História de Uberaba – Fundação de Uberaba –
Famílias de Uberaba
Pintura do LARGO DA MATRIZ NOVA – Vila de Uberaba – 1856, no ano em que foi
elevada à categoria de Cidade.
A Matriz Velha era bem mais para trás da atual, ao lado de onde foi o segundo cemitério
de Uberaba (Senai, na Rua do Baculelê, atual rua Paulo Pontes). O primeiro e pequenino
cemitério era contíguo à Matriz Velha, como todos os cemitérios antigos.
À direita da pintura, a “Casa de Câmara e Cadeia“, tal como era quando foi construída
pelo Capitão Domingos da Silva e Oliveira.
A única Câmara Municipal de todo Brasil a estar no mesmo lugar desde o século 19, e a
única que mantinha, até poucos anos atrás, o gabinete do prefeito nela, mantendo a
tradição de comando único, pois, antigamente não havia a figura do prefeito e era a
Câmara Municipal desde a Idade Média, nas leis portuguesas, que administravam as
vilas e cidades. E como era prático a audiência do réu com o juiz de direito: Bastava
trazer o preso do andar de baixo onde ficava a Cadeia.
Conheça aqui todos os habitantes de Uberaba em 1827:
http://capitaodomingos.wordpress.com/0-0-0-0-0-0-uberaba-todos-seus-habitantes-em-1826-nossos-avose-nossos-tios/
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Sobre ela e sobre o Capitão Domingos, escreveu o grande historiador português que
viveu em Uberaba muitos anos, o Antônio Borges Sampaio:
“”O Capitão Domingos da Silva e Oliveira foi o primeiro que exerceu, neste Termo, o
Cargo de Presidente da Câmara Municipal, em 1837. Sob sua administração gratuita e
diligencia pessoal no agenciamento de donativos, construiu-se o actual edifício do Paço
da Câmara Municipal desta povoação, onde até agora se celebram as Sessões da
mesma Câmara, as do Jury, Collegios Eleitoraes; Nelle dão as audiências todas as
auctoridades judiciárias.
Além disto, (O Capitão Domingos) foi, mais tarde, Juiz Municipal e exerceu outros
cargos púbicos, com preponderância constante nos negócios comuns desta povoação,
até o seu passamento em 1852. É justo que seu nome seja contemplado na
denominação das ruas, especialmente na que lhe dava entrada vindo da sua Fazenda da
Conquista, onde era sua residência mais activa; e esta, a que do Largo da Misericórdia
(a atual Praça Dom Tomás Ulhoa no Alto da Abadia) vai para o Barro Preto (a atual
Avenida Grande Abadia), que se denominará:
Rua do CAPITÃO DOMINGOS””"
Nota:
Pouco depois do falecimento do Capitão Domingos, O Borges Sampaio comprou a
Fazenda da Conquista dos 14 herdeiros do Capitão Domingos. São as terras que ficam
da saída de Uberaba para São Paulo, nos primeiros 15 quilômetros até a altura da
Fazenda Tangará.
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Conheça aqui a História da criação de Uberaba, das entradas pelo sertão, nosso heróis
pioneiros, narrada pelo Vigário Antônio José da Silva:
Onde se declara haver 1200 habitantes (almas), em 1820, na época da criação da
Freguesia.
http://capitaodomingos.wordpress.com/0-0-0-os-silva-e-oliveira-na-fundacao-de-uberaba-pelo-vigario-silva-e-borges-sampaio/
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O povoamento da região de Uberaba teve início, no final do século XVIII, com sesmarias
concedidas pela Capitania de Goiás, entre elas, a Fazenda das Toldas, ainda existente,
concedida a Tristão de Castro Guimarães, e as Fazendas Santo Inácio, Ponte Alta e
Bebedouro, concedidas, em 1799, ao Tenente Joaquim da Silva e Oliveira, irmão do
Sargento-Mor Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, todas estas fazendas situadas ao
sul da atual Uberaba.
O arraial de Santo Antônio e São Sebastião do Uberaba foi fundado, em 1808, pelo
sargento-mor comandante da Companhia de Ordenanças do Distrito do Julgado do
Desemboque da Capitania de Goiás, Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira.
Anteriormente a Eustáquio, o cargo de comandante do Distrito do Desemboque fora
ocupado por seu irmão Capitão-General José Manuel da Silva e Oliveira.
O Julgado do Desemboque correspondia ao atual Triângulo Mineiro, menos a região de
Araxá, a qual foi elevada a julgado, em 1811, desmembrada do Julgado do
Desemboque.
A primeira residência (morada de casas, como se dizia na época) de Uberaba-MG,
construída pelo Sargento-Mór Antônio Eustáquio se localizava na atual esquina da Praça
Rui Barbosa com a Rua Artur Machado, do lado esquerdo de quem desce a Rua Artur
Machado.
O Sargento-mor Antônio Eustáquio era oriundo do Distrito de Glaura, pertencente à
antiga Vila Rica, atual Ouro Preto, onde seu pai, João da Silva de Oliveira, fora vereador
por três mandatos na época da Inconfidência Mineira, e foi também capitão comandante
de Glaura e compadre dos inconfidentes Tomás Antônio Gonzaga, João Rodrigues de
Macedo e José Álvares Maciel.
O capitão João da Silva de Oliveira foi cobrador de impostos para João Rodrigues de
Macedo, e sua filha Rita foi esposa do sobrinho de Macedo,
o Capitão Jerônimo
Fernandes da Silva Macedo.
O Capitão João da Silva de Oliveira e outros membros da família SILVA CARDOSO e
outros pessoas como o Frei Lourenço do Caraça, vieram fugidos, de Portugal, quando
da perseguição à Família Távora pelo Marquês de Pombal, em 1758.
Acento de batismo do Sargento-Mór Antônio Eustáquio:
“AOS ONZE DIAS DO MÊS DE OUTUBRO DO PRESENTE ANO DE MIL SETECENTOS E
SESSENTA E NOVE NESTA IGREJA MATRIZ DE SANTO ANTONIO DA CASA BRANCA
BATIZOU E PÔS OS SANTOS ÓLEOS O REVERENDO DOUTOR ANTONIO ALVES PORTELA
(tio de Eustáquio) AANTONIO INOCENTE FILHO LEGÍTIMO DO ALFERES JOÃO DA
SILVA DE OLIVEIRA E DE SUA MULHER JOANA FRANCISCA DE PAIVA, NETO PELA
PARTE PATERNA DE MANUEL DA SILVA CARDOSO E DE ISABEL FRANCISCA, NATURAIS
DA FREGUESIA DE SÃO MIGUEL DE OLIVEIRA DO DOURO, BISPADO DE LAMEGO, e
PELA PARTE MATERNA DO ALFERES JOÃO ALVARES PORTELA NATURAL DA FREGUESIA
DE SANTA MARIA DO CANEDO ARCEBISPADO DE BRAGA E DE JOANA MONTEIRA DE
PAIVA NATURAL DA FREGUESIA DE SÃO PAULO DO PATRIARCADO DE LISBOA. FORAM
PADRINHOS O CAPITÃO MATIAS GONÇALVES MOREIRA SOLTEIRO MORADOR NA
FREGUESIA DE ANTONIO DIAS DO OURO PRETO E ANA MARIA DE PAIVA MULHER DE
JOÃO GONÇALVES CAMPOS. DO QUE FIZ ESTE ACENTO E ASSINEI. VIGÁRIO
ENCOMENDADO MANOEL DE BARROS”.
Nota: O padrinho Mathias era, na verdade, Mathias de Távora da Silveira, (filho de
Matias Gonçalves de Proença e Bárbara de Távora da Silveira), mas não se podia, na
época, ninguém usar o sobrenome “Távora”. Tentou ser padre mas não pode. Távora
estava proibido de ser padre.
O Sargento-Mor Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, buscando desbravar novas terras
na região, realizou duas entradas pelo Sertão da Farinha Podre e foi também fundador,
entre os anos de 1810 e 1813, do arraial denominado Nossa Senhora do Carmo dos
Morrinhos, atual município de Prata. Uberaba e Prata são os dois arraiais mais antigos a
oeste do Desemboque e de Araxá.
Da família fundadora do Uberaba, Sargento-mor Antônio Eustáquio, seus irmãos e
primos, o descendente mais ilustre é o ex-presidente da República Fernando Henrique
Cardoso, tetraneto do Capitão-General José Manuel da Silva e Oliveira.
Uberaba surgiu pela migração de geralistas, como eram chamados os habitantes das
Minas Gerais na época do Brasil Colônia, os quais deixaram as já esgotadas regiões
produtoras de ouro, porém fracas para agricultura, da Capitania de Minas e de Goiás
(Desemboque), em busca de terras férteis para se estabelecerem como agricultores e
pecuaristas.
Entre estes pioneiros, além dos Silva e Oliveira, estavam, entre outros, os Rodrigues da
Cunha, originários de Conselheiro Lafaiete-MG , e os Bernardes da Silveira, Rodrigues
Gondim e Alves Gondim vindos de Formiga (Minas Gerais).
O local onde se instalou o Arraial de Uberaba, inicialmente denominado sertão da
Farinha Podre, às margens do Córrego das Lages, foi escolhido por existirem, naquela
área, formadas por seis colinas (Boa Vista, Estados Unidos, da Matriz, Cuiabá,
Barro Preto e a colina da Misericórdia), grande quantidade de nascentes de
córregos no alto destas colinas. Sendo que as primeiras “moradas de casas”, como se
dizia na época, foram construídas próximas às nascentes destes córregos.
As terras do novo arraial pertenciam à Fazenda das Toldas, ainda existente e que fica
na Rodovia que vai para o Distrito Industrial e para a Baixa, e foram doadas, em 1812,
por seu proprietário Tristão de Castro Guimarães.
O “Arraial” de Uberaba, na época pertencente ao Julgado do Desemboque, Capitania de
Goiás, foi elevado à condição de “Distrito de Índios” em 13 de fevereiro de 1811.
Em 1816, a região do Triângulo Mineiro, que na época compreendia o “Julgado do
Desemboque” (onde Uberaba se encontra) e o “Julgado do Araxá”, deixou de pertencer
à Capitania de Goiás e foi anexada à Capitania de Minas Gerais.
Estes dois julgados (Desemboque e Araxá) ficaram pertencendo à Vila e Comarca de
Paracatu do Príncipe. A Comarca de Paracatu foi criada em 1815.
O Sargento-Mor Eustáquio pediu e conseguiu, de D. João VI, a elevação de Uberaba à
categoria de freguesia, em 2 de março de 1820, com o nome de Freguesia de Santo
Antônio e São Sebastião do Uberaba, desmembrada da Freguesia do Desemboque.
Moradores de Uberaba em 1827:
Na praça da Matriz: Os padres, sobrinhos do Sargento-Mor Eustáquio: Antônio e Carlos,
Padre Zeferino, o velho Mamede, e ao lado da casa do Eustáquio, na primeira casa, da
depois chamada Rua Municipal (a atual Rua Manuel Borges), os Alves Gondim, vindos
de Formiga-MG.
Em 1831, é criada a Vila de São Domingos do Araxá, a qual Uberaba fez parte até sua
emancipação política em 1836.
O sargento-mor Antônio Eustáquio foi o líder político de Uberaba até sua morte em
fevereiro de 1832, quando assumiu o seu lugar, seu irmão Capitão Domingos da Silva e
Oliveira que foi o líder político de Uberaba até sua morte em 1852, e, que conseguiu,
em 1836, a emancipação política de Uberaba, então pertencente à Vila de Araxá.
O Capitão Domingos havia trabalhado, também, em 1831, para a elevação de Araxá à
categoria de vila. O Capitão Domingos transferiu-se do Desemboque para Uberaba logo
após a morte de seu irmão fundador de Uberaba.
Em 22 de fevereiro de 1836, pela lei mineira número 28, Uberaba foi elevada à
categoria de município, a Vila de Uberaba, desmembrando-se de Araxá, o trigésimo
segundo município de Minas Gerais.
Em 7 de janeiro de 1837, é instalada a Câmara Municipal, tomando posse os
primeiros vereadores, tendo o Capitão Domingos como seu primeiro presidente,
escolhido por ter sido o mais votado para vereador.
Esta lei número 28 também extinguiu o Julgado do Desemboque e o anexou ao
município de Araxá, e, exigia que a população construísse às suas custas uma Casa de
Câmara e cadeia. O Capitão Domingos, em menos de um ano, recolheu donativos e
construiu a Casa de Câmara, podendo, então, instalar a nova vila.
Os seguintes prefeitos de Uberaba são da família Silva e Oliveira:
- Domingos da Silva e Oliveira
- José Teixeira Alves de Oliveira
- José Joaquim de Oliveira Teixeira
-Gabriel Orlando Teixeira Junqueira
-Manuel Terra, ( O Maneco Terra)
-Hildebrando de Araujo Pontes, genealogista da família Silva e Oliveira e historiador
-Olavo Rodrigues da Cunha
-Leopoldino de Oliveira
-Guilherme de Oliveira Ferreira
-Artur de Melo Teixeira, prefeito do centenário de Uberaba em 1956
-Luís Guaritá Netto
Outros nomes dos Silva e Oliveira também foram grandes líderes políticos como o
Coronel Bruno da Silva e Oliveira e seu filho, o Bruninho.
Em 1840, Uberaba é elevada à categoria de comarca, a Comarca do Paraná,
desmembrada da comarca de Paracatu do Príncipe. O primeiro juiz da Comarca do
Paraná era irmão do escritor Bernardo Guimarães, cujo irmão foi o primeiro juiz da
Comarca de Uberaba.
Uberaba é elevada, da categoria de vila, à categoria de cidade, em02 de maio de
1856. Data escolhida para as exposições de gado.
Uberaba, na Guerra do Paraguai, foi passagem das tropas federais, e recebeu
o Visconde de Taunay, que assim descreveu a paisagem ao redor de Uberaba:
“Inúmeros regatos, córregos, ribeirões e possantes rios, semeado de flores, com um
sem número de pássaros, aves e animais, todos esquivos e que mal se enxergam
escondidos nas matas e capões, inçados de cobras de veneno virulentíssomo, cascavéis,
jararacusssus, urutus, todas ariscas, fugitivas, e que só causam dano quando se tem a
infelicidade de pisá-las e magoá-las.”
Taunay também notou que as moças uberabenses eram cuidadosamente guardadas
dos olhos dos visitantes.
O Visconde de Taunay gostou tanto do violeiro, poeta, intelectual, gramático e único
deputado estadual uberabense no Império do Brasil, Antônio Cesário da Silva e Oliveira,
neto do Capitão Domingos da Silva e Oliveira, que o colocou como personagem de seu
romance “Inocência”, o único personagem que mantém seu nome verdadeiro.
Inocência era uma moça da família Garcia Leal, aquela família do famoso “7 orelhas“,
família pioneira de Paranaíba-MS e toda a região leste (o Bolsão) do atual Mato Grosso
do Sul.
Ver a história do “7 orelhas” no site:
www.eusougarcialeal.worpress.com
Na década de 1870, criadores de Uberaba introduzem o gado Zebu no Brasil.
De passagem por Uberaba, em 1885, e hospedado no sobrado da prefeitura, Taunay
conta da poeira fina que as boiadas levantavam na no largo da Matriz, atual praça Rui
Barbosa.
-Diz Taunay:
Era nosso tormento, morando nós da Comissão de Engenheiros, numa sala cedida pela
Câmara Municipal por cima da Cadeia, a que fazia o canto da “Praça da Matriz” e a rua
mais frequentada, a do “Commercio” (a atual rua Artur Machado). Quando passavam as
tropas e cargueiros, levantavam-se nuvens de pó vermelho, o que se chamava
expressivamente no sertão “polvadeira”.
A Sessão da Câmara Geral, no Rio de Janeiro, atual Câmara dos Deputados, do dia 10
de maio de 1886, foi quase toda dedicada às tumultuadas eleições para deputado,
ocorridas em Uberaba, em 15 de janeiro de 1886. Depois de muito debate, a Câmara
Geral deliberou por anular as eleições de Uberaba.
Em 1889, chega a Uberaba, os trilhos da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.
A autorização para prolongar a Mogiana até Uberaba foi dada pelo decreto imperial nº
8.888 de 17 de fevereiro de 1883. O Antigo traçado da Mogiana passava por Franca. Na
década de 1910, o Coronel Orlando Diniz Junqueira consegue que se faça um traçado
direto de Ribeirão Preto-SP a Uberaba.
A Atual Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (a N.O.B.), que liga Bauru-SP a CorumbáMS, era uma estrada inicialmente planejada para ir de Uberaba-MG até Coxim-MS, dai o
nome de “Noroeste do Brasil” (N.O.B.).
Em 1899, é criado o “Clube Lavoura e Comércio” com o objetivo de defender a lavoura
e a pecuária, combatendo os altos impostos e as interferências do novo governo
republicano na atividade rural. É lançado o jornal “Lavoura e Comércio” que, em seu
primeiro número, ocupando toda sua primeira página, expõe os ideais dos ruralistas.
Desde meados do século 19, a Zona de Baixo Meretrício de Uberaba era localizado na
atual Rua Paulo Pontes, então chamada “Rua da Alegria” e “Rua do Baculelê“, logo
abaixo do antigo cemitério de Uberaba, localizado onde hoje é o Senac.
Atualmente, a Zona de Baixo Meretrício de Uberaba fica no Bairro São Benedito, onde
foi, a finada “Tia Etelmiza”, uma de suas principais proprietárias.
Na década de 1920, o jornalista Orlando Ferreira reclamava, nos seus livros, que a
polícia dos Rodrigues da Cunha, dos Prata e do Monsenhor Inácio Xavier dos Santos,
dava batidas na Zona de Baixo Meretrício e de jogo de azar da atual Rua Paulo Pontes,
mas não entrava no luxo da Rua do Comércio (atual Rua Artur Machado).
Na virada do século XX, os homens mais ricos de Uberaba eram oscapitalistas que
emprestavam dinheiro para os boiadeiros trazerem boiadas do pantanal do atual Mato
Grosso do Sul até o Frigorífico Santa Cruz na cidade do Rio de Janeiro. Esses boiadeiros
chegaram, uma vez, a reclamar ao Dom Pedro II, a dificuldade que passavam com os
atravessadores dos açougues no Rio de Janeiro, tendo que vender a eles as boiadas a
baixo preço.
Ver documento dirigido pelos boiadeiros ao D. Pedro II:
http://capitaodomingos.wordpress.com/0-2-antonio-carrilho-de-castro-vai-aoimperador-pedro-ii/
Um dos principais capitalistas de Uberaba foi o Alferes Antônio Carrilho de Castro e seu
filho Antônio Carrilho de Castro Filho um dos principais boiadeiros de Uberaba.
E o mais culto uberabense, na virada do século 19 para o século 20, foi o doutor Luís
Ignácio de Souza Lima, poliglota e conhecedor de diversas ciências. Luís Ignácio era
filho do único vinicultor de Uberaba, Joaquim Ignácio de Souza Lima, um português que
tinha uma plantação de vinho que ia da atual rua Major Eustáquio até a Avenida Santos
Dumont.
Em 1905, é inaugurada a energia elétrica na cidade.
Viveu em Uberaba, uma neta de Tiradentes, nascida em março de 1819, Carolina
Augusta Cesarina, falecida, com 86 anos de idade, em 30 de setembro de 1905, em
Uberaba:
http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/fotografico_docs/photo.php?lid=31227
#
Em 1906, tem início as exposições de gado bovino. Exposições que foram muito
prestigiadas pelo Doutor Getúlio Dorneles Vargas, nas décadas de 1930 a 1950.
O Doutor Getúlio também almoçava muito na casa do Dr. Mário Palmério, seu colega de
PTB, embaixador e grande escritor de Uberaba e fundador da UNIUBE.
Abaixo foto do Doutor Getúlio com o Prefeito Antônio Próspero, em 1952:
:
O doutor Getúlio sempre andava acompanhado de um preto fiel, o Tenente Gregório
Fortunato, chefe da “Guarda Negra” que protegia o doutor Getúlio e que o
acompanhava desde a Revolução de 1930.
E o doutor Getúlio sempre gostou muito de cinema. Assim o Tenente Gregório foi o
primeiro preto a frequentar o Cine Metrópole, na Avenida Leopoldino de Oliveira. Daí,
em Uberaba, começou-se a espalhar que: ”O Gregório foi o primeiro preto a sujar o
Metrópole”.
Os negros, naquele tempo chamados de PRETOS, só podiam entrar no Cine São Luiz, na
Praça Rui Barbosa. Hoje a situação é muito diferente, sendo comum, em Uberaba,
casais de cores diversas.
Em 29 de setembro de 1907, é criada a Diocese de Uberaba, elevada à categoria de
arquidiocese e sede metropolitana (Arquidiocese) em 14 de abril de 1962.
Durante a Revolução de 1924, uma comissão de líderes políticos uberabenses encontra,
em Mogi Mirim, o líder tenentista João Cabanas e lhe oferece dinheiro, armas e tropas
para que ele e a sua coluna, chamada Coluna da Morte, rumarem para o Uberaba,
onde o Tenente João Cabanas proclamaria a criação do “Estado do Triângulo“, antiga
reivindicação da região, e partirem, em seguida, para Belo Horizonte, para depor o
governo mineiro.
O tenente João Cabanas conta, em seu livro “A Coluna da Morte“, que aceitou a
proposta de depor o governo mineiro, mas, enquanto fazia os preparativos para a
partida para Uberaba, pela Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, chegaram ordens
do comando revolucionário para a Coluna da Morte partir em retirada para o atual Mato
Grosso do Sul.
Durante a Revolução de 1932, foram travados combates entre mineiros e paulistas na
fronteira com o estado de São Paulo, na “Ponte do Delta“, que ligava Uberaba ao estado
de São Paulo. Uberabenses, liderados por Roberto de Genari, constroem um carro
blindado para enfrentar os paulistas na “Ponte do Delta”.
Na década de 1940, começam a serem encontrados fósseis de animais pré-históricos na
região da antiga Estação de Trem de Peirópolis, do
antigo traçado da Companhia
Mogiana que passava por Franca-SP.
Por essa época, o antigo distrito de “São Pedro do Uberabinha” passa a se chamar
Uberlândia. Uberabenses, bem humorados, começaram a espalhar que Uberaba iria,
então, se chamarUberlandão.
Nesta época, Uberaba ganhou sua primeira favela, O “CAMPO DAS AMORAS”, que
ficava para baixo da Igreja da Abadia até o Barro Preto.
Em 1946, o escritor Monteiro Lobato passou por Uberaba e fez um discurso da
Campanha “O Petróleo é Nosso”.
Sobre sua passagem por Uberaba, o escritor Monteiro Lobato escreveu:
Estive o mês passado no Triângulo Mineiro e pude verificar a tremenda etapa já
vencida pela ideia do petróleo. Fui recebido pelas meninas do Colégio Nossa
Senhora das Dores, em Uberaba. Uma coisa linda, das quais só os mineiros
sabem fazer. Duas religiosas, dessas que pela sua bondade transparente
convertem por ação de catálise, levaram-me ao grande pátio interno, onde, em
semicírculo, centenas de meninas, uniformizadas de sainha azul e blusa creme,
esperavam esse misterioso Lobato do sítio da Dona Benta. Parei diante delas,
ladeado das duas freiras. Adiantou-se uma menina de 16 anos, Luci Mesquita, e
pronunciou um discurso bastante sério. – Quem teria escrito esse discurso?
perguntei-lhe mentalmente enquanto a ouvia; e quando ela terminou, repeti a
pergunta: – Quem escreveu este discurso, senhorita? – “Eu mesma”, foi a
singela resposta, e as duas irmãs a confirmaram. – “Sim, foi ela sozinha. A Luci
é muito lida, e até tivemos de cortar um pedaço porque se estendeu demais
sobre o petróleo”. Luci disse entre outras coisas: -”O vosso sacrifício da
carreira literária para se dedicar inteiramente ao serviço da propaganda do
petróleo é das mais nobres que conheço“….. Eu arregalei os olhos. Só naquele
momento percebi que realmente havia sacrificado minha carreira literária em
prol do sonho do petróleo.
Durante a elaboração da Constituição de 1946, nos debates da Assembléia Nacional
Constituinte, o deputado federal mineiro Juscelino Kubitschek propõe a construção
da nova capital do Brasil no Triângulo Mineiro.
Em 10 de setembro de 1950, o Doutor Getúlio Vargas, na sua campanha para
presidente da república, faz um discurso, em Uberaba, em defesa da pecuária.
Lembrando
sua
condição
de
pecuarista,
Getúlio
conversou
com
os
uberabenses, uma conversa de pecuarista pra pecuarista:
- Quero que saibam que lhes vou dizer as coisas na linguagem simples de
companheiro!
Nossa
conversa
será
no
jeito
e
estilo
daqueles
que
os
fazendeiros costumam fazer de pé, junto á porteira do curral!”
E continuou o doutor Getúlio:
“Lutando contra opiniões que combatiam a introdução do gado zebu no Brasil,
os fazendeiros do Triângulo Mineiro apoiados exclusivamente no seu próprio
trabalho e nos seus próprios recursos arrostaram todos os percalços da
tremenda luta que se feriu, e que, afinal, lhes conferiu incontestada vitória.
De então para cá, o Brasil Central passou a ter expressão econômica,
transformando-o de uma vasta solidão inaproveitada, que era então, no grande
reduto econômico e francamente ativo da atualidade.“ — Getúlio Vargas
Em 24 de abril de 1952, ocorre uma revolta em Uberaba contra os altos impostos
cobrados pelo governo estadual chefiado por Juscelino Kubitschek. O edifício da
Coletoria Estadual é destruído, assim como os postos de cobrança de impostos nas
entradas da cidade. Temia-se que a revolta se espalhasse por outros municípios
mineiros.
A revolta só terminou com a chegada de tropas do 4º Batalhão de Caçadores, vindas de
Belo Horizonte, de avião, e que ocuparam as ruas do centro de Uberaba portando
metralhadoras. A revolta foi notícia no maior jornal dos Estados Unidos, o The New
York Times.
Logo em seguida, procurando se reconciliar com os uberabenses, o governador mineiro
Juscelino Kubitschek cria a Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro e a instala
no edifício onde funcionava a Cadeia Pública de Uberaba, em edifício vizinho ao
mercado municipal.
JK conhecia muito bem a fama daquela famigerada cadeia.
JK jurou acabar com ela, e cumpriu sua promessa. Sua promessa está gravada em uma
placa que se encontra em frente ao prédio da Universidade, cuja frente dá para o prédio
do Mercado Municipal, mercado este inaugurado na década de 1920.
Desde o início do Século XX, as alunas do Colégio Nossa Senhora das Dores, que fica ao
lado da antiga cadeia, escutavam, no recreio, o “ai ai ai” dos presos.
Na década de 1950, o casal Cecília Arantes Palmério e Mário Palmério começou a
investir em educação, dando origem a atual UNIUBE, Universidade de Uberaba. Cecília
Arantes Palmério faleceu em 2011.
Em 1956, em Uberaba, no dia 2 de maio, acontecem grandes comemorações em
homenagem ao seu primeiro centenário de elevação à categoria de cidade.
Em 1957, a senhora Aparecida Conceição Ferreira, a “Dona Cida”, recentemente
falecida, funda o “Hospital do Fogo Selvagem“, no Bairro da Abadia, referência
nacional no tratamento do pênfigo foliáceo.
Em 1959, fixa residência em Uberaba, o médium Chico Xavier que se tornaria o mais
conhecido dos médiuns brasileiros. Hoje Uberaba é uma cidade com um número
expressivo de espiritualistas graças à sua influência.
A construção de Brasília deu um impulso ao desenvolvimento de Uberaba.
Em 1959, a lei federal nº 3.613, de 12 de agosto, assinada pelo presidente Juscelino,
ordena que seja implantada e pavimentada, uma rodovia ligando Limeira a Brasília,
passando por Uberaba (de São Paulo capital até Limeira-SP, já existia uma rodovia
asfaltada construída pelo Governador paulista Doutor Adhemar Pereira de Barros).
Em junho de 1961, o asfalto chega à divisa São Paulo-Minas Gerais, em Igarapava-SP,
e, em 1965, a pavimentação asfáltica da BR-050, entre Uberaba e Uberlândia, é
inaugurada pelo presidente da república Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco.
Na década de 1960, chega a televisão a Uberaba, com a TV Uberaba.
Na década de 1970 em diante, começa a industrialização de Uberaba com os distritos
industriais.
Em 1976, A Rede Globo de Televisão exibe a novela Estúpido Cupido, de autoria do
uberabense Mário Prata.
O antigo território de Uberaba, que abrangia metado do Triângulo Mineiro, fora
desmembrado várias vezes, e a última vez foi, na década de 1990, para se criar o
Município de Delta-MG.
No século XXI, foi finalmente construída e entregue a nova ponte ligando São Paulo a
Minas Gerais e foi duplicada a rodovia BR-050 que liga o Delta a Uberaba, cortando as
terras que foram do Tenente Joaquim da Silva e Oliveira (Até próximo à Fazenda
Tangará no Rio Conquistinha) e as de seu irmão o Capitão Domingos da Silva e Oliveira
(do Rio Conquistinha até a entrada de Uberaba, onde havia uma porteira para entrar na
zona urbana de Uberaba).
Em 2008, Nossa Senhora da Abadia passa a ser a padroeira de Uberaba. Sua devoção
em Uberaba, na década de 1870 e 1880, foi introduzida pelo Alferes Antônio Carrilho
de Castro, capitalista e vereador, e pelo Capitão Eduardo José de Alvarenga Formiga,
oriundos de Iguatama-MG, onde Nossa Senhora da Abadia é a padroeira.
Ambos,
Antônio Carrilho de Castro e o Capitão Formiga, eram oriundos de Iguatama-MG, onde
a padroeira era Nossa Senhora da Abadia, cuja imagem original está em uma Igreja de
mesmo nome na Freguesia de Santa Maria do Bouro, no Conselho de Amares, em
Portugal.
São Antônio e São Sebastião deixaram de serem o padroeiro, em 1905, quando criou-se
a Catedral de Uberaba e a Paróquia da Matriz mudou de nome, passando a se chamar
Paróquia Catedral do Sagrado Coração de Jesus, e os dois santos (Antônio e Sebastião)
passaram a serem os padroeiros da Paróquia que é mais conhecida como Adoração
Perpétua.
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Documentos da História de Uberaba:
1-Transferência do Triângulo Mineiro à Capitania de Minas Gerais: Dessa
transferência existe a lenda que foi por causa de Dona Beja. Mas foi por
preocupação do bom D. João por nossa difícil situação como ele explica:
Alvará Régio de 4 de abril de 1816:
“Eu, El Rei, faço saber aos que este meu alvará virem, que tendo creado a nova
Comarca de Paracatú, assignando-lhe os limites, que me parecem proprios, na fórma do
Alvará de 17 de maio do anno passado de 1815, e representando-me os povos da
Campanha do Araxá, que comprehende os dous Julgados e Freguezias de S. Domingos
e Desemboque, os grandes incommodos que supportam em viverem sujeitos à
Capitania e Comarca de Goyaz, cuja Capital lhes fica em distancia de mais de 150
leguas, sendo lhes penosos os recursos, de que frequentemente necessitam; ao mesmo
passo que estando elles sujeitos á Capitania de Minas Geraes e á Ouvidoria de Paracatú
que lhes fica próxima, podem ser mais facilmente ouvidos e soccorridos nas suas
dependencias, sem serem obrigados a desamparar as suas casas e culturas de
suas terras, ficando também mais desembaraçados e promptos para se empregarem
no meu real serviço: e querendo eu evitar-lhes tão penosos inconvenientes, e promover
as comodidades daquelles povos, que, pela sua industria e digna aplicação á lavoura, se
fazem dignos da minha real comtemplação;……..Hei por bem separar e desannexar da
Capitania e Comarca de Goyaz os ditos dous Julgados e Freguezias de S. Domingos do
Araxá e Desemboque, com todo o territorio que lhes pertence; em mando que deste
alvará em diante fiquem pertencendo á Capitania de Minas Geraes e á Comarca de
Paracatú, fazendo parte dos limites desta….Dado no Rio de Janeiro a 4 de abril de
1816″.
2- Criação da Freguesia de Uberaba:
Também foi uma conquista do Sargento-Mor Eustáquio da Silva e Oliveira e
mostra o carinho de D. João por nós, como ele explica: Bela descrição de
nossa situação e de nossos problemas naquela época:
Decreto Régio de 2 de março de 1820:
Cria uma freguesia no distrito de Uberaba, em Minas Gerais, com a invocação de Santo
Antônio e São Sebastião de Uberaba, e manda fundar uma capela curada na mesma
Freguesia.
“…Sendo-Me presente o grande desgosto que sofrem os colonos estabelecidos no Sertão
da Farinha Podre, por se verem privados de socorro e pasto espiritual, sem que o possa
obter com facilidade da Freguesia do Julgado do Desemboque, que dali dista mais de 60
léguas: Hei por bem que se estabeleça uma freguesia no distrito de Uberaba até a
confluência do rio Paranaíba e rio Pardo, com a invocação de Santo Antônio e São
Sebastião de Uberaba, dividindo-se com a Capela de N. S. Do Monte do Carmo, e com a
Freguesia do Desemboque, por onde mais conveniente for. E Sou outrossim servido,
que nesta nova Freguesia haja também uma capela curada, no lugar que mais convier,
para comodidade dos habitantes que novamente se acham por ali estabelecidos. A Mesa
da Consciência e Ordens o tenha assim entendido, e faça executar com os despachos
necessários. Palácio do Rio de Janeiro em 2 de março de 1820.
Com a rubrica de Sua Majestade”
Nota: 1- Nossa Senhora do Monte do Carmos é hoje Prata-MG.
Nota 2- A confluência do rio Paranaíba e rio Pardo citada é a antiga divisa entre as
capitanias de Goiás e Mato Grosso, fica em Brasilãndia-MS, na foz do rio Pardo
sulmatogrossense com o Rio Paraná, porém esse leste sul sulmatogrossense nunca foi
ocupado por Goiás que, posteriormente, perdeu estas terras.
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3- Criação da Vila de Uberaba:
Lei mineira número 28: (significa criar o município, ter autonomia administrativa, ter
seus próprios vereadores, não depender mais de Araxá):
Manuel Dias de Toledo, Presidente da Província de Minas Gerais: Faz saber a todos os
seus habitantes que a Assembléia Legislativa Provincial decretou e eu sancionei a Lei
seguinte:
Artigo 1- Fica elevado à Vila o arraial de Santo Antônio de Uberaba, compreendendo no
seu município a freguesia do mesmo nome e o distrito de Sacramento da Freguesia do
Desemboque servindo de divisa pelo lado desta povoação a Lagoa dos Esteios e a linha
do prolongamento da mesma lagoa até o Rio das Velhas ao Rio Grande.
Artigo 2- É suprimido o julgado do Desemboque, e a parte dele não compreendida no
Município de Uberaba é incorporada ao de São Domingos do Araxá.
Artigo 3- Os habitantes do novo município são obrigados a construir, à sua custa, Casa
para sessões da Câmara Municipal, Júri, uma cadeia segura, conforme o plano que for
determinado pelo governo; antes de verificar-se condição não terá lugar a execução
desta lei”.
Dada no Palácio do Governo, na Imperial cidade de Ouro Preto, aos vinte e dois de
fevereiro 1836.
4- Ata da instalação do Município de Uberaba
“Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e trinta e sete,
décimo sexto da Independência e do Império, aos sete dias do mês de janeiro do dito
ano, neste Arraial de Santo Antônio e São Sebastião do Uberaba, Comarca do Rio
Paracatu do Príncipe, Província de Minas Gerais, em nova Casa, construída pelos
Cidadãos do novo Termo, para servir de Paço da Câmara, que vai se instalar, perante os
novos vereadores, que hão de formar, eleitos na forma da Lei. E, em presença dos
cidadãos que concorreram a este Ato, leu, o Capitão Domingos da Silva e Oliveira, o
Ofício da Câmara Municipal da Vila do Araxá, pelo qual o convidava, como cidadão
mais votado, a prestar juramento para Presidente da nova Câmara; E declarando que
o tinha feito, leu a Certidão do mesmo juramento prestado a 20 de dezembro de mil
oitocentos e trinta e seis. Leu a Portaria da Presidência da Província de Minas Gerais, de
vinte de julho do dito ano, que ordena a execução da Lei Mineira número 28, que elevou
este Arraial à Vila e que lhe marcou seus limites”.
Nota: Esta citada casa, construída pelo Capitão Domingos da Silva e Oliveira, para
servir de Casa de Câmara e Cadeia de Uberaba, ainda hoje, serve como Gabinete do
Prefeito e de Câmara Municipal de Uberaba. A escritura está no primeiro livro do
cartório do Raul Silveira, no ano de 1836, registrando os nomes dos uberabenses que
compraram e doaram o terreno para que o Capitão Domingos construísse o Paço
Municipal.
=
História Topographica da Freguesia do Uberaba vulgo Farinha Podre (*) escrita pelo
Vigário Silva.
Entre o Rio Grande e o Rio das Velhas na Provincia de Minas Geraes, Comarca de
Paractú do Principe, julgado do Dezemboque Prelasia de Goyaz, está a Povoação de St°.
Antônio e Sam Sebastião do Uberaba.
Os lugares que ela compreende, erão incultos e desertos até 1807, e apenas conhecida
a estrada, que a atraves de S. Paulo para Goyas, onde residião alguns Indios, que
tinhão sahido da Aldeia de Santa Anna, os quaes nunca tiverão animo de alongar-se
para algum dos lados da mesma estrada, nem ao menos meia legoa, como depois se
conheceo pelas culturas sempre visinhas as suas habitações: então Januario Luis da
Silva, Pedro Gonsalves da Silva, José Gonsalves Eleno, Manoel Francisco, Manuel
Bernardes Ferreira, e outros moradores na Freguezia de Dezemboque entrarão até a
distancia de algumas lagoas de Sertão, e descobrindo lindas campinas, e optimos
matos, appossiarão algumas Fazendas, e voltarão tanto por falta de mantimentos, como
pelo terror, que lhes inspirava o Gentio Caiapó, cujo vestígio incontrarão em diversas
partes.
Communicarão o resultado da sua entrada o S. Mr. Antonio Eustaquio da Silva, e a
outros, e aquelle por gênio emprehendedor de novas descobertas projectou logo
explorar todo o Sertão, que podesse, e convidou muitas pessos das Geraes para
companheiros: entretanto passou para o Norte da Provincia de Goyaz o Coronel José
Manoel da Silva e Oliveira, e sabendo e pertenção, que tinha e do Sargento Mor seu
Irmão, a declarou o Eximo. Marquez de S. João de Palma, que então governava aquella
Provincia que pertencia o Julgado do Desemboque, e este conhecendo quanto podia
interessar esta nova descoberta, intervindo a direcção do referido S. Mr. de quem tinha
muito boas noticias, o nomeou Commandante Regente dos Sertoes da Farinha Podre
por Portaria de 27 de Outubro de 1809.
Nos primeiros dias do mez de Julho de 1810 o Sargento Mr. munido das necessárias
provisões de mantimentos, associando-se os que primeiro havião entrado, e alguns
outros Geralistas, formando todos huma bandeira de 30 homens ingredirão pelo Sertão
dentro até o Rio da Prata na distância de 30 legoas, a contar-se o caminho em direitura,
encontrando a cada passo o embaraço, já de Rios, já de pântanos, que dificultosamente
transivão, sempre temerosos do Gentio, cuja existência se conhecia, os dos aqui, e ali.
He de notar se o perigo, que se achavão expostos estes emprehendedores, quanto aos
animaes silvestres e ferozes, pelo o que aconteceu a Antonio Rodrigues da Costa, o qual
acomettido cara a cara por uma onça pintada, que avançou furiosamente ao cavalo, em
que hia montado, e o segurou com unhas e dentes, pode com destreza (depois de
falhar-lhe o recurso da espingarda, cujo gatilho nunca mais o encontrou) defender-se
com a espada, que trazia o lado, dando algumas estocadas, com a dor das quase largou
a onça o cavalo, e fugio até morrer a chumbo, depois de perseguida pelos cães em um
capão, que se achava vizinho, e que pelo acontecimento ficou denominado o capão de
onça.
O referido Sargento M. e toda a sua comitiva depois de lançar algumas posses, ou
sinaes pelo Sertão na decurrencia de dois meses, e feitas algumas pequenas rossas,
voltou
a
cuidar
de
meios
para
transportar-se,
assim
como
alguns
de
seus
companheiros; pois havião todos conhecido a transcedencia, tanto dos campos, como
dos matos.
Em 1812, quando a Povoação constava de uns poucos de moradores, alem dos Indios
da estrada, fez segunda entrada, trazendo consigo muitas pessoas, que de novo
convidará e alguns das quases o haviam acompanhado a primeira vez, entre as quases
se contava o Reverendo Hermogenes Casimiro d’Araujo, que dormia junto a ele em
certa noite, quando huma grande cobra Jararaca-assú passou por cima de ambos e
sendo percebida, a expellirão com a colxa, e depois a matarão, antes de que mordeu a
um cão, que imediatamente morreu, o que de certo aconteceria aos dois, se a fortuna
os não bafejasse.
Depois desta segunda entrada, as noticias, que derão os que haviam acompanhado a S.
Mr. os convites e as persuações deste atrahirão em breve muitas pessoas, que vinham
das Geraes a procurar novos estabelicimentos, não obstante o medo de Gentio, que se
antolhava.
Em 13 de Fevereiro de 1811 obtiverão o mesmo S. M. Eustaquio e outros Provisão da
Meza da Conciencia e Ordens para erigirem uma Capela com o Orago da Senhora do
Monte de Carmo; mas até o presente não levarão a pratica sua pertenção, sem duvida,
porque a povoação do lugar, onde querem e rigir a referida Capella, ainda hoje é muito
pouco considerável.
Em 1812 se levantou no sitio chamado o Legeado uma pequena Caza de Oração, onde
se colocarão Santo Antonio e Sam Sebastiam: celebrou ali por pouco tempo os Santos
Mistérios com Autoridade de Reverendo Antonio Jose Tavares Vigario do Desemboque o
P. José de Moraes; e depois se transferiu por comodidade para a margem do (Rio)
Uberaba junto a estrada de Goyaz, onde está hoje formado o Arraial.
O referido P. Moraes demorou-se apenas até junho de 1813, e despediu-se, ficando os
poucos moradores que estão existiam com os recursos espirituais muito distantes até
Maio de 1814, quando entrou por Capellão o Padre Silverio da Costa Oliveira
legitimamente autorizado, o qual esteve até 7 de Setembro, dia ‘em que se retirou’ para
a Capela de N. Senhora S.S. Sacramento do Burá.
Em 17 deste mesmo mês de Setembro e ano de 1820 tomou posse de Vigario da
Freguezia, erecta alguns meses antes a requerimento do S. Mr. Antonio José da Silva,
que atualmente serve:
Tem a Freguezia de longitude mais de 40 legoas, e de latitude mais de 20, e de sua
Filial a Capela de N. Senhora das Dores distante da Matriz 10 legoas, erecta em 1823.
Divide pelo Nascente com a Freguesia do Desemboque pelo Ocidente com o Sertão, pelo
Norte com as Freguesias do Araxá, e Aldeia de Santa Anna, e pelo Sul com a Freguesia
da Villa Franca do Imperador.
Dista o Arraial do Uberaba da Cabeça do Julgado 18 legoas, do Araxá 22, da Aldeia de
S. Anna 15, da Villa Franca 15, e da Cabeça da Comarca(Paracatu) 60.
Contem a Freguezia dentro do Arraial 91 fogos habitados, e fora 300. A sua Povoação,
que em 1820 constava de 1.300 almas monta hoje a 3.000 a fora os Indios Aldeianos a
margem do Rio Grande na distancia de 40 lagoas do Arraial, cujo numero excede a
1.000 de ambos os sexos.
Este Indios (Caiapos) passeião de tempos em tempos por toda a Freguesia; mais não
commettem a menor hostilidade, o que se deve sem duvida ao jeito, e ao amor, com
quem tem sido sempre tratados pelo Sarg. Mor Antonio Eustáquio da Silva, que os visita
todos os anos, prodigalizando-lhe roupas, e ferramentas, ora a sua custa, ora a custa
da Fazenda Pública e também em cooperado muito para a sua pacificação João Baptista
de Siqueira, que mora visinho aos mesmos indios, com que tem freq. Comunicações e
os supre, muitas vezes, com mantimentos do seu Paiol.
Divulgado no blog http://homemculto.com/2008/10/28/historia-de-uberaba/
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História de Uberaba