Aspectos sociais e culturais dos coletores e varredores de resíduos sólidos
da Região Metropolitana de São Paulo.
Bárbara Aparecida da Silveira Deamo
Adalberto Cotrin Siqueira Júnior
Soraya Garcia Audi
Resumo: Coletores e varredores de resíduos sólidos, são profissionais que conservam a limpeza e higiene
de lougradouros públicos por meio da coleta de lixo, varrições e lavagens, zelando pela segurança e
patrimônio das pessoas, esses profissionais pertencem a um grupo de exclusão social, expostos a riscos e
danos a saúde. Foi proposto avaliar as condições sociais e econômicas desses profissionais no processo
de saúde-doença. Após a pesquisa, os dados obtidos foram: 43,6% dos entrevistados são coletores de lixo
e 56,4% são varredores e destes 41% eram mulheres, a idade média variou entre 30 e 35 anos, 69,23%
são casados e com nível de escolaridade baixo.
Palavras chaves: coletores de resíduos sólidos, varredores de resíduos sólidos, saúde
do trabalhador, resíduos sólidos.
Introdução
Durante o curso de evolução da humanidade, os maiores problemas enfrentados
pelos homens, estavam relacionados com a natureza da vida comunitária, principalmente
com o lixo produzidos pelas atividades cotidianas.
A problemática com relação aos resíduos sólidos, tem seu primeiro relato durante a
administração de Nero, Imperador de Roma de 54—68 d.C., onde a limpeza das ruas era
responsabilidade dos proprietários e era supervisionada pelos aedêles (ROSEN, 1994).
Durante a Idade Média o problema persistia, em função de a população possuir
criação de animais, e, jogarem nas ruas suas excreções. Então os animais foram
proibidos de circular pelas ruas (ROSEN, 1994).
No século XVII, foram estipulados locais fora da cidade, para que as pessoas
colocassem seu lixo. No século XVIII, as cidades eram insalubres, sujas e impregnadas
de odores nauseantes, o saneamento urbano era pobre sendo que ruas e vielas viviam
sujas. Foi então nomeado dois “lixeiros” para cada setor/área para supervisionar a
população quanto a sujeira que depositavam nas ruas (ROSEN, 1994).
No Brasil, em São Paulo, a limpeza pública foi estabelecida por meio da Lei 09 de
09/05/1892, quando começou haver uma maior preocupação com a questão da saúde
visto que o lixo espalhado poderia disseminar doenças (SPOSATI, 1990).
Esse serviço passou por inúmeras mudanças, e em 1968foi criado o Departamento
de Limpeza Pública, onde iniciou-se a contratação dos serviços de coleta e varrição das
ruas (SANTOS, 1997).
Atualmente, essa atividade envolve cerca de 10.259 empregados, distribuídos nas
empresas prestadoras de serviço, sendo 2.409 coletores, 5.500 varredores, 850
motoristas e 1.500 funcionários administrativos (SIEMACO, 1992).
O denominado resíduo sólido, comumente chamado de lixo, é conceituado como
sendo um subproduto provindo das atividades humanas que deve ser desprezados o mais
depressa possível, evitando assim que sua permanência proporcione efeitos indesejáveis
aos indivíduos e à natureza (ROBAZZI et al, 1994; CAMPINAS, 1996).
Já os coletores e varredores de resíduos sólidos, são profissionais que conservam
a limpeza e higiene dos logradouros públicos, através, por meio da coleta, varrição e
lavagens, zelando pela segurança e patrimônio das pessoas. Esse trabalho tende a se
tornar crescente a medida que aumenta a população ( CBO, 2002).
Esses profissionais, pertencem a um grupo de situação de exclusão social,
expostos a riscos e danos a saúde. Não só os produzidos pelos efeitos danosos do lixo,
como também os ocupacionais, sendo eles: comprometimento respiratório, afecções
musculares, patologias da coluna, perdas auditivas, tabagismo e alcoolismo ( SANTOS,
1998; ROBAZZI et al, 1994).
Objetivo
Estudar a influencia das condições sociais e culturais dos coletores e varredores
de resíduos sólidos no processo de saúde e doença.
Metodologia
A metodologia foi baseada em um levantamento bibliográfico de pesquisa
específicas sobre os coletores de resíduos sólidos. Os dados foram coletados através de
entrevistas com os trabalhadores que estavam dispostos a participar da pesquisa. Como
instrumento foi elaborado um formulário que serviu como roteiro da entrevista e registro
das respostas. Após a coleta de dados, os mesmos foram compilados em tabelas de
freqüência simples, o que tornou possível a visualização em número e percentagem dos
dados obtidos.
Resultados
Após a coleta de dados, obteve-se uma série de subsídios que serão enumerados
a seguir, pois servirão para o estudo das
reais condições
sociais e culturais dos
coletores e varredores de resíduos sólidos da Região Metropolitana de São Paulo em
2004.
Gráfico 1. Distribuição em percentagem dos coletores e varredores entrevistados, no ano
%
de 2004, na Região Metropolitana de São Paulo.
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
coletor
1
varredor
Pela análise do Gráfico 1, pode-se observar que mais de 50% dos entrevistados
foram varredores de resíduos sólidos, pois estes estavam mais acessíveis que os
coletores.
Tabela 2. Distribuição em
número e percentagem da diferença de sexo dos
coletores e varredores de resíduos sólidos, no ano de 2004, na Região Metropolitana de
São Paulo.
Coletor
Varredor
Nº
%
Nº
%
Homem
17
100
13
59
Mulher
0
0
9
41
∑
17
100
22
100
Pela análise da Tabela 2, pode-se observar que 100% dos coletores entrevistados
eram homens, 41% dos varredores entrevistados eram mulheres e 59% eram homens,
sugerindo que as mulheres estão cada vez mais buscando esse ramo de atividade.
Tabela 3. Distribuição em número e percentagem, da idade dos coletores e
varredores de resíduos sólidos, no ano de 2004, na Região Metropolitana de São Paulo.
Nº
%
20├-25 anos
4
10,26
25├-30 anos
7
17,95
30├-35 anos
7
17,95
35├-40 anos
7
17,95
40├-45 anos
4
10,26
45├-50 anos
4
10,26
50├-55 anos
5
12,82
55├-60 anos
0
0
60├-65 anos
0
0
65├-70 anos
1
2,55
∑
39
100
Nota-se pela Tabela 3, que a grande maioria desses trabalhadores, são maiores de
25 anos , o que pode sugerir que, os mesmos buscaram esse ramo de atividade
profissional em decorrência do desemprego ou outro motivo na área profissional, mesmo
porque, foi relatado que na sua maioria, tinham outra profissão antes da atual atividade.
Tabela 4. Distribuição em número e percentagem da naturalidade dos coletores e
varredores de resíduos sólidos, no ano de 2004, na Região Metropolitana de São Paulo.
Nº
%
Norte
0
0
Nordeste
15
38,46
Centro-Oeste
0
0
Sudeste
22
56,41
Sul
2
2,13
∑
39
100
Nota-se pela análise da Tabela 4, que 56,41% dos trabalhadores entrevistados são
da Região Sudeste e 38,46% dos trabalhadores migraram da Região Nordeste em busca
de emprego, como a maioria dos trabalhadores vindo das outras regiões do País.
Tabela 5. Distribuição em número e percentagem, segundo o estado civil, dos
varredores e coletores de resíduos sólidos, no ano de 2004, na Região Metropolitana de
São Paulo.
Casado
Solteiro
Viúvo
Divorciado
∑
Nº
27
10
1
1
39
%
69,23
25,65
2,56
2,56
100
Os dados acima nos apontam, que 70% dos coletores e varredores de resíduos
sólidos, são casados e apenas 2,56% são divorciados ou viúvos, sugerindo que a maioria
deles buscam um companheiro.
Gráfico 10. Distribuição em percentagem, por nível de escolaridade dos coletores
e varredores de resíduos sólidos, no ano de 2004, na Região Metropolitana de São Paulo.
%
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
nãoestudou
1º graucompleto
1 1º grauincompleto
2º grauincompleto
2º graucompleto superior completo
superior incompleto
O gráfico acima nos mostra que 61,54% dos trabalhadores apresentam-se com 1º
grau incompleto, ou seja, no primeiro grupo encontram-se aqueles que só cursaram até
aproximadamente até a 8º série do ensino fundamental, seguido de perto daqueles, não
estudaram 20,51%, demonstrando a desnecessária qualificação neste ramo de atividade
profissional.
Discussão
Assim como nos estudos realizados anteriormente por Ilário (1989), Robazzi et al
(1994) e Gir et al (1991), a coleta e remoção dos resíduos sólidos, são executados pelos
coletores e varredores, que em sua maioria são do sexo masculino , todavia, podemos
notar que as mulheres estão cada vez mais realizando atividades que antes eram
consideradas para homens. Em uma das cidades em que foi realizado o presente
trabalho, 95% dos entrevistados eram do sexo feminino.
No que se refere a distribuição etária, em nossa pesquisa, a média de idade variou
de 30 a 35 anos, assim como no estudo realizado por Ilário (1989), nos leva a pensar que
devido as baixa condição econômica, essas pessoas deixam os estudos de lado para
poderem trabalhar, pois, cerca de 20,51% dos entrevistados são analfabetos, porém a
Classificação Brasileira de Ocupações (2002), sugerem que esses profissionais tenham
no mínimo a 4° série do ensino fundamental, ou seja , que pelo menos sejam
alfabetizados.
Conclusão
Ao traçarmos o perfil dos coletores e varredores de resíduos sólidos, foi
comprovado o quão importante são esses profissionais em nossa sociedade, porém
alguns deles nem sabem disso.
Pode-se observar que, os trabalhadores da limpeza urbana têm condições sociais
e culturais baixas, podendo este dado ser comprovado pelo baixo nível de instrução, ou
seja, os fatores sociais e culturais em baixo nível, contribuem para o estado de bem estar
físico, mental e social inadequado, propiciando condições para o aparecimento de
diversos agravos à saúde.
Bibliografia
CBO – CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES, 2002. Disponível em: <http: //
www.mtecbo.gov.br/descricao.asp?codigo=5142-05. Acessado em: 21/01/2005.
CAMPINAS. Campinas a gestão dos resíduos sólidos urbanos. Prefeitura Municipal
de Campinas, Secretária de Serviços Públicos, Secretária de Administração, 1996.
GIR, E.; MORIYA, T.M.; ROBAZZI, M.L.C.; OLIVEIRA, M.H.P.; BUENO,S.M.V.;
MACHADO, A.A. Doenças sexualmente transmissíveis: conceitos, atitudese percepções
entre coletores de lixo. Revista de Saúde Púlica, 25(3):226-9, 1991.
ILÁRIO, E. Estudo da morbidade em coletores de lixo de um grande centro urbano.
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 17(66):7-13, abr/mai/jun 1989.
ROBAZZI, M.L.C.; GIR, E. MORIYA, T.M.; PESSUTO, J. O serviço dos coletores de lixo:
riscos ocupacionais versus agravos à saúde. Revista da Escola de Enfermagem da
USP, 28(2): 177-90, ago 1994.
ROSEN, G. Uma história da saúde pública. São Paulo: Unesp, 1994.
SANTOS, T.L.F. Coletores de lixo: a convivência diária com a sujeira da cidade – um
breve relato. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 23(85/86): 43-54, 1997.
SANTOS, T.L.F. Coletores de lixo a ambigüidade do trabalho na rua. Revista Brasileira
de Saúde Ocupacional, 26(97/98): 53-73, 2001.
SIEMACO. Relatório de informações básicas: a limpeza urbana no Brasil. São Paulo,
1992.
SPOSATI, A.O. Relatório preliminar de pesquisa: padrões de reprodução social. São
Paulo: PUC, 1990.
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