Capítulo
4
Neste capítulo
ƒƒ O Brasil como
potência regional.
ƒƒ A geopolítica
da Amazônia.
ƒƒ As desigualdades
regionais.
ƒƒ A ação do Estado.
ƒƒ A construção
de Brasília.
A geopolítica no Brasil
Potência regional?
Embora o termo potência tenha surgi­
do fortemente associado à ideia de hegemonia militar, na atualidade, o conceito
de potência está relacionado ao conjunto de
fatores que possibilitam a um país exercer
influência sobre os demais. Portanto, além
do poderio militar, o cenário diplomático,
a atuação estratégica dos Estados e o desen­
volvimento econômico fornecem elemen­
tos que permitem interpretar se determina­
do país cumpre os requisitos para assumir a
função de potência, seja em escala regional
ou mundial.
Fatores geopolíticos
Entre os fatores que sustentam o poder
geopolítico de um país, o tamanho do terri­
tório, o poder econômico e o militar são os
mais importantes para que um Estado possa
agir de maneira independente e exercer sua
influência sobre os outros Estados.
As vantagens estratégicas decorrentes da
extensão territorial devem-se ao fato de o
território congregar os recursos naturais ne­
cessários ao desenvolvimento econômico de
um país e, ao mesmo tempo, ser a base que
pode condicionar a prosperidade de sua po­
Saiba mais
A visão geopolítica
no regime militar
Durante a ditadura militar pre­
dominaram no Brasil as teses geo­
po­líticas da Escola Superior de
Guerra (ESG), que defendiam um
Estado forte, centralizado e com
presença marcante em todo o
território nacional.
Um dos teóricos do regime mi­
litar foi o general Golbery do
Couto e Silva. O mapa ao lado,
elaborado em projeção azimutal
com o Brasil no centro, é uma
indicação de como ele pensava
o país.
Fonte de pesquisa: Silva, G. C. Conjuntura
política nacional: o Poder Executivo &
geopolítica do Brasil. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1981. p. 76.
pulação. Além de propiciar ampla varieda­
de de aspectos naturais, que se reflete no
potencial produtivo, um grande território
restringe menos o crescimento demográfi­
co, favorecendo a composição de exércitos
mais numerosos e fortalecidos.
O poderio econômico de um país está
relacionado à sua importância no mercado
global. O poderio militar não se manifesta
apenas na atuação em conflitos armados,
mas também na capacidade de negociação
política internacional. Um bom exemplo
dessa realidade é o fato de o Conselho de
Segurança da ONU (órgão responsável por
arbitrar e adotar medidas para solucionar
desavenças entre países) ter como membros
permanentes as maiores potências militares
do mundo: Estados Unidos, Rússia, China,
Reino Unido e França.
Virtudes e fragilidades
O Brasil pode ser considerado uma potência regional da América do Sul e Latina,
título também postulado pelo México e pela
Argentina. Embora tenha sido um dos últi­
mos países americanos a conseguir a autono­
mia política e tendo como herança colonial
a dependência econômica de
países mais desenvolvidos, o
­
Brasil é um país rico.
A geopolítica dos militares
A economia nacional, for­
brasileiros
temente industrializada e com
um setor agropecuário muito
produtivo, está entre as mais
desenvolvidas do mundo.
N
Apesar de seu vigor econômi­
co ainda não ter se revertido
em benefícios sociais para a
maioria da população, o Bra­
sil tem melhorado sua inser­
ção nas relações internacio­
nais. Isso pode ser verificado
S
pelo alto número de acordos
bilaterais fechados na década
de 2000 e pela participação
0
8 000
de representantes do governo
km
brasileiro em várias reuniões
do G-20, o grupo das maio­
res economias do mundo.
46
4P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 46
3/30/10 9:28:55 AM
Analisando o Brasil por meio
da geopolítica
Uma potência regional
Ainda que o Brasil apresente fragilidades, sua econo­
mia é forte e seu parque industrial é amplo e diversifi­
cado. Há em território brasileiro empresas de todos os
ramos da atividade econômica, o que deixa o país em si­
tuação confortável em relação aos seus vizinhos.
O Brasil produz desde alimentos e tecidos até itens
que requerem altos investimentos em pesquisa e tec­
nologia, como aviões e produtos farmacêuticos; tam­
bém possui grandes empresas de exploração mine­
ral, como a Petrobras e a Vale (antiga Companhia Vale
do Rio Doce). Além disso, há no país uma importante
produção científica e acadêmica, como as pesquisas re­
lacionadas às células-tronco e ao Projeto Genoma. Por­
tanto, no contexto latino-americano, embora enfrente
dificuldades políticas e econômicas, o Brasil é conside­
rado uma potência regional.
CONEXÃO
Itaipu e a produção energética nacional
A Usina de Itaipu, que produz 19,3% da energia
elétrica consumida no Brasil e 87,3% da consumida
no Paraguai, começou a ser projetada na década de
1960, por meio de acordos entre os dois países. Desde
o início do funcionamento da usina, em 1984, a ener­
gia gerada é dividida em partes iguais entre os dois
países, mas o Paraguai consome apenas 5% . Por con­
trato, deve vender o restante à Eletrobrás a preço de
custo, pois, na época da construção, o Brasil financiou
toda a obra, inclusive a parte relativa ao país vizinho.
Em 2009, o então presidente do Paraguai colocou em
xeque os acordos firmados inicialmente e questionou
a política brasileira na região.
ƒƒ Onde você mora existe alguma usina de geração de
energia elétrica? Pesquise de onde vem a energia
que você consome.
>
A grandeza territorial, a faixa fronteiriça e litorânea, o
elevado número de habitantes, a predominância da língua
portuguesa e os fartos recursos hídricos e minerais, são
atributos que possibilitam ao Brasil manter uma posição
de destaque na América Latina.
Apesar de facilitar as trocas comerciais com os paí­
ses vizinhos, a grande linha fronteriça traz dificuldades
para as forças armadas fiscalizarem toda a sua exten­
são. Tal fato deixa o território vulnerável a ações ilícitas,
como o tráfico de drogas proveniente de países vizinhos
e o contrabando de mercadorias. O controle sobre os
crimes ambientais nas regiões privilegiadas em rique­
zas naturais, sobretudo na região Amazônica, também
é bastante frágil. A chamada biopirataria, retirada ile­
gal de matéria-prima de nossas florestas para o registro
de patentes em outros países é uma das consequências
dessa realidade.
Usina hidrelétrica de Itaipu (PR), 2002.
Saiba mais
o gasoduto brasil-bolívia
70°O
BOLÍVIA
PERU
LA PAZ
60°O
50°O
DF
Cuiabá
40°O
BA
BRASÍLIA
MT
Santa Cruz
de la Sierra
GO
MG
Corumbá
MS
SUCRE
OCEANO PACÍFICO
C
Trópico de
ES
Campinas
PARAGUAI
apricórnio
20° S
SP
Campo Grande
RJ
São Paulo
ASSUNÇÃO
PR
SC
CHILE
RG
Curitiba
Joinville
OCEANO
Itajaí
Florianópolis ATLÂNTICO
Criciúma
Porto Alegre
ARGENTINA
URUGUAI
30° S
0
500
km
Diante da necessidade de diversificar suas fontes ener­
géticas, o Brasil estabeleceu acordos com a Bolívia para a
importação de gás natural, e para isso construiu um ga­
soduto entre os dois países. No início do século XXI, com
a chegada de um novo governo, a Bolívia questionou o
preço do gás pago pelo Brasil, exigindo a sua elevação. O
fato chegou a afetar o fornecimento de gás, mas as ne­
gociações avançaram e o fornecimento foi restabelecido.
Como o Brasil dispõe de outras fontes energéticas e im­
portantes reservas de gás foram descobertas, a depen­
dência em relação ao gás boliviano tende a diminuir.
Fonte de pesquisa: Gasnet. Disponível em:
<http://www.gasnet.com.br/gasnet_br/gasoduto/Gasbol.ASP>
Acesso em: 22 maio 2009.
47
4P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 47
3/30/10 9:28:57 AM
4
A geopolítica no Brasil
A geopolítica amazônica
Leia
Novas geopolíticas,
de José William
Vesentini. O
geógrafo faz uma
releitura dos
pressupostos da
geopolítica e a
contextualiza, como
disciplina, desde os
anos 1980 até os
momentos atuais.
Amazônia,
Amazônias, de
Carlos Walter Porto
Gonçalves. Fruto
de mais de duas
décadas de pesquisa,
o livro apresenta um
retrato profundo da
Amazônia. Questões
contemporâneas
latentes são
apresentadas
numa perspectiva
que nos permite
compreender a
importância da
região Amazônica
para o país e para
o mundo.
Tendo em vista a importância da região
Amazônica no mundo atual, é necessário fazer uma caracterização geral para evidenciar
seus principais aspectos geopolíticos.
O dimensionamento da grandeza da área
ocupada pela floresta Amazônica fornece
elementos fundamentais para abordar as
questões geopolíticas que a envolvem. São
mais de 5,5 milhões de km² de área, dos
quais cerca de 60% encontra-se em território nacional. O restante estende-se pelo território de vários países: Bolívia, Colômbia,
Equador, Peru, Venezuela, Guiana, Guiana
Francesa e Suriname.
A porção brasileira é denominada Amazônia Legal e abrange, além dos sete estados
da Região Norte, o Mato Grosso e algumas
porções do Maranhão.
Amazônia: riquezas,
conflitos e problemas
A floresta Amazônica, além de ser a maior
floresta equatorial do mundo, é constituída
por uma rica diversidade de espécies da fauna e da flora e por uma imensa rede de recursos hídricos. Essa riqueza natural é complementada por outros recursos de grande
interesse econômico, como as jazidas minerais de ferro, manganês, ouro, bauxita, cobre, petróleo, etc.
Em grande parte por causa da Amazônia,
o Brasil é considerado detentor de uma megadiversidade e divide essa posição com outros poucos países. A grande biodiversidade da Amazônia é garantida pela abundante
quantidade de espécies associadas ao endemismo, isto é, à quantidade de espécies exclusivas da região.
Todo esse potencial coloca a Amazônia
no centro da geopolítica global. O grande
conjunto de recursos é foco de cobiça nas
mais diversas escalas e, nesse contexto, em
conjunto com a biopirataria ocorre a apropriação indevida dos conhecimentos tradicionais dos povos locais.
A convivência com os nativos e a com­
preen­­são de seu relacionamento com a natureza possibilitam verificar na prática os resultados da utilização de espécies que despertam
interesse, aumentando a viabilização de pesquisas acadêmicas ou para fins comerciais.
Todo o potencial econômico contido na
diversidade da Amazônia fomenta iniciativas internacionais que visam estabelecer
meios indiretos de influência sobre os recursos da região. São tratados e acordos que
versam sobre as mais diversas questões relativas à floresta equatorial, mas que também
trazem em seu bojo temores relacionados à
capacidade do Estado brasileiro de gerir seu
próprio território.
Saiba mais
A luta de um homem da floresta
O líder seringueiro Chico Mendes foi uma
das principais vozes a denunciar a devastação da Amazônia. Por suas ações, foi reconhecido nacional e internacionalmente.
Percorreu o mundo defendendo a causa
dos povos da floresta e recebendo prêmios
por suas ações. Mesmo diante de pressões e
ameaças, continuou a questionar o predatório modelo de desenvolvimento praticado na
região.
Em dezembro de 1988, foi morto com tiros de escopeta nos fundos de sua casa. Era
o trágico fim da saga de um homem corajoso
e comprometido com a defesa da floresta e
dos trabalhadores.
Além de Chico Mendes, muitos outros
morreram defendendo essa mesma causa.
Chico Mendes no Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Xapuri (AC), 1988.
48
7P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 48
20.04.10 15:34:40
As questões fronteiriças da Amazônia
As fronteiras da Amazônia constituem um
dos pontos mais importantes na questão geopolítica local. A imensa extensão de fronteira externa ocupada pela floresta fechada
dificulta sua fiscalização e sua defesa. Visualmente, é quase impossível determinar os limites territoriais entre os países amazônicos,
o que exige investimentos em equipamentos
como radares e aviões. Por isso, o governo
brasileiro colocou em operação, no início da
década de 2000, o Sistema de Vigilância da
Amazônia (Sivam), criado ainda nos anos
de 1990, e o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam). O primeiro tem como objetivo
controlar o espaço aéreo sobre a Amazônia
e ampliar a presença das Forças Armadas na
região; o segundo promove o levantamento
de informações que subsidiam as ações de
proteção da Amazônia.
Com exceção de momentos pontuais na
história do Brasil, a exemplo do Ciclo da
Borracha, a Amazônia passou a mobilizar
políticas estatais efetivas apenas a partir do
século XX, sobretudo durante a vigência da
ditadura militar.
Segundo os militares, era preciso integrar
o território para não entregá-lo aos inimigos. Assim, foram criadas a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia
(Sudam) e a Superintendência da Zona
Franca de Manaus (Suframa). Essas ações
resultaram em obras públicas, como a rodovia Transamazônica e infraestrutura para
viabilizar a Zona Franca de Manaus.
O capital externo também financiou o
desenvolvimento regional e, em contrapar-
tida, a exploração de minérios foi aberta às
empresas estrangeiras, o que impulsionou,
em conjunto com investimentos nacionais,
grandes projetos extrativos, como o Grande Carajás.
A Amazônia
contemporânea
A questão amazônica continua em pauta, pois suas riquezas, sua cultura e seus recursos hídricos despertam a constante cobiça de pessoas, que agem por conta própria
ou em nome de corporações. A busca pelo
lucro, seja pela exploração de matérias-primas, ou pela ampliação das terras destinadas à agropecuária, é mantida à custa de
desmatamentos e tensões sociais. Como
consequência do agravamento desses problemas, abrem-se pretextos para proposições como a participação da comunidade
internacional no gerenciamento da floresta,
que colocam em xeque a integridade da soberania nacional.
A Amazônia possui, ainda hoje, diversas
terras indígenas, cujas áreas precisam ser
protegidas para não serem dilapidadas por
ações predatórias. A reserva Raposa Serra do Sol (1,7 milhão de hectares), em Roraima, é um bom exemplo. Demarcada em
1998 e reconhecida oficialmente em 2005,
só foi homologada por decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF) em 2009. Os mais
de 18 mil indígenas que ali vivem tiveram
assegurados seus direitos diante dos fazendeiros plantadores de arroz que se haviam
instalado no território indígena.
Assista
Ambientado na
Amazônia, o filme
Brincando nos
campos do Senhor
(1991) mostra
a tentativa de
catequização dos
povos indígenas
Nianura por
missionários
evangélicos
estadunidenses.
Apresenta os
conflitos decorrentes
das relações entre
os nativos, o poder
político local, a igreja
e os missionários.
O drama, dirigido
por Hector Babenco,
é baseado no
livro homônimo
do escritor Peter
Matthiessen.
Grande Carajás
51°O
Ouro
Prata
Ferro
Níquel
Manganês
Platina
Paládio
Cobre
48°O
MARANHÃO
PARÁ
Marabá
s
c
s
Para
uap
eba
It
a
Rio
a
ún
ai
6°S
Eldorado
dos Carajás
TOCANTINS
Rio
Ri
o
a j á s
C a r
n
aiú
as
s
d o
c
Ita
S e
r r a
e
et
at
o
Ri
C
Parauapebas
0
35
km
Altitude
(metros)
800
500
200
100
0
Fonte de pesquisa: Santos,
B. A. dos. Recursos minerais
da Amazônia. In: Estudos
Avançados. v. 16, n. 45
maio/ago. 2002.
49
4P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 49
30.03.10 15:23:22
Presença indígena
São Gabriel da Cachoeira: uma cidade diferente
Uma grande cobra vinda de muito longe, do
começo do mundo. Uma grande cobra-canoa, subindo pelo fundo do rio, saindo pelo buraco das
pedras e vomitando as pessoas que estavam dentro
dela. Esse povo formou uma aldeia, que se comunicava com as outras aldeias que também saíram
da Cobra Grande. Assim o mundo foi habitado e
encheu-se de lugares e histórias sagradas.
Essa pequena história é o resumo do mito de
criação de muitos povos indígenas que habitam
o estado do Amazonas. Narrado de diferentes
maneiras conforme cada povo, a história da Cobra Grande conta como se formou a região onde
atual­mente convivem 23 povos indígenas diferentes, com idiomas pertencentes a três troncos linguísticos: Maku, Aruak e Tukano. Esses grupos se
espalham por mais de quinhentas comunidades
em São Gabriel da Cachoeira, o “município mais
indígena do país”.
São Gabriel é parecida com outras cidades do
país, mas com uma grande diferença: 90% de seus
habitantes são indígenas. E jovens: metade da população tem até 19 anos. Em São Gabriel, eles têm
muitos costumes dos jovens de outros centros urbanos: andam de skate e de bicicleta, praticam esportes, usam o computador e procuram se vestir
seguindo a moda. Há grupos de street dance e de
quadrilha de festa junina formados só por indígenas. E casamentos entre índios e não índios são
comuns.
No ginásio da cidade, as festas misturam carros
alegóricos e fantasias coloridas com as tradicionais
danças e ritos da região, num impressionante espetáculo. Rodeadas pelas corredeiras do rio Negro, nos fins de semana as “praias” da cidade se
enchem de guarda-sóis, onde indígenas e não indígenas ouvem música alta, fazem churrasco e levam os filhos para passear.
Localizada na região chamada de Cabeça do
Cachorro, no Alto Rio Negro, São Gabriel é um
dos maiores municípios do país, com área maior
que a de Pernambuco. Para chegar lá, algumas horas de avião desde Manaus ou vários dias de barco. O barco é quase o único meio de transporte,
pois há poucas estradas ou pistas de pouso nas comunidades. De barco se vai a todas.
A chegada dos não índios
Olhando do alto, é como se o rio Negro fosse
mesmo uma grande cobra que vai se embrenhando pela floresta, abrindo caminho para barcos e
homens.
Os primeiros registros da região datam de 1639,
quando a expedição do bandeirante Pedro Teixeira atravessou o rio onde hoje é a fronteira entre
Brasil e Colômbia. Nos três séculos seguintes, a
história da região é parecida com muitas outras
da América: exploração comercial e guerras por
território, escravidão indígena, extinção de povos
inteiros e migração em massa. Em razão do isolamento, porém, as mudanças foram bem menos intensas que em outros lugares. Só a partir de 1914,
com a chegada das primeiras missões católicas dos
padres salesianos, os modos de vida dos indígenas
começaram a sofrer visíveis mudanças.
A chegada dos salesianos ajudou a combater
a semiescravidão em que muitos grupos indígenas viviam. No entanto, alterou profundamente
seu modo de vida, já que os religiosos buscavam
eliminar as manifestações culturais desses povos.
Os missionários proibiam os índios de falarem sua
língua, de morarem em suas casas coletivas e de
manterem suas formas de religiosidade.
Outra importante atuação missionária na região
foi a Missão Novas Tribos do Brasil, que, a partir
da década de 1950, pregou o protestantismo entre diversos grupos e formou dezenas de pastores
indígenas. Os missionários protestantes são muito
determinados em seu esforço para mudar o modo
de vida dos povos indígenas.
Além da mudança nas relações dentro das comunidades, as missões religiosas contribuíram
para aumentar a dependência dos indígenas
das “coisas do branco”. Com a chegada dos
pregadores, muitos grupos nômades passaram a viver perto das missões, num processo
de sedentarização e de concentração populacional que alterou profundamente o modo
de vida indígena.
A caça e a pesca começaram a ficar escassas,
e os indígenas passaram a ter de ir muito longe para conseguir comida e material para fazer suas casas. Como os religiosos têm recursos, mandam vir de fora comida, materiais de
> Apresentação no Festival das Tribos do Alto Rio Negro –
Festribal, em São Gabriel da Cachoeira, 2009.
50
7P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 50
12.04.10 16:14:45
construção, ferramentas, roupas e demais objetos,
aumentando a dependência dos índios em relação
às missões. A situação piora quando os indígenas
ficam doentes, já que o contágio se alastra mais rapidamente com a proximidade de muitas pessoas
em torno das missões. Ou seja, quanto mais catequizados, mais os indígenas ficam dependentes
do mundo de fora.
Nas décadas de 1970 e 1980 esse processo de
mudança se ampliou com a chegada dos os militares para implementar o Plano de Integração Nacional e o Projeto Calha Norte. A militarização trouxe
também um grande número de não indígenas, tanto militares como trabalhadores do Nordeste para
as construções. Em 1983 foi descoberto ouro na região, o que também atraiu muitos migrantes.
Essa movimentação foi responsável por uma
grande explosão demográfica e econômica em São
Gabriel. Em 1980, a população urbana era de menos de 4 mil pessoas. Em 2006 já ultrapassava
15 mil. Só 10% são não índios. A forte predominância indígena se deve ao êxodo de comunidades
para o meio urbano, já que, a cada dia, mais indígenas se viam dependentes de muitas “coisas do branco”: escolas, hospital, produtos industrializados.
Em busca de soluções
Religiosos católicos e evangélicos, comerciantes, garimpeiros e militares; migrantes do Brasil
e de países da América Latina, todos convivem
lado a lado com a população indígena. A cidade
tem como línguas correntes, além do português, o
nheengatu e o tukano.
Mas essa proximidade não significa igualdade.
A falta de respeito com o indígena e sua cultura
ainda está muito presente na cidade. No comércio local e nos órgãos públicos, os indígenas são
atendidos sempre depois dos não índios e tratados
sem atenção. Os valores reproduzidos pelo exército e pelos migrantes de outras regiões desqualificam os costumes indígenas como atrasados e
sem serventia. Muitos religiosos continuam a impor uma crença que vê o modo de vida indígena
como algo a ser combatido.
Mas os índios se mobilizam para superar as
condições adversas e têm conquistado cada vez
mais protagonismo poLOCALIZAÇÃO DE SÃO
lítico, inclusive conseGABRIEL DA CACHOEIRA
guindo a demarcação
de várias terras indígenas. Destaca-se a FedeSão Gabriel
da Cachoeira
ração das Organizações
AMAZONAS
Indígenas do Rio Negro (FOIRN), que reúne mais de 70 organizações que desenvolvem
trabalhos de valorização
cultural e defesa dos inOCEANO
teresses e dos direitos
ATLÂNTICO
das comunidades. Pro0
920
km
jetos de valorização do
artesanato tradicional,
de criação de peixes, de fortalecimento das línguas indígenas e outros têm sido desenvolvidos
para melhorar a vida nas inúmeras comunidades
distribuídas pelos rios que cortam o município.
Essa atuação visa também fazer com que as pessoas possam viver bem nessas comunidades e não
migrem para a cidade.
De São Gabriel têm saído propostas inovadoras
de uma educação diferenciada para os povos indígenas. Têm sido elaborados currículos próprios e
materiais didáticos em línguas indígenas, valorizando conhecimentos e práticas tradicionais. Esse
material serve de modelo para outros municípios.
Há vários índios estudando em universidades de
grandes centros do país e existe um projeto do
primeiro campus universitário em terra indígena.
Foi em São Gabriel que, em 2008, pela primeira
vez foram eleitos indígenas para os cargos de prefeito e vice-prefeito. O município mais indígena
do Brasil tem mostrado que é possível conviver de
modo positivo com a diversidade cultural. Sem dúvida, um bom exemplo para todos os não índios.
70ºO
60ºO
50ºO
40ºO
Equador
0º
10ºS
20ºS
e
Trópico d
nio
Capricór
OCEANO
PACÍFICO
30ºS
Acesse
<www.saogabrieldacachoeira.am.gov.br>
Site da Prefeitura Municipal, com informações e notícias
sobre a cidade.
<www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2136>
Página do Instituto Socioambiental sobre São Gabriel da
Cachoeira, com informações e fotos.
Para discutir
1. Com base nas informações contidas no texto, reflita sobre o processo pelo qual passaram
muitos grupos indígenas de São Gabriel, que deixaram de levar uma vida autônoma na floresta,
passaram a um modo de vida dependente de ajuda exterior e do sistema monetário e hoje
estão envolvidos em processos de valorização cultural e afirmação de suas identidades
indígenas. Discuta com seus colegas esses processos.
2.Escolha e comente dois aspectos citados no texto que mais chamaram sua atenção sobre o
mundo indígena de São Gabriel.
51
5P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 51
4/6/10 2:16:59 PM
4
A geopolítica no Brasil
As desigualdades regionais
Leia
O Estado e
as políticas
territoriais no
Brasil, de Wanderley
Messias da Costa,
apresenta uma
reflexão a respeito
do processo de
intervenção estatal
no planejamento
territorial brasileiro.
Abrangente e
sintético, o trabalho
realiza esse esforço
numa perspectiva
histórica ampliada,
desde o Império até
o nosso tempo.
Islândia (1º–)
0,968
França (10º–)
0,952
Chile (40º–)
0,867
Rússia (67º–)
0,802
Brasil (70º–)
0,800
China (81º–)
Índia
0,777
(128º–)
Medindo as desigualdades
O Índice de Desenvolvimento Humano é
um indicador adotado pela ONU para ava­
liar a qualidade de vida de uma população.
Para isso, três variáveis são utilizadas: edu­
cação, expectativa de vida e nível de renda.
Seus resultados podem ser aferidos nas es­
calas nacional, estadual e municipal.
No Brasil, a coleta de dados é realizada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Esta­
tísticas (IBGE).
Como o IDH é composto por médias es­
tatísticas e a realidade social no Brasil é mui­
to heterogênea, é preciso analisá-lo com res­
salvas, para evitar distorções. E, embora nos
últimos anos o país tenha alcançado um ní­
vel de desenvolvimento humano considera­
do elevado, isso não corresponde à realida­
de vista em todo o território e nas diferentes
classes de uma mesma região.
Ranking do IDH regiões brasileiras (2007-2008)
Ranking do IDH (2007-2008)
Serra Leoa (177º–)
A polarização em torno da região Sudes­
te começou a se formar a partir da conso­
lidação da economia cafeeira entre os sé­
culos XIX e XX, que forneceu as bases para
o desenvolvimento industrial, principal­
mente no estado de São Paulo. Nas últimas
décadas tem-se verificado um movimen­
to de desconcentração das atividades in­
dustriais rumo a outras regiões brasileiras.
Essa tendência, de certa forma, fortalece a
integração nacional, pois abre novas frentes
de desenvolvimento sem levar à desarticu­
lação do dinamismo econômico do Sudes­
te, já que muitas das indústrias que migra­
ram para outras regiões mantiveram nesta
as suas sedes administrativas.
A integração nacional é um bom parâme­
tro para analisar a organização espacial do
país. É ainda um fator vinculado aos fluxos
econômicos inter-regionais que evidenciam
aspectos do desenvolvimento brasileiro. En­
tre esses aspectos destacam-se as desigualdades regionais.
O desenvolvimento não uniforme do
país está relacionado, entre outras razões,
à sua grande extensão territorial. Determi­
nar a origem histórica das desigualdades re­
gionais não é tarefa fácil, pois se trata de
um processo complexo, resultante da com­
binação de contrastes naturais, articulações
políticas e da dinâmica econômica, que se
transformou muito desde o início da colo­
nização portuguesa.
A integração entre as regiões tende a se
constituir a partir da expansão da área de influência de uma região hegemônica, que pas­
saria a envolver as demais. Esse processo ma­
nifesta-se com a formação de redes de comuni­
cação e transportes entre as diferentes regiões
do país, intensificando a circulação de capitais,
mercadorias e pessoas. O controle desse fluxo
cabe, sobretudo, a agentes situados na região
considerada hegemônica.
Atualmente, a região Sudeste do Brasil de­
sempenha o papel de líder na formação do
mercado interno; são as demandas nela ge­
radas que resultam na ocupação dos espaços
econômicos mais importantes do país. Por
isso, o Sudeste é o termômetro das discussões
sobre a economia e o desenvolvimento nacio­
nal. Os dados sobre o seu desempenho eco­
nômico são sempre usados como referência
para a avaliação do restante do país.
0,619
0,336
0,800
0,750
0,700
Sul
Centro-Oeste
Nordeste
Sudeste
Norte
0,650
0,600
5
1
3
91 993 995 997 999 00 00 00
2
1
2
2
1
1
1
19
Fonte dos dados: PNUD. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/pobreza_
desigualdade/reportagens/index.php?id01=2823&lay=pde>.
Acesso em: 27 maio 2009.
Fonte dos dados: PNUD. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/pobreza_
desigualdade/reportagens/index.php?id01=3038&lay=pde>.
Acesso em: 27 maio 2009.
52
4P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 52
3/30/10 9:29:01 AM
A ação estatal
Em vários momentos da história, o Esta- As ações territoriais da
do brasileiro lançou mão de medidas polítiditadura militar
cas e econômicas com o objetivo de atenuar
Durante a ditadura militar foram realias desigualdades regionais no país.
zadas
intervenções estatais, como a consNo início do século XX, com base nas intrução
da Usina Hidrelétrica de Itaipu e da
formações de que a seca era o principal moPonte
Rio-Niterói.
Em 1970, foi lançado o
tivo do subdesenvolvimento do Nordeste,
Plano
de
Integração
Nacional (PIN), que
foi criada a Superintendência de Estudos
congregava
investimentos
na abertura de
e Obras contra a Seca, atual Departamento
rodovias.
A
mais
destacada
foi a TransamaNacional de Obras contra a Seca (DNOCS).
zônica,
idealizada
para
interligar
a Paraíba
Para a Amazônia foi criada em 1912 a Suao
Acre,
possibilitando
assim
a
migração
de
perintendência de Defesa da Borracha,
quando a base da economia local era a explo- nordestinos para a Amazônia.
Foram lançados os Planos Nacionais de
ração do látex, matéria-prima da borracha.
Diferentemente das intervenções pon­tuais Desenvolvimento (PNDs) e os polos de dedo início do século passado, ações mais abran­ senvolvimento, como o Poloamazônia, o
gentes e estruturadas por amplas operações Polocentro e o Polonoroeste, que incentino território marcaram os governos de Ge- vavam a exploração mineral e projetos agrotúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e dos pre- pecuários direcionados à exportação.
sidentes militares, estendendo as fronteiras
do desenvolvimento econômico para todas Os regimes democráticos
Os governos civis brasileiros continuaram
as regiões do país.
Durante o governo Vargas, foram criadas com a ideia de reduzir as desigualdades reempresas estatais como a Companhia Side- gionais. Os primeiros governos não fizeram
rúrgica Nacional, a Eletrobrás e a Petrobras, grandes alterações estruturais, mas Fernando
que, apesar de sediadas na Região Sudeste, Henrique Cardoso privatizou empresas, tenserviram para alavancar a produção nacio- do como objetivo a redução do papel do Esnal e atuam hoje, direta ou indiretamente, tado em todos os setores. No governo Lula, o
em diversas partes do território brasileiro.
Estado ampliou sua atuação em obras públiNo governo de JK foi implantado o Pla- cas, sobretudo com o lançamento do Prograno de Metas, cujo lema era desenvolver o ma de Aceleração do Crescimento (PAC), um
Brasil “cinquenta anos em cinco”. Um con- conjunto de obras para gerar novo estímulo
junto de obras estava contemplado, com ao desenvolvimento econômico e social.
investimentos em todos
os setores de infraestrutuO PAC na Região Norte
ra, o que incluía a cons70°O
60°O
50°O
VENEZUELA
trução de uma nova capiGuiana
Francesa
tal. JK promoveu também
SURINAME (FRA)
BR-156-AP
Boa Vista
COLÔMBIA
a entrada de capitais esGUIANA
RR
trangeiros destinados ao
AP
porto de
Equador
Macapá
desenvolvimento de seSantarém - PA
BR-230-PA
tores produtivos, como a
Belém
indústria automobilística.
Manaus
BR-364-AC
40°O
OCEANO
ATLÂNTICO
0°
porto de Vila do
Conde - PA
PA
AM
CE
MA
terminais hidroviários na
Amazônia - AM-PA
eclusa de
Tucuruí - PA
BR-163-MT-PA
PI
AC
PERU
Rio
Branco
Porto
Velho
BR-319-AM
Palmas
TO
RO
Obra rodoviária – adequação / duplicação
Fonte de pesquisa: Departamento
Nacional de Infraestrutura de
Transportes. Disponível em:
<http://www.dnit.gov.br/noticia_
imagens/pacnorte_RegiaoNorte.jpg>.
Acesso em: 30 jun. 2009.
Obra rodoviária – construção / pavimentação
PE
10°S
ferrovia Norte-Sul - TO
BA
MT
Obra hidroviária
Obra portuária
Obra ferroviária
Rodovia
BOLÍVIA
DF
GO
MG
0
352
km
53
7P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 53
4/21/10 1:55:55 PM
4
A geopolítica no Brasil
A construção de Brasília e
a geopolítica nacional
Leia
A capital da geopolítica, de José William
Vesentini. Partindo da geopolítica sem,
todavia, se restringir a esse domínio, o autor
aponta de maneira ímpar o processo que
guiou a escolha de Brasília para sediar a
nova capital federal.
Assista
O documentário Conterrâneos velhos de
guerra (1991), dirigido por Vladimir Carvalho,
traz os depoimentos dos trabalhadores
que migraram do Nordeste para construir
Brasília. Os testemunhos mostram as
precárias condições de trabalho a que eram
submetidos esses operários.
Mudar a capital federal para uma área interiorana era um projeto
antigo, elaborado ainda no século XIX. José Bonifácio, por exemplo,
defendia a transferência da capital da cidade do Rio de Janeiro para
a cidade de Paracatu, no norte de Minas Gerais. Em 1891, a mudança da capital foi formalizada em dois artigos da Constituição recém-adotada.
Em 1892, Floriano Peixoto, então presidente da República, formou
a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, que ficou
conhecida como Missão Cruls, por conta do astrônomo belga Louis
Ferdinand Cruls, chefe da missão que demarcou a área destinada à
criação de uma nova capital para o país.
Saindo da cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, Cruls e sua
equipe de pesquisadores realizaram um minucioso trabalho de investigação que envolveu também estudos relativos às condições climáticas,
à fauna e à flora e a outras características da geografia local.
JK: a Constituição e a vontade política
Não obstante seu ambicioso plano de governo – o Plano de Metas –,
o governo de JK ficou marcado pela construção da cidade de Brasília.
Muitos não acreditavam que a empreitada fosse adiante, mas as articulações do governo obtiveram sucesso e, em 1956, o Congresso brasileiro aprovou a lei que criava a Companhia Urbanizadora da Nova
Capital (Novacap). O órgão seria o responsável pela construção da
nova capital.
A nova capital: geopolítica e nacionalismo
A construção de Brasília surgiu não apenas como um símbolo do progresso econômico mas também como fruto de uma concepção estratégica de que a localização é um fator de proteção. Antes porém a capital foi
sediada em Salvador e depois no Rio de Janeiro, cidades litorâneas, que
teoricamente são mais vulneráveis a ataques
estrangeiros em eventuais conflitos, por faciBrasília — Plano piloto
litar a aproximação de invasores.
O deslocamento da base do poder nacional para o centro do país também propiciaPenínsula
ria mais proteção à soberania nacional, por
possibilitar maior coesão territorial, integrando regiões distantes e aproximando o
governo federal das zonas mais isoladas,
Lago Paranoá
situadas nas regiões Centro-Oeste e Norte.
Como grande parte das áreas pouco
ocupadas coincidia justamente com a faixa
de fronteira, entendia-se como tarefa funRasgado
damental aumentar a presença do Estado e
promover a ocupação nessas regiões, o que
seria viabilizado pela realocação da capital
Gama
Centro político e
administrativo
federal para o Planalto Central.
Edificação pública
Dom Bosco
e embaixada
Além disso, o deslocamento da capital
Zona residencial
expressa
uma estratégia de neutralização
Zona industrial
Aeroporto
das manifestações das massas, muito co0
3
Avenida
km
muns na cidade do Rio de Janeiro naqueBandeirante
ème
la época.
Fonte de pesquisa: Atlas du 21 siècle. Paris: Nathan, 2006. p. 140.
54
7P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 54
4/8/10 12:18:29 PM
Brasília: modernidade
e distanciamento
Quando o projeto para a construção de Brasília
começou a avançar, tanto os políticos como parte
da intelectualidade brasileira, principalmente engenheiros e arquitetos, passaram a vislumbrar a
construção de uma nova capital, baseada na arquitetura moderna, em pleno interior do país.
Mas o novo Distrito Federal também trazia consigo uma questão de suma importância: o distanciamento da administração pública federal em relação à sociedade. Apesar de integrada à ideia de
facilitar a migração para as regiões Centro-Oeste e
Norte, a capital recém-instalada ocupava uma área
praticamente desabitada e distante da maioria da
população.
Após a construção de Brasília, começaram a se
formar as cidades-satélites ao redor do Plano Piloto, núcleo original do Distrito Federal. Nas cidades-satélites fixaram-se os candangos, trabalhadores, em geral nordestinos, que migraram para
Brasília a fim de trabalhar nas obras durante a implantação do projeto. Concluída a grande obra,
não havia um plano de assentamento definitivo
desses migrantes. Com isso, eles deram origem a
formações urbanas desordenadas, que contrastavam fortemente com o planejamento e a racionalidade do Plano Piloto.
O projeto urbanístico de Brasília foi criado por
Lúcio Costa. Oscar Niemeyer projetou os principais
edifícios. Seu estilo é marcado pelo uso do concreto
armado, empregado na configuração de formas curvas, e pela valorização da monumentalidade.
Os ideais geopolíticos e a inovação artística das
edificações resultaram em um conjunto arquitetônico que hoje, desvinculado ou não da simbologia
original, constitui uma das principais atrações turísticas do Brasil.
Palácio da Alvorada >
> Catedral
Palácio do Itamaraty >
> Congresso Nacional
Os problemas atuais
Além de deficiências na infraestrutura urbana,
a cidade apresenta problemas sociais, principalmente nas áreas de saúde, educação e segurança. Agrava esse quadro o abismo socioeconômico
entre o núcleo original e as áreas do entorno, advindo do plano inicial de conduzir o crescimento
urbano por meio de cidades-satélites e da falta de
projetos para acolher a grande massa de migrantes pobres.
Portanto, com cerca de meio século de existência, Brasília vive hoje uma realidade muito semelhante à de outras grandes capitais do país, cujos
problemas o planejamento inicial não foi capaz
de evitar.
Superquadra, edifícios
residenciais >
>
> Palácio do Planalto
conjunto de imagens acima reúne algumas das principais construções
O
projetadas por Oscar Niemeyer para a cidade de Brasília.
55
5P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 55
4/6/10 2:18:07 PM
Informe
Geopolítica da Amazônia
>
De início, cabe uma pequena explanação sobre geo­ zas naturais que a Amazônia contém e também do sapolítica: trata-se de um campo de conhecimento que ber das suas populações tradicionais que possuem um
analisa relações entre poder e espaço geográfico. Foi secular conhecimento acumulado para lidar com o tró­
o fundamento do povoamento da Amazônia, desde o pico úmido. Essa riqueza tem de ser melhor utilizada.
tempo colonial, uma vez que, por mais que quisesse a Sustar esse padrão de economia de fronteira é um im­
Coroa, não tinha recursos econômicos e população para perativo internacional, nacional e também regional. Já
povoar e ocupar um território de tal extensão. Portugal há na região resistências à apropriação indiscriminada
conseguiu manter a Amazônia e expandi-la para além de seus recursos e atores que lutam pelos seus direitos.
dos limites previstos no tratado de Tordesilhas, gra­ Esse é um fato novo porque, até então, as forças exóge­
ças a estratégias de controle do território. Embora os nas ocupavam a região livremente, embora com sérios
interesses econômicos prevalecessem, não foram bem- conflitos. [...]
-sucedidos, e a geopolítica foi mais importante do que
Com as resistências regionais os conflitos na região
a economia no sentido de garantir a soberania sobre a alcançam um patamar mais elevado. Não se trata mais
Amazônia, cuja ocupação se fez, como se sabe, em sur­ apenas de conflito pela terra; é o conflito de uma região
tos ligados a demandas externas seguidos de grandes em relação às demandas externas. Esses conflitos de in­
períodos de estagnação e de decadência.
teresse, assim como as ações deles decorrentes, contri­
A geopolítica sempre se caracterizou pela presença de buem para manter imagens obsoletas sobre a região, di­
pressões de todo tipo, intervenções no cenário interna­ ficultando a elaboração de políticas públicas adequadas
cional desde as mais brandas até guerras e conquistas de ao seu desenvolvimento.
territórios. Inicialmente, essas ações tinham como sujei­
Para que se possa mudar esse padrão de desenvolvi­
to fundamental o Estado, pois ele era entendido como a mento é necessário entender os diferentes projetos geo­
única fonte de poder, a única representação da política, políticos e seus atores, que estão na base dos conflitos,
e as disputas eram analisadas apenas entre os Estados. para tentar encontrar modos de compatibilizar o cresci­
Hoje, essa geopolítica atua, sobretudo, por meio do po­ mento econômico com a conservação dos recursos na­
der de influir na tomada de decisão dos Estados sobre o turais e a inclusão social. Enfim, não se trata de mero
uso do território, uma vez que a conquista de territórios ambientalismo, muito menos de mais um momento
e as colônias tornaram-se muito caras. [...]
destrutivo.
Há, hoje, portanto, dois movimentos internacionais: Becker, Bertha K. Geopolítica da Amazônia. Disponível em: <http://www.
um em nível do sistema financeiro, da informação, do scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000100005>.
Acesso em: 1o out. 2009.
domínio do poder efetivamente das
potências; e outro, uma tendência
ao internacionalismo dos movimen­
tos sociais. Todos os agentes sociais
organizados, corporações, organiza­
ções religiosas, movimentos sociais
etc., têm suas próprias territoriali­
dades, acima e abaixo da escala do
Estado, suas próprias geopolíticas, e
tendem a se articular, configuran­
do uma situação mundial bastante
complexa. [...]
Hoje, o imperativo é modificar
esse padrão de desenvolvimento que
alcançou o auge nas décadas de
1960 a 1980. É imperativo o uso
Imagem aérea da floresta Amazônica que destaca a hidrografia da região, no norte de Mato
não predatório das fabulosas rique­
Grosso, 2007.
Para discutir
1. Com base no texto, o que é possível depreender das dificuldades históricas do Estado brasileiro para manter o
controle sobre a Amazônia?
2.Apresente suas conclusões a respeito da seguinte questão: É possível manter o domínio sobre as terras
amazônicas e preservar seus recursos?
56
4P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 56
3/30/10 9:29:13 AM
Mundo hoje
Japão anula patente do cupuaçu
>
Brasília – Os extrativistas e agricultores dos estados da Amazônia brasileira tiveram ontem [2 de março de 2004]
uma vitória muito significativa no âmbito internacional. A vitória veio com
a derrubada, no Japão, da patente que
[uma] empresa japonesa [...] detinha há
anos do nome cupuaçu, o que impedia
os produtores amazônicos de exportarem essa fruta genuinamente amazônica
para aquele país.
A quebra da patente do cupuaçu no
Japão foi conquistada pelo Ministério
das Relações Exteriores do Brasil, pelos
governos da Amazônia e, em particular,
pelos parlamentares da bancada acriaAgricultora da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé Açu (PA), peneirando sementes de
na no Congresso, como os deputados
cupuaçu. Fotografia de 2003.
Henrique Afonso, Perpétua Almeida,
Zico Bronzeado e outros, que desde o ano passado vêm óleos e gorduras comestíveis que não fossem extraídos
pressionando o governo brasileiro a cobrar nos fóruns do verdadeiro cupuaçu, lesando os consumidores.
Como se pode notar, a questão do nome como painternacionais a anulação das patentes internacionais
impostas aos produtos e matérias-primas originárias da trimônio cultural dos povos da Amazônia (e do Brasil)
foi tratada no primeiro argumento, enquanto o segunAmazônia. [...]
Após a queda da patente do cupuaçu no Japão, resta ao do voltou-se para os direitos universais dos consumidogoverno brasileiro conseguir fazer o mesmo com as paten- res. Uma situação muito clara diante da situação absurda
tes mantidas para o cupuaçu, também pela [mesma em- criada em 1998 e somente descoberta no final de 2002,
presa], na Comunidade Europeia e nos Estados Unidos. quando pequenos produtores reunidos na cooperativa
Em janeiro deste ano, o governo brasileiro e em particular Doces Tropicais descobriram a barreira criada ao tentao deputado Henrique Afonso haviam obtido vitória seme- rem exportar para a Alemanha. Mas ainda fica um alerta.
lhante com o cupulate – chocolate de cupuaçu – que tam- “Com essa decisão encerra-se a via administrativa no Japão, ou seja, nenhum outro recurso administrativo pode
bém foi patenteado pela empresa japonesa. [...]
Os argumentos da ação de cancelamento protocolada ser interposto para invalidar a decisão. É importante noem 20 de março de 2003 foram aceitos integralmente pe- tar que a [empresa japonesa] ainda possui o prazo de
los examinadores do JPO. Em resumo, a ação concentrou trinta dias para apelar ao Tribunal Superior de Tóquio”,
seu foco no terceiro item do parágrafo inicial do artigo afirmam Adriana Vicentin e Esther M. Flesch, parceiras
3 da Lei de Marcas do Japão – que afirma que uma mar- do escritório brasileiro que trabalham em conjunto com
ca não pode ser registrada caso ela indique de for- a equipe japonesa coordenada por John Kakinuki.
O processo administrativo no Japão tornou-se ao
ma descritiva um nome já comum de matérias-primas.
Ao ser utilizada para distinguir óleos e gorduras prove- longo de 2003 um ato simbólico que mobilizou a opinientes da própria fruta da qual são extraídos, a mar- nião pública brasileira em torno da biopirataria, potenca estaria recaindo nessa proibição legal. Finalmente, o cializando outros processos como os debates da nova lei
item de número dezesseis do parágrafo inicial do artigo de bioprospecção, os posicionamentos do governo em
4, dessa mesma lei, indica que uma marca não pode le- acordos internacionais, os diálogos entre pesquisadores
var o público ao erro relativo à qualidade de produtos ou e movimentos sociais e a própria autoestima das comuserviços que distingue. Esse foi um dos pontos brilhan- nidades tradicionais e indígenas. [...]
tes do argumento, ao apontar o risco de que o nome ex- Aquino, Romerito. Japão anula patente do cupuaçu. Disponível em: <http://www2.
clusivo como marca pudesse ser usado até para indicar uol.com.br/pagina20/03032004/c_0103032004.htm>. Acesso em: 1o out. 2009.
Para elaborar
1. Pesquise outros casos de produtos nacionais que foram patenteados por outros países.
2.Discuta o assunto com seus colegas e escreva um texto sobre a importância do combate à biopirataria.
57
6P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 57
4/7/10 4:10:56 PM
command na caixa com texto
transparente abaixo
4
A geopolítica no Brasil
Atenção: não escreva no livro.
Responda a todas as questões
em seu caderno.
Atividades
Revendo conceitos
1. O que caracteriza um país que se identifica como
potência regional?
12. O mapa pictórico a seguir apresenta os países latino-americanos.
2. Cite dois fatores relacionados à geopolítica e contextualize a importância de cada um.
3. Quais os pontos fracos mais visíveis das fronteiras
nacionais?
4. Que áreas são abrangidas pela Amazônia Legal?
5. O que é um país megadiverso? Quais fatores explicam essa característica?
6. Contextualize a questão das fronteiras externas da
Amazônia.
7. Qual o papel do capital internacional na exploração
dos recursos minerais na Amazônia? Quando sua
participação passou a ter mais vigor?
8. Diferencie as ações territoriais pontuais adotadas
pelo Estado brasileiro das intervenções associadas
a um projeto mais amplo.
9. O que foram o PIN e os PNDs? Qual a importância
desses projetos?
10. Quando Brasília foi construída? Explique a importância da nova capital para a geopolítica brasileira.
Lendo mapas e tabelas
11. Uma das questões mais debatidas ao longo da história do Brasil é a desigualdade regional presente no
país. Analise a tabela a seguir e faça as atividades.
Distribuição percentual do Produto Interno Bruto
(PIB) por macrorregiões (1960-2004)
1960
1970
1980
1990
2000
2004
Norte
2,2
2,3
3,3
4,9
4,6
5,3
Nordeste
14,8
12
12,2
12,9
13
14,1
Sudeste
62,8
65
62,1
58,8
57,5
54,9
Sul
17,8
17
17,3
18,2
17,7
18,2
Centro-Oeste
2,4
3,7
5,1
5,2
7,2
7,5
a)Por que o Brasil se destaca no mapa?
b)Relacione esse destaque com a posição assumida
pelo Paraguai no pedido de revisão dos acordos
referentes à Usina Hidrelétrica de Itaipu.
Interpretando textos e imagens
a)Separe as regiões brasileiras em dois blocos,
agrupando no primeiro as regiões com baixo
percentual do PIB e no segundo as regiões com
alto percentual do PIB.
b)Escolha uma região de cada grupo e apresente
argumentos que corroborem sua situação econômica.
>
Fontes dos dados: FGV (1960) e IBGE, para 1970 a 2000; para 2004,
Guilhoto, Joaquim J. M. et al. O agronegócio familiar no Brasil e nos seus estados.
Disponível em: <http://www.pronaf.gov.br/dater/arquivos/1500515330.doc>.
Acesso em: 6 nov. 2009
Ponte Juscelino Kubitschek, em Brasília.
58
5P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 58
4/6/10 2:24:07 PM
13. Observe a imagem da página anterior e leia com
atenção a letra da música A ponte. A seguir, responda
às questões.
Então, então, então na sua opinião, Lenine,
Tá normal ou existe crime?
Se souber o caminho de rocha, me aponte
[...]
(quem foi?)
O projeto é do arquiteto Alexandre Shan
(comprasse, pagasse?)
Todas as contas foram aprovadas pelo TCU
(me diz quanto foi)
164 milhões de reais
É... bota fé...
A ponte
Lenine/Gog
[...]
Eu já atravessei a ponte do Paraguai
Um filme inspirou a ponte do rio que cai
É sucesso em Campinas e na voz dos Racionais
Mas a ponte da capital é demais
Projetada pra aproximar
Do centro o São Sebastião, o Lago e o Paranoá
Desafogaram o tráfego na região
Visitantes de chegada, nova opção
Fique ligado, acompanhe passo a passo
Condomínios luxuosos de todos os lados
O Congresso e o Planalto colados
“Aqueles barraco ali, ó, vão ser retirados”
A ponte é luxo, nada é mono, só estéreo
Mil e duzentos metros, louco visual aéreo
Quem sobe só pra regular a antena
Reforça as pontes safena
Lenine. Acústico MTV. Sony BMG, 2008. Disponível em <http://
www.buscarletras.com.br/gog/letra-eu-e-lenine-a-ponte.html>.
Acesso em: 1o out. 2009.
a)Com base na letra da canção, a ponte de Brasília­
beneficia sobretudo as pessoas de que classe
social? Justifique sua resposta com pelo me­
nos dois elementos do texto.
b)Há na canção versos que se referem às cama­
das populares de Brasília. Como elas são rela­
cionadas à obra?
c)No fim da canção, há uma referência às despesas
com a ponte. Qual é a impressão que os autores
transmitem a respeito desses gastos?
14. Analise a imagem de satélite para resolver as ques­
tões a seguir.
A ponte começou depois mas terminou
Bem antes que as obras do metrô
Quem mora fora do avião
Bate palma, aplaude, apoia, pede diversão
A ponte é muito, muito iluminada
O pôr do sol numa visão privilegiada
O povo quer passar, vê nela algo místico
A ponte virou ponto turístico
A ponte é um vai e vem de doutor
Tem ambulante, tem camelô
Olha pra baixo, vê jet ski e altos barcos
Olha pra cima, lá estão os três arcos
>
( esse lugar é uma maravilha, no horizonte,
no horizonte)
A ponte saiu do papel, virou realidade
Novo cartão-postal da cidade
Um quer transformar ela em patrimônio
mundial
Um outro num inquérito policial
a)Diferencie o uso do solo nas áreas representa­
das pelos tons de rosa e nas representadas pe­
los tons de verde.
b)Deduza por que na imagem de satélite as áreas
rosadas se concentram nas bordas sul e leste.
Imagem de satélite da região Norte do Brasil, 2004.
59
7P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 59
12.04.10 16:16:47
Em análise
Construir e interpretar anamorfoses
A cartografia pauta suas construções em padrões geométricos, ou seja, as imagens retratadas em um
mapa são estruturadas em procedimentos matemáticos.
Todos os mapas apresentam distorções, que variam de acordo com o objetivo do mapa a ser cons­
truído. Um bom exemplo de distorção são as projeções elaboradas pelos cartógrafos Gerard Mercator
(1512-1594) e Arno Peters (1916-2002). Nas projeções de Mercator, as formas foram privilegiadas e a
proporção das áreas foi distorcida. Enquanto que nas projeções de Peters, as proporções entre os territó­
rios foram resguardadas, ao passo que as formas dos territórios foram distorcidas. O resultado de qual­
quer projeção é uma transição do esférico ao plano, buscando a coincidência entre as duas imagens. A
causa dessas distorções reside no fato de a Terra ter forma esférica e os mapas terem formas planas. Pode­
mos mudar essa forma por meio de um procedimento geométrico conhecido como anamorfose.
Há diversas aplicações das anamorfoses. Por exemplo, ao selecionar um fenômeno, como o tamanho
da população, e determinar a área a ser ocupada no mapa por um país, não de acordo com a área, mas
com o número de habitantes. Assim, o Brasil, que possui cerca de 190 milhões de habitantes, deve ocu­
par uma área cinco vezes menor que a da China, que possui mais de 1 bilhão de habitantes.
Ao retratar a população mundial, por exemplo, a China e a Índia, as duas maiores populações mundiais,
ocupam áreas imensas do mapa, ao passo que os países de pequena população ocupam pequenas áreas.
Veja as imagens abaixo. Na primeira temos a proporção real dos territórios e, na segunda, a anamorfose.
Anamorfose de distribuição
da população mundial
Mapa-múndi
180º
120ºO
60ºO
0º
60ºL
120ºL
OCEANO GLACIAL ÁRTICO
180º
Círculo Polar Ártico
60ºN
CHINA
EUA
30ºN
Trópico de Câncer
ÍNDIA
OCEANO
PACÍFICO
OCEANO
PACÍFICO
Trópico de Capricórnio
Círculo Polar Antártico
OCEANO
ATLÂNTICO
0º
Meridiano de Greenwich
Equador
OCEANO
ÍNDICO
BRASIL
INDONÉSIA
30ºS
60ºS
0
OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO
5 455
km
Fonte de pesquisa: Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2007.
p. 32.
Fonte de pesquisa: Worldmapper. Disponível em: <http://www.
worldmapper.org>. Acesso em: 7 jan. 2009.
Também é possível representar a população a partir de figuras geométricas proporcionais, como na
imagem abaixo.
Anamorfose Geométrica da população mundial
REINO UNIDO
CANADÁ
RÚSSIA
ESTADOS UNIDOS
ALEMANHA
FRANÇA
JAPÃO
CHINA
ITÁLIA
MÉXICO
TURQUIA
EGITO
VENEZUELA
PAQUISTÃO
BANGLADESH
FILIPINAS
ÍNDIA
BRASIL
NIGÉRIA
ARGENTINA
INDONÉSIA
2 milhões de habitantes
Fonte de
pesquisa:
Simielli, Maria
Elena. Geoatlas.
São Paulo: Ática,
2006. p. 33.
60
4P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 60
3/30/10 9:29:19 AM
Proposta de trabalho
1. Utilizando blocos geométricos, elabore três anamorfoses retratando o território brasileiro.
a)Na primeira, retrate a proporção do Produto Interno Bruto (soma de todos os bens e serviços pro­
duzidos num país) dos estados.
b)Na segunda, apresente o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador que utiliza critérios
de avaliação como educação, renda e longevidade (expectativa de vida).
c)Na terceira, represente a população.
2.Verifique qual o menor valor para cada um dos dados da tabela abaixo e determine um tamanho que
represente esse valor. A menor população em 2000 estava em Roraima, com cerca de 327 mil habi­
tantes. Use uma área de 1 mm2 para representar esse estado e calcule os demais. O Espírito Santo,
por exemplo, terá 10 mm2, pois sua população é de cerca de 3,1 milhões de habitantes.
3.Faça os cálculos para todos os estados e represente-os nas anamorfoses. Una os estados de acordo
com a regionalização oficial do IBGE.
4.Com base nos dados e nas anamorfoses, analise a atuação de cada uma das regiões e faça uma aná­
lise intrarregional, explicitando quais estados se destacam em cada região brasileira.
PIB e IDH dos estados brasileiros
Acre
PIB — 2000 (em milhões R$)
IDH — 2000
População — 2000
1 703
0,692
560 611
Alagoas
7 023
0,633
2 826 575
Amapá
S/ dados
S/ dados
447 032**
Amazonas
18 873
0,717
2 830 310
Bahia
48 197
0,693
13 096 003
Ceará
20 800
0,699
7 444 000
Distrito Federal
29 587
0,844
2 053 897
Espírito Santo
21 530
0,767
3 106 372
Goiás
21 665
0,77
5 020 160
Maranhão
9 207
0,647
5 660 255
Mato Grosso
13 428
0,767
2 513 787
Mato Grosso do Sul
11 861
0,769
2 082 024
Minas Gerais
S/ dados
S/ dados
17 891 494**
Pará
18 914
0,72
6 219 628
Paraíba
9 238
0,678
3 445 125
Paraná
65 969
0,786
9 585 383
Pernambuco
29 127
0,692
7 930 964
Piauí
5 330
0,673
2 847 489
137 877
0,802
14 404 923
Rio Grande do Norte
9 293
0,702
2 780 176
Rio Grande do Sul
85 138
0,809
10 207 061
Rondônia
5 625
0,729
1 383 740
Roraima
1 117
0,749
326 738
42 428
0,806
5 369 177
Rio de Janeiro
Santa Catarina
370 000*
S/ dados
37 032 403**
Sergipe
São Paulo
5 921
0,687
1 788 747
Tocantins
2 450
0,721
1 161 641
Fonte dos dados: <www.ipib.com.br>. Acesso em: 27 jul. 2009.
*Fundação Seade <www.seade.sp.gov.br>. Acesso em: 27 jul. 2009.
** IBGE <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 27 jul. 2009.
61
4P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 61
3/30/10 9:29:20 AM
Download

A geopolítica no Brasil 4