Boletim de Comunicações
Província São Francisco de Assis – OFM/RS
Jan.-Jun. 2014
BdeC
Frei Isidro:
Gratidão a Deus
pelos teus 100 anos
de testemunho!
Seminário São
Pascoal comemora
50 anos!
I Congresso de
Evangelização da
OFM
Índice
Editorial
Palavra do Ministro Provincial, 3
Discretório para a Fraternidade Monte Alverne, 4
Retomando a publicação de nosso Boletim de Comunicações (BdeC), não trazemos
muitas novidades. De fato, nos preocupamos
em registrar a memória de fatos e atos que envolvem a Província São Francisco de Assis.
Visita da Irmã Morte, 4
Gratidão a Deus pelos teus 100 anos de testemunho!, 5
Este primeiro número de 2014 sai com
um olhar sobre o semestre, com a consciência
de que muita coisa “acontecida” não foi escrita
ou registrada. Talvez porque divulgada por outros meios, ou pela correria que faz esquecer
este serviço à história... Certo é que novidades
poderão ser sempre registradas. Também as reflexões. Outros meios de comunicação podem
ser “conectados” ao BdeC...
Algumas mensagens recebidas, 7
Homilia nos 100 anos de Frei Isidro Bottega, 7
Frei Isidro, 8
Carta do Ministro Geral sobre o Capítulo
2015, 10
50 anos do São Pascoal, 11
Frei Gervásio: Cidadão Agudense, 12
Renovação dos Votos Temporários—2014, 13
Aqui damos bom espaço à memória de
Frei Isidro Bottega, nosso irmão centenário, que
partiu recentemente para a Casa do Pai.
IDE, EVANGELIZAI! Você será sal e luz!, 14
Reunião entre Bispos e Provinciais, 16
Bom espaço também para a memória do
I Congresso Internacional para as Missões e
Evangelização da Ordem, realizado em Sassone, Roma, Itália, trazendo os textos da Mensagem Final do Congresso e de Frei Giacomo Bini. Deste congresso participaram Frei Gastão
Carlos Zart e Frei Aldir Mattei (na foto da capa
com Frei Nestor Inácio Schwerz e os demais
freis brasileiros).
Formação de Leigos, 17
Vai, reconstrói minha casa, 18
A Identidade e a novidade da missão evangelizadora da Ordem hoje, 24
Paróquia São Vicente de Paulo—40 anos, 29
Não esquecemos dos 50 anos do São
Pascoal e da renovação dos votos de nossos irmãos professos temporários, em Estrela.
EXPEDIENTE
BdeC
Boletim de Comunicações
Informativo da
Província São Francisco de Assis
Da Ordem dos Frades Menores no Brasil.
Partilhamos a comunicação de Frei Elói
Piva sobre o Master, no qual participa Frei Flávio Guerra. Ainda a memória de Jacob Ignácio
Reichert sobre a Paróquia São Vicente de Paulo, em Passo Fundo, que completa 40 anos e foi
fundada com o trabalho dos Frades.
Av. Juca Batista, 330
Bairro Ipanema
91770-000 – Porto Alegre – RS
E-mail: [email protected]
Carecemos da tradicional parte das
“Umas Ki outras”, deixando este espaço para os
irmãos inspirados a contribuir com a memória
humorada de nossa vida cotidiana para os próximos números.
Equipe responsável:
Reiteramos o convite a todos os irmãos
a partilharem suas atividades, reflexões e
“peripécias”, escrevendo para o BdeC.
Frei Arno Frelich, OFM
Frei Benício Warken, OFM
Frei Harri Schuh, OFM
Frei Jorge Egídio Hartmann, OFM
Frei Plínio Ricardo Maldaner, OFM
Frei Inácio Dellazari, OFM
Frei Marino Pedro Rhoden, OFM
Pela equipe, Frei Arno Frelich, OFM
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Palavra do Ministro Provincial
Caros confrades,
Paz e Bem!
Já avançamos 6 meses do ano de 2013. Queríamos ressuscitar o BdeC como meio de comunicação entre os frades da nossa e das outras Províncias. É o que está acontecendo agora. Graças à compreensão de que a internet não nos basta e à colaboração dos frades em partilhar a vida e a missão, nasceu
este primeiro número em 2014. Que não seja o último!
Em nível de Ordem participei, em janeiro, do Encontro dos novos Provinciais, em Roma. Foi
muito importante para sentir-se Ordem, conhecer as alegrias, angústias e esperanças das Províncias do
mundo inteiro, na época de transição que vivemos. Ouvindo os apelos de nosso tempo e as exigências
de nossa Identidade Franciscana, em preparação do Capítulo Geral de 2015, a Ordem propõe o Tema:
Irmãos e Menores em nosso Tempo. Em tempos de exacerbação do individualismo, ser irmão e menor é ser profeta. E o Profeta Jesus e seu Evangelho são o caminho. O Capítulo Geral será realizado entre os dias 10 de maio e 7 de junho de 2015, em Assis.
Participaram do Congresso Internacional para a Evangelização e Missão, em Roma, Frei Gastão
e Frei Aldir. O Secretariado Provincial para a Evangelização e Missão está trabalhando a questão do
Redimensionamento, aprovado em Capítulo. Eles poderão ajudar a nossa Província buscar, em sintonia
com a Ordem, a concretização deste objetivo. Neste Congresso se refletiu sobre um Texto que Fr. Giacomo Bini, Ex-Ministro Geral, iria apresentar. O Texto tem como título A Identidade e a Novidade da
Missão Evangelizadora da Ordem Hoje. Este Texto vai chegar a cada frade.
Aconteceu, em nível de América Latina, na Cidade do México a XXII Assembleia da UCLAF.
Há um desejo de caminhar juntos e de recíproca ajuda entre as Conferências e Províncias. A Mensagem
da Assembleia foi encaminhada pela secretaria da Província a todos os frades via e-mail. É bom ler esta
mensagem e ver os compromissos que as Conferências assumiram, principalmente, com relação ao
Master em Evangelização.
No mês de março deste ano, reuniu-se a CFMB e SERFE em Anápolis, Goiás. O SERFE organizou para este ano a Experiência Under Ten. Será numa Aldeia indígena, entre os índios Munduruku,
na Missão Franciscana da Custódia S. Benedito da Amazônia. Nossa Província estará sendo representada nesta Experiência. Agradecemos à Custódia S. Benedito que está organizando esta Experiência. Para
o Ano de 2015, está organizado o Curso para Formadores em Petrópolis, como já é tradição. Para o
ano de 2016, está prevista a Experiência de Reavivar o Dom da Vocação, com visita a Assis e Santuários Franciscanos e Terra Santa. Frei João Carlos Karling foi eleito o Moderador Nacional da Formação Permanente e, por isso, membro da Equipe Executiva do SERFE.
Podemos perceber que estamos integrados na Ordem, na UCLAF e na CFMB. A Interprovincialidade, refletida no Capítulo, está acontecendo há muitos anos. Por decisão do Governo Provincial e
Secretariado de Formação e Estudos da Província, no próximo ano não haverá Noviciado. O postulante
iniciará seus estudos de filosofia e, no ano seguinte de 2016, irá ao noviciado com o grupo de postulantes 2015.
Continuemos respondendo aos apelos de nossa Identidade de sermos irmãos e menores em
nossas Fraternidades, por uma questão de fidelidade à nossa Vida e Missão.
Com um abraço fraterno e que o Senhor abençoe a todos.
Frei Inácio Dellazari, OFM
Ministro Provincial
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Discretório para a Fraternidade Monte Alverne
Acolhendo solicitação feita pela Fraternidade
Monte Alverne, o Definitório provincial, na reunião do
dia 06 de maio, após discernimento sobre as indicações
dadas pelos confrades da Fraternidade, nomeou o Discretório da Fraternidade Monte Alverne, conforme as
CCGG art. 243 §§1-2, os EEGG art. 244 e 245 §§1-2 e
os EEPP art. 115 §§1-3, composto por: Frei Marino Pedro Rhoden, Frei João Luiz Rehsler, Frei Romano Zago,
Frei Lino Inácio Hochscheidt, Frei Arno Frelich.
Ajudas na Alemanha
Frei Nelson José Junges, encontra-se na Alemanha, auxiliando na Paróquia de Kappelbeck, à qual mantém ligação com a FCD. Retornará ao Brasil em 04 de setembro de 2014.
Frei José Leonardo Kuhn, Frei Lino Inácio Hochscheidt e Frei Paulo Ademir Reis embarcam dia 27 de junho, Dirigem-se ao Kreuzberg, para auxiliar nos trabalhos do Santuário em
época de férias dos funcionários leigos. Frei Leonardo retornará ao Brasil em 05 de agosto do
corrente ano, enquanto Frei Lino e Frei Paulo, em 1º de setembro.
Visita da Irmã Morte
No dia 04 de maio de 2014, faleceram: Marcos Mattei, irmão de nosso confrade Frei
Aldir Mattei, Definidor provincial, residente em Coronel Pilar, onde foi sepultado após a celebração eucarística presidida por Frei Inácio Dellazari, Ministro provincial; e Berta Reckziegel,
mãe de Frei Arno Reckziegel (in memoriam), residente em Linha Santa Emília, Venâncio Aires, onde foi
sepultada após a celebração eucarística presidida por
Frei Marino Pedro Rhoden, Vigário provincial.
No dia 05 de maio de 2014, recebemos o comunicado
do falecimento do tio de João Renato, senhor Aloísio
Romeu Sieben. A celebração e o sepultamento ocorreram na Comunidade São Rafael de Cruzeiro do Sul.
Nossas orações também por Dom Altamiro Rossato,
Padre Antônio Lorensato, Padre Edgar Jotz, falecidos
no dia 13 de maio de 2014.
No dia 31 de maio ocorreu o falecimento de Genésio Spengler, pai de nosso confrade e
arcebispo Dom Jaime Spengler, OFM, em Gaspar, SC, onde foram celebradas as exéquias.
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Gratidão a Deus pelos teus 100 anos de testemunho!
FREI ISIDRO BOTTEGA, OFM
SACERDOTE FRANCISCANO
Onde nasceu Fr. Isidro? Muitas vezes, debate-se o local de nascimento de grandes homens. Às vezes, dá até briga. Duas ou mais localidades se orgulham de seu filho eminente ou
santo. Nem todo grande homem nasceu em berço de ouro ou em famosa cidade. Mas, o contrário mais vezes acontece. Belém tornou-se internacionalmente conhecida por causa de dois seus
filhos: David e Jesus! Talvez aconteça o mesmo com aquele valetão perdido, entre Daltro Filho
e Garibáldi. Oxalá!
Izidoro Sylvestre é filho de Andrea Bottega e Itália Daltoé, nasceu no dia 29.04.1914,
no município de Garibáldi (Ao celebrar o jubileu sacerdotal, numa breve biografia, escrita em
Não-Me-Toque, Fr. Isidro afirma: “Eu nasci na paróquia de Daltro Filho! Foi no valetão que
existe entre as capelas de S. José de Castro e S. Roque. Quando nasci essas capelas pertenciam à
paróquia de Coronel Pilar, então município de Garibáldi. Mas, quando eu era pequeno, meus
pais se mudaram para Bela Vista do Fão”. Em 25 de novembro de1995, Fr. Isidro escreveu um
bilhete, nestes termos, ao Frei Nestor, pedindo que fosse corrigido o Conspecto da Província:
“... Fui batizado na Capela S. José de Castro, e lá nasci. Hoje essa capela faz parte de Daltro
Filho! Não sou de Coronel Pilar. Sou de Daltro Filho! Faça o favor de corrigir esse erro no
Conspecto da Província! Obrigado”. O Registro civil, foi exarado no dia 30 de abril de 1914,
em Peixoto, Segundo distrito de Garibáldi. Na sua cópia consta que nasceu na Linha Azevedo
do Castro, número sessenta e seis. Sendo seus avós paternos: Dezidério Bottega e Amabile Lorenzon e os avós matemos: Sylvestre Daltoé e Antônia Bim.
Batismo: O Cônego João Antônio Peres, Secretário geral do Arcebispado de Porto Alegre certifica que no Livro quatro de assentamentos de Baptismos da Igreja São Lourenço de
Villas Boas, à f1 16, acha-se o seguinte: “... Aos três de maio de mil novecentos e quatorze, na
capella de São Roque da Linha Castro, foi baptisado Izidoro Silvestre Bottega ...”
Crisma: “Frei João Brouwer, OFM, vigário da Paróquia de N Senhora de Lourdes Fão, certifica que no Livro I de assentamentos de Chrismas da freguesia de Lageado (Bella
Vista do Rio Fão), acha-se o seguinte: foram chrismados pelo Excelentissimo Dom João Becker, aos 12 de dezembro de ·1919, na Igreja de Bella Vista ... Izidoro, filho de Andrea Bottega,
padrinho Luiz Bottega”
Estudos: “ginasiais foram iniciados em Divinópolis e continuados em Taquari, no Seráfico. Depois do quinto ano feito em Taquari, em companhia de Wilibaldo Grings (futuro Fr.
Agostinho) e Zerbini, foi à Holanda, fez o antigo sexto ano seminaristico em Katwijk aan de
Rijn”.
Franciscano para sempre: Vestição (Noviciado): 07.09.1934 (em Hoogeruts - Holanda). Profissão temporária: 08.09.1935 (em Venray - Holanda). Profissão Solene: 08.09.1938
(em Wychen - Holanda). No dia 30 de setembro de 1938 embarcou em Antuérpia (Santa Cruz
1938, p. 129), chegou no dia 16 de outubro e foi ordenado subdiácono no dia 23 de outubro de
1938. Recebeu o Diaconato no dia 19.10.1939 (em Divinópolis-MG, conferido por D. Inocêncio Engelke) e foi ordenado Presbítero, no 20.10.1940, na igreja da Floresta, em Belo Horizonte - MG, por Dom Antônio dos Santos Cabral.
Transferências:
1941, Nomeado coadjutor em Belo Horizonte - MG
5
1944, Transferido de Belo Horizonte a Taquari, para ser o Padre espiritual no Seminário
Seráfico e coadjutor na Paróquia São José.
Janeiro de 1947, nomeado coadjutor de Porto Alegre; em julho de 1947: nomeado vigário de Taquari. Ali escreveu um livro de caráter apologético e alerta quanto ao perigo da maçonaria!
1952, de Taquari a Divinópolis, onde foi pároco no Santuário Santo Antônio.
Em dezembro de 1958 foi nomeado Definidor da Província Santa Cruz.
1962, Transferido de Divinópolis à paróquia, em Teófilo Ottoni.
01.1965, Transferido de Teófilo Ottoni a Pirapora, paróquia.
08.1965, Foi nomeado pároco de Vila Progresso.
1967, Transferido de Progresso à Capital, Mestre dos Clérigos no Pão dos Pobres
1968, Transferido de Porto Alegre a Horizontina, paróquia
01.1977, Transferido de Horizontina a Taquari - paróquia
20.08.1977, Transferido de Taquari à paróquia de Alegria
12. 1980, Transferido de Alegria à paróquia de Pouso Novo
27.12.983, Transferido de Pouso Novo à paróquia de Daltro Filho
06.01.1987, Transferido de Daltro Filho à paróquia Santa Inês de Três Passos
01.08.1987, Transferido de Três Passos à Paróquia Cristo Rei, em Não-Me-Toque
08.11.1990, Membro da Fraternidade do Provincialado
11.12.1995, Nomeado vigário paroquial da Paróquia Cristo Rei, Não-Me-Toque
04.12.1996, Renomeado Vigário da Paróquia Cristo Rei, Não-Me-Toque
12.1.2.1998, Nomeado "Membro do Guardianato do Planalto Médio, Paróquia Cristo
Rei de Não-Me-Toque - agente de pastoral".
No dia 1º de abril 2000, escreveu ao Frei Nestor: ... Aqui (Não-Me-Toque) minha missão terminou. Não posso fazer mais nada. Acho que o meu lugar é mesmo a casa dos inativos.
O que pensa o senhor? Tenho medo de dar trabalho aos confrades daqui. Saudações."Dez dias
depois, 10.04.2000, voltou a escrever um bilhete ao Ministro provincial, dizendo: " ... Esta semana tomei uns remédios e parece que melhorei! Não sinto mais aquela fraqueza que sentia
na semana passada. Saudações."
Uma fatalidade, em 2003. Certamente um choque na saúde de nosso grande patriarca foi
um acidente. Tantos se acidentam mortalmente com moto. Fr. Isidro não era motoqueiro, mas
foi atropelado por moto, ao atravessar a rua, em Não-Me-Toque. Com fratura de uma das pernas, teve que entregar os cuidados de seu "latifúndio" muito produtivo, a saber, a horta modelo,
atrás da Canônica. Sua vida sofreu dolorosa reviravolta! Apesar de octogenário, era ativo como
se fosse jovem. Sobrou-lhe, então, apenas um hobby: sua coleção de selos. Quanto a esse grave
acidente, Fr. Adriano pesquisou o Livro de Crônicas da casa e contou que, nela, "Frei Isidro
narra a sua queda, ao voltar do hospital, onde rezara a missa. Foi no dia 23 de agosto de
2003. Foi de ambulância para Porto Alegre no dia 26 de agosto 2003. Esteve em Porto Alegre
até dia 4 de fevereiro de 2004, quando retornou a Não-Me-Toque. Ficou em Não-Me-Toque
até o dia 07 de setembro de 2005, quando foi definitivamente para o Lar dos Idosos, em Porto
Alegre, levado pelo pároco Fr. Luis Brancher", para tratamento da saúde. Recuperado, nosso
6
patriarca era exemplo de frade conformado, mas que não entregou os pontos.
No dia 06.12.2007: Foi nomeado "Membro do Guardianato de Monte Alverne, para tratamento de saúde”.
No dia 1º de maio de 2014, com presença significativa de seus irmãos, de familiares e
de muitos amigos, bem como de confrades, na Sede provincial, celebrou-se solenemente o seu
centenário de vida, louvando-se a Deus pelos seus 80 anos de consagração religiosa franciscana e 74 anos de ministério sacerdotal.
Em meados de agosto de 2009, abatido e fragilizado fisicamente, alimentando-se muito
parcamente, nosso patriarca declarou a Frei Lino Inácio Hochscheidt que desejava a visita da
Irmã Morte, mas esta somente lhe veio visitar em 08 de junho de 2014 após quatro dias de internação hospitalar.
Frei Plácido Robaert, OFM]
Frei Arno Frelich, OFM
Algumas mensagens recebidas:
“Grande presença e testemunho de frade em nossa Província e Ordem. Sempre o via como um Frade muito disciplinado, austero, sistemático, fiel, fixado no essencial. Ao ler a biografia, me impressiona a sua itinerância. Passou por muitos lugares, inclusive em terras estrangeiras. Que Deus o acolha, lhe revele a sua misericórdia e lhe conceda a morada preparada
desde sempre com muito amor. É bela a coincidência da morte com a festa de Pentecostes. Isidro foi um homem que viveu segundo o Espírito, foi um homem espiritual. Vou celebrar a
missa de amanhã em sua intenção. Estarei em sintonia hoje à tarde com todos os confrades,
familiares, parentes, amigos/as na celebração dos funerais. Descanse em paz!”
Frei Nestor Inácio Schwerz, OFM
“Agradecemos a Deus pela existência longa de Frei Isidro neste mundo e por seu testemunho. Unidos em oração, supliquemos ao Deus da vida que o acolha na eternidade.”
Frei Valmir Ramos, OFM
“A notícia do falecimento de nosso querido confrade centenário, Frei Isidro, me deixou
triste. Perdemos todos um grande confrade e um homem de fibra. Comecei a conhecê-lo nos
meus tempos de seminário, em Taquari, onde ele era o pároco da paróquia e confessor extraordinário dos seminaristas. Todos o admiravam e gostavam dele. E assim foi em todos os lugares
onde trabalhou, até seu final de vida no convento de Porto Alegre. Peço a Deus que o receba e
o faça viver feliz na eternidade!”
Cardeal Dom Cláudio Hummes
Homilia nos 100 anos de Frei Isidro Bottega
Celebramos um fato inédito nos poucos anos de história de nossa Província. Nossa Província não tem ainda 50 anos de existência, é bastante jovem. Celebrará em 2016 o jubileu de
ouro, ou seja, seus 50 anos de existência. No entanto, frei Isidro celebra seu centenário de nas7
cimento. Viu nascer, crescer e participou da construção da
fisionomia da nossa Fraternidade Provincial. Ele poderia
olhar para nós e dizer: vocês são uma gurizada.
Neste dia, para celebrarmos diante de Deus este fato inédito,
podemos rezar com Santa Clara de Assis e dizer: “Obrigado,
Senhor, porque me criastes”. Ao proferir estas palavras, Santa Clara faz um profundo reconhecimento que a vida é em
primeiríssimo lugar um dom de Deus. E se é dom de Deus,
não nos pertence, não somos proprietários. O proprietário é
outro e, na compreensão de S. Francisco, é o altíssimo e onipotente bom Senhor, que nos concedeu a graça de existir, de ser gente, de ser humanidade, de nos alegrar, conviver e viver a festa da vida. É uma graça poder existir. Se a vida for entendida a partir desse ponto de vista, como seria uma vida de qualidade? Mais qualidade tem aquele que mais restitui a Deus aquilo
que é de Deus. Menos qualidade tem uma vida que foi apropriada, instrumentalizada e colocada a serviço de interesses próprios, do lucro, da ganância, desorientada. Frei Isidro hoje nos
pergunta: Quem é jovem e quem é velho; quem é bonito e quem é feio; quem está de pé e
quem está sentado; quem caminha e quem está em cadeira de rodas; o que tira nossos movimentos e nos imobiliza; o que trava nossa vida e o que nos torna livres diante de Deus e diante
dos irmãos. Vemos tantas pessoas com força física total e imóveis sem força para oferecer um
copo d’água, tantos rostos jovens e bonitos que não encantam, pessoas saudáveis com medo de
ficar doente.
Frei Isidro, com cem anos de idade, é um grande missionário. Através dele é anunciada
a eterna jovialidade de Deus, a ternura que Deus é, a compaixão de Deus, a misericórdia de
Deus, o amor que Deus é. O homem vale pelo que é diante de Deus e nada mais. Ele é um instrumento de Deus na nossa caminhada e nos ajuda a olhar com os olhos de Deus uns para os
outros e ver como Deus vê a vida.
Que o Senhor seja louvado pela vida de frei Isidro e que continue concedendo a graça de
conviver com ele por muitos anos. Através dele Deus continua abrindo nossos olhos para ver
grandes coisas.
Porto Alegre, 1º de maio de 2014.
Frei Inácio Dellazari, OFM
Frei Isidro
Para comemorar os 90 anos de presença dos Franciscanos holandeses em Divinópolis,
MG, o Guardião do Convento Santo Antônio, Frei Erotides, e o Pároco do Santuário Santo Antônio, Frei Francisco Duarte Júnior, promoveram a trezena (13 dias!) em honra do padroeiro.
Tiveram a fineza de dedicar um dia da trezena ao centenário de Frei Isidro Bottega, celebrado a
29 de abril do corrente ano em Porto Alegre. Como a presença do confrade centenário considerava-se desaconselhável, dadas as suas precárias condições de saúde (cadeira de rodas), houvese por bem convidar um membro da Província São Francisco de Assis, de Porto Alegre, para
representar aquele que, como pároco, é querido e ainda muito presente na memória do divinopolitano. Frei Marino, Guardião, indicou Frei Romano Zago como delegado do sul nas comemorações daqueles 90 anos. Voltar a Divinópolis, para quem transcorrera cinco anos de sua
formação teológica significa uma volta às origens, recordações do passado. Por uma semana,
8
Frei Romano integrou-se à fraternidade do Convento Santo Antônio. Lá conviveu ao lado de
confrades conhecidos de outrora, tais como Frei Patrício, Frei Raul, Frei Ronaldo, Frei Geraldo, Frei Cornélio, entre outros. Se a comunidade acolhe frades de idade, compõe-se também de
jovens, em feliz intercâmbio de idades.
A trezena de Santo Antônio abriu-se no dia 31 de maio, estendendo-se até dia 13 de junho, dia do Padroeiro. A cada noite reservou-se tema especial, sempre com novo presidente da
celebração. A presidência da missa do 9º dia da Trezena, domingo de Pentecostes, coube a Frei
Romano Zago, com o tema: “Evangelizar é repartir a vida”, tema motivado pela comemoração
do centenário natalício de Frei Isidro Bottega. No momento em que os concelebrantes (Dom
Hugo van Steekenberg, Frei Francisco Duarte Júnior, Frei Patrício de Moura Fonseca e Frei
Romano Zago) paramentavam-se, na sacristia, chegou de Porto Alegre o comunicado do passamento de Frei Isidro, notícia que caiu como água na fervura. No instante, em Datashow, a assembleia tomava conhecimento dos dados biográficos de Frei Isidro, ressaltando a significativa
obra levada adiante por ele durante seus dez anos de pároco naquela cidade. Comunicar o falecimento de Frei Isidro foi chocante, constrangedor, travo amargo na garganta. À oração da coleta da festa de Pentecostes, o presidente da celebração, acrescentou a oração por sacerdote falecido. Assim, o povo que tanto o estimara, dirigia ao Senhor da vida, a oração pelo seu antigo
pároco, oração, conforto último para a alma. Os festejos das animadas barraquinhas que seguiriam após a missa, foram se apagando automaticamente, em evidente manifestação de luto.
Como o Padre Guardião, Frei “Tide”, tivesse programada reunião dos responsáveis pela
pastoral, em São João del Rei, convidou o hóspede gaúcho para um passeio, lotando o carro
com Frei Patrício d Frei Geraldo. Sabor especial percorrer a região, outrora servida pela Rede
Mineira de Viação, hoje em rodovia asfaltada. Em São João
del Rei, convivemos com Dom Frei Célio de Oliveira Goulart, bispo diocesano. Mostrou-nos a bela Cúria Diocesana e
casa do bispo recentemente reformadas, em apurado bom
gosto. A cinco quilômetros do centro da cidade, situa-se o
complexo do Postulado, distribuído por setores: casa das
máquinas, lavanderia, cozinha, refeitório, tendo a capela ao
centro. Tudo limpo e organizado, com horta, lavoura, açude, ambiente para gado leiteiro e, ao fundo, a fazenda. O
complexo é mantido por quatro confrades professos, com
16 candidatos em formação. Os aprovados seguirão para
Montes Claros, onde, à entrada da cidade, foi construído o
Noviciado, com todos os requisitos.
À noite, em companhia dos dois confrades responsáveis pela Paróquia São Francisco de Assis, prédio que servira de capela dos alunos do antigo internato, a delegação
de Divinópolis teve a satisfação de apreciar uns petiscos, na vizinha Tiradentes, hoje capital do
cinema e da gastronomia, em Minas, com os preços às estrelas, preços dentro do padrão Fifa.
Frei Romano Zago, OFM
9
Carta do Ministro geral sobre o Capítulo 2015
ORDEM DOS FRADES MENORES
MINISTRO GERAL
Cúria Geral dos Frades Menores (OFM),
Via S. Maria Mediatrice 25, 00165 Roma – Itália. Tel. +39.06.684919
Fax. +39.06.632247 – e-mail: [email protected]
Roma, 26.01.2014
A todos os Ministros e Custódios.
Queridos Irmãos Ministros e Custódios:
O Senhor vos dê a paz!
Em primeiro lugar, quero saudá-los fraternalmente e desejar-lhes um Ano Novo pleno
das bênçãos do Senhor.
Escrevo-lhes para dar-lhes algumas informações, que considero importantes com relação
ao Capítulo Geral de 2015. Durante o Tempo Forte do mês de janeiro de 2014, o Definitório
Geral estabeleceu que o Capítulo Geral 2015 se realize, de 10 de maio a 7 de junho de 2015.
Peço-lhes, portanto, que assinalem desde agora estas datas em suas agendas. Ao mesmo tempo,
tendo em conta as opiniões expressas pelo CPO em Konstancin (Polônia), o Definitório Geral
decidiu que o Capítulo Geral terá lugar em Assis, em Santa Maria dos Anjos. O tema principal
do Capítulo será: "Irmãos e menores em nosso tempo" (Fratres et minores in nostra aetate);
junto a este tema também se abordarão os temas previstos da nossa legislação.
O Definitório Geral também determinou solicitar-lhes sugestões sobre possíveis mudanças nos Estatutos Gerais. O prazo final, dentro do qual as mesmas podem ser enviadas à Secretaria Geral do Capítulo, é o próximo mês de junho de 2014, a fim de termos o tempo suficiente
para estudá-las e apresentá-las com a devida antecipação aos participantes do Capítulo, de maneira que possam ser tratadas posteriormente na sede capitular. As sugestões deverão ser enviadas à Secretaria do Capítulo Geral, ao seguinte endereço eletrônico: [email protected]
Peço-lhes que também prevejam na página web de suas Províncias, um espaço adequado
para informar continuamente a todos os irmãos no que diz respeito à preparação do Capítulo
Geral 2015. Tomamos esta decisão juntamente com o Definitório Geral, para garantir que os
irmãos, devidamente informados, possam ter a maior influência possível sobre este evento vital
da Ordem.
Ao mesmo tempo, peço-lhes também que desde agora façam um espaço em seus corações e em suas orações para o próximo Capítulo Geral, para que o Espírito Santo nos assista e
nos acompanhe sempre. Possa a Rainha da Ordem Seráfica interceder por todos nós, seguidores
de São Francisco de Assis no mundo, de modo que nos convertamos em autênticos irmãos menores para o nosso tempo.
Com sentimentos de profunda gratidão pelo ministério que desempenham, os saúdo através da intercessão de nosso Seráfico Pai.
Vosso,
Prot. 104463
10
50 anos do São Pascoal
Peço licença ao frei Arno Reckziegel, para ocupar o seu texto de apresentação no livro
dos 25 anos do São Pascoal. Diz ele neste texto: “A Província São Francisco de Assis diz hoje,
depois de vinte e cinco anos ‘e acrescento, depois de 50 anos’, como Moisés: ‘Darei uma volta,
e verei este fenômeno estranho, porque a sarça não se consome’” (Ex 3,3).
O seminário São Pascoal revive a “sarça ardente”, manifestação de Deus para o povo da
região, para os franciscanos e para a Igreja.
Continua frei Arno, “a presente publicação pretende ‘dar uma volta’ ao redor da sarça e
verificar o que a mantém acesa. A descoberta é fantástica: um solo abençoado por Deus; a força de um povo de fé; a persistência dos frades doando sua vida; jovens ouvindo o apelo de
Deus; o espírito de São Pascoal, de São Francisco”...
O acontecimento merece registro. A comemoração do jubileu é um “tirar as sandálias”
para parar e contemplar a obra de Deus, através de tudo que envolve o seminário. Um pouco da
história e da vida estão aí registrados. Na sarça que não se consome, os franciscanos entendem
que é preciso também andar. Há muito que fazer. Moisés relutou, mas Deus o convenceu:
“Vai, pois, eu te enviarei, para fazer sair do Egito o meu povo” (Ex. 3,10). O seminário São
Pascoal é um marco de luz e um projeto de vida”. São palavras do Frei Arno que merecem ser
relembradas.
Inspirado neste texto, continuamos fazendo memória de tantos frades, estudantes, seminaristas, pessoas que aqui passaram, trabalharam, doaram sua vida pelo bem do São Pascoal;
muitas pessoas da cidade de Três Passos e de vários municípios e paróquias, trazem em mente
este seminário; narram histórias, relatam fatos, travessuras; relembram o bem que este seminário proporcionou nesta região; verdade que muitas pessoas, famílias se doaram por esta casa, e
dentre as famílias há as da Igreja Luterana; disse dias atrás uma comunidade: “nós somos uma
comunidade franciscana...”! Diversas pessoas que fazem parte do seminário desde o seu princípio, contam, narram sua história com alegria, falam da construção do antigo seminário de madeira e do atual e sua construção, dos primeiros freis que aqui trabalharam.
Aqui, nós freis fazemos a experiência de nos deixar ensinar por este povo, ouvindo-o
contar com os olhos vibrantes, a história do São Pascoal, dos freis, dos primeiros seminaristas.
Tendo presente estes relatos, em vez de escrevermos um livro, elaboramos, com ajuda de diversas pessoas, frades, um DVD, para registrarmos esta história desde o princípio. Mas, diria,
não está completo. Muita informação ainda necessitamos para tornar este DVD mais completo.
Para a realização dos 50 anos do São Pascoal, tivemos diversas atividades: uma grande
atividade, organizada pelo Frei Miguel Becker, foi a animação vocacional, realizada nas escolas da Paróquia Santa Inês, que compreende três municípios: Nova Esperança do Sul, Três Passos e Novo Progresso. Equipe de diversas congregações religiosas e religiosos e diocesanos
vieram e dinamizaram este tempo de preparação ao jubileu do São Pascoal, incluindo os 125
anos da fundação da Congregação das Irmãs Servas do Espírito Santo e os 90 anos do martírio
do Pe. Manuel e do coroinha Adílio. Portanto, com estes três motivos presentes na animação
vocacional, preparamos o jubileu.
Bueno, no dia da festa, dia 4 de maio, com a presença do Provincial, que foi muito feliz
na sua homilia, apareceu muita gente de toda a região e também apareceu a chuva, que possibilitou o povo estar todo em baixo do telhado. Fato marcante, também foi a presença dos exseminaristas em grande número; estes se animaram muito com seu reencontro, contando histórias, artes que aqui aconteceram no tempo de seminário. E o interessante é que eles reunidos
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vibram como se fossem seminaristas e suas esposas ficam a olhar, a contemplar a vibração de
todos eles narrando a vida vivida no São Pascoal. Mas elas também repassam seu testemunho
dizendo: “meu marido é diferente, ele ainda é franciscano, e acho que nunca vai perder esta
marca; e quando se encontra com algum colega de seminário, conversam, vibram, recordam e
até se esquecem do tempo!” estes são relatos que manifestam o ser franciscano leigo presente
nestes que cruzaram nestes 50 anos no São Pascoal.
Tivemos uma presença de uma média de 600 pessoas no dia da festa, aqui no seminário.
Pessoas de diversas regiões, lugares, colorindo este espaço do São Pascoal; o povo se dando a
conhecer um ao outro, tomando refeição juntos e, pela manhã, rezando juntos, foi uma verdadeira confraternização franciscana. Assim, creio, que muitos saíram daqui bem mais franciscanos, bem mais animados para continuar a caminhada em suas comunidades e região.
Toda a preparação, capitaneada pelo Frei Carlos Laurêncio Schaefer, reitor e guardião
da casa, a festa andou às mil maravilhas; vai um voto de gratidão ao povo da cidade que, de
fato, preparou a festa, e no dia estiveram aqui mais de 50 pessoas nos serviços da cozinha,
churrascaria, copa, servindo às mesas etc.; um grande agradecimento a este povo de Deus. A
todos quantos apareceram, nossa gratidão pela presença e pelo coração franciscano que cultivam em suas famílias e comunidades onde residem. Grande abraço a todas as pessoas presentes e envolvidas na festa.
Frei João Renato Puhl, OFM
Frei Gervásio: Cidadão Agudense
Em Sessão Especial realizada no dia 06 de Junho, na Câmara de Vereadores de Agudo
realizou-se a entrega do Título de Cidadania a Frei Gervásio Muttoni, que residiu em Agudo
por vários anos. O projeto foi apresentado pelo vereador Itamar Puntel (PMDB). O Vereador
Itamar apontou que Mário Ângelo Muttoni, seu nome civil, atuou “na assistência religiosa do
povo católico da Vila Agudo” e foi “personagem importante na difusão da ideia emancipacionista”. O projeto
foi aprovado por unanimidade pelos vereadores no dia
19 de Maio.
A entrega aconteceu com a presença de um grupo de
pessoas ligadas à Igreja Católica, em especial da Paróquia São Bonifácio que tem grande ligação com Frei
Gervásio, além da presença de amigos do frade. O vereador Itamar Puntel foi quem fez a entrega do título a
Frei Gervásio, que ao usar a palavra agradeceu aos vereadores e a todos pela honraria, recordou que ele é apenas um instrumento nas mãos de Deus.
Depois da Sessão Solene a Paróquia São Bonifácio ofereceu um jantar para os amigos
do Frei e alguns paroquianos. Frei Luis Méndez, pároco, esteve presente na Cerimônia e ao se
dirigir a Frei Gervásio agradeceu por todo seu trabalho e testemunho para a comunidade católica e civil.
Em nota, Frei Inácio Dellazari, Ministro Provincial dos Franciscanos, parabenizou Frei
Gervásio, agradeceu por todo seu trabalho pastoral nas frentes de trabalho dos Frades no Rio
Grande Do Sul.
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O que significa receber um Título de Cidadão Honorário
A Lei Orgânica é a Lei Fundamental do
Município de Agudo que possui a propriedade de
organizar o exercício do Poder, fortalecendo as
instituições democráticas e os direitos da pessoa
humana. Dentre suas várias e importantes atribuições, pode-se observar no seu Art. 35, parágrafo
XVI, a concessão de “Cidadania honorária”, que é
um título de honraria que uma pessoa recebe da
Câmara Municipal.
Mais do que prestar uma homenagem, a solenidade de outorga do Título de Cidadão
Honorário significa prestigiar e reconhecer o trabalho de pessoas que tenham se dedicado a
atuar de forma exemplar tanto eticamente, quanto moralmente e por prestar relevantes serviços
ao Município ajudando no desenvolvimento da cidade e na promoção do bem comum.
O Título de Cidadão equipara a pessoa homenageada a uma adoção oficial. A pessoa
agraciada passa a ser um irmão, um conterrâneo, uma pessoa da terra natal. Mesmo que um homenageado não tenha nascido no Município, para que se lhe conceda tal homenagem, faz-se
necessário que se diga o que ele fez sem visar lucros, interesses pessoais ou profissionais, mas
que se diga o que ele (homenageado) fez em defesa do povo de Agudo que lhe concedeu tal
cidadania.
Essa honraria serve como incentivo para que o espírito de cooperação continue a ser
preservado e manifeste sentimentos de cidadania, que são todas as implicações decorrentes de
uma vida em sociedade.
Frei Malone Rodrigues da Silva, OFM
Renovação dos Votos Temporário – 2014
Nos dias 06 à 08 de junho de 2014, aconteceu o retiro de Renovação dos Conselhos
Evangélicos de dez freis do Seminário Maior João Duns Scotus, da Província São Francisco de
Assis. O retiro ocorreu no Centro Vocacional Irmão Sol, na linha São José, em Estrela – RS.
O pregador do retiro foi Frei Paulo André
Maia, OFM. Refletiu-se sobre o viver como
Frades Menores. A primeira declaração que as
CCGG fazem é afirmar que a Ordem dos Frades Menores é uma Fraternidade. Por isso, a
referência principal não é a instituição, mas, a
pessoa do irmão. “De forma que toda a Fraternidade se torne o local privilegiado do encontro com Deus” (CCGG art. 40).
Os dez frades que renovaram os Conselhos
Evangélicos foram: Frei Maicon Rodrigo Rohr, Frei Roberto Tiago Frey, Frei Cláudio da Costa Oliveira Jr., Frei Luís Fernando Lima Tavares, Frei Marcelo Souza Alencastro, Frei Rudi13
mar Ferreira, Frei Márcio Joel Birck, Frei Antônio Izael Rodrigues Santos, Frei Cirineu Bonini
da Luz e Frei Malone Rodrigues da Silva.
O Espírito Santo sopra e age na Igreja. Temos a certeza que a esperança brota no encontro com a pessoa de Jesus Cristo, sendo a vocação franciscana dom e graça da Santíssima Trindade. E, dessa forma, se torna serviço, doação e entrega ao projeto do Reino de Deus.
No domingo, dia 08, na Comunidade São José, localizada perto do Centro Vocacional
Irmão Sol, ocorreu a Missa e o rito de Renovação dos Conselhos Evangélicos. A Missa foi presidida pelo Ministro Provincial, Frei Inácio Dellazari. Na homilia, ele destacou o novo vigor da
Igreja, através do Espírito Santo, agindo por meio do Papa Francisco, promovendo a espiritualidade, a paz, a esperança e o amor para com os irmãos. Também, São Francisco continua a encantar muitos jovens para o seguimento de Jesus Cristo.
Houve uma grande acolhida e convivência fraterna por parte dos fardes e da Comunidade São José. Assim, a comunidade São José vai se tornando uma comunidade marcada pelos
valores franciscanos.
Renovados pelo Espírito Santo, os frades querem continuar trilhando o caminho Jesus
Cristo, inspirados no Seráfico Pai São Francisco de Assis. E assim, repercute nos corações dos
freis que renovaram os votos: “É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que desejo fazer de todo o meu coração” (1 Cel 22).
Frei Tiago Frey, OFM
IDE, EVANGELIZAI! Vocês serão sal e luz!
E o Master em Evangelização: como vai? É o que certamente você pergunta e, com certeza muitas outras pessoas também.
1. Sim, está silencioso, e atestamos que este é um bom sinal. Pois, no caso atual, o silêncio não significa falta de interesse, de empenho, de sonhos e inquietações. Afinal, pensar a
evangelização significa ocupar-se com a razão de ser franciscanas/os, membros de uma Comunidade de fé, seguidores/as de Jesus Cristo. E isto não é pouco! Pois importa, além de relacionar e elaborar estratégias de evangelização, dar-se
conta de que está diretamente envolvido o sujeito
da evangelização, ou seja, “o estrategista”, a pessoa chamada a ser ela mesma evangelho. Por isso, é um empenho que acentua a reflexão, o estudo, o retirar-se com Aquele que nos convida e
nos envia.
2. Percurso acadêmico: O Curso, enquanto percurso através da proposta grade curricular, já percorreu uma etapa que se poderia caracterizar como antropossociológica, em que o foco principal
fixou-se no “ver”/decifrar o mundo em que nos
situamos, em considerar brevemente quem somos e com que pressupostos mais ou menos
conscientes navegamos. Em seguida, isto é, agora, como num segundo momento, o Curso encontra-se na etapa em que prevalece o “julgar”, ou seja, o revisitar as razões bíblico-teológicas
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da evangelização, problematizando-as a partir do hoje da experiência de cada participante e
buscando brechas de saída, i. é, caminhos de renovação interior que se traduzam em luminosidade e criatividade na ação.
3. Uma primeira avaliação. No final da primeira dezena de
maio, depois de uma celebração eucarística na sede da paróquia Santa Clara, a manhã foi reservada para a avaliação do
percurso feito até aquela data. Foi uma manhã muito rica, pois
todos, com confiança e espírito construtivo, abriram seu coração e sua mente, a partir das seguintes balizas: “que bom!”,
“que pena!” e “que tal!?”. Foram, assim, colocadas algumas
razões de contentamento e de esperança, e apontam-se perspectivas para o futuro do Master. Foi elogiada a acolhida encontrada em Petrópolis, tanto por parte dos confrades, das/os religiosas/os e do povo; foi igualmente elogiada a boa convivência dos estudantes do Máster e seu interesse nas atividades do
Curso; a infraestrutura para o Curso; a percepção da intencionalidade progressiva da grade curricular. Ressaltou-se ainda o acerto da presença/atuação pastoral dos cursistas nos finais de semana em comunidades de fé, como parte integrante do Curso; enfim, a boa qualificação dos
assessores e o acerto das análises de conjuntura.
Ademais, a Coordenação do Curso foi estimulada a continuar buscando melhorias para
alguns condicionamentos relativos à logística de Petrópolis, como: transporte, moradia, informatização; em função de boas perspectivas de futuro, foi expresso o desejo de que se acentue o
foco da/na Evangelização, colhendo as questões que a envolvem e promovendo a interação dos
participantes; incentivou-se a continuidade da busca de uma
caracterização latino-americana; e que a possibilidade de participação no Curso se mantenha ampla, estabelecendo-se apenas
algumas cláusulas.
4. Um aperitivo religioso-cultural. No dia seguinte à
avaliação, foi promovido um passeio cultural na cidade do Rio
de Janeiro. Fomos acolhidos pelos confrades da Fraternidade
do Convento Santo Antônio (sendo guardião Frei Ivo Müller)
com quem almoçamos. Fomos guiados por Frei Sandro no percurso que fizemos e na apresentação do Convento Santo Antônio, com destaque para a igreja
do mesmo Convento e da Ordem Franciscana Secular e suas dependências; esta e a igreja do
Mosteiro de São Bento, que também visitamos, são obras primas do barroco brasileiro. Aproveitamos a oportunidade para visitar uma exposição de obras de arte do museu de São Petersburgo, na Rússia, promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil; passamos pelo coração histórico do Rio de Janeiro, palco da chegada de Dom João VI, da assinatura da abolição da escravatura e, finalmente, percorremos a Cinelândia (catedral, teatro municipal, a biblioteca nacional
e o museu de belas artes). Foi um dia agradável e rico, onde pudemos passar algumas horas
agradáveis, respirando cultura, convivendo e nos conhecendo melhor. Certamente isso dá mais
qualidade ao curso, bem como favorece a reflexão acerca da evangelização.
Enfim, agradecemos a todos quantos nos acompanham com interesse e, com seu apoio,
nos desejam o bem.
Fr. Elói D. Piva, OFM (coordenação e estudantes)
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Reunião entre Bispos e Provinciais
No dia 04 de junho de 2014, no Centro de Espiritualidade Cristo Rei, em São Leopoldo,
RS, aconteceu, como de costume, o encontro anual entre Bispos e Provinciais do RS.
Os Provinciais nos deram por escrito as suas observações. Quero pinçar só algumas.
Nas “Realidades positivas”, destacam: o envolvimento dos leigos na atuação da evangelização missionária, na pastoral da educação, da saúde, da juventude e da ação social, na pastoral social nas periferias, na formação de lideranças. Os religiosos clérigos sentem-se mais acolhidos pelos bispos.
Nas “Alegrias” como Igreja, ressaltam Papa Francisco, como uma Boa Nova. Ele mostra
uma Igreja que vai ao encontro do outro/pobre. Uma Igreja com atitudes de povo de Deus, com
vida simples. O Papa vai proclamar o ano de 2015 o Ano da Vida Consagrada. A missão dos
religiosos vai além da hierarquia. Estão inseridos em todas as pastorais. Se os padres são as
pernas do Bispo, os religiosos e leigos são as pernas da Igreja. Recordam que a leitura orante
iniciou com os religiosos.
Nas “Preocupações”, dizem: na formação de novos padres, falta respeito para com os
religiosos e para com o povo e as comunidades. Falta trabalho de conjunto. Várias dioceses dificultam as vocações religiosas. Há centralização na pessoa do padre e o povo tem medo do padre. É necessário que Bispos e Padres sejam mais pastores. Não tenham medo de assumir o novo.
Nas “Realidades desafiantes” para a Igreja, colocam a proposta do Papa de uma Igreja
acolhedora; o assumir aos documentos da Igreja; passar de uma Igreja de eventos (romarias,
novenas...) para uma Igreja comunidade de comunidades; encontro dos bispos, nas suas dioceses, com religiosos, uso dos meios de comunicação social para a evangelização e unidade dos
MCS administrados pelos religiosos e movimentos com a Igreja. Essas são algumas observações que foram entregues por escrito a todos os Bispos já na véspera do encontro.
Os Bispos destacaram o enorme papel que os religiosos exerceram na evangelização.
Fundaram escolas, hospitais, asilos, leprosários. Depois pediram perdão porque não sempre reconheceram esse papel... Alguns acentuaram que ainda hoje as suas dioceses continuam devendo muito aos religiosos e às religiosas, ainda que tenham diminuído muito em número. Afirmaram que os carismas dos/as religioso/as é um enriquecimento para a diocese. Cada vez que a
Congregação deixa uma diocese é uma perda, gera dor e tristeza pro seu coração.
Não nos podemos opor a promoção vocacional dos religiosos. Não podemos pensar só
em presbíteros diocesanos. Pediram que os/as religiosos/as comuniquem quando um religioso
celebra uma data importante de sua vida ou falecimento. “Queremos estar presentes”. Que os e
as Provinciais visitem os Bispos, ao menos por alguns minutos. “Podemos nos ajudar mutuamente”!
Concluindo: todos desejam vivamente, Bispos e Provinciais, colaborar no aprimoramento das mútuas relações, promovendo 2015 como o Ano da Vida Consagrada e que isso não fique só no externo, em festa.
Dom Frei Irineu Sílvio Wilges, OFM
Obs.: Os Bispos religiosos no RS são, entre titulares e eméritos, dez.
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Formação de Leigos
Paróquias de Agudo e Cortado
Aconteceu...
As celebrações que aconteciam nas comunidades da Paróquia não podiam fugir do assunto que era motivo de preces, intenções, para que terminasse uma seca que castigava a região,
fazia meses. Na missa da Matriz, o Pároco não resistiu e provocou a assembleia, quando lembrava vários episódios que o Povo de Deus enfrentou, passando inclusive fome e sede, como se
podia ler na Bíblia, e lançou a pergunta: “Por que tem seca? Quem é o culpado?” – Em meio ao
silêncio que se fez, alguém gritou: “São os pecados?” – “Que pecados?”, insistiu o Pároco. –
“Os pecados ocultos”, veio a resposta.
Daí em diante praticamente todos os presentes começaram a debater e se envolver no assunto, dar opinião, perguntar e saber mais, lembrando outras secas, até que, para continuar a
celebração, o celebrante teve de forçar e encaminhou o assunto para um aprofundamento futuro. Mas, as lideranças, os responsáveis pelos vários setores da Comunidade, e mesmo os que
não participaram, foram levados a refletir sobre o tema, e se formaram grupos com interpretações diversas, senão contrárias.
Seria problema de ensino/Escolaridade, ou catequese/Bíblia, que o povo estava mostrando com sua reação?
A opção da Província de, onde houvesse possibilidades, e em algumas realidades pastorais confiadas a nós, assumir orientados por metodologia inter-comunitária, foi testada. E as que
foram denominadas “Fraternidades Evangelizadoras” tiveram seu batismo também nas Paróquias de Agudo e Cortado onde, seus agentes responsáveis, puseram mãos à obra.
Ora, o povo perguntava o que vinha a ser essa decisão dos Freis, e qual deveria ser o papel que lhes cabia. Para não dar passo em falso, sempre difícil de corrigir mais adiante, optamos
inicialmente compartilhar pequenos gestos de entreajuda, convivência. Além do mais, se estudava, e logramos clarear aprofundamentos teóricos de algumas ações, já que estávamos tateando e, por se tratar de um passo novo, o fizemos com paciência.
A postura que mais significado teve foi a simplicidade e a alegria que experimentamos
ao sermos solidários diante dos fenômenos adversos do clima: enchentes, desmoronamentos,
mortes e outras catástrofes. Quando há tragédias, todos somos iguais, atingidos ou não.
Outra estratégia dizia respeito à coerência e à persistência como decisão pessoal nossa.
Deveria ser sempre a atitude de quem acredita num projeto de vida. Por aí, sentíamos, se jogava
tudo em torno a uma fé autêntica. Essa fé pode ser medida pela religiosidade. Contudo, nem
todos vão à missa, ainda que sejam batizados, se declarem católicos e vivam de acordo.
Por que formação de leigos?
Para quem está envolvido no universo pastoral de Comunidades ou Movimentos Eclesiais, de índole popular, tradicional ou progressista, esse questionamento sempre continua válido
(aqui apenas se faz pergunta em cima do método a ser usado). Ainda mais quando urgem respostas para as exigências específicas. O que estava acontecendo? Como interpretá-lo? Seria o
dilema do Dízimo? A forma tradicional não respondia mais às exigências e avanços da compreensão e vivência da Fé?
O dia a dia das lideranças estava tomado por reclamações do tipo: “as pessoas desistem
porque desanimaram”, ou “mudou a explicação da Bíblia e não entendemos”. A realidade desta
situação puxava para um aprofundamento. Ninguém queria comprometer-se, pois seus argumentos eram cada vez refutados. Os e as que estavam na Liturgia eram embretados; na Cate17
quese, igualmente. Nos Grupos de Família, ainda estavam mais folgados. Percebíamos mais
agitados só os do Dízimo.
Então, qual deveria ser nossa preocupação maior? Formação? Conforme o assinalado
acima, a preocupação central era criar modalidades para que os cursistas se apropriassem da
história que haviam herdado e viviam, para que as verdades da Fé, com a Bíblia na mão, os conduzissem na sua atuação. Em outras palavras, orientar para perceber quais as razões de sua esperança.
Não aleatoriamente, mas após havermos feito consultas e trocas de ideias com as principais lideranças, incluindo aí a Diocese, decidimos propor às duas Paróquias um curso de Formação Teológica nos moldes que a Diocese de Cachoeira do Sul já organizava, com assessoria
qualificada, inclusive sob os auspícios acadêmicos de uma Universidade de Santa Maria
(UNIFRA), com diploma de extensão universitária. Foi aceito.
Em seguida, movimentamos as três Prefeituras locais através de suas secretarias municipais de Educação, as coordenadorias de Ensino, para que auxiliassem na logística necessária.
Lamentavelmente não pude acompanhar até o final esse curso. Na formatura, frisei a maneira como iniciamos a organizar o que estava sendo concluído, e constatar que o progresso alcançado individualmente, deveria verificar-se logo mais na prática, na ação. Perguntava-me
também: a iniciativa valeria a pena ser repetida? Ou, ao menos, avaliada?
O que nos soava como tradicional, não pode ser desprezado ou abandonado. Sempre somos chamados a dar passos ousados, sim, mas respeitando a história. Por isso, o método de
ação e reflexão foi decisivo no encontro da realidade e das condições de compreensão. No início, acentuei que a novidade, que nós Frades podemos trazer, passa por trilhos que o povo nos
mostra, se formos companheiros, com ideal e apoio mútuos. Por fim, é necessário estar de acordo se todos queremos a mesma coisa, se estamos interessados de verdade.
Frei Plínio Ricardo Maldaner, OFM
Mensagem Final do Congresso
VAI, RECONSTRÓI MINHA CASA
Queridos irmãos e irmãs, paz e bem!
O convite do Crucifixo dirigido a São Francisco na pequena igreja de São Damião, Vai,
reconstrói minha casa!, ressoou continuamente em nossos ouvidos durante este Primeiro Congresso internacional para as Missões e a Evangelização da Ordem dos Frades Menores. E precisamente é este Vai!, que nós, participantes no encontro, desejamos ardentemente fazer nosso,
nesta hora particular da história, e compartilhá-lo convosco, queridos irmãos e irmãs da grande Família Franciscana.
Encontramo-nos no Carmelo de Sassone, Roma, de 18 a 28 de maio de 2014, para assu18
mir os desafios atuais, reflexionar e aprofundar a missão evangelizadora para nossos tempos,
com o fim de relançá-la segundo nossa identidade e a novidade que o Espírito Santo anima em
nós. Na oração e nas celebrações reforçamos nossa fraternidade e compartilhamos muitas experiências, gozando também da presença do Ministro geral e dos Irmãos do Definitório.
Éramos cerca de 150 participantes entre Frades Menores, algumas Irmãs Franciscanas
e alguns leigos, provenientes de 100 Entidades da Ordem e de 50 diferentes países dos cinco
continentes, convocados pelo Ministro geral, Frei Michael Perry, e recebido pelos Irmãos do
Secretariado geral para as Missões e a Evangelização, que organizaram o Congresso.
Iniciamos o encontro na presença do Cristo na Eucaristia, para adorá-lo, para agradecer-lhe pelo dom da nossa vocação e para pedir-lhe sua bênção e sua presença misericordiosa
entre nós. Fomos orientados pelo tema “identidade e novidade” de nossa missão na Igreja e na
Ordem, e convidados a fazer ressuscitar em nós o impulso missionário e evangelizador, ao qual
fomos chamados por nossa vocação. Estamos conscientes de que nós hoje somos o Francisco
que o mundo espera, o mesmo Francisco que o Crucifixo quer enviar a reconstruir a casa dos
homens e das mulheres de hoje, retornando à fonte para recuperar o frescor do Evangelho, o
único capaz de tornar-nos criativos, de inspirar-nos novas formas de expressão, sinais eloquentes e palavras adequadas a nosso mundo.
Durante os dias do Congresso, sempre nos acompanhou o exemplo de nosso irmão Giacomo Bini, chamado recentemente pela irmã morte a gozar da boa notícia que ele testemunhou
e anunciou com paixão. A palestra que ele havia preparado para nós, foi distribuída como seu
testamento de animação da vida e da missão de toda a nossa Fraternidade. Sua presença na
Comunhão dos Santos nos presenteou o sabor da ternura e da inspiração vivaz com que enriqueceu nossos encontros. Sua memória seja grande bênção na vida que continua...
O Congresso se desenvolveu numa viva dinâmica de várias conferências sobre diferentes
aspectos da missão evangelizadora, de oficinas temáticas, de mesas redondas, de testemunhos,
de momentos cotidianos de oração, celebrações e momentos para a fraternidade. O binômio
identidade-novidade de nossa missão evangelizadora, continuamente nos estimulou a buscar a
identidade em caminho, própria de nosso carisma, que consiste em viver a perene validade do
Evangelho em todo lugar e nas cambiantes e diferentes situações da história.
1. Vai!
1.1. Vai!
O apelo urgente de Jesus, uma vez dirigido a São Francisco, agora se dirige a cada um de
nós. No aqui e agora de nossa história, onde nos colocou o Senhor, esta dinâmica de saída de
nós mesmos, é a obediência que desejamos prestar ao Senhor com entusiasmo renovado. Nossa
tarefa é a de superar as tentações que nos impedem de manter vivo em nosso coração que escuta, e de ir para os horizontes que o Senhor nos indica.
Queremos ser ouvido que escuta, coração que escuta cada dia o Senhor que nos fala. Só
escutando poderemos, por nossa vez, falar. Só estando com Ele, poderemos depois partir. E
partir com a alegria do Evangelho.
1.2. Vem!
Diante da palavra do Senhor que nos pede para ir, nossos ouvidos escutam continuamente o apelo do povo, que diz a cada um de nós: Vem! Para São Francisco foi o leproso, foram os
pobres, os que estavam afastados de Deus, ou que ainda não o conheciam. Hoje o mundo nos
pede, implora, nossa presença simples e pacífica, para que voltemos aos caminhos onde o povo
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caminha, às periferias abandonadas, aos areópagos nos quais as multidões, ainda sem o saber,
têm fome de Deus. Queremos obedecer a este grito, sabendo que também é o Senhor quem nos
chama a partir de sua misteriosa presença nos pobres de nosso tempo. Empenhamo-nos em
vencer essa autorreferencialidade que nos faz totalmente surdos diante do grito do Senhor que
clama no pobre.
Num mundo no qual o próximo parece morto, queremos recuperar essa cultura da proximidade que significa estar em meio ao povo, para assimilar sua linguagem, suas angústias e
suas aspirações mais profundas. Queremos voltar a estar inter gentes, como irmãos do povo e
aprender de nossos mestres que são os pobres.
1.3. Ide!
O santo Padre, verdadeiro grande evangelizador e missionário, com força apaixonada
nos empurra a ir, superando as comodidades que aprisionam os pés do anúncio. Urge-nos a
conversão pastoral que quer colocar o ir no lugar do estar e do esperar. Como novo São Francisco, ele primeiramente, nos dá o exemplo, não só por meio de palavras, mas, e sobretudo,
com gestos evangélicos que sabem falar ao coração dos homens e das mulheres de hoje. Gestos
que são encíclicas lidas e compreendidas por todos! Quanto entusiasmo provoca em todo o
mundo a pessoa do Papa! Quanto fala da Igreja em saída, nós nos sentimos chamados a ser
uma Ordem em saída, para ir pelos caminhos do mundo como irmãos e menores, com o coração voltado ao Senhor, abertos e acolhedores para com todos, em particular para com aqueles
que a globalização da indiferença joga para as margens da vida. Nosso ir com simplicidade,
confiados na Providência, é já evangelizar, ainda sem palavras. Ide evangelizar e, se é necessário, também com as palavras! Não devemos ter medo, porque somos Fraternidade de irmãos e
irmãs, de religiosos e religiosas e de leigos: pertencer à mesma grande Família nos dá força e
valor, nos faz viver a riqueza da pluralidade e complementariedade de dons, nos faz admirar
com estupor a beleza de um carisma que é perenemente novo, quando se vive com paixão e
juntos.
Nosso ir, como família, poderá fazer nascer o espírito da fraternidade no meio dos homens e das mulheres de nosso tempo. O anúncio feito em fraternidade e como fraternidade é
um verdadeiro imã, capaz de atrair ao Senhor todos os seus filhos.
2. ... Repara...
2.1. Dentro de ti
Nos dias do Congresso, nos damos conta de que a primeira reparação começa no interior
de nossa vida pessoal e comunitária. Além disso, sabemos bem que devemos ser evangelizados
para poder evangelizar, e é por isto que nossa vocação é a de sermos sempre discípulosmissionários. Estamos convencidos de que, antes de qualquer palavra sobre Deus, devemos falar com Deus: é Ele quem nos forma com sua palavra, iluminando-nos a partir do interior, e é
Ele quem nos converte através dos acontecimentos salvíficos que encontramos cada dia. Advertimos fortemente a necessidade de uma boa formação intelectual para poder dar razão de
nossa esperança diante dos desafios, sempre mais complexos, de nosso tempo. Quanto mais se
reparar nossos corações, mais podemos ser reparadores de nosso mundo, lutando por justiça e
paz, para o cuidado da criação, por tudo o que saiu como uma coisa boa das mãos de Deus e
que o orgulho e a ganância o mundo tentam arruinar.
Queremos dizê-lo com força: a nova evangelização será possível somente se nós formos
novos evangelizadores, com o coração aberto a essa formação permanente que é a conversão
diária capaz de fazer-nos novos. Só assim poderemos observar o santo Evangelho de nosso
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Senhor Jesus Cristo, como e com São Francisco.
2.2. Dentro de vós
A reparação é também para a Família Franciscana em seu conjunto. Uma Fraternidade
que vive bem sua vocação é o primeiro grande anúncio evangélico. Nossa missão evangelizadora tem seu coração em nossa vida fraterna, feita de intensas e verdadeiras relações, feita eficaz pelo mistério pascal que nos faz irmãos. Não somos uma federação de eus, somos chamados-convocados. Quando vivemos nossa vida como irmãos, ao nosso redor se libera uma luz de
fraternidade, capaz de iluminar e atrair. É uma luz que fala, que vai diretamente ao coração da
nossa gente. Então, reparar nossa fraternidade implica empenhar-se, sobretudo, em nossa própria casa, reconhecendo humildemente nossas culpas e pedindo perdão aos irmãos e irmãs. Esta mesma atitude também quer se dirigir a todos os povos que, ao longo da história, de alguma
maneira, tenhamos ofendido ou descuidado. Devemos ter sempre presente que a primeira saída
missionária, de fato, é aquela da abertura de um irmão em relação ao outro, de uma irmã para
com a outra. Sem esta reparação ad intra, não seremos capazes de realizar nenhuma reparação
ad extra, não poderemos sanar as divisões, as desigualdades, os ódios e as guerras que há no
mundo. Porém, também há outra reparação à qual nossa Ordem já há muitos anos está dando
atenção particular: é a reparação referente às estruturas, tanto mentais como materiais, que
também devem se converter a cada dia. Hoje, mais do que nunca, as estruturas falam, são eloquentes e indicativas; precisamente por isso, necessitam ser convertidas à transparência pura
do Evangelho. Não podemos anunciar uma palavra que logo é desmentida por estruturas que
falam o contrário. O reparar o supérfluo de estruturas que falam contra a minoridade, que ofuscam a simplicidade evangélica ou que fazem pesado o leve caminhar do anúncio, faz-se necessário para nós, se quisermos ser críveis. Uma opção corajosa de pobreza abrirá melhor nossa
mente e nosso coração para obedecer a Deus e aos irmãos e irmãs, nos ajudará a percorrer caminhos inéditos mais consoantes com o atual clima cultural, nos dará olhos de simpatia para
com todos, nos ajudará, com potencial crítico, a discernimentos mais profundos e eficazes.
Devemos continuar na obra de “tirar os escombros” (ablatio) assinalada por Bento
XVI e que consiste na contínua limpeza de tudo o que impede a Deus falar e se mostrar; de tudo aquilo que esconde a força do Crucificado! Não queremos criar ilusões para nós: todo podar exige sacrifícios e sofrimentos; mas tampouco devemos nos afligir, porque o podar traz
sempre nova vitalidade e rebentos de ressurreição. Baixar com Cristo até seu aniquilamento
significa voltar a se encontrar unidos a Ele em sua ressurreição.
2.3. Dentro do mundo
O mandato de reparar, confiado pelo Crucificado a São Francisco, se estende à casa do
mundo, de todo o mundo, sem fronteiras nem distinções de povos, raças, línguas e religiões.
Nosso mundo rachado pede nosso trabalho de reconstrutores; onde houver ódio, que eu leve a
paz! Pede-nos a capacidade de sermos construtores de pontes, de sermos pontífices: onde houver divisão que ou leve a unidade! Chama-nos a ungir com o bálsamo da reconciliação: onde
houver ofensa que eu leve o perdão! Com mãos desarmadas e pobres, mas ricas do dom de
Deus, estamos chamados a construir a civilização do amor, onde todos os povos tomam parte e
onde a presença de Deus se converte em garantia de bem para cada um. Desse modo imploraremos, com a Igreja, casa e escola de comunhão, o advento do Reino de Deus.
Queremos levar ao mundo o Evangelho sine glosa, anunciando a Cristo, e este, morto e
ressuscitado, que quis morrer por amor a nós e que agora nos acompanha no peregrinar terreno. Com o exemplo de São Francisco diante dos olhos, nos propomos ser incansáveis semeadores do Evangelho de Jesus, anunciadores de uma penitência que se converte em misericórdia e de uma bem-aventurança que se faz saudação de paz! Pretendemos, deste modo, suscitar
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uma cultura fraterna do encontro ao interior da multiculturalidade de nossos tempos e promover o diálogo com todos: como forma cortês de evangelização, onde o respeito e a esperança
em relação ao outro, o reconhecimento da presença de Deus nele, a confiança nas possibilidade humanas e no dom de Deus, a busca serena da verdade, tudo constitua uma verdadeira
evangelização recíproca.
3. ... minha casa.
3.1. Casa de simpatia
Nosso olhar sobre o mundo, como franciscanos, é um olhar de simpatia. Estamos convencidos de que Deus está presente em seus filhos apesar de que seu rosto esteja marcado pelas
limitações e pelo pecado. Nossa simpatia é fruto da consciência de que Cristo, o Senhor ressuscitado, vive e atua nos caminhos do mundo, se põe do lado de cada pessoa e nos acompanha
com sua presença vitoriosa e segura. É a simpatia que sabe reconhecer toda a criação como um
ostensório em cujo centro está a beleza e a bondade de Deus; que sabe olhar a mãe terra como
imenso sacramento do poder criador que opera maravilhas ao nosso redor. Nesta casa, que é o
mundo todo, queremos ser um canto de restituição ao Senhor por todos os dons concedidos,
convidando a todos aos louvores e à ação de graças ao Senhor único Bem.
Exortamos a todos os irmãos a redescobrir a via pulchritudinis como eficaz meio de
evangelização: toda a nossa história é maravilhosa sinfonia de genialidades artísticas postas
ao serviço do Evangelho para o bem dos irmãos e das irmãs que se encontram nos lugares
mais díspares do mundo. Com a música, com o canto, a poesia e o teatro, com a arte da escultura e da arquitetura, com a fantasia e criatividade pastoral das formas populares de devoção,
gerações inteiras de irmãos exortaram o povo de Deus e as pessoas de todas as culturas ao
louvor da beleza de Deus, repetiram quanto São Francisco cantava ao Senhor no monte Alverne: Tu, ó Deus, és a Beleza!
3.2. Casa da misericórdia
A simpatia franciscana se dirige particularmente ao homem e à mulher, reconhecendo-os
como imagem de Deus, sempre, mesmo quando essa imagem seja desfigurada pelo mal. São
Francisco nos recorda que o fazer penitência é fazer misericórdia, ajudando-nos a ver o mistério de Deus escondido em todo ser vivente. Hoje, sobretudo em nosso mundo tão inclinado ao
juízo fácil, à marginalização e à condenação, queremos levar misericórdia às consciências feridas, às famílias divididas, às sociedades fraturadas, aos desastres econômicos, aos desequilíbrios ecológicos, aos países em guerra. Devemos recordar sempre que nossa evangelização toda
é fruto e consequência necessária do seguimento de Cristo: são nossos passos sobre as pegadas
de Cristo que o tornam presente, que nos permitem falar dele, é na conformidade com o Senhor
que poderemos ajudar os irmãos e as irmãs a se formar com seu Evangelho.
Queremos tornar nossas casas abertas à acolhida, à medida do abraço do Crucificado:
nas paróquias, nas escolas, nos santuários, na acolhida aos pobres e aos desesperados, no
mundo juvenil. Empurrados por Fransisco, alter Christus, todos queremos pregar humildemente com as obras, antes que com as palavras!
3.3. Casa da profecia
O Senhor nos convida a ir pelo mundo inteiro para dar testemunho de sua voz, para dizer
com a vida e com as palavras, que não há outro Senhor senão somente Ele, vivo e ressuscitado
no meio de nós, até o fim dos tempos, Poderemos ajudar o mundo a se transformar na casa de
Deus, só através da prática do amor. Só o amor, de fato, torna presente a Deus no meio de nós.
Por esta razão, invocamos o Espírito do Senhor para que nos conceda sempre sua santa opera22
ção. De pouco serviriam nossas estratégias pastorais, as múltiplas atividades apostólicas e todas as diferentes formas de pregação, sem o Espírito que nos faz tabernáculo do amor, onde
Deus mesmo vive e atua, chama e converte, nos enche de si mesmo. Para poder entrar no meio
das pessoas de nosso mundo, deveríamos superar este cristianismo sociológico que enfraquece
quase em todas as partes, deveríamos nos acostumar a uma Igreja sem visibilidade particular e
sem preeminência, deveríamos superar aquele sentido de poder e arrogância do cargo, que certa cultura religiosa fez crescer e desenvolver. Deveríamos afastar de nós toda explosão de mundanidade espiritual, considerando-a como verdadeira como verdadeiro paganismo e solapada
idolatria. Não poderemos voltar atrás, não queremos nos converter em estátuas de sal! Antes,
queremos escutar o forte chamado de nosso santo Padre o Papa que nos deseja consagrados=profetas, em modo de despertar mundo do sonho dos ídolos, prontos a encarnar a categoria evangélica do fermento e do sal. Devemos nos considerar sempre mais como a humilde alma cristã que vive no corpo do mundo, e descobrir os valores humanos da ternura e da amizade, com portas de entrada para todos. Como Fraternidade universal, acostumada a falar muitas
línguas, desejamos saber dialogar com cada povo e cultura, aprendendo, com respeito, a linguagem de nosso mundo, em modo de habitá-lo com o Evangelho que recebemos. Ao redor de
nossos irmãos e irmãs, que vivem com frequência o drama de uma secularização inumana e de
uma exclusão institucionalizada, queremos viver a esperança cristã com forma de solidariedade
e de caridade com fantasia criativa, denunciando a economia perversa que põe de joelhos o
mundo e marginaliza países inteiros, obrigando milhões de pessoas a migrar de uma parte a outra do planeta. Devemos ser voz de Deus em meio ao mundo, falando sua palavra, gritando-a
com o testemunho da vida e a força da fraternidade: voz que se dirige a toda forma de injustiça,
de poder perverso, de males sociais que prejudicam a dignidade das pessoas e ameaçam a vida
do planeta. À casa de Deus, que é nosso mundo tão maravilhoso, se bem que, complexo e contraditório, pretendemos oferecer a graça do Espírito que está em nós, a alegria que recebemos,
junto com a exemplaridade de uma vida sóbria e feliz, afastada da idolatria do dinheiro. É esta
gratuidade, infundida em nós e por nós celebrada, que queremos presentear a esta casa.
Queremos dizer a todos e a cada um: Jesus Cristo te ama, deu sua vida para te salvar,
agora está vivo e caminha junto a ti, para te sustentar, te iluminar e te guiar! Tal anúncio o
pretendemos fazer juntos, como Família franciscana e com todos os que receberam a graça de
ser cristão; pretendemos, em particular, nos valer da preciosa e complementária colaboração
dos leigos, e nos empenhar em valorizar o gênero feminino, frequentemente deixado na penumbra do passado. Juntos poderemos apresentar o Cristo total que quis ser reconhecido precisamente na comunhão do amor.
Conclusão:
Queridos irmãos e irmãs, ao terminar nosso Congresso, descobrimos que a identidade é
exatamente a novidade de nossa missão evangelizadora. Nossa identidade mais profunda é a
verdadeira novidade que o mundo espera e as novidades que faremos florescer estão na identidade de nosso carisma, que continuamente deve ressuscitar através de nossa conversão pessoal e fraterna, da celebração gloriosa do Senhor e do testemunho diante de todos.
Os novos santos, papas João XXIII e João Paulo II, grandes evangelizadores de nosso
tempo, nos traçam um caminho seguro para nossa vida e missão e nos sugerem: olhem o mundo com amizade e anunciem com entusiasmo a todos que abram as portas de sua casa a Cristo, verdadeira riqueza e sentido último de toda a existência.
O Papa Francisco, cujo exemplo iluminador esteve sempre presente em nosso Congresso, nos empurra com força: Ide, deixem-se atrair pelos menores: de outro modo, quem se ocu23
pará deles? Vós sois os irmãos menores para os menores de nosso tempo. Com a força do
Evangelho digam-lhes que aos olhos de Deus são muito importantes e preciosos!
São Francisco, feito todo língua de evangelização porque tudo nele falava do Senhor, ao
quem fixou em seu coração, nos exorta: Custodiemos sua presença como morada permanente
em nós. Só se Ele está no centro de nossa casa, então será uma casa de vitalidade missionária,
aberta a todos!
Queridos irmãos e irmãos da grande Família Franciscana. Vamos juntos reparar a casa do Senhor!
A IDENTIDADE E A NOVIDADE DA MISSÃO EVANGELIZADORA DA ORDEM
HOJE
1. A evangelização de Francisco e das primeiras gerações franciscanas
“Por isso (o Senhor) vos mandou pelo mundo inteiro, para que rendais testemunho à
sua voz com a palavra e com as obras e façais conhecer a todos que não há nenhum Onipotente exceto Ele” (São Francisco, Carta à toda Ordem 9).
Introdução. Falando de identidade é necessário fazer algumas premissas que deveriam
ser dadas por descontadas e que nos introduzem no tema.
Uma identidade deve ter a característica de “extática” mais que “estática”. A estaticidade é dominada pelo passado imóvel, incapaz de mudar e de se renovar, como o requereria a lei
da vida. Tem como ponto de referência o passado mais que o futuro. Enquanto a dimensão
“extática” indica um centro fora de si que a anima e a aggiorna. Não nega o passado, mas lhe
dá verdadeiro significado, o abrindo ao futuro. Eis porque a verdadeira identidade é sempre memória e profecia: memória vivente do Evangelho e profecia da “meta escatológica” que nos espera.
Hoje, falando de identidade se fala sempre de “identidade em caminho”, ou seja, sempre
em caminho de reestruturação como é a pessoa e como o é cada estrutura. É a condição para
permanecer vivo e eloquente. É exigência requerida pelo próprio Evangelho e pelas mudanças
históricas. É a condição para não permanecer fora da história. Uma identidade aberta, isto é,
atenta aos sinais dos tempos, ao nosso mundo. Aberta no sentido de pertença à Igreja, à Ordem
antes que a uma Entidade determinada. O Senhor nos chamou para o seu Reino, não para viver
fechados numa casa, para “salvar” uma Província!
Mais, a verdadeira identidade evangélica se funda sobre dar a vida, sobre “perdê-la”,
mais que conservá-la. Os mártires algerianos nos recordam que: “Uma comunidade religiosa
não é feita para se dar sobrevivência, mas para dar a vida”. É a lógica da qual fala o Evangelho.
Entrando diretamente no nosso carisma, devemos dizer que a identidade franciscana se caracteriza e se funda sobre a vida evangélica e não sobre uma diaconia particular. Cada vez que desejamos rever ou crescer na nossa identidade, temos necessidade, antes de tudo, de colocar ao
centro o coração da regra: “A vida e a regra dos Frades Menores é esta, observar o santo
Evangelho...” (Regra bulada 1), portanto, é indispensável ressituar, em sintonia com este dado
fundamental, todos os nossos serviços e as nossas estruturas.
Viver o Evangelho para poder evangelizar em verdade. “O mesmo Altíssimo me reve24
lou que deveria viver segundo a forma do santo Evangelho” (Testamento 14). A vida de Fran
cisco é uma vida de total e radical obediência ao Evangelho. Nela sua Regra propõe um ideal
de vida religiosa cristã modelada sobre o Evangelho, “sobre o modo de ser e de agir de Jesus
frente ao Pai e frente aos irmãos” (Vita Consecrata 22), sobre o exemplo de Jesus. O Evangelho permanece a única regra de vida, a ideia mãe que liga e percorre todos os 12 capítulos da
Regra: esta inicia com o apelo do Evangelho e termina recomendando ser fiéis ao Evangelho. É
o ponto de partida, de chegada e de contínuo confronto.
O encontro com a Palavra, com o Cristo de S. Damião, com os leprosos,
“desestabilizaram” Francisco; o colocaram no caminho por uma itinerância iniciada com o
Evangelho, acompanhada pelo Evangelho, terminada com o Evangelho: a partir do Crucifixo
de S. Damião ao Alverne, da espoliação na praça de Assis, frente ao Bispo, à espoliação final
antes da morte.
Uma espiritualidade itinerante, modelada sobre o Evangelho, sobre o exemplo de Jesus
de Nazaré que “não tem onde reclinar a cabeça”; uma espiritualidade livre e libertadora, na procura constante do rosto de Deus e da sua vontade. Trata-se de uma identidade evangélica “em
caminho”, que se constrói caminhando. Uma espiritualidade na qual todo tipo de estrutura deverá estar em função deste caminho bem orientado e guiado pela Palavra: uma Palavra que surpreende, que “desestabiliza” e define periodicamente a nossa identidade evangélica com as devidas estruturas que facilitarão este êxodo cristão. A âncora que dá estabilidade e segurança é o
Evangelho.
Vida evangélica e missionária como êxodo, como encontro. O ir “pelo mundo inteiro”
é parte integrante da vocação evangélica franciscana desde o início.
O missionário franciscano, como cada missionário, não leva a salvação, mas a revela.
O seu serviço se coloca na ordem da “revelação” e da “memória”: revelar o amor de Deus pelo
homem que se manifestou em Cristo Jesus (cfr. Redemptoris Missio 2). Portanto, o coração da
missão é a transparência, mais que a eficiência, Isto inclui sempre estes dois elementos: transformação interior do mensageiro, operada por este encontro, e reenvio à Boa Nova, ao Reino.
E, em fim, também uma visibilidade “eloquente” e viva, que favorece o encontro entre o Evangelho e o homem de hoje. Somos chamados, portanto, a intuir e criar lugares de encontro, como o fez Jesus com a Samaritana, com Mateus, com Zaqueu, com os discípulos de Emaús.
De Francisco foi escrito que era um “homem feito oração”, isto é, um homem transformado interiormente, que se deixou encontrar, e contemporaneamente um “homem feito missão”. “De todo o seu corpo havia feito uma língua” (1Cel 97). Um missionário inestancável,
que soube inventar lugares, sinais e métodos diversos para a sua evangelização, para poder encontrar cada homem, mas sempre a partir da sua vida “evangelizada”. Os leprosos de Assis
marcaram uma etapa decisiva na sua existência, mas não parou em Assis, se lançou a todos os
“leprosos” do mundo, até ao sultão do Egito. E assim fizeram as primeiras gerações de frades.
Nas suas origens, como no seu desenvolvimento ao longo dos séculos, a espiritualidade
franciscana foi uma espiritualidade evangélica e missionária, uma espiritualidade do encontro,
centrífuga como aquela do Novo Testamento: sempre em caminho, para fazer-se presente ao
outro no seu “terreno”, na sua situação, nos seus “lugares”, no seu “habitat”, antes mesmo de se
tornar hospitalidade e acolhida. Uma espiritualidade ligada ao homem mais que a uma terra determinada, por quanto santa ou pecadores que essa fosse.
As primeiras gerações franciscanas não se deixam circunscrever ou aprisionar por nenhuma estrutura que poderia limitar os movimentos, nem por nenhuma área geográfica. Não se
sentem limitadas pela estrutura, ou ainda a lugares físicos como monastérios, casas, comunidades estáveis. O mundo é a sua “clausura” e cada homem é o seu irmão! As próprias estruturas
25
relacionais, institucionais e ambientais deverão favorecer o encontro com os mais marginalizados, os mais pobres, os mais afastados. Esta foi a práxis da evangelização franciscana ao longo
dos séculos.
O testemunho da vida fraterna como vocação evangélica e primeira forma de evangelização. Na espiritualidade franciscana, a relação fraterna verdadeira e profunda é o lugar
privilegiado do encontro com Deus em Cristo (cfr. CCGG 40). O seu testemunho tem sempre
dimensão “epifânica”, enquanto reveladora do Reino de Deus operante no meio de nós. Revela
e manifesta a reconciliação que Deus operou em nós em Cristo Jesus. Os verdadeiros discípulos
de Cristo serão reconhecidos exatamente por este amor recíproco. “Nisto todos saberão que
sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35). A vida fraterna é, portanto,
a primeira “transparência” que reenvia diretamente ao Reino já presente.
Durante os últimos 50 anos da história da Família Franciscana, depois do Concílio Vaticano II, foram claramente assinalados pela consciência sempre mais forte e indiscutível, que
somos uma fraternidade: “uma fraternidade contemplativa em missão”, na minoridade, como
qualificação do nosso carisma. Esta dimensão fraterna, estrutura fundamental, elemento essencial e constituinte da nossa vocação e missão, encontramos em todos os documentos. Trata-se
de uma espiritualidade “fraterna” como sinal do Reino já iniciado com os seus frutos de reconciliação; uma espiritualidade que anuncia, primeiramente, com o testemunho de vida libertada e
reconciliada, a paixão evangélica do amor, de uma vida doada, segundo o exemplo de Cristo, e
testemunhada pelo viver junto.
Também sabemos muito bem, ao menos teoricamente, que a primeira missão, a primeira
forma de evangelização de um franciscano, além de cada outra atividade, é o testemunho da
uma vida fraterna, serena e respeitosa (cfr. CCGG 87).
A própria Fraternidade Provincial dos primeiros anos, é uma Fraternidade dinâmica,
itinerante, ágil, pronta a colocar-se em todas as estradas, para o oriente e para o ocidente, capaz
de adaptar-se a cada situação, mudando método segundo as categorias das pessoas que se encontram.
A relação fraterna se tornou, seguramente, esta palavra profética que o mundo espera.
Hoje, além de vida evangélica, é necessária uma vida fraterna evangelizadora; além de santidade pessoal, é necessária uma santidade na fraternidade, uma santidade “fraterna”. Aos superiores gerais religiosos Papa Francisco disse: “Se não se vive a vida fraterna não se é fecundo”, e
acrescenta: “Se uma pessoa não chega a viver a fraternidade não pode viver a vida religiosa”.
Que tipo de vida fraterna e familiar estamos construindo nas nossas casas, nas nossas
Províncias, na nossa Ordem? Como encontrar a nossa identidade e novidade evangelizadora
sem este elemento “constituinte”, carismático?
2. Novidade da evangelização franciscana, intrínseca ao próprio Evangelho
A história de Francisco é centrada sobre dois envios: o primeiro é a mensagem escutada
do Crucifixo de S. Damião: “Francisco vai, repara a missa casa que, como vês, está toda em
ruínas” (2Cel 10). O segundo, que liga no Poverello vocação e missão, é a escuta do envio em
missão dos doze (Cfr. Mt 10,5-15). Francisco “logo, exultante de Espirito Santo, exclamou: isto
que quero, isto de procuro, isto que desejo fazer de todo coração” (1Cel 22).
Depois do primeiro encontro com o Crucifixo de S. Damião, Francisco se coloca à obra
sem ainda ter bem claro a mensagem recebida e sem saber onde irá parar; seu sustento será uni26
camente a confiança no Pai e a guia da sua Palavra.
A segunda mensagem de envio, colhida por Francisco no Evangelho, é igualmente percebida na sua globalidade e acolhida com prontidão tipicamente apostólica. Sem demora, o Poverello se livra de todo peso e de todo impedimento, e “sem saber aonde ia”, se coloca em caminho. Com a chegada dos primeiros companheiros, a missão evangélica se torna ainda mais
evidente: ir dois a dois, completamente expropriados de tudo (poder, ter...), pregando paz e reconciliação. Fiel ao Evangelho, Francisco intui que o verdadeira discípulo se torna imediatamente apóstolo, porque o chamado é já, desde o início, vocação missionária. O chamado é único: não se forma “no fechado” para depois ir “ao aberto”.
Papa Francisco não tem dúvida: “A missão é algo que não posso desenraizar do meu ser
se não quero destruir-me. Eu sou uma missão sobre esta terra, e por isso, me encontro neste
mundo” (Evangelii Gaudium 273).
Paulo VI escreve: “Só uma igreja evangelizada poderá ser uma Igreja evangelizante” (Evangelii Nuntiandi 15). A nova evangelização pode se conceber como novo modo para se
deixar ainda tocar e surpreender pela Boa Nova, pelo Evangelho de Jesus Cristo, como aconteceu com Francisco. Em tal caso a evangelização se torna nova se, novamente hoje, realiza este
encontro com a transformação da própria vida. A Boa Nova, que é o próprio Jesus, é a celebração deste encontro que enche ainda a existência de uma pessoa, que responde ao desejo verdadeiro de felicidade plena, do qual o homem é sedento e pelo qual a vida se torna bela, boa, plena, iluminada e iluminante, evangelizada e evangelizante. Assim se explica o grito de alegria de
Francisco depois da Palavra de envio.
O amor do qual se faz experiência é sempre novo: portanto, também a evangelização será sempre nova: novo é o modo como Deus continua a comunicar-se ao homem, novo também
é o modo no qual é recebida e vivida em profundidade por quem a acolhe; nova será necessariamente também a resposta a dar. Paulo VI nos recordava que “A cada estação o Senhor nos pede
uma resposta nova”. A nova evangelização é, primeiramente, este mistério que reside no próprio Deus, na Palavra viva que ressoa em cada um de nós e por toda a humanidade; é experiência pneumática que nasce do interior do homem alcançado por este amor que pede para se encarnar mais uma vez e se comunicar aos outros. Para Francisco, esta “nova” evangelização é,
portanto, intrínseca ao próprio Evangelho e intrínseca ao homem em caminho, que o testemunha e o anuncia.
Por conseguinte, a “nova evangelização” não é, inicialmente, uma reevangelização com
maior paixão; uma nova enculturação do Evangelho no mundo de hoje, porque entendemos que
num mundo descristianizado, secularizado, se deve retomar a catequese...; não é exclusivamente porque o evangelho se encontra de fronte a novas realidades, novos problemas; ou porque
hoje o anúncio está enfraquecido, monótono, rotineiro, então é necessário redizê-lo em novas
palavras; ou “nova” porque muita gente jamais a escutou. Tudo isto é verdadeiro; mas é nova,
sobretudo, porque é uma notícia que renova e surpreende cada vez que é ouvida e vivida, como
para Francisco; é intrínseca ao Evangelho e ao anunciador; depois se torna exigência de comunicação e de amor.
Novas modalidades, novas mediações e estruturas para comunicar o Evangelho hoje. A nova evangelização não exclui naturalmente novas modalidades, novas mediações, novas
técnicas para anunciar eloquentemente esta mensagem, também se sucessivamente e em relação
a quanto dissemos acima; se trata do encontro concreto entre o Evangelho e o homem de hoje,
de uma determinada cultura e de um determinado tempo. Põe-se assim o problema das várias
mediações e formas, que nascem sempre de uma vida evangélica, para um diálogo construtivo
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com o homem do nosso tempo. Há uma relação direta entre vida evangélica e vida evangelizadora; mas a matriz, a razão fun-da-men-tal é a primeira. A dificuldade para encontrar novas
formas de evangelização depende muito não da falta de fantasia, mas da fragilidade da fé, como dizia São João Paulo II; da pouca transparência evangélica e pouca fidelidade do mensageiro. O santo papa via bem que cada vocação comporta uma missão: sem esta, se atravessa a
própria identidade. A encíclica Redemptoris Missio nos dizia que a missão, em todas as suas
formas, “renova a Igreja, revigora a fé e a identidade cristã, dá novo entusiasmo e novas motivações... A missão é um problema de fé, é o índice exato da nossa fé em Cristo e do seu amor
por nós” (Redemptoris Missio 2 e 11)
É importante afirmar que quem quer evangelizar verdadeiramente deverá fazê-lo com
todo o seu ser: com o que é, com sua vida, com o que faz e com o que diz. Isto também implica
o compromisso e o risco de encontrar e inventar novos lugares de encontro e novas formas de
diálogo. Do contrário, as várias mediações ou recursos técnicos tornam-se vazios ou podem
deformar o anúncio.
Papa Francisco nos convida calorosamente e urgentemente a esta revisão das estruturas
em sentido geral: “Convido todos a ser audaciosos e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das próprias comunidades (...) Não
permaneçamos ancorados à nostalgia de estruturas e atitudes que não são mais portadores de
vida no mundo atual” (EG 22;108). “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar
tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se
tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação...
fazer com que todas elas se tornem mais missionárias” (EG 27).
Papa Francisco “sonha uma Igreja missionária”, uma “Igreja em saída”, encaminhada
para as “periferias”, os “lugares de fratura”. Insiste continuamente sobre o “sair”, sobre a
“cultura do encontro”, sobre a cultura missionária, em oposição à estaticidade institucional, ao
“sempre foi assim”, à cultura do isolamento, do voltar-se sobre si mesmo.
De consequência, todas as mediações e estruturas, para ser vitais, deverão continuamente confrontar-se com o Evangelho e harmonizar-se com os valores vivos da nossa vocação e
missão para poder dialogar com o mundo. Necessita-se de estruturas e mediações evangelicamente radicais, em modo a surpreender; estruturas provisórias, sobretudo, hoje, quando se fala
de uma “identidade em caminho” e de um mundo que muda com uma velocidade impressionante. Nenhuma estrutura é eterna; portanto, é importante não viver para a própria sobrevivência ou autopreservação, mas pelos valores que elas custodiam.
Dever-se-á ter a coragem de adaptá-las e transformá-las constantemente, verificá-las
com inteligência para que sejam sempre portadoras de vida e não de morte. Somo viatores com
os olhos fixos em Deus que vem.
É indispensável abrir-se sempre mais a formas e mediações abertas: interprovinciais,
inter-religiosas e em colaboração com os leigos.
Concluindo, nos perguntamos: como viver e
anunciar o Evangelho de hoje?
Por que tanta dificuldade para renovar ou criar metodologias evangelizadoras mais vivas?
Profetas de “novas respostas para os novos problemas do mundo de hoje”. (Vita
Consecrata, 73).
A prioridade absoluta, a peculiaridade da vida religiosa é para papa Francisco a profecia. Seja aos superiores gerais religiosos como na entrevista ao diretor da Civiltà Cattolica, A.
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Spadaro, o papa é muito claro e seguro, quando lhe vem perguntada qual é a prioridade da vida
religiosa hoje: “Os religiosos são profetas... Na Igreja os religiosos são chamados em particular
a ser profetas que testemunham como Jesus viveu sobre esta terra, e que anunciam como o Reino de Deus será na sua perfeição. Jamais um religioso deve renunciar à profecia... A profecia
anuncia o espírito do Evangelho... Os religiosos e as religiosas são homens e mulheres que iluminam o futuro... Ser profetas às vezes pode significar fazer barulho, ruído, “bagunça”...; mas
na realidade o seu carisma é aquele de ser fermento”. São estes os significados que são dados ao
termo profeta: testemunhar o espírito do Evangelho, iluminar o futuro; somos chamados a
“nutrir a história de eternidade” (O. Clément), a ser fermento. A vida religiosa ou é profética
neste sentido ou não existe!
Conclusão. “Não nos deixemos roubar o entusiasmo missionário” (EG 80). Francisco
com os seus primeiros companheiros ousou empreender um caminho “novo” que consistia no
viver o Evangelho literalmente, “sine glossa”, sem medo, permanecendo firmemente ancorado à
Igreja. Seguindo o Cristo pobre e humilde, Francisco, movido pelo Espírito, quis que os seus
Irmãos se chamassem “menores”, isto é, prontos a servir e a partilhar a própria vida com os últimos. Este modo de viver pareceu “novo”, “profético” e atraente.
Talvez hoje também para nós não se trata tanto de indagar ainda sobre nossa identidade,
quanto sobre nossa vitalidade; sobre o reconfirmar a nossa fé e a nossa confiança e fidelidade
ao Evangelho de nosso Senhor. Francisco nos faz rezar: “Senhor, concede-nos a nós míseros
fazer, por teu amor, o que sabemos que tu queres...” (EpOrd 50). E o papa Francisco, encontrando o nosso Ministro geral com o seu Definitório, disse: “A vossa identidade é clara!”. Ora toca
a nós revivê-la e testemunhá-la com entusiasmo em meio à nossa gente, “inter gentes”, como
quis Francisco.
Se ousássemos, como Francisco, nos deixar, mais uma vez, conquistar e “aquecer” pela
Palavra, seguramente saberíamos reencontrar formas e entusiasmo novos para viver e anunciar
o Evangelho sem medo; saberíamos empreender caminhos inéditos que levam às “periferias”
para encontrar os “leprosos” do nosso tempo e nos deixar evangelizar por eles; então o mundo
se tornará novamente o nosso “claustro”. Por que não retornar a uma fé viva? “Se a fé não
transforma a minha vida, esta fé é morta” (R. Panikkar)! Por que não recomeçar desta itinerância fraterna, evangélica e evangelizadora para tornar “nova” e “profética” a nossa “identidade
hoje”? “Para isso vos mandou pelo mundo inteiro”! Superando assim os confins da própria casa, da própria Província, da própria nação. Esta é a nossa vocação e missão, a nossa identidade e
novidade evangelizadora no nosso tempo.
Diz ainda papa Francisco: “Não nos deixemos roubar o entusiasmo missionário” (EG
80).
“A missão é um problema de fé, é o índice exato da nossa fé em Cristo e do seu amor por
nós” (Redempltoris Missio 11).
Fra Giacomo Bini, OFM
Paróquia São Vicente de Paula – 40 Anos
Foi em 1970 que se começou a pensar seriamente na criação da paróquia São Vicente no
Bairro Boqueirão.
A paróquia de Ernestina fora dividida em duas partes. Doze capelas, situadas no outro
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lado da barragem do Jacuí, foram anexadas à paróquia de Marau. Era mais fácil o acesso a estas
capelas via Marau do que via Ernestina.
Com esta divisão, Ernestina, cuja sede paroquial não contava com mais de quinze famílias católicas e cinco pequenas comunidades interioranas, se torno muito pequena, vindo a contribuir para a ociosidade do pároco.
Era pároco o ex-Pe. Frei Otávio Reichert. Surgiu então a ideia de mandar o pároco para o
Bairro Boqueirão, em Passo Fundo, permanecendo, porém, Ernestina como sede paroquial. Não
havia intensão de transferir a sede da paróquia para o Boqueirão, mas somente construir base
para futura nova paróquia na capela de São Vicente de Paula.
Como na capela de São Vicente não havia, até então, casa canônica, o ex Frei Otávio morou de favor, inicialmente, na paróquia da Conceição e, posteriormente, no Seminário Redentorista, e, por fim, no Instituto Marista Champagnat, até o dia 22 de agosto de 1972.
Frei Udo Fabeck
Alguém, mal informado, escreveu que Frei Otávio Reichert, pároco de Ernestina,
“transferiu-se” para Passo Fundo, e não “foi transferido” (Livro Os Franciscanos no RS, pág.
138). Prova em contrário é Frei Udo Fabeck, que foi indicado pelo Provincial Frei Cláudio
Hummes, hoje Cardeal, para coadjutor do Frei Otávio.
Frei Udo Fabeck, vocação tardia, ex-soldado, era da Alemanha, ignorando a língua portuguesa, valia-se da Sra. Dona Benigna Bohn para explicar o que dizia no sermão e nos demais
encontros realizados.
Graças a Frei Udo e seus amigos e familiares da Alemanha, até a saída do ex-Frei Otávio
(22/08/1972), foi adquirido um terreno até a Rua Paissandu, onde havia uma casa velha cuja
madeira foi aproveitada para construir o primeiro galpão-capela na Vila União (Vila Sapo), em
terreno doado por uma família dos Dalla Lana, Mário Dalla Lana, proprietário de Serraria.
O primeiro presidente daquela comunidade foi um senhor, cujo nome omito, aproveitouse do posto, roubando o dinheiro de um “livro ouro”. Foi, por isso, deposto e em represália processou o ex-Frei Otávio, alegando “vínculo empregatício” e a sentença foi de procedência de
um salário mínimo, mais despesas em uma bodega, onde comprava em nome do “vigário”.
A segunda comunidade daquela época foi a Vila Dona Júlia, onde havia velho galpão, em
frente à escola. Naquele galpão, celebrou-se a primeira missa frequentada por muitas crianças.
Existem retratos, com os moradores.
Na capela de São Vicente (futura paróquia), as conquistas materiais foram as seguintes:
1º a compra do terreno até a Rua Paissandu (um terreno ao lado foi comprado mais tarde). 2º um
terreno, ao lado, que serviu, ultimamente, para alargar a igreja; foi doação de uma senhora, que
pediu, na época, para não se identificar; apenas posso citar que morava no Edifício Quadros; 3º
foram adquiridos, com dinheiro oriundo da Alemanha, dois veículos, uma Kombi e um Fusca;
4º a casa canônica foi erguida e fechada, ao custo de dezessete mil cruzeiros, sendo feita a planta e a obra por E. Piovesan, com doações da Alemanha.
Por ocasião do lançamento da “Pedra Fundamental” da casa canônica, foi colocada urna,
contendo documentos da época, na soleira da porta de entrada.
A história recontada
A história sempre é contada e escrita a favor dos mais fortes, dos vencedores. Aqui pretendemos contar a história aos olhos de quem a viveu.
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No livro “Os Franciscanos no RS” (autores diversos, pág. 138), lemos o seguinte:
“Aos doze de abril de 1969 aconteceu o ‘martírio’ da paróquia de Vila Ernestina. Dez capelas foram entregues a paróquias vizinhas. O Ex-Frei Otávio Reichert transferiu-se para Passo
Fundo, residindo, provisoriamente, na paróquia de Nossa Senhora da Conceição. Desde esta
época até 1974 nada mais consta quanto ao desenvolvimento da paróquia. O que encontramos ao
chegar aqui foi um imenso desânimo e uma displicência muito grande na vida eucarística do povo desta região. É preciso ressaltar o esforço do Frei Udo em manter viva alguma coisa da paróquia, ou seja, a atual casa canônica”.
O livro contém vários equívocos. Vou citá-los, um por um.
O livro diz:
1º) “Frei Udo esforçou-se para manter viva alguma coisa da paróquia, ou seja, a continuação da atual casa canônica”. Nota: São Vicente ainda não era paróquia. A Sede da paróquia era
Ernestina até 1974.
2º) “No início de 1970, o ex-Padre Frei Otávio ‘transferiu-se’ para Passo Fundo. Nota:
não foi atitude pessoal nem arbitrária, tanto o Provincial da Ordem como o Sr. Bispo, Dom
Cláudio Colling, o designaram, e apoiaram o gesto, ao ponto de mandarem auxiliar, na pessoa de
Frei Udo Fabeck.
3º) “Aos onze de abril de 1969, começou o martírio da paróquia de Ernestina”. Nota: Ao
contrário. Para as capelas entregues a Marau foi um alívio. O restante das capelas, ao lado de
Passo Fundo, como também a Sede Ernestina, foram atendidas regularmente pelo ex-Padre Frei
Otávio até sua saída no dia 22/08/1972. O ex-Padre Frei Otávio fazia das tripas coração e rezava
quatro missas, aos domingos: às 8h, na Igreja São Vicente; às 10h, na sede da paróquia Ernestina; às 16h, numa capela aleatória; e à noite, novamente no Boqueirão.
Antes de se retirar do ministério, o Frei Otávio recebeu a visita de seu substituto que, porém, não assumiu. Deixaram o Frei Udo sozinho no Boqueirão, sem conhecer a língua, sem saber dirigir, sem conhecer a sede e as capelas de Ernestina, sem moradia, etc. etc. Aí, sim, começou a verdadeira “flagelação” da paróquia de Ernestina, morrendo ela na cruz, em 1974, mês de
abril.
4º) “Desde esta época (1969) até 1974, mês de abril, nada mais consta quanto ao desenvolvimento da paróquia de Ernestina”. Nota: compulsando os livros de batizados , de casamento
e o livro tombo que registra todos os acontecimentos de uma paróquia, nota-se que tudo foi registrado religiosamente em relação a Ernestina e ao Boqueirão até 22/08/1972.
5º) “Em 1958, o Frei Otávio Reichert substituiu seu irmão Frei Olímpio por causa de sua
doença”. Nota: nunca ocorreu este fato.
Para terminar esta narrativa, leio, no livro “Uma diocese chamada Passo Fundo” do Bispo
Dom Pedro Ercílio Simon, na pág. 147: “entre 1970 a 1974 a capela de São Vicente havia se tornado sede da paróquia São José de Vila Ernestina”. Nota: negativo! Ernestina continuou como
sede até 1974.
No mesmo livro, pág. 197, outra notícia: “entre 1972 a 2003 passaram pela paróquia São
Vicente 24 padres como vigários paroquiais”. Nota: o primeiro citado é o Frei Udo, de 1970 a
1974, mais uma prova que deixaram o pobre frade, sozinho, responsável pelo Boqueirão e a paróquia de Ernestina.
Nota Final
Nada acontece por acaso. Se a ponte sobre a barragem tivesse sido construída em 1969,
quando a verba, que veio, fora desperdiçada, talvez a história fosse outra!
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Hoje, 40 anos depois, o Boqueirão já tem duas paróquias. Nicolau Vergueiro já á paróquia e município. Ernestina é paróquia e município progressista.
A paróquia de São Vicente de Paula é uma paróquia pujante, unida e participativa. Hoje,
a segunda geração, é semelhante aos Israelitas, que, após 40 anos, entraram, finalmente, na
“terra onde corre leite e mel”.
Quem escreveu estas linhas só tem motivos de agradecer ao Criador, e não leva mágoas e
rancores para o túmulo.
Passo Fundo, maio de 2014.
Jacob Ignácio Reichert
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