MODERNISMO
Cronologicamente o livro se insere na 2ª fase
do modernismo, mas incorpora aspectos
importantes da 1ª.
“Cobra Norato” – drama épico, mas também
mitológico que retrata o folclore da região
amazônica, a fala das pessoas daquele local,
com uma estrutura de versos livres.
O poema apresenta uma linha “primitivista” –
perceptível na vida indígena, nas lendas, nos
mitos, além da pluralidade da Amazônia – uma
natureza ainda “primitiva”.
Exemplo da estética antropofágica – põe em movimento
o ritual de devoração das tradições, da mescla do
universal com o local. A pororoca pode ser uma alegoria
do Movimento antropofágico por causa da devoração e
transformação de tudo que está em volta.
Há no poema ecos das epopeias greco-latinas, nas
quais
um
personagem
atravessa
mundos
desconhecidos em busca da superação dos próprios
limites.
A lenda, o mito e o folclore em que Bopp se baseia para
construir sua história são oriundos das narrativas
colhidas entre índios, negros, caboclos, ribeirinhos, etc.,
com quem o poeta conviveu ao longo de sua viagem.
Amazônia: espaço vivo, que reproduz sentimentos
humanos primitivos como o medo, o desejo, a fúria.
Universos humano, animal e vegetal igualam-se no
mesmo nível e reitera o caráter mítico da narrativa.
Na floresta habitam, no imaginário popular, os
enredos mágicos, a crença no imponderável, a
indissociação entre homens, bichos e plantas.
Associa a linguagem ao ritmo da viagem.
Conotações sexuais:
“Ventres de florestas gritam;/-Enche-me!” (XIII)
“A água tem a molura macia de perna de moça,
compadre!” (XIV)
“Corobas sujas levantam o vestido” (VII)
O POEMA “Cobra Norato” conta a saga de um
herói que está em busca da mulher amada.
Para isso, o eu poético cria um universo
onírico – mágico, encantado – encarna na
pele da cobra lendária da Amazônia, sendo
capaz da maiores peripécias para alcançar o
seu objetivo.
“um dia
Eu hei de morar nas terras do Sem-fim
(...)
Vou visitar a rainha Luzia
Quero me casar com sua filha
-Então você tem que apagar os olhos primeiro
O sono escorregou nas pálpebras pesadas
Um chão de lama rouba a força dos meus passos”
Característica Linear – início, meio e fim.
Personagens:
Rival: a Cobra Grande (Boiuna). Confundida
com um navio. Ela busca “moça que ainda não
conheceu homem”. Está com a filha da rainha
Luzia, a qual será roubada por Cobra Norato.
Tatu-de-bunda-seca – (conhecedor de todos
os mistérios do mato) ajuda Cobra Norato a
sair do “útero de lama” e o acompanha na
aventura.
Joaninha Vintém – farinheira que conta o caso
do Boto. Quer ir com Cobra Norato, mas ele
não a leva.
Pajé: curandeiro, faz uma pajelança quando o
corpo é tomado pela onça curuana, assim os
doentes de sezão serão examinados. Mescla
das crendices indígenas com as africanas.
Saci e o pajé-pato: Norato ao pedir licença ao
vento os encontra, estes arredam o mato em
troca de cachaça. O pajé ensina à Cobra
Grande o caminho errado, quando ela estava
perseguindo Cobra Norato.
Cururu – Sapo sentinela da casa da Boiuna.
Tamaquaré –(árvore) “cunhado”, a quem
Norato pede para correr imitando seu rastro.
Os modernistas, como também personagens
criados por eles, serão citados no final do
poema:
“Traga a Joaninha Vintém o Pajé-pato Boi Queixume
Não se esqueça dos Xicos Maria-Pitanga o João Ternura
O Augusto Meyer Tarsila Tatizinha
Quero povo de Belém de Porto Alegre de São Paulo”
Xicos – é o casal Portinari
Tarsila do Amaral – pintora do Abapuru
Contos solipsistas: vida ou conjunto dos
hábitos de um indivíduo solitário;
A escrita dos narradores como saída para
a inércia;
A convivência nitidamente desconfortável
entre as personagens;
Personagens, alguns, recorrem ao ato da
escrita para encontrar seus supostos
“paraísos artificiais”;
Diálogos verossímeis e prosaicos,
através do uso da coloquialidade, aliada
à presença constante da ironia e da autocrítica;
Os finais sempre ficam em aberto, pois não
há uma solução definida e definitiva para
os conflitos, tramas e obsessões das
personagens expostos nas narrativas ;
A narração em 1ª pessoa, exceto no conto
“O Primo” (3ª pessoa), auxilia o caráter
parcial, limitado e incompleto dos textos,
que
propositalmente
“frusta”
as
expectativas do leitor;
O 1º conto, “Os paraísos artificiais”, o
narrador dialoga com um você – dêitico -
Situações kafkianas:
As personagens encontram-se em situações
desesperadoras ou inquietantes, ficam
perturbadas pela falta de motivos aparentes
para elas e não possuem saída ou escape.
Fazem questionamentos e cogitações sem,
no entanto, chegar a conclusão alguma.
“Os paraísos artificiais”
Apresenta um narrador dirigindo-se a um
interlocutor que está sentado numa cadeira. O
narrador sustenta que não há, para seu
interlocutor, uma posição definitiva de
conforto, seja deitado, sentado ou em pé, só
havendo para esse impasse, de acordo com o
narrador: Percepção e sensibilidade para
apurar a existência através da reflexão literária
•Reflexões prosaicas sobre o incômodo e o
desprazer, e a busca do alívio momentâneo =
Literatura (evidência metalingüística)
“Uma doença”
O narrador passa todo o tempo deitado,
analisando
curvas,
manchas,
acidentes
geográficos das pares, do chão, do seu lençol e
uma rachadura no teto, que ele relaciona com as
transformações que iam se operando em seu
corpo em virtude de uma doença, que não
sabemos qual é. Todas essas associações e
divagações que acompanhamos nada mais são
do que as próprias anotações feitas pelo narrador
e que estamos lendo, isto é: o breve relado que
lemos foi a solução por ele encontrada para sair
da inércia a que a doença o submetera.
“Uma visita”
Gira em torno de um sujeito que se vê obrigado, já tarde
da noite, a atender um visitante. Chegando-se à janela
do terceiro andar de onde mora, o narrador não
consegue reconhecer a pessoa que o chama lá embaixo.
Sem emitir qualquer som em reposta aos apelos do
visitante para que a chave lhe seja atirada e ele entre – o
prédio está trancado e o porteiro já havia se recolhido -,
o narrador tece considerações sobre quem seria o
visitante e o motivo de ali estar. O interessante a ser
destacado é o ponto de vista que se alterna para o
visitante e depois de novo para o sonolento e cansado
narrador. Não há efetivamente comunicação entre
ambos. As conjecturas sobre os motivos da visita e do
narrador em não querer lançar as chaves se dão apenas
no plano mental de ambos.
“Um criminoso”
Assim como em “Uma visita”, a janela (indiscreta)
também compõe o seu cenário, no qual um homem
narra o que vê – um casal abraçado e o apartamento
de uma mulher vizinha a qual vive só – de maneira
muito peculiar, ora exaltando os objetos: “A gente
sempre pode confiar num escorredor ou num fogão de
quatro bocas ou num pano de prato, eles são
absolutamente incapazes de sacanear a gente. É
mesmo um negócio comovente. O amor deve ser mais
ou menos isso.”; ora se amedrontando com a luz da
lâmpada da geladeira, que lhe parece estranha,
ameaçadora, “traiçoeira”, aos seus olhos.
“O companheiro de quarto”
O narrador divide o seu espaço com um sujeito que, ao
seu entender, “tinha umas coisas meio gozadas, além
do jeito de falar. Tinha o lance da planta dele, e tinha o
cheiro também”. A narrativa é permeada por certo
mistério em torno do companheiro de quarto do
narrador e sua planta. Nessa história, marcada por
uma atmosfera ambígua, há de se refletir sobre o
quanto pessoas próximas fisicamente se distanciam
afetivamente, uma vez que os dois sujeitos moram
juntos, mas fingem ignorar a existência um do outro.
Cabe destacar a linguagem despojada, com o uso de
coloquialismos e gírias, consoante com os seus
jovens personagens, com a exploração psicológica
dos sujeitos.
“Coisa de família”
O narrador sente um desconforto duplo: estar no
estrangeiro e ser convidado pelo vizinho, que mal
conhece, para passar a noite de Natal com a sua
família. A narrativa é perpassada por uma série de
situações constrangedoras vividas pelas personagens.
O narrador, ao chegar à casa dos parentes do vizinho,
percebe uma atmosfera ambígua, em que as pessoas
não se comunicam, não se ajustam, não se relacionam,
em desacordo com a ocasião e com seus laços afetivos
e familiares. A ceia transcorre em meio à troca de
olhares e gestos furtivos, acusatórios e hipócritas. O
que seria uma noite de união transforma-se em
afastamentos, em simples cumprimento de agenda
social, sem sociabilidade.
“O 921”
No conto o leitor é levado, em certa medida, a um clima
próximo ao das narrativas de Franz Kafka. Um encontro
fortuito do narrador com um sujeito, que diz estar
esperando o mesmo ônibus que ele, irá desencadear
uma aventura sufocante. O “921” do título refere-se a
uma suposta linha de ônibus que, embora credite-se ter
sido extinta, ainda funciona, de acordo com esse
sujeito. O destino do narrador é Pitombas, localizada na
periferia carioca. O narrador, enquanto espera a linha
acredita ser a que o levará ao seu destino, a de número
488, ouve de seu eloqüente companheiro altos elogios a
um tal doutor Lustosa, pessoa sugestivamente de
grande influência. Aparece o tal 921, vazio, apenas com
o motorista que também é cobrador. Os dois embarcam.
“O Primo”
Única narrativa em 3ª pessoa, tem como enredo a
ida de Ivan, adolescente provinciano que teve
problemas no colégio de sua cidade de origem, para
um colégio interno no Rio de Janeiro. Lá, ele,
teoricamente, terá o amparo de um primo que não vê
há muito tempo e que é mal falado pela família. A ida
para o Rio serviria como libertação para Ivan.
Entretanto, o fim do conto deixa claro que os seus
planos não se efetivarão como pretendia. O primo,
carrancudo, seco, esboça um tom de autoridade
paterna para Ivan.
O discurso desse conto, cheio de matizes, é
utilizado para exploração dos desencontros familiares.
“Os sonetos negros”
Personagens:
Tânia (narradora-personagem)
Matilde Fortes: escritora dos “Sonetos Negros, objeto
de estudo de Tânia
Gastão Fortes: marido de Matilde, com quem Tânia
travará contato,
Clemenceau: técnico de informática da pequena São
Dimas
Dona Aspásia: empregada de Gastão
Ercila: orientadora da tese de Doutorado de Tânia
Leandra: protegida de Ercila, também escreve sobre
Matilde, mas a partir de uma perspectiva feminista
Sérgio: ex-namorado de Tânia, que lhe manda e-mails
Olavo: gerente do hotel de São Dimas
“Os sonetos negros”
Apresenta uma história que se passa na fictícia São
Dimas, para onde a jovem Tânia viaja para pesquisar a
obra da poeta morta Matilde Fortes.
No início, seu objetivo é apenas checar os manuscritos e
estabelecer uma edição crítica da “Poesia reunida” da
grande poeta, Matilde Fortes. Entretanto, Tânia acaba
tendo longas conversas com o viúvo de Matilde, Gastão
Fortes, e descobre nos manuscritos algo que no início
parece confirmar certas leituras feministas da obra, mas
que, no final, traz um desfecho inesperado.
Esse conto, espécie de farsa literária, mistura enigma,
investigação crítica e trama detetivesca à maneira das
narrativas protagonizadas por Sherlock Holmes. Escrito
em forma de diário, põe em xeque as certezas do
politicamente correto e expõe uma jovem estudante às
surpresas oferecidas pela vida e pela literatura.
ANTES DO BAILE VERDE - LYGIA FAGUNDES
TELLES
18 narrativas, escritas no período de 1949 a 1969.
Literatura contemporânea
Linha intimista da narrativa. Ficção introspectiva.
Penetração psicológica para delinear os conflitos do
homem na sociedade contemporânea, através de
uma variedade de sentimentos que a vida moderna e
basicamente urbana sucinta.
A tensão das personagens ou narradores é
interiorizada, o que frequentemente as leva a não a
agir, mas a evadir-se, subjetivando seus conflitos.
Narrativas polissêmicas, repletas de sugestões
conotativas, decorrentes da constante presença de
metáforas e símbolos, que corporificam as
temáticas dos textos.
Personagens e objetos são interrelacionados para
formar uma estrutura simbólica muito forte.
Escrita alusiva e elíptica, ou seja, não há muitas
descrições objetivas.
Narradores oscilam entre 1ª e 3ª pessoas. Usa o
discurso indireto-livre e o fluxo de consciência, do
monólogo interior, através dos quais o leitor
conhece os pensamentos e emoções dos
protagonistas.
A cor verde está sempre presente para indicar o jogo
com a palavra literária e poética, já que as narrativas de
Lygia contêm tantos sentidos metafóricos.
O verde forma um jogo entre aparência e essência,
realidade e imaginação, verdade e mentira.
Apenas no conto “Natal na barca” o verde está ligado a
ideia de esperança.
Ao final da leitura ficará a cargo do leitor criar o clima de
mistério, de terror, de desamor e desencontro, de solidão
e abandono.
Os finais dos contos provocam o imaginário coletivo e
convocam os leitores a participarem do ponto de vista
das personagens e narradores. Narrativas reticentes e
instigantes
NARRADOR DE 1ª PESSOA
EU ERA MUDO E SÓ
(Manuel)
NATAL NA BARCA
(narradora sem nome)
O JARDIM SELVAGEM
(a menina Ducha)
O MOÇO DO SAXOFONE
(um motorista de caminhão)
HELGA
(Paulo Silva filho
que se transforma
germânico Paul Karsten)
APENAS UM SAXOFONE
(sem nome)
VERDE LAGARTO AMARELO
(Rodolfo)
no
NARRADOR DE 3ª PESSOA
AS PÉROLAS; O MENINO; VENHA VER O
PÔR-DO-SOL; A JANELA; MEIA-NOITE EM
PONTO EM XANGAI; A CHAVE; A CAÇADA;
ANTES DO BAILE VERDE; OS OBJETOS; UM
CHÁ BEM FORTE ETRÊS XÍCARAS; A CEIA
“Era um burrinho pedrês, miúdo e resignado, vindo
de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não sei onde no
sertão. Chamava-se Sete-de-Ouros, e já fora tão bom, como
outro não existiu e nem pode haver igual.”
“Agora, porém, estava idoso, muito idoso. Tanto, que nem
seria preciso abaixar-lhe a maxila teimosa, para espiar o
cantos dos dentes.(...) Vinha-lhe de padrinho jogador de
truque a última intitulação, de baralho, de manilha; mas,
vida a fora, por amos e anos, outras tivera, sempre
involuntariamente: Brinquinho, primeiro, ao ser brinquedo
de meninos; Rolete, em seguida, pois fora gordo, na
adolescência; mais tarde, Chico-Chato, porque o sétimo
dono, que tinha essa alcunha, se esquecera, ao negociá-lo,
de ensinar ao novo comprador o nome do animal, e, na
região, em tais casos, assim sucedia; e, ainda, Capricho,
visto que o novo proprietário pensava que Chico-Chato
não fosse apelido decente.”
“Era um burrinho...”
Tentativa de recuperar as narrativas dos contos de fadas,
que são a representação do “fado”, destino humano.
“Sete-de-Ouros”
Sete é número que simboliza, entre outras coisas, a
conclusão perfeita, pois foi no sétimo dia que Deus
descansou.
Ouro, segundo os alquimistas na Idade Média, é símbolo da
iluminação e da salvação.
Um burrinho velho e resignado, assume, assim, uma
dimensão fantástica
A travessia, a superação de obstáculos por ocultos
caminhos é uma imagem frequente em Guimarães Rosa,
como também a presença de forças mágicas, da natureza,
atuando sobre o mundo e mostrando as possibilidades de
os fracos se tornarem fortes, de se saber uma vida no
resumo exemplar de apenas um dia.
Conto narrado em 3ª pessoa.
A onisciência do narrador é propositalmente
relativizada, dando voz própria e encantamento às
narrativas e acentuando sua dimensão mítica e poética.
O cenário é a Fazenda da Tampa, do Major Saulo, no
interior de Minas Gerais.
Personagens
Sete-de-Ouros - animal miúdo e resignado, idoso, muito
idoso, beiço inferior caído. Outros nomes que tivera ao
longo de anos e amos: Brinquinho, Rolete, Chico-Chato
e Capricho.
Major Saulo - corpulento, quase obeso, olhos verdes.
Só com o olhar mandava um boi bravo se ir de castigo.
Estava sempre rindo: riso grosso, quando irado; riso fino,
quando alegre; riso mudo, de normal. Não sabia ler nem
escrever, mas cada ano ia ganhando mais dinheiro,
comprando mais gado e terras.
João Manico - vaqueiro pequeno que montou o burrinho
Sete-de-Ouros na ida. Na volta, trocou de montaria. Na
hora de entrar na água, refugou, alegando resfriado, e
escapou da morte.
Francolim - espécie de secretário do Major Saulo,
encarregado de pôr ordem nos vaqueiros. Obedece
cegamente às ordens do Major. Foi salvo, na noite da
enchente, pelo burrinho Sete-de-Ouros.
Raymundão - vaqueiro de confiança do Major Saulo.
Enquanto tocam a boiada, vai contando a história do zebu
Calundu.
Zé Grandão - vai à frente da boiada, tocando o berrante.
Silvino - vaqueiro; perdeu a namorada para Badú (um
dos que irá sobreviver) e planejava matar o rival na volta,
depois de deixarem a boiada no arraial. Irmão de Tote.
➔ Benevides, Leofredo, Juca Bananeira, Sebastião,
Sinoca – outros vaqueiros
• Narrativas que se interpenetram, ainda que se
pareçam desencontrada;
• Se convergem, para um fim único: que é dar relevo
ao ato silencioso e lúcido do burrinho.
• Unidade de tempo e espaço.
• As narrativa secundárias se integram na estrutura
global, fazendo-nos compreender o mundo do
burrinho, determinando a dimensão do seu ato,
criando um clima favorável ao desfecho, também
as descrições, principalmente a da boiada, são
necessárias à composição do conto, constituindo
uma espécie de acompanhamento ou fundo
musical para a ação.
METÁFORAS E SÍMILES:
“uma mosca varejeira usa barriga azul”; “a crina do
burrinho é como uma escova de dentes”; os dorsos
do gado são cordilheiras de cacundas sinuosas”...
METONÍMIA:
Referência aos 460 bois: “E o chapadão atroa, é
percussão debulhada dos mil oitocentos e quarenta
cascos de unha dupla”.
Há ainda: personificações, onomatopéias, antíteses,
paradoxos, hipérboles e sinestesias.
NARRADOR: terceira pessoa. O narrador é, pois,
onisciente, não participa da história.
CENÁRIO – Fazenda do Primo Ribeiro, meio
abandonada porque a febre o impossibilitava de
trabalhar.
PERSONAGENS
Primo Ribeiro: Na região, vem conseguindo sobreviver à
malária. Tem febre e frio todos os dias, o baço sempre
inchado, mas vai vivendo. No início da doença, foi
abandonado pela esposa, Luísa; ela fugiu com outro
homem, um boiadeiro.
Primo Argemiro: Como Ribeiro, vai sobrevivendo à
malária. Os dois moram isolados, numa região em que a
febre já expulsou toda a gente. Apesar de ter terras em
outra região, prefere ficar ao lado de Primo Ribeiro, tal a
amizade que os une.
Prima Luísa: Mulher de Ribeiro. Morena, olhos pretos,
cabelos pretos... muito bonita. De riso alegrinho, mas de
olhar duro. Fugiu com um boiadeiro.
Ceição - Preta velha.
Jiló – Cachorro.
A DOENÇA, POR VEZES, É METAFORIZADA SOB A
IMAGEM DO FEMININO:
“-A moça que eu estou vendo agora é uma só, Primo...
Olha!... É bonita, muito bonita. É a sezão. Mas não
quero... Bem que o doutor, quando pegou a febre e
estava variando, disse... Você lembra?... Disse que a
maleita era uma mulher de muita lindeza, que morava
de-noite nesses brejos, e na hora da gente tremer era
quem vinha... E ninguém não via que era ela quem
estava mesmo beijando a gente...”
NO OLHAR DO NARRADOR, UMA TENTATIVA LÍRICA
DE DESCREVER A DOENÇA, DAÍ A PROXIMIDADE
ENTRE A MALÁRIA E O FEMININO. Em vários
momentos a imagem da malária é associada ao amor,
que chega a contaminar o olhar de Argemiro quando
confessa:
“-Não, Primo... Isso não! Não foi nada por causa... Eu
também sofri muito... Não queria mais nada no
mundo.. E foi por conta do senhor também... Quando
ela deixou de estar aqui, eu fiquei querendo um bem
enorme ao senhor... A esta cada de fazenda... Aos
trens todos daqui.. Até à maleita!...”
NARRATIVA EPIFÂNICA
(epifania = iluminação, revelação)
FEBRE: conotação de estado de libertação.
METAFORIZA-SE o estado de consciência como
doloroso porque revelador do abando que a mulher e
a doença causaram. Nesse sentido, a febre parece
ser o momento esperado como FUGA para um
universo ONÍRICO, cheio de sensações.
SÍMILE
Referência aos pássaros pretos: “Sobem, de
escantilhão, para a copa da árvore, como um borrifo
de tinteiro”
METONÍMIA
Tipo de madeira que substitui a enxada: “todo mundo
cantando e puxando o cacumbu!”
ASSONÂNCIAS E ALITERAÇÕES
“Arrasta um fio, fino e longínquo, de gonzo, fanho e
ferrenho, que vem longe e vai dar no longe”.
CENA FINAL: um quadro impressionista, de
proporções sinestésicas, ao apresentar a paisagem
no momento de partida de Primo Argemiro.
“Estremecem, amarelas, as flores da aroeira. Há um
frêmito nos caules rosados da erva-de-sapo. A ervade-anum crispa as folhas, longas, como folhas de
mangueira. Trepidam, sacudindo as suas estrelinhas
alaranjadas, os ramos da vassourinha. Tirita a
mamona, de folhas peludas, como o corselete de um
caçununga, brilhando em verde-azul. A pitangueira
se abala, do jarrete à grimpa. E o açoita-cavalos
derruba frutinhas fendilhadas, entrando em
convulsões.”
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Slide 1 - Roginei