UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE BOTÂNICA, ECOLOGIA E ZOOLOGIA
LABORATÓRIO DE ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA
USO E CONSERVAÇÃO DA FAUNA POR POPULAÇÕES HUMANAS NO
RIO GRANDE DO NORTE, NORDESTE DO BRASIL
EDUARDO SILVA DE OLIVEIRA
NATAL – RN
2011
EDUARDO SILVA DE OLIVEIRA
USO E CONSERVAÇÃO DA FAUNA POR POPULAÇÕES HUMANAS NO
RIO GRANDE DO NORTE, NORDESTE DO BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação
em
Ecologia,
da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (PPGE/UFRN), como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do
título de Mestre em Ecologia.
Orientador: Prof. Drº. Alexandre Vasconcellos
Co-Orientador: Prof. Drº. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves
NATAL – RN
2011
I
II
Eduardo Silva de Oliveira
USO E CONSERVAÇÃO DA FAUNA POR POPULAÇÕES HUMANAS NO RIO
GRANDE DO NORTE, NORDESTE DO BRASIL
Aprovada em:15/06/2011
Banca examinadora:
Prof. Drº. Alexandre Vasconcellos (UFRN)
________________________________
Orientador
Prof. Drº. Rômulo R. N. Alves (UEPB)
________________________________
Co-Orientador
Prof. Drª. Priscila F. M. Lopes (UFRN)
_________________________________
Examinadora interna
Prof. Drº. Helder F. P. de Araújo (UFPB)
_________________________________
Examinador externo
Prof. Drº. Gindomar G. Santana (UFRN)
__________________________________
Examinador externo
NATAL – RN
2011
III
Oh! Senhor,
pedi pro sol se esconder um pouquinho,
pedi pra chover,
mas chover de mansinho,
pra ver se nascia uma planta,
uma planta no chão.
Oh! Meu Deus,
se eu não rezei direito,
a culpa é do sujeito,
desse pobre que nem sabe fazer a oração. (...)
(...) Violência demais,
chuva não tem mais,
corrupto demais,
política demais,
tristeza demais.
O interesse tem demais!
Violência demais,
fome demais,
falta demais,
promessa demais,
seca demais,
chuva não tem mais!
Lá no céu demais,
chuva tem,
tem, tem, não tem,
não pode tem,
é demais.
Pobreza demais,
como tem demais!(Falta demais),
é demais,
chuva não tem mais,
seca demais,
roubo demais,
povo sofre demais.
“Súplica Cearense” O Rappa
Composição: Luiz Gonzaga
IV
Como primeiro e único membro da família de origem interiorana a ter um
curso superior e estar prestes a obter o título de mestre, nada mais justo do que
dedicar esta dissertação a minha família, principalmente, aos meus pais Geovani
Barros de Oliveira e Martine Silva de Oliveira, e a minha noiva Denise de Freitas
Torres.
Dedico em especial àqueles que mesmo sendo do interior, de família humilde e
com pouca condição financeira, lutam com perseverança, honestidade, garra e fé
pela sobrevivência numa região marcada por forte sazonalidade ambiental e um
impressionante descaso político.
V
AGRADECIMENTOS
À Deus, pela minha perfeita existência.
Aos Doutores Alexandre Vasconcellos e Rômulo Romeu da Nóbrega Alves pela
orientação (desde a graduação), amizade, confiança e incentivo, numa área do
conhecimento quase que totalmente desconhecida dos norte-rio-grandenses.
Aos Doutores Gindomar G. Santana, Priscila F. M. Lopes e Helder Farias Pereira de
Araújo por terem aceitado participar da banca examinadora e pelas sugestões dadas
para melhoria deste estudo.
A Doutora Priscila F. M. Lopes (UFRN), pelos oportunos comentários e indicação de
excelente bibliografia para realização do presente estudo.
Ao Doutor Ulysses Paulino de Albuquerque (UFRPE), pela contribuição com várias
ideias e bibliografia fundamental para realização do presente estudo.
A todos os entrevistados pela colaboração, paciência e, sobretudo, pelo confiança em
repassar seus conhecimentos, contribuindo para a realização deste estudo.
Aos doutores do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia da UFRN, Adrian
Antônio Garda, Alexandre Vasconcellos, Jomar Gomes Jardim, Mauro Pichorim e ao
mestre Wallace Silva do Nascimento pela ajuda na identificação das espécies.
Ao recente grupo de Ecologia Humana que ajudou sugerindo novas ideias para
melhoria deste estudo.
A todos os professores(as) do curso de Pós-graduação em ecologia, pelos
ensinamentos, amizade e confiança.
Aos amigos das turmas de mestrado e doutorado de 2009 pelos vários momentos felizes
que passamos.
Aos colegas do LECOB pela convivência sempre harmoniosa e alegre.
A Denise, pelo amor, carinho, compreensão, amizade e ajuda em campo.
A Sra. Creuza e ao Sr. Miguel, por terem me acolhido em sua casa durante os trabalhos
de campo.
A minha família, pelo incentivo e credibilidade em mim depositada e bons momentos
que vivemos juntos ao longo de nossas vidas.
A todas as pessoas que auxiliaram na realização deste estudo.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pelo suporte financeiro.
VI
Lista de Figuras
Capítulo 1
Figura 1. Localização da área de estudo................................................................... 48
Capítulo 2
Figura 1. Localização da área de estudo................................................................... 77
VII
Lista de Tabelas
Capítulo1
Tabela 1. Espécies da fauna usadas em comunidades rurais, no município de Pedro
49
Avelino (NE Brasil)..............................................................................................
Tabela 2. Teste Mann-Whitney para o uso de animais nas comunidades humanas
do município de Pedro Avelino (RN, NE Brasil) de acordo com o gênero e a idade
dos entrevistados........................................................................................................ 52
Tabela 3. Índice de diversidade de Shannon-Wiener H’ para as categorias de uso e
MUI de acordo com gênero e a idade dos informantes entrevistados no município
53
de Pedro Avelino (NE do Brasil)...........................................................................
Tabela 4. Categorias das doenças tratadas com recursos zooterápicos nas
comunidades São José do Pé da Serra, Santo Antônio Trangola, Serra Aguda e
Olho d’Água, Pedro Avelino (RN), segundo o CBCD (Centro Brasileiro de
Classificação de Doenças,1993)................................................................................. 53
Tabela 5. Espécies de animais usadas na medicina popular no município de Pedro
54
Avelino, NE Brasil...............................................................................................
Tabela 6. Fator de consenso dos informantes por categorias de sistemas corporais
ou doenças (município de Pedro Avelino, RN, NE Brasil)........................................
55
Capítulo 2
Tabela 1. Critérios para determinação dos valores usados no cálculo da PLC dos
animais utilizados para fins alimentares e medicinais..............................................
78
Tabela 2. Lista de espécies da fauna usadas para fins alimentares ou medicinais,
espécies ameaçadas de extinção ou sobreexploração em uma área da Caatinga
(Município de Pedro Avelino, RN, NE Brasil).......................................................
79
Tabela 3. Prioridade local de conservação da fauna em área de Caatinga no
município de Pedro Avelino, Rio Grande do Norte (NE, Brasil), a partir do
conhecimento das populações humanas locais.......................................................
82
VIII
Sumário
Lista de figuras...............................................................................................................
VII
Lista de tabelas...............................................................................................................
VIII
Introdução geral.............................................................................................................. 01
Etnozoologia................................................................................................................... 01
O Conhecimento Ecológico Local e a conservação.......................................................
06
A Caatinga......................................................................................................................
07
Estrutura da dissertação.................................................................................................. 09
Referências.....................................................................................................................
10
Capitulo 1.......................................................................................................................
17
Resumo...........................................................................................................................
18
Palavras-chave................................................................................................................ 18
Abstract........................................................................................................................... 19
Key words....................................................................................................................... 19
1. Introdução................................................................................................................... 20
2. Material e métodos.....................................................................................................
22
2.1 Descrição da Área de estudo........................................................................
22
2.2 Procedimentos metodológicos.....................................................................
22
2.3. Analise de dados.........................................................................................
25
2.3.1. Multiplicidade de Uso por informante.........................................
25
2.3.2. Zooterapia.....................................................................................
25
2.3.2.1. Fator de consenso dos informantes................................
26
2.3.2.2. Importância relativa.......................................................
26
2.3.2.3. Nível de fidelidade.........................................................
26
2.4. Análises estatísticas.........................................................................
27
2.5. Análises ecológicas.........................................................................
27
3. Resultados..................................................................................................................
28
3.1. Categorias de uso da fauna.........................................................................
28
3.1.1. Categorias de uso: alimentar, estimação e místico-religioso...................
28
3.1.2. Fauna de uso medicinal............................................................................
29
3.2. A influência dos fatores socioeconômicos no uso da fauna........................
30
3.3 Análises ecológicas......................................................................................
31
4. Discussão...................................................................................................................
31
4.1. Categorias de uso da fauna..........................................................................
31
IX
4.1.1. Categorias de uso: alimentar, estimação e místico-religioso...................
31
4.1.2. Fauna de uso medicinal............................................................................
33
4.2. A influência dos fatores socioeconômicos no uso da fauna........................
35
4.3 Análises ecológicas......................................................................................
38
5. Considerações finais..................................................................................................
38
Agradecimentos.............................................................................................................
40
Referências.....................................................................................................................
40
Capítulo 2.......................................................................................................................
56
Resumo..........................................................................................................................
57
Palavras-chave...............................................................................................................
57
Abstract..........................................................................................................................
58
Key words......................................................................................................................
58
1. Introdução..................................................................................................................
59
2. Material e métodos.....................................................................................................
60
2.1. Descrição da área de estudo........................................................................
60
2.2. Procedimentos metodológicos....................................................................
61
2.3. Prioridade local de conservação para espécies da fauna.............................
61
3. Resultados..................................................................................................................
63
3.1. Da utilização à conservação: uso de animais para fins alimentares e
medicinais..........................................................................................................
63
3.2. Prioridade local de conservação para espécies da fauna.............................
64
4. Discussão...................................................................................................................
64
4.1. Da utilização à conservação: uso de animais para fins alimentares e
medicinais..........................................................................................................
64
4.2. Prioridade local de conservação para espécies da fauna.............................
66
5. Considerações Finais..................................................................................................
69
Agradecimentos.............................................................................................................
71
Referências....................................................................................................................
71
Apêndices.......................................................................................................................
83
Apêndice A. Formulário semiestruturado......................................................................
84
Apêndice B. Animais ou partes de animais registrados na zona rural de Pedro
Avelino, RN, Brasil.......................................................................................................
88
Anexos...........................................................................................................................
92
Anexo A. Mostrando a área de ocorrência das espécies Mazama Gouazoupira (à 93
esquerda) e Rhea americana (à direita). O círculo em amarelo corresponde à área do
X
presente estudo. Adaptado da IUCN (2011).................................................................
Anexo B. Mostrando a área de ocorrência da espécie Tayassu pecari (porco do
mato). O círculo em amarelo corresponde à área do presente estudo. Adaptado da 94
IUCN (2011).................................................................................................................
XI
Introdução Geral
Etnozoologia
O uso dos recursos faunísticos por diferentes culturas é uma importante fonte de
estudo na área da etnociência, a qual busca entender como o mundo é percebido,
conhecido e classificado por diversas culturas humanas (Begossi 1993). Dentro da
etnociência, a etnobiologia é a área que estuda o conhecimento e as conceituações
desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia (Posey 1986).
De maneira geral, a etnobiologia pode ser historicamente dividida em três
períodos: pré-clássico, clássico e pós-clássico (Clément 1988). Segundo este autor,
durante o período pré-clássico, iniciado por volta de 1860, o enfoque dado aos estudos
estava centrado na coleta de informações sobre o uso dos recursos naturais. A transição
entre o período pré-clássico e o clássico foi marcada pela tese de doutorado do
antropólogo Harald C. Conklin em 1954, que abordava o sistema de classificação e
nomenclatura de plantas, através da componente linguística, da etnia Hanunóo (Ilha
Mindoro, Filipinas). No período clássico, foi realizado um significativo número de
trabalhos de caráter linguístico e de classificação etnobiológica. O período pós-clássico
teve início no começo da década de 1980, e estende-se até os dias atuais. Neste período
surgiram às sociedades acadêmicas, periódicos especializados e o enfoque de um grande
número de estudos convergiu para o estudo do manejo dos recursos naturais em
diferentes grupos étnicos, promovendo uma maior interação entre a etnobiologia e a
conservação (Alves e Souto 2010a). Ainda segundo estes últimos autores, como um
tema recente na etnobiologia surge a necessidade de proteção e regulamentação do
acesso ao conhecimento tradicional/local, assim como a repartição de benefícios com os
detentores do saber associado a um dado recurso natural.
A etnobiologia é um campo de estudo híbrido, que uni conhecimento das
ciências naturais e sociais e que tem contribuído para mostrar que as populações locais,
em qualquer parte do mundo, possuem um considerável conhecimento sobre a natureza
(El-Kamali 2000; Apaza et al. 2003; Lev 2003; Romero e Creswell 2005; Alves e Rosa
2006; Hanazaki et al. 2009; Quave et al. 2010). Além disso, a etnobiologia pode ser
subdividida em algumas áreas, sendo a etnobotânica e etnozoologia as mais estudadas
atualmente.
1
Como uma subárea da etnobiologia, a etnozoologia busca compreender como as
mais variadas etnias percebem e interagem com os recursos faunísticos desde a
antiguidade até o presente. O primeiro estudo publicado com a abordagem
etnozoológica foi de Stearns (1889), que descrevia o uso primitivo de conchas como
moeda, atualmente uma subárea da etnozoologia, a etnomalacologia (Alves e Souto
2010a). O termo etnozoologia surgiu nos Estados Unidos no final do século XIX, tendo
sido cunhado por Mason, em 1899, em seu artigo Aboriginal American Zoötechny, o
qual definia etnozooologia como a zoologia de uma região tal como narrado por um
selvagem (Mason 1899). Além disso, Mason incluía a etnozoologia como um ramo da
zootecnia. Todavia, na literatura, o termo só apareceu com o artigo intitulado
Ethnozoology of the Tewa Indians, de Henderson e Harrington, em 1914. Eles
consideraram a etnozoologia como uma disciplina, referindo-se a ela como o estudo das
culturas existentes e das relações deles com os animais (Alves e Souto 2010a). No
Brasil, o primeiro estudo com enfoque etnozoológico foi publicado no ano de 1939,
tratando de um ensaio sobre o vocabulário zoológico popular do Brasil (Von Ihering
1939).
Outras definições foram surgindo com o passar do tempo. A etnozoologia pode
ser definida como o estudo dos conhecimentos, significados e usos dos animais nas
sociedades humanas (Overal 1990). Outra definição é o estudo do que os indivíduos
sabem sobre os animais que não é ensinado pela ciência (Ellen 1997). Para Marques
(2002), a etnozoologia pode ser pensada como o estudo transdisciplinar dos
pensamentos e percepções, dos sentimentos e dos comportamentos que intermedeiam as
relações entre as populações humanas que os possuem com as espécies de animais dos
ecossistemas que os incluem. Uma definição mais ampla de etnozoologia foi formulado
por Santos-Fita et al. (2009), como o ramo da ciência que possibilita o entendimento
nativo, não apenas de como se constrói e estruturam-se cada modelo classificatório, mas
também as causas e consequências da concepção, identificação, categorização,
conhecimentos e modos de emprego que têm os animais, que vivem no universo
particular de cada grupo étnico que existe no mundo.
Segundo Santos-Fita e Costa-Neto (2007), os etnozoólogos vêm centrando
esforços nas seguintes áreas de estudo: a) percepção cultural e sistemas de classificação
etnozoológicos; b) importância e presença dos animais nos contos, mitos e crenças; c)
aspectos biológicos e culturais da utilização dos animais pelas sociedades humanas e as
formas de obtenção e preparo das substâncias orgânicas extraídas dos animais para fins
2
diversos (cosmética, ritualística, medicinal, alimentar, etc.); d) domesticação,
verificando as bases culturais e as consequências biológicas do manejo dos recursos
faunísticos ao longo do tempo; e) heterogeneidade biológica e processos cognitivos
envolvidos no manejo e conservação dos recursos e as técnicas de coleta e seu impacto
sobre as diferentes populações animais. De acordo com Alves e Souto (2010b), dentre
as áreas de estudo em etnozoologia no Brasil, as mais representativas foram à zooterapia
– uso de animais ou parte deles para fins medicinais (18,2%), a etnoictiologia (13,9%) e
a etnoentomologia (13,4%). Ainda segundo estes autores, que realizaram uma revisão
sobre a distribuição das investigações em etnozoologia no Brasil, foi constatado que
quase 80% dos estudos sobre o tema foram publicadas nos últimos dez anos. No Rio
Grande do Norte, os estudos em etnozoologia ainda são escassos, merecendo destaque
pelo pioneirismo os trabalhos realizados por Torres et al. (2009), Silva e Freire (2009) e
Oliveira et al. (2010a,b).
Como mencionado anteriormente, a zooterapia é a subárea da etnozoologia que
apresenta o maior número de trabalhos publicados no Brasil. O país utiliza pelo menos
326 espécies de animais com finalidade terapêutica (Costa-Neto e Alves 2010). Mesmo
com o expressivo número de animais inventariados, esses autores consideram que os
estudos sobre o tema ainda são incipientes. Nesse sentido, a necessidade de estudos
adicionais buscando inventariar, de maneira mais completa, a fauna com potencial uso
zooterápico é evidente (Alves et al. 2007; Alves 2008).
Atualmente, a zooterapia pode ser definida como o tratamento de doenças
humanas
a
partir
da
utilização
de
produtos
considerados
potencialmente
medicamentosos, elaborados de partes do corpo do animal, de produtos de seu
metabolismo, ou de materiais construídos por eles (Costa-Neto e Alves 2010).
Geralmente, os animais são utilizados integralmente ou em porções como: banha
(gordura), carne, couro, espinho, escama, coração, dente, fígado, leite, ossos, pena,
perna, pêlo, sangue, testículo, etc., ou ainda produtos oriundos do metabolismo como:
fezes, urinas e mel; assim como, produtos construídos por eles como ninhos e casulos
(Costa-Neto e Alves 2010). Ainda segundo os autores, o uso de animais vivos também é
uma prática comum no Brasil. Os jabutis (Chelonoidis carbonaria), por exemplo,
costumam ser criados como animais de estimação para livrarem os moradores da casa
de adquirirem bronquite e erisipela (Costa-Neto, 1996). Por sua vez, o pássaro cancão
(Cyanocorax cyanopogon) é utilizado em “simpatia” popular para tratar processos
3
asmáticos; para tal, o pássaro deve ser alimentado com os restos de comida do enfermo
(Alves et al. 2008).
Entretanto, as práticas zooterápicas não são exclusivas dos povos brasileiros,
uma grande variedade de animais tanto selvagens quanto domésticos, constituem a
farmacopéia de muitos povos ao redor do mundo. A ampla distribuição geográfica e o
registro etnográfico do fenômeno da zooterapia resultaram no estabelecimento da
hipótese da universalidade zooterápica, segundo a qual toda cultura que apresenta
sistema médico desenvolvido utiliza animais como remédios (Marques 1994).
Além da zooterapia, algumas outras práticas etnozoológicas têm sido
documentadas nas últimas décadas no mundo (Pemberton 1999; Madhusudan e Karanth
2002; Apaza et al. 2003; Solavan et al. 2004; Romero e Creswell 2005; Mahawar e
Jaroli 2007) e no Brasil, demonstrando que as populações humanas conhecem e fazem
uso de animais para fins de alimentação, estimação, místico-religiosos, entre outros
(Costa-Neto 2000; Perez e Nascimento 2006; Alves et al. 2009; Ferreira et al. 2009;
Léo-Neto et al. 2009; Alves et al. 2010a).
No Brasil, nota-se claramente que existe uma íntima associação entre os animais
usados para fins místico-religiosos e para uso na medicina popular (Rosa et al. 2010).
Ainda segundo estes autores, cerca de 100 espécies são usadas com finalidades mágicoreligiosas no Brasil. Na Venezuela, mamíferos marinhos foram explorados, desde
tempos pré-colombianos para fins místico-religiosos, medicinais, entre outros (Romero
e Creswell 2005). Dentre as religiões praticadas no Brasil, o candomblé, uma religião
afro-brasileira, destaca-se no uso de animais durante as cerimônias. Vários são os casos
relatados na literatura de animais usados para fins místico-religiosos. Por exemplo,
cavalos-marinhos secos estão entre os animais mais utilizados para fins mágicoreligiosos no Brasil, sobretudo para uso em rituais e práticas de religiões afro-brasileiras
(Alves 2006; Rosa et al. 2010). Estes últimos autores destacam que os cavalos-marinhos
são usados para afastar inveja (mau olhado), eliminar espíritos maus (espíritos
obsessores), atrair sorte, dinheiro e o sexo oposto. Outro exemplo de uso de animal para
fins místico-religiosos é o caso da espécie Eupetomena macroura (beija-flor) da qual
uma pessoa pode ingerir o coração do animal visando melhorar a pontaria do caçador
em atividades cinegéticas (Torres et al. 2009).
O uso de animais silvestres para fins de alimentação ainda é praticado em
algumas sociedades contemporâneas. Na Área de Proteção Ambiental de Genipabu,
Estado do Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil, o uso de animais para fins
4
alimentares foi considerado o mais representativo dentre os usos relatados (Torres et al.
2009). No Brasil, a utilização de quelônios na alimentação é uma prática antiga,
principalmente na região Norte do país (Giovanini 2002). Na Amazônia, a caça de
subsistência torna-se ainda mais importante em áreas não alagáveis, onde fontes
aquáticas de proteínas animal são muitas vezes escassas (Perez e Nascimento 2006). As
taxas de consumo de caça extrapoladas para toda a Amazônia brasileira indicam que
entre 9,6 e 23,5 milhões de répteis, aves e mamíferos, são consumidos anualmente pela
população rural na região, correspondendo entre 67.173 e 164.692 toneladas de
vertebrados terrestres caçados (Peres 2000). No Sudeste do Caribe, os Arawaks usavam
peixes, moluscos, tartarugas e peixes-boi como fontes de proteína muito antes da
chegada de Cristóvão Colombo às Américas (Romero e Creswell 2005). Os térmitas
vêm sendo usados na alimentação humana em partes da Ásia e da África (Solovan et al.
2004; Wilsanand 2005; Wilsanand 2007). Os insetos representavam uma fonte mais
barata de proteína animal em Manipur na Índia (Gope e Prasad 1983). De forma geral,
os animais não domesticados ainda constituem uma importante fonte de proteína para os
povos humanos em todo o mundo.
Outra forma de uso da fauna bastante comum no Brasil e no mundo é a
utilização de animais para fins de estimação. A fauna silvestre sempre foi um
importante elemento cultural das diversas tribos indígenas brasileiras (Giovanini 2002).
Os índios brasileiros amansavam espécimes da fauna silvestre, sem nenhuma função
útil, mas unicamente para diversão doméstica, alegria e curiosidade para os olhos
(Giovanini 2002). Em áreas de Caatinga do Nordeste do Brasil, a utilização de aves
como animais de estimação é uma atividade generalizada e culturalmente importante
(Alves et al. 2010b). Entretanto, apesar de ter uma importância cultural, não deve ser
considerada como uma atividade ambiental e socialmente correta. Muito pelo contrário,
o comércio ilegal de animais silvestres é o terceiro maior negócio ilícito do planeta,
superado apenas pelo tráfico de armas e drogas (Zago 2008). Ainda segundo esta autora,
frequentemente as pessoas envolvidas agem por ignorância, ou por necessidade e
miséria que as levam a tais atos. Dentre os animais mais usados com propósitos de
criação em cativeiro e, por consequência, os mais traficados, destacam-se as aves pela
beleza de sua plumagem e pelos seus cantos (Rocha et al. 2006).
Várias formas de uso de animais ou partes deles foram mostradas nos últimos
parágrafos, no entanto, para obter estes produtos, em geral, animais silvestres
5
necessitam ser caçados por pessoas que apresentem conhecimento local sobre os
mesmos.
As atividades de caça foram e continuam sendo vitais para alguns grupos
humanos ao redor do mundo, principalmente nas nações mais pobres. Estas atividades
podem estar contribuindo para a diminuição da fauna em várias regiões (Madhusudan e
Jaranth 2002; Romero e Creswell 2005; Quave et al. 2010). As atividades de caça entre
os Maias da península de Yucatán só foi estudada, com detalhes, recentemente mesmo
sendo uma atividade praticada a cerca de 4000 anos (Toledo et al. 2008).
Segundo Primack e Rodrigues (2001), enquanto as populações humanas eram
pequenas e seus métodos de coleta não eram sofisticados, as pessoas caçavam animais
de maneira mais sustentável, sem levar as espécies à extinção. Entretanto, com o
crescimento das populações humanas, as atividades de caça também aumentaram,
causando provavelmente efeitos negativos à estrutura populacional de várias espécies.
Além disso, a escassez de estudos dificulta a compreensão dos motivos que conduzem
as populações humanas a praticarem as atividades de caça em cada local. No bioma
Caatinga, os trabalhos referentes às atividades cinegéticas são escassos, embora a caça
de subsistência seja apontada como uma das principais ameaças à diversidade da fauna
da região (Leal et al. 2005; Alves et al. 2009, Dantas-Aguiar et al. 2011; FernandesFerreira et al.2011).
O Conhecimento Ecológico Local e a conservação
As populações humanas dependem direta e indiretamente dos recursos
faunísticos para a sobrevivência e, geralmente, apresentam um considerável
conhecimento sobre a biologia e ecologia da fauna dos locais onde sobrevivem. O
conhecimento ecológico local (do inglês, Local Ecological Knowledge, LEK) das
pessoas sobre a abundância e a distribuição de espécies é geralmente obtido através de
observações dos indivíduos durante suas vidas, sendo este conhecimento transmitido
através das gerações (Gilchrist et al. 2005). Ainda segundo esses autores, há uma
necessidade de comparar cuidadosamente observações oriundas do LEK com as da
ciência convencional, porque elas refletem fontes independentes de informações que
podem corroborar um ao outro. Tal comparação também poderia aumentar a confiança e
profundidade do conhecimento em ambas as abordagens (Huntington et al. 2004) ou
levantar novas hipóteses a serem investigadas (Silvano e Valbo-Jorgensen 2008).
6
Nas últimas décadas, a obtenção de dados oriundos do conhecimento local das
pessoas sobre os fenômenos ecológicos tem aumentado consideravelmente (Huntington
2000). Alguns trabalhos propõem que o conhecimento local das pessoas pode fornecer
informações biológicas relevantes para os esforços de conservação (Huntington 2000;
Folke 2004; Gilchrist et al. 2005; Anadón et al. 2009). O LEK é uma fonte valiosa de
observações sobre as mudanças ambientais, e pode ser usado para ajudar a entender por
que essas mudanças ocorreram (Bart 2006). Ainda segundo o autor, o LEK pode ser
cuidadosamente associado com métodos clássicos de estudos ecológicos para fornecer
explicações, com maior rigor e relevância para gestão, sobre mudanças ambientais do
que qualquer outra abordagem separadamente. O LEK é um elo fundamental entre os
sistemas sociais e ecológicos que pode ser usado até para interpretar e responder aos
sinais de mudança nos ecossistemas (Olsson e Folke 2001).
Em trabalho realizado com pescadores brasileiros e asiáticos, Silvano e ValboJorgensen (2008) testaram três possibilidades de compração entre o conhecimento
científico e o LEK. Os resultados do estudo indicam que os pescadores possuem um
razoável conhecimento sobre comportamento e ecologia de peixes, e que este
conhecimento local pode ser usado pelos cientístas para complementar outras fontes de
informação ou formular hipóteses que possam ser testadas usando metodologias
convencionais. Os autores perceberam que em alguns casos, há concordância entre
informações obtidas a partir do LEK com os dados publicados na literatura científica.
Às vezes, faltam dados científicos para comparar com os dados oriundos do LEK e; em
outras situações, os resultados apontam em direções opostas à literatura científica. Os
autores acreditam que este tipo de investigação pode gerar novas hipóteses para ser
testadas por metodologias biológicas convencionais.
A Caatinga
O bioma Caatinga ocupa aproximadamente 735.000 Km² do território nacional,
estando presente no Nordeste do Brasil e Norte de Minas Gerais (Silva et al. 2004; Leal
et al. 2005; Prado 2005). A Caatinga tem sido sempre colocada em segundo plano
quando se discutem políticas para o estudo e a conservação da biodiversidade do Brasil
(Silva et al. 2004; MMA 2007), mesmo reconhecendo o esforço, nos últimos anos, de
programas como: PELD (Programa Ecológico de Longa Duração), PPBio (Programa de
7
Pesquisa em Biodiversidade) e SISBIOTA-BRASIL (Sistema Nacional de Pesquisa em
Biodiversidade).
Quanto à vegetação da Caatinga, segundo Prado (2005), é na classificação de
Andrade-Lima (1981) que se encontra a divisão mais coerente, compreensiva e
amplamente usada deste tipo de vegetação, sendo seis tipos com 12 subtipos de
vegetação. Ainda segundo o autor, o conceito de caatinga de Andrade-Lima foi
basicamente uma concepção florística da província, porém sem perder a relação com a
fisionomia e a ecologia da vegetação. As unidades vegetacionais propostas por
Andrade-Lima (1981) são: Floresta de caatinga (Unidade I), Floresta de caatinga média,
tipo de vegetação 2, 3, 4 e 6 (Unidade II), Floresta de caatinga baixa (Unidade III),
caatinga arbustiva densa ou aberta (Unidade IV), caatinga arbustiva aberta baixa
(Unidade V) e Floresta ciliar (Unidade VI). Além destas, uma nova componente à
classificação de Andrade-Lima foi proposta por Prado (2005): Floresta de caatinga
média, tipo de vegetação 13 (Unidade VII).
Baseado na classificação de Andrade-Lima (1981), Prado (2005) caracteriza as
caatingas como florestas arbóreas ou arbustivas, compreendendo árvores e arbustos
baixos, muitos dos quais apresentam espinhos, microfilia e algumas características
xerofíticas, sendo a principal característica dessa região semiárida (Leal et al. 2005;
Prado 2005). Estima-se que pelo menos 932 espécies vegetais foram descritas na região
das caatingas, sendo 318 delas endêmicas (Giulietti et al 2004).
A média pluviométrica anual da caatinga varia de 240 a 1.500 mm, com 50% da
região recebendo menos que 750 mm e em algumas áreas centrais menos que 500 mm
(Sampaio 1995; Leal et al. 2005; Prado 2005). Os fenômenos catastróficos são muito
frequentes, tais com secas e cheias, que, modelam a vida animal e vegetal da caatinga
(Prado 2005). A caatinga semiárida, comparada as outras formações brasileiras,
apresenta muitas características extremas dentre os parâmetros meteorológicos: a mais
alta radicação solar, a mais alta temperatura média anual, as mais baixas taxas de
umidade relativa, e, de forma mais marcante, precipitações mais baixas e irregulares
(Reis 1976).
Segundo trabalho realizado por Casteletti et al. (2003), a área total da região da
Caatinga alterada pelo homem foi de 332.843 Km², ou seja, 45,32% da região,
considerando uma estimativa média para uma “zona de impacto de estrada” de 7 km.
Esse valor coloca a Caatinga como um dos ecossistemas mais modificados pelo homem
no Brasil, sendo ultrapassado apenas pela Mata Atlântica e Cerrado (Casteletti et al.
8
2003; Leal et al. 2005). Ainda segundo os autores, a perda das paisagens da Caatinga
tem consequências graves para a manutenção da biodiversidade, podendo levar ao
desaparecimento das espécies endêmicas encontradas nesse bioma. Apesar das ameaças
à sua integridade, mais de 80% da Caatinga já foi alterada pelo homem e apenas cerca
de 7% da Caatinga se encontra em unidades de conservação, menos de 1% em unidades
de proteção integral que são as mais restritivas à intervenção antrópica (MMA 2010).
Ainda segundo dados do MMA (2010), cerca de 27 milhões de pessoas vivem
atualmente na área do bioma Caatinga.
Em relação à fauna, a Caatinga era descrita na literatura como uma região com
uma pequena riqueza em espécies e baixo grau de endemismo (Vanzolini et al. 1980;
Prance 1987). Entretanto, nos últimos anos, ocorreu um aumento nas listas de diversos
grupos demostrando que a Caatinga tem uma considerável riqueza em espécies. Já
foram registradas 148 espécies de mamíferos (10 endêmicas), 240 de peixes (136
endêmicas), 167 de répteis e anfíbios, 62 famílias e 510 espécies de aves (15 endêmicas)
e 187 de abelhas (Leal et al. 2005).
Estrutura da dissertação
O presente estudo investiga as possíveis interações entre as populações humanas
e a fauna da Caatinga, na zona rural do município de Pedro Avelino, no Estado do Rio
Grande do Norte, utilizando abordagens da ecologia humana. Como objetivo central,
buscou-se analisar o conhecimento e uso da fauna silvestre pelas populações humanas
residentes, levando em conta os aspectos socioeconômicos, ecológicos e culturais.
Especificamente, este estudo investigou se a distância das populações humanas da zona
rural em relação à zona urbana e os fatores socioeconômicos podem ser preditores de
um maior conhecimento sobre as espécies da fauna utilizadas. Além disso, também
testou uma ferramenta capaz de gerar uma lista da fauna prioritária para a conservação
local a partir do conhecimento ecológico local. Temas como etnozoologia e conservação
são abordados ao longo dos dois capítulos desta dissertação. De maneira geral,
pretendeu-se: (1) Conhecer se as várias formas de interações das populações rurais do
município de Pedro Avelino com a fauna silvestre local. (2) Elaborar uma lista de
espécies localmente extintas, segundo relatos dos moradores. (3) Verificar se existe
relação entre o uso dos recursos da fauna pelos moradores da zona rural e à distância
das zonas urbanas. (4) Investigar se fatores como gênero e idade dos entrevistados
9
podem influenciar a riqueza e diversidade das espécies da fauna usadas. Estas e outras
questões são tratadas ao longo desta dissertação.
Os resultados são apresentados e discutidos em dois capítulos. O primeiro
intitulado “Uso da fauna por populações humanas em uma área de Caatinga, Nordeste
do Brasil” trata da análise do conhecimento e uso da fauna silvestre pelas populações
humanas residentes em comunidades rurais do município de Pedro Avelino, Estado do
Rio Grande do Norte, levando em conta os aspectos socioeconômicos e culturais. O
segundo capítulo “Prioridade Local de Conservação de espécies da fauna em uma área
de Caatinga, Nordeste do Brasil” avalia e discute o uso de uma ferramenta capaz de
gerar uma lista da fauna prioritária para a conservação local, com base no conhecimento
ecológico dos moradores entrevistados.
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16
ARTIGO 1 – Uso da fauna por populações humanas em uma área de Caatinga, Nordeste
do Brasil
17
Capítulo 1 – Uso da fauna por populações humanas em uma área de Caatinga, Nordeste
do Brasil
Resumo
As atividades de caça foram e continuam sendo vitais para alguns grupos humanos ao
redor do mundo, principalmente nas nações mais pobres, nas quais os animais são
usados para diversos fins. Estas atividades podem estar contribuindo para a diminuição
da fauna em várias regiões. Este estudo objetivou investigar se a distância das
populações humanas da zona rural em relação à zona urbana e os fatores
socioeconômicos de renda e idade podem ser preditores de um maior conhecimento
sobre as espécies da fauna utilizadas, no semiárido nordestino. O estudo foi conduzido
em quatro comunidades rurais no município de Pedro Avelino, Rio Grande do Norte.
Um total de 30 pessoas foi entrevistado. Estas reconheceram 83 espécies (73
vertebrados e 10 invertebrados). Do total de espécies citadas, 58 foram citas como úteis
para alimentação, 30 para uso como animais de estimação, nove para fins medicinais e
duas foram citadas para fins místico-religiosos. Os resultados mostraram que os fatores
socioeconômicos de idade e renda e a variável distância não influenciaram o
conhecimento sobre as espécies úteis. Além disso, quando a riqueza de espécies úteis
foi analisada de acordo com o gênero, a idade e o grau de escolaridade dos entrevistados
observou-se que não houve diferenças entre homens e mulheres. Entretanto, pessoas
mais velhas e pessoas com menor escolaridade demonstraram um maior conhecimento
para a multiplicidade de uso por informante (MUI) do que pessoas mais jovens e
pessoas com maior grau de escolaridade, respectivamente. Por outro lado, ao analisar a
diversidade de espécies citadas foi possível observar que os homens apresentaram um
conhecimento significativamente maior que as mulheres para a MUI e para a categoria
alimentar. Além disso, quando a diversidade de espécies foi analisada pelos dois grupos
de idade foi possível observar que pessoas mais velhas possuíam um conhecimento
maior do que os mais jovens, para as categorias alimentar e estimação e para a MUI.
Vale salientar que algumas das espécies citadas como úteis constam em listas de
espécies ameaçadas, evidenciando a necessidade de investigações que avaliem o risco
potencial das atividades de caça sobre as populações destes animais.
Palavras chaves: Alimento, caça, distância, biodiversidade, zooterapia, etnozoologia
18
Chapter 1 - Use of animals by human populations in a Caatinga area, Northeast Brazil
Abstract
Hunting activities are vital for some groups of people around the world, especially in
the poorest nations, in which hunted animals are used for several purposes. These
activities may be contributing to the wildlife decline in several regions. This study
analyzed whether the distance of human populations in rural areas compared to urban
areas and socioeconomic factors like income and age are predictors of greater
knowledge about animal species used in semi-arid Northeast. Four rural communities
were investigated in the municipality of Pedro Avelino in the state of Rio Grande do
Norte. A total of 30 people were interviewed. They recognized 83 species (73
vertebrates and 10 invertebrates). From the listed species, 58 are useful for food, 30 are
used like pets, nine are used for medicinal purposes and two were cited for mysticalreligious use. The results showed that socioeconomic factors of age and income and the
distance variable did not affect the knowledge about the useful species. Moreover, when
the richness of useful species was analyzed according to gender, age and education level
of respondents no differences were observed between men and women. However, older
people and people with less education demonstrated greater knowledge for multiple use
by informants (MUI) than younger people and people with higher educational levels,
respectively. On the other hand, when the diversity of species mentioned was analyzed
it was observed that men had a significantly greater knowledge than women for the
MUI and the food category. Moreover, when species diversity was analyzed for the two
age groups it was observed that older people had greater knowledge than the younger,
for the food and pet categories and the MUI. It is noteworthy that some of the species
cited as useful appear on lists of threatened species, suggesting the necessity for studies
evaluating the potential risk of hunting activities on populations of these animals.
Keywords: food, hunting, distance, biodiversity, zootherapy, ethnozoology
19
1. Introdução
Uma expressiva parte da biota mundial pode ser encontrada em países tropicais,
os quais são países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. Muitos desses países
podem ser marcados por uma significativa diversidade sociocultural e por uma
acentuada pobreza em grande parte da população. No entanto, em alguns países, a caça
tem sido reconhecida como uma das principais causas do declínio da vida selvagem
(Madhusudan e Jaranth 2002; Romero e Creswell 2005; Quave et al. 2010). Alguns
autores acreditam que a caça de animais silvestres para alimentação será uma ameaça
mais significativa que a perda de habitat para a conservação da diversidade biológica
nos trópicos durante os próximos 15–25 anos (Robinson et al. 1999; Wilkie e Carpenter
1999).
A variedade de interações que as culturas humanas mantêm com os animais é
abordada pela perspectiva da etnozoologia (Santos-Fita et al. 2009). Os animais podem
representar um considerável conjunto de possibilidades terapêuticas, alimentares,
religiosas, simbólicas e/ou afetivas para as populações humanas. No Brasil, animais
vêm sendo usados para diversos fins, tanto por sociedades indígenas como por
descendentes dos antigos colonizadores europeus (Alves et al. 2010a).
A Caatinga que ocupa aproximadamente 735.000 Km² do território nacional
(Leal et al. 2005), abriga uma população com cerca de 27 milhões de habitantes (MMA
2010). Os habitantes da Caatinga são considerados os mais pobres do Brasil. Como
resultado desta pobreza e da falta de alternativas de renda, os mesmos exercem uma
considerável pressão sobre os recursos naturais. As populações humanas encontradas na
Caatinga demonstram uma expressiva diversidade cultural, fruto da fusão de populações
de diferentes culturas e etnias, que utilizam os recursos disponíveis de diferentes
maneiras (Albuquerque et al. 2008).
Na Caatinga, a caça de subsistência é praticada desde épocas remotas (Alves et
al. 2009c), sendo iniciada ainda na infância, transmitidas por relações de parentesco
(Alves et al. 2010a). As atividades cinegéticas estão voltadas para a alimentação;
direcionada a animais predadores, considerados perigosos para o homem; para criação
doméstica; lazer e entretenimento; para venda; para serem criados como animais de
estimação; fins mágico-religiosos e para serem usados na medicina popular (Alves et al.
2009c; Alves et al. 2010a).
20
A caça de subsistência no semiárido é influenciada por uma série de complexos
fatores biológicos, socioeconômicos, políticos e institucionais (Alves et al. 2010a). Por
isso, a realização de estudos que avaliem, por exemplo, a influência de fatores
socioeconômicos e culturais sobre o conhecimento e uso dos animais é fundamental no
entendimento de como as interações se estabelecem entre as populações e os recursos da
fauna por elas utilizados. Além disso, estas investigações podem ser relevantes em
identificar e fornecer dados para futuras ações que visem à mitigação dos fatores que
possam estar afetando negativamente as populações de animais.
Adicionalmente, estudos em etnozoologia podem ser uma importante ferramenta
no planejamento e execução de medidas de conservação (Oliveira et al. 2010a).
Segundo estes autores, os estudos em etnozoologia no Estado do Rio Grande do Norte
ainda são escassos.
Diante disso, esse estudo objetivou investigar as seguintes perguntas: (1) A
distância das populações humanas da zona rural em relação à zona urbana e os fatores
socioeconômicos de renda e idade podem ser preditores de um maior conhecimento
sobre as espécies da fauna utilizadas? Parte-se do pressuposto que uma população
humana, em situação de pobreza, com limitado acesso às fontes de recursos
industrializados, dependerá mais dos recursos naturais, quanto mais distante ela se
encontrar das zonas urbanas. Também é esperado que os fatores socioeconômicos
como, por exemplo, a baixa renda das populações, possa representar uma maior
dependência dos recursos faunísticos, o que por sua vez poderá levar a um maior
conhecimento e uso dos animais. (2) As variáveis gênero, idade e escolaridade podem
influenciar na riqueza de espécies animais conhecidas? Espera-se confirmar a hipótese
de que pessoas com maior nível educacional conheçam menos os recursos da fauna
úteis devido a estes obterem uma melhor colocação profissional e uma maior
sensibilidade às campanhas educativas. Além disso, espera-se que existam diferenças na
riqueza de espécies animais conhecidas devido à divisão de tarefas que, geralmente,
ocorre entre homens e mulheres ou por idade. (3) Por último, existem diferenças na
diversidade de espécies conhecidas de acordo com a idade e o gênero dos entrevistados?
Espera-se que existam diferenças entre os entrevistados, pois mesmo que a riqueza de
espécies possa ser semelhante, a distribuição do conhecimento pode ser diferenciada,
pois as pessoas podem apresentar diferentes níveis de interação com os recursos.
21
2. Material e Métodos
2.1. Descrição da área de estudo
O estudo foi desenvolvido em quatro comunidades rurais: Santo Antônio
Trangola, Serra Aguda, São José do Pé da Serra e Olho d’água, distando da zona
urbana de Pedro Avelino 6 km, 15,4 km, 20,6 km e 26,2 km, respectivamente,
localizado na Ecorregião da Depressão Sertaneja Setentrional, no bioma Caatinga,
Estado do Rio Grande do Norte (Figura 1).
O município de Pedro Avelino possui uma área de 953 km² (IBGE 2007). A
sede do município tem uma altitude aproximada de 95 m, distando 154 km da capital
do estado. Pedro Avelino possui população de 7168 habitantes (IBGE 2010).
O clima predominante na região foi definido segundo a classificação de W.
Köppen, em BShw’, ou seja, clima muito quente e semiárido, com duração dos períodos
secos da ordem de oitos meses (Nimer 1979). A precipitação pluviométrica média anual
é de 578,9 mm, período chuvoso de março a abril, temperatura média anual em torno de
27.2ºC, umidade relativa média anual de 70% e com insolação de 2.400hora/ano
(CPRM 2005).
Quase todas as casas das comunidades estudadas são de alvenaria, não têm
sistema de distribuição de água encanada e nem estradas pavimentadas, mas apresentam
rede de distribuição de energia elétrica. A água para consumo doméstico e para as
criações de animais domésticos é obtida de poços ou de reservatórios de águas pluviais
“cisternas”. Existe apenas uma escola de ensino fundamental menor, para as quatro
comunidades. O catolicismo é praticado pela população, embora não existam igrejas nas
comunidades estudadas.
Como não existem unidades de saúde em nenhuma das comunidades, agentes
do Programa Saúde da Família (PSF) fazem visitas mensais na comunidade de São
José do Pé da Serra, onde os moradores das demais comunidades também são
assistidos quanto aos serviços básicos de saúde.
2.2. Procedimentos metodológicos
Para coleta de dados, foram feitas visitas aos moradores das quatro
comunidades rurais. A análise da distância das comunidades para o centro do
22
município de Pedro Avelino teve por objetivo investigar a existência de um possível
gradiente de uso dos recursos faunísticos entre as comunidades. O centro desta cidade
foi considerado como ponto de referência de distância para as comunidades, pois
apesar das pessoas terem a possibilidade de se deslocarem para os centros municipais
de cidades vizinhas esta alternativa não é utilizada com frequência pelos moradores,
pois estes centros encontram-se a uma distância maior que o centro municipal de Pedro
Avelino.
Para este estudo, entende-se como zona urbana a área do município onde
encontram-se a sede da prefeitura, as lojas do comércio local, escolas, postos de saúde,
igreja, etc. Por outro lado, definimos aqui zona rural como sendo as regiões mais
afastadas da zona urbana onde as atividades agropecuaristas e extrativistas são as
principais atividades da população.
Inicialmente foram entrevistados moradores locais que conhecem e utilizam
animais silvestres para diferentes finalidades ou que caçam os animais por estes
representarem perigo para eles próprios ou para suas criações domésticas.
As categorias de uso investigadas neste estudo foram: alimentar, estimação,
medicinal e místico-religioso. Somente foram entrevistados os moradores com idade
igual ou superior a dezoito anos e que habitassem a região há no mínimo dezoito anos.
Buscou-se entrevistar 50% homens e 50% mulheres em cada comunidade, com o
objetivo de investigar diferenças no uso e conhecimento da fauna local por gênero.
Como a quantidade de famílias em cada comunidade era relativamente
pequena, os resultados foram analisados de forma conjunta, representando uma única
amostra. Em cada residência apenas uma pessoas foi entrevistada, sendo esta
considerada como a representante da família. Cerca de 90% das famílias (n=30) foram
entrevistadas em cada comunidade. Neste trabalho, todos os entrevistados que se
enquadravam nos critérios estabelecidos foram entrevistados.
Foram realizadas 30 entrevistas semiestruturadas (Apêndice A) na área de
estudo, sendo seis em Santo Antônio Trangola, sete em Serra Aguda, onze em São José
do Pé da Serra, e seis em Olho d’água. Foram entrevistados 16 homens e 14 mulheres
apresentando idade entre 18 e 88 anos, com média de idade de 47,8 anos. Os homens
apresentaram uma média de idade de 51 anos (± 21,44 anos), e as mulheres
apresentaram uma média de idade de 44,21 anos (± 19,06 anos). Cerca de 70% dos
informantes (n=21) são naturais da área de estudo (15 homens e seis mulheres). Quanto
23
à formação educacional, 43,4% são analfabetos, 46,7% possuem o ensino fundamental,
e 10% possuem o ensino médio.
Os trabalhos de campo ocorreram de Janeiro/2010 até Agosto/2010. Após os
primeiros contatos, os dados acerca da utilização de animais foram adquiridos através
da aplicação de formulários semiestruturados durante as entrevistas (Huntington 2000;
Albuquerque et al. 2008). Sempre antes de cada entrevista, a natureza e os objetivos do
estudo eram expostos e, então, solicitada à aprovação dos informantes para efetuar o
registro das informações. Após as entrevistas e tabulação dos dados preliminares,
foram escolhidos três especialistas locais a partir da lista livre (Quilan 2005;
Albuquerque et al. 2008). Definem-se aqui especialistas locais como aquelas pessoas
que são reconhecidas na comunidade como detentoras do saber em um determinado
assunto, e informantes generalistas como pessoas representantes da comunidade em
geral. Adicionalmente, foram realizadas entrevistas livres com os especialistas locais
(Albuquerque et al. 2008), nas quais eles falavam livremente sobre um determinado
assunto objetivando sanar possíveis dúvidas quanto às espécies citadas. As entrevistas
livres são importantes por serem usadas em qualquer momento do estudo (Mourão e
Nordi 2006; Albuquerque et al. 2008), colaborando com o aumento dos laços de
confiança entre a população estudada e o entrevistador.
Para adquirir os nomes dos animais conhecidos pelos informantes foi adotada a
lista livre, a qual parte do princípio que os elementos de maior importância cultural
aparecem em muitas das listas em uma ordem de importância (Albuquerque e Lucena
2004). A lista livre é importante por permitir ao pesquisador a possibilidade de cálculo
da saliência cultural de cada espécie (Ryan et al. 2000; Quinlan 2005; Thompson e
Zhang 2006). A lista livre pode contribuir na determinação dos especialistas locais
(Quinlan 2005).
Para suprir as limitações existentes com a lista livre, foram utilizadas a indução
não específica (“Nonespecific prompting”), a nova leitura (“Reading back”) e a
sugestão semântica (“Semantic Cues”), propostas por Brewer (2002). Na indução não
específica, logo após o informante declarar não recordar de mais nenhum item, o
entrevistador reformula a questão com uma nova palavra chave, por exemplo; quais os
animais da região? Num segundo momento: Quais são as aves ou os pássaros da
região? A nova leitura consiste em ler lentamente todos os itens citados pelo
informante, para que ele possa adicionar novos itens à lista livre. É usada após a
indução não específica. A sugestão semântica é uma técnica usada após as duas
24
anteriores. Consiste em perguntar ao informante sobre alguns itens que podem ser
similares aos já mencionados, mas, que o pesquisador observa que ainda não foi citado.
Por exemplo: o informante cita o gato do mato, porem, não cita o gato maracajá ou
gato vermelho, animais que também ocorrem na região.
Os nomes vernaculares dos animais foram registrados como citados pelos
informantes. Os animais foram identificados das seguintes formas: 1) análise do
material biológico coletado e/ ou doado pelos entrevistados; 2) análise de fotografias
dos animais feitas durante as entrevistas; 3) através dos nomes vernaculares, com o
auxílio de taxonomistas familiarizados com a fauna das áreas de estudo (Alves e Rosa
2006); e 4) através da realização de turnês-guiadas pela mata da região com alguns
especialistas locais, onde foi realizada identificação visual, obtenção de imagens
fotográficas e material biológico. Os nomes científicos foram atualizados em
conformidade com o Sistema Integrado de Informação Taxonômica (Integrated
Taxonomic Information System’s “Catalogue of Life: 2010 Annual Checklist”) (ITIS,
2010). Todo o material coletado foi depositado no Laboratório de Ecologia e
Conservação da Biodiversidade (LECOB), da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte.
2.3. Analise de dados
2.3.1. Multiplicidade de Uso por informante
A multiplicidade de uso por informante (MUI) é aqui considerada como a soma
das citações de uso para todas as espécies e para todas as categorias mencionadas por
informante, gerando um número adimensional que possibilita a analise da relação desta
variável com as variáveis distância, renda e idade. Dessa forma, será possível analisar se
uma pessoa que conhece e utiliza um maior número de animais para várias categorias de
uso poderá, potencialmente, exercer uma maior pressão de exploração sobre a fauna
local do que uma pessoa que conhece e utiliza poucas espécies para um número
reduzido de categorias de uso. A multiplicidade de uso por informante foi calculado
através da seguinte fórmula: MUI= Σ(TCE) Onde: MUI = Multiplicidade de uso por
informante e o TCE = Total de categorias de uso para todas as espécies citadas por um
informante.
25
2.3.2. Zooterapia
Inicialmente, organizou-se uma lista dos animais citados, doenças tratadas,
partes usadas e formas de uso. Adicionalmente, todas as doenças tratadas pelos
zooterápicos citados foram agrupadas em seis categorias (Tabela 4), com base na
décima revisão da classificação internacional de doenças e de problemas relacionados à
saúde (CID-10 2008), como segue: 1) Doenças do aparelho respiratório (J00-J99); 2)
Causas externas de morbidade e de mortalidade (V01-Y98); 3) Doenças do aparelho
circulatório (I00-I59); 4) Doenças do ouvido e da apófise mastóide (H60-H95); 5)
Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas (S00-T98) e
6) Doenças indefinidas (R00-R99).
2.3.2.1. Fator de consenso dos informantes
O Fator de Consenso dos Informantes (ICF, “informant consensus factor”),
adaptado da proposta de Troter e Logan (1986), foi calculado visando identificar os
sistemas corporais que apresentam maior importância relativa local. O valor máximo
que uma categoria pode atingir é um. O ICF foi calculado através da seguinte fórmula:
ICF = (nur-nt)/(nur-1), onde: nur = o número de citações de usos em cada
categoria e nt = e número de espécies usadas.
2.3.2.2. Importância relativa
A importância relativa (IR) dos animais utilizados na medicina popular foi
calculada com base na proposta de Bennett e Prance (2000). O cálculo foi realizado
através da fórmula abaixo. O valor máximo que uma espécie pode obter é 2.
IR = NSC + NP, onde: NSC = NSCE/NSCEV e NP = NPE/NPEV. NSC =
número de sistemas corporais (categorias de doenças) é a razão entre o número de
sistemas corporais tratados por uma determinada espécie (NSCE) e o número total de
sistemas corporais tratados pela espécie mais versátil (NSCEV). O NP = número de
propriedades (recomendações terapêuticas) é a razão entre o número de propriedades
atribuídas para uma determinada espécie (NPE) e o número total de propriedades
atribuídas à espécie mais versátil (NPEV).
26
2.3.2.3. Nível de fidelidade
Por fim, com o objetivo de determinar a concordância entre as respostas dos
informantes sobre o uso medicinal dos animais, o consenso dos informantes foi
calculado através do nível de fidelidade adaptado da proposta de Friedman et al. (1986),
pela fórmula: FL = Ip/n X 100%, Onde: FL = Nível de Fidelidade; Ip = Número de
informantes que citaram o uso principal para uma determinada espécie; n = Total de
informantes que citaram a espécie para qualquer finalidade.
Com o objetivo de corrigir eventuais distorções nos resultados do FL, devido ao
baixo número de citações, foi utilizado o seguinte fator de correção (Rocha et al. 2008):
FC = E/EM, onde, FC = Fator de correção, E= número de informantes que citaram a
espécie e, EM: número de informantes que citaram a espécie mais citada.
2.4. Análises estatísticas
A regressão multipla, com o método “forward stepwise”, foi usada para verificar
qual ou quais das variáves socioeconômicas, tais como: renda e idade, além da distância
(distância de cada unidade habitacional do informante da zona rural em relação ao
centro da área urbana), foram preditoras da MUI, da categoria de uso alimentar e/ou
estimação. As variáveis foram transformadas em log e tiveram sua normalidade
verificada pelo teste de Shapiro-Wilk.
O teste U de Mann-Whitney foi realizado para verificar se havia diferenca nas
médias de citações das variáveis gênero e idade dos informantes com as categorias de
uso alimentar, estimação, medicinal e místico-religioso, e com a MUI. As categorias de
idade foram divididas em informantes com idade inferior a 40 anos e igual ou superior a
40 anos. Para a análise da variável escolaridade (analfabeto, ensino fundamental e
ensino médio) com as categorias de uso alimentar, estimação e medicinal, e com a MUI,
foi realizado o teste Kruskal-Wallis, com o teste de Dunn a posteriori. Contudo, não foi
possível realizar este teste para a categoria de uso místico-religioso, pois o número de
citações foi muito pequeno, o que impossibilitou a realização da normalização e da
análise estatística. Para todas as análises estatísticas foi utilizado o programa Statistics
7.1(StatSoft 2005).
2.5. Análises ecológicas
27
Para verificar se existe diferença na diversidade da fauna conhecida pelos
entrevistados de acordo com o gênero e a idade (≤40 anos e >40 anos), foi realizado o
cálculo do índice de diversidade de Shannon-Wiener para as categorias de uso:
estimação, alimentar, medicinal e para a MUI. Posteriormente, foram feitas
comparações estatísticas do índice de Shannon–Wiener através do teste t de Student
(Magurran 2004).
3. Resultados
3.1. Categorias de uso da fauna
Os moradores entrevistados citaram 82 espécies (72 vertebrados e 10
invertebrados) pertencentes a 45 famílias de animais. Os animais citados pertencem a
seis categorias taxonômicas distintas. As categorias taxonômicas citadas foram: 54,87%
aves (n=45), 14,63% mamíferos (n=12), 12,19% insetos (n=10), 8,53% peixes (n=7),
7,31% répteis (n=6) e 2,43% anfíbios (n=2) (Tabela 1) (Apêndice B).
Os animais reconhecidos são aqueles com os quais os entrevistados
desenvolvem contatos diários, sendo em alguns casos utilizados para fins diversos,
como alimentação, estimação, medicinais e místico-religiosos conforme detalhado
abaixo.
3.1.1. Categorias de uso: alimentar, estimação e místico-religioso
Foram citados 58 animais para fins alimentares, 30 animais para fins de
estimação e dois animais usados com propósitos místico-religiosos. Os animais usados
na medicina popular serão abordados num tópico distinto (Tabela 1).
Foi constatada a existência de uma conexão utilitária da fauna na região, sendo o
uso alimentar o mais saliente, uma vez que 69,8% (n=58) das espécies citadas foram
associadas a este tipo de uso. São utilizados para propósitos alimentares: 100% dos
peixes, 90% dos insetos, 83,3% dos mamíferos, 62,2% das aves e 50% dos répteis e
anfíbios citados. Entre as 58 espécies citadas para alimentação, 48,2% são aves, 17,2%
são mamíferos, 15,5% são insetos, 12% são peixes e 6,8% são répteis e anfíbios. Os
animais mais citados (mais de 20 citações) para fins alimentares foram: Tupinambis
28
merianae (tejuaçu), Columbina picui (rolhinha branca), Euphractus sexcinctus (tatu
peba), Zenaida auriculata (arribação), Oreochromis niloticus (tilápia), Galea spixii
(preá), Iguana iguana (camaleão), Hoplias malabaricus (traíra), Apis mellifera (abelha
italiana) e Dasypus novemcinctus (tatu verdadeiro) (Tabela 1).
Os animais utilizados para fins de estimação correspondem a 36,58% das 82
espécies citadas (n=30). São utilizados para fins de estimação: 60% das aves e 25% dos
mamíferos citados. Entre as 30 espécies citadas para tal finalidade, 90% são aves e 10%
são mamíferos. Os animais mais citados para fins de estimação foram: Paroaria
dominicana (galo de campina, 25 citações), Icterus jamacaii (concriz, 23), Aratinga
cactorum (periquito, 22), Cyanocompsa brissonii (azulão, 15) e Sporophila albogularis
(golinha, 14) (Tabela 1).
Os animais usados para fins místico-religiosos representam apenas 2,43% das 82
espécies citadas (n=2) (Tabela 1). A espécie Gallus gallus domesticus (galinha) foi
reconhecida como útil para fins místico-religiosos. Outra espécie citada foi a Rhinella
jimi (sapo), também usada para fazer catimbó.
Das espécies citadas, 19 apresentam uso múltiplo (23,17%), sendo 13 utilizadas
tanto para fins de alimentação como para propósito de estimação, tais como: Tamandua
tetradactyla (tamanduá), Cariama cristata (sariema), C. picui (rolinha branca),
Leptotila verreauxi (Juriti). Quatro espécies citadas são utilizadas tanto para fins de
alimentação quanto medicinal: I. iguana (camaleão), T. merianae (tejuaçu), Plebeia
mosquito (abelha mosquito) e Melipona subnitida (abelha Jandaíra) (Tabela 1).
Quanto ao status de conservação, as espécies Leopardus tigrinus (gato do mato)
e Leopardus wiedii (gato maracajá) constam no livro vermelho da fauna brasileira
ameaçada de extinção na categoria vulnerável (Chiarello et al. 2008) e constam também
na lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN (2011), também na categoria
vulnerável (Tabela 1).
3.1.2. Fauna de uso medicinal
Foram citados nove animais silvestres (correspondendo a 10,84% de todas as
espécies) para fins medicinais na zona rural do município de Pedro Avelino,
pertencentes a oito famílias e nove gêneros. Estes incluem uma espécie de mamífero,
cinco espécies de répteis e três espécies de insetos (Tabela 5). Além destes, dois animais
29
domésticos foram citados para fins medicinais: Ovis aries (carneiro) e G. gallus
domesticus (galinha).
Os informantes indicaram produtos zooterápicos para o tratamento de nove
diferentes tipos de doenças (Tabela 4). A espécie com maior importância relativa foi a I.
iguana (IR=2), e a espécie com a maior concordância entre as respostas dos informantes
sobre o uso medicinal principal, obtido através do nível de fidelidade, foi T. merianae
(100%). Um total de 51 citações de usos para produtos medicinais oriundos de animais
foram registrados (Tabela 5). As categorias com o maior número de citações foram:
doenças do aparelho respiratório (30 citações; seis animais) e as doenças do aparelho
circulatório (10 citações; dois animais).
Os resultados do cálculo do fator de consenso informante (ICF) mostram que os
valores variaram entre 0 e 0,89 (Tabela 6). As categorias que obtiveram os maiores
valores de ICF foram: as doenças dos aparelhos circulatório (0,89) e respiratório (0,83).
Dentre as categorias de sistemas analisadas, não houve concordância para doenças do
ouvido e da apófise mastóide e para lesões, envenenamento e algumas outras
consequências de causas externas.
Segundo os informantes, em algumas situações, é possível substituir o uso de
produtos derivados dos animais por produtos de origem vegetal, mantendo a eficácia
para um mesmo tratamento de saúde. Por exemplo, é possível substituir a banha do
tejuaçu (T. merianae) pela casca da romã (Punica granatum) para tratamento das dores
de garganta.
3.2. A influência dos fatores socioeconômicos no uso da fauna
Mesmo havendo diferenças consideráveis da distância entre as comunidades
investigadas para a zona urbana em Pedro Avelino, esta não exerceu influência sobre o
número de espécies animais conhecidas pelas comunidades. Além disso, as outras
variáveis independentes (idade e renda) não influenciaram nenhuma das variáveis
dependentes (MUI, uso alimentar e uso estimação).
Quando a média de citações da MUI e das categorias de uso foram comparadas
entre os dois grupos de idade, houve diferença significativa entre eles quanto a MUI
(U=53,00; Z=-2,340; p<0,05), com os informantes mais velhos apresentando maior
conhecimento sobre o uso da fauna (Tabela 2). Não houve diferença significativa entre
homens e mulheres quanto a MUI e as categorias de uso (Tabela 2).
30
Quando o teste Kruskal-Wallis foi realizado buscando verificar a ocorrência de
diferença entre o fator escolaridade e a MUI, bem como as categorias de uso
estabelecidas, os resultados mostram que ocorreu diferença significativa entre
escolaridade e a MUI (H=5,92; p=0,05), com as pessoas de maior nível de escolaridade
apresentando um menor conhecimento sobre o uso da fauna. Por outro lado, não ocorreu
diferença significativa entre escolaridade e as categorias de usos alimentar (H=4,22;
p=0,12), estimação (H=0,22; p=0,89) e medicinal (H=0,17; p=0,91).
3.3 Análises ecológicas
Quanto à diversidade de animais conhecida, os homens citaram uma diversidade
de animais maior que as mulheres em todas as categorias de uso. Entretanto, a diferença
na diversidade de espécies citadas foi significativa apenas para a MUI e para a categoria
alimentar, com os homens (MUI: H’=3,81; alimentar: H’=3,53) apresentando um
conhecimento mais diversificado do que as mulheres (MUI: H’=3,63; alimentar:
H’=3,25) (Tabela 3).
As pessoas com idade igual ou superior a 40 anos citaram uma diversidade de
animais maior do que as pessoas com idade inferior a 40 anos para todas as categorias
de uso analisadas. Entretanto, a diferença na diversidade de espécies citadas foi
significativa para as categorias de uso alimentar e estimação e para a MUI, com as
pessoas com idade igual ou superior a 40 anos (MUI: H’=3,87; alimentar: H’=3,56;
estimação: H’=2,88) apresentando um conhecimento mais diversificado do que as
pessoas com idade inferior a 40 anos (MUI: H’=3,54; alimentar: H’=3,16; estimação:
H’=2,55) (Tabela 3).
4. Discussão
4.1. Categorias de uso da fauna
Os animais reconhecidos pelos entrevistados pertencem a seis grandes grupos
taxonômicos: aves, mamíferos, répteis, anfíbios, peixes e insetos. As aves foram os
animais mais citados, o que pode estar diretamente relacionado à variedade desses
animais na área de estudo e ao aspecto cultural de criá-los como animais de estimação.
De maneira geral, foi observado que os vertebrados foram os animais mais citados,
31
corroborando os resultados de outras pesquisas conduzidas no mesmo Estado do
presente estudo (Silva 2008; Torres et al. 2009). O contato cotidiano de populações
humanas com animais possibilita o reconhecimento desses organismos, especialmente
os recursos com valor utilitário (Torres et al. 2009).
4.1.1. Categorias de uso: alimentar, estimação e místico-religioso
A utilização de animais para propósitos alimentares mostrou-se como a categoria
de uso mais importante na zona rural de Pedro Avelino. Alguns fatores podem estar
contribuindo para isso, dentre eles; o aspecto cultural do uso de animais silvestres como
fonte alternativa de alimento e a baixa renda da maioria das populações, associados a
longos períodos de estiagem, que dificultam ainda mais a vida no semiárido nordestino.
Apesar das implicações legais, a caça e o consumo de animais silvestres persistem em
todas as regiões do Brasil (Alves e Souto 2010). Na Amazônia, por exemplo, a
importância da fauna para a subsistência das populações rurais ou não, tradicionais ou
não, é indiscutível (Pezzuti et al. 2010). A captura de animais silvestres constitui um
fator importante na subsistência das comunidades humanas que habitam a região
semiárida do Nordeste brasileiro (Alves et al. 2009c).
Entre os animais citados pelos entrevistados para fins de estimação, o grupo das
aves merece um significativo destaque na área de estudo. Culturalmente, o grupo das
aves é um dos mais cobiçados pelas pessoas (Rocha et al. 2006), sendo também um dos
mais criados e comercializados em comunidades rurais e urbanas no Nordeste brasileiro
(Rocha et al. 2006; Alves et al. 2010b; Barbosa et al. 2010; Ferreira et al. 2009a;
Fernandes-Ferreira et al. 2011).
Dentre as aves mais citadas, P. dominicana (Galo de campina), foi à espécie
mais citada pelos entrevistados nas comunidades rurais de Pedro Avelino. Situação
semelhante foi relatada em outros estudos no Nordeste do Brasil (Alves et al. 2010b;
Ferreira et al. 2010b).
O uso de animais para fins místico-religiosos nas comunidades estudadas na
zona rural de Pedro Avelino é o mais modesto dentre as categorias de uso consideradas
no presente estudo. As espécies R. jimi (sapo) e G. gallus domesticus (galinha), também
foram registradas para uso em rituais religiosos no Nordeste brasileiro (Alves 2006;
Léo-Neto et al. 2009; Torres et al. 2009).
32
Pouco mais de 20% das espécies apresentam uso múltiplo. As espécies I. iguana
(camaleão) e T. merianae (tejuaçu) também foram registradas tanto para propósitos
alimentares quanto medicinais por Torres et al. (2009). As espécies P. mosquito (abelha
mosquito) e M. subnitida (abelha Jandaíra) também foram citadas tanto para propósitos
alimentares quanto medicinais. Entretanto, nestes casos, somente o mel é utilizado pelas
comunidades humanas, o que gera um menor impacto nas populações destes insetos.
Os animais usados tanto para fins alimentares quanto de estimação foram os
mais representativos neste estudo, com destaque para o grupo das aves, em especial as
espécies da família Columbidae. Estes são bastante apreciados como alimento e para
criação em cativeiro pelos moradores da zona rural de Pedro Avelino. Embora o
impacto da caça sobre as espécies de Columbidae não tenha sido investigado neste
estudo, Torres et al. (2009) sugerem que a pressão exercida sobre os recursos e a
facilidade de acesso aos mesmos aumenta o risco de que a exploração possa ocorrer em
níveis predatórios, contribuindo para o declínio de suas populações.
4.1.2. Fauna de uso medicinal
Neste estudo nove espécies medicinais foram citadas e todas elas já haviam sido
registradas em outros estudos no Nordeste do Brasil (Costa-Neto 1999; Alves e Rosa
2006; Alves et al. 2008b; Torres et al. 2009; Oliveira et al. 2010 a, b; Alves et al. 2011).
Poucos animais silvestres foram citados para propósitos medicinais nas
comunidades investigadas na zona rural do município de Pedro Avelino, embora outros
estudos realizados em áreas de Caatinga tenham mostrado uma ampla gama de animais
utilizados para esta finalidade. (Alves e Rosa 2006; Alves et al. 2008a; Alves et al.
2009a,b; Ferreira et al. 2009a). O baixo número de citações de espécies animais úteis
para fins medicinais pode estar relacionado ao fato do presente estudo ter trabalhado
com toda a população lá encontrada, não fazendo distinção entre informantes
especialistas e generalistas. Portanto, quando se objetiva analisar a real pressão de
exploração das comunidades humanas sobre espécies e/ou populações, pode ser mais
interessante amostrar todos os grupos que realizam estas atividades e não apenas os
especialistas locais. No uso de plantas, por exemplo, focar em especialistas, com
conhecimento curativo especializado, pode dar uma visão parcial de plantas utilizadas
por um grupo das pessoas, pois não são apenas os especialistas que sabem sobre plantas
medicinais (Gomez-Beloz 2002). Ainda segundo este autor, o conhecimento é possuído,
33
mesmo que de forma variada, por todas as pessoas na comunidade. Por outro lado,
quando se objetiva investigar novas formas de uso da fauna, como por exemplo, seus
usos e aplicações na medicina tradicional, os especialistas locais são os informantes
mais indicados. De forma geral, os dados sugerem que o uso de animais para fins
medicinais não gera um impacto tão significativo para a conservação quanto o uso deles
para fins alimentares. A mesma conclusão foi relatada em estudos realizados na floresta
tropical boliviana (Apaza et al. 2003) e na Mata Atlântica brasileira (Hanazaki et al.
2009). Contudo, é necessário avaliar isoladamente cada espécie envolvida (sua biologia
reprodutiva, comportamento, requerimento de habitat) para determinar se a exploração
está ocorrendo em níveis predatórios.
Além disso, em algumas situações, os produtos oriundos dos animais podem ser
substituídos por produtos de origem vegetal, pois conforme os informantes, alguns
fitoterápicos teriam efeito aparentemente similar aos zooterápicos. A substituição dos
produtos zooterápicos derivados da fauna ameaçada por plantas medicinais ou por
matéria-prima derivada de outros animais não ameaçados e legalmente comercializados
poderia atenuar a pressão sobre as espécies ameaçadas de extinção ou sobreexploradas
(Alves e Dias 2010). Para Sodeinde e Soewu (1999), o uso de espécies ameaçadas para
fins medicinais pode ser reduzido através da substituição das espécies ameaçadas por
espécies comuns quando apropriado. Segundo os autores, essa substituição nem sempre
é possível devido à possibilidade da perda de eficácia das receitas. Ainda conforme os
autores, são necessárias análises mais pormenorizadas em relação à sustentabilidade da
espécie substituta visando assim assegurar a viabilidade de sua exploração para fins
medicinais. Faz-se necessário ressaltar a importância da análise de viabilidade
populacional para a espécie substituta, a fim de determinar a manutenção dela no
ambiente natural.
Segundo os informantes da região de Pedro Avelino, a I. iguana é a espécie mais
versátil para uso medicinal, sendo a sua banha (gordura) usada para três tipos de
doenças (dor de garganta, dor de ouvido e espinhada).
Existe um alto consenso entre os informantes quanto ao uso de algumas espécies
para tratamento de problemas específicos de saúde, o que demonstra a importância
destes animais na cultura popular e sugere a realização de estudos adicionais que
possam testar a sua eficácia. Neste estudo, o T. merianae obteve maior concordância
entre as respostas dos informantes sobre seu uso medicinal principal. A gordura (banha)
deste lagarto é amplamente usada no Nordeste do Brasil para o tratamento de dor de
34
ouvido e dor de garganta, além de ser indicada para alguns tipos de infecções (Alves e
Rosa 2006; Alves 2009). Contudo, um estudo que testou a eficácia do uso da banha do
T. merianae revelou que o óleo derivado da gordura do animal não demonstrou
atividade antibacteriana (Ferreira et al. 2009b). Por outro lado, num outro estudo,
Ferreira et al. (2010a) mostraram que o óleo derivado da gordura do T. merianae
demonstra atividade anti-inflamatória. Mesmo assim, os autores defendem a
importância do desenvolvimento de políticas públicas para o uso racional deste recurso
zooterápico, pois, para eles ainda não está completamente claro se o uso medicinal
desses animais é compatível com a conservação da espécie.
Alguns produtos animais já foram relatados em outras partes do mundo, como o
mel de algumas espécies de abelhas utilizadas no Sudão, Coréia do Sul e México para
uma ampla variedade de doenças, como tosse, fraqueza, distúrbios hepáticos e
gastrointestinais (Pemberton 1999; El-Kamali 2000; Vasquez et al 2006). Os térmitas
são usados por tribos na Índia para tratar várias doenças, tais como asma, úlcera,
doenças reumáticas, dores no corpo e anemia (Solavan et al. 2004; Wilsanand 2005;
Wilsanand et al. 2007), e partes de serpentes são usadas na Itália, Espanha e Nepal para
tratamento de dor de garganta, resfriados, sarna e reumatismo (Quave et al. 2010).
Neste estudo, o cálculo do fator de consenso dos informantes para as diferentes
categorias de doenças, mostrou que as populações locais dão mais importância às
doenças do aparelho circulatório e respiratório. O uso de animais para tratar doenças
relacionadas a estes sistemas corporais também tem sido registrado em outros estudos
etnozoológicos realizados no Brasil (Alves e Rosa 2007; Alves et al. 2009a; Ferreira et
al. 2009a; Oliveira et al. 2010b; Silva et al 2010) tendo estes também relatado alto
consenso. Contudo, o consenso entre os informantes quanto às categorias de doenças
mais importantes pode variar consideravelmente entre regiões e países. Em estudo
realizado no Nepal com plantas medicinais, por exemplo, o maior ICF foi encontrado
para doenças gastrointestinais (Rokaya et al. 2010). Segundo estes autores, doenças
gastrointestinais são comuns na área de estudo devido à falta de saneamento básico na
região, o que estaria contribuindo para um aumento do interesse das pessoas em buscar
formas de tratamento para esta categoria de doenças. Por outro lado, nesse mesmo
estudo, as doenças do aparelho respiratório e circulatório estiveram entre as categorias
de doenças com os menores valores de ICF.
4.2. A influência dos fatores socioeconômicos no uso da fauna
35
O conhecimento sobre a utilização de animais para as categorias de uso
definidas neste estudo não mostrou relação significativa com a distância das
comunidades da zona rural para a zona urbana da cidade de Pedro Avelino. Isto sugere
que o conhecimento está bem distribuído entre os diferentes estratos de distância
analisados.
Das quatro comunidades investigadas, uma encontra-se consideravelmente mais
próxima ao centro da cidade (6 km) e possui um acesso facilitado através de uma
rodovia pavimentada. Contudo, esta comunidade apresentou um conhecimento similar
ao das demais. Este resultado pode ter sido influenciado pelos baixos níveis de renda,
que são similares entre as comunidades. Portanto, embora uma das comunidades tenha
maior acesso aos bens e serviços disponíveis na cidade, esta pode não estar usufruindo
totalmente desta vantagem por possuir recursos financeiros muito limitados. Desta
forma, esta comunidade, assim como as demais, pode estar mantendo seu conhecimento
sobre as espécies da fauna úteis, por também apresentar a necessidade de fazer uso dela
como uma fonte alternativa de alimentos e medicamentos.
Se a baixa renda, por exemplo, diminui o acesso aos alimentos industrializados
encontrados nos mercados na zona urbana, as comunidades poderiam tender a utilizar os
recursos faunísticos com maior intensidade, principalmente, para obtenção de proteína
para a dieta. Embora a modernização tenda a ser um fator que contribui para a perda do
conhecimento local das pessoas (Case et al. 2005; Reyes-Garcia et al. 2007; Furusawa
2009), nenhuma das comunidades investigadas parece possuir um total acesso aos
benefícios existentes no centro da cidade de Pedro Avelino. Os resultados sugerem,
portanto, que a pobreza nivela o conhecimento sobre o uso da fauna independente da
distância que as comunidades encontram-se da zona urbana. Segundo Leal et al. (2005),
a pobreza da população é considerada o principal desafio na Caatinga e a conservação
da biodiversidade está entre as menores prioridades de investimento.
A variável idade também não demonstrou influencia sobre o conhecimento e
este resultado parece também ter sido influenciado pela baixa renda, pois independente
da idade dos entrevistados, as famílias investigadas podem ainda estar fazendo uso da
fauna como uma fonte alternativa de recursos. Conforme relatado por Alves et al.
(2010a), os animais cinegéticos têm grande importância nutricional para famílias de
baixa renda. É uma característica cultural do povo nordestino que habita as áreas rurais
envolver-se, desde cedo, com as atividades de caça, pesca, agricultura e criação de
36
animais para consumo ou para fins de estimação. As atividades cinegéticas no semiárido
são praticadas pelos moradores locais ainda quando crianças, ocasião em que eles
caçam os animais para consumo alimentar ou para serem usados como animais de
estimação (Alves et al. 2010a).
Houve diferença significativa entre os dois grupos de idade para a MUI,
sugerindo que pessoas mais velhas conhecem mais sobre as espécies da fauna. Por outro
lado, os dados mostraram que não existiram diferenças entre gêneros quanto ao número
de animais mencionados, sugerindo que, de modo geral, o conhecimento quanto à
riqueza de espécies úteis parece estar bem distribuído entre os entrevistados. Quanto à
categoria de uso medicinal, não existiu diferença estatisticamente significativa por
gênero e nem por grupo de idade entre os informantes. De modo contrário aos
resultados deste estudo, investigações sobre o uso de plantas medicinais, por exemplo,
têm demonstrado diferenças no conhecimento entre gêneros (Begossi et al. 2002; Voeks
e Leony 2004) e estas diferenças no conhecimento e percepção têm sido parcialmente
explicadas como uma consequência da divisão sexual do trabalho (Camou-Guerreiro et
al. 2008). Logo, os dados sugerem que o conhecimento sobre o uso de animais para fins
medicinais está melhor distribuído na área de estudo.
Quanto ao uso de animais para fins místico-religiosos, os dados mostraram que
não existiram diferenças significativas quanto ao gênero e aos grupos de idade. Isto
sugere que o uso de animais para estes propósitos nas comunidades investigadas são
quase que irrelevantes quando comparados com as outras categorias de uso e outras
ameaças à biodiversidade da Caatinga. Somente duas espécies foram citadas para estes
propósitos: R. jimi (sapo) e G. gallus domesticus (galinha).
Os resultados mostraram que pessoas com maior nível de escolaridade
apresentaram um menor conhecimento sobre o uso da fauna, confirmando a hipótese de
que pessoas com maior nível educacional conhecem menos os recursos da fauna úteis.
Os informantes analfabetos, em média, apresentaram um maior MUI da fauna do que os
informantes com ensino fundamental ou médio, sugerindo que pessoas com baixo nível
de escolaridade tendem a fazer uso de um maior número de espécies. Em certas
situações, pessoas que estudaram pouco ou não tiveram oportunidade de estudar têm
uma menor possibilidade de obter uma melhor condição de vida, passando assim a
depender diretamente dos recursos locais disponíveis. Segundo Apaza et al. (2003),
salários e educação estão correlacionados com uma menor probabilidade de uso de
37
animais para fins medicinais na Bolívia. Para estes autores, apenas a educação está
correlacionada com a probabilidade de mudança no uso de animais para fins medicinais.
4.3. Análises ecológicas
Como proposto na terceira hipótese, foi observado que a idade e o gênero dos
informantes influenciam na diversidade das espécies de animais conhecidas na área de
estudo, devido, muito provavelmente, aos diferentes níveis de interação das pessoas
com os recursos. Com relação ao gênero, os homens citaram uma maior diversidade de
animais para a MUI e para a categoria de uso alimentar que as mulheres. Esta maior
diversidade, atribuída aos homens, pode estar diretamente relacionada às praticas locais
de caça que estão culturalmente mais relacionadas ao sexo masculino. Embora as
mulheres conheçam uma riqueza de animais similar aos homens, o conhecimento
apresentou-se melhor distribuído entre eles. Na Amazônia, foi encontrada diferença
significativa quanto à diversidade de animais usados de acordo com o gênero dos
informantes (Silva 2008). O mesmo ocorreu na comunidade Barra Grande, Piauí, onde
foi encontrada diferença significativa quanto à diversidade de animais usados de acordo
com o gênero dos entrevistados (Souza 2010). Em trabalho realizado com o uso de
plantas em nove vilas no Sul da África, a diversidade de conhecimento encontrada foi
similar ou com uma leve vantagem para os homens (H’ = 3.3) em relação às mulheres
(H’ = 3.2) (Dovie et al. 2008). Por outro lado, em comunidades caiçaras da Mata
Atlântica não foi encontrada diferença significativa entre homens e mulheres quanto à
diversidade de plantas medicinais usadas (Hanazaki et al. 2000).
Nas comunidades rurais do município de Pedro Avelino, a diversidade de
espécies usadas por pessoas mais velhas foi significativamente maior para a MUI e para
as categorias de uso alimentar e estimação. Na Amazônia, não foi encontrada diferença
significativa quanto à diversidade de animais usados de acordo com a idade dos
informantes (Silva 2008). O mesmo ocorreu na comunidade Morro da Mariana, Piauí,
onde não foi encontrada diferença significativa quanto à diversidade de animais usados
de acordo com a idade dos entrevistados (Souza 2010).
5. Considerações Finais
38
As comunidades investigadas fazem uso de um número considerável de animais
para fins medicinais, de estimação, místico-religiosos e principalmente alimentares.
Vale salientar que algumas das espécies citadas como úteis constam em listas de
espécies ameaçadas, evidenciando a necessidade de investigações que avaliem o risco
potencial das atividades de caça sobre as populações destes animais.
A distância das comunidades da zona rural para a zona urbana da cidade de
Pedro Avelino não foi uma variável capaz de influenciar o conhecimento sobre a
utilização da fauna para as categorias de uso definidas nesta investigação. Este resultado
sugere que embora alguns dos entrevistados tenham um maior acesso a bens e serviços
fornecidos na cidade, estes parecem continuar a utilizar os animais de maneira
complementar tanto para alimentação como para fins medicinais, pois os níveis de renda
demonstram ser insuficientes para suprir todas as necessidades. Foi possível observar
que, de forma geral, as quatro comunidades investigadas possuem baixos níveis de
renda e esta condição pode estar contribuindo para a manutenção do conhecimento
sobre os animais e a utilização deles principalmente como fonte alternativa de proteína
animal e de produtos zooterápicos.
Além disso, os fatores socioeconômicos de renda e idade não influenciaram
nenhuma das variáveis dependentes (MUI, Alimentar, estimação, medicinal e místicoreligioso). Embora à distância e os fatores socioeconômicos não tenham influenciado o
conhecimento e uso da fauna local, ações que visem gerar emprego e renda para as
populações locais podem ser encaradas como medidas de cunho conservacionista. A
adoção de melhorias dos sistemas de educação e saúde também poderá favorecer a
conservação dos recursos naturais daquela região, já que pessoas com maior nível de
escolaridade apresentaram um menor conhecimento sobre os recursos disponíveis.
A riqueza e a diversidade de espécies úteis divergiram entre os diferentes
gêneros e idades, devido muito provavelmente, aos diferentes níveis de interação das
pessoas com os recursos. Estes resultados demonstram que o conhecimento, muitas
vezes, não está distribuído igualitariamente entre os membros de uma mesma
comunidade.
Embora, nem todos os fatores socioeconômicos analisados tinham exercido
influência no conhecimento sobre os animais úteis, os mesmos devem ser considerados
em investigações etnozoológicas, pois podem exercer diferentes graus de influência
entre comunidades e pessoas numa mesma comunidade. Estudos adicionais devem
buscar a quantificação dos usos dos animais pelas populações humanas no intuito de
39
obter dados reais que venham permitir o direcionamento dos esforços de conservação na
região.
Agradecimentos
Sou grato a todos os informantes que contribuíram com este estudo. Agradeço
também a Denise de Freitas Torres pela relevante contribuição na coleta dos dados. Sou
grato aos professores do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte pela identificação das espécies. Ao
CNPq/UFRN pela bolsa (134431/2009-9) concedida ao autor.
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47
Figura 1. Localização da área de estudo. A, Os limites do Brasil com destaque para o bioma Caatinga em
cinza e o Estado do Rio Grande do Norte, em preto. B, Os limites do Rio Grande do Norte, com o
município de Pedro Avelino destacado em cinza. C, A Área de estudo como 0, centro do município de
Pedro Avelino; 1, Comunidade Santo Antônio Trangola; 2, Comunidade Serra Aguda; 3, Comunidade
São José do Pé da Serra; e 4, Comunidade Olho d’água.
48
Tabela 1 – Espécies da fauna usadas em comunidades rurais, no município de Pedro
Avelino (RN, NE Brasil).
Família
Espécies
Nome popular
Categorias de uso
Bovidae
Ovis aries (Linnaeus, 1758).
Carneiro*
M**
Canidae
Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766)
Raposa
E (2), M (10)
Caviidae
Galea spixii (Wagler, 1833)
Preá
A (23)
Cervidae
Kerodon rupestris (Wied-Neuwied, 1820)
Moco
A (10)
Dasypodidae
Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758
Tatu Verdadeiro
A (20)
Dasypodidae
Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758)
Tatu peba
A (27)
Didelphidae
Didelphis albiventris Lund, 1840
Timbú, Gambá
A (1)
Echimyidae
Thrichomys apereoides (Lund, 1839)
Punaré
A (11)
Felidae
Leopardus tigrinus (Schreber, 1775)
Gato do mato
A (5)
Felidae
Leopardus wiedii (Schinz, 1821)
Gato maracajá,
A (1)
Mephitidae
Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785)
Tacaca
A (19), E (2)
Tamanduá
A (15), E (1)
Mamíferos
Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758)
Aves
Anatidade
Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766)
Marreca
A (1)
Anatidae
Sarkidiornis sylvicola Ihering & Ihering, 1907
Pato do mato
A (1), E (1)
Bucconidae
Nystalus maculatus (Gmelin, 1788)
Fura Barreira
A (1)
Cardinalidae
Cyanocompsa brissonii (Lichtenstein, 1823)
Azulão
E (15)
Cariamidae
Cariama cristata (Linnaeus, 1766)
Seriema ou sariema
A (14), E (2)
Columbidae
Columba livia Gmelin, 1789
Pombo
A (1)
Columbidae
Columbina minuta (Linnaeus, 1766)
Rolinha Cafofa
A (5)
Columbidae
Columbina passerina (Linnaeus, 1758)
Rolinha cinza
A (1)
Columbidae
Columbina picui (Temminck, 1813)
Rolinha branca/Pé de
anjo
A (28), E (5)
Columbidae
Columbina talpacoti (Temminck, 1811)
Rolinha roxa, caldo de
feijão, vermelha ou
cabocla.
A (11), E (3)
Columbidae
Leptotila verreauxi (Bonaparte, 1855)
Juriti
A (5), E (3)
49
Tabela 1 – Continuação
Columbidae
Patagioenas picazuro (Temminck, 1813)
Asa Branca
A (3), E (5)
Columbidae
Zenaida auriculata (Des Murs, 1847)
Arribaçã ou avoete
A (24)
Corvidae
Cyanocorax cyanopogon (Wied-Neuwied, 1821)
Cancão
A (1), E (9)
Cuculidae
Coccyzus melacoryphus Vieillot, 1817
Papa lagarta
A (1)
Cuculidae
Guira guira (Gmelin, 1788)
Anum Branco
A (1)
Emberizidae
Paroaria dominicana (Linnaeus, 1758)
Galo de Campina
E (25)
Emberizidae
Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766)
Canário da terra
E (5)
Emberizidae
Sporophila albogularis (Spix, 1825)
Golinha
A (1), E (14)
Emberizidae
Sporophila bouvreuil (Statius Muller, 1776)
Caboculinho
E (1)
Emberizidae
Sporophila lineola (Linnaeus, 1758)
Bigode
E (2)
Emberizidae
Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823)
Papa capim
E (1)
Falconidae
Caracara plancus (Miller, 1777)
Carcará
A (1)
Falconidae
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788)
Gavião
A (4)
Fringillidae
Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766)
Gaturama ou Vem-vem E (1)
Fringillidae
Sporagra yarrellii (Audubon, 1839)
Pintassilgo
E (1)
Furnariidae
Pseudoseisura cristata (Spix, 1824)
Casaca de couro
A (1)
Icteridae
Chrysomus ruficapillus (Vieillot, 1819)
Papa arroz
A (1)
Icteridae
Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819)
Craúna
E (8)
Icteridae
Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766)
Xexéu
E (1)
Icteridae
Icterus cayanensis pyrrhopterus (Vieillot, 1819)
Peiga ou conto de ouro E (1)
Icteridae
Icterus jamacaii (Gmelin, 1788)
Concriz
A (1), E (23)
Mimidae
Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823)
Papa sebo
A (4), E (3)
Phasianidae
Gallus gallus domesticus (Linnaeus, 1758)
Galinha*
M**, MR (6)
Psittacidae
Amazona aestiva (Linnaeus, 1758)
Papagaio
E (11)
Psittacidae
Aratinga cactorum (Kuhl, 1820)
Periquito
A (2), E (22)
Psittacidae
Forpus xanthopterygius (Spix, 1824)
Verdelinho
E (2)
Rallidae
Gallinula chloropus (Linnaeus, 1758)
Galinha d’água
A (1)
Strigidae
Athene cunicularia (Molina, 1782)
Coruja
A (1)
Strigidae
Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788)
Caburé
A (3)
Thraupidae
Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766)
Senhaçu azul
E (1)
50
Tabela 1 – Continuação
Tinamidae
Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827)
Nambu Pequena, roxa
ou espanta boiada
A (1)
Tinamidae
Nothura maculosa (Temminck, 1815)
Nambu pedrez ou
grande
A (12)
Turdidae
Turdus rufiventris Vieillot, 1818
Tyrannidae
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766)
Bem-te-vi
E (1)
Boidae
Boa constrictor Linnaeus, 1758
Cobra de veado ou
jibóia
A (1)
Chelidae
Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812)
Cágado
M (2)
Iguanidae
Iguana iguana (Linnaeus, 1758)
Camaleão
A (22), M (7)
Teiidae
Tupinambis merianae (Duméril and Bibron,
1839)
Tejuaçu
A (29), M (22)
Tropiduridae
Tropidurus hispidus (Spix, 1825)
Lagartixa
M (1)
Viperidae
Caudisona durissa cascavella Wagler, 1824
Cascavel
M (3)
Bufonidae
Rhinella jimi (Stevaux, 2002)
Sapo
MR (6)
Leptodactylidae
Leptodactylus sp.
Gia
A (1)
Apidae
Plebeia mosquito (Smith, 1863)
Abelha Mosquito
A (8), M (3)
Termitidae
Nasutitermes macrocephalus (Silvestri, 1903)
Cupim
M(1)
Apidae
Frieseomelitta doederleini (Friese, 1900)
Abelha amarela
A (2)
Apidae
Apis mellifera Linnaeus, 1758
Abelha italiana
A (21)
Apidae
Melipona subnitida Ducke, 1911
Abelha Jandaíra
A (9), M (2)
Apidae
Melipona asilvai Moure, 1971
Abelha rajada
A (11)
Família não
identificada
Espécie não identificada
Abelha capuchu
“preta”
A (2)
Família não
identificada
Espécie não identificada
Inchuí
A (2)
Família não
identificada
Espécie não identificada
Inchú
A (1)
Apidae
Trigona spinipes (Fabricius, 1793)
Arapuá
A (3)
Sabiá
E (3)
Répteis
Anfíbios
Insetos
51
Tabela 1 – Continuação
Peixes
Anostomidae
Leporinus piau Fowler, 1941
Piau
A (1)
Characidae
Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758).
Piaba
A (10)
Characidae
Cyprinus carpio (Linnaeus, 1758)
Carpa
A (1)
Cichlidae
Cichla monoculus (Spix and Agassiz, 1831)
Tucunaré
A (3)
Cichlidae
Oreochromis niloticus (Linhares, 1758)
Tilápia ou pilato
A (24)
Erythrinidae
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794)
Traíra
A (21)
Prochilodontidae
Prochilodus brevis Steindachner, 1875
Curimatã
A (4)
Categorias de uso: A, Alimentar; E, Estimação; M, Medicinal; MR, Místico-Religioso.
*Animais domésticos citados para fins medicinais ou místico-religiosos.
**Não se aplica a animais domésticos.
Tabela 2: Teste Mann-Whitney para o uso de animais nas comunidades humanas do
município de Pedro Avelino (RN, NE Brasil) de acordo com o gênero e a idade dos
entrevistados.
Gênero
Idade
U
Z
MUI
71,00
Alimentar
p
U
Z
-1,712 0,086
53,00
-2,340 0,019*
87,00
-1,039 0,296
84,00
-1,028 0,303
Estimação
94,00
-0,748 0,448
68,00
-1,699 0,089
Medicinal
76,00
-0,464 0,642
90,00
-0,794 0,426
Místico-religioso
5,00
1,125
95,00
-0,664 0,506
0,260
p
* Categorias de uso com diferenças significativas para um p<0.05.
52
Tabela 3. Índice de diversidade de Shannon-Wiener H’ para as categorias de uso e MUI
de acordo com gênero e a idade dos entrevistados no município de Pedro Avelino (NE
do Brasil).
Homens
Mulheres
t
g.l.
MUI
3,81*
3,63*
2,89
612
Alimentar
3,53*
3,25*
4,13
423
Estimação
2,76
2,71
-
-
Medicinal
1,60
1,54
-
-
Idade<40
Idade>=40
t
d.f.
MUI
3,54*
3,87*
5,30
493
Alimentar
3,16*
3,56*
5,96
379
Estimação
2,55*
2,88*
2,46
127
Medicinal
1,24
1,75
2,13
31
* Teste significativo com p<0,05.
Tabela 4. Categorias das doenças tratadas com recursos zooterápicos nas comunidades
São José do Pé da Serra, Santo Antônio Trangola, Serra Aguda e Olho d’Água, Pedro
Avelino (RN), segundo o CBCD (Centro Brasileiro de Classificação de Doenças, 1993).
Categorias
Doenças citadas
Total de
doenças
Número de
espécies
Doenças do aparelho respiratório
Asma, gripe e dor de garganta.
3
6
Doenças indefinidas
Inflamação e machucado
2
3
Causas externas de morbidade e de
mortalidade
Espinhos
1
2
Lesões, envenenamento e algumas outras
consequências de causas externas
Feridas em geral
1
1
Doenças do aparelho circulatório
Hemorróidas
1
2
Doenças do ouvido e da apófise mastóide
Dor de ouvido
1
2
Total
9
53
Tabela 5. Espécies de animais usadas na medicina popular no município de Pedro Avelino, NE Brasil.
Nome
Número de
Importância
Parte usada e modo
local
citações
relativa
de administração
Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766)
Raposa
10
1
Banha (5)
Hemorróida
40,90
Iguana iguana (Linnaeus, 1758)
Camaleão
7
2
Banha (2, 5)
Dor de garganta e
18,18
Família
Espécies
Canidae
Iguanidae
Doença tratada
Nível de Fidelidade
(%)*
Espinho
Chelidae
Phrynops geoffroanus
Cágado
2
1,33
Banha (4, 5)
(Schweigger, 1812)
Hemorróida e dor de
4,54
garganta
Tropiduridae
Tropidurus hispidus (Spix, 1825)
Lagartixa
1
1,33
Animal inteiro (1)
Ferimentos na boca
4,54
Teiidae
Tupinambis merianae (Duméril
Tejuaçu
22
1,33
Banha (2, 5)
Dor de garganta e
100
and Bibron, 1839)
Viperidae
Caudisona durissa cascavella
inflamação
Cascavel
3
1,33
Banha (2, 6)
Wagler, 1824
Apidae
Plebeia mosquito (Smith, 1863)
Melipona subnitida Ducke, 1911
9,09
Espinho
Abelha
3
0,66
Mel (5)
mosquito
Apidae
Dor no corpo e
Abelha
Dor de Ouvido, dor
9,09
de garganta e gripe
2
0,66
Mel (3)
Gripe
9,09
1
0,66
Animal inteiro (3)
Asma
4,54
Jandaíra
Termitidae
Nasutitermes macrocephalus
Cupim
(Silvestri, 1903)
*Os valores do Nível de Fidelidade foram corrigidos conforme Rocha et al. (2008). Legenda: (1) chá; (2) unguento a ser friccionado na área afetada; (3) garrafada, obtida da
mistura de plantas e animais medicinais; (4) tomada com café; (5) tomada pura como bebida (colher das de chá) e (6) tomada pura como bebida (algumas gotas).
54
Tabela 6. Fator de consenso dos informantes por categorias de sistemas corporais ou
doenças (município de Pedro Avelino, RN, NE Brasil).
Categorias
Número de
espécies
animais
% todas as
espécies
Citações
de uso
% todas as
citações
ICF
Doenças do aparelho respiratório
6
33,33
30
54,55
0,83
Causas externas de morbidade e de
mortalidade
2
11,11
4
7,27
0,67
Doenças do aparelho circulatório
2
11,11
10
18,18
0,89
apófise
2
11,11
2
3,64
0,00
Lesões, envenenamento e algumas
outras consequências de causas externas
1
5,56
1
1,82
0,00
Doenças indefinidas
3
16,67
4
7,27
0,33
Doenças do
mastoide
ouvido
e
da
55
ARTIGO 2 – Prioridade Local de Conservação de espécies da fauna em uma área de
Caatinga, Nordeste do Brasil
56
Capitulo 2 – Prioridade Local de Conservação de espécies da fauna em uma área de
Caatinga, Nordeste do Brasil
Resumo
O uso do Conhecimento Ecológico Local (do inglês LEK) como fonte de informação
sobre o ambiente e os recursos naturais tem sido frequentemente defendido para a
conservação da biodiversidade. Além disso, estudos têm demonstrado que as
informações obtidas através do LEK podem ser mais baratas que dados obtidos por
meio de métodos tradicionais de investigação biológica. Diante disso, o presente estudo
visa sugerir uma ferramenta para se gerar uma lista da fauna prioritária para a
conservação local a partir do LEK, o que permitirá direcionar estudos ecológicos mais
aprofundados visando à conservação das espécies. Um total de 30 entrevistas
semiestruturadas foi conduzido em quatro comunidades humanas residentes em áreas de
caatinga. Setenta e quatro espécies foram citadas, sendo 48 espécies utilizadas direta ou
indiretamente na alimentação e nove úteis para fins medicinais. Dezessete espécies
foram citadas por representarem risco às pessoas ou criações. Seis espécies foram
citadas como alvos de caça no passado, mas que segundo depoimentos, encontram-se
atualmente extintas na área de estudo. Algumas das espécies caçadas (n=8) constam em
listas de espécies ameaçadas de extinção. A prioridade de conservação foi calculada
para 23 espécies. Estas foram classificadas em três categorias de conservação. Uma
única espécie entrou na primeira categoria de conservação, dez espécies estão na
segunda categoria de conservação e, 12 espécies estão na terceira categoria de
conservação. Os dados sugerem que, de acordo com a abundância percebida pelos
entrevistados, as populações de algumas das espécies usadas principalmente para a
alimentação, podem estar atingindo níveis que podem comprometer a permanência
dessas populações no meio natural. A determinação de espécies prioritárias para
conservação é importante para se obter êxito na manutenção da biodiversidade local.
Portanto, estudos que possam, não apenas identificar os usos que as populações
humanas fazem da fauna local, mas também quantificar a real pressão de caça que os
animais sofrem, principalmente para fins alimentares, é fundamental para adoção de
políticas públicas que possam mitigar os impactos humanos na fauna.
Palavras chaves: Etnozoologia, conhecimento ecológico local, extinção, alimentação
57
Chapter 2 – Local Priority of Conservation of fauna species in one area of Caatinga,
Northeast of Brazil
Abstract
The use of Local Ecological Knowledge (LEK) as a source of information about
environment and natural resources has often been advocated in the biodiversity
conservation. Furthermore, studies have demonstrated that information obtained
through the LEK can be cheaper than data obtained through traditional methods of
biological research. Thus, this study aims to suggest a tool to generate a list of fauna
priority for local conservation using information gathered through the LEK, which
could also direct ecological studies more detailed for species’ conservation. A total of
30 semi-structured interviews were conducted in four human communities living into
Caatinga region (a Brazilian semi-arid biome). Seventy-four species were mentioned,
with 48 species used directly or indirectly like food and nine useful for medicinal
purposes. Seventeen species were cited because they represent risk to people or
domesticated animals. Six species were mentioned as hunting targets in the past, but
according to the interviewees' statements, these species are now extinct in the study
area. Some of the hunted species (n = 8) are included on lists of endangered species.
The conservation priority was calculated for 23 species. These were classified into three
categories of conservation. A single species was into the first category of conservation,
ten species are in the second category of conservation, and 12 species are in the third
category of conservation. The data suggest that, according to the interviewees’
perception, the populations of some species used mainly like food, may be reaching
levels that could compromise the permanence of these populations in nature. The
determination of priority species for conservation is important to succeed in maintaining
local biodiversity. Therefore, studies that can not only identify the local fauna’s uses,
but also to quantify the actual hunting pressure, especially for animals used like food, is
essential for adoption of public politics that can mitigate the human impacts on the
fauna.
Key words: Ethnozoology, local ecological knowledge, extinction, food
58
1. Introdução
A Caatinga foi reconhecida como uma das 37 grandes regiões naturais do
planeta, a partir do conceito de “wilderness” (Mittermeier et al. 2003). Este bioma
ocupa aproximadamente 735.000 Km² (Leal et al. 2005) do território brasileiro, estando
presente na região Nordeste e no Estado de Minas Gerais (Prado 2005). Segundo Silva
et al. (2004) e MMA (2007), a Caatinga tem sido sempre colocada em segundo plano
quando se discutem políticas para o estudo e a conservação da biodiversidade do Brasil.
A atividade humana não sustentável, como a agricultura de corte e queima, o
corte de madeira para lenha, a caça de animais e a contínua remoção da vegetação para
a criação de bovinos e caprinos, tem levado ao empobrecimento ambiental, em larga
escala, da Caatinga (Leal et al. 2005). A população rural é extremamente pobre e os
longos períodos de seca diminuem, ainda mais, a produtividade da região (Sampaio e
Batista 2004). Além disso, estudos recentes têm demonstrado que populações humanas
que residem na caatinga conhecem e fazem uso de animais para fins de estimação,
místico-religiosos, alimentares e medicinais (Costa-Neto 2000; Alves et al. 2009a,b;
Ferreira et al. 2009; Léo-Neto et al. 2009).
O uso do conhecimento ecológico local (do inglês LEK, “Local Ecological
Knowledge”) tem sido frequentemente defendido para o manejo e monitoramento da
biodiversidade (Folke 2004; Moller et al. 2004; Jones et al. 2008; Anadón et al. 2009).
O LEK tem sido mais recentemente atribuído a um sistema de manejo de recursos e se
refere a um conjunto de conhecimentos acumulados, desenvolvidos e aplicados por
atores num contexto local. Anadón et al. (2009) descrevem a possibilidade de uso do
LEK na obtenção, por meio de entrevistas, de dados quantitativos da abundância
relativa de uma espécie de tartaruga terrestre, na Espanha. Ainda segundo estes autores,
as informações obtidas através do LEK foram cerca de cem vezes mais baratas que os
dados obtidos por meio de transectos lineares. Na Amazônia, a contagem do pirarucu
(Arapaima gigas) realizada por pescadores apresentou uma alta correlação com o
método de marcação-recaptura, sendo que a contagem dos pescadores foi
aproximadamente 200 vezes mais rápida e barata que o método tradicional (Castello
2004).
O processo de estabelecimento de prioridades para a conservação é um passo
óbvio e essencial em qualquer estratégia de conservação (Brehm et al. 2010), o qual
pode ser realizado em diferentes níveis (espécies, ecossistemas, etc.). Além disso, nas
59
últimas décadas, tem havido um debate considerável sobre quais critérios devem ser
adotados na priorização de espécies para a conservação (Maxted et al. 1997).
Prioridades foram determinadas por ameaça, endemicidade, raridade, declínio
populacional, qualidade do habitat, impactos humanos, abundância das espécies em
relação ao tamanho da área geográfica, potencial de recuperação e orçamento estimado
para a conservação, singularidade taxonômica e critérios filogenéticos, valores culturais,
critérios econômicos, nível de conhecimento das espécies e o estado das investigações
atuais (Brehm et al. 2010). Entretanto, a determinação das espécies prioritárias, segundo
os critérios acima citados consideram, em sua maioria, um conjunto de dados préexistentes que muitas vezes não estão disponíveis, devido à ausência histórica de
investigações científicas tradicionais em escalas espaciais e temporais, por exemplo.
Nestes casos, alguns trabalhos com enfoque no manejo pesqueiro defendem o uso do
conhecimento dos pescadores como uma alternativa a falta de dados (Johannes 1998;
Johannes et al. 2000; Begossi e Silvano 2008).
Estudos relativos às prioridades de conservação, usando o conhecimento local
das populações humanas para obtenção de dados, têm sido realizados em outras partes
do mundo como, por exemplo, no Himalaia e na Índia (Dhar et al. 2000; Kala et al.
2000; Kala et al. 2004). Alguns poucos estudos têm sido produzidos no Brasil
relacionados à prioridade de conservação, todos focando em plantas medicinais
(Oliveira et al. 2007; Melo et al. 2009; Crepaldi e Peixoto 2010). Geralmente, eles
combinam aspectos biológicos e culturais na determinação das espécies prioritárias.
Como a pobreza da população é considerada o principal desafio na Caatinga, a
conservação da biodiversidade está entre as menores prioridades de investimento (Leal
et al. 2005). A determinação de prioridades locais de conservação é importante para se
obter êxito na manutenção da biodiversidade local. Diante disso, o presente estudo
testou uma ferramenta que gera uma lista da fauna prioritária para a conservação local a
partir do LEK. Essa lista permitirá direcionar estudos ecológicos mais aprofundados
visando à conservação das espécies do bioma Caatinga. Além disso, a partir do LEK, foi
gerada uma lista das espécies consideradas extintas localmente ou que apresentam um
considerável declínio populacional.
2. Material e Métodos
2.1. Descrição da área de estudo
60
O estudo foi desenvolvido em quatro comunidades rurais (Santo Antônio
Trangola, Serra Aguda, São José do Pé da Serra e Olho d’água) no município de Pedro
Avelino (Figura 1), localizado na Ecorregião da Depressão Sertaneja Setentrional, no
bioma Caatinga, Estado do Rio Grande do Norte. Informações adicionais sobre a área
de estudo podem ser consultadas no capítulo 1 desta dissertação (página: 22).
2.2. Procedimentos metodológicos
Para coleta de dados, foram feitas visitas aos moradores de quatro comunidades
rurais: Santo Antônio Trangola, Serra Aguda, São José do Pé da Serra e Olho d’água.
Foram amostradas todas as unidades habitacionais das quatro comunidades.
Inicialmente, foram entrevistados moradores locais que fazem uso de animais silvestres
para fins alimentares e medicinais ou que caçam os animais por estes representarem
perigo para eles próprios ou para suas criações domésticas. Além disso, os
entrevistados foram questionados sobre os animais que estavam diminuindo ou que não
ocorrem mais na região.
Foram realizadas 30 entrevistas semiestruturadas (Apêndice A) na área de
estudo, sendo seis em Santo Antônio Trangola, sete em Serra Aguda, onze em São José
do Pé da Serra e seis em Olho d’água. Foram entrevistados 16 homens e 14 mulheres
apresentando idade entre 18 e 88 anos. Cerca de 70% dos informantes são naturais da
área de estudo. Quanto à formação educacional, 43,4% são analfabetos, 46,7% possuem
o ensino fundamental e 10% possuem o ensino médio. Informações adicionais sobre os
procedimentos metodológicos podem ser consultados no capítulo 1 desta dissertação
(páginas: 22–25).
2.3. Prioridade local de conservação para espécies animais
Foi realizado o cálculo da prioridade local de conservação (PLC) dos animais
utilizados para fins alimentares e medicinais empregando-se a metodologia adaptada de
Dzerefos e Witkowski (2001). Foi usada a fórmula a seguir, cujos critérios estão
demonstrados na Tabela 1: PLC = 0,5 (A x 10) + 0,5 (0,5 (H) + 0.5 (U) x 10), onde:
PLC Prioridade local de conservação; A =Abundância da espécie segundo o
conhecimento local dos entrevistados; H = Risco de coleta; U = Uso local (U é dado
61
pelo maior valor entre a citação de uso local (L) e a diversidade de uso (D)). A
abundância das espécies citadas foi estimada por meio de uma medida subjetiva a partir
das respostas dos entrevistados (Muito baixa, Baixa, Média e Alta) (Apaza et al. 2003).
Optou-se por essa abordagem por possibilitar uma rápida geração de informação
local sobre os animais prioritários à conservação a partir do LEK. Neste caso, apenas
aspectos do LEK foram levados em consideração para a determinação das espécies
localmente prioritárias. Entretanto, em outras situações, como o caso de estudos
etnobotânicos, é possível unir aspectos biológicos e culturais na determinação de
espécies prioritárias (Dzerefos e Witkowski 2001; Oliveira et al. 2007; Crepaldi e
Peixoto 2010). Foi considerado para efeito de cálculo do PLC o valor mais citado de
Abundância (A) da espécie segundo a percepção da maioria dos entrevistados. Em
alguns casos as percepções dos entrevistados geraram um mesmo total de citações para
duas classes diferentes de abundância. Para estes casos, foi calculada a média aritmética
para a determinação do escore da abundância da espécie. Por exemplo, se uma espécie
foi citada por oito informantes como tendo uma abundância muito baixa (escore 10) e
também foi citada por outros oito informantes como tendo uma abundância baixa
(escore 7), o escore de abundância final para a espécie foi 8,5. Apenas as espécies de
aves, anfíbios, mamíferos e répteis que são utilizadas para fins alimentares e/ou
medicinais e que foram citadas por, no mínimo, 10% dos entrevistados foram
consideradas para o cálculo do PLC. Estas quatro categorias foram escolhidas pelo fato
de muitas vezes as pessoas apresentarem uma ligação mais estreita com os vertebrados
como já foi visto em trabalhos realizados na região Nordeste do Brasil (Alves et al.
2009a,b; Ferreira et al. 2009, Torres et al. 2009). As categorias de uso alimentar e
medicinal foram escolhidas para este estudo devido ao fato destas estarem entre as mais
importantes no Nordeste brasileiro (Alves et al. 2009a; Torres et al. 2009; Oliveira et al.
2010a; Pereira e Schiavetti 2010). O valor do Risco de Coleta (H) depende do tipo de
uso do animal e das consequências biológicas desse uso (Tabela 1). O valor do Uso
Local (L) foi determinado pela porcentagem de entrevistados que usam alguma espécie
para fins alimentares ou medicinais.
O valor de PLC permite que os animais utilizados para fins alimentares e/ou
medicinais sejam classificados em três categorias de conservação: categoria I, animais
com um valor de PLC >65,87; Categoria II, animais com valor de PLC ≤65,87 ≥46.5 e;
Categoria III, animais com valor de PLC <46.5. A categoria I indica animais com alta
necessidade de estudos populacionais visando à conservação local da espécie. A
62
categoria II indica animais com uma moderada necessidade de estudos populacionais
visando à conservação local da espécie e, a categoria III, indica animais relevantes para
estudos de conservação local devido à existência do uso destes por parte das populações
humanas locais (adaptado de Dzerefos e Witkowski 2001).
Estas categorias de conservação foram obtidas a partir da determinação do valor
do PLC máximo (77,5) que uma espécie poderia apresentar. O valor máximo que uma
espécie poderia receber foi estimado a partir da abundância da espécie segundo o
conhecimento ecológico local (A), considerado como sendo muito baixo (escore 10); do
risco de coleta (H), considerando uma coleta destrutiva do animal, na qual a obtenção
do produto animal gera a morte do indivíduo (escore 10) e; o uso local (U), como sendo
“alto” quando listado por mais de vinte por cento dos entrevistados (escore 10). Em
seguida, considerando as inúmeras pressões que a fauna da Caatinga é submetida, e por
ser um dos biomas mais ameaçados e alterados pela ação antrópica (MMA 2007), foram
extraídos 85% do PLC máximo para a categoria I (65,87) e 60% do PLC máximo para a
categoria II (47,5). Estes valores, obtidos a partir do trabalho de Dzerefos e Witkowski
(2001), foram transformados em percentuais para adequação as características da
etnozoologia.
3. Resultados
3.1. Da utilização para a conservação: uso de animais para fins alimentares e
medicinais
Foi reconhecido um total de 74 espécies, pertencentes a 42 famílias de animais.
Foram identificadas 48 espécies que são usadas direta ou indiretamente na alimentação
cotidiana das populações humanas residentes, sendo 52,0% aves, 20,8% mamíferos,
18,7% insetos, 6,3% répteis e 2,2% anfíbios (Apêndice B). Foram identificadas nove
espécies que são usadas para fins medicinais, correspondendo a oito famílias, sendo
55,5% répteis, 33,3% insetos e 11,1% mamíferos (Tabela 2).
Segundo a percepção dos entrevistados, ocorreu uma significativa diminuição na
abundância de algumas espécies da fauna local com destaque para: Kerodon rupestris
(Moco), Galea spixii (Preá), Dasypus novemcinctus (Tatu verdadeiro), Euphractus
sexcinctus (Tatu peba) e o Tamandua tetradactyla (Tamanduá).
63
Ainda conforme a percepção local, algumas espécies que ocorriam em tempos
pretéritos na área de estudo foram citadas como extintas atualmente, são elas: Mazama
gouazoupira (Veado), Tolypeutes tricinctus (Tatu bola), Panthera onca (Onça pintada),
Puma concolor (Onça vermelha), Tayassu pecari (Porco do mato) e a Rhea americana
(Ema) (Tabela 2).
Segundo os entrevistados, as principais espécies que oferecem risco para as
populações locais ou para as criações domésticas são Caudisona durissa cascavella
(citada por 96,7% dos entrevistados), Bothropoides erythromelas (76,6%), Micrurus
ibiboboca (50%), Achantoscurria natalensis (50%), Cerdocyon thous (50%) e Tityus sp.
(46,6%). Além destas, 12 outras espécies também foram citadas por oferecer risco para
as populações humanas locais ou para os animais domésticos.
Das 74 espécies identificadas no estudo, seis espécies constam no livro vermelho
da fauna brasileira ameaçada de extinção na categoria vulnerável (Chiarello et al. 2008).
Duas espécies constam na lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN (2011), na
categoria vulnerável, e quatro espécies aparecem na categoria quase ameaçada, sendo
sete mamíferos e uma ave (Tabela 2).
3.2. Prioridade local de conservação para espécies da fauna
Foi calculada a prioridade local de conservação para 23 espécies de 16 famílias
(Tabela 3). Destas, 47,8% são aves, 39,1% mamíferos e 13,0% répteis. As aves da
família Columbidae se destacam com seis espécies.
As espécies com maior valor de PLC foram: T. tetradactyla (70), K. rupestris
(62,5), D. novemcinctus (62,5), Trichomys apereoides (62,5), Conepatus semistriatus
(62,5) e Cariama cristata (62,5).
Uma espécie está na primeira categoria de conservação (um mamífero), dez
espécies estão na segunda categoria de conservação (quatro aves, cinco mamíferos e um
réptil) e, 12 espécies estão na terceira categoria de conservação (sete aves, três
mamíferos e dois répteis).
4. Discussão
4.1. Da utilização para a conservação: uso de animais para fins alimentares e
medicinais
64
Cinquenta e sete animais foram citados neste estudo para usos medicinais e
alimentares. Em trabalho realizado com três comunidades caiçaras na Mata Atlântica
brasileira, foi observado que os caiçaras utilizavam 17 animais terrestres para dois
propósitos principais: alimentar e medicinal (Hanazaki et al. 2009). Tanto neste trabalho
quanto no presente estudo, o uso de animais como fonte alternativa de proteína é mais
saliente, sendo que as populações da Caatinga, provavelmente, apresentam uma maior
necessidade no uso da fauna como fonte alimentar. Além disso, os caiçaras sofrem uma
coibição das praticas de caça mais rígida pelos órgãos fiscalizadores. Ainda segundo
Hanazaki et al. (2009), a utilização de espécies nativas da fauna terrestre na Mata
Atlântica como um recurso alimentar é muito esporádica. Por outro lado, o uso de
animais para fins alimentares na Caatinga parece ser uma prática comum e em algumas
comunidades ocorre com certa frequência (Alves et al. 2009a). Não só na Caatinga,
como também na Mata Atlântica nordestina, o uso de animais para fins alimentares é
mais saliente, tendo em vista que mais de 50% das espécies citadas tem sido associadas
a este tipo de uso em outros estudos (Torres et al 2009; Oliveira et al 2010a).
Seguramente, um dos maiores desafios para a conservação da fauna silvestre na
Caatinga é a integração entre a conservação dos recursos naturais e as demandas das
populações humanas (Alves et al. 2009a). Ainda segundo estes autores, a continuidade
das atividades cinegéticas no Brasil está ligada a questões culturais e a grande
importância nutricional para famílias de baixa renda, mesmo sendo uma atividade
considerada ilegal. Os dados obtidos nesta investigação claramente sugerem que a
abundância percebida pelos entrevistados sobre as espécies de animais usadas
principalmente para a alimentação está atingindo níveis que podem comprometer a
viabilidade populacional dessas espécies no meio natural. Esta presumida redução nos
estoques populacionais das espécies-alvo da caça pode ser explicada por uma série de
razões de origem cultural, social, econômica e fortemente agravada por um sistema
educacional precário. A pobreza tem sido apontada como um ponto chave no estímulo
das atividades de caça, impondo pressões negativas sobre os ecossistemas locais (Clark
2007). Além da caça, a perda de habitat tem contribuido substancialmente para a
diminuição das espécies da fauna em áreas de caatinga.
O fato de algumas espécies como G. spixii, D. Novemcinctus e E. Sexcinctus,
que atualmente estão entre os principais alvos de caça, estarem diminuindo, pode ser um
indicativo de sobrecaça de outras espécies que eram foco principal de caça num passado
65
próximo. Na Amazônia, por exemplo, algumas dessas espécies são procuradas como
fonte alternativa de alimento após o desaparecimento das espécies de interesse principal
(Peres 2001).
Os dados revelam ainda que algumas espécies são apontadas como extintas
localmente, segundo os entrevistados. Tal percepção pode estar relacionada a duas
razões: as espécies podem realmente ter sofrido um processo de extinção local; ou, que
devido à degradação ambiental local e a baixa oferta de presas e habitat, algumas
espécies tenham migrado para outras áreas que oferecem melhores condições de
sobrevivência. Espécies como M. gouazoupira, T. pecari e a R. americana podem ter
sofrido um forte impacto de caça no passado que somado a perda de habitat podem ter
contribuído para o acentuado declínio populacional e, até mesmo para a extinção local
dessas espécies. Existe uma tendência populacional decrescente para estas três espécies
na América do Sul, embora as espécies M. gouazoupira e R. americana ainda possam
ser encontradas no Nordeste do Brasil (IUCN 2011) (Anexo A). Já a espécie T. pecari é
considerada extinta em parte do Nordeste do Brasil, incluindo a área do presente estudo
(IUCN 2011) (Anexo B).
Na zona rural de Pedro Avelino os répteis constituem os principais animais alvos
de caça de controle, porque representam perigo para a saúde humana, embora, alguns
mamíferos também representem um risco potencial para as criações domésticas, já que
são considerados animais predadores. Em estudo realizado no semiárido paraibano,
município de Pocinhos, também foi identificado atividades de caça de controle (Alves et
al. 2009a). De maneira geral, a caça de controle de animais que representam perigo para
saúde humana (caso das serpentes) e para as criações domésticas (raposa, gavião, etc)
tem uma forte raiz cultural e é passada de pais para filhos no semiárido nordestino.
Logo, ações educativas se fazem necessárias para mudar as relações entre as populações
humanas que habitam estas áreas e a fauna considerada perigosa.
Mais de 10% da fauna (n=8) citada como utilizada na área do estudo está em
alguma das listas de animais ameaçados de extinção, tanto local, quanto global. O grupo
dos mamíferos apresenta a maior quantidade de animais ameaçados (9,3%, n=7).
Situação similar foi registrado por Apaza et al. (2003), em trabalho realizado em
florestas tropicais na Bolívia, onde cinco espécies de mamíferos citadas foram
identificados como ameaçadas ou vulneráveis à extinção. R. americana foi à única ave
citada que consta na lista da IUCN (2011). Esta mesma ave já foi registrada para
66
propósitos medicinais em outros trabalhos no Nordeste brasileiro (Alves et al. 2009b;
Oliveira et al. 2010b).
4.2. Prioridade local de conservação para espécies da fauna
A dependência da espécie humana em relação aos demais elementos bióticos da
natureza tem sido explicada pela hipótese da biofilia, segundo a qual o homem teve
99% de sua história evolutiva intimamente envolvida com outros seres vivos (SantosFita e Costa-Neto 2007). Portanto, esta proximidade do homem com a natureza tem
provocado tanto a conservação quanto a extinção de várias espécies. Muitas vezes, a
falta de informação associada a fatores econômicos podem influenciar no uso da fauna
silvestre em níveis predatórios. Em trabalho realizado com plantas medicinais na Índia,
a falta de dados sobre tendências de extração e a falta de detalhes sobre a oferta, até
mesmo para os táxons ameaçados, tornaram difícil a priorização de espécies para a
conservação (Dhar et al. 2000).
Os resultados do presente estudo sugerem que o único animal relacionado na
primeira categoria de prioridade local de conservação necessita de uma ação urgente
diante da possibilidade de extinção local. A espécie T. tetradactyla (tamanduá), animal
com o maior valor de PLC, é apontado como praticamente extinto na área do estudo.
Segundo dados da IUCN (2011), a tendência populacional do T. tetradactyla é
desconhecida globalmente. A espécie vem sofrendo uma provável diminuição
populacional devido às mortes por atropelamentos em rodovias, queimadas e por caça,
embora a espécie apresente uma ampla distribuição na América do Sul e esteja bem
representada em áreas naturais protegidas (Aguiar 2004). Entretanto, a espécie encontrase em duas listas estaduais de animais ameaçados de extinção no Brasil, na categoria
vulnerável (Chiarello et al. 2008).
Portanto, a busca por evidências biológicas se faz necessária para confirmar ou
não, o conhecimento local dos informantes sobre a espécie classificada na primeira
categoria de prioridade local de conservação. Além disso, o entendimento da dinâmica
populacional dessa espécie, população mínima viável e área mínima viável é relevante
para futuras ações conservacionistas. Além do mais, as próprias áreas prioritárias para a
conservação na caatinga deveriam ser pensadas em termos de área mínima viável para
as espécies localmente prioritárias.
67
Para a segunda categoria de prioridade local de conservação, os dados sugerem a
realização de estudos populacionais visando à conservação local de duas espécies de
aves: Patagioenas picazuro (asa branca) e Leptotila verreauxi (juriti). Estas duas
espécies são apreciadas na região tanto para uso alimentar quanto para criação em
cativeiro e, segundo os entrevistados, as populações dessas aves estão diminuindo ano
após ano. A diminuição populacional destas espécies também foi apontada por
caçadores no Estado da Paraíba (Alves et al. 2009a). Apesar da ampla distribuição no
Brasil, estas duas espécies podem estar ameaçadas localmente devido à considerável
pressão de caça associada à perda de habitat.
A espécie C. semistriatus, apresenta uma ampla distribuição na América do Sul,
mas segundo dados da IUCN (2011) a tendência populacional é desconhecida
globalmente. A espécie vem sofrendo uma considerável pressão de caça no Nordeste do
Brasil (Alves et al. 2009a), o que pode potencializar o declínio populacional da espécie
quando combinado com outros fatores como a perda de habitat e a desertificação.
Em relação à espécie D. novemcinctus, segundo os informantes, a tendência é
que a espécie desapareça da região devido à forte pressão de caça e a perda de habitat.
Para alguns informantes a espécie já é considerada localmente extinta. Entretanto,
conforme os dados da IUCN (2011), a tendência populacional global para esta espécie é
de crescimento. Portanto, considerando uma lista estadual de espécies ameaçadas de
extinção, certamente, algumas das espécies integrantes da lista de espécies prioritárias
para a conservação também fariam parte da lista estadual de espécies ameaçadas de
extinção. As listas locais de espécies ameaçadas são necessárias em função da extensão
do território brasileiro e das pressões regionais distintas sobre a fauna (Costa et al.
2005).
Por último, entre as espécies classificadas na segunda categoria de conservação,
o K. rupestris é uma espécie endêmica da caatinga (Oliveira e Bonvicino 2006), e que
apresenta alta prioridade local de conservação, segundo os dados oriundos do
conhecimento local. A espécie sofre intensa pressão de caça devido ao seu tamanho e
pela qualidade de sua carne (Oliveira e Bonvicino 2006), muito apreciada pelos
sertanejos (Lacerda et al. 2006).
Na terceira categoria de prioridade local de conservação, o estudo indica alguns
animais relevantes para investigação devido à existência de uso destes por parte das
populações humanas locais. São eles: L. tigrinus (gato do mato), G. spixii (préa), E.
sexcinctus (tatu peba), Nothura maculosa (nambu) e o T. merianae (tejuaçu). Uma
68
atenção especial merece ser dada ao L. tigrinus por ser uma espécie com tendência
populacional decrescente em escala global segundo a IUCN (2011) e, por esta espécie
constar nas listas vermelhas do Brasil e da IUCN, na categoria vulnerável. Além disso,
os outros animais classificados na terceira categoria de prioridade local de conservação
deveriam ser monitorados com objetivo de se evitar maiores riscos as suas populações.
Algumas das espécies na lista de prioridade local de conservação poderiam ser
usadas como símbolos para conservação. Segundo Rodriguez et al. (2004), existem
táxons que tendem a ser mais eficientes para uma mensagem de conservação. Ainda
segundo o autor, na Venezuela, as espécies mais susceptíveis tornam-se símbolos de
conservação devido às populações humanas valorizá-las mais por conta da possibilidade
de uso futuro. Algumas características podem ser consideradas na definição de uma
espécie símbolo para a conservação numa região: (1) ser endêmica ou quase endêmica
de um país; (2) ser especialista de habitat e, portanto, ser associada a um determinado
ambiente ou local; (3) ser carismática e de interesse dos seres humanos; (4) altamente
ameaçada, e (5) sua sobrevivência futura estar dependente de áreas protegidas já
estabelecidas (Rodriguez et al. 2004).
Para o cálculo do PLC, o valor de abundancia obtida através da percepção dos
entrevistados é o fator mais relevante dentre os fatores considerados no presente estudo.
Da mesma maneira que dados de abundância e densidade obtidos em alguns trabalhos
por meio de transecções lineares trazem uma importante contribuição na avaliação dos
impactos das atividades humanas sobre a fauna (Peres 2000; Peres e Lake 2003; Peres e
Nascimento 2006; Ánadon 2009), a percepção que as pessoas têm sobre a abundância
dos animais pode também contribuir na avaliação dos impactos antrópicos sobre os
recursos naturais, principalmente quando não existe tempo e dinheiro para realizar
estimativas populacionais por meio de métodos tradicionais de investigação. Embora
investigações sobre o conhecimento local não substituam as investigações científicas
tradicionais, o manejo baseado em poucos dados pode ser a única abordagem possível
em várias situações (Lopes et al. 2010). Ainda segundo estes autores, estudos
etnoecológicos podem fornecer dados biológicos relevantes, num menor intervalo de
tempo e a um baixo custo.
5. Considerações Finais
69
O presente estudo focou em áreas com ausência ou deficiência de conhecimento
científico, mas, com um significativo uso da biodiversidade por populações humanas.
Além disso, a área estudada esta inserida na Ecorregião da Depressão Sertaneja
Setentrional que, segundo Veloso et al. (2002), trata-se de uma área de extremo
interesse biológico e que ainda possui áreas razoavelmente extensas com possibilidades
de recuperação. De acordo com o MMA (2007) o município de Pedro Avelino está
classificado como uma área de importância biológica muito alta e com prioridade de
conservação também alta.
Neste estudo foi utilizada uma ferramenta, adaptada para investigações sobre o
uso da fauna, que leva em consideração as peculiaridades locais de cada grupo humano
e que propicia a geração de listas de animais locais prioritários para a conservação de
forma rápida e econômica quando comparada aos métodos tradicionais. Esta ferramenta
não exclui a necessidade futura de abordagens ecológicas mais detalhadas para cada
espécie, mas, contribui para o direcionamento dos esforços de conservação. Trata-se de
uma ferramenta útil nos primeiros momentos do estudo em áreas prioritárias para à
conservação ou até mesmo na determinação de tais áreas podendo ser utilizada em
qualquer região do mundo onde não exista um conhecimento prévio sobre a situação da
fauna.
Nesse trabalho foram consideradas apenas as categorias de uso alimentar e
medicinal por estas representarem as categorias de uso mais importantes na região. No
entanto, em futuros estudos todas as categorias de uso presentes na região devem ser
consideradas, já que algumas espécies podem sofrer usos pontuais e, serem
erroneamente desconsideradas das listas de espécies locais prioritárias. Além do mais,
deve-se evitar usar esta ferramenta para grandes extensões, já que ela foi desenvolvida
para trabalhos locais, buscando preservar as características intrínsecas a cada
microrregião. Em trabalhos desta natureza, deve-se também, levar em conta, as
peculiaridades de cada região (Silva e Albuquerque 2005).
Como os animais são importantes não somente para a funcionalidade dos
ecossistemas, mas, também para as várias culturas humanas desde os tempos remotos,
as espécies locais prioritárias para conservação, as citadas como extintas ou as que estão
sofrendo visível redução na abundância deveriam ser consideradas em investigações
futuras. Adicionalmente, o monitoramento dessas espécies pode ser realizado pela
atualização dos dados oriundos do LEK, tendo em vista que os valores do PLC podem
70
ser alterados pelas mudanças nas relações entre as populações humanas e a fauna ou por
mudanças na própria população de animais em resposta as mudanças ambientais.
De maneira geral, as metodologias usadas nas análises de espécies prioritárias
para a conservação baseiam-se apenas em informações sobre os atributos biológicos das
espécies em questão (Rodriguez et al. 2004). Entretanto, em muitas situações, não é
possível a aplicação de tais metodologias por falta de dados ou devido aos dados não
refletirem as situações locais de ameaças existentes. Além disso, atualmente, não se
pode mais desconsiderar os impactos pontuais que as populações humanas exercem
diretamente sobre a fauna, quando se pensa em medidas de conservação da
biodiversidade.
Ações governamentais objetivando a redução da pobreza extrema assim como o
fortalecimento do sistema de saúde são relevantes para a redução do uso dos recursos
faunísticos pelas populações humanas mais carentes.
Estudos que possam, não apenas identificar os usos que as populações humanas
fazem da fauna local, mas também quantificar a real pressão de caça que os animais
sofrem, principalmente para fins alimentares, é fundamental para adoção de políticas
públicas que possam mitigar os impactos humanos na fauna. Por isso, sugerimos a
adoção de estudos como, por exemplo, os que usam a teoria de forrageio ótimo para
investigar as atividades de caça através da qualificação e quantificação dos animais
coletados. Embora seja comum a ocorrência da caça na região, é evidente a necessidade
de estudos que entendam como esta atividade ocorre, o processo de tomada de decisão
do caçador e análise deste impacto sobre a fauna local.
Agradecimentos
Sou grato a todos os informantes que contribuíram com este estudo. Agradeço
também a Denise de Freitas Torres pela relevante contribuição na coleta dos dados. Sou
grato aos professores do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte pela identificação das espécies. Ao
CNPq/UFRN pela bolsa (134431/2009-9) concedida ao autor.
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76
Figura 1. Localização da área de estudo. A, Os limites do Brasil com destaque para o bioma Caatinga em
cinza e o Estado do Rio Grande do Norte, em preto. B, Os limites do Rio Grande do Norte, com o
município de Pedro Avelino destacado em cinza. C, A Área de estudo: 0, centro do município de Pedro
Avelino; 1, Comunidade Santo Antônio Trangola; 2, Comunidade Serra Aguda; 3, Comunidade São José
do Pé da Serra; e 4, Comunidade Olho d’água.
77
Tabela 1 – Critérios para determinação dos valores usados no cálculo da PLC dos
animais utilizados para fins alimentares e medicinais.
Critérios
Abundância da espécie segundo o conhecimento ecológico local (A)
Muito baixa
Baixa
Média
Alta
Risco de coleta (H)
Coleta destrutiva do animal, na qual a obtenção do produto animal gera a morte do indivíduo
Extração de partes dos animais que são coletadas sem causar a morte do indivíduo
Coleta do individuo, sem morte do animal e sua criação em cativeiro
Extração de produtos do metabolismo tais como mel, fezes e urina
Citação de uso local (L)
Alto (listada por>20% dos entrevistados).
Moderadamente alto (10 ≤ 20% dos entrevistados).
Moderadamente baixo (<10% dos entrevistados).
Diversidade do uso (D)
Para cada uso é somado um ponto
Escores
10
7
4
1
10
7
4
1
10
7
4
1-∞
78
Tabela 2 – Lista de espécies da fauna usadas para fins alimentares e/ou medicinais, espécies ameaçadas de extinção ou sobreexploração em uma
área da Caatinga (Município de Pedro Avelino, RN, NE Brasil).
Espécie
Nome vulgar
Status
local1
Status global2
Uso 3/citações
Abundância4
Canidae
Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766)
Raposa
-
LC
Medicinal (10)
-
Caviidae
Kerodon rupestris (Wied-Neuwied, 1820)
Moco
-
LC
Alimentar (10)
Δ
Caviidae
Galea spixii (Wagler, 1833)
Preá
-
LC
Alimentar (23)
Δ
Cervidae
Mazama gouazoupira (G. Fischer, 1814)
Veado
-
LC
-
Ψ
Dasypodidae
Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758
Tatu verdadeiro
-
LC
Alimentar (20)
ΔΨ
Dasypodidae
Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758)
Tatu peba
-
LC
Alimentar (27)
Δ
Dasypodidae
Tolypeutes tricinctus (Linnaeus, 1758)
Tatu bola
VU
VU
-
Ψ
Didelphidae
Didelphis albiventris Lund, 1840
Timbú
-
LC
Alimentar (1)
-
Echimyidae
Thrichomys apereoides (Lund, 1839)
Punaré
-
-
Alimentar (11)
-
Felidae
Leopardus tigrinus (Schreber, 1775)
Gato do mato
VU
VU
Alimentar (5)
Δ
Felidae
Leopardus wiedii (Schinz, 1821)
Gato maracajá,
VU
NT
Alimentar (1)
ΔΨ
Felidae
Herpailurus yaguarondi (Lacépède, 1809)
Gato azul ou vermelho
VU
LC
-
Δ
Felidae
Panthera onca (Linnaeus, 1758)
Onça pintada
VU
NT
-
Ψ
Felidae
Puma concolor (Linnaeus, 1771)
Onça vermelha
VU
LC
-
Ψ
Mephitidae
Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785)
Tacaca
-
LC
Alimentar (19)
Δ
Mustelidae
Galictis vittata (Schreber, 1776)
Furão
-
LC
-
Δ
Myrmecophagidae
Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758)
Tamanduá
-
LC
Alimentar (15)
ΔΨ
Tayassuidae
Tayassu pecari (Link, 1795)
Porco do mato
-
NT
-
Ψ
Sarkidiornis sylvicola Ihering and Ihering, 1907
Pato do mato
-
LC
Alimentar (1)
-
Família
Mamíferos
Aves
Anatidae
79
Tabela 2 – Continuação
Bucconidae
Nystalus maculatus (Gmelin, 1788)
Fura Barreira
-
LC
Alimentar (1)
Cariamidae
Cariama cristata (Linnaeus, 1766)
Seriema
-
LC
Alimentar (14)
-
Columbidae
Columba livia Gmelin, 1789
Pombo
-
LC
Alimentar (1)
-
Columbidae
Columbina minuta (Linnaeus, 1766)
Rolinha cafofa
-
LC
Alimentar (5)
-
Columbidae
Columbina passerina (Linnaeus, 1758)
Rolinha cinza
-
LC
Alimentar (1)
-
Columbidae
Columbina picui (Temminck, 1813)
Rolinha branca
-
LC
Alimentar (28)
Δ
Columbidae
Columbina talpacoti (Temminck, 1811)
Rolinha roxa
-
LC
Alimentar (11)
Δ
Columbidae
Leptotila verreauxi (Bonaparte, 1855)
Juriti
-
LC
Alimentar (5)
-
Columbidae
Patagioenas picazuro (Temminck, 1813)
Asa Branca
-
LC
Alimentar (3)
-
Columbidae
Zenaida auriculata (Des Murs, 1847)
Arribaçã ou avoete
-
LC
Alimentar (24)
-
Corvidae
Cyanocorax cyanopogon (Wied-Neuwied, 1821)
Cancão
-
LC
Alimentar (1)
-
Cuculidae
Guira guira (Gmelin, 1788)
Anum Branco
-
LC
Alimentar (1)
-
Emberizidae
Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766)
Canário da terra
LC
-
ΔΨ
Emberizidae
Sporophila albogularis (Spix, 1825)
Golinha
-
LC
Alimentar (1)
-
Falconidae
Caracara plancus (Miller, 1777)
Carcará
-
LC
Alimentar (1)
-
Falconidae
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788)
Gavião
-
LC
Alimentar (4)
-
Furnariidae
Pseudoseisura cristata (Spix, 1824)
Casaca de couro
-
LC
Alimentar (1)
-
Icteridae
Chrysomus ruficapillus (Vieillot, 1819)
Papa arroz
LC
Alimentar (1)
-
Icteridae
Icterus jamacaii (Gmelin, 1788)
Concriz
-
LC
Alimentar (1)
-
Mimidae
Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823)
Papasebo
-
LC
Alimentar (4)
-
Psittacidae
Aratinga cactorum (Kuhl, 1820)
Periquito
-
LC
Alimentar (2)
-
Rallidae
Gallinula chloropus (Linnaeus, 1758)
Galinha d’água
-
LC
Alimentar (1)
-
Rheidae
Rhea americana (Linnaeus, 1758)
Ema
-
NT
-
Ψ
Strigidae
Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788)
Caboré
-
LC
Alimentar (3)
-
Tinamidae
Nothura maculosa (Temminck, 1815)
Nambu
-
LC
Alimentar (12)
-
80
Tabela 2 – Continuação
Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766)
Marreca
Boidae
Boa constrictor Linnaeus, 1758
Cobra de veado
-
Chelidae
Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812)
Cágado
-
Iguanidae
Iguana iguana (Linnaeus, 1758)
Camaleão
-
Teiidae
Tupinambis merianae (Duméril and Bibron, 1839)
Tejuaçu ou teju
Tropiduridae
Tropidurus hispidus (Spix, 1825)
Viperidae
Anatidae
-
Alimentar (1)
-
-
Alimentar (1)
-
Medicinal (2)
-
-
Alimentar (22) e Medical (7)
-
-
-
Alimentar (29) e Medical (22)
Δ
Lagartixa
-
-
Medicinal (1)
-
Crotalus durissus cascavella Wagler, 1824
Cascavel
-
-
Medicinal (3)
-
Leptodactylus sp
Gia
-
-
Alimentar (1)
-
Apidae
Frieseomelitta doederleini (Friese, 1900)
Abelha Amarela
-
-
Alimentar (2)
-
Apidae
Apis mellifera Linnaeus, 1758
Abelha Italiana
Apidae
Plebeia mosquito (Smith, 1863)
Abelha Mosquito
-
-
Alimentar (8) e Medical (3)
-
Apidae
Melipona subnitida Ducke, 1911
Abelha Jandaíra
-
-
Alimentar (9) e Medicinal (2)
-
Apidae /
Melipona asilvai Moure, 1971
Abelha Rajada
-
Alimentar (11)
-
Não identificada
Espécie não identificada
-
-
Alimentar (2)
-
Não identificada
Espécie não identificada
Abelha Capuchu
"preta"
Inchuí
-
-
Alimentar (2)
-
Não identificada
Espécie não identificada
Inchú
-
-
Alimentar (1)
-
Apidae
Trigona spinipes (Fabricius, 1793)
Arapuá
-
-
Alimentar (3)
-
Termitidae
Nasutitermes macrocephalus (Silvestri, 1903)
Cupim
-
-
Medicinal (1)
-
Répteis
Anfíbio
Leptodactylidae
Insecta
Alimentar (21)
1, Status de conservação da fauna local segundo o Livro Vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção, 2008; 2, Status de conservação da fauna global segundo a lista
vermelha de espécies ameaçadas da IUCN, 2011; 3, Categorias de uso da fauna na região.; 4, Abundância das espécies segundo a percepção local; Alimentar, Espécies indicadas
para fins alimentares; Medicinal, Espécies indicadas para fins medicinais; Δ, Denota espécies que estão diminuindo segundo a percepção local; Ψ, Denota espécies que não
existem mais segundo a percepção local. Categorias da IUCN: LC, pouco preocupante; NT, quase ameaçada; VU, vulnerável; EN, em perigo; CR, em perigo crítico; EW, extinto
na natureza; EX, extinto.
81
Tabela 3. – Prioridade local de conservação da fauna em área de caatinga no município
de Pedro Avelino, Rio Grande do Norte (NE, Brasil), a partir do conhecimento das
populações humanas locais.
Família
A
H
L
PLC
Espécie
Nome comum
Categoria de
conservação
Canidae
Cerdocyon thous
Raposa
4
10
10
47,5
II
Caviidae
Galea spixii
Preá
1
10
10
32,5
III
Caviidae
Kerodon rupestris
Moco
7
10
10
62,5
II
Dasypodidae
Dasypus novemcinctus
Tatu verdadeiro
7
10
10
62,5
II
Dasypodidae
Euphractus sexcinctus
Tatu peba
1
10
10
32,5
III
Echimyidae
Trichomys apereoides
Punaré
7
10
10
62,5
II
Felidae
Leopardus tigrinus
Gato do mato
1
10
4
17,5
III
Mephitidae
Conepatus semistriatus
Tacaca
7
10
10
62,5
II
Myrmecophagidae
Tamandua tetradactyla
Tamanduá
8,5
10
10
70
I
Cariamidae
Cariama cristata
Seriema/Sariema
7
10
10
62,5
II
Columbidae
Columbina minuta
Rolinha cafofa
4
10
4
32,5
III
Columbidae
Columbina picui
Rolinha branca
1
10
10
32,5
III
Columbidae
Columbina talpacoti
Rolinha roxa
1
10
10
32,5
III
Columbidae
Patagioenas picazuro
Asa Branca
7
10
7
55
II
Columbidae
Leptotila verreauxi
Juriti
7
10
7
55
II
Columbidae
Zenaida auriculata
Arribaçã/avoete
1
10
10
32,5
III
Falconidae
Rupornis magnirostris
Gavião
5,5
10
7
47,5
II
Mimidae
Mimus saturninus
Papasebo
1
10
4
17,5
III
Strigidae
Glaucidium brasilianum
Caburé
4
10
4
32,5
III
Tinamidae
Nothura maculosa
Nambu
1
10
10
32,5
III
Iguanidae
Iguana iguana
Camaleão
4
10
10
47,5
II
Teiidae
Tupinambis merianae
Tejuaçu
1
10
10
32,5
III
Viperidae
Caudisona durissa
cascavella
Cascavel
2,5
10
7
32,5
III
Mamíferos
Aves
Répteis
A Abundância da espécie segundo o conhecimento ecológico local; H Risco de coleta;
L Uso local; PLC Prioridade local de conservação.
82
Apêndice
83
Apêndice A – Formulário semiestruturado
FORMULÁRIO DIRIGIDO AOS MORADORES DAS COMUNIDADES
Município:_________________________________________________ Nº. Entrevistado._______________
Comunidade:________________________________________________________ Data ____ /____/______
Tempo de fundação da comunidade:__________________________________________________________
I. PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO
Identificação
Nome completo:
_____________________________________________________________________
Naturalidade:__________________________Sexo: F(
Grau de Instrução
A(
) AF ( ) EFC ( ) EFI (
) M( ) Ano de Nascimento (AN):____________
) EMC ( ) EMI (
) ESC ( ) ESI (
)
Dados da Atividade e Renda Mensal
Há quanto tempo mora na comunidade?
___________
Qual sua ocupação?
___________
Qual a renda mensal Familiar?
___________
Composição Familiar
Quantas pessoas vivem na sua casa?
Grau de
parentesco
Nome
¹ Ano de Nascimento (AN) /
___________
2
(A,
Sexo
AF, EFC, EFI,
AN1
EMC,
Escolaridade2
EMI,
ESC,
Ocupação
ESI)
84
II. INFORMAÇÕES SOBRE A REGIÃO
Para o Senhor (a), o que é meio ambiente (natureza)?___________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
O meio ambiente (natureza) é importante? Sim ( ) Não ( ) Por quê?______________________________________
______________________________________________________________________________________________
Essa região apresenta algum impacto ambiental decorrente da ação antrópica? Sim ( ) Não ( )
Qual?_________________________________________________________________________________________
O Senhor (a) sugere alguma forma de diminuir o impacto?_______________________________________________
______________________________________________________________________________________________
III. INFORMAÇÕES SOBRE A FAUNA
A região abriga muitos animais? Sim ( ) Não ( )
Místico/religiosos
Av____________________________________________________________________________________________
Mam__________________________________________________________________________________________
Rep___________________________________________________________________________________________
Anf___________________________________________________________________________________________
Pei____________________________________________________________________________________________
Crus__________________________________________________________________________________________
Ins____________________________________________________________________________________________
Estimação
Av____________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
Mam__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
Rep___________________________________________________________________________________________
Anf___________________________________________________________________________________________
Pei___________________________________________________________________________________________
Crus__________________________________________________________________________________________
Ins___________________________________________________________________________________________
85
Alimentares
Av____________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
Mam___________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
Rep____________________________________________________________________________________________
Anf____________________________________________________________________________________________
Pei____________________________________________________________________________________________
Crus___________________________________________________________________________________________
Ins____________________________________________________________________________________________
Medicinais
Av____________________________________________________________________________________________
Mam__________________________________________________________________________________________
Rep___________________________________________________________________________________________
Anf___________________________________________________________________________________________
Pei____________________________________________________________________________________________
Crus___________________________________________________________________________________________
Ins____________________________________________________________________________________________
Existe algum deles que está diminuindo?______________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
Existe algum deles que está aumentando?_____________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
Existem espécies que ocorriam antes e não ocorrem mais?________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
Existe alguma espécie que aparece só em alguma época do ano?___________________________________________
______________________________________________________________________________________________
Algum deles representa perigo?_____________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
MÍSTICO
- Animal ________________ Pra quê?_______________________________________________________________
- Animal ________________ Pra quê?_______________________________________________________________
- Animal ________________ Pra quê?_______________________________________________________________
- Animal ________________ Pra quê?_______________________________________________________________
- Animal ________________ Pra quê?_______________________________________________________________
86
Animais MEDICINAIS e/ou ALIMENTARES
ANIMAL ___________________________ M ( ) A ( )
- Medicinal _______________________(Doença) Parte usada ____________________________________________
- Modo de uso __________________________________________________________________________________
- Alguma planta que possa substituí-lo? Qual?_________________________________________________________
- Risco de coleta (H): 10 ( ) 7 ( ) 4 ( ) 1 ( )
- Outros usos: __________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
Disponibilidade do animal (A): Muito baixa ( ) Baixa ( ) Média ( ) Alta ( )
Está diminuindo? Sim ( ) Não ( ) Não observou ( ) _______________________________________________
Se está diminuindo, por quê?______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
Petrechos utilizados (Captura)_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
Melhor horário para captura: Manhã ( ) Tarde ( ) Noite ( ) _________________________________
Animais MEDICINAIS e/ou ALIMENTARES
ANIMAL ___________________________ M ( ) A ( )
- Medicinal _______________________(Doença) Parte usada ___________________________________________
- Modo de uso _________________________________________________________________________________
- Alguma planta que possa substituí-lo? Qual?________________________________________________________
- Risco de coleta (H): 10 ( ) 7 ( ) 4 ( ) 1 ( )
- Outros usos: _________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
Disponibilidade do animal (A): Muito baixa ( ) Baixa ( ) Média ( ) Alta ( )
Está diminuindo? Sim ( ) Não ( ) Não observou ( ) ______________________________________________
Se está diminuindo, por quê?______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
Petrechos utilizados (Captura)_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
Melhor horário para captura: Manhã ( ) Tarde ( ) Noite ( ) _________________________________________
87
1
2
3
4
5
6
7
8
Apêndice B – Animais ou partes de animais registrados na zona rural de Pedro
Avelino, RN, Brasil. 1- Raposa (Cerdocyon thous); 2 e 3- Tatupeba (Euphractus
sexcinctus); 4 e 5- Prea (Galea spixii); 6- Sapo (Rhinella jimi); 7- Tatu verdadeiro
(Dasypus novemcinctus) e 8- Gato do mato (Leopardus tigrinus) Fotos: Eduardo
Oliveira
88
9
10
11
12
13
14
15
16
Apêndice B – Continuação. 9- Jiboia (Boa constrictor); 10 e 11- Camaleão
(Iguana iguana); 12 e 13- Teju (Tupinambis merianae); 14- Cágado (Phrynops
geoffroanus); 15- Guizu de cascavel (Crotalus durissus) e 16- Lagartixa
(Tropidurus hispidus) Fotos: Eduardo Oliveira
89
17
18
19
1
20
21
22
23
24
Apêndice B – Continuação. 17- Sariema (Cariama cristata); 18- Concris (Icterus
jamacaii); 19- Peiga (Icterus cayanensis); 20- Arribaçã (Zenaida auriculata); 21Gavião (Rupornis magnirostris); 22- Canário (Sicalis flaveola); 23- Asa branca
(Patagioenas picazuro) e 24- Periquito (Aratinga cactorum) Fotos: Eduardo
Oliveira
90
25
26
27
28
29
30
31
32
Apêndice B – Continuação. 25- Cacão (Cyanocorax cyanopogon); 26- Rolinha
(Columbina passerina); 27- Pato do mato (Sarkidiornis sylvicola); 28- Galo de
campina (Paroaria dominicana); 29- Moco (Kerodon rupestris); 30- Fura-barreira
(Nystalus maculatus); 31- Penas de nambu (Nothura maculosa) e 32- Traira
(Hoplias malabaricus) Fotos: Eduardo Oliveira
91
Anexos
92
Anexo A - Área de ocorrência das espécies Mazama gouazoupira (à esquerda) e Rhea americana (à direita),
na América do Sul. O círculo em amarelo corresponde à área do presente estudo (município de Pedro
Avelino, Rio Grande do Norte, Brasil). Adaptado da IUCN (2011).
93
Anexo B - Área de ocorrência da espécie Tayassu pecari (porco do mato) na América. O círculo em amarelo
corresponde à área do presente estudo. Adaptado da IUCN (2011).
94
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