HISTÓRIA EM AQUARELA Empresa: Bema Tintas – Contagem/MG Autoria: Lílian da Silva Botelho e Sabrina Campos Albuquerque Em 1958, surgiu a BEMA Tintas Ltda., empresa do setor industrial no negócio de produção de tintas, cujo nome resulta da composição dos sobrenomes Belizário e Mazieiro, fundadores da empresa. Situada em Contagem, Minas Gerais, a 17 Km de Belo Horizonte, região considerada pólo industrial, por abrigar grande concentração de indústrias de pequeno a grande porte, dos mais variados segmentos. A localização, que facilita o escoamento da produção para determinados municípios e fornecedores, conta com o apoio de centros e de órgãos, voltados para a indústria, os quais fornecem benefícios aos negócios da região. A BEMA Tintas, que se consolidou no mercado com foco na produção de tintas industriais, enfrentou vários planos econômicos e mudanças governamentais no país, no período de 1958 a 1996. Durante trinta e oito anos, a empresa manteve-se no seu negócio. Em 1996, estagnou-se, com risco de ser extinta. Nesse ano, foi vendida ao Sr. Sílvio Moura. “Quem não exprime opiniões, passa insegurança; portanto, não pode trabalhar comigo. Gosto de pessoas com iniciativa.” Sílvio Jacinto de Moura Para ele, que desconhecia o setor químico, ser capaz de alavancar os negócios da empresa era um novo desafio para seu espírito empreendedor. Surgiu, assim, o compromisso de transformar a BEMA Tintas em uma empresa de destaque, em Minas Gerais e no Brasil. Fatos em pincéis Sr. Sílvio Moura, mineiro de Conselheiro Pena, município próximo a Governador Valadares, adquiriu a BEMA em 1996. Ele já estava estabilizado, há vinte e cin- 34 HISTÓRIA EM AQUARELA co anos, como gerente geral de uma empresa de grande porte, em Vespasiano, quando surgiu a oportunidade de comprar a empresa de tintas. Os desafios eram grandes, em virtude do estágio em que se encontrava a BEMA e pelo histórico político da época. Durante o período de 1958 a 1996, o Brasil enfrentou um quadro econômicofinanceiro com grandes oscilações. O país sofreu transformações no que tange à filosofia de governo e à gestão econômica. Tais mudanças repercutiram-se em instabilidades, destacando-se, na década de 90, o Plano Collor, momento histórico e político que levou vários empresários à falência. O cruzado novo foi substituído pelo cruzeiro, e os saldos de conta corrente, poupança e outros investimentos foram bloqueados por dezoito meses. Essa fase foi marcada por grande ansiedade, pois a inflação, em 1990, chegou a 4.853%. No governo anterior, houve vários planos fracassados, os quais tinham como objetivo conter a inflação. Em 15 de março de 1990, chegou o novo pacote econômico, que congelou os preços, os quais foram liberados gradualmente. Nessa mesma época, houve abertura do mercado interno com redução gradativa das alíquotas de importação. Os impostos e tarifas aumentaram; assim, foram criados outros tributos e suspensos os incentivos fiscais não garantidos pela Constituição. As empresas foram obrigadas a reduzir a produção, a jornada de trabalho, os salários ou a demitir funcionários. No final de 1992, após um grande processo de reestruturação interna das indústrias, cuja principal causa foi a abertura do mercado brasileiro para produtos importados, a indústria nacional voltou a investir alto na modernização do processo produtivo, qualidade e lançamento de novos produtos. As empresas, para se manterem no mercado, tiveram de rever seus métodos administrativos, organizacionais, reduzindo os custos de gerenciamento, otimizando as atividades essenciais e terceirizando muitos setores. As mudanças do meio econômico exigiram decisões consistentes de planejamento estratégico: gestão empresarial, com redução de custos; gestão da qualidade, com melhoria dos processos; inovação, comportamento empreendedor para determinar a sobrevivência de empresas, nesse cenário de incerteza. No entanto, a BEMA Tintas criou alternativas para sobreviver às alterações econômicas e mercadológicas e para permanecer atuante, com o investimento em qualidade. 10 ANOS DE EXCELÊNCIA EDIÇÃO SEBRAE 35 No período de 1990 a 1994, a BEMA teve grande preocupação de investir em tecnologia e implantou o programa de qualidade, treinamento de pessoal e desenvolvimento organizacional e tecnológico. Como resultado dessas mudanças, em 1995, ganhou o Prêmio Excelência Empresarial do SEBRAE Minas, que reconheceu o trabalho das empresas que buscam inovação, competitividade e produtividade. Entretanto, a empresa começou a enfrentar dificuldades econômicas e, por não conseguir superar os obstáculos, entrou em declínio. Logo em seguida, já em 1996, concretizou-se o processo de venda. Na contínua mudança de cenário econômico, o Sr. Sílvio Moura adquiriu a BEMA, após várias negociações com os antigos proprietários, com os quais já mantinha contato comercial, pelo fato de serem fornecedores de tintas industriais para a empresa que ele gerenciava. Apesar da estagnação, a BEMA Tintas, em 1996, tinha trinta e oito anos de permanência em mercado competitivo, com grande possibilidade de crescimento no mundo dos negócios, desde que houvesse mudança em seu planejamento estratégico. A empresa tinha sede própria, cerca de sessenta funcionários e produção mensal de setenta mil litros de tintas. O Sr. Sílvio Moura levou para a BEMA a experiência gerencial adquirida na empresa MECAN, na qual iniciou as atividades, em 1972, com quatro colaboradores. Ao desligar-se dela, após vinte e cinco anos, contava com quatrocentas pessoas na equipe, além de um modelo de gestão empresarial capaz de sobreviver às oscilações econômicas do país. Apesar do desejo de ter a própria empresa, imaginou a BEMA sob a direção de terceiros, com a sua administração à distância, pois, a princípio, continuaria atuando na MECAN. Definição da tela Sr. Sílvio passou a pensar no alto investimento feito ao comprar a BEMA e inquietou-se pela incerteza de ir ou não administrá-la em Contagem. A empresa tinha um nome, uma história consolidada e colaboradores que viviam a esperança de ali continuar. Resistiu à idéia de não ir para Contagem definitivamente, pois pretendia continuar gerenciando a MECAN e, assim, criou a alternativa de, durante um ano, dividir sua atenção entre as duas empresas. Após negociação com os sócios- 36 HISTÓRIA EM AQUARELA proprietários, Sr. Francisco de Assis Guerra Lage e Sr. Fábio Guerra Lage, levou para a BEMA seus colaboradores de confiança, com o objetivo de enfrentar o desafio de fazer dela uma empresa de referência no Estado de Minas Gerais. A empresa, que entrara em declínio há algum tempo, exigia muita dedicação, esforço e trabalho para equilibrar-se novamente. O Sr. Sílvio Moura concluiu que a idéia inicial de deixá-la sob a direção de terceiros não funcionaria. O alto investimento já realizado e a expectativa dos colaboradores qualificados que aguardavam sua decisão de proprietário, para prosseguirem em seus projetos pessoais, fizeram que o Sr. Sílvio Moura decidisse, definitivamente, assumir a administração da empresa. Dessa forma, desligou-se da MECAN para assumir, em tempo integral, a BEMA Tintas Ltda. O empresário buscou, então, nesse momento, criar alternativas, em um curto período de tempo, a fim de buscar melhorias, o que caracteriza um comportamento empreendedor. Segundo a ONU (Organizações das Nações Unidas), o empreendedor é aquele que utiliza os comportamentos empreendedores em busca de oportunidades e de realização de sonhos. “Os empreendedores são reconhecidos como os agentes necessários para mobilizar capital, agregar valor aos recursos naturais, produzir bens necessários, gerar emprego e administrar os meios para incrementar o comércio. No meio empresarial, foram descritos sistematicamente como: sem empreendedores não há desenvolvimento.” (Fonte: Manual Saber Empreender – Referencial Teórico – SEBRAE – Junho/2004) O Brasil é considerado pela pesquisa GEM (Global Entrepreneurship Monitor) um dos países mais empreendedores. A pesquisa tem como objetivo explorar e compreender o fenômeno do empreendedorismo e o seu papel no processo de desenvolvimento e crescimento econômico dos países. Destacam-se, nos brasileiros, as características comportamentais, o que provoca inquietações nos empreendedores, levando, inclusive, pessoas já estabilizadas no mercado a se arriscarem em novos segmentos, em busca de oportunidades. Tela, fatos e cenários O ano de 1996 tornou-se o marco de tomada de decisões na BEMA. O Sr. Sílvio Moura iniciou o processo de reorganização da empresa, tendo como foco principal a elaboração de um planejamento estratégico renovável a cada cinco 10 ANOS DE EXCELÊNCIA EDIÇÃO SEBRAE 37 anos, com meta para resultados. Planejou aumentar as vendas, faturamento e lucratividade, tornando a empresa competitiva. As mudanças no modelo de gestão determinaram que o progresso e o sucesso da BEMA teriam enfoque no controle financeiro e contábil, no desenvolvimento de produtos e mercados, na otimização da produção, na melhoria da logística de matérias-primas e produtos e na valorização do capital humano. Principais problemas enfrentados pelas empresas (%) Elevada carga tributária .................................................................................. 73,6 Taxas de juros elevadas .................................................................................... 41,7 Alto custo da matéria-prima ............................................................................ 38,0 Competição acirrada de mercado ...................................................................... 37,4 Falta de capital de giro..................................................................................... 31,9 Falta de demanda ........................................................................................... 22,7 Inadimplência dos clientes ................................................................................ 22,1 Falta de financiamento de longo prazo .............................................................. 20,2 Falta de matéria-prima.................................................................................... 10,4 Taxa de câmbio ................................................................................................. 6,7 Falta de trabalhador qualificado ......................................................................... 6,7 Capacidade produtiva ....................................................................................... 6,7 Outros ............................................................................................................. 2,5 Distribuição do produto ..................................................................................... 0,6 (Fonte: Sondagem Industrial – Minas Gerais – FIEMG - Abril-Junho/2004) Considerando o quadro com os principais problemas enfrentados pelas empresas (%), o Sr. Sílvio Moura traçou objetivos, com enfoques estratégicos, para mudar a situação. Os principais problemas eram inerentes ao ambiente externo; portanto, a estratégia foi melhorar os fatores que comprometiam o equilíbrio do negócio. Sua visão de empreendedor sempre buscou valorizar o capital humano, o que o levou à decisão de manter os colaboradores. A BEMA, com anos de mercado, contava com colaboradores que ali construíram suas histórias, pessoas que sonhavam e contavam com o sucesso da empresa. Alguns, em pouco tempo, 38 HISTÓRIA EM AQUARELA aposentaram-se; outros, cuja única experiência profissional foi construída na BEMA, ainda hoje permanecem colaborando para o progresso da empresa. Alguns poucos, por não se adaptarem ao novo modelo de gestão, deixaram-na, pois muitos eram os desafios e a sintonia organizacional é imprescindível a toda equipe de trabalho. Entre os muitos clientes da BEMA, destacava-se a Petrobrás. Nesse sentido, o atendimento planejado para essa empresa exigia uma significativa melhoria tecnológica, para satisfazer a todos os requisitos de seu sistema de gestão de qualidade e de suas normas de especificação técnica de tintas. O desafio foi aceito. Todos os requisitos de qualidade da Petrobrás foram atendidos e, em 1997, obteve credenciamento para fornecimento de tintas anticorrosivas. A BEMA procurou expandir seu mercado e, então, investiu em outros segmentos do mercado consumidor. Aqui começou a complexa pesquisa de informações para determinar novas metas do empreendimento. Após criterioso estudo, o empresário decidiu investir no mercado imobiliário de tintas. Com aguçada intuição administrativa, o Sr. Sílvio Moura percebeu que esse seria o novo caminho. Em pouco mais de três anos, a linha imobiliária consolidou-se, possibilitando o retorno do investimento. De acordo com o estudo publicado pelo Observatório SEBRAE de Micro e Pequenas empresas, existem, no Brasil, cerca de 5,6 milhões de empresas, das quais 99% são micro e pequenas empresas. A estatística anterior do IBGE, em 2000, indicava 98% do total de empresas. O setor de comércio é que concentra o maior número de MPE’S (45%), seguido pelo setor de serviços (37%) e o de indústria (18%). Quando se analisa a distribuição pelo valor estimado da produção, comprova-se que o segmento que apresenta maior número de empresas não necessariamente detém o maior valor de produção. O setor de indústrias, por exemplo, representa 45% do valor estimado da produção, embora represente o menor número de empresas. O comércio vem em segundo lugar (36%), apesar de apresentar o maior número de empresas. Como o Sr. Sílvio Moura conhecia muitos construtores que confiavam em seu profissionalismo, pôde utilizar sua rede de contatos para alavancar o projeto de implantação de tintas imobiliárias. A sua estratégia de Marketing foi fornecer tintas, sem custo, para as construtoras, com o objetivo de demonstrar a qualidade dos produtos. Esse fato favoreceu o aumento do interesse e da demanda pelas tintas imobiliárias. 10 ANOS DE EXCELÊNCIA 39 EDIÇÃO SEBRAE Havia mercado comprador para o novo segmento. Conforme informações do SEBRAE Minas, existiam, aproximadamente, cinco mil construtoras em Minas Gerais, sendo que três mil estavam situadas em Belo Horizonte. Isso delimitou um mercado promissor, no qual a BEMA decidiu atuar. Para penetrar nesse novo mercado, ampliou rapidamente o portfólio de produtos nos mercados anticorrosivo e imobiliário, o que facilitou, posteriormente, o avanço de sua marca no mercado varejista de Minas Gerais e Goiás. Número de empresas e empregados por setores da indústria em MG – 2002 Número de empresas Número de empregados Extrativa Mineral 4.327 30.381 Indústria de Transformação 64.190 518.695 Serviços Industriais de Utilidade Pública 1.259 35.730 Construção Civil 26.920 151.310 Total 96.696 736.116 Setor industrial (Fonte: RAIS/MTE – 2002) Tintas em expressão A BEMA está constituída por duas grandes áreas de negócio, Tintas e Resinas Base Solvente e Tintas Base Água. As duas áreas de negócio atendem plenamente aos mercados de tintas industriais e anticorrosivas de manutenção e tintas imobiliárias, com linha completa de produtos. Como o ramo químico era desconhecido para o Sr. Sílvio Moura, ele precisava de profissionais da área, com experiência consolidada em tecnologia de tintas. O engenheiro químico André Martins, que já era colaborador da empresa há quatorze anos, assumiu a gestão da área de Tintas e Resinas Base Solvente. Até hoje permanece na empresa, gerenciando os setores de Controle de Qualidade, Desenvolvimento de Produtos Base Solvente e Assistência Técnica ao Cliente. Para a área de Tintas Base Água, surgiu a necessidade da contratação de mais um profissional da Química. Para compor a equipe técnica, chegou à BEMA a engenheira química Sandra Morais D’Almeida, com vasta experiência em tintas 40 HISTÓRIA EM AQUARELA imobiliárias, em uma reconhecida empresa do mercado brasileiro. Hoje é uma profissional de referência da empresa, gerenciando a área de tintas imobiliárias, com responsabilidade de Controle de Qualidade, Desenvolvimento de Produtos Base Água e Assistência Técnica Imobiliária. Definir as estratégias para os avanços de estrutura tecnológica foi de grande importância para a empresa. A competência técnica foi fundamental para o desenvolvimento de novos produtos e acompanhamento dos mesmos junto ao mercado consumidor. Composição das cores Para a consolidação da equipe técnica, surgiu a necessidade de traçar estratégias de atuação organizacional. Iniciou-se a definição dos processos de capacitação fabril, divulgação mercadológica e avaliação dos controles de gestão. A eficiência das ações implementadas fundamentou-se na completa informatização da empresa, primeira meta alcançada no processo de reorganização administrativa. Com isso, a empresa reforçou, com eficácia, sua estrutura de controle financeiro-contábil, otimizando o recebimento de clientes e o pagamento de fornecedores. Dessa forma, conseguiu atingir elevado conceito no mercado. O fato de não haver burocracia prejudicial nem hierarquia complexa na BEMA proporcionou uma melhoria significativa de relacionamento profissional e eficiência de resultados da equipe de trabalho. É um requisito essencial da empresa a capacitação dos colaboradores para o desempenho eficaz da equipe. Atualmente, os contextos político, social, econômico, cultural, científico e tecnológico direcionam o olhar para um novo mundo, o que exige uma reflexão crítica sobre as práticas educacionais e modelos que as fundamentam, pois geram o desenvolvimento do ser humano integral, crescimento da produtividade e eficiência dos pequenos empreendimentos, contribuindo, assim, para a elevação da qualidade de vida e desenvolvimento do país. (Fonte: Referenciais para uma Nova Práxis Educacionais 2ª edição 2001 SEBRAE). Na BEMA, nota-se o desenvolvimento dos quatro pilares da UNESCO, que são: aprender a ser, aprender a conhecer, aprender a conviver e aprender a fazer. Esses pilares possibilitam o crescimento integrado da equipe. Sr. Sílvio, ao investir em capacitação de seus colaboradores, colocou os pilares da UNESCO em prática, o que fez a diferença no resultado da empresa. 10 ANOS DE EXCELÊNCIA EDIÇÃO SEBRAE 41 Um ponto relevante na cultura da BEMA é a questão ambiental, pois ela trabalha com produtos químicos, os quais podem ser prejudiciais ao meio ambiente e ao ser humano. A área de fabricação, devido ao terreno acidentado, foi projetada com tanques acima dos galpões de produção, o que facilita e diminui os custos com energia, uma vez que o escoamento da produção é natural. O ambiente leve, limpo, integrado e organizado causa agradável surpresa. As áreas com arborização e o cuidado no tratamento de resíduos demonstram a consciente política de gestão ambiental e de responsabilidade social empresarial. “Aqui tudo é aproveitado, latas, papéis, plásticos e até adquirimos uma máquina de prensar, para compactar o material. Criamos a ilha ecológica.” (Sílvio Jacinto de Moura) Para a empresa, responsabilidade social também consiste em investir nos próprios colaboradores, buscando o aperfeiçoamento e ajudando-os nos momentos de dificuldade, sempre com o objetivo de promover o crescimento de todos que contribuem para a construção de seu sucesso. O Sr. Sílvio Moura, além de liderar a empresa, define estratégias, concebe produtos e mantém ampla negociação com os fornecedores. Ele, ainda, acompanha, passo a passo, a formação da aquarela empresarial, para entender e participar dos processos e ações organizacionais, compartilhando o progresso da empresa com toda a equipe. Para ele, é essencial que o colaborador se envolva e expresse opiniões. “Quem não exprime opiniões, passa insegurança; portanto, não pode trabalhar comigo. Gosto de pessoas com iniciativa.” (Sílvio Jacinto de Moura) Produção da aquarela A produção mensal saltou de setenta mil litros, em 1996, para um milhão e quatrocentos mil litros, em 2003. Os produtos da linha imobiliária são: massa corrida, tinta látex acrílica econômica exterior e interior, tinta látex acrílica fino acabamento exterior e interior, tinta látex acrílica fosca, tinta látex acrílica semibrilho, textura e texturato acrílicos, esmalte sintético brilhante, esmalte sintético econômico, esmalte sintético acetinado e fosco, fundo preparador de parede, zarcão anticorrosivo, seladora para madeira e vernizes sintéticos. Todos os produtos atendem às normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Os produtos da linha imobiliária têm grande aceitação no mercado, o que representa, atualmente, 50% do faturamento. 42 HISTÓRIA EM AQUARELA A linha industrial e a de manutenção anticorrosiva abrangem as tintas alquídica, epóxi, acrílica, vinílica, nitrocelulose, poliuretano e etil-silicato, com representação dos outros 50% do faturamento. Dentro das linhas imobiliárias e industriais, existem mais de duas mil tintas de diversas cores e especificações, todas produzidas, conforme as exigências de normas técnicas (ABNT) e do Sistema de Gestão da Qualidade. Vale destacar que, para a produção de uma tinta, são necessários de dezesseis a trinta itens diferentes de matéria-prima, sendo a maioria proveniente de fornecedores do mercado internacional. Em função da diversidade de opções de tintas, o Sr. Sílvio Moura preocupa-se com o desenvolvimento das embalagens, com características e significados próprios. As embalagens são coloridas, com a logomarca BEMA Tintas; cada linha de produto segue um padrão. “Um dia desses, ao ver a cor de um jeans, imaginei-a em uma embalagem. Escolhi algumas tintas, peguei o pincel e, lá no galpão, passei a misturar algumas cores; então, nasceu uma embalagem...” (Sílvio Jacinto de Moura) A distribuição dos produtos, realizada por empresas terceirizadas, proporciona agilidade no atendimento ao cliente. É uma vantagem competitiva atender, em tempo hábil, às necessidades de elaboração das obras em andamento, que ganham vida e compõem telas e cenários estéticos e protegidos nos mais variados locais e ambientes. Em 2004, após oito anos de administração do Sr. Sílvio Moura, tornou-se claramente visível a importante mudança de postura da BEMA, no mercado brasileiro de tintas, com ações que consolidaram seu desenvolvimento. Ao expandir os negócios, ela valorizou a equipe de trabalho, aperfeiçoou o processo fabril e gerou dez novos postos de trabalho em um cenário econômico ainda restritivo. Hoje, a BEMA é uma das empresas que mais geram riqueza para o município de Contagem. Atende a mais de quatro mil lojas em Belo Horizonte e na Região Metropolitana, no interior de Minas Gerais e em outros Estados. Tem como clientes as maiores e mais importantes empresas do setor industrial do Estado de Minas Gerais, destacando-se os segmentos de construção em estrutura metálica, mineração, siderurgia e fundição de metais ferrosos e não-ferrosos, indústrias químicas, indústria de mecânica pesada e calderaria, indústria de cimento, de demarcação viária, entre outras. 10 ANOS DE EXCELÊNCIA EDIÇÃO SEBRAE 43 O Sr. Sílvio Moura visualiza, hoje, todo o mercado brasileiro de tintas nos segmentos industrial, manutenção anticorrosiva e imobiliário, mas prefere, antes de conquistar novos mercados em outros Estados, avançar mais e aumentar sua participação em Minas Gerais e Goiás. A obra-prima Nesses oito anos foram muitos os momentos de incerteza, mas sempre prevaleceu, no momento da decisão, o desejo de consagrar a BEMA como uma obra do artista que toma a tela vazia para transformá-la em aquarela. Nessa obra, o empenho de toda a equipe é sempre essencial para oferecer as melhores idéias e ações, como uma arte com harmonização das cores. A BEMA venceu a meta de conquistar um mercado altamente competitivo, cresceu diante das dificuldades, adotou o lema de criar as melhores soluções técnicas, estéticas e de superar desafios. O que a tornou uma empresa de sucesso foi a mudança no processo produtivo, o desenvolvimento de novos produtos, o planejamento direcionado para resultados, a dinâmica de capacitação dos colaboradores, o modelo de logística e gestão, o aumento da carteira de clientes, a criação de um novo nicho de mercado e a não dependência de um único cliente. Foram esses os pontos importantes para resgatar a empresa de uma fase crítica, em descrédito. As características comportamentais empreendedoras do Sr. Sílvio Moura foram decisivas para reverter esse quadro e, dessa forma, transformá-la em uma indústria reconhecida no mercado. As mudanças de estratégias e o aumento das vendas, que geraram um crescimento produtivo de setenta mil para um milhão e quatrocentos mil litros mensais, ilustram a consolidação da empresa, que se tornou uma referência. Ela se sobressaiu no mercado mineiro, penetrou em outros estados, o que facilitou o conhecimento da marca. A persistência na qualidade e investimentos em novas tecnologias, isto é, em novos produtos, fizeram a diferença em momentos de situação instável da economia do país. A visão do Sr. Sílvio Moura, voltada para um novo direcionamento estratégico, contribuiu para o crescimento e a permanência da empresa. Ao refletir acerca da expansão da BEMA, fica o desafio de que, daqui a cinco, oito ou dez anos, a empresa alcance novas metas, em um cenário 44 HISTÓRIA EM AQUARELA muito mais promissor, com horizonte mais definido. Hoje, com 46 anos de história, ela confirma sua vocação de empresa de sucesso, com uma “História em Aquarela”. Pontos para discussão 1. O processo de desenvolvimento de planejamento estratégico envolve quatro atividades para orientar a realização da estratégia: análise dos aspectos internos, análise do ambiente, comparação da orientação com o campo de atuação e estabelecimento da estratégia vigente. Construa um quadro sinóptico, desdobrando cada uma dessas atividades até a microatividade possível. 2. Faça uma análise dos fatores críticos identificados na questão anterior e aponte os de sucesso e os de fracasso, na construção de planejamento estratégico. 3. A vantagem competitiva das empresas pode ser analisada diante da Matriz de Porter(1989) e leva em conta: o poder dos clientes e fornecedores, o nível de saturação da concorrência, a facilidade de entrada de novos concorrentes, a facilidade de entrada de produtos ou serviços substitutos e o nível de interferência do governo. Identifique, no caso estudado, como esse processo pode ter ocorrido. Quais são suas sugestões para aprimoramento do estudo em questão? 4. Diante do estudo feito, construa um modelo de cadeia de valor possível para empresas desse setor. Quais são as congruências e incongruências apresentadas pela empresa em estudo? Como elas poderão ser amenizadas visando à ampliação de seu market share? 5. Do ponto de vista da cadeia produtiva, qual é o grau de dependência da empresa estudada? Quais fatores de competitivdade poderão ser revistos para reduzir seu grau de fragilidade?