e atualmente conhecida como canoas monóxilas.
Utilizada no Potengi durante o século XVII a canoa foi representada na obra
Fort Ceulen de1637 do pintor holandês Frans Post, da qual é observada no lado direita
da imagem (Figura 35). Olavo de Medeiros Filho ao se referir ao portinho de Dirck
Muller deixa evidente a importância da canoa como um instrumento de navegação:
68
Subiram em canoas o Rio Grande até o “portinho” de Dirck Mulder,
cerca de três léguas acima do Forte, onde desembarcaram. Dalí
seguiram por terra até as ruínas da casa incendiada do bailio Houck,
uma légua adiante, onde, pelo meio-dia, descansaram à margem do
riacho Paboena. (CARVALHO apud MEDEIROS FILHO, 1989, p.88)
Figura 34 Imagem de batéis adentrando o rio Potengi guiando as duas embarcações portuguesas.
Fonte: Imagem editada da estampa Verovinge Van Rio Grande in Brasil, anno 1633 de
Commelyn.
Figura 35 Imagem de uma canoa próximo ao Castelo Keulen. Fonte: Imagem editada do Fort
Ceulen (1637) do pintor holandês Frans Post. Imagem retirada do CD Nova Lusitânia História
da Guerra Brasílica.
69
CAPÍTULO 3 – PASSADO E PRESENTE DO ESTUÁRIO DO RIO
POTENGI: PERTURBAÇÕES DO CONTEXTO ARQUEOLÓGICO
NOS SÉCULOS XX E XXI E ZONEAMENTO ARQUEOLÓGICO
SUBAQUÁTICO
3.1 – O CONTEXTO ARQUEOLÓGICO DO ESTUÁRIO DO POTENGI:
TRANSFORMAÇÕES E PERTURBAÇÕES
O trabalho do arqueólogo é dividido em três fases, sendo elas: a fase prévia ao
campo, a fase de campo e a posterior ao campo, ou em laboratório.
Antes dos
arqueólogos iniciarem a escavação de qualquer sítio histórico, independente do
ambiente em que estejam localizados, devem ter em mente a delimitação do espaço a
ser estudado, bem como devem fazer um levantamento de informações sobre o contexto
histórico e ambiental desse espaço, a fim de delimitarem as áreas de maior potencial
arqueológico, sendo essa a chamada fase prévia ao campo.
A fase de campo consiste primeiramente na prospecção inicial do espaço
estudado, posteriormente, de acordo com os objetivos propostos pela pesquisa
escolhem-se o local ou sítio a ser escavado, resultando na coleta de vestígios materiais;
por fim temos a fase posterior ao campo, que consiste na análise laboratorial dos
vestígios matérias coletados em campo e a divulgação dos resultados das pesquisas por
meio de publicações.
Além de ser delimitado o espaço estudado e de ser feito um levantamento de
informações sobre o contexto histórico e ambienta, nesse trabalho, também foi levado
em conta as alterações sofridas na paisagem do estuário do rio Potengi ao longo do
tempo. Segundo Charles Orser Jr.(2000) um dos problemas de se escavar sítios
históricos é que muitas das técnicas de construções utilizadas por povos históricos
resultam na destruição de vestígios de ocupações anteriores, causando perturbações no
contexto arqueológico. Ainda para o mesmo autor o contexto arqueológico se refere a
localização exata do artefato em termos horizontais e verticais de um sítio.
Como já foi mencionado anteriormente no primeiro capítulo, entre os anos de
1902-2011 o estuário do Potengi passou por uma série de intervenções humanas que
70
modificou de forma considerável sua morfologia, causando assoreamento e erosão ao
longo da sua margem causadas principalmente pelas obras fixas como o Dique da
Limpa e os espigões e intervenções mais diretas como as obras de dragagem e
derrocagem. Todas essas obras visam melhorar o acesso ao Porto de Natal, dando mais
acessibilidades as embarcações que pelo rio Potengi navegam. Porém essas obras
resultaram na destruição de vestígios matérias e na perturbação do contexto
arqueológico.
3.1.1– OBRAS NO ESTUÁRIO DO RIO POTENGI (1902-2011)
Os portos que estão localizados no interior dos estuários sofrem com o problema
do assoreamento, causado pelo depósito de sedimentos de origem fluvial, marítima,
contribuição eólica, retorno do material dragado, entre outros. Para solucionar o
problema, visando a acessibilidade aos portos são realizadas intervenções humanas
como obras de dragagens, derrocagens, espigões, entre outros (BARBOSA,1983).
No caso do estuário do rio Potengi o assoreamento do seu canal de acesso ocorre
principalmente pela contribuição do Banco das Velhas, contribuição do transporte
litorâneo, pela insuficiência da velocidade das correntes em expulsar o material
depositado, pela retenção dos sedimentos pelos arrecifes existentes na Barra e pelo
retorno do material dragado. Sobre o retorno do material dragado Sandra Maria de S.
Barbosa (1983, p.171) coloca que:
Houve retorno do material dragado para o canal de acesso,
principalmente em 1967, quando praticamente todo material
retornou, necessitando o canal de ser dragado novamente em
1968. Essas informações foram obtidas entre os moradores
locais e não estão documentadas.
Dentre as intervenções humanas realizadas para conter o assoreamento são as
obras de dragagens e derrocagens as que maior causam impactos imediatos a morfologia
do estuário. A dragagem é um processo de retirada do sedimento do leito do rio
aumentando sua profundidade. Através da Tabela de Relação das Obras Executadas no
Estuário do Potengi e da Tabela de Evolução das Obras no Estuário de 1902 a 1982
apresentadas no trabalho de Sandra Maria de S. Barbosa e dados colhidos no site da
CODERN foi elaborada a (Tabela 1) com a relação das obras de dragagem, que se tem
registro, realizadas entre os anos de 1902-2011.
71
ANO
INTERVENÇÕES
1902
Dragagem no canal de acesso.
1922
Dragagem na bacia de evolução.
1955
Dragagem no canal de acesso da Barra.
1966
Dragagem no canal de acesso, na projeção do Banco das Velhas.
1967
Dragagem do canal de acesso e bacia de evolução.
1968
Dragagem do canal de acesso e Base Naval.
1972
Dragagem do canal de acesso, na projeção do Banco das velhas.
1997
Dragagem do canal de acesso e da bacia de evolução.
2011
Conclusão da dragagem no canal de acesso.
Desta forma foi concluído, pelos registros disponíveis, que a área que
possivelmente sofreu maior impacto pelas obras de dragagem no estuário do rio Potengi
foi o canal de acesso atual (AI.Drag-01), sendo consequentemente a área de maior
perturbação do contexto arqueológico (Figura 36).
Figura 36 Representação da área dragada do canal de acesso ao Porto de Natal (AI.Drag-01).
Fonte: Imagem editada da Carta Náutica 802 de 2008.
72
Dentre as obras de derrocagem que ocorreram no estuário do rio Potengi entre os
anos de 1903- 2011 foram realizadas a derrocagem na Ponta do Picão, a derrocagem
parcial da Ilha da Baixinha e da Pedra da Limpa, melhorando o acesso das embarcações
na entrada da Barra (BARBOSA, 1983) e modificando parte do canal de acesso, sendo
essa área (AI.Der-01) a que sofreu maior impacto com as obras de derrocagem (Figura
37).
Figura 37 Área que sofreu maior impacto com as obras de derrocagem no estuário do rio
Potengi (AI. Der-01). Fonte: Imagem retirada da Tese de: BARBOSA, Sandra Maria de Souza.
Análise Histórica e Morfológica do Estuário do Rio Potengi e litoral adjacente da Região
de Natal – Rio Grande do Norte. Tese (Pós Graduação de Engenharia da Universidade Federal
do Rio de Janeiro). Rio de Janeiro, 1983, p. 50.
73
De acordo com a Tabela de Relação das Obras Executadas no Estuário do
Potengi, a Tabela de Evolução das Obras no Estuário de 1902 a 1982 e o site da
CODERN segue abaixo a (Tabela 2) com as obras de derrocagem no estuário do rio
Potengi entre os anos de 1903-2011.
ANO
INTERVENÇÕES
1903
Derrocagem da Baixinha.
1923
Derrocagem parcial da Baixinha.
1956
Derrocagem da extremidade da Ponta do Picão.
1956
Derrocagem da Pedra da Limpa.
1971
Derrocagem de um trecho da Pedra da Baixinha.
1982
Derrocagem na entrada da Barra (Canal de Acesso).
2011
Derrocagem na Barra.
As intervenções chamadas de obras fixas também causam impactos na
morfologia dos rios. No estuário do rio Potengi foram construídas obras fixas (Figura
38) como espigões, que tem por objetivo direcionar o fluxo das correntes marítimas e os
diques, obras responsáveis pela contenção das areias, tal como o Dique da Limpa
(Figura 39), que tem por objetivo conter e eliminar parcialmente o Banco das Velhas
(Figura 40) e a ponte Newton Navarro que tem seus pilares projetados para dentro do
estuário do rio Potengi (Figura 41).
Figura 39 Imagem do Dique da Limpa. Fotografia de: Miranda, 2015. Coordenadas em UTM:
25M0256722/9363320.
74
Figura 38 Localização das Obras Fixas realizadas até a década de 1980. Fonte: Imagem retirada
da Tese de: BARBOSA, Sandra Maria de Souza. Análise Histórica e Morfológica do Estuário
do Rio Potengi e litoral adjacente da Região de Natal – Rio Grande do Norte. Tese (Pós
Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Rio de Janeiro, 1983, p.
42.
75
Figura 40 Banco das Velhas no estuário do rio Potengi. Fonte: Imagem editada da Carta Náutica
802 de 2008.
Figura 41 Ponte Newton Navarro no estuário do rio Potengi. Fotografia de: Miranda, 2015.
76
De acordo com a Tabela de Relação das Obras Executadas no Estuário do
Potengi e da Tabela de Evolução das Obras no Estuário de 1902 a 1982 segue abaixo a
(Tabela 3) com algumas das obras fixas que ocorreram no estuário do rio Potengi entre
os anos de 1927 a 1960.
ANO
INTERVENÇÕES
1927
Dique da Limpa em construção.
1929
Dique da Limpa construído e espigões nº 1 ao 9 construídos.
1947
Construído o espigão defletor E-1A.
1949
Construído os espigões E-2ª, E-3ª e E-4ª.
1956
Prolongamento do espigão E-9, chamado de Guia Corrente da Redinha.
1960
Alteamento e reforço do Dique da Limpa.
Observa-se que com a construção do Dique da Limpa durante a década de 1920
houve um recuo da Barra do rio Potengi de aproximadamente 200 m (SPENCER,
1999), essa faixa de terra que durante o século XVII se encontrava submersa atualmente
encontra-se assoreada (Figura 42). Na margem esquerda do estuário do rio Potengi onde
foram construídos espigões se observou que a área passou a ser bastante erodida,
chegando a destruir casas e ruas (BARBOSA, 1983).
Figura 42 Assoreamento causado pela construção do Dique da Limpa. Fonte: Relatório Final
Projeto Arqueológico Ponte de Natal: Reconhecimento e Resgate. Natal: 1999, p. 13).
77
O espigão E-9 que ficou conhecido como Guia Corrente da Redinha ou Dique da
Redinha passou por alguns prolongamentos ao longo dos anos. Atualmente sua extensão
chega até a Baixinha (Figura 43). Desta forma foi observado que embora essas obras
fixas tenham conseguido diminuir o volume do Banco das Velhas o canal de acesso
ainda passa por constantes obras de dragagem, tanto para conter possíveis
assoreamentos quanto para aumentar cada vez mais a profundidade do leito do rio,
passando o porto a receber embarcações de maior calado.
Figura 43 Guia Corrente da Redinha. Fotografia de: Miranda, 2015. Coordenadas em UTM:
25M0256440/9363814.
78
3.2
–
CARTA
DAS
ZONAS
DE
POTENCIAL
ARQUEOLÓGICO
SUBAQUÁTICO DO ESTUÁRIO DO RIO POTENGI
Como já foi mencionado anteriormente no primeiro capítulo, o zoneamento
arqueológico trata da definição espacial das áreas ou zonas de maior probabilidade de
ocorrências dos vestígios arqueológicos (JULIANI, 1994-1995). Neste trabalho foram
delimitadas no contexto espacial atual as zonas de potencial arqueológico subaquático
(ZPA) ligadas a navegação do século XVII com base na utilização de documentos,
cartografias e iconografias históricas.
A primeira zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-01) compreende a
área nas proximidades do Forte utilizada para fundear embarcações no século XVII.
Essa zona atualmente está localizada nas proximidades do Banco das Velhas e do Dique
da Limpa, sendo uma área que já passou por uma série de intervenções humanas durante
o século XX, o que resultou em mudanças consideráveis na morfologia do estuário do
rio Potengi nessa área (Figura 44). O ponto (P.03) foi marcado em uma região emersa
pois após a construção do Dique da Limpa essa região sofreu assoreamento, porém
acredita-se que durante o século XVII essa área estava submergida, já o ponto (P.01)
sofre inundações parciais de acordo com as marés (Figura 45).
Figura 44 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-01 (ZPA-01). Fotografia de: Miranda,
2015.
79
Figura 45 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-01 (ZPA-01). Fonte: imagem editada
do Google Earth. Acesso em: 23 maio. 2015.
Segue abaixo a (Tabela 4) com as coordenadas dos pontos da poligonal da
(ZPA-01):
Zona de Potencial Arqueológico Subaquático (ZPA-01)
Pontos
Coordenadas DMS
P.01
5º45’20.73”S/35º11’40.73”O
P.02
5º45’10.37”S/35º11’47.00”O
P.03
5º45’26.42”S/35º11’54.79”O
P.04
5º45’17.34”S/35º12’0.61”O
A segunda zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-02) compreende a
área nas proximidades do Porto de Natal e do antigo Riacho dos Corvos ou Urubus, que
segundo Olavo de Medeiros Filho (2010) compreende nosso atual Canto do Mangue
(Figura 46), sendo uma área utilizada para fundear embarcações durante o século XVII.
A área que compreende nossa (ZPA-02) é uma área que sofreu bastante dragagens
durante o século XX e início do XXI, principalmente por estar localizada no canal de
acesso do porto (Figura 47).
80
Figura 46 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-02 (ZPA-02) nas proximidades do
Canto do Mangue. Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 25 maio. 2015.
Coordenadas UTM: 25M0255928/9361926.
Figura 47 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-02 (ZPA-02). Fonte: imagem editada
do Google Earth. Acesso em: 23 maio. 2015.
81
Segue abaixo a (Tabela 5) com as coordenadas dos pontos da poligonal da
(ZPA-02):
Zona de Potencial Arqueológico Subaquático (ZPA-02)
PPontos
Coordenadas DMS
P.01
5º46’1.05”S/35º12’14.95”O
P.02
5º45’59.81”S/35º12’23.00”O
P.03
5º46’28.95”S/35º12’23.38”O
P.04
5º46’26.82”S/35º12’31.22”O
De acordo com o manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de
1631 o surgidouro de embarcações, nossa terceira zona de potencial arqueológico
subaquático (ZPA-03), é representada nas proximidades da povoação do Natal. Desta
maneira, a (ZPA-03) está localizada atualmente nas imediações da Cidade Alta nas
proximidades da Pedra do Rosário (Figura 48). Com relação a intervenções humanas o
que se percebeu é que a área passou por obras de dragagens (Figura 49).
Figura 48 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-03 (ZPA-03) nas proximidades da
Pedra do Rosário. Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 25 maio. 2015.
Coordenada UTM: 25M0255322/9360372.
82
Figura 49 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-03 (ZPA-03). Fonte: imagem
editada do Google Earth. Acesso em: 23 maio. 2015.
Segue abaixo a (Tabela 6) com as coordenadas dos pontos da poligonal da
(ZPA-03):
Zona de Potencial Arqueológico Subaquático (ZPA-03)
Pontos
Coordenadas DMS
P.01
5º46’53.19”S/35º12’32.44”O
P.02
5º46’50.37”S/35º12”36.76”O
P.03
5º47’6.81”S/35º12’45.23”O
P.04
5º47’3.03”S/35º12’49.13”O
A quarta zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-04) compreende o
atual trecho sul da praia de Areia Preta (Figura 50), antiga angra ao norte da Ponta
Negra (MEDEIROS FILHO, 2010), sendo uma área utilizada para fundear embarcações
durante o século XVII. A (ZPA-04) não está localizada no estuário do rio Potengi,
porém se encontra nas proximidades de sua desembocadura, sendo a única zona de
potencial arqueológico (ZPA) não localizada no porto do Potengi. Com relação a
intervenções humanas nessa área, neste trabalho não foi possível afirmar se ocorreram
obras de dragagem ou derrocagem nessa região, porém no entorno da (ZPA-04) foram
construídos espigões (Figura 51).
83
Figura 50 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-04 (ZPA-04). Fotografia de: Miranda,
2015. Coordenada UTM 25M0257913/9359402.
Figura 51 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-04 (ZPA-04). Fonte: imagem editada
do Google Earth. Acesso em: 23 maio. 2015.
84
Segue abaixo a (Tabela 7) com as coordenadas dos pontos da poligonal da
(ZPA-04):
Z Zona de Potencial Arqueológico Subaquático (ZPA-04)
Pontos
Coordenadas DMS
P.01
5º47’29.43”S/35º10’56.91”O
P.02
5º47”25.15”S/35º10’49.29”O
P.03
5º47’15.86”S/35º11’4.52”O
P.04
5º47’13.29”S/35º10’55.67”O
A quinta zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-05) compreende a
área da atual praia da Redinha (Figura 52) de fronte ao forte (MEDEIROS FILHO,
2010), sendo uma área utilizada durante o século XVII como porto de pesca. A (ZPA05) incorpora a (ZPA-01) isso porque possivelmente os ancoradouros também eram
utilizados para fins de pesca. A (ZPA-05) engloba boa parte do Banco das Velhas, parte
do canal de acesso, o Dique da Limpa, espigões e o Guia Corrente da Redinha, sendo
uma zona impactada pelas obras de dragagem, pelo assoreamento de uma faixa de terra
na margem direita do Potengi causado pelo Dique da Limpa, pela erosão na margem
esquerda do rio Potengi devido a construção dos espigões e pela construção da ponte
Newton Navarro (Figura 53).
85
Figura 52 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-05 (ZPA-05). Fotografia de: Miranda,
2015.
Figura 53 Zona de Potencial Arqueológico-05 (ZPA-05). Fonte: imagem editada do Google
Earth. Acesso em: 23 maio. 2015.
86
Segue abaixo a (Tabela 8) com as coordenadas dos pontos da poligonal da
(ZPA-05):
Zona de Potencial Arqueológico Subaquático (ZPA-05)
Pontos
Coordenadas DMS
P.01
5º45’18.89”S/35º11’43.63”O
P.02
5º44’55.13”S/35º11’59.42”O
P.03
5º45’34.13”S/35º12’9.02”O
P.04
5º45’24.02”S/35º12’20.20”O
A sexta zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-06) compreende o
atual riacho do Rego Moleiro (Figura 54), local que durante o século XVII era
conhecido como riacho Guajaí, onde possivelmente estava localizado o Portinho de
Dirck Muller (MEDEIROS FILHO, 1989). Com relação a intervenções humanas nessa
área, neste trabalho não foi possível afirmar se ocorreram obras que tenham resultado na
mudança da morfologia do riacho, que está localizado no estuário do rio Potengi (Figura
55).
Figura 54 Riacho do Rego Moleiro. Fonte: Imagem retirada do livro de MEDEIROS FILHO,
Olavo de. No rastro dos flamengos. Natal: Fundação José Augusto, 1989, p. 69.
87
Figura 55 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-06 (ZPA-06). Fonte: imagem editada
do Google Earth. Acesso em: 23 maio. 2015.
Segue abaixo a (Tabela 9) com as coordenadas dos pontos da poligonal da
(ZPA-06):
Zona de Potencial Arqueológico Subaquático (ZPA-06)
Pontos
Coordenadas DMS
P.01
5º47’23.54”S/35º16’8.76”O
P.02
5º47’11.72”S/35º16’2.61”O
P.03
5º47’13.82”S/35º16’23.29”O
P.04
5º47’1.65”S/35º16’20.40”O
A sétima zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-07) compreende os
arrecifes que estão localizados na Barra do rio Potengi. Essa zona foi a única área
estudada neste trabalho que apresentou alterações do ambiente natural pela ação
humana desde o século XVII, tendo em vista que a Fortaleza dos Reis Magos foi
edificada sobre os arrecifes (Figuras 56 e 57) e também há evidências da existência de
um poço, dentro dessa mesma fortaleza, que possivelmente foi perfurado no arrecife
durante o século XVII. Outras intervenções humanas também foram realizadas nessa
88
área durante o século XX e início do XXI como obras de derrocagem na ponta do Picão
na entrada da Barra do rio Potengi (Figura 58).
Figura 56 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-07 (ZPA-07). Fotografia de: Miranda,
2015. Coordenadas UTM: 25M0256966/9363386.
Figura 57 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-07 (ZPA-07). Fotografia de:
Miranda,2015. Coordenadas UTM: 25M0256737/9363950.
89
Figura 58 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-07 (ZPA-07). Fonte: imagem editada
do Google Earth. Acesso em: 23 maio. 2015.
Segue abaixo a (Tabela 10) com as coordenadas dos pontos da poligonal da
(ZPA-07):
Zona de Potencial Arqueológico Subaquático (ZPA-07)
Pontos
Coordenadas DMS
P.01
5º45’26.45”S/35º11’42.38”O
P.02
5º45’2.17”S/35º11’42.82”O
P.03
5º45’25.58”S/35º11’38.19”O
P.04
5º45’3.31”S/35º11’37.97”O
Abaixo segue a Carta de Zoneamento Arqueológico Subaquático das áreas
(ZPA-01, ZPA-02, ZPA-03, ZPA-04, ZPA-05 E ZPA-07) de acordo com Carta Náutica
90
802 de 2008 (Figura 59). A (ZPA-06) não foi representada no zoneamento devido a
carta náutica não incluir o riacho do Rego Moleiro em sua representação, porém ela será
devidamente localizada na (Figura 60).
Figura 60 ZPA-06 localizado no Riacho do Rego Moleiro. Fonte: Imagem retirada do livro de
MEDEIROS FILHO, Olavo de. No rastro dos flamengos. Natal: Fundação José Augusto,1989,
p. 68.
91
Figura 59 Carta de Zoneamento Arqueológico Subaquático do século XVII. Fonte: Imagem
editada da Carta Náutica 802 de 2008.
92
3.3 – VESTÍGIOS MATERIAIS LIGADOS A NAVEGAÇÃO DO SÉCULO XVII
Com relação aos vestígios materiais ligados a navegação durante o século XVII
Olavo de Medeiros Filho (1988) relata através da documentação de época o naufrágio
do navio mercante holandês “Hortermeer” na Barra do rio Potengi. Segundo o autor a
embarcação estava carregada com mercadorias como carne de porco, azeite, manteiga,
aguardente entre outros, que foram levadas a leilão na praia do Forte.
Segundo Vicente Lemos (1912, apud MEDEIROS FILHO, 1988, p. 23) ao se
referir ao naufrágio do “Hortermeer”:
Naufragara a esse tempo, nos baixos da barra de Natal, um
navio holandês que viajava da Europa com carregamento de
fazendas. Vários ferros de armação e quilha desse navio, como
de outros que tiveram igual sorte em prejuízo da barra, têm sido
encontrados na dragagem, a que procede a Comissão de
Melhoramento do Porto.
Embora Vicente Lemos informe o achado da possível embarcação holandesa
naufragada durante o século XVII não se sabe o que ocorreram aos vestígios matérias
retirados durante a dragagem do porto no início do século XX.
Recentemente também foram encontradas na Lagoa de Extremoz, próximo ao
estuário do rio Potengi canoas monóxilas possivelmente do período colonial é précolonial, que segundo Hamilton Marcelo M. Lins Jr. (2015) a canoa mais antiga chegou
a datação em C14 de (700±30 BP). Abaixo segue a imagem de duas canoas monóxilas
encontradas na lagoa de em Extremoz-RN, tendo a canoa maior 5,40 metros e a menor
3,97 metros (Figura 61).
Figura 61 Canoas monóxilas no jardim da Fundação de Cultura Aldeia Guajiru. Foto de: José
Aldenir. Fonte: Disponível em: < http://jornaldehoje.com.br/canoas-encontradas-na-lagoa-deextremoz-serao-investigadas-por-iphan/>. Acesso em: 25 maio de 2015.
93
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho resultou na construção de uma carta das zonas de potencial
arqueológico subaquático ligadas a navegação no estuário do rio Potengi durante o
século XVII, viabilizando a lei 6.938 publicada em 31/08/81 de conservação ambiental,
da qual engloba os recursos culturais, sendo a carta de zoneamento um importante
instrumento de gestão do patrimônio arqueológico.
Através de uma abordagem interdisciplinar entre a História e a Arqueologia
utilizou-se fontes tais como cartografias, iconografias e documentos históricos, e
levantamos referências de achados fortuitos ou coletas não sistemáticas de vestígios
matérias ligados a navegação do século XVII no estuário do rio Potengi e suas
proximidades.
Por meio da análise de algumas terminologias utilizadas nos espaços de
navegação foi possível uma melhor compreensão das fontes utilizadas neste trabalho
referentes ao século XVII, bem como a identificação das zonas de apropriação (ZA). A
palavra “porto”, nesse período, poderia ser utilizada tanto para indicar um espaço
abrigado da influência dos ventos e correntes marítimas como também poderia indicar
espaços de ancoragem, assim como os espaços de ancoragens poderiam ser nomeados
de ancoradouros, fundeadouros, portos ou surgidouros.
Através da análise da tipologia das embarcações foi possível compreender que
mesmo durante o século XVII havia uma certa imprecisão referente aos tipos de
embarcações utilizadas, sendo registrado em documentos oficiais um mesmo navio ora
como Nau ora como Galeão, isso se deve em grande medida as diversas técnicas
utilizadas para a fabricação de embarcações que conferiam características peculiares a
cada uma delas, sendo dificilmente acompanhadas pelos homens da época, que
utilizavam termos genéricos para agrupar os mais diversas tipos de embarcações.
Para a produção da carta de zoneamento arqueológico subaquático foram
sistematizadas as informações sobre o contexto histórico e ambienta do rio Potengi, bem
como a descrição e análise das alterações sofridas na paisagem desse ambiente aquático
ao longo do tempo.
Foi possível identificar seis zonas de apropriações no estuário do rio Potengi
referentes ao século XVII (ZAA-01, ZAA-02, ZAA-03, ZAPP-01, ZAPM-01 E ZAF-
94
01) através da análise de cartografias, iconografias e documentos históricos sendo
identificado também uma sétima zona de apropriação (ZAA-04) nas proximidades da
desembocadura do rio Potengi.
Foram delimitadas as áreas de potencial arqueológico subaquático através da
identificação das zonas de apropriação, da análise das áreas impactadas pelas obras de
dragagem, derrocagem e obras fixas realizadas entre os anos de 1902-2011 e o
levantamento geográfico e ambiental do estuário do rio Potengi.
A primeira zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-01) compreende a
zona de apropriação de ancoragem-01 (ZAA-01) localizada nas proximidades do forte
na margem direita do rio Potengi, essa área foi impactada pela obra fixa do Dique da
Limpa apresentando assoreamento em uma faixa de terra.
A zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-02) compreende a zona de
apropriação de ancoragem-02 (ZAA-02) localizada nas proximidades do atual Canto do
Mangue, antigo riacho dos Corvos ou Urubus, e corresponde a uma área bastante
impactada pelas obras de dragagem devido a sua localização no canal de acesso do
porto de Natal.
A terceira zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-03) compreende a
zona de apropriação de ancoragem-03 (ZAA-03) localizada nas proximidades da atual
Pedra do Rosário, a área também foi impactada por obras de dragagem.
A quarta zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-04) compreende a
zona de apropriação de ancoragem-04 (ZAA-04) localizada na atual praia de Areia
Preta, antiga Ponta Negra, nessa área não se tem registros de obras de dragagem ou
derrocagem, porém nas suas proximidades foram construídos espigões.
A zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-05) compreende a zona de
apropriação do porto de pescaria-01 (ZAPP-01) localizada na atual praia da Redinha, na
margem esquerda do rio Potengi defronte ao forte, essa área sofreu grande impacto
causado por obras de dragagem, obras fixas e pela construção da ponte Newton
Navarro.
A zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-06) compreende a zona de
apropriação do portinho de Muller-01 (ZAPM-01) localizado no atual riacho do Rego
95
Moleiro, antigo riacho Guajaí, nessa área não temos registros de obras de dragagem,
derrocagem ou de obras fixas.
A zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-07) que compreende a
zona de apropriação do forte-01 (ZAF-01) localizada na área do arrecife sobre o qual foi
edificada a fortaleza dos Reis Magos e que foi perfurado um poço localizado no interior
da edificação. A (ZPA-07) foi a única área, que se tem conhecimento, que sofreu
alterações de seu ambiente natural pela ação antrópica desde o século XVII. Durante os
séculos XX e XXI também foram realizadas obras de derrocagem na ponta do Picão e
na barra do rio Potengi.
Percebe-se que as zonas de potencial arqueológico subaquático (ZPA-01, ZPA02, ZPA-03, ZPA-05 e ZPA-07) por se tratarem de áreas bastante impactadas pelas
obras de dragagem, derrocagem e obras fixas são zonas de baixo e médio potencial
arqueológico com poucas probabilidades de se encontrar vestígios materiais referentes
ao século XVII pelas perturbações que ocorreram no contexto arqueológico, o que não
impede que vestígios matérias de períodos mais recentes sejam encontrados.
No caso das zonas (ZPA-04 e ZPA-06) por estarem localizados em áreas onde
não se tem registros de impactos causados por obras de dragagem e/ou derrocagem estas
foram consideradas zonas de médio e alto potencial arqueológico, com probabilidades
de se encontrar vestígios matérias referentes ao período em futuros trabalhos de
pesquisa e de resgates sistemáticos em arqueologia subaquática no Rio Grande do Norte
e mais especificamente na cidade de Natal.
96
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100
ANEXOS
101
Relação das Obras Executadas no Estuário do Potengi. Fonte: Tabela retirada da Tese de:
BARBOSA, Sandra Maria de Souza. Análise Histórica e Morfológica do Estuário do Rio
Potengi e litoral adjacente da Região de Natal – Rio Grande do Norte. Tese (Pós Graduação de
Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Rio de Janeiro, 1983, p. 40-41.
102
103
104
105
106
107
Relação da Evolução das Obras no Estuário de 1902 a 1982. Fonte: Imagem retirada da Tese de:
BARBOSA, Sandra Maria de Souza. Análise Histórica e Morfológica do Estuário do Rio
Potengi e litoral adjacente da Região de Natal – Rio Grande do Norte. Tese (Pós Graduação de
Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Rio de Janeiro, 1983, p. 43-48.
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Anne Noemi 2015.1