Água e Esgoto
O abastecimento de água também esperou a segunda metade do século XIX para
ganhar um tratamento adequado. A cidade continuou a investir em chafarizes,
bicas e torneiras públicas e no aproveitamento dos rios locais e de outros mais
distantes do centro urbano.
Em 1833, houve uma primeira tentativa de abastecimento de água domiciliar por
uma firma anglo-brasileira. A iniciativa não deu certo. Em 1840, o comendador
Sebastião da Costa Aguiar criou uma empresa de distribuição, montando uma
frota de carroças que conduziam pipas d’água. O serviço ficou conhecido como a
“boa água do Vintém”, pois a água provinha da chácara de mesmo nome, onde
se localizava a fonte do Vintém. A chácara ficava no Largo da Segunda-Feira, na
Tijuca, no fim da atual rua Aguiar, que tem esse nome em homenagem ao
comendador.
O regulamento nº 39, de 15 de janeiro de 1840, previa pela primeira vez uma
taxa de água, que antes era fornecida gratuitamente, sendo que o abastecimento
tinha de ser feito após requerimento ao Ministério do Império, não podendo
exceder um determinado limite - propunha-se como dispositivo de limitação a
pena d’água. Em caso de estiagem o suprimento poderia ser suspenso. O serviço
de abastecimento ainda era precário e poucas residências e prédios públicos e
comerciais tinham atendimento.
Depois de explorar as nascentes do Corcovado e de Santa Teresa (Carioca,
Lagoinha e Paineiras), a cidade foi buscar água na serra da Tijuca (Maracanã,
Trapicheiro, Andaraí, Gávea Pequena e Cascatinha); no Jardim Botânico e na
Gávea (Macaco, Cabeça, Chácara da Bica e Piaçava); e em Jacarepaguá, Campo
Grande e Guaratiba (rio Grande, Covanca, Três Rios, Camorim, Mendanha,
Cabuçu, Andorinhas, entre outros).
Sede Monárquica
O Rio vai buscar água além dos seus limites
Chácara da Cabeça por Debret. Fonte: Inepac.
Represa do Camorim. Bico de pena de
Magalhães Corrêa. Fonte: Inepac.
Os mananciais da cidade chegaram a contribuir com 70 milhões de litros de água
por dia, mas este volume podia cair a 40 milhões de litros em períodos de
estiagem, como os que ocorreram em 1829, 1833, 1843, 1846, 1860 e de 1868
a 1870. Por conta disso, de 1850 a 1874 foram construídos os reservatórios da
Caixa Velha da Tijuca, da Quinta da Boa Vista, da ladeira
ladeira do Ascurra, no morro
do Inglês, e do morro do Pinto.
Caixa Velha da Tijuca. Foto: Marc Ferrez.
Açude do Morro do Inglês
Inglês. Foto: Marc Ferrez.
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Planta do Reservatório do Morro do Pinto. Fonte: Inepac.
Em 16 de fevereiro de 1861 a Inspetoria Geral das Obras Públicas do Município
da Corte foi transferida para o Ministério da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas, criado no ano anterior. O tenente-coronel
tenente coronel Christiano Pereira de Azevedo
Coutinho, que comandava o órgão desde 1859, preparou um rela
relatório para a
nova gestão, defendendo que se fosse buscar água “a uma fonte abundante que
por si só seja capaz de satisfazer a todas as necessidades, empreendendo
empreendendo-se
para esse fim uma grande obra, que ateste às gerações futuras a solicitude do
presente Reinado”.
ado”. Coutinho também mencionava a possibilidade do uso de
hidrantes.
A solução ainda esperaria a década seguinte. Em 24 de março de 1870 o
Governo Imperial determinou a criação de uma comissão de engenheiros para
resolver o problema do abastecimento de água
água na capital. Seria a primeira de
uma série de comissões técnicas das quais participaram os engenheiros Antonio
e André Pereira Rebouças, Paula Freitas e Antônio Augusto Monteiro de Barros,
novo titular da Inspetoria Geral.
As comissões desenvolveram estudos topográficos da cidade e para a execução
de obras de canalização dos mananciais do Jardim Botânico e da Serra da Tijuca.
Indicaram também a necessidade de se buscar água em mananciais da província
fluminense, especialmente as nascentes do rio d’Ouro
d’Ouro e da serra do Tinguá, que
viriam a constituir a primeira parte do sistema de grandes adutoras de ferro
fundido.
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Ainda em 1870, foi concluída pelo engenheiro Antonio Rebouças a canalização
provisória do rio Macacos. Suas águas,
águas que já chegavam a Botafog
Botafogo. foram
estendidas até a praia de Santa Luzia, no Centro, com o prolongamento de uma
tubulação de ferro. Em 1873, foi a vez de Copacabana receber torneiras públicas
supridas pelas águas do rio.
Em 1874, foi iniciada a construção do reservatório-açude
reservatório açude dos Macacos, no Horto
Florestal, inaugurado em 1877 pela princesa Isabel. No mesmo ano também
terminavam as obras da adutora do rio São Pedro e, em 1880, seria a vez do
dos
rios Santo Antônio e d’Ouro.
Construção do reservatório
eservatório do Rio d’Ouro. Foto: Marc
Ferrez. Fonte: Inepac.
Em 1876, o Governo Imperial
contratou o engenheiro Antonio
Gabrielli para a construção da
rede de abastecimento de água
a domicílio. A escolha do
engenheiro,
que
já
havia
trabalhado na construção do
sistema de abastecimento de
Viena, teria
eria sofrido influência do
presidente da City, Eduardo
Gotto, e até dos banqueiros
Rothschild. Gabrielli também
seria incumbido das obras de
adução do rio d’Ouro.
Porém, o suprimento ainda dependia de medidas que precisavam ser postas em
prática. A cobrança
ça de água foi regulamentada pelo decreto nº 8.775, de 25 de
novembro de 1882, e a pena d’água, que já era prevista desde 1840, foi
finalmente adotada.
O Império ainda veria a construção de mais reservatórios, como os dos morros
de São Bento, em 1877, e da Viúva, em 1878, e o mais importante, o do
Pedregulho, em São Cristóvão, inaugurado pelo imperador d. Pedro II em 1880,
que durante mais de meio século foi o principal centro abastecedor de água da
zona sul, do Centro e de outras áreas próximas. Viriam ain
ainda o do morro do
Livramento, em 1882, o do França, em Santa Teresa, e da Caixa Nova da Tijuca,
em 1883.
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Pavilhão de manobras do reservatório
r
Pedregulho. Fonte:: Arquivo da Cidade.
Cidade
do
Caixa do morro de São Bento. Foto: Marc Ferrez.
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Reservatório Caixa Nova da Tijuca. Foto: Marc
Ferrez.
Caixa do Morro do Livramento. Foto: Marc
Ferrez.
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