A DINÂMICA ECONÔMICA SOB A ÓTICA DOS
INVESTIMENTOS ANUNCIADOS
a experiência da Piesp
M argarida K alemkarian
Resumo: O artigo objetiva mostrar que os anúncios de investimentos produtivos constituem importante indicador conjuntural para acompanhar a evolução da
atividade econômica em determinado território. Com base na pesquisa realizada pela Fundação Seade sobre os investimentos que se destinam ao Estado
de São Paulo, evidencia-se a distribuição dos recursos anunciados por empresas privadas e estatais durante o período 2003-2008. A partir desses
resultados, são identificadas as principais tendências setoriais e regionais, sinalizando novas oportunidades de negócios para o investidor
privado e a eventual necessidade de intervenção do setor público para induzir e regular o processo de desenvolvimento.
Palavras-chave: Investimentos anunciados. Capacidade produtiva. Dinâmica econômica.
Economic dynamics under the optics of announced investments:the experience of Piesp
Abstract: The article aims to demonstrate that productive announced investments constitute an important conjuntural indicator to follow the evolution of economic
activity in a certain territory. Based on Seade Foundation’s research about announced investments destined to Sao Paulo State, it shows the distribution of resources
announced by private and state enterprises along the period 2003-2008. These results make possible to identify the main sectorial and regional tendencies,
signaling new business opportunities for investors and the eventual need of public sector’s intervention to induct and regulate the development process.
Key words: Announced investments. Productive capacity. Economic dynamics.
O
s anúncios de investimentos produtivos privados
divulgados pela imprensa representam importante instrumento de análise e prospecção da dinâmica econômica
e, ainda que não assegurem a efetiva realização dos empreendimentos, revelam a confiança dos empresários em
relação ao futuro dos seus negócios e da economia em geral, influenciando a decisão de novos investidores. Ressalte-se que o aumento da capacidade produtiva de um país possibilita um crescimento econômico sustentado,
reduzindo o risco de pressões inflacionárias, provocadas pelo desequilíbrio entre a demanda interna aquecida e
a oferta insuficiente de bens e serviços.
Os investimentos anunciados também mostram as mudanças em curso na configuração econômica de determinado território, permitindo identificar tendências setoriais e regionais. Esse indicador conjuntural auxilia
o planejamento de ações do setor público que visam estimular as atividades produtivas e as regiões com maior
potencial de expansão, antecipando, também, a necessidade de eliminar os fatores que dificultam ou impedem
sua concretização. Além disso, pode orientar as decisões de empresas privadas, apontando as melhores oportunidades para otimizar suas aplicações.
São Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
A dinâmica econômica sob a ótica dos investimentos anunciados...
Um dos primeiros levantamentos feitos no Brasil
sobre anúncios de investimentos foi o da consultoria
empresarial Simonsen Associados, que se iniciou em
1989 e, a partir daí, passou a integrar o conjunto de
informações estratégicas utilizadas pela consultoria
para orientar as decisões de investimentos de seus
clientes (RODRIGUES, 1997).
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, por sua vez, acompanha
anúncios dessa natureza desde 1996, para avaliar os
pedidos de crédito de empresas que pretendem investir. Seu banco de dados de investimentos compreende não apenas as notícias veiculadas em jornais, mas
também informações relativas a projetos que tramitam no banco ou no âmbito do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC,
contando ainda com a cooperação de secretarias de
vários Estados e entidades de classe empresariais. Esses dados vêm sendo disponibilizados desde 2004, na
Rede Nacional de Informações sobre o Investimento
– Renai, do MDIC.
Posteriormente, outras instituições públicas, ligadas especialmente a órgãos estaduais de planejamento, como a Fundação Seade, começaram a realizar
sondagens semelhantes sobre o comportamento dos
investimentos em suas áreas geográficas. Também foram desenvolvidas novas pesquisas nesse sentido, por
parte de empresas privadas.
SURGIMENTO DA PIESP
A Constituição Federal de 1988, ao descentralizar políticas públicas, repassou competências aos governos
subnacionais (Estados e municípios), aumentando as
transferências de receita da União a essas localidades
e concedendo-lhes autonomia para legislar sobre alguns impostos (IPVA e ICMS, no âmbito estadual,
e IPTU e ISS, no municipal). Entretanto, postergou
para lei complementar a decisão sobre quem regularia
a concessão de incentivos tributários.
No caso do ICMS, os benefícios fiscais são submetidos à aprovação unânime do Conselho Nacional de
Política Fazendária – Confaz, criado em 1975 e integrado por todos os secretários estaduais de Fazenda,
sob a presidência do ministro da Fazenda; entretanto,
frequentemente suas decisões são descumpridas pelos governadores. Cabe ressaltar que a renúncia parcial ou total desse imposto compromete a capacidade
de arrecadação dos Estados e, consequentemente, de
atendimento à demanda de bens e serviços públicos
de seus habitantes.
A chamada “guerra fiscal” entre os Estados brasileiros é bastante antiga, havendo relatos a esse
respeito desde 1923, quando foi lançado o Imposto
sobre Vendas de Mercadorias – IVM. Porém, ela se
intensificou na década de 1990, com o acirramento
do confronto entre governos para atrair, sobretudo,
investidores estrangeiros, que, a partir da estabilidade
econômica do país com o Plano Real, passaram a se
interessar pelo seu grande potencial de consumo e
pela privatização de algumas estatais.
Preocupado com os impactos negativos dessa
disputa sobre a economia de São Paulo, o então governador Mario Covas buscou formas de assegurar
aos investidores privados que o Estado dispunha de
vantagens competitivas genuínas, sustentáveis no
longo prazo, no que se refere a tamanho do mercado
consumidor, infraestrutura, diversificação industrial,
serviços de apoio às empresas, qualificação da mão
de obra, rede de ensino e pesquisa e outras.
O primeiro produto solicitado à Fundação Seade
para divulgação externa foi o livro Um mundo chamado
São Paulo – A melhor opção para investimentos, de 1996
(MONTOYAMA; VARGAS; COMEGNO, 2008).
Com base nesta publicação, em março de 1998, o
Seade lançou o site Guia de Investimentos e Geração
de Empregos, evidenciando as condições favoráveis
do Estado às inversões privadas, as oportunidades
de negócios e os polos de desenvolvimento, além de
conter informações socioeconômicas sobre os 645
municípios paulistas.
No mesmo ano, a Fundação implantou, de forma
sistemática, a Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo – Piesp, que incorporava maior rigor metodológico ao levantamento feito,
desde 1995, pela Secretaria de Ciência, Tecnologia
e Desenvolvimento Econômico – SCTDE, a partir
de notícias de investimentos publicadas em jornais e
informações fornecidas por empresários e prefeitos.
Desde então, os resultados dessa sondagem vêm
São Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
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Margarida Kalemkarian
sendo incluídos no site da Fundação Seade (www.
seade.gov.br).
METODOLOGIA UTILIZADA
A pesquisa capta, diariamente, anúncios de investimentos privados ou de empresas estatais, divulgados
pelos meios de comunicação. Essas informações são
levantadas em jornais de grande circulação (Folha de
S.Paulo, O Estado de S.Paulo), em publicações especializadas (Valor Econômico, Diário do Comércio & Indústria,
entre outros) e nas versões on-line de diversos periódicos regionais paulistas.
Cabe ressaltar que esta pesquisa considera apenas
os investimentos produtivos, ou seja, gastos que visam ampliar permanentemente a capacidade de produzir bens e serviços das empresas (instalações físicas, máquinas e equipamentos, inovação tecnológica,
etc.). Excluem-se, assim, os anúncios que envolvem
transferências patrimoniais (aquisições e fusões), aplicações financeiras, gastos em publicidade e em treinamento de recursos humanos, construção de imóveis
residenciais, compra de bens não-duráveis, capital de
giro e outros.
Adicionalmente, em atenção às recomendações
dos órgãos de estatística da Organização das Nações
Unidas – ONU e aos procedimentos do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE para o
cálculo da taxa de investimento do setor privado no
sistema de contas nacionais, a Piesp equiparou as empresas estatais às privadas, para efeito da coleta de
anúncios de investimentos, pois ambas ofertam bens
e serviços no mercado segundo lógica equivalente.
Uma vez coletada a notícia, é feito contato com a
empresa anunciante, por meio de telefone, e-mail ou
fax, para saber se o empreendimento se destina efetivamente ao Estado de São Paulo. A partir dessa confirmação, solicitam-se informações mais detalhadas
sobre o investimento, como localidade (município ou
região), descrição, valor e país de origem do capital
da(s) empresa(s) investidora(s).
A fase seguinte da pesquisa corresponde à organização dos dados obtidos. Os investimentos confirmados, mas cujo valor é inferior ao mínimo estipulado pela pesquisa (US$ 10 mil), não são computados.
São Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
Os montantes de recursos declarados em reais ou outras moedas são convertidos em dólares, utilizandose a taxa de câmbio média do mês do anúncio do
investimento.
Além das agregações regionais, os empreendimentos são agrupados por setor e subsetor, com base na
Classificação Nacional de Atividades Econômicas –
CNAE, e, a seguir, por intensidade tecnológica (alta,
média alta, média baixa e baixa), de acordo com as
orientações da OCDE. Os investimentos são classificados, ainda, pelo tipo (implantação de novas unidades, ampliação e modernização de plantas e P&D) e
pela origem do capital envolvido.
Por fim, elaboram-se tabelas e relatórios analíticos
periódicos, que, juntamente com a base de dados, são
disponibilizados no site da Fundação Seade.
PRINCIPAIS RESULTADOS DO PERÍODO 2003-2008
A análise, neste artigo, abrange os anúncios de investimentos captados pela Piesp entre 2003 e 2008,
dando continuidade, assim, ao estudo do quadriênio
anterior, também elaborado por técnicos do Seade
(COMEGNO; PAULINO, 2003).
A Situação da Economia Brasileira
Em 2002, os investimentos produtivos privados retraíram-se no país, influenciados pelas conjunturas
externa e interna. No caso da primeira, o comportamento desfavorável refletiu a preocupação com o
atentado de 11 de setembro de 2001 e o baixo crescimento global, enquanto no âmbito doméstico evidenciou a incerteza dos empresários a respeito da
condução da política econômica no Brasil após as
eleições presidenciais. Vale lembrar que, em outubro,
o dólar alcançou a cotação recorde de R$ 3,78.
No início de 2003, o câmbio ainda permaneceu em
patamar elevado, assim como o risco-país, enquanto o
crédito proveniente do exterior continuou reduzido.
Ao longo do ano, porém, a situação melhorou, com
a gradativa retomada da atividade econômica mundial, sob a liderança dos Estados Unidos e da China.
A demanda internacional aumentou, beneficiando as
exportações de muitos países, inclusive as brasileiras.
A dinâmica econômica sob a ótica dos investimentos anunciados...
Gráfico 1
Valor Total das Exportações e das Importações
Brasil – 2003-2008
200.000
Exportações
Em US$ milhões
Importações
160.000
120.000
80.000
40.000
0
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Fonte: MDIC/Secex.
O dinamismo da corrente de comércio exterior
manteve-se nos anos seguintes e o mercado doméstico se recuperou. O consumo das famílias cresceu,
graças à expansão da renda, do emprego e do crédito,
e também se elevaram os investimentos, impulsionados pelas expectativas favoráveis dos empresários.
Gráfico 2
Variação do PIB e da Formação Bruta de Capital Fixo – FBCF, Trimestre em Relação ao Mesmo Trimestre do Ano Anterior
Brasil – 2003-2008
PIB
30
FBCF
Em %
25
20
15
10
5
2008.4
2008.3
2008.2
2008.1
2007.4
2007.3
2007.2
2007.1
2006.4
2006.3
2006.2
2006.1
2005.4
2005.3
2005.2
2005.1
2004.4
2004.3
2004.2
2004.1
2003.4
2003.3
2003.2
2003.1
0
Fonte: IBGE.
São Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
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Margarida Kalemkarian
Do primeiro trimestre de 2006 ao terceiro de
2008, a Formação Bruta de Capital Fixo – FBCF no
país superou a taxa de crescimento do PIB na comparação com igual trimestre do ano anterior (TORRES;
BORÇA; NASCIMENTO, 2008). Se não ocorresse
a crise, a expectativa dos analistas era de que o PIB
cresceria 6,5% em 2008, em vez dos 5,1% efetivamente apurados, e que a taxa anual de investimento
(FBCF/PIB) superaria os 20%, não permanecendo
em 19,0%, como o IBGE registrou.
Além da intensa produção nacional de máquinas
e equipamentos, também houve forte expansão das
importações de bens de capital, barateadas pelo câmbio, já que o dólar recuou a partir de 2003, atingindo,
em julho de 2008, a cotação de R$ 1,59, a mais baixa
desde janeiro de 1999. A alta na FBCF deveu-se, ainda, à redução da taxa básica de juros no país (Selic)
– de 19,75% a.a., em setembro de 2005, para 11,18%
a.a., em março de 2008 –, e aos empréstimos do
BNDES, que quase triplicaram em seis anos – de US$
35,1 bilhões para US$ 92,2 bilhões –, destinando-se,
predominantemente, para projetos industriais e de
infraestrutura. Acrescente-se que os investimentos
estrangeiros diretos – IEDs aumentaram mais de
quatro vezes, passando de US$ 10,1 bilhões para US$
45,1 bilhões.
No último trimestre de 2008, contudo, o mercado
global de crédito foi abalado pela falência do banco
norte-americano Lehman Brothers, acirrando a crise
financeira iniciada no setor imobiliário dos Estados
Unidos dois anos antes. Houve retração da demanda mundial e dos preços das commodities. Também
diminuíram as linhas de crédito e os fluxos de capitais internacionais, dificultando o financiamento das
exportações. Os estoques da indústria se elevaram,
atingindo níveis indesejados, e o pessimismo dos empresários restringiu os investimentos para ampliar sua
capacidade de produção.
Investimentos em São Paulo
De acordo com a Piesp, os investimentos anunciados
para o Estado de São Paulo, entre 2003 e 2008, totalizaram US$ 116,5 bilhões, sendo que o maior montante anual foi obtido em 2007 (US$ 33,2 bilhões), em
São Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
sintonia com o forte crescimento apresentado pela
economia brasileira naquele ano.
Origem do Capital
Entre os investimentos anunciados para o Estado
de São Paulo, no período analisado, os recursos nacionais somaram US$ 83,4 bilhões, enquanto o total
proveniente do exterior alcançou US$ 33,1 bilhões,
abrangendo 44 países.
A liderança coube aos Estados Unidos, com US$
7,3 bilhões, dos quais mais de um terço refere-se a inversões na indústria automotiva. O segmento de eletricidade, gás e água quente recebeu US$ 1,1 bilhão,
sendo também bastante expressivas as aplicações
direcionadas aos ramos de máquinas e equipamentos e de borracha e plástico, bem como às atividades
imobiliárias.
Na sequência, sobressaem cinco países integrantes da União Europeia, que, juntos, responderam por
15,4% do total apurado no período em análise. O
maior volume de recursos foi destinado pela Espanha (US$ 6,0 bilhões), predominantemente para as
telecomunicações. Notem-se, também, os elevados
montantes associados a rodovias, bancos e abastecimento de gás natural.
A Alemanha, por sua vez, anunciou US$ 5,2 bilhões, 81% dos quais para o segmento automotivo.
Entretanto, outros empreendimentos de grande porte foram registrados em produtos químicos, máquinas e equipamentos e metalurgia básica.
Os investimentos franceses somaram US$ 3,1 bilhões, envolvendo especialmente o comércio varejista;
destacaram-se, ainda, a indústria de alimentos e bebidas, os serviços de aluguel de veículos, máquinas e
equipamentos e os subsetores industriais de produtos
químicos e minerais não-metálicos. A Itália respondeu
por outros US$ 2,5 bilhões, tendo como principal destino a telefonia móvel, seguida pela indústria de máquinas e equipamentos e por outros transportes terrestres. Já entre os investimentos da Inglaterra (US$
1,1 bilhão), sobressaem os ramos de eletricidade, gás e
água quente, e outros equipamentos de transporte.
Mais sete países anunciaram investimentos acima
de US$ 500 milhões: Japão, Portugal, Noruega, Colômbia, Coreia, Bélgica e Suécia.
A dinâmica econômica sob a ótica dos investimentos anunciados...
Tabela 1
Investimentos Anunciados, segundo Origem do Capital
Estado de São Paulo – 2003-2008
Em US$ milhões
Origem do Capital
Investimentos Anunciados
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2003-2008
Total
12.813,8
15.532,8
10.979,9
20.364,6
33.193,4
23.654,4
116.538,7
Brasil
9.739,2
9.795,7
7.436,8
16.493,2
22.686,2
17.281,4
83.432,6
EUA
715,0
867,3
659,7
860,0
2.108,6
2.117,1
7.327,8
Espanha
335,3
1.102,0
918,1
1.273,9
2.380,9
26,2
6.036,4
Alemanha
440,4
451,1
119,0
514,3
2.421,7
1.212,3
5.158,9
França
187,9
346,2
203,8
578,3
1.237,5
575,7
3.129,4
91,0
1.527,2
24,6
78,3
569,8
178,8
2.469,8
134,2
335,5
200,3
45,8
39,4
380,7
1.136,0
Japão
77,3
269,4
143,8
223,7
34,4
169,3
917,9
Portugal
86,2
212,2
267,4
2,9
-
311,9
880,7
Noruega
-
26,6
98,6
-
171,5
573,9
870,5
Colômbia
-
-
29,1
-
757,5
-
786,6
Coreia
70,8
3,7
560,0
2,4
31,1
-
668,0
Bélgica
51,9
159,2
5,9
165,1
199,5
47,8
629,5
Suécia
318,7
18,7
7,7
15,4
59,3
86,7
506,5
Outros países
125,7
111,2
74,9
19,3
50,5
108,4
490,0
Itália
Inglaterra
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo – Piesp.
Desempenho dos Setores
Mais da metade dos recursos anunciados entre 2003
e 2008 destinou-se à indústria (US$ 60,8 bilhões), que
liderou o ranking setorial em quase todos os seis anos
analisados, exceto 2004, quando foi superada pelos serviços. Esta última atividade contribuiu com US$ 52,2 bilhões, enquanto o comércio recebeu US$ 3,2 bilhões e o
agregado outros setores, os US$ 344 milhões restantes.
O valor médio por empreendimento, com altas
consecutivas, elevou-se de US$ 4,8 milhões, em 2003,
para US$ 33,1 milhões, em 2008, o que denota a confiança crescente dos empresários para investir em
grandes projetos.
A desagregação por subsetores mostra que, dos 59
segmentos que registraram anúncios de investimentos
no período, 23 envolveram valores acima de US$ 1 bilhão e sete ultrapassaram o patamar de US$ 6 bilhões.
O maior montante foi apurado nos serviços de
transporte aéreo (US$ 14,1 bilhões). A expansão da
massa salarial e do crédito aqueceu fortemente a demanda doméstica, estimulando as duas maiores em-
presas nacionais do setor – TAM e Gol – a anunciarem no biênio 2007/2008 importâncias elevadas para
Gráfico 3
Valor Total dos Investimentos Anunciados, segundo Setor
Estado de São Paulo – 2003-2008
Indústria
Em US$ milhões
0
5.000
10.000
Serviços
15.000
20.000
Comércio
25.000
Outros (1)
30.000
35.000
2008
2007
2006
2005
2004
2003
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa de Investimentos Anunciados no
Estado de São Paulo – Piesp.
(1) Englobam agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal,
pesca, aquicultura e serviços relacionados.
São Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
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Margarida Kalemkarian
A indústria de alimentos e bebidas,
por sua vez, totalizou US$ 8,4 bilhões,
sendo US$ 6,4 bilhões destinados à produção sucroalcooleira. A alta dos preços
Em US$ milhões
internacionais do açúcar e a crescente
Valor Médio dos Investimentos Anunciados
Setores
demanda mundial por fontes alternativas
2003
2004
2005
2006
2007
2008 2003-2008
de energia vêm atraindo investimentos
Total
4,8
9,5
13,4
20,7
31,1
33,1
14,8
de grandes grupos econômicos nacioIndústria
11,3
14,5
26,9
43,4
56,2
50,5
28,0
nais e estrangeiros. Em 2007, o grupo
Serviços
4,4
10,2
9,0
18,0
42,0
42,5
15,0
Cosan, maior produtor mundial de açúcar e álcool, anunciou a aplicação de US$
Comércio
0,5
0,9
2,2
1,9
2,8
2,5
1,5
1,1 bilhão para aumentar sua capacidade
Outros
0,8
12,8
8,5
0,7
15,9
10,1
7,6
produtiva, enquanto o conglomerado
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo
– Piesp.
Odebrecht destinou mais de US$ 700
milhões para novas usinas. Cabe ressaltar, ainda, os recursos da Citrovita Agroindustrial, do
compra de aeronaves; também destacou-se a recémgrupo Votorantim, para expandir a produção de suco
criada Azul Linhas Aéreas.
de laranja nas três unidades do interior paulista (AraOs recursos destinados ao transporte terrestre
ras, Catanduva e Matão).
totalizaram US$ 10,8 bilhões. Quase 40% desse vaJá o ramo automotivo alcançou US$ 7,5 bilhões.
lor refere-se aos investimentos anunciados em 2007
De 2004 a 2008, esse segmento registrou sucessivos
pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos –
recordes de produção anual, alavancado pelo mercaCPTM, para expandir e modernizar a malha urbana
do interno, ao passo que as exportações tiveram forna capital e imediações, destacando-se a instalação do
te recuo após a intensificação da crise mundial. Os
Trem Expresso Bandeirantes, que ligará São Paulo a
montantes mais elevados foram anunciados em 2007
Campinas. Nesse segmento, também cabe ressaltar
e 2008, pelas montadoras alemãs Volkswagen e Meros anúncios da Transpetro, subsidiária da Petrobras,
cedes-Benz, seguidas pelas norte-americanas General
para ampliar suas atividades no Estado e implantar o
Motors e Ford, para expandir a produção em suas
Plano Diretor de Dutos. Esse plano prevê a construfábricas, no ABC paulista e no Vale do Paraíba.
ção de tanques de armazenagem e dutos para transNas telecomunicações (US$ 7,0 bilhões), destaportar álcool de Ribeirão Preto à Refinaria de Paulínia
cou-se a Telefônica, operadora de telefonia fixa no
e, seguindo, para a Refinaria de Duque de Caxias, no
Estado, pelos montantes destinados à ampliação dos
Rio de Janeiro, ou para o Porto de São Sebastião; e,
serviços de banda larga e implantação de TV a cabo
ainda, a instalação de terminais de coleta de álcool em
em várias regiões paulistas. Também substanciais fovários pontos da Hidrovia Tietê-Paraná entre São Siram os recursos da Telecom Itália Mobile – TIM e da
mão (GO) e Conchas, além do alcoolduto ConchasVivo (Telefônica e Portugal Telecom), para expandir
Paulínia.
as respectivas redes de telefonia móvel.
A seguir, vem o subsetor refino de petróleo e
Outros US$ 6,4 bilhões dizem respeito ao subálcool (US$ 8,9 bilhões), em que sobressaem as
setor de eletricidade, gás e água quente. Os maiores
inversões da Petrobras para ampliar e modernizar
anúncios envolveram a ampliação das linhas de transsuas quatro refinarias, localizadas nos municípios
missão elétrica da Companhia de Transmissão Paude São José dos Campos, Paulínia, Cubatão e Mauá.
lista – CTEEP, sendo um deles anterior à privatizaNotem-se, também, os investimentos em usinas de
ção da estatal e o outro, em 2007, após sua aquisição
álcool na região de Presidente Prudente, anunciados
pelo grupo colombiano Interconexión Eléctrica S.A.
pela norueguesa Biofuel Energy e pela Destilaria
– ISA. Acrescentem-se, ainda, os investimentos da
Paranapanema.
Tabela 2
Valor Médio dos Investimentos Anunciados, segundo Setores
Estado de São Paulo – 2003-2008
São Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
A dinâmica econômica sob a ótica dos investimentos anunciados...
Tabela 3
Valor Total dos Investimentos Anunciados, segundo Subsetor
Estado de São Paulo – 2003-2008
Subsetores
Total
Transporte aéreo
Em US$ milhões
Valor Total dos Investimentos Anunciados
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2003-2008
12.813,8
15.532,8
10.979,9
20.364,6
33.193,4
23.654,4
116.538,7
243,3
1.517,7
102,0
1.988,0
6.033,5
4.216,2
14.100,6
Transporte terrestre
1.891,1
1.127,5
273,5
2.271,7
3.931,3
1.261,6
10.756,7
Alimentos e bebidas
576,6
700,3
1.340,8
709,9
4.412,5
1.288,7
9.028,8
1.795,1
662,1
772,7
4.460,6
718,0
487,0
8.895,6
Automotiva
910,1
560,1
338,2
772,3
2.689,7
2.274,7
7.545,1
Telecomunicações
462,8
2.535,0
1.211,5
802,7
1.353,3
645,0
7.010,3
Eletricidade, gás e água quente
956,3
1.402,0
308,3
429,6
2.093,2
1.182,7
6.372,1
Atividades imobiliárias
494,5
638,2
611,5
1.183,9
1.031,0
916,0
4.875,1
Captação, trat. e distrib. de água
580,7
40,4
5,9
23,2
1.640,4
1.864,4
4.154,9
Extração de petróleo
10,0
44,2
1.500,0
2.600,0
-
-
4.154,2
Produtos químicos
285,9
916,8
329,2
1.127,1
395,9
917,5
3.972,4
Ativ. aux. transportes e ag. viagens
866,1
698,0
449,6
734,6
898,2
317,6
3.964,1
Metalurgia básica
123,2
631,1
533,6
176,1
1.626,8
612,1
3.703,0
Outros transportes terrestres (1)
373,0
304,5
-
112,1
1.090,9
1.529,4
3.409,9
Varejo e reparação de objetos
270,0
244,3
285,5
428,0
1.051,9
369,2
2.648,8
Intermed. financ. (excl. seguros e prev. priv.)
283,2
282,4
36,8
420,0
15,7
1.215,2
2.253,3
96,8
255,3
137,5
263,7
1.290,0
207,3
2.250,6
Aeronáutica (2)
293,4
348,3
543,3
55,4
130,0
777,0
2.147,5
Papel e celulose
394,8
376,8
710,7
54,5
108,9
156,3
1.802,0
Saúde e serviços sociais
125,0
171,5
318,6
126,2
649,5
229,9
1.620,6
Produtos farmacêuticos (2)
268,8
295,9
156,0
463,9
202,8
158,8
1.546,2
Minerais não-metálicos
83,8
449,3
58,2
52,9
157,4
464,0
1.265,7
Aluguel veíc., máq. e equip. e obj. pessoais
22,0
23,1
-
161,5
436,5
364,3
1.007,4
1,6
11,3
0,8
-
220,6
665,6
899,8
Alojamento e alimentação
161,0
146,9
173,1
208,5
104,6
84,7
878,8
Atividades recreativas, culturais e desportivas
255,3
77,7
180,1
63,8
78,6
186,6
842,1
Borracha e plástico
102,6
167,2
41,4
192,2
31,3
219,6
754,2
31,7
163,0
56,9
71,1
177,4
87,4
587,6
Material eletrônico e equip. comunicação
265,5
81,6
65,6
16,1
25,0
5,0
458,8
Educação
105,2
87,9
59,2
82,1
52,0
51,4
437,7
6,9
28,3
74,6
27,6
29,8
205,0
372,2
Com. e rep. automotores e varejo de combust.
53,9
32,0
20,0
23,1
22,2
117,7
268,9
Agricultura, pecuária e serviços relacionados
11,2
89,3
50,9
2,0
111,2
3,4
268,1
3,8
1,2
0,4
12,2
-
248,1
265,7
Atacado
65,6
45,3
42,7
31,8
18,0
53,2
256,5
Ativ. juríd., cont. e de asses. empresarial
53,5
47,5
23,7
36,5
63,7
28,5
253,4
Têxtil
44,3
39,5
62,6
17,4
11,5
1,4
176,6
Produtos de metal (exclusive máq. e equip.)
36,1
11,8
11,4
39,7
14,5
58,5
171,9
1,9
15,6
1,3
24,1
70,7
22,1
135,7
Atividades de informática
18,3
59,7
25,0
2,1
12,9
16,1
134,1
Pesquisa e desenvolvimento
15,9
5,1
0,1
1,9
84,7
9,7
117,3
Edição, impressão e gravações
57,4
1,8
2,1
0,1
14,0
38,8
114,1
Equip. médicos, ópticos, de automação e precisão
17,3
12,5
6,4
19,9
22,6
24,4
103,2
4,7
31,0
28,5
9,8
0,6
6,0
Refino de petróleo e álcool
Máquinas e equipamentos
Madeira
Máq., aparelhos e materiais elétricos
Outros equip. de transporte
Limpeza urbana e esgoto
Seguro e previdência privada
Móveis e indústrias diversas
80,6
(continua)
São Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
69
70
Margarida Kalemkarian
Tabela 3
Valor Total dos Investimentos Anunciados, segundo Subsetor
Estado de São Paulo – 2003-2008
Subsetores
Em US$ milhões
Valor Total dos Investimentos Anunciados
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2003-2008
Máq. escrit. e equip. informática
2,3
42,3
-
4,9
28,6
-
78,1
Silvicultura, explor. florestal e serviços relacionados
0,1
39,0
-
-
-
32,9
71,9
Vestuário e acessórios
9,6
9,9
0,4
-
18,9
15,3
54,2
Couro e calçados
2,4
25,2
8,3
0,8
16,4
-
53,2
Serviços pessoais
12,8
3,0
10,0
20,5
0,5
6,4
53,2
Reciclagem
30,5
7,2
-
4,2
-
4,7
46,6
1,4
-
10,0
25,7
-
-
37,1
23,6
9,5
-
-
0,2
-
33,2
9,4
6,0
0,8
3,5
1,3
0,5
21,4
Administração pública, defesa e seguridade social
-
9,5
-
-
3,6
-
13,1
Construção
-
-
0,1
4,7
0,6
-
5,4
0,0
-
-
-
-
4,0
4,0
-
-
-
-
-
2,5
2,5
2,0
-
-
-
-
-
2,0
-
-
-
0,2
-
-
0,2
Transporte aquaviário
Ativ. aux. intermediação financeira
Atividades associativas
Pesca, aquicultura e serviços relacionados
Extração de minerais não-metálicos
Extração de carvão mineral
Fumo
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo – Piesp.
(1) Para especificar os investimentos de concessionárias de rodovias, optou-se pela classificação Outros Transportes Terrestres, desagregando-se essa
atividade do subsetor Transporte Terrestre.
(2) Por se caracterizarem como de alta intensidade tecnológica, as indústrias aeronáutica e de produtos farmacêuticos foram desagregadas dos subsetores
Outros Equipamentos de Transporte e Produtos Químicos.
norte-americana AES Eletropaulo, para modernizar
os serviços de distribuição de eletricidade na RMSP,
e da anglo-holandesa Comgás, visando expandir sua
rede de abastecimento de gás natural no Estado.
Distribuição Regional
Do valor total acumulado no período 2003-2008,
mais de 33% destinaram-se à Região Metropolitana
de São Paulo – RMSP, que liderou o ranking regional
em quase todos os seis anos, exceto em 2005, quando a região de São José dos Campos assumiu a primeira colocação. Outros 20,8% dividiram-se entre a
Região Administrativa de Campinas e a de São José
dos Campos, enquanto a Região Metropolitana da
Baixada Santista – RMBS e a Região Administrativa
de Sorocaba somaram 10,6%.
Assim, a exemplo do que a Piesp constatou em
anos anteriores, os investimentos anunciados continuaram concentrados na RMSP e nas quatro regiões
contíguas a ela. Esse comportamento decorre do fato
de que as empresas buscam manter-se nas proximiSão Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
dades da RMSP, para usufruir suas economias de
aglomeração, distanciando-se, porém, dos problemas
decorrentes dessa concentração (trânsito congestionado, poluição, violência, alto custo dos terrenos e da
mão de obra, impostos elevados, etc.).
No entanto, nota-se que regiões mais distantes do
núcleo central também atraíram substanciais volumes de recursos, refletindo a importância crescente
da atividade sucroalcooleira no Estado. As elevadas
somas vinculadas à região de Araçatuba e, mais recentemente, às de Presidente Prudente e São José do
Rio Preto estão relacionadas à produção de açúcar e
álcool, que, inicialmente concentrada no entorno de
Ribeirão Preto, espalhou-se pelo oeste paulista, em
direção ao Mato Grosso do Sul e Goiás, ocupando
áreas tradicionais de pecuária.
A indústria obteve maior participação em todo
o Estado de São Paulo, exceto na RMSP, onde foi
superada pelos serviços, e na região de Registro, em
que o comércio alcançou o montante mais elevado.
Detalham-se, a seguir, os maiores aportes destinados
a cada região no período analisado.
A dinâmica econômica sob a ótica dos investimentos anunciados...
Tabela 4
Valor Total dos Investimentos Anunciados
Regiões Metropolitanas e Administrativas do Estado de São Paulo – 2003-2008
Em US$ milhões
Regiões
Total
Valor Total dos Investimentos Anunciados
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2003-2008
12.813,8
15.532,8
10.979,9
20.364,6
33.193,4
23.654,4
116.538,7
RMSP
4.699,7
4.820,3
1.647,8
6.276,6
12.359,9
9.090,3
38.894,6
RA de Campinas
2.040,4
1.197,5
1.648,8
2.423,0
2.763,3
2.310,8
12.383,8
RA de São José dos Campos
1.524,9
911,8
2.342,3
4.967,4
491,1
1.655,5
11.893,0
RMBS
999,8
1.170,9
1.092,7
1.485,4
2.461,4
483,9
7.694,0
RA de Sorocaba
129,2
687,1
461,9
245,4
1.079,5
2.032,7
4.636,0
RA de Araçatuba
282,0
254,4
725,9
219,2
540,7
325,4
2.347,7
RA Central
389,0
155,0
48,5
105,1
164,8
1.340,3
2.202,6
RA de Presidente Prudente
37,3
68,2
148,8
3,0
937,1
563,5
1.758,1
RA de São José do Rio Preto
159,6
185,0
262,4
211,1
671,8
150,7
1.640,5
RA de Bauru
109,5
117,3
146,0
180,3
391,2
260,9
1.205,3
RA de Marília
123,5
58,1
128,1
57,2
508,4
287,6
1.162,9
RA de Ribeirão Preto
72,0
62,2
140,1
126,8
147,1
331,4
879,6
RA de Franca
15,8
159,5
3,7
58,7
220,1
69,3
527,1
RA de Barretos
89,6
52,0
95,5
34,1
200,7
51,9
523,8
RA de Registro
Diversos municípios (1)
0,1
0,7
0,1
-
0,4
0,2
1,4
2.141,4
5.632,8
2.087,3
3.971,3
10.255,9
4.700,0
28.788,6
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo – Piesp.
(1) Empresas com situação em mais de um município disperso em mais de uma Região Administrativa, sem definição de investimento para cada município.
Mais de um terço dos US$ 38,9 bilhões apurados
na RMSP refere-se ao transporte aéreo, envolvendo
as já citadas TAM e Gol, ambas com sede na capital, além da Azul, que se instalou em Barueri. Outros
13,3% direcionaram-se ao transporte terrestre, sobretudo devido à ampliação da Linha 5 do metrô pela
CPTM e à expansão de algumas linhas de trens da
estatal. Também se destacaram o subsetor automotivo – aumento da produção de caminhões e ônibus
Mercedes-Benz na fábrica de São Bernardo do Campo, além das inversões da Volkswagen, Ford, Scania
e General Motors, também no ABC – e as atividades
imobiliárias, com a construção do Shopping Cidade
Jardim, pela JHSF, e do complexo de escritórios de
alto padrão pela norte-americana Tishman Speyer,
ambos no município de São Paulo. Acrescentem-se
os valores anunciados pela Sabesp, para recuperar
mananciais em São Bernardo do Campo, Diadema
e Cotia, ampliar a rede de saneamento básico de
municípios da região e despoluir rios e córregos da
capital.
Dos US$ 12,8 bilhões destinados à região de Campinas, cerca de 20% referem-se à indústria de refino
de petróleo e álcool, em especial à ampliação da Refinaria do Planalto – Replan, em Paulínia, pela Petrobras. Na sequência, aparecem os produtos químicos,
cujos maiores investimentos foram a instalação da
coreana C.J. Corporation, em Piracicaba, para produzir lisina, a partir da cana, para ração animal, e a construção da fábrica de polipropileno da Petroquímica
Paulínia, em parceria com a Braskem. Merece destaque, ainda, o ramo de máquinas e equipamentos, pela
São Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
71
Margarida Kalemkarian
Campos. Ainda se destacam: no segmento aeronáutico, os montantes ligados à Embraer, para modernização e construção de novos jatos, e ao Comando Geral
de Tecnologia Aeroespacial – CTA, para desenvolver
foguetes lançadores de satélites; e na indústria automotiva, os investimentos da General Motors, para a
nova linha de veículos médios na fábrica de São José
dos Campos, e da Ford, para aumentar a produção de
motores na unidade de Taubaté.
A Região Metropolitana da Baixada Santista –
RMBS totalizou US$ 7,7 bilhões. O aumento do fluxo
de comércio externo acelerou os investimentos para
expandir o Porto de Santos. O maior montante, destinado pela Companhia Docas do Estado de São Paulo – Codesp, diz respeito à implantação de avenidas
perimetrais e do túnel de ligação das duas margens do
porto. Também sobressaiu o anúncio da construção
do primeiro terminal multifuncional de grande porte
do país, numa parceria entre a Embraport e o grupo
Coimex. Acrescentem-se os recursos da Petrobras,
para ampliação da Refinaria Presidente Bernardes
Cubatão – RPBC, e os da Cosipa, siderúrgica do grupo Usiminas, para implantar nova linha de laminação
expansão da unidade produtora de tratores e escavadeiras da Caterpillar, em Piracicaba, e pela construção
da fábrica de usinagem de peças automobilísticas da
Romi, em Santa Bárbara d’Oeste. Outros empreendimentos envolvendo montantes superiores a US$ 700
milhões foram a construção, pela Bracor, do centro
empresarial Brapark Viracopos, com galpões, prédios
comerciais e hotel, nas proximidades do Aeroporto
Internacional de Viracopos, a expansão da fábrica
de papel Ripasa e a compra de aeronaves por duas
empresas aéreas sediadas em Campinas, a chilenobrasileira Absa Cargo Airlines e a Trip Linhas Aéreas,
líder da aviação regional no país.
Para a RA de São José dos Campos, direcionaramse US$ 11,9 bilhões, em que sobressaem dois anúncios feitos pela Petrobras em 2005 e 2006, após a
descoberta de gás natural na Bacia de Santos. Além
da exploração marítima, envolvem a construção da
unidade de processamento de gás em Caraguatatuba
e um gasoduto em direção a Taubaté, para ligação
com a rede da malha sudeste. Também bastante expressivos foram os recursos destinados pela estatal à
Refinaria Henrique Lage – Revap, em São José dos
Gráfico 4
Distribuição dos Investimentos Anunciados, por Região, segundo Setor
Estado de São Paulo – 2003-2008
Indústria
Serviços
Comércio
Outros
Em %
100
80
60
40
20
os
ípi
ba
rso
sm
un
ic
s
ro
ca
So
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RA
de
Ca
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RA
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo – Piesp.
São Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
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0
RA
72
A dinâmica econômica sob a ótica dos investimentos anunciados...
e modernização da fábrica de Cubatão. Outro destaque foi a ampliação do estaleiro da britânica Wilson,
Sons, no Guarujá, visando construir rebocadores e
embarcações offshore para suprir as plataformas de petróleo instaladas na Bacia de Santos. Além disso, cabe
mencionar os recursos da Sabesp para o Programa
Onda Limpa, que objetiva a recuperação ambiental
dos municípios da região.
Para a RA de Sorocaba, foram anunciados US$ 4,6
bilhões. A metalurgia básica recebeu o maior volume
de recursos, associados à Companhia Brasileira de
Alumínio – CBA, do grupo Votorantim, para aumentar a produção de perfis de alumínio na planta do município de Alumínio. O subsetor industrial de madeira
também se destacou pela construção da nova planta
de painéis e revestimentos da Duratex, do grupo Itaú,
em Itapetininga. Acrescente-se a reativação da fábrica
de máquinas e equipamentos para construção civil da
Case, em Sorocaba, que estava paralisada desde 2000
e foi adquirida pela italiana Fiat.
Dos US$ 2,3 bilhões relativos à região de Araçatuba, quase 70% vinculam-se à indústria de alimentos
e bebidas, sendo que mais da metade desses recursos
direcionou-se para usinas sucroalcooleiras. Os maiores anúncios foram: a duplicação da capacidade da
Usina da Mata, controlada pelos grupos Grendene e
Brasif, em Valparaíso; a expansão da Usina Biopav, a
segunda do grupo Equipav e a mais moderna do país,
para produzir açúcar e álcool e cogerar energia elétrica em Brejo Alegre; e de duas usinas do grupo Aralco. Outro destaque foi a Mestra Química, que, em
parceria com a Pinex Export, anunciou a instalação,
no município de Araçatuba, da fábrica de papelão a
partir do bagaço da cana, para exportar à Europa.
Já na RA Central (US$ 2,2 bilhões), a principal atividade foi a indústria aeronáutica, pelos US$ 750 milhões anunciados pela Embraer para a fabricação de
dois novos jatos executivos na planta localizada em
Gavião Peixoto. Seguem-se o ramo de eletricidade,
gás e água quente, principalmente pelos investimentos
na construção da Usina Termelétrica de Araraquara,
pela ARS Energia, e de duas usinas cogeradoras de
energia elétrica – Santa Rita, em Santa Rita do Passa
Quatro, e Maringá, em Araraquara –, e os serviços de
transporte terrestre, com os recursos destinados pela
América Latina Logística – ALL para instalar computadores de bordo nas locomotivas que transitam na
malha norte.
Os investimentos associados à produção sucroalcooleira absorveram quase 90% dos US$ 1,8 bilhão
captados pela RA de Presidente Prudente. Referemse à construção das usinas da norueguesa Biofuel
Energy, em Sandovalina e Narandiba, para fabricar
etanol e cogerar eletricidade, à expansão da Destilaria
Paranapanema, com a instalação da Paranapanema 2,
em Presidente Prudente, numa parceria entre o grupo
Albertina e investidores da Noruega, à implantação
das usinas da ETH Bioenergia, do grupo Odebrecht,
em Mirante do Paranapanema e Teodoro Sampaio, e
à construção de outras três – Futura, em Paulicéia,
Atena, em Martinópolis, e Cocal, em Narandiba.
Na região de São José do Rio Preto, para a qual se
destinaram US$ 1,6 bilhão, os investimentos ligados à
produção de açúcar e álcool também predominaram.
Os anúncios de maior porte referem-se à ampliação
da capacidade de moagem da antiga Usina Petribu
Paulista, de Sebastianópolis do Sul, adquirida pelo
grupo chinês Noble, à expansão das usinas Moema e
Santa Isabel e à construção das usinas Tanabi e Cardoso, pela Açúcar Guarani, do grupo francês Tereos.
Acrescente-se a instalação de linhas de transmissão à
CTEEP da energia gerada a partir da cana, pela Usina
Noroeste Paulista, de Votuporanga.
Também na região de Bauru (com US$ 1,2 bilhão), sobressai a indústria sucroalcooleira, pelos investimentos dos grupos Zilor e Equipav na ampliação de suas usinas, respectivamente nos municípios
de Macatuba e Promissão. Outros anúncios de vulto
associaram-se ao ramo de madeira, destacando-se o
da Duratex, empresa do grupo Itaú, que envolve a
produção de novas linhas de painéis e revestimentos
na fábrica de Agudos, ao segmento de papel e celulose, com a expansão e modernização da unidade de
Lwarcel instalada em Lençóis Paulista, e aos produtos químicos, pela fábrica de lisina da Ajinomoto, em
Pederneiras.
Totalizando US$ 1,2 bilhão, a região de Marília teve
como destaques anúncios ligados à cana-de-açúcar.
Quase a metade desse montante refere-se à expansão
da Açucareira Quatá, usina controlada pelo grupo ZiSão Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
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lor, e à construção das usinas da Clealco, em Rinópolis e Tupã. Outros 20% correspondem à implantação
da usina de biodiesel da hispano-brasileira Naturoil,
em Ourinhos. Mencione-se, ainda, a ampliação da
Biorigin, empresa produtora de ingredientes naturais
(leveduras) destinados à alimentação humana e à nutrição animal, que também pertence ao grupo Zilor e
está localizada em Quatá.
O montante destinado à região de Ribeirão Preto
alcançou US$ 879,6 milhões, em especial graças às
atividades imobiliárias, destacando-se a construção
do Ribeirão Shopping e do Iguatemi Ribeirão Preto,
no município-sede da região. Sobressaem, ainda: a
aquisição de aeronaves para aumentar os voos re-
gionais, anunciada pela Passaredo, que se localiza
em Ribeirão Preto; a instalação, em Pitangueiras, da
usina de cogeração elétrica a partir da cana, numa
parceria entre a Açúcar Guarani e a Tractebel, maior
empresa privada do país no setor de energia elétrica;
e a ampliação da fábrica de polímeros a partir do
açúcar, da PHB Industrial, em Serrana.
Mais de 60% dos US$ 527,1 milhões acumulados
pela região de Franca dizem respeito à modernização da usina hidrelétrica da estatal Furnas Centrais
Elétricas, em Pedregulho, e à ampliação da rede de
saneamento básico da Sabesp, na região. Outros
20% referem-se à construção da fábrica de defensivos agrícolas da germânica DVA, em Ituverava, e
Mapa 1
Valor Total dos Investimentos Anunciados (1)
Regiões Metropolitanas e Administrativas do Estado de São Paulo – 2003-2008
1.640,48
527,06
523,77
2.347,67
879,56
2.202,61
1.205,26
1.758,08
1.162,87
12.383,81
11.893,03
Menos de US$ 300,00 milhões
De US$ 300,00 milhões a menos de US$ 1,00 bilhão
De US$ 1,00 bilhão a menos de US$ 3,00 bilhões
De US$ 3,00 bilhões a menos de US$ 10,00 bilhões
De US$ 10,00 bilhões a menos de US$ 30,00 bilhões
US$ 30,00 bilhões e mais
0
50
100
150
Quilômetros
38.894,53
4.635,98
7.693,98
1,38
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo – Piesp.
(1) Em US$ milhões.
Nota: Foram excluídos do mapa os US$ 28,8 bilhões referentes aos investimentos que abrangem vários municípios sem a discriminação do valor para
cada localidade.
São Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
A dinâmica econômica sob a ótica dos investimentos anunciados...
à expansão da usina sucroalcooleira Cevasa, pertencente ao Grupo Cargill, em Patrocínio Paulista.
Para a RA de Barretos, foram anunciados investimentos no total de US$ 523,8 milhões, que se destinaram predominantemente à indústria de alimentos
e bebidas. Os dois maiores estão relacionados à produção de açúcar e álcool: ampliação da Usina São
José, do grupo Tereos, em Colina; e implantação da
usina da Companhia Energética Santa Elisa, em Colômbia. Seguem-se a expansão da fábrica de suco
de laranja da francesa Louis Dreyfus Commodities
– LDC, em Bebedouro, e a do frigorífico Minerva
Dawn Farm Foods, com capital nacional e irlandês,
para produzir derivados de carne cozida congelada,
em Barretos. Ainda nesse município, sobressai a
construção do Independente Golden Dolphin (resort e parque aquático), no Parque do Peão.
A região de Registro recebeu recursos de cerca
de apenas US$ 1,4 milhão, a maioria relacionada ao
comércio varejista, em especial à reforma da unidade das Lojas Cem e à instalação da loja de eletrodomésticos Extra Eletro, ambas em Registro. Além
das restrições que a legislação ambiental impõe ao
desenvolvimento da região, esse fraco resultado
também pode ser atribuído à pouca divulgação que
os meios de comunicação local e regional têm feito
dos investimentos ali realizados.
Entre os que não possuem localização definida,
denominados Diversos Municípios, destacam-se investimentos vultosos citados anteriormente, que estão relacionados às telecomunicações, transporte terrestre, automotiva, alimentos e bebidas, eletricidade,
gás e água quente. Entretanto, devem ser acrescentados outros cinco segmentos, que também atraíram
anúncios de grande porte: captação, tratamento e
distribuição de água – ampliação da rede de saneamento básico da Sabesp; intermediação financeira
– as novas tecnologias na área de segurança eletrônica anunciadas pelo Banco Itaú; outros transportes
terrestres – investimentos da concessionária OHL
Brasil, do grupo espanhol Obrascón Huarte Lain, na
Rodovia BR-116 Régis Bittencourt, entre São Paulo e
Curitiba, e na BR-381 Fernão Dias, que liga a capital
paulista a Belo Horizonte; varejo e reparação de objetos – expansão e modernização das unidades da rede
hipermercadista Carrefour no Estado de São Paulo;
e atividades auxiliares dos transportes e agências de
viagens – ampliação dos aeroportos internacionais de
Cumbica e Viracopos, pela Infraero.
Perspectivas
Em vista do exposto, pode-se supor que, à medida
que se acentuem os indícios de que o país superou
os efeitos da crise internacional, os investimentos
devem aumentar gradativamente. A expectativa é de
que os segmentos cujo dinamismo, no período précrise, não dependia do mercado externo reassumam
a trajetória ascendente. Assim, os recursos destinados
ao transporte aéreo, que liderou o ranking subsetorial
de inversões em 2007 e 2008, tendem a se ampliar
ainda mais, com a crescente demanda doméstica,
que deve atrair novos concorrentes para o setor, não
apenas para a movimentação de passageiros, como
também de cargas. Para sustentar esse crescimento,
os aeroportos devem receber inversões adicionais de
recursos por parte dos órgãos responsáveis por sua
gestão.
Os investimentos na infraestrutura do Estado, que
aumentam a competitividade sistêmica de sua economia, devem prosseguir, pois muitos deles se incluem
entre os compromissos assumidos pelo governo federal no PAC. É o caso do transporte terrestre, que
exigirá novos investimentos em linhas de metrô e na
malha ferroviária municipal e intermunicipal, inclusive trens de alta velocidade, que ligarão São Paulo aos
principais aeroportos do Rio de Janeiro, Campinas e
Guarulhos. A enorme frota de veículos que circulam
na capital dificulta o tráfego no perímetro urbano e
o acesso aos municípios vizinhos. Acrescentem-se os
novos investimentos na melhoria das estradas paulistas que estão sendo concedidas ao setor privado
pelos governos federal e estadual, visando facilitar o
escoamento da produção aos mercados consumidores. Além disso, multiplicam-se os terminais logísticos nas proximidades dos principais entroncamentos
rodoviários.
A exploração das enormes reservas de gás natural
descobertas na Bacia de Santos permitirá a ampliação
do consumo residencial e industrial desse produto,
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inclusive como combustível alternativo para veículos automotores. A licitação prevista das rodovias de
acesso ao Litoral Norte, onde está instalada a unidade
de processamento de gás, deve aquecer a economia
dos municípios próximos ao Porto de São Sebastião.
Já o petróleo na camada pré-sal dessa bacia, tão logo
sejam aprovadas as regras de sua exploração, acelerará consideravelmente o ritmo de atividade na Baixada
Santista. Além da Petrobras, outras companhias petrolíferas pretendem atuar na região, criando novas
oportunidades para empresas ligadas a vários segmentos industriais, bem como aos setores de serviços
e comércio. O Porto de Santos está sendo ampliado
para suportar a nova demanda, que se adiciona ao
fluxo de cargas e passageiros.
Quanto à eletricidade, a expansão dos investimentos nesse subsetor pode melhorar o abastecimento
no Estado, reduzindo o risco de “apagão”. Note-se,
ainda, a crescente importância da cogeração elétrica
pelas usinas sucroalcooleiras, que se adiciona à energia produzida pelas hidrelétricas e outras fontes. As
telecomunicações, por sua vez, exigem a continuidade
de fortes investimentos, para que as empresas acompanhem a evolução tecnológica do setor, caracterizado pela rápida inovação de produtos e serviços e pela
concorrência acirrada. Vale ressaltar que o Brasil é
um dos maiores mercados consumidores de telefones
celulares, que vão incorporando sofisticados recursos
para as mais variadas finalidades. A necessidade cada
vez maior de inclusão digital também contribuiu para
ampliar a demanda de acesso à Internet e de outros
serviços oferecidos pelas operadoras.
Igualmente está relacionada ao PAC parte dos recursos destinados a projetos de ampliação da rede de saneamento básico no Estado, como os anunciados pela
Sabesp e por outras empresas públicas e concessionárias privadas ligadas a essa atividade, para melhorar a
saúde e a qualidade de vida da população paulista.
As atividades imobiliárias também vêm se expandindo, com inversões vigorosas em centros de
compras, prédios comerciais, hotéis, condomínios
logísticos e outros empreendimentos. É importante
destacar que o mercado de ações, incluindo aplicações de investidores estrangeiros, tem um papel cada
vez mais expressivo como fonte de financiamento
São Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
para as construtoras. Além disso, o plano habitacional Minha Casa, Minha Vida deve intensificar a demanda de produtos para a construção civil, inclusive
a de bens intermediários, como madeira, cimento,
vigas metálicas, tintas, etc.
Entre os bens de consumo duráveis, sobressai o
segmento automotivo. Com o aumento das vendas
internas devido à redução do IPI, o setor retomou
as contratações e, aos poucos, começou a anunciar
investimentos, impulsionando outras atividades que
integram sua cadeia produtiva. Aguarda, ainda, a recuperação das exportações.
As inversões em usinas sucroalcooleiras, que vinham se intensificando nos últimos anos, foram fortemente impactadas pela crise. A maioria das empresas
do setor estava endividada, especialmente em moeda
estrangeira, e por isso adiou ou cancelou investimentos. Porém, com a recuperação gradual do crédito, a
elevação da demanda e dos preços internacionais do
açúcar e a consolidação do mercado de etanol, os projetos vão sendo retomados. Ressalte-se que a crise aumentou a concentração e internacionalização do setor,
já que a falta de liquidez facilitou a compra de usinas
em dificuldades por grandes grupos econômicos, inclusive estrangeiros. A análise dos anúncios da Piesp
mostra que a cana-de-açúcar vem sendo utilizada em
número cada vez maior de atividades. Além da produção de açúcar e biocombustíveis (etanol, biodiesel)
e da cogeração de eletricidade, a cana também serve
de insumo para fabricar aminoácidos para nutrição
animal, papelão “verde”, plásticos biodegradáveis e
outros fins. Parcerias entre empresas e universidades
públicas, a instalação de novos centros de P&D em Piracicaba e Araçatuba e outras iniciativas para inovação
no setor tentam ampliar a produtividade e os usos da
cana. A proliferação de usinas pelo território paulista
vem atraindo empresas ligadas a outros setores produtivos, diversificando e integrando as economias das
várias regiões do Estado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados da Piesp delineiam, assim, um cenário bastante favorável para que os investimentos produtivos
continuem em alta. No trimestre final de 2008, o agra-
A dinâmica econômica sob a ótica dos investimentos anunciados...
vamento da crise internacional inibiu sensivelmente os
investimentos das empresas para ampliar sua capacidade de produção. Essa retração foi detectada pela pesquisa, na sequência de elevados montantes anunciados
para o Estado de São Paulo desde 2006. Entretanto,
as inversões e, consequentemente, sua divulgação pela
imprensa tendem a crescer outra vez, alavancadas, sobretudo, por projetos que visam melhorar a infraestrutura do Estado e por atividades voltadas ao consumo
doméstico, cujo dinamismo se manteve graças à massa
salarial e ao retorno do crédito às famílias. Já os segmentos exportadores vão depender do ritmo de recuperação da economia mundial.
Sinalizando expectativas dos empresários e identificando setores e regiões para os quais são anunciados
investimentos, a Piesp evidencia-se como instrumento de análise da distribuição da atividade econômica,
que pode ser utilizado, de forma estratégica, nas decisões de agentes públicos e privados.
Cabe ressaltar, ainda, que, na tentativa de aperfeiçoar continuamente a pesquisa e potencializá-la
como instrumento de atração de investimentos para
o Estado de São Paulo, a Fundação Seade pretende
atualizar alguns procedimentos metodológicos, que,
se efetivados, serão informados aos usuários, por
meio do site da instituição.
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Margarida Kalemkarian
Socióloga, Especialista em Administração de Empresas, Mestre em Administração Pública pela FGV-Eaesp e
Analista da Fundação Seade, São Paulo – SP, Brasil.
([email protected])
Artigo recebido em 31 de março de 2010.
Aprovado em 22 de abril de 2010.
Como citar o artigo:
KALEMKARIAN, M. A dinâmica econômica sob a ótica dos investimentos anunciados: a experiência da Piesp. São
Paulo em Perspectiva, São Paulo, Fundação Seade, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009. Disponível em: <www.seade.gov.br>;
<www.scielo.br>. Acesso em:
São Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 62-77, jul./dez. 2009
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