UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA ANNE NOEMI FRANÇA MIRANDA NAS ÁGUAS DO RIO POTENGI: carta de zoneamento arqueológico subaquático (Século XVII) NATAL/RN 2015 ANNE NOEMI FRANÇA MIRANDA NAS ÁGUAS DO RIO POTENGI: carta de zoneamento arqueológico subaquático (Século XVII) Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientação do Prof. Dr. Roberto Airon Silva, para a avaliação da disciplina Pesquisa Histórica II. NATAL/RN 2015 ANNE NOEMI FRANÇA MIRANDA NAS ÁGUAS DO RIO POTENGI: carta de zoneamento arqueológico subaquático (Século XVII) Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para a avaliação da disciplina Pesquisa Histórica II. Aprovada em: ____/____/____. BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________________________ Prof. Roberto Airon Silva (Orientador/UFRN) ______________________________________________________________________ Profa. Fátima Martins Lopes (História/UFRN) ______________________________________________________________________ Prof. Sebastião Leal Ferreira Vargas Netto (História/UFRN) Dedico este trabalho à minha família, Afonso de França Miranda, Veralúcia França Miranda, João Henrique França Miranda e Inês Miranda (in memoriam). AGRADECIMENTOS Ao nosso Deus, acima de tudo, por ter me dado força para superar as dificuldades e determinação para não desistir de meus objetivos. À minha mãe Veralúcia França Miranda pela dedicação e amor incondicional, bem como a meu pai, Afonso de França Miranda, pelo afeto, incentivo e meu maior exemplo de determinação. À meu irmão João Henrique França Miranda pelo afeto, companheirismo e paciência. À todos os meus familiares. Ao meu orientador, professor Roberto Airon Silva, pela competência profissional, paciência, ensinamentos, incentivo e amizade. Aos meus amigos do LARQ (Laboratório de Arqueologia), Gerlane Mendes, Jônatas Ferreira, Aressa Nascimento, Artur Vinicius, Anne Passos, Camila Duarte, Daniel Bertrand, Ismael Paiva, Isac Karon, Erick Cauann, Samantha Simpliano, Paulo Henrique, Álvaro Giannini e Thaise Rodrigues pelos momentos de descontração e aprendizagem que levarei para o resto da vida. À Angélica Thaís, minha irmã de coração, pelo incentivo, afeto, alegria, amizade, cumplicidade e por trilhar juntamente comigo esses quatro anos de curso. À Dennys Willy pela amizade e valiosa ajuda com o acervo do NEHAD (Núcleo de Estudos Históricos de Arqueologia e Documentação). Aos meus amigos do LABIM (Laboratório de Imagens), Alyne Barreto, Iris Alvares, Jerlimar Adeltrudes e José Daniel, pela ajuda com os mapas. Aos amigos e professores do curso de História, pelos momentos felizes, de descontração e aprendizagem. Aos funcionários do CCHLA (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes) pelo carinho e amizade. As minhas amigas Bruna Carvalho e Kívia Passos pelo afeto, apoio e incentivo. À todos que de alguma forma me ajudaram nessa etapa, a quem serei eternamente grata. “As paixões são como ventanias que enfurnam as velas dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazêlos naufragar, mas se não fossem elas, não haveriam viagens nem aventuras nem novas descobertas”. (Voltaire) RESUMO O rio Potengi como espaço favorável a navegação há muito tempo é temática corrente na historiografia norte-rio-grandense, porém esse ambiente de navegação e suas apropriações humanas não foram analisados através de um olhar arqueológico. Foram analisados relatos de cronistas do século XVII, a cartografia e a iconografia histórica portuguesa e holandesa do período e as obras de cunho historiográficas produzidas durante o século XX e referentes ao Rio Grande do Norte além de obras recentemente publicadas dentro da área de conhecimento da geografia e da geomorfologia do estuário do Potengi. Utilizando-se de uma abordagem interdisciplinar entre a Arqueologia e a História, e situada no campo da arqueologia histórica e da especialidade da arqueologia subaquática o trabalho teve por finalidade produzir um zoneamento das áreas de potencial arqueológico subaquático ligado à navegação no estuário do rio Potengi durante o século XVII. Foram aplicados três procedimentos metodológicos correntes no campo da arqueologia histórica a fim de atingir os objetivos desse trabalho que foram: a prospecção documental; a análise tipológica e o zoneamento arqueológico. O trabalho inicia pela descrição do ambiente natural e os tipos de ambientes aquáticos na Bacia Hidrográfica do rio Potengi. Depois disso, identifica e analisa as apropriações feitas pelo homem nesse espaço para a navegação durante o século XVII e apresenta as terminologias utilizadas nesse período para os espaços de navegação, bem como a tipologia das embarcações. Essas tipologias permitem compreender melhor a cultura material relacionada à navegação no século XVII e pode facilitar a identificação de vestígios de embarcações no ambiente aquático do rio Potengi por parte dos arqueólogos. A carta de zoneamento arqueológico apresentada ao final além de seu caráter informativo para a pesquisa constitui-se num importante instrumento para a gestão do patrimônio arqueológico local. . Palavras-chave: Estuário do Potengi (RN); Tipologias da navegação (século XVII); Zoneamento arqueológico subaquático. ABSTRACT The Potengi River estuary as favorable space navigation has long been current topic in the Rio Grande do Norte historiography, but this navigation environment and its human appropriations have not been analyzed by an archaeological systematic look. The aims of the analysis sought reading of the seventeenth century chronicler’s reports, mapping and the Portuguese and Dutch historical iconography of the period and the works of historiographical nature produced during the twentieth century and for the Rio Grande do Norte in addition to recently published works within the geographical area of expertise and geomorphology of the Potengi estuary. Using an interdisciplinary approach between archeology and history, and situated in the scientific field of historical archeology and the specialty underwater archeology work aimed to produce a zoning of areas of underwater archaeological potential on the navigation at the mouth of the Potengi River during the seventeenth century. Three streams methodological procedures were applied in the field of historical archeology in order to achieve the objectives of this work were: a documentary investigation; the typological analysis and the archaeological zoning. The work begins with the description of the natural environment and the types of aquatic environments in the hydrographic basin of Potengi river. After that identifies and analyzes the appropriations made by the man in this area for navigation during the seventeenth century and presents the terminology used in that period for navigation spaces, as well as the types of vessels. These types allow better understand the material culture related to navigation in the seventeenth century and can facilitate the identification of traces of vessels in the aquatic environment of the Potengi river by the archaeologists. The archaeological zoning map presented at the end addition to its explanatory character for research it is an important tool for the management of local archaeological heritage. Keywords: Rio Potengi estuary (Brazil - RN); Navigation and types of vessels (XVII century); Underwater archaeological zoning. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Bacia hidrográfica do Potengi e sua localização ......................................... 28 Figura 2 - Bacia hidrográfica do Potengi ....................................................................... 29 Figura 3 - Estuário do Potengi ....................................................................................... 30 Figura 4 - Vegetação de restinga nas proximidades do Forte ........................................ 31 Figura 5 - Vegetação de mangue nas proximidades do rio Potengi .............................. 32 Figura 6 - Ventos Alísios ............................................................................................... 33 Figura 7 - Imagem com as nomenclaturas “Barra do Rio Grande” próximo a desembocadura do rio e “Puttigi” ao longo de seu curso .............................................. 36 Figura 8 - Imagem com as nomenclaturas “Potiji ou Rio Grande” na desembocadura do rio e “Potiji” ao longo de seu leito ................................................................................. 36 Figura 9 - Imagem ilustrando a barra do rio Potengi ..................................................... 39 Figura 10 - Imagem ilustrando baixo coberto no rio Potengi ........................................ 39 Figura 11 - Imagem dos recifes descobertos em baixa-mar e preamar ......................... 40 Figura 12 - Imagem da pedra que se descobre em baixa-mar de águas-vivas ............... 41 Figura 13 - Representação do estuário do rio Potengi no século XVII ......................... 44 Figura 14 - Representação cartográfica de alguns locais que serviram como portos e ancoradouros para embarcações na capitania do Rio Grande ....................................... 46 Figura 15 - Imagem representando pontos de ancoragens nas proximidades da fortaleza.......................................................................................................................... 47 Figura 16 - Imagem do surgidouro de navios com profundidade de 350 pés nas proximidades do forte. Zona de Apropriação de Ancoragens (ZAA-01) ...................... 48 Figura 17 - Imagem da esquadra holandesa ancorada em uma das curvas do rio Potengi. Zona de Apropriação de Ancoragens (ZAA-02) ........................................................... 49 Figura 18 - Imagem do surgidouro de navios que vêm acima. Zona de Apropriação de Ancoragens (ZAA-03) .................................................................................................. 50 Figura 19 - Imagem das embarcações holandesas ancoradas fora do estuário do rio Potengi. Zona de Apropriação de Ancoragens (ZAA-04) ............................................. 51 Figura 20 - Representação das casinhas dos pescadores próximas ao riacho Salgado .. 52 Figura 21 - A nomenclatura “Rede” na gravura indica possivelmente o local de prática da pescaria no rio Potengi. Zona de Apropriação do Porto de Pescaria (ZAPP-01) ..... 53 Figura 22 - Representação do riacho Guajaí. Zona de Apropriação do Portinho de Muller (ZAPM-01) ........................................................................................................ 54 Figura 23 - Representação da fortaleza na rocha e no recife em pequeno .................... 56 Figura 24 - Representação do arrecife na desembocadura do rio Potengi ..................... 57 Figura 25 - Representação dos arrecife na desembocadura do rio Potengi e do Castelo Keulen ............................................................................................................................ 57 Figura 26 - Representação da área correspondente aos arrecifes sobre os quais foi construída a fortaleza. Zona de Apropriação do Forte (ZAF-01) ................................. 59 Figura 27 - Imagem de uma nau portuguesa ................................................................. 61 Figura 28 - Imagem de uma caravela latina portuguesa ................................................ 62 Figura 29 - Imagem de uma caravela redonda portuguesa ........................................... 62 Figura 30 - Naus portuguesas no estuário do Potengi apreendidas por holandeses ...... 63 Figura 31 - Galeões holandeses fundeados fora do rio Potengi .................................... 64 Figura 32 - Imagem de uma nau e um galeão português ............................................... 65 Figura 33 - Imagem representando da portinhola, e o canhão alojado no berço sobre rodas ............................................................................................................................... 66 Figura 34 - Imagem de batéis adentrando o rio Potengi guiando as duas embarcações portuguesas .................................................................................................................... 68 Figura 35 - Imagem de uma canoa próximo ao Castelo Keulen ................................... 68 Figura 36 - Representação da área dragada do canal de acesso ao Porto de Natal (AI. Drag-01) ......................................................................................................................... 71 Figura 37 - Área que sofreu maior impacto com as obras de derrocagem no estuário do rio Potengi (AI.Der-01) ................................................................................................. 72 Figura 38 - Localização das Obras Fixas realizadas até a década de 1980 ................... 74 Figura 39 - Imagem do Dique da Limpa ....................................................................... 73 Figura 40 - Banco das Velhas no estuário do rio Potengi ............................................. 75 Figura 41 - Ponte Newton Navarro no estuário do rio Potengi ..................................... 75 Figura 42 - Assoreamento causado pela construção do Dique da Limpa ...................... 76 Figura 43 - Guia Corrente da Redinha ........................................................................... 77 Figura 44 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-01 (ZPA-01) ...................... 78 Figura 45 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-01 (ZPA-01) ...................... 79 Figura 46 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-02 (ZPA-02) nas proximidades do Canto do Mangue ............................................................................... 80 Figura 47 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-02 (ZPA-02) ...................... 80 Figura 48 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-03 (ZPA-03) nas proximidades da Pedra do Rosário ................................................................................ 81 Figura 49 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-03 (ZPA-03) ...................... 82 Figura 50 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-04 (ZPA-04) ...................... 83 Figura 51 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-04 (ZPA-04) ...................... 83 Figura 52 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-05 (ZPA-05) ...................... 85 Figura 53 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-05 (ZPA-05) ...................... 85 Figura 54 - Riacho do Rego Moleiro ............................................................................. 86 Figura 55 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-06 (ZPA-06) ...................... 87 Figura 56 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-07 (ZPA-07) ...................... 88 Figura 57 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-07 (ZPA-07) ...................... 88 Figura 58 - Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-07 (ZPA-07) ...................... 89 Figura 59 - Carta de Zoneamento Arqueológico Subaquático do século XVII ............ 91 Figura 60 - ZPA-06 localizado no Riacho do Rego Moleiro.......................................... 90 Figura 61 - Canoas monóxilas no jardim da Fundação de Cultura Aldeia Guajiru ........................................................................................................................... 92 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Obras de dragagem realizadas entre os anos de 1902-2011 Tabela 2 - Obras de derrocagem no estuário do rio Potengi entre os anos de 1903-2011 Tabela 3 - Obras fixas que ocorreram no estuário do rio Potengi entre os anos de 1927 a 1960 Tabela 4 - Coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-01) Tabela 5 - Coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-02) Tabela 6 - Coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-03) Tabela 7 - Coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-04) Tabela 8 - Coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-05) Tabela 9 - Coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-06) Tabela 10 - Coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-07) LISTA DE SIGLAS AI.Der-01 – Área impactada pela derrocagem-01 AI.Drag-01- Área impactada pela dragagem-01 CODERN - Companhia Docas do Rio Grande do Norte DPHDM - Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha IDEMA - Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente IHGRN - Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte USP – Universidade de São Paulo ZA- Zona de apropriação ZAA-01 – Zona de apropriação de ancoragem-01 ZAA-02 – Zona de apropriação de ancoragem-02 ZAA-03 – Zona de apropriação de ancoragem -03 ZAA-04 – Zona de apropriação de ancoragem-04 ZAF-01 - Zona de apropriação do forte-01 ZAPM-01 – Zona de apropriação do portinho de Muller-01 ZAPP-01 – Zona de apropriação do porto de pescaria-01 ZPA-01 – Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-01 ZPA-02 – Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-02 ZPA-03 – Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-03 ZPA-04 – Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-04 ZPA-05 – Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-05 ZPA-06 – Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-06 ZPA-07 – Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-07 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 15 CAPÍTULO 1- O ESTUÁRIO DO RIO POTENGI SOB A PERSPECTIVA DA ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA .......................................................................... 18 1.1 - ARQUEOLOGIA, ARQUEOLOGIA HISTÓRICA E SUBAQUÁTICA ........... 18 1.2 - UMA ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA DO ESTUÁRIO DO RIO POTENGI DURANTE O SÉCULO XVII ................................................................................ 22 1.3 - NAS ÁGUAS DO ANTIGO RIO GRANDE: A GEOGRAFIA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO POTENGI................................................................... 28 CAPÍTULO 2 – SOB AS ÁGUAS DO POTENGI: APROPRIAÇÕES HUMANAS DO SÉCULO XVII, TERMINOLOGIAS DA NAVEGAÇÃO E A TIPOLOGIA DAS EMBARCAÇÕES ............................................................................................... 35 2.1 - NOMENCLATURAS HISTÓRICAS DO RIO POTENGI NOS SÉCULOS XVI E XVII ............................................................................................................................... 35 2.2 - TERMINOLOGIAS UTILIZADAS PARA OS ESPAÇOS DE NAVEGAÇÃO .38 2.3 - O ESTUÁRIO DO RIO POTENGI NO SÉCULO XVII E AS APROPRIAÇÕES HUMANAS ................................................................................................................... 42 2.3.1 – O Porto do Potengi ............................................................................... 45 2.3.2 - Surgidouros no rio Potengi e arredores ............................................ 47 2.3.3 - O porto de Pescaria do Potengi, Portinho de Dirck Muller e o Forte dos Reis Magos ........................................................................................................ 52 2.4 TIPOLOGIA DAS EMBARCAÇÕES .................................................................... 60 CAPÍTULO 3 – PASSADO E PRESENTE DO ESTUÁRIO DO RIO POTENGI: PERTURBAÇÕES DO CONTEXTO ARQUEOLÓGICO NOS SÉCULOS XX E XXI E ZONEAMENTO ARQUEOLÓGICO SUBAQUÁTICO............................. 69 3.1 – O CONTEXTO ARQUEOLÓGICO DO ESTUÁRIO DO POTENGI: TRANSFORMAÇÕES E PERTURBAÇÕES .............................................................. 69 3.1.1- Obras no estuário do rio Potengi (1902-2011) .................................... 70 3.2 – CARTA DAS ZONAS DE POTENCIAL ARQUEOLÓGICO SUBAQUÁTICO DO ESTUÁRIO DO RIO POTENGI ............................................................................ 78 3.3 – VESTÍGIOS MATERIAIS LIGADOS A NAVEGAÇÃO DO SÉCULO XVII.. 92 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 93 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 96 FONTES ....................................................................................................................... 99 ANEXOS ..................................................................................................................... 100 15 INTRODUÇÃO A importância do rio Grande (Potengi) como um ambiente favorável a navegação foi descrito desde o século XVI pelo cronista Gabriel Soares de Souza no Tratado Descritivo do Brasil de 1587. Porém foi durante o século XVII, quando ocorreu a fundação da povoação do Natal e a presença holandesa na capitania do Rio Grande que a importância desse ambiente foi evidenciado por meio de cartografias e iconografias históricas, bem como em relatos da época. O rio Potengi, mais precisamente a área que compreende ao seu estuário, foi utilizado durante o século XVII tanto como um espaço de passagem quanto uma via de navegação para fins comerciais e de conquista, assim como também um espaço de permanência onde embarcações ficavam ancoradas por horas ou até mesmo por alguns dias, sendo considerado o principal porto da capitania do Rio Grande. Partindo desta delimitação espaço-temporal que compreende o estuário do rio Potengi durante o século XVII, foram levantados alguns questionamentos: Quais foram as apropriações feitas pelo homem no estuário do rio Potengi durante o século XVII e onde estão localizadas estas apropriações? Quais as terminologias utilizadas para os espaços de navegação neste período? Que tipo de embarcações eram utilizadas para navegar o rio Potengi durante o século XVII? Quais são as características geográficas atuais da Bacia Hidrográfica do rio Potengi? Onde estão localizadas no contexto espacial atual, as zonas de potencial arqueológico subaquático ligados a navegação no rio Potengi durante o século XVII? A importância do rio Potengi como um ambiente favorável à navegação durante o século XVII foi temática apresentada na historiografia sobre o Rio Grande do Norte, porém esse ambiente de navegação e suas apropriações não foram devidamente analisados através de um olhar arqueológico. Este trabalho através de uma abordagem interdisciplinar entre a Arqueologia e a História, tem por objetivo geral a produção de uma carta das zonas de potencial arqueológico subaquático ligadas à navegação no estuário do rio Potengi durante o século XVII, sendo esta carta um importante instrumento de gestão do patrimônio arqueológico municipal, 16 viabilizando a lei 6.938 publicada em 31/08/81 de conservação ambiental, do qual engloba os recursos culturais. A fim de serem cumpridos os objetivos deste trabalho, foram descritos o ambiente natural e os tipos de ambientes aquáticos na Bacia Hidrográfica do rio Potengi; identificadas e analisadas as apropriações feitas pelo homem nesse rio durante o século XVII e as terminologias utilizadas nesse período para os espaços de navegação, bem como a tipologia das embarcações; e por fim, apresentado um zoneamento das áreas de potencial arqueológico do século XVII no contexto atual do ambiente aquático do estuário do rio Potengi. Este trabalho constituiu a etapa chamada na arqueologia de fase prévia ao campo, fase em que foi delimitado o espaço a ser estudado, bem como feito o levantamento de informações sobre o contexto histórico e ambiental desse espaço, a fim de serem delimitadas as áreas de maior potencial arqueológico subaquático. Este trabalho está situado no campo da arqueologia histórica e da especialidade da arqueologia subaquática ou de ambientes aquáticos. No continente americano a arqueologia histórica estuda a cultura material produzida no período moderno, sendo a arqueologia das sociedades que deixaram registros escritos. O estuário do rio Potengi, nosso objeto de estudo, por ser um ambiente úmido também está inserida na especialidade da arqueologia subaquática ou arqueologia dos ambientes aquáticos. A arqueologia histórica utiliza uma série de fontes de informação para sua investigação, dentre essas fontes estão: os artefatos, a arquitetura, documentos escritos e as imagens pictóricas. O quadro de fontes utilizadas neste trabalho foi dividido em duas categorias: as fontes documentais primárias e as fontes documentais secundárias. Com relação às fontes primárias foram utilizadas relatos de cronistas do século XVII, cartografias e iconografias históricas portuguesas e holandesas do período. Com relação às fontes documentais secundárias estão as obras historiográficas referentes ao Rio Grande do Norte produzidas durante o século XIX, obras sobre o referencial teórico e pesquisas recentes na área da 17 geografia e da geomorfologia, para se ter uma melhor compreensão das variáveis ambientais sofridas no estuário do rio Potengi ao longo do tempo. Após a análise das fontes já mencionadas foram aplicados três procedimentos bastante correntes na arqueologia a fim de traçar os objetivos e produzir os capítulos deste trabalho: prospecção documental, análise tipológica e zoneamento arqueológico. No primeiro capítulo foi compreendido que este trabalho utilizou uma abordagem interdisciplinar entre a Arqueologia e a História, inserida no campo da arqueologia histórica e na especialidade da arqueologia subaquática ou de ambientes aquáticos. Ficou compreendido como o objeto de estudo fora analisado na historiografia por autores como Frei Vicente de Salvador, Tavares de Lyra, Rocha Pombo, Câmara Cascudo e Olavo de Medeiros Filho e foi abordado sobre a geografia da bacia hidrográfica do Potengi, da qual faz parte o estuário. No segundo capítulo foi apresentado as diversas nomenclaturas utilizadas para referir-se ao rio Potengi durante o século XVII, as diversas terminologias utilizadas para os espaços de navegação de acordo com a época, foram identificadas e analisadas as apropriações humanas que ocorreram no rio Potengi durante o século XVII, bem como evidenciadas a tipologia das embarcações utilizadas em sua navegação no período. No terceiro capítulo foram evidenciadas as perturbações do contexto arqueológico, obras de dragagem, derrocagem e obras fixas que ocorreram no estuário do rio Potengi entre os anos de 1902-2011, produzida uma carta das zonas de potencial arqueológico subaquático do estuário do rio Potengi ligados à navegação durante o século XVII, bem como foi feito um levantamento dos vestígios matérias encontrados referentes a navegação nessa época. 18 CAPÍTULO I – O ESTUÁRIO DO RIO POTENGI SOB A PERSPECTIVA DA ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA 1.1 - ARQUEOLOGIA, ARQUEOLOGIA HISTÓRICA E SUBAQUÁTICA Na atualidade a Arqueologia vem sendo conceituada de forma ampla como “[...] a produção do conhecimento sobre o passado humano, a partir da pesquisa dos vestígios materiais da cultura, de todas sociedades e de todas as épocas” (KERN, 1999). Os vestígios materiais do passado que chegam aos dias atuais são restos incompletos da cultura material produzida pelas sociedades humanas, que nos ajuda a compreender suas atividades cotidianas, bem como suas transformações de hábitos e comportamentos, permitindo-nos reconstruir parcelas de suas histórias (KERN, 1999). Nas últimas cinco décadas foi reconhecido que a Arqueologia contribuiu não somente para a compressão da pré-história ou da Antiguidade como também para períodos mais recentes da nossa história, como bem é exposto por Roberto Airon Silva (2010, p.49) sobre o papel da arqueologia no Brasil “[...] a arqueologia, então, busca realizar uma análise das situações de ocupação humana pré-histórica e indígena e as ocupações humanas de caráter histórico (colonial ou pós-colonial)”. Na segunda metade do século XX a Arqueologia Histórica foi reconhecida como um campo da pesquisa arqueológica, pois para Charles Orser Jr: [...] a definição de Arqueologia Histórica que está surgindo atualmente à caracteriza como o estudo arqueológico dos aspectos materiais- em termos históricos, culturais e sociais concretos- dos efeitos do mercantilismo e do capitalismo trazidos da Europa no final do século XV e que continua em ação até hoje. (ORSER, 2000, p. 21-22, tradução nossa) Ainda sobre essa definição do campo da arqueologia histórica, segundo Roberto Airon Silva: Apesar de se discutir na atualidade qual a definição ideal para uma arqueologia dita “histórica”, se considerou aqui como arqueologia 19 histórica toda e qualquer estudo relacionado a elementos materiais dispostos ou não na paisagem, e que têm alguma vinculação direta ou indireta com a sociedade aqui desenvolvida a partir dos mercantilismos de colonização empreendidos pela Coroa portuguesa desde o século XVI e suas relações com o universo indígena aqui existente. (SILVA, R., 2010, p.47) O termo Arqueologia Histórica tem sido utilizado no continente americano para identificar o estudo da cultura material produzida no período moderno, porém o termo Arqueologia Histórica com tal definição não é utilizado na Europa ou na Ásia tendo em vista que nesses continentes a escrita já existia antes do período moderno e o estudo da cultura material abrange outros campos da arqueologia, como por exemplo a Arqueologia Clássica (FUNARI, 2002). Segundo Orser Jr.(2000) a arqueologia histórica por ter um caráter multidisciplinar, se aproximando de outras ciências como a antropologia, sociologia e sobre tudo da história, assim, utiliza uma série de fontes de informação para sua investigação, dentre essas fontes podemos citar algumas como: os artefatos, a arquitetura, as informações orais, documentos escritos e as imagens pictóricas. A disponibilidade de tais fontes de informação vai depender do sítio e do caso estudado. Ainda que a utilização de documentos escritos se mostre bastante importante, devemos ter consciência que sua produção foi resultado de uma ação humana é que essa documentação está sujeita a imprecisões, falseamentos ou desconhecimentos dos fatos por parte de seus autores (ORSER JR, 2000). O mesmo ocorre com as cartografias e iconografias históricas, embora sejam importantes fontes para a arqueologia histórica, principalmente no que diz respeito à localização de sítios enquanto lugares de ocupação ou mesmo edificações essas fontes também estão sujeitas aos mesmos problemas da documentação escrita. Desta maneira o trabalho de escavação arqueológica se faz necessário pois a cultura material encontrada pode tanto confirmar ou complementar as fontes escritas, cartográficas e iconográficas como também podem contradizê-las. Além dos campos de atuação na arqueologia, também existem as especialidades dentro da prática arqueológica, e dentre elas destacam-se: a arqueologia urbana, a arqueologia da paisagem, a etnoarqueologia e a arqueologia subaquática. 20 A chamada Arqueologia Subaquática ou de Ambientes Aquáticos, ao contrário do que se pensa, pode ser realizada tanto em ambientes totalmente submersos quanto em ambientes parcialmente submersos e está associada a áreas de ambientes marítimos, lagoas, rios, zonas de maré, entre outros. A diferença existente entre a arqueologia feita em ambientes aquáticos e a arqueologia terrestre se dá justamente no contexto ambiental em que cada uma é realizada, porém ambas utilizam-se dos mesmos conceitos e terminologias e empregam os mesmos métodos e técnicas (RAMBELLI, 2006). Gilson Rambelli ao se referir à arqueologia subaquática deixa claro que: Como sua escala de tempo acompanha a epopeia humana sobre o planeta, este pode ser representado por: vestígios de habitações de milhares de anos (sítios arqueológicos pré-históricos) que ficaram submersos devido as alterações do nível do mar; cidades históricas (sítios arqueológicos históricos), como por exemplo Porto Royal, na Jamaica, que devido a movimentos sísmicos foi quase coberta pelo mar em 7 de junho de 1692. (RAMBELLI, 2006, p. 90, tradução nossa) Neste trabalho a abordagem teórica da Arqueologia utilizada é a perspectiva da New Archaeology (Nova Arqueologia) ou arqueologia processual. A New Archaeology, enquanto abordagem na arqueologia, surgiu nos Estados Unidos na década de 1960 fruto de uma insatisfação dos pesquisadores que reconheciam as limitações de uma arqueologia tradicional voltada a discussões fragmentadas que contemplavam apenas alguns aspectos da sociedade do passado. Dentre alguns de seus conceitos básicos, da Nova Arqueologia ou arqueologia processual, foi destacado que a arqueologia deixa de ter um caráter puramente descritivo e passa a buscar o caráter explanatório, a explicar o passado humano através do uso de teorias. Para a abordagem processual as pesquisas deveriam resolver questões específicas, afim de evitar o volume de dados obtidos de forma aleatória em campo e o desenvolvimento de uma perspectiva ecossistêmica, na qual se buscava estabelecer relações entre meio ambiente e cultura (ROBRANHGONZÀLEZ, 1999-2000). Alguns conceitos foram fundamentais para a execução deste trabalho, ou seja, os conceitos de: “ambientes aquáticos”; “tipologia de embarcações” e do “zoneamento arqueológico”. Segundo Gilson Rambelli (2010) os ambientes aquáticos englobam regiões de águas oceânicas, marítimas e águas interiores, o que compreende os oceanos, mares, lagoas, lagos, rios, represas, poços, manguezais entre outros. A arqueologia subaquática ou de ambientes aquáticos estuda os testemunhos das ações humanas e suas 21 apropriações nesses ambientes aquáticos, que conservaram ou não suas características naturais, que podem estar situados inteiramente ou parcialmente no meio aquático. A tipologia de embarcações, o segundo aspecto chave, busca classificar as embarcações de acordo com suas semelhanças e diferenças em relação umas às outras (FUNARI, 2010), permitindo observar as mudanças que ocorreram ao longo do tempo na forma de fabricação, no tipo de matéria-prima utilizada nesse processo. Com a análise da tipologia das embarcações que adentravam no estuário do Potengi durante o século XVII, foi possível compreender os tipos de artefatos que eventualmente podem ser encontrados em escavações arqueológicas nesse local. O zoneamento Arqueológico”, enquanto terceiro conceito chave, trata da definição espacial das áreas ou zonas de maior probabilidade de ocorrências dos vestígios arqueológicos (JULIANI, 1994-1995). No Brasil, a lei 6.938 publicada em 31/08/81, estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, a qual visa a conservação ambiental, englobando os recursos culturais. Desta maneira, a Arqueologia passou a ser solicitada no processo de planejamento ambiental (CALDARELLI,1999). Todos os empreendimentos que causam um impacto ambiental nas zonas definidas como áreas de potencialidade arqueológica devem por obrigatoriedade, passar por um estudo arqueológico. A elaboração de um zoneamento arqueológico viabiliza a aplicação da lei 6.938 publicada em 31/08/81 em curto prazo, sendo utilizado como um instrumento de gestão do patrimônio arqueológico municipal (JULIANI, 1994-1995). 22 1.2 - UMA ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA DO ESTUÁRIO DO RIO POTENGI DURANTE O SÉCULO XVII Desde o primeiro século de colonização a presença francesa em terras portuguesas na América foi fato corrente citados em relatos como o Tratado Descritivo do Brasil de Gabriel Soares de Souza de 1587 e da mesma forma é representado na cartografia do Jacques de Vaulx Claye de 1579. No século XVII uma série de cartografias e iconografias portugueses e holandeses foram produzidas abordando a importância do rio Grande (Potengi), mais precisamente o seu estuário, como um ambiente favorável a navegação. Dentre tais foi destadado a cartografia do George Marcgrave Praefectura de Paraíba, et Rio Grande, 1643 e os desenhos aquarelados de João Teixeira Albernaz, o velho. A primeira obra a historicizar e a abordar a importância do rio Potengi como um ambiente de navegação foi a História do Brasil de 1627 do Frei Vicente de Salvador. Em sua obra o autor se referiu a necessidade de se construir uma fortaleza no Rio Grande. Os franceses que vinham comercializar com os potiguares também saiam para roubar os navios que iam e vinham de Portugal. Afim de evitar maiores danos causados pelos franceses foi ordenado a Manuel Mascarenhas Homem, capitão mor de Pernambuco e a Feliciano Coelho de Carvalho, capitão mor da Paraíba a construção de um forte na barra do rio Grande, a fim de expulsar os franceses. Desta maneira foi organizada uma expedição conquistadora ao Rio Grande. Mascarenhas Homem saiu de Olinda e seguiu por terra até o porto da Paraíba, onde sob suas ordens saíram quatorze embarcações com destino a capitania do Rio Grande. Por terra seguiram as tropas comandadas por Feliciano Coelho, que não conseguiram chegar ao Rio Grande devido a uma epidemia de varíola. Mascarenhas Homem chegou ao rio Grande no dia 25 de dezembro de 1597. Sobre sua chegada Frei Vicente de Salvador coloca que: [...] mandou Manuel Mascarenhas dois caravelões descobrir o rio, o qual descoberto e seguro, entrou a armada à tarde guiada pelos marinheiros dos caravelões que o tinham sondado. Ali desembarcaram e se entrincheiraram de varas de mangues para começarem a fazer o forte e se defenderem dos potiguares, que não tardaram muitos dias que não viessem uma madrugada 23 infinitos, acompanhados de cinquenta franceses, que haviam ficado das naus do porto dos Búzios, e outros que ali estavam casados com potiguaras. (SALVADOR, 1975, p. 268). Durante a primeira metade e início da segunda metade do século XX uma série de obras de referência sobre a história do Rio Grande do Norte foram produzidas referindo-se ao rio Potengi durante o século XVII como um espaço de navegação, dentre elas a obra de Augusto Tavares de Lyra História do Rio Grande do Norte de 1921, a obra de Rocha Pombo História do Estado do Rio Grande do Norte de 1922 e a História do Rio Grande do Norte de 1955 de Câmara Cascudo. Augusto Tavares de Lyra foi sócio efetivo e um dos membros fundadores do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN). Em sua obra História do Rio Grande do Norte de 1921 foi observado a prevalência de uma abordagem política e a utilização quase que integral de documentos históricos. Tavares de Lyra ao se referir ao rio Potengi em sua obra utilizou trechos do Tratado Descritivo do Brasil de Gabriel Soares de Souza referentes a capitania do Rio Grande, informando que pelo rio Grande entrava navios de todos os portes durante o século XVI. Com relação a presença holandesa na capitania do Rio Grande durante o século XVII através de registros escritos contidos na Revista do Instituto Arqueológico de Pernambuco, n. 34, p.139, Tavares de Lyra informa que “O principal porto desta capitania é o mesmo Rio Grande, e depois a barra de Cunhaú [...]” (LYRA, 2008, p.109) evidenciando a importância do rio Potengi como um ambiente de navegação. A obra de Rocha Pombo História do Estado do Rio Grande do Norte de 1922 foi produzido por meio de uma encomenda feita pelo governador Ferreira Chaves, com o objetivo de comemorar o centenário da Independência do Brasil que estava se aproximando (SILVA, A.). Em sua obra prevalece, assim como no livro supracitada de Tavares de Lyra, uma abordagem política, rica em narrativas dos fatos históricos e a utilização de documentos históricos. Rocha Pombo também fez menção em seu livro as obras de: Tavares de Lyra (O Rio Grande do Norte, 1911), Frei Vicente de Salvador (História do Brasil), Nestor Lima (A matriz de Natal-1915), dentre outros. Rocha Pombo assim como Tavares de Lyra escreveram em um período em que a identidade regional estava em evidência, tal evidência pode ser notada no prefacio de seu livro. Segundo Rocha Pombo (1922, p. 07) “mesmo nesse dia não se há de esquecer que a 24 própria vida de uma nação tem de fazer-se ou regular-se pelo concurso de cada unidade regional das que formam essa nação”. Sobre o rio Potengi durante o século XVII em meio ao episódio da conquista da capitania do rio Grande pelos holandeses, Rocha Pombo informa que durante a investida holandesa o capitão Lichthardt aprisionou duas embarcações portuguesas que se encontravam ancoradas próximo ao forte “Quando forçara a barra na tarde de 8 de Dezembro, tomara Lichthardt conta de duas caravelas que tinham sido abandonadas pelos tripulantes” (POMBO, 1922, p. 102). Desta maneira, Rocha Pombo em sua obra também ressalta a importância do rio Potengi como um ambiente favorável a navegação. Luís da Câmara Cascudo, historiador norte-rio-grandense, escreveu a obra História do Rio Grande do Norte, que foi editada pela primeira vez em 1955 com o apoio do Governo de Sylvio Pedroza, difere das obras de Tavares de Lyra e Rocha Pombo por apresentar uma abordagem cultural, porém nas três obras supracitadas é notável a rejeição do elemento estrangeiro, seja ele francês ou holandês, em detrimento do elemento de origem portuguesa. Sobre o rio Potengi Câmara Cascudo informa sobre a edificação da Fortaleza dos Reis Magos, obra construída sobre o arrecife na barra do rio “A planta é do padre Gaspar de Samperes que fora mestre nas traças de engenharia na Espanha e Flandres antes de entrar para a Companhia de Jesus. É a forma clássica do Forte marítimo, afetando o modelo do polígono estrelado[...]” (CASCUDO, 1955, p. 24) Ainda segundo Cascudo, após a edificação da fortaleza o Rio Grande já contava com uma estrutura construída para a sua defesa, porém faltava a capitania uma cidade e para seu surgimento era indispensável a pacificação dos indígenas que insistiam com os ataques mesmo após a expulsão dos franceses. Foi somente após a missão dos jesuítas Gaspar de Samperes, Francisco Pinto e Francisco de Lemos que se conseguiu chegar a uma perfeita harmonização entre indígenas e brancos. Após esse episódio foi fundada a cidade a meia légua do forte, da qual conhecemos hoje por cidade de Natal. O povoamento se deu de forma lenta tendo em 1614 apenas doze casas (CASCUDO, 1955). Tal fato ressalta a importância da fortaleza para o surgimento da povoação do Natal que foi edificada as margens do rio Potengi. 25 Outras importantes obras de referência sobra a história do Rio Grande do Norte foram produzidas no final da segunda metade do século XX pelo historiador Olavo de Medeiros Filho dentre elas os livros Aconteceu na Capitania do Rio Grande de 1977, Os Holandeses na Capitania do Rio Grande de 1998, No Rastro dos Flamengos de 1989 e Naufrágios no litoral potiguar de 1988 e pela historiadora Denise Mattos Monteiro Introdução à História do Rio Grande do Norte de 2000. Olavo de Medeiros Filho era sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e grande estudioso do período colonial sendo considerado historiador autodidata. As obras de Olavo de Medeiros Filho embora de certo modo sejam descritivas, assim como as obras de frei Vicente de Salvador, Tavares de Lyra, Rocha Pombo e Câmara Cascudo, elas se diferem dessas demais por desenvolverem uma perspectiva espacial, não apenas citando os espaços como também localizando-os no contexto espacial atual. No comentário presente na obra Aconteceu na capitania do Rio Grande de Olavo de Medeiros Filho, o presidente do IHGRN Enélio Lima Petrovich destaca que: “E graças ao senso revisionista de que é possuidor, Olavo de Medeiros Filho chega a conclusões divergentes das estabelecidas pelos seus antecessores”. O livro Aconteceu na Capitania do Rio Grande teve seu lançamento no ano de 1977 e foi reeditado no ano de 1997, ano em que se fazia quatrocentos anos da entrada da expedição de Mascarenhas Homem na foz do rio Potengi e a obra Os Holandeses na Capitania do Rio Grande de 1998 foi publicada como o sexto volume da Coleção Cultural do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte. Na obra No rastro dos Flamengos o autor utiliza uma série de relatos neerlandeses sobre expedições pelo interior da capitania do Rio Grande e Paraíba que tinham por finalidade encontrar minas de ouro e prata. É através desses relatos que o autor propôs em sua obra identificar geograficamente os locais percorridos pelos flamengos durante o século XVII nessas expedições. Na obra Naufrágios no litoral potiguar de 1988, Olavo de Medeiros Filho utilizou uma série de documentos do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte referentes a naufrágios que ocorreram ao longo do litoral entre os anos de 1678 a 1823. 26 Sobre o rio Potengi Olavo de Medeiros Filho coloca que quando a capitania do Rio Grande foi incorporado ao domínio holandês em 1633, uma expedição composta por onze embarcações dirigiu-se à capitania com 808 soldados, iniciando-se o ataque terrestre e a investida por mar. Em 08 de dezembro de 1633 parte das tropas holandeses desembarcaram na praia de Ponta Negra (atual praia de Areia Preta) no número de 600 homens comandados pelo tem. cel. Balthazar Bymae e a outra parte das tropas holandesas penetraram no rio Potengi, sob as ordens do comandante Jan Cornelissen Lichthardt, a fim de atacarem o forte por mar (MEDEIROS FILHO, 2010). Não tardou para começar os combates entre holandeses e portugueses que só teve seu desfecho com a rendição portuguesa no dia 12 de dezembro de 1633 (MEDEIROS FILHO, 1997). Em sua obra Naufrágios no litoral Potiguar, Olavo de Medeiros Filho através de documentações de época relata o naufrágio do navio mercante holandês “Hortermeer” em 1678 na barra do rio Potengi, com uma carga considerável de mercadorias que foram levadas a leilão na praia da fortaleza (MEDEIROS FILHO, 1988). Denise Mattos Moteiro é doutora em História pela USP e professora aposentada pela UFRN, local onde lecionou várias disciplinas, entre elas História do Rio Grande do Norte. Em sua obra Introdução à História do Rio Grande do Norte, Denise Matos se refere a expedição de conquista e ocupação da capitania do Rio Grande em 1597 comandada por Feliciano Coelho e Mascarenhas Homem, fazendo menção ao rio Potengi: A expedição marítima, por seu lado, desembarcou finalmente na foz do Rio Grande (atual Potengi) e principiou a construção de um forte, inicialmente de madeira, em 6 de janeiro de 1598, sob a cerrada reação dos Tupis-Potiguara da região. (MONTEIRO, 2000, p. 310) A autora também faz menção a importância do rio Potengi como um espaço de navegação durante o século XIX, colocando que o aumento da atividade comercial no Rio Grande do Norte trousse como consequência um aumento do número de navios que passou a frequentar o porto de Natal. Sobre isso: Em 1853, foi estabelecida a primeira linha regular de navegação costeira a vapor que ligava o Rio Grande a outras províncias nordestinas. Tratava-se da Companhia Pernambucana, que passou a incluir, inicialmente, Natal e Macau entre seus portos 27 de escala (1857), e mais tarde o porto de Areia Branca (1867). Data desse período uma série de iniciativas que visava, em última instância, estimular as relações da economia da província com o mercado mundial: a criação da capitania do porto de Natal (1859), os primeiros estudos para o melhoramento do mesmo porto (1860) [...]. (MONTEIRO, 2000, p. 133). Somente no ano de 1902 o Plano Diretor Portuário iniciou a primeira obra de dragagem que aprofundou o canal de acesso, a fim de que embarcações de maior calado chegassem até o porto de Natal. 28 1.3 - NAS ÁGUAS DO ANTIGO RIO GRANDE: A GEOGRAFIA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO POTENGI A bacia hidrográfica do rio Potengi está localizada no Estado do Rio Grande do Norte na atual região brasileira do Nordeste (Figura 1). Segundo Rodrigo de Oliveira Santos (2010) através de análises disponibilizadas pelo IDEMA (2010) esta bacia apresenta uma área de aproximadamente 4.100Km. Figura 1 Bacia hidrográfica do Potengi e sua localização. Fonte: IDEMA (2010). Imagem retirada da Dissertação de: SANTOS, Rodrigo de oliveira. Avaliação da produção de sedimentos na bacia Hidrográfica do Rio Potengi através do Modelo Swat. Dissertação (Pós-Graduação em Engenharia Sanitária)- Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010. P. 33. 29 O rio Potengi nasce nas proximidades da Serra de Santana no município de Cerro Corá correndo em direção a cidade de São Tomé até desaguar no Oceano Atlântico. Segundo Eugênio Pires Frazão (2003) o volume de água na rede hidrográfica do Potengi é mais intensa na região de baixo curso devido as ações das marés do estuário e ao maior volume de chuvas nessa região, enquanto boa parte de sua rede hidrográfica de médio e alto curso apresenta seca durante boa parte do ano. Segundo o mapa da Hidrografia do Potengi disponibilizado no trabalho de Rodrigo de O. Santos (2010) (Figura 2) percebemos que dentre seus principais afluentes estão o Jundiaí, o Riacho do Salgado e o Riacho Pedra Branca. Figura 2 Bacia hidrográfica do Potengi. Fonte: IDEMA (2010). Imagem retirada da Dissertação de: SANTOS, Rodrigo de oliveira. Avaliação da produção de sedimentos na bacia Hidrográfica do Rio Potengi através do Modelo Swat. Dissertação (Pós-Graduação em Engenharia Sanitária)- Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010. p. 34. 30 Para Eugênio P. Frazão (2003) “Os estuários são ambientes sedimentares costeiros cuja evolução depende da interação entre parâmetros hidráulicos, sedimentares e aspectos morfológicos, e onde a atividade biológica é uma condicionante fundamental”. Segundo Pritchard (apud BAPTISTA NETO, 2004, p. 201) os “Estuários são corpos d’água costeiros, semiconfinados, onde ocorre a mistura de água doce, vinda do continente, com água salgada do oceano”. O estuário do rio Potengi tem uma extensão de aproximadamente 27 km (Figura 3). Por estar localizado em uma região costeira na cidade de Natal-RN se mostrou bastante favorável ao desenvolvimento de atividades e ações humanas desde o século XVI até os dias atuais, sendo palco de intensas atividades marítimas e portuárias, constituindo-se dentro da bacia hidrográfica do Potengi o ambiente aquático de foco deste trabalho. Figura 3 Estuário do Potengi. Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 06 fev. 2015. Com relação ao contexto geológico do estuário do Potengi e áreas adjacentes Eugênio Pires Frazão coloca que: A área estudada situa-se no litoral oriental do Estado do Rio Grande do Norte, inclusa na bacia litorânea denominada Bacia Sedimentar Costeira Pernambuco-Paraíba-Rio Grande do Norte, de idade cretácea. São encontradas ainda uma sequência tércio- 31 quartenária (Formação Barreiras) e sedimentos quartenários recentes (dunas fixas ou móveis, aluviões, terraços fluviais e mangues. (FRAZÃO, 2003). Com relação a vegetação característica do estuário do Potengi percebe-se uma predominância de dois tipos: a restinga, vegetação que se encontra sobre o solo arenoso por isso tão comum em dunas e praias (Figura 4) e a vegetação de mangue (Figura 5). Oswaldo Frota-Pessoa ao se referir a esta última coloca que: Mangue- Esta subzona inclui a vegetação das áreas de contato da água salgada do mar com a doce do rio, onde, em vista da pouca velocidade destes, se depositam finos sedimentos que vem em suspensão, dando origem a solos pantanosos, negros”. (FROTA-PESSOA, 1970, p. 42-43) Figura 4 Vegetação de restinga nas proximidades do Forte. Fotografia de Anne Noemi França Miranda. Data: 24 maio de 2015. Coordenadas UTM: 25M0256783/9362340. 32 Figura 5 Vegetação de mangue nas proximidades do rio Potengi. Fotografia de Anne Noemi França Miranda. Ainda segundo Oswaldo Frota-Pessoa (1970) o nome mangue tanto pode ser aplicado a formação vegetal como também as espécies que ali habitam. Em alguns casos algumas espécies de mangues, como é o caso da Rhizophora mangle popularmente conhecido como mangue vermelho, podem alcançar um porte arbóreo sendo sua madeira utilizada em construção. Segundo Adauto Gouveia Motta o clima de Natal é quente e árido nos períodos de estiagem e quente e húmido nos períodos chuvosos. A temperatura média anual da cidade de Natal é de 26,6°C. Com relação aos ventos o que se percebe é a predominância dos ventos alísios em Natal, que sopram das zonas tropicais para as zonas equatoriais (Figura 6). Ainda segundo o autor os ventos são mais fortes nos meses de agosto e setembro e mais fracos no mês de abril. A maior incidência de chuvas no Rio Grande do Norte é justamente na área onde Natal está localizada, com uma média anual de 1380 milímetros. Os meses de maior incidência chuvosa vai do mês de abril a julho, sendo o mês de junho o mais chuvoso. 33 Figura 6 Ventos Alísios. Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 09 fev. 2015. Durante o século XX e a primeira década do século XXI uma série de obras foram realizadas ao longo do estuário do Potengi, tanto obras fixas como a construção de espigões1, do Dique da Limpa2 e da ponte Newton Navarro, como também obras que causaram um maior impacto imediato a morfologia do rio como as obras de dragagens3 e de derrocagens4. No ano de 1902 visando melhorias de acesso ao porto de Natal que 1 Espigões ou esporões são estruturas que tem por objetivo direcionar o fluxo das correntes marítimas. Obra responsável pela contenção das areias. 3 Procedimento de retirada do sedimento do leito do rio aumentando sua profundidade. 4 Processo de destruição ou remoção de rochas totalmente ou parcialmente submersas. 2 34 se localiza no interior do estuário do Potengi o Plano Diretor Portuário iniciou a primeira obra de dragagem do canal de acesso5. Segundo Sandra Maria de Souza Barbosa (1983) os portos que estão localizados no interior dos estuários geralmente apresentam dificuldades de acesso devido ao deposito de grande volume de sedimentos em seu leito, provocando assoreamento. Tais sedimentos podem ser transportado tanto pelos ventos como também podem ser de origem marítima, fluvial ou até mesmo do retorno dos matérias já dragados. Deste modo entre os anos de 1902-2011 o estuário do Potengi já passou por uma série de intervenções humanas que modificou de forma considerável sua morfologia. 5 Canal que faz a ligação entre o porto e o alto-mar. 35 CAPÍTULO 2 – SOB AS ÁGUAS DO POTENGI: APROPRIAÇÕES HUMANAS DO SÉCULO XVII, TERMINOLOGIAS DA NAVEGAÇÃO E A TIPOLOGIA DAS EMBARCAÇÕES 2.1 NOMENCLATURAS HISTÓRICAS DO RIO POTENGI NOS SÉCULOS XVI E XVII O rio Potengi, que em tupi-guarani significa algo semelhante a “rio dos camarões” foi registrado com diversas nomenclaturas por cronistas e cartógrafos dos séculos XVI e XVII. No ano de 1579 o Potengi já era evidenciado na cartografia do francês Jacques de Vaux de Claye com a denominação de Pottiou. No ano de 1587 o português Gabriel Soares de Souza escreveu Tratado descritivo do Brasil de 1587, ao se referir ao rio utiliza a nomenclatura de Rio Grande: “Deste Rio Pequeno ao outro Rio Grande são três léguas; o qual está em altura de cinco graus e ¼” (SOUZA, 2000, p. 40). No início do século XVII através do desenho aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho, datado de 1616 (Figura 7) tanto aparece a nomenclatura de Barra do Rio Grande próximo a desembocadura do rio como também aparece a nomenclatura de Rio Puttigi ao longo de seu leito. Na obra Descrição das Capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande de 1630, o holandês Adrien Verdonck utilizou a nomenclatura Rio Grande para designar tal rio “[...] o rio chamado Rio Grande, um muito grande e belo lugar, por este motivo e porque os franceses e ingleses ali aportavam frequentemente com seus navios [...]” (VERDONCK apud MEDEIROS FILHO, 2010, p. 35). Na cartografia do holandês George Marcgrave, em Praefectura de Paraiba, et Rio Grande de 1643 (Figura 8) observa-se que o rio próximo a sua desembocadura é nomeado como Potiji ou Rio Grande e ao longo de seu leito e apenas denominado de Potiji. 36 Figura 7 Imagem com as nomenclaturas “Barra do Rio Grande” próximo a desembocadura do rio e “Puttigi” ao longo de seu curso. Fonte: Imagem editada do Desenho aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1616. Imagem retirada do livro de: MIRANDA, João Maurício Fernandes de. Evolução Urbana de Natal em 400 anos (1599-1999). Natal: Governo do Rio Grande do Norte/Prefeitura de Natal, 1999. p. 41. Figura 8 Imagem com as nomenclaturas “Potiji ou Rio Grande” na desembocadura do rio e “Potiji” ao longo de seu leito. Fonte: Imagem editada da Cartografia de George Marcgrave “Praefectura de Paraiba, et Rio Grande, 1643”. Referência: Disponível em: <http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/02460006)>. Acesso em: 21 jan. 2015). 37 Nas cartografias históricas e iconografias apresentadas é frequente a utilização da terminologia Rio Grande, porém também nota-se a utilização de terminologias como Pottiou, Puttigi, ou Potiji para o mesmo rio. Segundo Olavo de Medeiros Filho (2010, p. 35) nos dois primeiros séculos de colonização eram empregadas diversas outras designações para o referido rio, dentre eles: “Poitiiou, Potengi, Pottegie, Potigi, Potii, Potiou, Potingi, Potoxi, Potuxi, Pottigi...”. Apesar de suas diversas nomenclaturas, o que tanto os relatos como a cartografias de George Marcgrave deixam evidentes é a utilização de tal rio como um curso de água navegável por franceses, ingleses, portugueses e holandeses ao longo dos dois primeiros séculos de colonização da capitania. 38 2.2 TERMINOLOGIAS UTILIZADAS PARA OS ESPAÇOS DE NAVEGAÇÃO Algumas terminologias utilizadas na navegação do século XVII são bastante frequentes em documentos escritos, cartografias e iconografias da época, como é o caso da palavra porto e ancoradouro. Outras terminologias aparecem com menor frequência, porém são tão importantes quanto para a compreensão da navegação no período. A primeira nomenclatura apresentada é porto. Segundo Martín Fernández de Navarrete (1831) em seu Diccionario Marítimo Español os portos são sítios ou lugares abrigados que possuem fundeadouros ou surgidouros para ancorar navios resguardando-os das ondas e correntes marítimas. Os portos podem ser tanto naturais quanto artificiais, nesse último caso, os portos são construídos ou formados por obras hidráulicas de todas as espécies. A palavra porto era utilizada em duas situações: a primeira para indicar ambiente abrigado da influência das ondas e correntes marítimas; e a segunda para indicar local de ancoragem. A segunda terminologia apresentada é a de ancoradouros que segundo o mesmo autor são sítios ou lugares a propósito para jogar as ancoras e amarrar os navios. Poderiam ser chamados também de fundeadouro, surgidouros ou até mesmo de portos. Os ancoradouros poderiam estar localizados em um porto (ambiente abrigado) como também poderiam estar localizados em ambientes não abrigados das ondas e correntes marítimas. Analisando anotações realizadas em iconografias históricas observa-se outras terminologias também utilizadas na navegação. Na gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que sua majestade tem na costa do Brasil, de Diogo de Campos Moreno, de 1609, aparecem terminologias como água morta e baixo. Na gravura o ponto D representa à “Barra com 31 palmos d’água morta” (Figura 9). Segundo Navarrete (1831) água morta ou água serena é a água sem correnteza, sem movimento ou água parada. 39 Figura 9 Imagem ilustrando a barra do rio Potengi. Fonte: Imagem editada da Gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que sua majestade tem na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609. Na gravura o ponto F representa o “Baixo coberto” (Figura 10). A palavra baixo é uma terminologia genérica para todo ponto do mar que seja de pedra ou areia e que não há água o bastante para possibilitar a passagem de embarcações sobre ele, sendo os baixos uma das causas de encalhamentos e naufrágios de embarcações (NAVARRETE, 1831). Figura 10 Imagem ilustrando baixo coberto no rio Potengi. Fonte: Imagem editada da Gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que sua majestade tem na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609. 40 No manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1631 também aparece algumas nomenclaturas como baixa-mar, preamar e águas-vivas. No manuscrito o ponto C representa os “Recifes descobertos em baixa-mar e preamar” (Figura 11). Para Martín F. de Navarrete (1831) a palavra baixa-mar se refere ao estado do mar em seu maior recuo, chamado atualmente de maré baixa. Já a preamar se refere ao estado do mar em seu maior avanço, chamado também de maré alta. Figura 11 Imagem dos recifes descobertos em baixa-mar e preamar. Fonte: Imagem editada Manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1631. Imagem retirada do CD Nova Lusitânia História da Guerra Brasílica. 41 Ainda no mesmo manuscrito o ponto D representa uma “Pedra que se descobre em baixa-mar de águas-vivas” (Figura 12). A palavra água-viva representa água que está sempre em movimento, que está com toda sua força (NAVARRES, 1831). Figura 12 Imagem da pedra que se descobre em baixa-mar de águas-vivas. Fonte: Imagem editada do Manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho, de 1631. Imagem retirada do CD Nova Lusitânia História da Guerra Brasílica. 42 2.3 - O ESTUÁRIO DO RIO POTENGI NO SÉCULO XVII E AS APROPRIAÇÕES HUMANAS Durante o século XVII o rio Potengi foi representado em cartografias históricas portuguesas e holandesas, como as já mencionadas Praefectura de Paraiba, et Rio Grande, 1643 de George Marcgrave e o manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho, de 1631. A cartografia holandesa, nesse período, tentava representar de forma precisa os contornos físicos dos espaços, principalmente costas e rios (BLACK, 2005), porém, assim como a documentação escrita as cartografias não se ausentam de imprecisões. Relatos também foram produzidos durante essa época informando sobre a geografia do rio Potengi. Segundo Olavo de Medeiros Filho (2010), o comandante da frota holandesa Bouwen Heysen informa em seu relato que o Potengi encontrava-se a 5 graus e 42 minutos sul, uma indicação muito próxima da que temos hoje que é de 5 graus e 46 minutos sul. Dados sobre o clima nas proximidades do Potengi também foram colhidos entre os anos de 1640 a 1642. Através do livro “História Natural do Brasil” de Jorge Marcgrave, Olavo de Medeiros Filho (2010) informa que os meses de menor precipitação pluviométrica nesse período eram os meses de outubro, novembro e dezembro e os de maior precipitação eram entre os meses de março a agosto, tal como ainda ocorre na atualidade. Os ventos que predominavam eram os ventos leste e boreal, o estudo das correntes aéreas se mostravam bastante importantes para a navegação marítima da época. É provável que a observação das variações climatológicas tenham sido feitas no Castelo Keulen6 (Fortaleza dos Reis Magos), localizado na barra do rio Potengi. Na estampa holandesa Afbeeldinghe van T’fort op Rio Grande ende Belegeringhe (Planta do Forte Grande e Arredores) se observa a representação do estuário do rio Potengi no século XVII (Figura 13). Na margem direita do rio estão representados a lagoa do Jacó ou da campina, que estava ligada ao rio Potengi pelo riacho dos Corvos ou Urubus e o Castelo Keulen (Fortaleza dos Reis Magos), construído sobre o arrecife na barra do rio. Na margem esquerda estão representados o riacho Salgado (Sout Rivier) ou riacho Jaguaribe como é conhecido atualmente, casas de 6 Castelo Keulen foi a nomeação dada pelos holandeses a Fortaleza dos Reis Magos. 43 pescadores (Visschers Huysen) e um rio que é descrito como sendo navegável, que segundo Olavo de Medeiros Filho (2010) poderia se tratar do rio da Redinha que desaguava no rio Potengi até mais ou menos o ano de 1890. Tanto na margem direita quanto esquerda do rio Potengi estão representados os bancos de areia e observa-se na desembocadura do riacho dos Corvos ou Urubus e na entrada da barra do rio a presença de pedras que apresentavam riscos para a navegação. O rio Potengi, durante o século XVII, foi utilizado tanto como um espaço de passagem quanto uma via de navegação para fins comerciais e de conquista, assim como também um espaço de permanência onde embarcações ficavam ancoradas por horas ou até mesmo dias. As apropriações humanas que ocorreram nesse ambiente aquático durante o século XVII devem ser compreendidas em um espaço que tanto poderia apresentar condições naturais favoráveis à navegação, portanto não sendo necessárias intervenções humanas no ambiente, como poderia também apresentar condições apenas parciais para a navegação, sendo nesse caso necessário intervenções humanas no ambiente aquático. O rio Potengi, por tratar-se de um ambiente utilizado pelo homem durante o século XVII, abrigou uma cultura material de navegação do período que pode ser perceptível tanto em sítios de naufrágios (vestígios de embarcações) como também em outros objetos não necessariamente ligados à navegação, mas que estiveram relacionados ao cotidiano do homem daquela época, e que por algum motivo foram descartados nesse ambiente aquático. 44 Figura 13 Representação do estuário do rio Potengi no século XVII. Fonte: Imagem editada da estampa “Afbeeldinghe van T’fort op Rio Grande ende Belegeringhe” (Planta do Forte Grande e Arredores). 45 2.3.1 O PORTO DO POTENGI Os portos são exemplos de apropriações humanas em ambientes aquáticos. Na capitania do Rio Grande durante o século XVII se tinha conhecimento de diversos portos, dentre eles o porto do Rio Grande ou Potengi que é descrito como sendo o principal da capitania. O principal porto desta capitania é o mesmo Rio Grande, e depois a barra de Cunhaú. Tem ainda alguns recifes e pequenas baías, que servem para os navios e embarcações de pouco porte, como a baía Formosa, ponta da Pipa, ponta dos Búzios, ponta Negra, a baía Marten Tysson, ao norte do rio Grande [...] (Revista do Instituto Arqueológico de Pernambuco, n. 34, p. 139 apud LYRA, 2008, p. 109). Na cartografia de George Marcgrave intitulada Praefectura de Paraiba, et Rio Grade de 1643 (Figura 14) estão representados alguns desses locais que serviram como portos ou ancoradouros para embarcações. A localização da “Barra de Cunhaú”, que é evidenciada na citação acima, só foi possível através da identificação na cartografia do rio “Curematài” que desagua nessa mesma barra. Através da documentação histórica, das cartografias e iconografias que atualmente encontram-se disponíveis não é possível afirmar que ocorreram obras hidráulicas no estuário do Potengi durante o século XVII que tivessem por objetivo o melhoramento do porto. Através da análise da documentação o que podemos observar é que o estuário do rio Potengi já possuía as características naturais de um porto tanto pela existência em sua barra dos arrecifes, que diminuíam a influência das ondas e correntes marítimas, como também pelas curvas do rio Potengi ao longo de seu leito, que serviam como abrigos para as embarcações. 46 Figura 14 Representação cartográfica de alguns locais que serviram como portos e ancoradouros para embarcações na capitania do Rio Grande. Fonte: Imagem editada da cartografia de George Marcgrave intitulada Praefectura de Paraiba, et Rio Grade de 1643. 47 2.3.2 SURGIDOUROS NO RIO POTENGI E ARREDORES Os ancoradouros também chamados de surgidoros ou fundeadoros é outro tipo de apropriação humana utilizada durante o século XVII no estuário do rio Potengi. Para se obter uma melhor compreensão deste trabalho ao se referir à apropriação humana denominada de porto compreende-se o espaço abrigado da influência das ondas e correntes marítimas e ancoradouro, fundeadouro ou surgidouro como o local onde é jogado a âncora para amarrar os navios que podem sofrer influências mais significativas das ondas e correntes marítimas por não estarem necessariamente em um ambiente abrigado. Através da análise da historiografia sobre o Rio Grande do Norte, de manuscritos, de gravuras e estampas, foi possível identificar algumas zonas de apropriação de ancoragens no rio Potengi e em seu entorno. No manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho, de 1631 há evidências da possível existência de um surgidouro de navios, com profundidade de 350 pés nas proximidades do forte (Figura 16). Também na gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que sua majestade tem na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609, estão representadas nas proximidades do forte ancoras com a nomenclatura “porto”, indicando os locais onde eram fundeadas as embarcações (Figura 15). Figura 15 Imagem representando pontos de ancoragens nas proximidades da fortaleza. Fonte: Imagem editada da Gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que sua majestade tem na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609. 48 Embora tal representação da existência de três ancoradouros nas proximidades do forte se mostre mais detalhada com relação aos possíveis locais utilizados para amarrar embarcações, estas correspondem perfeitamente com a localização descrita no manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho, de 1631 que indica não somente a existência do surgidouro como também traz informações de sua profundidade. No episódio da tomada da capitania do Rio Grande pelos holandeses no dia 8 de dezembro de 1633 também há relatos do grupo que seguiu por mar, em navios sob o comando de Jan Cornelissen Lichthart conduzidos por Van Ceulen, as quais forçaram a entrada na barra do rio Potengi e encontraram junto ao forte duas embarcações fundeadas que foram abandonadas pelos seus tripulantes portugueses, sendo essas embarcações capturadas e incorporadas a esquadra flamenga (MEDEIROS FILHO, 2010), fato que também reforça a possível existência de ancoradouros nas imediações do forte durante o século XVII. Desta forma a primeira zona de apropriação de ancoragens (ZAA-01) identificada estava localizada nas proximidades do forte. Figura 16 Imagem do surgidouro de navios com profundidade de 350 pés nas proximidades do forte. Zona de Apropriação de Ancoragens (ZAA-01). Fonte: Imagem editada do Manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1631. Imagem retirada do CD Nova Lusitânia História da Guerra Brasílica. 49 Através da estampa Verovinge Van Rio Grande in Brasil, anno 1633 de Isaak Commelyn, que representa o episódio da conquista da capitania do Rio Grande pelos holandeses, foi possível perceber que o grosso da esquadra holandesa ancorou em uma das curvas do rio Potengi próximo a antiga lagoa do Jacó (Figura 17). Desta maneira, a segunda zona de apropriação de ancoragens (ZAA-02) identificada estava localizada nas imediações do antigo riacho dos Corvos ou Urubus que segundo Medeiros Filho (2010) corresponde ao nosso atual Canto do Mangue. Figura 17 Imagem da esquadra holandesa ancorada em uma das curvas do rio Potengi. Zona de Apropriação de Ancoragens (ZAA-02) Fonte: Imagem editada da estampa Verovinge Van Rio Grande in Brasil, anno 1633 de Isaak Commelyn. Ainda no estuário do Potengi, foi identificado uma terceira zona de apropriação de ancoragens (ZAA-03) que segundo o manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1631 indica a existência de um “surgidouro de navios que vêm acima” que estava localizado nas proximidades da povoação do Natal (Figura 18). 50 Figura 18 Imagem do surgidouro de navios que vêm acima. Zona de Apropriação de Ancoragens (ZAA-03). Fonte: Imagem editada do Manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1631. Imagem retirada do CD Nova Lusitânia História da Guerra Brasílica. Quando da conquista holandesa da capitania do Rio Grande no ano de 1633 parte das tropas invasoras seguiu por terra e a outra parte seguiu por mar com a finalidade de penetrar o rio Potengi em embarcações. As tropas que seguiram por terra desembarcaram em uma angra ao norte da Ponta Negra que segundo Medeiros Filho, (2010) compreende o trecho sul da atual praia de Areia Preta. Ainda sobre a marcha holandesa por terra, na fonte holandesa Diário da Expedição, de autor anônimo, fica evidenciado a existência de uma zona de ancoragens na angra já citada: Continuando a marcha na ordem prescrita, na distância de dois tiros de mosquete da praia, e sendo informados de que a mesma, além de muito estreita, na preamar ficava alagada, dirigimo-nos para o interior por um passo, que também estava entrincheirado. Chegados ao planalto, divisamos ao largo uma vela aproando para os nossos navios ancorados na angra, e logo presumimos fosse o Pegassus com a companhia de Mansvelt; mas não esperávamos por ela e prosseguimos a marcha. (ANÔNIMO apud LYRA, 2008, p. 80) 51 Desta maneira foi identificado uma quarta zona de apropriação de ancoragens (ZAA-04) na angra ao norte da Ponta Negra (atual praia de Areia Preta), localizado fora do estuário do rio Potengi, porém nas proximidades de sua desembocadura. A existência de tais ancoradouros também são evidenciados na estampa holandesa Verovinge Van Rio Grande in Brasil, anno 1633 de Commelyn da qual se observa navios holandeses fundeados no oceano próximos ao rio Potengi (Figura 19). Sendo a zona de apropriação de ancoragens (ZAA-04) a única não abrigada no porto do rio Potengi. Figura 19 Imagem das embarcações holandesas ancoradas fora do estuário do rio Potengi. Zona de Apropriação de Ancoragens (ZAA-04). Fonte: Imagem editada da estampa Verovinge Van Rio Grande in Brasil, anno 1633 de Commelyn. 52 2.3.4 O PORTO DE PESCARIA DO POTENGI, PORTINHO DE DIRCK MULLER E O FORTE DOS REIS MAGOS Foram também identificadas a partir das fontes escritas, cartografias e iconografias, outras apropriações referentes ao século XVII, dentre elas há evidências da existência de um porto de pescaria no rio Potengi que tinha por finalidade abastecer a Fortaleza dos Reis Magos com pescados para o consumo da guarnição portuguesa. Segundo Medeiros Filho (2010, p. 35) “Tal peixe achava-se armazenado sob a forma de peixe seco, em algumas casinhas de pescadores”. Através da estampa holandesa Afbeeldinghe van T’fort op Rio Grande ende Belegeringhe (Planta do Forte Grande e Arredores) observa-se a representação das casinhas dos pescadores próximas ao riacho Salgado (Figura 20). Ainda segundo Medeiros Filho (2010) quando os holandeses conquistaram a capitania do Rio Grande o general Van Ceulen soube da existência do estoque de peixes, mandou apreendê-lo e ordenou o seu transporte para a embarcação holandesa Overyssel. Os peixes apreendidos pertenciam ao capitão-mor que tinha por objetivo vende-los às duas embarcações portuguesas que estavam fundeadas no rio Potengi, a cada cinco peixes pescados quatro eram para o capitão-mor e apenas um era para o pescador, porém a abundância do pescado era tão grande nesse rio que os pescadores se sujeitavam a imposição (CARVALHO apud MEDEIROS FILHO, 2010). Figura 20 Representação das casinhas dos pescadores próximas ao riacho Salgado. Fonte: Imagem editada da Afbeeldinghe van T’fort op Rio Grande ende Belegeringhe (Planta do Forte Grande e Arredores). 53 Na Descrição do Rio Grande de Domingos da Veiga (apud LYRA, 2008, p. 58) foi possível perceber essa abundância de peixes no rio Potengi “É este rio o mais fértil de peixes que há na Bahia, digo no Brasil, e nele se faz muito grandes pescarias. E as mesmas pelas costas no verão de que vai muito peixe salgado a Paraíva e a Pernambuco”. A existência de um porto de pescaria no rio Potengi também é evidenciado segundo (MEDEIROS FILHO, 2010) no Translado do auto da repartição de terras capitania do Rio Grande que informa da existência de um porto de pescaria defronte para a fortaleza. Na gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que sua majestade tem na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609 aparece a nomenclatura Rede possivelmente indicando o local de prática da pescaria durante o século XVII no rio Potengi. Para Medeiros Filho (2010) o local do porto de pescaria corresponde a nossa atual praia da Redinha (Figura 21). Desta forma a zona de apropriação do porto de pescaria (ZAPP-01) no estuário do rio Potengi compreende a atual praia da Redinha defronte ao forte, englobando também a zona de apropriação de ancoragens (ZAA-01), já que esses ancoradouros possivelmente foram utilizados para fins de pesca. Figura 21 A nomenclatura “Rede” na gravura indica possivelmente o local de prática da pescaria no rio Potengi. Zona de Apropriação do Porto de Pescaria (ZAPP-01) Fonte: Imagem editada da Gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que sua majestade tem na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609. 54 Olavo de Medeiros Filho ao referir-se ao episódio da morte do alemão Jacob Rabbi no ano de 1646 por meio das crônicas holandesas, evidencia a existência de um portinho pertencente a Dirck Muller ou Rodrigo Moleiro em um dos riachos que constituem o atual estuário do rio Potengi. Segundo o autor, a casa de Muller ficava a três léguas do forte por via fluvial a margem direita do riacho Guajaí, local onde estava localizado o portinho. O riacho Guajaí, nossa zona de apropriação (ZAPM-01) foi representado na cartografia holandesa de George Marcgrave Praefectura de Paraiba, et Rio Grade de 1643 (Figura 22). Segundo Medeiros Filho (1989) o antigo “portinho” de Dirck Muller corresponde ao atual porto da casqueira no riacho do Rego Moleiro. Figura 22 Representação do riacho Guajaí. Zona de Apropriação do Portinho de Muller (ZAPM-01). Fonte: Imagem editada da cartografia de George Marcgrave intitulada Praefectura de Paraiba, et Rio Grade de 1643. 55 A única apropriação humana no estuário do Potengi durante o século XVII que se tem claras evidências que resultou na alteração do ambiente natural pelo homem ocorreu nos arrecifes na barra do rio Potengi, que serviu como base solida de sustentação para a edificação da Fortaleza dos Reis Magos. Durante o século XVI os danos causados pelos franceses pelo roubo de embarcações e pela relação amistosa que possuíam com os potiguares fez com que retardasse a colonização sistemática portuguesa, sendo necessário expulsar os franceses e construir um forte na capitania do Rio Grande. Segundo o Frei Vicente de Salvador: Informado Sua majestade das cousas da Paraíba, e que todo o dano lhe vinha do Rio Grande, onde os franceses iam comerciar com os potiguares, e dali saíam também a roubar os navios, que iam e vinham de Portugal, tomando-lhes não só as fazendas, mas as pessoas, e vendendo-as aos gentios, para que as comessem, querendo atalhar a tão grandes males, escreveu a Manuel Mascarenhas Homem, capitão-mor em Pernambuco, encomendando-lhe muito que logo fosse lá fazer uma fortaleza e povoação, o que tudo fizesse com o conselho e ajuda de Feliciano coelho[...] (SALVADOR,1975, p.267) A escolha da barra do rio Potengi para a edificação da fortaleza se deveu pela sua posição estratégica, o que garantiu uma construção de características clássicas de forte marítimo. Da Fortaleza podia ver as matas no seu entorno, o oceano e o rio Potengi, o que possibilitava um maior controle do fluxo de embarcações que entravam e saiam da barra do rio e garantia uma visão estratégica no caso de tentativas de invasões estrangeiras a capitania. Diogo de Campos na Razão do Estado do Brasil ao se referir a posição do forte deixa claro que: A fortaleza dos Reis está em cinco graus da Equinocial; ao sul tem o assento e sítio que se vê na sua planta fol. 124, e por natureza olha ambas as costas deste Estado, assim a do norte a sul, como a de leste e oeste, até o Maranhã, donde se acaba nossa conquista; pelo qual respeito foi este porto o mais desmandado, e mais defendido dos corsários que outro do Brasil; porquanto vinham aqui do resgate da Mina a sarar das enfermidades de Guiné, e consertando suas naus, e fornecendo de mantimentos, água e lenha, que lhes davam os índios nesta parte, aportavam depois onde lhes parecia, o que hoje não podem fazer com tanto cômodo por razão desta fortaleza, a qual também importa para favorecer nossos navios [...] (CAMPOS apud LYRA, 2008, p. 51) 56 Os arrecifes sobre os quais foi edificada a fortaleza dos Reis Magos são representados em diversas cartografias e descrito em alguns relatos do século XVII. Dentre esses relatos pode ser citada a Descrição do Rio Grande de Domingos da Veiga (apud LYRA, 2008, p. 57) que evidencia que: “A fortaleza do rio Grande é a maior e mais bem traçada que há no estado do Brasil, está situada na terra firme sobre arrecifes da banda do sul do rio, mas de modo que de maré cheia fica por todas as partes rodeada de mar e de águas vivas; se não pode ir a ela se não depois que abaixa a maré”. Na gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que sua majestade tem na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609 através das anotações feitas no próprio desenho tem-se conhecimento que o ponto marcado com a letra A representa o “Verdadeiro retrato da fortaleza na rocha e no recife em pequeno”. (Figura 23) e no manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1631 o ponto C indica “Recifes descobertos em baixa-mar e preamar” (Figura 11). Figura 23 Representação da fortaleza na rocha e no recife em pequeno. Fonte: Imagem editada da Gravura Relação das praças-fortes, povoações e causa de importância que sua majestade tem na costa do Brasil de Diogo de Campos Moreno de 1609. Na estampa holandesa Afbeeldinghe van T’fort op Rio Grande ende Belegeringhe (Planta do Forte Grande e Arredores) observa-se a representação tanto dos arrecifes como do Castelo Keulen. (Figura 24). O mesmo pode ser observado na obra 57 Fort Ceulen (1637) do pintor holandês Frans Post, da qual nota-se o forte ao fundo e os arrecifes à esquerda da imagem (Figura 25). Figura 24 Representação do arrecife na desembocadura do rio Potengi. Fonte: Imagem editada da estampa Afbeeldinghe van T’fort op Rio Grande ende Belegeringhe (Planta do Forte Grande e Arredores). Figura 25 Representação dos arrecife na desembocadura do rio Potengi e do Castelo Keulen. Fonte: Imagem editada do Fort Ceulen (1637) do pintor holandês Frans Post. Imagem retirada do CD Nova Lusitânia História da Guerra Brasílica. 58 Através de relatos produzidos durante o século XVII pelos holandeses tem-se indícios da existência de um poço na parte interna da fortaleza que foi perfurado no arrecife com o intuito de se obter água limpa. Diogo de Campos na obra Razão do Estado do Brasil de 1612 nega a existência de qualquer estrutura no forte que tivesse tal objetivo, muito pelo contrário, ele relata a dificuldade que se tinha de abastecer a fortaleza com tal líquido (CAMPOS apud LYRA, 2008, p. 54) “Toda esta fortaleza do Rio Grande está por acabar [...] não tem poço nem cisterna, nem fonte, antes com muito trabalho, todos os dias, se provêm de muito longe, em vasilhas de água ou de cacimbas da praia”. Ao se referir aos motivos que levaram o forte a se render mediante a invasão holandesa (CASCUDO, 1955 p. 73) coloca que um dos motivos foi a ausência de uma cisterna capaz de abastecer a guarnição “O Forte não tinha água, faltava-lhe cisterna, já notada anos antes nas descrições oficiais. Acima de tudo houve um fator determinante. Existiam dunas que ficavam a cavaleira do forte.” Ao se referir ao relatório de H. Hamel, Adriaen van Bullestrate e P. Jansens Bas de 1646 que trata da fortaleza José Antonio Gonsalves de Mello (apud MEDEIROS FILHO, 1997, p. 26-27) deixa claro que: E que no interior da praça do mesmo há uma certa capelinha; na qual recentemente foi achado um poço na mencionada rocha ou arrecife, tendo em cima a largura de um pé e meio e em baixo com um contorno de três pés, o qual poço sempre produz e fornece água limpa, boa e potável, em todas as marés, a saber: com maré baixa cerca de 225 Kannen (1 kan= cerca de um litro) e com maré alta 350 Kannen, mais do dobro do que seria necessário para manter a guarnição em caso de assédio; supõese que a razão de um arrecife, que se estende pelo mar, produzir água doce, é que embaixo do arrecife deve haver areia conchíferas porosas, que purgam a água do mar da salinidade e assim a destilam, por algumas rachas ou fendas, para dentro do poço. Através dos relatos supõe-se que a perfuração do poço na rocha ou no arrecife se deu após o ano de 1612, depois da produção da obra Razão do Estado do Brasil de Diogo de Campos. O poço faz parte de uma estrutura maior construída que é a fortaleza, desta forma a área correspondente ao arrecife sobre a qual foi edificada a referida construção é a nossa zona de apropriação (ZAF-01) (Figura 26). 59 Figura 26 Representação da área correspondente aos arrecifes sobre os quais foi construída a fortaleza. Zona de Apropriação do Forte (ZAF-01). Fonte: Imagem editada do Manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1631. Imagem retirada do CD Nova Lusitânia História da Guerra Brasílica. 60 2.4 TIPOLOGIA DAS EMBARCAÇÕES Através da tipologia das embarcações compreende-se melhor os tipos de embarcações que eram utilizadas para navegar no rio Potengi durante o século XVII e a cultura material que estava relacionada a navegação no período. No século XVI Gabriel Soares de Souza no Tratado descritivo do Brasil de 1587 deixa claro que o rio Grande ou Potengi poderia acomodar embarcações de todos os portes: “Neste Rio Grande podem entrar muitos navios de todo o porte, porque tem a barra funda de dezoito até seis braças, e entra-se nele como pelo arrecife de Pernambuco, por ser da mesma feição.” (SOUZA, 2000, p. 40). No século XVII Domingos da Veiga em sua Descrição do Rio Grande também deixa claro que: “Não pode entrar pela barra mais que um navio como em o recife de Pernambuco, porém de qualquer parte que seja poderá entrar por ser esta barra muito mais funda” (VEIGA apud LYRA, 2008, p. 57) confirmando que a barra do rio Potengi durante os séculos XVI e XVII possuía uma profundidade considerável a ponto de entrar no estuário embarcações de grande porte, como bem é representado em cartografias e iconografias do século XVII. No manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho,j de 1631 estão representadas embarcações ao longo do rio Potengi que pelas suas tipologias tratavamse de naus portuguesas comumente utilizadas durante os século XVI e XVII, apresentando gurupés, castelo de popa e de proa, velas redondas no mastro do traquete e no mastro grande e vela latina no mastro da mezena (Figura 27). Segundo Francisco C. Domingues (p. 50) sobre as naus portuguesas: As naus de Quinhentos típicas tinham três ou quatro cobertas, castelos de popa e proa cuja arquitetura estava perfeitamente integrada na estrutura do casco, e três mastros com pano redondo nos de vante (traquete e grande), e latino no de ré (mezena). Os construtores navais ainda no século XVII disputavam sobre a vantagem das naus de três cobertas sobre as de quatro, e vice-versa, o que entre outros factores tinha a ver com a tonelagem. 61 Figura 27 Imagem de uma nau portuguesa. Fonte: Imagem editada do Manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1631. Imagem retirada do CD Nova Lusitânia História da Guerra Brasílica. As caravelas, termo genérico utilizado para uma grande variedade de tipologias de embarcações, também eram bastante comuns durante o século XVII. Segundo Francisco C. Domingues (p. 23) “A palavra caravela encontra-se de 1255 a 1766 em documentos portugueses, e mais não seria preciso para se subentender a grande variedade de tipos arquitetônicos e funcionais agrupados sob este termo genérico”. Dentro desse termo genérico estão as embarcações portuguesas conhecidas como caravela latina (Figura 28), utilizada durante o século XV nas viagens de exploração do Atlântico. Este tipo de embarcação de dois a três mastros, nos quais envergava pano latino e possuía castelo de popa, chegavam a ter entre 20 e 30 metros de comprimento tendo capacidade de carga entre 80 a 130 toneladas (RIBEIRO, 2013), e a caravela redonda ou de armada (Figura 29) que surgiu no final do século XV, possuía quatro mastros sendo que no traquete envergava o pano redondo e nos demais o pano latino. Possuía castelo de popa e de proa, tinha uma capacidade de carga entre 180 e 240 toneladas e podia embarcar cerca de vinte peças de artilharia. 62 Figura 28 Imagem de uma caravela latina portuguesa. Fonte: Disponível em: <http://www.causamerita.com/descob_embarc_1.htm>. Acesso em: 28 mar. 2015. Figura 29 Imagem de uma caravela redonda portuguesa. Disponível <http://www.causamerita.com/descob_embarc_1.htm>. Acesso em: 28 mar. 2015. em: 63 Na estampa holandesa Verovinge Van Rio Grande in Brasil, anno 1633 de Commelyn que representa o episódio da conquista da capitania do Rio Grande pelos holandeses foi possível perceber várias tipologias de embarcações dentro e fora do estuário do rio Potengi. Próximo ao forte estão representadas duas embarcações que pelos relatos tratavam-se de “caravelas” portuguesas abandonadas pela tripulação mediante a investida holandesa. Segundo Tavares de Lyra (2008) as duas embarcações apreendidas pelo almirante holandês Lichthardt possivelmente pertenciam a expedição de Francisco Vasconcelos da Cunha. Analisando a estampa o que podemos concluir é que as embarcações descritas como “caravelas” na estampa são representadas com características de naus portuguesas (Figura 30) possuindo gurupés, castelo de popa e de proa, velas redondas no mastro do traquete e no mastro grande e vela latina no mastro da mezena. Segundo Tavares de Lyra (2008, p. 88-89) uma das embarcações portuguesas que foram abandonadas no rio Potengi possuía canhões: A 14, faziam descarregar as caravelas que Lichthardt apreendera ao chegar, continuavam o inventário começado na véspera, transferiam o seu acampamento para Natal, ponto que julgaram preferível para melhor vigiar a terra, e deixavam no forte apenas uma companhia para guarnece-lo [...] A 17, retiraram duas peças de bronze, ainda existentes em uma das caravelas, e os mastros de ambas, levantavam a planta da entrada da barra e do rio [...] Figura 30 Naus portuguesas no estuário do Potengi apreendidas por holandeses. Fonte: Imagem editada da estampa Verovinge Van Rio Grande in Brasil, anno 1633 de Isaak Commelyn. 64 Na estampa holandesa Verovinge Van Rio Grande in Brasil também estão representadas embarcações da esquadra holandesa. Segundo Rocha Pombo (1922, p. 92) “Compunha-se de 11 embarcações a esquadrilha, sendo 4 navios grandes e 7 patachos”. Através da imagem podemos identificar entre as maiores embarcações galeões holandeses fundeados tanto fora do rio Potengi (Figura 19) quanto dento do estuário, próximos ao antigo riacho dos Corvos ou Urubus (Figura 17), porém pela estampa não fica evidente a existência de embarcações do tipo patacho. Os galeões são embarcações que apresentam gurupés, castelo de popa e de proa, popa em formato quadrado, quatro mastros e uma quantidade considerável de canhões a bordo (Figura 31). Segundo William C. Cesar: Das pequenas e manobreiras caravelas portuguesas e naus ibéricas, evolui-se para carracas e os galeões de meados do século XVI. Este último, que no século XVII chegou a montar mais de três mastros, tornou-se um navio legendário de extraordinário armamento e manobra ligeira que poderia servir simultaneamente como mortífero navio de guerra e eficaz navio mercante. (CESAR, p. 25) Figura 31 Galeões holandeses fundeados fora do rio Potengi. Fonte: Imagem editada da estampa Verovinge Van Rio Grande in Brasil, anno 1633 de Commelyn. 65 De acordo com D. João de Castro (apud DOMINGUES, p. 57) os galeões portugueses se diferenciavam das naus por possuírem quatro mastros sendo no mastro grande e no traquete erguidos panos redondos e no mastro de mezena e contra-mezena panos latinos (Figura 32); já a nau era dotada de três mastros com pano redondo no mastro grande e no mastro do traquete e pano latino no mastro da mezena. Embora exista essa diferenciação entre naus e galeões, em alguns casos uma mesma embarcação era citada na documentação portuguesa ora como sendo “nau”, ora como sendo “galeão”. Ainda segundo Francisco C. Domingues (p. 69) “[...] mesmo em documentos técnicos é frequente que uma mesma embarcação seja designada por nau e por galeão, garantindo-nos que a distinção não era completamente clara para os homens do tempo”. Figura 32 Imagem de uma nau e um galeão português. Fonte: Tábuas dos Roteiros da Índia de D. João de Castro. Imagem retirada do livro de: DOMINGUES, Francisco Contente. Navios Portugueses dos séculos XV e XVI. Porto: Câmara Municipal da Vila do Conde e Museu de Vila do Conde. p.56. A dificuldade de distinguir os tipos de embarcações durante o século XVI e XVII não era um problema referente apenas às tipologias de naus e galeões, mas abrangia diversas outras tipologias. Sobre isso Fernando Oliveira (apud DOMINGUES, p.69) coloca que “Os nomes das em espécies, ou maneiras dos navios e barcos, assim de 66 um género como do outro, são quase incompreensíveis, assim por serem muitos, como pela muita mudança que fazem de tempo, e de terra em terra. Para Marques Esparteiro (apud RIBEIRO, 2013, p.158) o galeão era “muitíssimo superior à nau como navio de guerra, de vela, em poder ofensivo, manobra, velocidade e em bolina” sendo o galeão uma embarcação mais especializada em combate do que em cargas, embora fosse inegável que servia para a guerra sem nunca ter deixado de ser empregado no transporte de mercadorias. Os galeões por serem embarcações especializadas em combate levavam canhões em suas cobertas. Segundo William C. Cesar (p. 25-26) foi a partir do século XIV que os canhões começaram a ser levados para os navios, inicialmente os canhões de pequeno porte que eram utilizados para matar homens (canhões men killers), mas que eram incapazes de causar grandes danos à estrutura das embarcações inimigas. Com o surgimento das portinholas, pequenas aberturas ao longo do costado, foi possível colocar canhões nos conveses inferiores de maior calibre capazes de destruir embarcações (canhões ship killers). Os canhões passaram a ser colocados em berços sobre rodas o que facilitava o seu reposicionamento e seu transporte (Figura 33). Figura 33 Imagem representando da portinhola, e o canhão alojado no berço sobre rodas. Fonte: Acervo DPHDM. Imagem retirada do artigo de: CESAR, William Carmo. Velas e canhões no expansionismo holandês do século XVII. Revista Navigator, n. 10, p. 23-37. 67 Segundo Tavares de Lyra (2008) a esquadra holandesa enviada para conquistar a capitania do Rio Grande em 1633 era composta por onze embarcações sendo elas: Overyssel (navio com 26 canhões), Teer Weer. De Vlaermuis, Campen (navio com 22 canhões), Pernambuco, Naerden, Pegasus, De Leenwerick, De Spieringh, De Vos e Ceulen. As embarcações Naerden, Pegasus e De Vos ficaram fora do estuário enquanto que as demais embarcações forçaram a barra subindo o rio Potengi. No Diário de Expedição de autor anônimo, é relatado o confronto entre o navio Overyssel e as tropas do forte: À tarde transportou-se o sr. von Ceulen para bordo do Overyssel, fazendo o inimigo alguns tiros, indo cair uma das balas junto à proa do Overyssel, o que Joachim Gysen não quis deixar passar sem resposta, e fez quatro ou cinco disparos contra o forte, com pontaria certeira, que varou algumas das casas. Retorquindo, os contrários lançaram uma palanqueta na câmara do Overyssel, fazendo voar estilhaços e uma tina de água sobre o sr. von Ceulen e os outros capitães que com ele estavam jantando, sem contudo molestar ou ferir ninguém; mas, acertasse o tiro um pouco mais acima, e teria levado do sr. von Ceulen ambas as pernas. (ANÔNIMO apud LYRA, 2008, p. 81). Na estampa holandesa Verovinge Van Rio Grande in Brasil também estão representadas três batéis holandeses movidos a remo guiando as embarcações portuguesas abandonadas próximo ao forte (Figura 34). Os batéis eram embarcações menores que eram transportados em embarcações de grande porte. As embarcações auxiliares ou de menor porte eram utilizadas para sondar as condições de abrigo para as naus, no desembarque de contingentes, exploração costeira e no auxílio de navios maiores, afim de evitar encalhamentos em rios (DOMINGUES). Outro tipo de pequena embarcação também utilizada é a canoa, segundo Martín F. de Navarrete (1831) as canoas são pequenas embarcações construídas de um único tronco de árvore muito comuns na América. Esse tipo de canoa construída de apenas um tronco é de origem indígena e atualmente conhecida como canoas monóxilas. Utilizada no Potengi durante o século XVII a canoa foi representada na obra Fort Ceulen de1637 do pintor holandês Frans Post, da qual é observada no lado direita da imagem (Figura 35). Olavo de Medeiros Filho ao se referir ao portinho de Dirck Muller deixa evidente a importância da canoa como um instrumento de navegação: 68 Subiram em canoas o Rio Grande até o “portinho” de Dirck Mulder, cerca de três léguas acima do Forte, onde desembarcaram. Dalí seguiram por terra até as ruínas da casa incendiada do bailio Houck, uma légua adiante, onde, pelo meio-dia, descansaram à margem do riacho Paboena. (CARVALHO apud MEDEIROS FILHO, 1989, p.88) Figura 34 Imagem de batéis adentrando o rio Potengi guiando as duas embarcações portuguesas. Fonte: Imagem editada da estampa Verovinge Van Rio Grande in Brasil, anno 1633 de Commelyn. Figura 35 Imagem de uma canoa próximo ao Castelo Keulen. Fonte: Imagem editada do Fort Ceulen (1637) do pintor holandês Frans Post. Imagem retirada do CD Nova Lusitânia História da Guerra Brasílica. 69 CAPÍTULO 3 – PASSADO E PRESENTE DO ESTUÁRIO DO RIO POTENGI: PERTURBAÇÕES DO CONTEXTO ARQUEOLÓGICO NOS SÉCULOS XX E XXI E ZONEAMENTO ARQUEOLÓGICO SUBAQUÁTICO 3.1 – O CONTEXTO ARQUEOLÓGICO DO ESTUÁRIO DO POTENGI: TRANSFORMAÇÕES E PERTURBAÇÕES O trabalho do arqueólogo é dividido em três fases, sendo elas: a fase prévia ao campo, a fase de campo e a posterior ao campo, ou em laboratório. Antes dos arqueólogos iniciarem a escavação de qualquer sítio histórico, independente do ambiente em que estejam localizados, devem ter em mente a delimitação do espaço a ser estudado, bem como devem fazer um levantamento de informações sobre o contexto histórico e ambiental desse espaço, a fim de delimitarem as áreas de maior potencial arqueológico, sendo essa a chamada fase prévia ao campo. A fase de campo consiste primeiramente na prospecção inicial do espaço estudado, posteriormente, de acordo com os objetivos propostos pela pesquisa escolhem-se o local ou sítio a ser escavado, resultando na coleta de vestígios materiais; por fim temos a fase posterior ao campo, que consiste na análise laboratorial dos vestígios matérias coletados em campo e a divulgação dos resultados das pesquisas por meio de publicações. Além de ser delimitado o espaço estudado e de ser feito um levantamento de informações sobre o contexto histórico e ambienta, nesse trabalho, também foi levado em conta as alterações sofridas na paisagem do estuário do rio Potengi ao longo do tempo. Segundo Charles Orser Jr.(2000) um dos problemas de se escavar sítios históricos é que muitas das técnicas de construções utilizadas por povos históricos resultam na destruição de vestígios de ocupações anteriores, causando perturbações no contexto arqueológico. Ainda para o mesmo autor o contexto arqueológico se refere a localização exata do artefato em termos horizontais e verticais de um sítio. Como já foi mencionado anteriormente no primeiro capítulo, entre os anos de 1902-2011 o estuário do Potengi passou por uma série de intervenções humanas que 70 modificou de forma considerável sua morfologia, causando assoreamento e erosão ao longo da sua margem causadas principalmente pelas obras fixas como o Dique da Limpa e os espigões e intervenções mais diretas como as obras de dragagem e derrocagem. Todas essas obras visam melhorar o acesso ao Porto de Natal, dando mais acessibilidades as embarcações que pelo rio Potengi navegam. Porém essas obras resultaram na destruição de vestígios matérias e na perturbação do contexto arqueológico. 3.1.1– OBRAS NO ESTUÁRIO DO RIO POTENGI (1902-2011) Os portos que estão localizados no interior dos estuários sofrem com o problema do assoreamento, causado pelo depósito de sedimentos de origem fluvial, marítima, contribuição eólica, retorno do material dragado, entre outros. Para solucionar o problema, visando a acessibilidade aos portos são realizadas intervenções humanas como obras de dragagens, derrocagens, espigões, entre outros (BARBOSA,1983). No caso do estuário do rio Potengi o assoreamento do seu canal de acesso ocorre principalmente pela contribuição do Banco das Velhas, contribuição do transporte litorâneo, pela insuficiência da velocidade das correntes em expulsar o material depositado, pela retenção dos sedimentos pelos arrecifes existentes na Barra e pelo retorno do material dragado. Sobre o retorno do material dragado Sandra Maria de S. Barbosa (1983, p.171) coloca que: Houve retorno do material dragado para o canal de acesso, principalmente em 1967, quando praticamente todo material retornou, necessitando o canal de ser dragado novamente em 1968. Essas informações foram obtidas entre os moradores locais e não estão documentadas. Dentre as intervenções humanas realizadas para conter o assoreamento são as obras de dragagens e derrocagens as que maior causam impactos imediatos a morfologia do estuário. A dragagem é um processo de retirada do sedimento do leito do rio aumentando sua profundidade. Através da Tabela de Relação das Obras Executadas no Estuário do Potengi e da Tabela de Evolução das Obras no Estuário de 1902 a 1982 apresentadas no trabalho de Sandra Maria de S. Barbosa e dados colhidos no site da CODERN foi elaborada a (Tabela 1) com a relação das obras de dragagem, que se tem registro, realizadas entre os anos de 1902-2011. 71 ANO INTERVENÇÕES 1902 Dragagem no canal de acesso. 1922 Dragagem na bacia de evolução. 1955 Dragagem no canal de acesso da Barra. 1966 Dragagem no canal de acesso, na projeção do Banco das Velhas. 1967 Dragagem do canal de acesso e bacia de evolução. 1968 Dragagem do canal de acesso e Base Naval. 1972 Dragagem do canal de acesso, na projeção do Banco das velhas. 1997 Dragagem do canal de acesso e da bacia de evolução. 2011 Conclusão da dragagem no canal de acesso. Desta forma foi concluído, pelos registros disponíveis, que a área que possivelmente sofreu maior impacto pelas obras de dragagem no estuário do rio Potengi foi o canal de acesso atual (AI.Drag-01), sendo consequentemente a área de maior perturbação do contexto arqueológico (Figura 36). Figura 36 Representação da área dragada do canal de acesso ao Porto de Natal (AI.Drag-01). Fonte: Imagem editada da Carta Náutica 802 de 2008. 72 Dentre as obras de derrocagem que ocorreram no estuário do rio Potengi entre os anos de 1903- 2011 foram realizadas a derrocagem na Ponta do Picão, a derrocagem parcial da Ilha da Baixinha e da Pedra da Limpa, melhorando o acesso das embarcações na entrada da Barra (BARBOSA, 1983) e modificando parte do canal de acesso, sendo essa área (AI.Der-01) a que sofreu maior impacto com as obras de derrocagem (Figura 37). Figura 37 Área que sofreu maior impacto com as obras de derrocagem no estuário do rio Potengi (AI. Der-01). Fonte: Imagem retirada da Tese de: BARBOSA, Sandra Maria de Souza. Análise Histórica e Morfológica do Estuário do Rio Potengi e litoral adjacente da Região de Natal – Rio Grande do Norte. Tese (Pós Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Rio de Janeiro, 1983, p. 50. 73 De acordo com a Tabela de Relação das Obras Executadas no Estuário do Potengi, a Tabela de Evolução das Obras no Estuário de 1902 a 1982 e o site da CODERN segue abaixo a (Tabela 2) com as obras de derrocagem no estuário do rio Potengi entre os anos de 1903-2011. ANO INTERVENÇÕES 1903 Derrocagem da Baixinha. 1923 Derrocagem parcial da Baixinha. 1956 Derrocagem da extremidade da Ponta do Picão. 1956 Derrocagem da Pedra da Limpa. 1971 Derrocagem de um trecho da Pedra da Baixinha. 1982 Derrocagem na entrada da Barra (Canal de Acesso). 2011 Derrocagem na Barra. As intervenções chamadas de obras fixas também causam impactos na morfologia dos rios. No estuário do rio Potengi foram construídas obras fixas (Figura 38) como espigões, que tem por objetivo direcionar o fluxo das correntes marítimas e os diques, obras responsáveis pela contenção das areias, tal como o Dique da Limpa (Figura 39), que tem por objetivo conter e eliminar parcialmente o Banco das Velhas (Figura 40) e a ponte Newton Navarro que tem seus pilares projetados para dentro do estuário do rio Potengi (Figura 41). Figura 39 Imagem do Dique da Limpa. Fotografia de: Miranda, 2015. Coordenadas em UTM: 25M0256722/9363320. 74 Figura 38 Localização das Obras Fixas realizadas até a década de 1980. Fonte: Imagem retirada da Tese de: BARBOSA, Sandra Maria de Souza. Análise Histórica e Morfológica do Estuário do Rio Potengi e litoral adjacente da Região de Natal – Rio Grande do Norte. Tese (Pós Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Rio de Janeiro, 1983, p. 42. 75 Figura 40 Banco das Velhas no estuário do rio Potengi. Fonte: Imagem editada da Carta Náutica 802 de 2008. Figura 41 Ponte Newton Navarro no estuário do rio Potengi. Fotografia de: Miranda, 2015. 76 De acordo com a Tabela de Relação das Obras Executadas no Estuário do Potengi e da Tabela de Evolução das Obras no Estuário de 1902 a 1982 segue abaixo a (Tabela 3) com algumas das obras fixas que ocorreram no estuário do rio Potengi entre os anos de 1927 a 1960. ANO INTERVENÇÕES 1927 Dique da Limpa em construção. 1929 Dique da Limpa construído e espigões nº 1 ao 9 construídos. 1947 Construído o espigão defletor E-1A. 1949 Construído os espigões E-2ª, E-3ª e E-4ª. 1956 Prolongamento do espigão E-9, chamado de Guia Corrente da Redinha. 1960 Alteamento e reforço do Dique da Limpa. Observa-se que com a construção do Dique da Limpa durante a década de 1920 houve um recuo da Barra do rio Potengi de aproximadamente 200 m (SPENCER, 1999), essa faixa de terra que durante o século XVII se encontrava submersa atualmente encontra-se assoreada (Figura 42). Na margem esquerda do estuário do rio Potengi onde foram construídos espigões se observou que a área passou a ser bastante erodida, chegando a destruir casas e ruas (BARBOSA, 1983). Figura 42 Assoreamento causado pela construção do Dique da Limpa. Fonte: Relatório Final Projeto Arqueológico Ponte de Natal: Reconhecimento e Resgate. Natal: 1999, p. 13). 77 O espigão E-9 que ficou conhecido como Guia Corrente da Redinha ou Dique da Redinha passou por alguns prolongamentos ao longo dos anos. Atualmente sua extensão chega até a Baixinha (Figura 43). Desta forma foi observado que embora essas obras fixas tenham conseguido diminuir o volume do Banco das Velhas o canal de acesso ainda passa por constantes obras de dragagem, tanto para conter possíveis assoreamentos quanto para aumentar cada vez mais a profundidade do leito do rio, passando o porto a receber embarcações de maior calado. Figura 43 Guia Corrente da Redinha. Fotografia de: Miranda, 2015. Coordenadas em UTM: 25M0256440/9363814. 78 3.2 – CARTA DAS ZONAS DE POTENCIAL ARQUEOLÓGICO SUBAQUÁTICO DO ESTUÁRIO DO RIO POTENGI Como já foi mencionado anteriormente no primeiro capítulo, o zoneamento arqueológico trata da definição espacial das áreas ou zonas de maior probabilidade de ocorrências dos vestígios arqueológicos (JULIANI, 1994-1995). Neste trabalho foram delimitadas no contexto espacial atual as zonas de potencial arqueológico subaquático (ZPA) ligadas a navegação do século XVII com base na utilização de documentos, cartografias e iconografias históricas. A primeira zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-01) compreende a área nas proximidades do Forte utilizada para fundear embarcações no século XVII. Essa zona atualmente está localizada nas proximidades do Banco das Velhas e do Dique da Limpa, sendo uma área que já passou por uma série de intervenções humanas durante o século XX, o que resultou em mudanças consideráveis na morfologia do estuário do rio Potengi nessa área (Figura 44). O ponto (P.03) foi marcado em uma região emersa pois após a construção do Dique da Limpa essa região sofreu assoreamento, porém acredita-se que durante o século XVII essa área estava submergida, já o ponto (P.01) sofre inundações parciais de acordo com as marés (Figura 45). Figura 44 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-01 (ZPA-01). Fotografia de: Miranda, 2015. 79 Figura 45 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-01 (ZPA-01). Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 23 maio. 2015. Segue abaixo a (Tabela 4) com as coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-01): Zona de Potencial Arqueológico Subaquático (ZPA-01) Pontos Coordenadas DMS P.01 5º45’20.73”S/35º11’40.73”O P.02 5º45’10.37”S/35º11’47.00”O P.03 5º45’26.42”S/35º11’54.79”O P.04 5º45’17.34”S/35º12’0.61”O A segunda zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-02) compreende a área nas proximidades do Porto de Natal e do antigo Riacho dos Corvos ou Urubus, que segundo Olavo de Medeiros Filho (2010) compreende nosso atual Canto do Mangue (Figura 46), sendo uma área utilizada para fundear embarcações durante o século XVII. A área que compreende nossa (ZPA-02) é uma área que sofreu bastante dragagens durante o século XX e início do XXI, principalmente por estar localizada no canal de acesso do porto (Figura 47). 80 Figura 46 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-02 (ZPA-02) nas proximidades do Canto do Mangue. Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 25 maio. 2015. Coordenadas UTM: 25M0255928/9361926. Figura 47 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-02 (ZPA-02). Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 23 maio. 2015. 81 Segue abaixo a (Tabela 5) com as coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-02): Zona de Potencial Arqueológico Subaquático (ZPA-02) PPontos Coordenadas DMS P.01 5º46’1.05”S/35º12’14.95”O P.02 5º45’59.81”S/35º12’23.00”O P.03 5º46’28.95”S/35º12’23.38”O P.04 5º46’26.82”S/35º12’31.22”O De acordo com o manuscrito aquarelado de João Teixeira Albernaz, o velho de 1631 o surgidouro de embarcações, nossa terceira zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-03), é representada nas proximidades da povoação do Natal. Desta maneira, a (ZPA-03) está localizada atualmente nas imediações da Cidade Alta nas proximidades da Pedra do Rosário (Figura 48). Com relação a intervenções humanas o que se percebeu é que a área passou por obras de dragagens (Figura 49). Figura 48 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-03 (ZPA-03) nas proximidades da Pedra do Rosário. Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 25 maio. 2015. Coordenada UTM: 25M0255322/9360372. 82 Figura 49 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-03 (ZPA-03). Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 23 maio. 2015. Segue abaixo a (Tabela 6) com as coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-03): Zona de Potencial Arqueológico Subaquático (ZPA-03) Pontos Coordenadas DMS P.01 5º46’53.19”S/35º12’32.44”O P.02 5º46’50.37”S/35º12”36.76”O P.03 5º47’6.81”S/35º12’45.23”O P.04 5º47’3.03”S/35º12’49.13”O A quarta zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-04) compreende o atual trecho sul da praia de Areia Preta (Figura 50), antiga angra ao norte da Ponta Negra (MEDEIROS FILHO, 2010), sendo uma área utilizada para fundear embarcações durante o século XVII. A (ZPA-04) não está localizada no estuário do rio Potengi, porém se encontra nas proximidades de sua desembocadura, sendo a única zona de potencial arqueológico (ZPA) não localizada no porto do Potengi. Com relação a intervenções humanas nessa área, neste trabalho não foi possível afirmar se ocorreram obras de dragagem ou derrocagem nessa região, porém no entorno da (ZPA-04) foram construídos espigões (Figura 51). 83 Figura 50 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-04 (ZPA-04). Fotografia de: Miranda, 2015. Coordenada UTM 25M0257913/9359402. Figura 51 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-04 (ZPA-04). Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 23 maio. 2015. 84 Segue abaixo a (Tabela 7) com as coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-04): Z Zona de Potencial Arqueológico Subaquático (ZPA-04) Pontos Coordenadas DMS P.01 5º47’29.43”S/35º10’56.91”O P.02 5º47”25.15”S/35º10’49.29”O P.03 5º47’15.86”S/35º11’4.52”O P.04 5º47’13.29”S/35º10’55.67”O A quinta zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-05) compreende a área da atual praia da Redinha (Figura 52) de fronte ao forte (MEDEIROS FILHO, 2010), sendo uma área utilizada durante o século XVII como porto de pesca. A (ZPA05) incorpora a (ZPA-01) isso porque possivelmente os ancoradouros também eram utilizados para fins de pesca. A (ZPA-05) engloba boa parte do Banco das Velhas, parte do canal de acesso, o Dique da Limpa, espigões e o Guia Corrente da Redinha, sendo uma zona impactada pelas obras de dragagem, pelo assoreamento de uma faixa de terra na margem direita do Potengi causado pelo Dique da Limpa, pela erosão na margem esquerda do rio Potengi devido a construção dos espigões e pela construção da ponte Newton Navarro (Figura 53). 85 Figura 52 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-05 (ZPA-05). Fotografia de: Miranda, 2015. Figura 53 Zona de Potencial Arqueológico-05 (ZPA-05). Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 23 maio. 2015. 86 Segue abaixo a (Tabela 8) com as coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-05): Zona de Potencial Arqueológico Subaquático (ZPA-05) Pontos Coordenadas DMS P.01 5º45’18.89”S/35º11’43.63”O P.02 5º44’55.13”S/35º11’59.42”O P.03 5º45’34.13”S/35º12’9.02”O P.04 5º45’24.02”S/35º12’20.20”O A sexta zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-06) compreende o atual riacho do Rego Moleiro (Figura 54), local que durante o século XVII era conhecido como riacho Guajaí, onde possivelmente estava localizado o Portinho de Dirck Muller (MEDEIROS FILHO, 1989). Com relação a intervenções humanas nessa área, neste trabalho não foi possível afirmar se ocorreram obras que tenham resultado na mudança da morfologia do riacho, que está localizado no estuário do rio Potengi (Figura 55). Figura 54 Riacho do Rego Moleiro. Fonte: Imagem retirada do livro de MEDEIROS FILHO, Olavo de. No rastro dos flamengos. Natal: Fundação José Augusto, 1989, p. 69. 87 Figura 55 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-06 (ZPA-06). Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 23 maio. 2015. Segue abaixo a (Tabela 9) com as coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-06): Zona de Potencial Arqueológico Subaquático (ZPA-06) Pontos Coordenadas DMS P.01 5º47’23.54”S/35º16’8.76”O P.02 5º47’11.72”S/35º16’2.61”O P.03 5º47’13.82”S/35º16’23.29”O P.04 5º47’1.65”S/35º16’20.40”O A sétima zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-07) compreende os arrecifes que estão localizados na Barra do rio Potengi. Essa zona foi a única área estudada neste trabalho que apresentou alterações do ambiente natural pela ação humana desde o século XVII, tendo em vista que a Fortaleza dos Reis Magos foi edificada sobre os arrecifes (Figuras 56 e 57) e também há evidências da existência de um poço, dentro dessa mesma fortaleza, que possivelmente foi perfurado no arrecife durante o século XVII. Outras intervenções humanas também foram realizadas nessa 88 área durante o século XX e início do XXI como obras de derrocagem na ponta do Picão na entrada da Barra do rio Potengi (Figura 58). Figura 56 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-07 (ZPA-07). Fotografia de: Miranda, 2015. Coordenadas UTM: 25M0256966/9363386. Figura 57 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-07 (ZPA-07). Fotografia de: Miranda,2015. Coordenadas UTM: 25M0256737/9363950. 89 Figura 58 Zona de Potencial Arqueológico Subaquático-07 (ZPA-07). Fonte: imagem editada do Google Earth. Acesso em: 23 maio. 2015. Segue abaixo a (Tabela 10) com as coordenadas dos pontos da poligonal da (ZPA-07): Zona de Potencial Arqueológico Subaquático (ZPA-07) Pontos Coordenadas DMS P.01 5º45’26.45”S/35º11’42.38”O P.02 5º45’2.17”S/35º11’42.82”O P.03 5º45’25.58”S/35º11’38.19”O P.04 5º45’3.31”S/35º11’37.97”O Abaixo segue a Carta de Zoneamento Arqueológico Subaquático das áreas (ZPA-01, ZPA-02, ZPA-03, ZPA-04, ZPA-05 E ZPA-07) de acordo com Carta Náutica 90 802 de 2008 (Figura 59). A (ZPA-06) não foi representada no zoneamento devido a carta náutica não incluir o riacho do Rego Moleiro em sua representação, porém ela será devidamente localizada na (Figura 60). Figura 60 ZPA-06 localizado no Riacho do Rego Moleiro. Fonte: Imagem retirada do livro de MEDEIROS FILHO, Olavo de. No rastro dos flamengos. Natal: Fundação José Augusto,1989, p. 68. 91 Figura 59 Carta de Zoneamento Arqueológico Subaquático do século XVII. Fonte: Imagem editada da Carta Náutica 802 de 2008. 92 3.3 – VESTÍGIOS MATERIAIS LIGADOS A NAVEGAÇÃO DO SÉCULO XVII Com relação aos vestígios materiais ligados a navegação durante o século XVII Olavo de Medeiros Filho (1988) relata através da documentação de época o naufrágio do navio mercante holandês “Hortermeer” na Barra do rio Potengi. Segundo o autor a embarcação estava carregada com mercadorias como carne de porco, azeite, manteiga, aguardente entre outros, que foram levadas a leilão na praia do Forte. Segundo Vicente Lemos (1912, apud MEDEIROS FILHO, 1988, p. 23) ao se referir ao naufrágio do “Hortermeer”: Naufragara a esse tempo, nos baixos da barra de Natal, um navio holandês que viajava da Europa com carregamento de fazendas. Vários ferros de armação e quilha desse navio, como de outros que tiveram igual sorte em prejuízo da barra, têm sido encontrados na dragagem, a que procede a Comissão de Melhoramento do Porto. Embora Vicente Lemos informe o achado da possível embarcação holandesa naufragada durante o século XVII não se sabe o que ocorreram aos vestígios matérias retirados durante a dragagem do porto no início do século XX. Recentemente também foram encontradas na Lagoa de Extremoz, próximo ao estuário do rio Potengi canoas monóxilas possivelmente do período colonial é précolonial, que segundo Hamilton Marcelo M. Lins Jr. (2015) a canoa mais antiga chegou a datação em C14 de (700±30 BP). Abaixo segue a imagem de duas canoas monóxilas encontradas na lagoa de em Extremoz-RN, tendo a canoa maior 5,40 metros e a menor 3,97 metros (Figura 61). Figura 61 Canoas monóxilas no jardim da Fundação de Cultura Aldeia Guajiru. Foto de: José Aldenir. Fonte: Disponível em: < http://jornaldehoje.com.br/canoas-encontradas-na-lagoa-deextremoz-serao-investigadas-por-iphan/>. Acesso em: 25 maio de 2015. 93 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho resultou na construção de uma carta das zonas de potencial arqueológico subaquático ligadas a navegação no estuário do rio Potengi durante o século XVII, viabilizando a lei 6.938 publicada em 31/08/81 de conservação ambiental, da qual engloba os recursos culturais, sendo a carta de zoneamento um importante instrumento de gestão do patrimônio arqueológico. Através de uma abordagem interdisciplinar entre a História e a Arqueologia utilizou-se fontes tais como cartografias, iconografias e documentos históricos, e levantamos referências de achados fortuitos ou coletas não sistemáticas de vestígios matérias ligados a navegação do século XVII no estuário do rio Potengi e suas proximidades. Por meio da análise de algumas terminologias utilizadas nos espaços de navegação foi possível uma melhor compreensão das fontes utilizadas neste trabalho referentes ao século XVII, bem como a identificação das zonas de apropriação (ZA). A palavra “porto”, nesse período, poderia ser utilizada tanto para indicar um espaço abrigado da influência dos ventos e correntes marítimas como também poderia indicar espaços de ancoragem, assim como os espaços de ancoragens poderiam ser nomeados de ancoradouros, fundeadouros, portos ou surgidouros. Através da análise da tipologia das embarcações foi possível compreender que mesmo durante o século XVII havia uma certa imprecisão referente aos tipos de embarcações utilizadas, sendo registrado em documentos oficiais um mesmo navio ora como Nau ora como Galeão, isso se deve em grande medida as diversas técnicas utilizadas para a fabricação de embarcações que conferiam características peculiares a cada uma delas, sendo dificilmente acompanhadas pelos homens da época, que utilizavam termos genéricos para agrupar os mais diversas tipos de embarcações. Para a produção da carta de zoneamento arqueológico subaquático foram sistematizadas as informações sobre o contexto histórico e ambienta do rio Potengi, bem como a descrição e análise das alterações sofridas na paisagem desse ambiente aquático ao longo do tempo. Foi possível identificar seis zonas de apropriações no estuário do rio Potengi referentes ao século XVII (ZAA-01, ZAA-02, ZAA-03, ZAPP-01, ZAPM-01 E ZAF- 94 01) através da análise de cartografias, iconografias e documentos históricos sendo identificado também uma sétima zona de apropriação (ZAA-04) nas proximidades da desembocadura do rio Potengi. Foram delimitadas as áreas de potencial arqueológico subaquático através da identificação das zonas de apropriação, da análise das áreas impactadas pelas obras de dragagem, derrocagem e obras fixas realizadas entre os anos de 1902-2011 e o levantamento geográfico e ambiental do estuário do rio Potengi. A primeira zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-01) compreende a zona de apropriação de ancoragem-01 (ZAA-01) localizada nas proximidades do forte na margem direita do rio Potengi, essa área foi impactada pela obra fixa do Dique da Limpa apresentando assoreamento em uma faixa de terra. A zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-02) compreende a zona de apropriação de ancoragem-02 (ZAA-02) localizada nas proximidades do atual Canto do Mangue, antigo riacho dos Corvos ou Urubus, e corresponde a uma área bastante impactada pelas obras de dragagem devido a sua localização no canal de acesso do porto de Natal. A terceira zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-03) compreende a zona de apropriação de ancoragem-03 (ZAA-03) localizada nas proximidades da atual Pedra do Rosário, a área também foi impactada por obras de dragagem. A quarta zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-04) compreende a zona de apropriação de ancoragem-04 (ZAA-04) localizada na atual praia de Areia Preta, antiga Ponta Negra, nessa área não se tem registros de obras de dragagem ou derrocagem, porém nas suas proximidades foram construídos espigões. A zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-05) compreende a zona de apropriação do porto de pescaria-01 (ZAPP-01) localizada na atual praia da Redinha, na margem esquerda do rio Potengi defronte ao forte, essa área sofreu grande impacto causado por obras de dragagem, obras fixas e pela construção da ponte Newton Navarro. A zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-06) compreende a zona de apropriação do portinho de Muller-01 (ZAPM-01) localizado no atual riacho do Rego 95 Moleiro, antigo riacho Guajaí, nessa área não temos registros de obras de dragagem, derrocagem ou de obras fixas. A zona de potencial arqueológico subaquático (ZPA-07) que compreende a zona de apropriação do forte-01 (ZAF-01) localizada na área do arrecife sobre o qual foi edificada a fortaleza dos Reis Magos e que foi perfurado um poço localizado no interior da edificação. A (ZPA-07) foi a única área, que se tem conhecimento, que sofreu alterações de seu ambiente natural pela ação antrópica desde o século XVII. Durante os séculos XX e XXI também foram realizadas obras de derrocagem na ponta do Picão e na barra do rio Potengi. Percebe-se que as zonas de potencial arqueológico subaquático (ZPA-01, ZPA02, ZPA-03, ZPA-05 e ZPA-07) por se tratarem de áreas bastante impactadas pelas obras de dragagem, derrocagem e obras fixas são zonas de baixo e médio potencial arqueológico com poucas probabilidades de se encontrar vestígios materiais referentes ao século XVII pelas perturbações que ocorreram no contexto arqueológico, o que não impede que vestígios matérias de períodos mais recentes sejam encontrados. No caso das zonas (ZPA-04 e ZPA-06) por estarem localizados em áreas onde não se tem registros de impactos causados por obras de dragagem e/ou derrocagem estas foram consideradas zonas de médio e alto potencial arqueológico, com probabilidades de se encontrar vestígios matérias referentes ao período em futuros trabalhos de pesquisa e de resgates sistemáticos em arqueologia subaquática no Rio Grande do Norte e mais especificamente na cidade de Natal. 96 BIBLIOGRAFIA BAPTISTA NETO, José Antônio; PONZI, Vera Regina Abelin; SICHEL, Susanna Eleonora. Introdução à geologia marinha. Rio de Janeiro: Interciência, 2004. BARBOSA, Sandra Maria de Souza. Análise Histórica e Morfológica do Estuário do Rio Potengi e litoral adjacente da Região de Natal – Rio Grande do Norte. Tese (Pós Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Rio de Janeiro, 1983. BLACK, Jeremy. Mapas e História: construindo imagens do passado. Bauru, SP: Edusc, 2005. CALDARELLI, Solange Bezerra. 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