Dizem que é uma história de amor
Capítulo 2:
- Souberam do portal para outra dimensão que encontraram? - perguntou Erick
- De repente sinto que posso ir para Nárnia. - foi Caio tentando fazer uma piada
- E se nesse outro universo existirem seres fantásticos? Dragões e tudo mais... - os olhos de
Victor Hugo brilhavam
A única coisa que Caio conseguia imaginar era se lá, nesse universo cheio de réplicas nossas,
existia uma outra Isa. Uma Isa que adoraria estar com ele, diferente dessa que havia sumido há
dias e não tinha lhe dado nem notícias. No entanto até aquele presente momento a notícia nada
mais era que um boato rolando pela internet, o que não trazia credibilidade nenhuma para o fato.
Claro, isso não impede ninguém de sonhar. Algo assim afetaria a vidinha mais ou menos de
todos para sempre.
Caio apertou os passos trazia em suas mãos algumas folhas, a todo instante olhava para trás
amedrontado. Era como se estivesse sendo perseguido. Dobrou rapidamente a esquina da casa
de Erick, ligeiramente deixou uma mensagem para Victor Hugo. Subiu as escadas
aceleradamente, seus olhos transpareciam um ar aterrorizador. O barulho do celular, com a
resposta de seu amigo, fez seu coração pular até a garganta. Tocou a campainha exaustivamente
até ser atendido. Erick balançou a cabeça positivamente assim que abriu a porta, vendo o olhar
aflito do rapaz. Ele adentrou a sala, Victor Hugo estava lá, os três se encararam em silêncio.
Instantes de tensão e silêncio.
- E então, conseguiu? – indagou Erick seriamente
Caio consentiu com a cabeça.
- Ótimo. – Victor Hugo fez sinal para que ele se aproximasse – Coloque-o ai.
Ele fez o que foi solicitado, depois os três se sentaram em volta dos papéis. Entreolharam-se
mais uma vez. Fecharam os olhos depois, como se estivessem começando um estranho ritual.
- Agora seja o que Deus quiser... –Caio soltou um solilóquio
- Adedanha. – disseram os três ao mesmo tempo
- Letra C. – disse Erick
Após cansarem-se, afinal Victor Hugo era um nerd extremamente chato, tanto que até seus
amigos nerds queriam matá-lo, acabou com o jogo em questão de poucos minutos. Seu apelido
por sua extrema chatice era Sheldon Cooper, em alusão a um personagem de uma série famosa
que faz grande sucesso, e qual coincidentemente esse autor é fã. Resolveram então tratar do
assunto mais importante do dia, depois dos livros e filmes de ficção-cientifica é claro; o tal
portal interdimensional. Permeavam inúmeras hipóteses, inúmeros casos e causos sobre isso,
mas até agora ninguém de fato poderia afirmar se ele existia ou não. Ninguém não, quase
ninguém. O maconheiro branco de dread tinha tal resposta, no entanto, desde o fatídico dia do
sumiço de Isadora, ele também tinha desaparecido. Uma mensagem codificada havia sido
encontrada em seu apartamento, nenhum grande cientista no mundo havia sido capaz de decifrar
tal código. Contudo, com a ajuda de um amigo que trabalhava em um laboratório de física
renomado, Caio tinha conseguido uma cópia e tinha plena convicção que junto de seus amigos,
somado os seus QI’S poderiam enfim acabar com o mistério.
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Depois de uma noite inteira de trabalho, cálculos, lamentações por não serem caras bonitos, eles
chegaram a inevitável surpresa que poderia mudar tudo. Terminaram a leitura do livro de Dan
Brown e descobriram que o vilão era quem eles menos esperavam. Houve alguns momentos de
desordem e burburinhos, logo retomaram o foco e não levaram meia hora para descobrir onde
estava o portal.
- O portal interdimensional é acionado de uma distância determinada a partir do ponto do
meridiano, que segundo meus cálculos dá exatamente no apartamento daquele cara esquisito. –
concluiu Erick
- Mas como encontraremos esse portal? – ironizou Caio – Com palavras mágicas?
- Deve haver alguma coisa completamente anormal lá. – replicou Erick
- Acho que não... – Victor Hugo se intrometeu na discussão
- Não? – disseram os dois ao mesmo tempo
- A coisa mais anormal de lá era aquele branquelo maconheiro de dread que desapareceu.
Em geral nos filmes para que algo completamente aterrorizante aconteça, os personagens
decidem sempre ir aonde não deveriam. Nesse caso, obviamente ir até o apartamento era uma
ideia, no mínimo, imbecil.
Encontrar o local não foi o problema, apenas um pequeno detalhe foi completamente
desconsiderado por eles: a porta do apartamento estava trancada. Agora imaginem três nerds
magrelos, sem nenhuma força física, tentando arrombar alguma coisa. Deprimente, não é?
Caio foi decidido a encontrar vestígios da tal história do cara de dread que havia descoberto,
após fumar algum baseado, um portal que dava acesso a um mundo paralelo. Sua curiosidade
estava aguçada, não sabia exatamente o que esperar. Victor Hugo, Marcão e Erick se juntaram a
ele de última hora, logo os três desbravadores entraram pela porta do apartamento.
Ele percorreu todo o apartamento com os olhos, procurava em meio àquela interminável
bagunça algo que fosse extremamente bizarro. Não que achasse tropeçar em inúmeras cuecas
sujas, normal, mas sabia que procuravam por algo ainda mais deplorável. Como um CD do
Luan Santana, essas coisas terrivelmente horripilantes. Em toda história fantástica que se preze,
há uma instante com livros, porém convenhamos que um maconheiro não costuma ter o hábito
de ler muito. Releiam por favor, LER MUITO.
- Ei olhem aqui. – disse Victor Hugo
Os dois correram em direção ao amigo apressadamente. Ele apontou para o narguilé que estava
jogado no meio da sala. Erick o repreendeu dizendo que não bolariam ninguém ali tinha esse
hábito. Victor insistiu, dizendo que aquilo não era maconha. De repente fosse à poção mágica
que abriria o tal portal interdimensional. Lógico que sua teoria foi prontamente ridicularizada
por seus companheiros de aventura. Num ato de estupidez e coragem, resolveu acender o troço.
– Na primeira tragada nada aconteceu, ouviu protestos. Ignorando-os, tragou mais uma vez.
- E então? – perguntou Caio empolgado
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- Estava errado. – puxou a fumaça para dentro e soltou – É só maconha mesmo. – riu
Estava tudo espalhado, completamente desordenado, por um instante Caio se sentiu em seu
quarto. Mas as bitucas de cigarro espalhadas pelo chão deixavam para trás a primeira sensação.
Erick se perguntava o que havia acontecido com nosso amigo maconheiro. Teria ido para um
universo cheio de monstros? Victor Hugo se lamentava pela quantidade absurda de maconha
que o cara fumara sem nunca ter o convidado.
Algo chamou a atenção de nosso herói, que desprovido do medo, foi verificar o que era. Um
pequeno baú com uma trava. Não havia chaves por ali. Fizeram um esforço surreal para poder
abrir aquele treco, assim que conseguiram, pôde se ouvir os gritos de horror deles há
quarteirões.
- Que coisa horrível! – Erick encontrava-se com a mão na boca
- O que houve com ele? – os olhos de Victor Hugo estavam arregalados
- Gente... – Caio pausou – Essa é só uma foto do cara na praia. – constatou
- Mas ele era horrível. – Marcão continuava abismado
- Victor você está fedendo. Eu te disse para não fumar aquela porcaria. – advertiu Caio
Isa² conversava descontraidamente com Caio², observados atentamente por Isa. Ela tentava
entender como naquele universo eles eram tão amigos. Não entendia bem de mecânica quântica,
as possibilidades infinitas e tudo mais. Independente de qualquer coisa, qualquer explicação
cientifica, aquela cena era estranha. Muito estranha. Ainda mais esquisito era notar que Caio
daquela Terra não parecia ser tão esquisito quanto o nerd que conhecia.
- Que história louca! – disse Caio² encarando Isa
- O que foi? – respondeu sem graça. Não estava prestando atenção na conversa, viajando em
pensamentos.
- Você é de outro universo?!
Ela sorriu timidamente.
- Percebeu pelo sotaque? – fez graça
- Olha bom humor... – sorriu – Já gosto mais dela do que de você. – apontou para Isa²
Entraram novamente em uma discussão fútil para definir de vez por todas; qual seria a Terra
alternativa, aquela em que estavam ou a nossa.
Encontrar outro você causa um desassossego. Levanta questionamentos, nem sempre é fácil lhe
dar consigo mesmo. Isa observava sua réplica sorridente, parecia ter uma vida totalmente
satisfatória. Transparecia uma abundante felicidade, o que era estranho. Entendia que aquela
linha temporal era levemente alterada, porém não compreendia essa coisa de todas as
possibilidades estarem acontecendo ao mesmo tempo. Para ela existia um único tipo de Isa.
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Caio² era atraente, embora achasse, sem admitir publicamente, que Caio também era.
Conversaram pouco, mas notara o jeito dele a olhar. Também tinha suas fobias e timidez, por
isso nunca conversara com ele diretamente. Ali, os três pareciam não ter noção do que aquele
encontro representava para a história humana. Eram só jovens batendo um papo amigável,
socializando.
- E quanto tempo pretende ficar? – perguntou o rapaz
- Não sei nem como eu vim parar aqui. – coçou a testa – Talvez nunca consiga voltar.
- Isso é bom. – sorriu
- Bom? – ambas as Isa’s disseram ao mesmo tempo – Você enlouqueceu?
- Para mim, isso é bom. Ok?
Isa² cerrou os olhos, encarando-o como se decifrasse seus pensamentos. Ele deu uma piscadela
para ela, enquanto Isa demorava a entender o que Caio² havia dito.
- Sempre soube que flertava comigo. – Isa² disse sorrindo
- Estou flertando com ela. – apontou para Isa
Isadora sentiu calafrios estranhos. O coração acelerou, lembrou-se do encontro que havia
marcado em sua linha temporal e que por conta desse acidente bizarro não pôde comparecer.
Agora estava diante de um Caio totalmente diferente, confiante. Um cara que irradiava
segurança. Tudo que ela sempre procurara em alguém. Marcaram de sair para beber alguma
coisa mais tarde, havia um receio totalmente plausível de ambas as partes que, de repente, da
mesma forma que tudo foi bagunçado, voltasse ao normal. Para uma moça tão recatada, ás vezes
era bom estar com alguém tão insopitável. Além do mais, já que estava presa a uma realidade
completamente diferente da sua, quebrar algumas regras não faria mal nenhum.
Isa foi para casa de Isa², dobrariam um bocado tentando explicar toda àquela loucura para a mãe
do seu outro eu. Contudo, era descartada a ideia dela ficar a deus-dará nas ruas, sem ter para
onde ir e nem grana para se virar. De lá, sairia para um encontro romântico com Caio², mas seu
interior encontrava-se numa confusão só. Parte dela torcia para que o tal portal aberto, enquanto
ia para um encontro em sua linha temporal fosse aberto novamente, fazendo com que voltasse
para casa. E a outra parte queria irrefutavelmente sair com ele.
Dona Marlene ouviu atentamente tudo que as meninas lhe contavam, obviamente passou por
muitos estágios antes da aceitação de que poderia ser possível algo tão inusitado. Teve a
negação, a oração, a culpa por ter abandonado sem saber outra filha, até pensou estar bêbada. As
Isa’s se mantinham calmas e serenas, mesmo tendo que repetir a história incontáveis vezes.
- Existe outra eu em algum lugar. – estava boquiaberta
- Devem existir várias, centenas, milhares. – explicou-lhe sua filha
- E você quem é? – era natural estar confusa – Minha filha? Ou outra filha minha que não é
minha?
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- Por favor, mamãe! – bronqueou –Aí já é demais.
- Calma, é compreensível que ela fique assim. Dê um tempo para ela assimilar a coisa toda. –
intrometeu Isa
- Eu sei que você e eu somos, quase invariavelmente, iguais. – encarou sua réplica – Mas não
somos a mesma pessoa. Então, eu sei como agir com a minha mãe.
- Desculpe-me, eu só... – decidiu que era melhor não dizer nada
Marlene, tomando um surto de lucidez, voltou para si. Notara que o clima entre elas começava a
ficar pesado. Convidou sua ilustre visitante para tomar um café com bolo de fubá, sabia que as
meninas adoravam tal bolo. Depois sugeriu que Isa fosse tomar um banho, Isa² lhe emprestaria
roupas e se fosse necessário fariam algumas compras. Queria ter um momento a sós com sua
filha, imaginou que se era difícil para ela lhe dar com toda aquela situação, imagine para a
menina.
- O que há entre vocês? – sentou-se a mesa
- Entre nós? – Isa² não compreendeu – Como assim, mamãe?
- Está claro que existe um clima estranho no ar. Soa-me como certa rivalidade, eu não sei. É
evidente que ambas estão se esforçando para tratar-se bem, mas existe algo.
- Não mamãe. – soltou um riso forçado – Que maluquice sua! Olha, é natural estarmos meio
tensas, precisamos de tempo para nos adaptar a toda essa situação.
As sete e quinze e vinte e oito segundos Caio² chegou, trajando uma beca engomada, um estilo
tão atraente que a fez esquecer os vinte e oito segundos de atraso dele. Por instantes deixou de
lado suas fobias esquisitas. Ela vinha num vestidinho azul, tomara-que-caia e um saltinho fino.
Toda maquiada e sem óculos, seria deslumbrante não fosse o fato de ela andar toda
desengonçada de salto. Ele suspirou de paixão. Da janela do seu quarto, Isa² observava
atentamente todo o desenrolar de acontecimentos entre sua réplica sair pela porta e ser puxada
pelas mãos do rapaz até o carro. Da porta do quarto da filha, Marlene observava os movimentos
dela. Seu semblante continuava transparecendo preocupação, não existia possibilidade de negar.
Isa² abaixou a cabeça tristemente, sua mãe se aproximou lentamente, passou a mão por seus
cabelos de forma branda.
- Agora compreendo. – soltou um solilóquio
- É... – Isa² olhava para o nada
Já no carro, Isa ouviu inúmeros elogios, inclusive aos seus belos olhos negros que viviam
escondidos atrás daqueles enormes óculos. Ela tentou disfarçar o fato de ter que forçar a vista ao
máximo que podia para tentar enxergar tudo de forma minimamente decente. Fora ajudada por
seu outro eu, desde o modelito até a cor do esmalte nas unhas. Emprestara-lhe o melhor vestido
que tinha, ainda que meio relutante. O rapaz preparara um roteiro dos mais devaneadores,
veriam alguma comédia-romântica tão amada pela moça, depois jantariam em algum restaurante
aconchegante e, por fim, terminariam vendo as estrelas numa praça do centro da cidade.
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Caio sentiu o coração palpitar esquisitamente, como se algo ruim estivesse prestes a acontecer.
Mal sabia que lá longe, em algum lugar ainda desconhecido por todos, Isa saia sorridente com
uma réplica sua. Continuavam tentando decifrar o mistério que pairava no ar. Ele, por sua vez,
não conseguia tirar da cabeça o bolo que levara. Viu a esperança nascer, crescer e se dissipar em
questão de segundos. Escapara pelos seus dedos a possibilidade de declarar seu amor.
Enquanto Victor Hugo ainda tragava seu beque, Marcão percebeu que abaixo do baú, havia um
pedaço do chão que estava quebrado. Tentou puxar o piso para cima, mas sem sucesso. Decidiu
forçá-lo para baixo. Sem forças nos braços, precisou pedir ajuda para os amigos. Nenhum dos
quatro sozinhos teve forças para quebrar, juntos a cena foi ainda mais constrangedora. Num
súbito momento de raiva, Caio pisou raivosamente sobre o local, em seguida sentiu dor no pé.
Umfacho de luz surgiu aguçando ainda mais a curiosidade do grupo.
- Temos que dar um jeito de abrir isso aí. – disse Caio
- O que será que tem aí embaixo? – indagou Erick
- Cara, tu é burro. – Victor Hugo soltou a fumaça – Claro que isso é o portal.
Enfim existia algum consenso entre eles. Não existia outra hipótese para aquela luz, era o portal.
Só podia ser o portal. A questão, no entanto, que se tornara a mais complexa de todas era: como
quebrar aquele maldito pedaço de piso? Os três tinham um QI invejável, mas a força deles todos
juntos não superava de uma criança de cinco anos.
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