RIOS E CIDADES: RUPTURA E RECONCILIAÇÃO
Figura 22: Bacia Hidrográfica do Rio Don
Fonte: HOUGH (1995, p.53)
Figura 23: O rio Don e
sistema viário
Disponível em: <http//
www.toronto.ca/don/
lower_don_map_large.
htm>. Acesso em: 18 nov.
2007
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RIOS E CIDADES: RUPTURA E RECONCILIAÇÃO
Figura 24: Rio Don em 1891
Disponível em: <http//www.toronto.ca/don/>.
Acesso em 18 nov. 2007
Figura 25: Meandros originais do rio Don,
desconfigurados pela canalização
Fonte: HOUGH (1995, p.56)
Figura 26: Acessibilidade dos bairros em relação ao
vale
Fonte: HOUGH (1995, p.58)
103
RIOS E CIDADES: RUPTURA E RECONCILIAÇÃO
O rio e seus tributários foram submetidos a diversas fontes de poluição9 por meio do esgoto e outras fontes poluidoras provenientes dos municípios ao norte da cidade de Toronto.
Cerca de 95% da poluição do Don era originária dessas fontes. Na década de 1990, a Bacia
do Don era 80% urbanizada e possuía 800.000 habitantes (Figuras 27 a 29). As projeções
sugeriam, então, que até o ano 2021 a bacia seria 91% urbanizada.
Figura 27: Foto aérea da foz do
rio Don e o lago Ontário
Fonte: Toronto Waterfront
Revitalization Task Force Report
(2000, p. 07). Disponível em:
<http://www.toronto.ca/
waterfront/fung_report.htm>.
Acesso em 14 jun. 2008
Figura 28: Vista para a parte
sul, em direção ao lago Ontario
Disponível em: <http://www.
toronto.ca/don/>. Acesso em 18
nov. 2007
9 Outras fontes poluidoras: insumos e detritos provenientes de áreas rurais e agrícolas, sedimentos e resíduos prove-
nientes de obras e terraplanagens, sal utilizado para dissolver a neve e o gelo.
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RIOS E CIDADES: RUPTURA E RECONCILIAÇÃO
Figura 29: Obra de engenharia do
século XX
Disponível em: <http://www.toronto.ca/
don/>. Acesso em 18 nov. 2007
Foi se tornando evidente que as políticas de melhoria da qualidade da água e o controle
das cheias do rio dependiam da mútua cooperação dos municípios que compõem a bacia
hidrográfica (Toronto Waterfront Revitalization Task Force Report, 2000).
3.1.2 Motivos que levaram à elaboração do Plano
Os efeitos provocados por fenômenos naturais e agravados pela ação antrópica, tais como
inundações e erosões, podem ser considerados catalisadores das atitudes favoráveis à adoção
de medidas de preservação e recuperação ambiental deste rio e de sua bacia hidrográfica.
O rio Don é significativo para a cidade de Toronto, apesar do alto nível de urbanização e
degradação, principalmente, nas áreas próximas da foz. Vem sendo descaracterizado, e seus
recursos naturais, exauridos por mais de 200 anos. Assim, suas águas tornaram-se poluídas
pela contribuição de esgotos; a foz, originalmente uma extensa zona alagada, foi aterrada;
e o leito do rio foi canalizado e retificado.
Ainda que impactado, o vale continuou servindo como corredor para aves migratórias; alguns mamíferos, borboletas e raposas estavam presentes nas matas de ravinas e patos e
outras aves podiam ser encontrados nas margens do rio. Esses eram sinais de que o rio não
estava totalmente morto e teria condições de ser recuperado.
3.1.3 Atores
Nos anos de 1940 e 1950, foi criada a “Associação de Conservação do Vale do rio Don”, com
o objetivo de valorizar os recursos naturais e procurar uma alternativa ao quadro contínuo
de degradação dos recursos ambientais. O movimento acentuou-se nas décadas de 1960 e
1970, através de inúmeras manifestações a favor da revitalização do rio Don.
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RIOS E CIDADES: RUPTURA E RECONCILIAÇÃO
Durante os anos 1980 e início dos anos 1990, formou-se um conselho e uma força-tarefa
“Bring back the Don”, formalizada e apoiada pela Câmara da Cidade de Toronto. Em 1992, a
força-tarefa assumiu a missão de desenvolver um plano de revitalização para toda a bacia
hidrográfica. Desde então, diretrizes e propostas de recuperação do rio Don têm sido elaboradas e implantadas.
A força-tarefa “Bring back the Don” é formada por um conselho público ligado à prefeitura
municipal, que foi motivado pelos movimentos ambientalistas durante a década de 1980.
Conta com a participação de diversos níveis de organização social: poder público, sociedade
civil e organizações comunitárias (Figuras 30, 31 e 32).
Figura 30: Voluntários na
construção de alagados
construídos na parte baixa do
rio Don
Disponível em: <http://www.
toronto.ca/don/galleries.htm>.
Acesso em 18 nov. 2007
Figura 31: Reflorestamento das
margens do rio
Disponível em: <http://www.
toronto.ca/don/treeplanting.htm>.
Acesso em 18 nov. 2007
Figura 32: Participação da
sociedade civil no reflorestamento
e construção de trilhas
Disponível em: <http://www.toronto.
ca/don/summer_volunteers.htm>.
Acesso em 18 nov. 2007
106
RIOS E CIDADES: RUPTURA E RECONCILIAÇÃO
O Conselho da força-tarefa é composto de 25 membros: um representante eleito de cada
uma das duas regionais e cada um dos oito municípios locais; um representante de cada
uma das dez bacias hidrográficas locais; o presidente da TRCA; e um representante de cada
uma das seguintes instituições: o “Plano de Ação de Reparação da Região e Metrópole de
Toronto”, o “Waterfront Regenerator Trust”, a Força-tarefa para “Bring Back do Don” e
“Amigos da Região do Don“.
3.1.4 Objetivos
A imposição da dinâmica inerente à condição urbana e a valorização espacial de diversos
trechos ao longo do rio Don foram elementos que nortearam grande parte das diretrizes
pretendidas pelo programa “Bring back the Don”.
O programa “Bring back the Don” pretendia estabelecer uma nova visão do planejamento
urbano integrado a elementos da paisagem e do ambiente. A meta principal da força-tarefa
“Bring back the Don” era possibilitar um futuro mais saudável a partir da melhoria do rio.
Para tanto, foram fixados três objetivos principais:
I - Proteger o que é saudável; ou seja, estabelecer a diversidade ecológica do curso
baixo do Don, além de promover sua integração ao tecido urbano e a requalificação de seu patrimônio histórico e cultural;
II - Regenerar o que está degradado;
III - Assumir a responsabilidade pelo Don
Para atingi-los, seria necessária a compreensão do rio, em sua totalidade, como um sistema
capaz de abarcar a sua dimensão natural e de seu papel como um suporte social. Nesse Plano, o conceito de restauração, visto como um “retorno ao estado original”, foi considerado
inviável, e até indesejável. Propunham-se então intervenções de grande e pequena escalas
em ações contínuas para que o rio Don pudesse retornar ao seu estado saudável (HOUGH,
1995).
3.1.5 Diretrizes
As diretrizes subdividem-se de acordo com os três objetivos principais descritos anteriormente: proteger o que é saudável; regenerar o que está degradado e assumir a responsabilidade pelo Don.
Diretrizes para “Proteger o que é saudável”:
Proteger as fontes naturais do rio Don, ou seja, as cabeceiras, as águas subterrâneas, os
córregos e afluentes; proteger as ligações naturais existentes no Don, o seu habitat diversificado, bem como a sua vida selvagem; e valorizar os aspectos naturais e ambientais do rio.
107
RIOS E CIDADES: RUPTURA E RECONCILIAÇÃO
Diretrizes para “Regenerar o que está degradado”:
Recuperação do eco-sistema fluvial (o rio e seus afluentes), da qualidade dos habitats degradados, aproximando-os das comunidades por meio de estratégias educacionais e recreacionais sintonizadas com as funções naturais essenciais do rio Don. E, também, incentivo
a atividades que refletem a diversidade cultural e o resgate de lembranças importantes
do passado histórico do Don. Pretendia-se, ainda, reconectar o rio Don ao lago Ontário,
requalificando a parte baixa do primeiro com foco ambiental e urbanístico, promovendo a
dinamização urbana e a valorização de trechos do rio Don.
Diretrizes para “Assumir a responsabilidade pelo Don”:
Cuidar da qualidade do ambiente natural em todas as atividades diárias, integrando a comunidade, governos e empresas em trabalho conjunto para sua regeneração e manutenção
dos programas de educação e conscientização ambiental.
3.1.6 Propostas
As propostas elencadas a seguir, focadas principalmente na parte baixa do rio Don, compreendiam desde os aspectos ambientais até os aspectos socioeconômicos, procurando a
concretização das diretrizes:
„
Re-criação de um delta onde o rio encontra o lago (Figuras 33 e 34);
„
Recuperação de pequenos meandros e das características físicas do canal do rio
para criar habitats de peixes, corredeiras e poços naturais ao longo do rio;
„
Criação de banhados, lagoas e prados, para auxiliar na melhoria da qualidade da
água por filtragem e metabolização de bactérias e ajudar no controle do fluxo de
água e das inundações;
„
Reflorestamento das matas ciliares com espécies nativas (Figura 38);
„
Acessibilidade aos projetos pontuais realizados;
„
Incentivo a atividades recreativas e ao uso pelo pedestre e ciclista da estrutura da
orla (Figuras 35 e 36);
„
Desenvolvimento de atividades educativas e recreativas sobre a função hidrológica do rio e seu regime fluvial;
„
Uso de medidas não estruturais como alternativa à utilização de sistemas tradicionais de drenagem.
108
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Figura 23: O rio Don e sistema viário Disponível em: