O TUBO ACÚSTICO NA CHAROLA
DO CONVENTO DE CRISTO
3º CICLO DE CONFERÊNCIAS DO
CONVENTO DE CRISTO
Tomar, 18 de Outubro de 2005
UM TUBO INVULGAR
Muitos visitantes que vão ao Convento de
Cristo ficam curiosos com o enorme tubo
que existe logo à entrada da Charola, do
lado esquerdo.
O tubo tem uma altura total de 11,42 m, um
diâmetro exterior de 75 cm, uma altura
acústica de 10,52 m (32 pés) e uma parede
com a espessura de 2 cm.
Foi construído em madeira de carvalho
tendo o formato de um tubo metálico de
órgão de secção circular. É ainda revestido
interiormente por couro.
De acordo com documentação antiga, o
tubo estaria anexo a um órgão do Sec. XVI
já desaparecido e que foi tocado por
António Rombo nos anos de 1534 a 1536.
Os grandes tubos convencionais de
madeira têm o formato da imagem
que se vê à esquerda e são de
secção quadrangular.
Podem ser de grandes dimensões e
ressoam a baixas frequências.
Habitualmente não estão à vista,
pois são colocados por detrás dos
tubos da fachada, por detrás das
caixas dos instrumentos ou deitados
no sobrado de um coro alto.
É possível que no Sec. XVI houvesse
tubos de madeira com este formato.
Contudo, o tubo da Charola é bem
diferente dos convencionais.
Este é o formato do tubo da Charola
cuja estrutura é constituída por ripas
longitudinais justapostas lateralmente
em circunferência como se pode ver
na figura abaixo:
Não se sabe ao certo quem é que teria
sido o seu construtor.
De uma forma diferente dos convencionais, o tubo não era
alimentado de ar pela base mas sim através de uma abertura
lateral traseira que está indicada na foto.
Essa abertura é ligada a
uma conduta através da
parede que tinha acesso a
uma dependência contígua
à Charola que se chamava
a “casa dos órgãos”. Esta
casa foi demolida por volta
de 1940. Aí ficariam os
foles, do órgão bem como
outros mecanismos.
O ar entrava no tubo para
um compartimento que é
fechado pela parte de baixo
e que apenas tem acesso
ao bisel, conforme se pode
ver à direita no desenho do
tubo em corte longitudinal.
Ar
O órgão do Sec. XVI desaparecido não seria um instrumento
de grande porte e estaria colocado na parede em frente da
entrada da Igreja conforme vem indicado na figura abaixo,
ficando o coro à sua esquerda.
Coro
Local do órgão
desaparecido
Entrada
da Igreja
Localização
do tubo
Examinando bem essa parede,
verifica-se que tinha uma
abertura que seria o local onde
estaria o instrumento e que
depois foi fechada. Nota-se
bem a diferença na cor mais
clara dos blocos de pedra e do
acabamento do acrescento do
friso horizontal nessa zona,
percebendo-se a olho nu no
local, que tal acrescento é
mais recente do que o friso
original. Na foto à direita está
assinalada a configuração do
cobrimento da abertura. Pela
sua forma, há indícios de que
houve ali um órgão de tubos.
Friso
* Cortesia do Arquivo
da D. G. E. M. N.
Aliás, a abertura que existia
na parede confirma-se, como
se pode ver na fotografia* à
esquerda que foi tirada antes
do restauro do frontão sobre
a verga da porta visível na
foto do slide anterior.
Aquilo que se vê da abertura
nesta foto está assinalado a
tracejado encarnado. A laje
saliente situada na base da
abertura poderia fazer parte
do suporte da varanda onde
ficava a consola do órgão e
o banco onde se sentava o
organista.
Haveria um outro órgão de construção mais
recente, do tipo “positivo”, portanto um
instrumento mais pequeno assente no chão
algures dentro da Charola. Serviria para
acompanhar a música litúrgica das missas
e cujo organista via o celebrante.
No órgão do Sec. XVI que existia na parede
anteriormente referida, o organista não
podia ver o celebrante, mas tinha uma boa
visão daquilo que se passava no grande
coro à sua esquerda. Porém, o dirigente do
grupo coral veria facilmente o celebrante.
O enorme tubo colocado dentro da Charola anexo ao órgão do Sec.
XVI seria utilizado para dar um grande realce ao acompanhamento
de fundo da música coral que era ouvida no templo.
Conforme escreveu o Coronel Garcez Teixeira
nas Memórias e Estudos dos Anais da extinta
União dos Amigos dos Monumentos da Ordem
de Cristo - U. A. M. O. C, o tubo sendo de 32 pés
aberto, deveria ressoar a 16 Hz (dó-2). Esta nota
musical tem uma frequência muito baixa sendo
praticamente inaudível pelo ouvido humano.
Devido ao seu grande porte, o tubo devia ter certamente um fole e
um reservatório de ar próprios. Não se sabe qual era a pressão do
ar que o alimentava. A pressão poderia ser acima da usual fazendo
o tubo oitavar. Assim, poderia talvez ressoar a 32 Hz que é no
limiar da audibilidade. Por sua vez, a amplitude do som sairia
aumentada produzindo um efeito sonoro colossal.
É óbvio que devido às suas enormes dimensões, o tubo não cabia
nas proximidades do órgão. Foi portanto colocado num local
dentro da Charola encostado a uma coluna lateral onde
actualmente se vê. Teria sido por isso construído no formato dos
tubos metálicos por uma questão de estética. Produzia um som
único que servia de fundo à música de órgão e ao cantochão. A
alimentação do ar ao tubo seria comandada mecanicamente por
um tirante actuado por um manúbrio ou um pisante na consola do
instrumento que faria accionar uma válvula de corrediça que dava
acesso do ar à conduta. O vandalismo e o saque dos invasores
franceses teria ocorrido apenas nos tubos metálicos do
instrumento que ficou então inutilizado. Não haveria talvez verbas
após essa altura, para o poder reconstruir. O grande tubo por se
encontrar elevado do chão e por ser de madeira não sofreu tais
barbarismos. O órgão foi desmantelado mas o tubo anexo não foi
mexido. Assim ficou no lugar onde actualmente se encontra.
POUCO MAIS SE SABE EM PORMENOR ÀCERCA
DO TUBO E DO ÓRGÃO AO QUAL ELE ESTAVA ANEXO,
POIS TIVERAM LUGAR VANDALISMOS CAUSADOS
PELAS INVASÕES FRANCESAS, HOUVE DEPOIS
SUCESSIVAS OBRAS E ALTERAÇÕES AO EDIFÍCIO
DO CONVENTO REALIZADAS EM DIVERSAS ÉPOCAS,
PERDENDO-SE AO LONGO DO TEMPO MUITA
INFORMAÇÃO QUE HOJE SE DESCONHECE
Sabe-se porém que não existe em Portugal nenhum
outro tubo construído em madeira com o formato deste.
Possivelmente até nem existirá tubo semelhante em
qualquer outra parte do mundo!
Se realmente for assim, estamos neste país perante
mais um caso único no âmbito mundial comparável ao
dos seis órgãos que existem na Basílica de Mafra.
Uma experiência interessante mas que ficaria muito dispendiosa
era tentar fazer o tubo ressoar.
Essa experiência teria de ser efectuada com a colaboração de um
organeiro e de especialistas em investigação sonora.
O tubo teria de ser retirado do lugar, limpo, reparado e colocado
numa forte estrutura metálica do tipo andaimo. Um imaginável
dispositivo de ensaio teria o aspecto semelhante à imagem do
próximo slide. O peso colocado em cima do reservatório de ar
seria variado de forma a fazer mudar a pressão de acesso ao
tubo. A análise sonora seria verificar a variação de frequência e
do nível sonoro em dB(A) emitidos pelo tubo com a alteração da
pressão de ar aplicada. Com os resultados obtidos talvez se
chegassem a algumas conclusões que pudessem indicar qual o
comportamento sonoro do tubo ao tempo em que era utilizado.
DISPOSITIVO DE ENSAIO
Instrumentos de
medição sonora
incluindo
frequencímetro
e analisador de
espectro
Peso que
seria variado
para alterar
a pressão
Manómetro
de coluna
de água
Ventilador
Válvula
Reservatório
de ar
Conduta de
alimentação do ar
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Slide 1 - Meloteca