MEDICINA NO CANADÁ
Médicos estrangeiros que querem atuar no país têm uma longa e árdua
trajetória para obter habilitação profissional
Atuar como médico em Ontário, Canadá, exige – do candidato – um grande esforço pessoal e
profissional, tanto para quem obteve graduação no próprio país quanto aos formados em escolas do
exterior.
Esta foi uma das principais mensagens da palestra de Saulo Castel, diretor médico do Sunnybrook
Health Sciences Centre e professor assistente do Departamento de Psiquiatria da Universidade de
Toronto,
convidado
especial
do
Cremesp
para
uma
plenária
temática.
O encontro, realizado na noite de 29 de novembro, contou com a presença do presidente da Casa, João
Ladislau Rosa; do vice, Mauro Aranha; e dos conselheiros Bráulio Luna Filho, Renato Azevedo Júnior e
Nacime Salomão Mansur, entre outros.
Mauro Aranha (à dir), coordenador do encontro, ao lado do palestrante convidado
Ao iniciar sua palestra, Castel apresentou um panorama de como é feita uma auditoria profissional no
Canadá e que, por seu rigor, contribui para o atendimento de qualidade dos pacientes, seja este realizado
em consultório ou em uma instituição hospitalar de pequeno e grande porte. O acompanhamento do
exercício profissional segue alguns modelos e níveis de auditoria, entre eles, aquela realizada pelos
próprios pares (os médicos fazem uma avaliação entre si); aquela realizada a partir da observação da
prática médica; auditoria no próprio ambiente de trabalho, ou seja, diretamente nos locais de atendimento;
auditoria especial para médicos que prescrevem metadona (no caso de psiquiatras); auditoria para
aqueles que precisam de acompanhamento para melhorar o exercício da Medicina; auditoria dos que
obtiveram licença médica, mas querem voltar a atuar; auditoria aos que desejam alterar sua atual prática
para
uma
outra
especialidade.
Segundo o College of Physicians and Surgeons of Ontario (CPSO), a auditoria profissional deve ser
realizada a cada 10 anos, com o principal objetivo de identificar problemas e corrigi-los, e também para
melhorar a atuação profissional. A meta da avaliação, segundo o palestrante, é otimizar a prática médica
e
não
investigar
possíveis
deslizes
para
punir.
Em Toronto, essa auditoria e acompanhamento da prática médica utilizam pacientes-padrão, ou seja,
atores especialmente preparados para representarem pacientes reais e atuar junto com os médicos que
serão avaliados. A seleção para essa avaliação, que pode ser feita aleatoriamente, é obrigatória aos
médicos
com
mais
de
70
anos.
O palestrante questionou o uso do prontuário eletrônico, explicando que uma das maneiras de se avaliar
o profissional é pela escrita. "Se o médico não consegue decifrar o que ele próprio escreveu, vai ser
convidado
a
melhorar
sua
escrita
de
alguma
forma",
explicou.
Castel enfatizou que as auditorias são feitas de maneira simpática e amigável, sem a pretensão de
intimidar o avaliado. Na maioria das vezes não existe nenhuma consequência significativa resultante das
auditorias realizadas e, quando existem, geralmente associam-se a informações pessoais sobre a
graduação
ou
estão
relacionadas
a
problemas
cognitivos
do
próprio
médico.
"Hoje está sendo criada uma rede de auditores, formando uma comunidade, capaz de contribuir na
melhora
do
atendimento
e
da
prática
médica
diária",
explicou
o
palestrante.
Para os casos dos médicos avaliados de forma negativa, Castel mostrou que a "punição" depende da
área de deficiência profissional detectada. “No caso dos prontuários mal preenchidos ou preenchidos de
maneira ilegível, por exemplo, o médico auditado é convidado a realizar um curso para depois voltar a ser
editado”, afirmou. “Nos casos de imperícia, o médico - após o resultado da auditoria - só poderá exercer a
Medicina sob supervisão ou estará suspenso por um período. E completa: “para os casos de omissão de
informações curriculares ou de atuação inverídica, a auditoria pode determinar a cassação profissional
definitiva”.
É importante frisar que entrar em um curso de medicina no Canadá é extremamente difícil. "A maioria dos
médicos canadenses estudou em outros países, principalmente Irlanda e Inglaterra, tamanha a
dificuldade para conseguir entrar em uma escola médica canadense”, alertou Castel.
Formação médica
A entrada em um curso de Medicina, que tem a duração de 4 anos, somente pode ser permitida se o
candidato a médico já estiver graduado em outra faculdade e com notas excelentes (mesmo que a área
da graduação anterior nada tenha a ver com saúde). Ao final da universidade, a certificação em Medicina
é fornecida por organizações federais e a autorização para o exercício profissional é emitida por um órgão
provincial (semelhante aos nossos Conselhos Regionais de Medicina locais). Detalhe: a residência
médica pode ser feita apenas depois do recebimento dessa documentação e dura 2 anos. Quem quiser
fazer uma especialização terá que investir mais 5 anos em sua carreira. A licença definitiva apenas é
expedida depois de cumpridas todas essas etapas.
Exercício da Medicina
Para que um estrangeiro possa exercer a profissão no Canadá, é preciso, em primeiro lugar, que a escola
na qual ele se graduou esteja na relação de universidades aprovadas pela Organização Mundial de
Saúde (OMS); depois, que seu diploma e currículo sejam avaliados rigorosamente; e, finalmente, que o
candidato seja aprovado para cursar Residência Médica em Ontário. Após cumprir esses quesitos, o
candidato recebe um registro para fazer uma pós-graduação local. E mais: para obter a licença
acadêmica, que possibilite ao profissional dar aulas na universidade, o médico deve possuir um mínimo
de produtividade acadêmico-científica.
Saulo Castel: "auditorias são realizadas para melhorar o atendimento e a prática médica
diária"
Atuação médica em lugares periféricos
Castel explica que existem, no Canadá, 6 escolas de medicina. Para incentivar o profissional a atuar em
regiões longínquas, fora dos grandes centros, há um considerável incentivo financeiro. Geralmente depois
de graduado, o médico ainda tem dívidas com a universidade. O pagamento desse financiamento é
quitado quando o profissional se propõe a atuar em locais periféricos do país.
Contrato de trabalho
Segundo o palestrante, em Ontário, 95% dos médicos ativos não mantêm vínculo empregatício com
nenhuma instituição. Eles atendem o sistema de saúde da província em que fixam residência, e obtêm o
registro para o exercício profissional emitido pela própria província, que também os remunera.
Importante lembrar, nesse caso, que cobrar do paciente pela consulta além do que o médico já recebe
pelo
pagamento
oficial,
pode
custar
a
licença
profissional.
Castel mostrou-se impressionado, pessoalmente, com o exercício profissional do médico brasileiro. Para
ele, nossos profissionais são iguais ou melhores do que os do Canadá. "Temos por aqui ótimos médicos,
mas
infelizmente
nem
todos
os
médicos
brasileiros
são
bons",
conclui.
Quanto à entrada de estrangeiros para atuar no país, o palestrante afirmou que a população necessita de
médicos e tem ciência da dificuldade para a formação local de profissionais. "Por essa razão, os médicos
estrangeiros são bem aceitos, desde que estejam perfeitamente habilitados para exercer a profissão com
ética
e
experiência
na
especialidade
escolhida.
Ao finalizar sua participação na plenária, Saulo Castel informou que atualmente há uma grande iniciativa
para a uniformização de requisitos, em todas as províncias canadenses, para o recebimento de médicos
estrangeiros e canadenses graduados no exterior.
Fotos: Osmar Bustos e Isabela Tellerman
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