Revista
Brasileira de
Engenharia de Pesca
ISSN 1980-587X
H
ISSN –
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Volume 2, Número 1 - Janeiro de 2007
Pesca, Aqüicultura, Tecnologia do Pescado, Ecologia Aquática
Aqüicultura: áreas na
Bacia do Itapecuru, MA
Alemanha e Áustria:
Atlas da Ictiofauna
Carotenóides:
Fontes naturais para a
aqüicultura
História: Associação
dos Engos de Pesca de PE
REVIZEE:
Subiendo redes (Quadro de Héctor Becerini)*
Missão cumprida?
VEJA TAMBÉM NESTE NÚMERO
Museo del Hombre del Puerto, Mar del Plata, Argentina Ì Macrófitas aquáticas na produção de tijolos
Análise de variáveis na carcinicultura Ì Biofertilizantes e sobrevivência de tilápias
Beneficiamento de pescado em Itapissuma, PE Ì Anelídeo enquitréia na alimentação do niquim
A pesca oceânica no Brasil no século 21 Ì Transporte inadequado de caranguejo-ucá
1
ATENÇÃO: PARA NAVEGAR USE “BOOKMARKS” À ESQUERDA
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA
VOLUME 2, NÚMERO 1, 2007
Eds.: José Milton Barbosa e Haroldo Gomes Barroso
DIRETOR
COMISSÃO EDITORIAL
Haroldo Gomes Barroso - UEMA
Athiê Jorge Guerra dos Santos - UFRPE
EDITORES
Leonardo Teixeira de Sales - FAEP-BR
José Milton Barbosa - UFRPE
Haroldo Gomes Barroso - UEMA
Maria do Carmo Gominho Rosa - Unioeste
DIRETOR DE MARKETING
Luiz de Souza Viana – Emater/PR
Maria Nasaré Bona de Alencar Araripe - UFPI
Paula Maria Gênova de Castro - Instituto de Pesca/SP
Rogério Bellini - Netuno
Paulo de Paula Mendes - UFRPE
ASSISTENTES DE EDIÇÃO
Rogério Souza de Jesus - INPA
Ivo Thadeu Lira Mendonça
Fábia Gabriela Pflugraph Carraro
Raimundo Nonato de Lima Conceição - UFC
Neiva Maria de Almeida - UFPB
Vanildo Souza de Oliveira - UFRPE
Pollyanna de Moraes França Ferreira
Walter Moreira Maia Junior - UFPB
Elton Lima Santos
CONSULTORES AD HOC
Helder Correia Lima (UFRPE)
Alex Augusto Gonçalves - UNISINOS
WEBMASTER
Antônio Diogo Lustosa Neto – Consultor Autônomo
Junior Baldez - UEMA
Athiê Jorge Guerra dos Santos - UFRPE
Paula de Paula Mendes - UFRPE
Fábia Gabriela Pflugraph Carraro - UFRPE
Fábio Vieira Hissa Hazin - UFRPE
Fernando Porto - UFRPE
Ivo Thadeu Lira Mendonça - UFRPE
José Milton Barbosa - UFRPE
Maria do Carmo Figueredo Soares - UFRPE
Neiva Maria de Almeida - UFPB
Paula Maria Gênova de Castro – Instituto de Pesca/SP
Paulo de Paula Mendes - UFRPE
Raimundo Nonato de Lima Conceição - UFC
Walter Moreira Maia Junior - UFPB
2
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
© Publicada em janeiro de 2007
Todos os direitos reservados aos Editores
Proibida a reprodução, por qualquer meio,
Sem autorização dos editores.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Ficha catalográfica
Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Central – UFRPE
R454
Revista Brasileira de Engenharia de Pesca
Nacional / editores José Milton Barbosa, Haroldo Gomes
Barroso -- São Luís, Ed. UEMA, 2007.
V.2, n.1 : 166p : il.
Quadrimestral
1. Pesca 2. Aqüicultura 3. Ecossistemas Aquáticos,
4. Pescados – Tecnologia I 5. Extensão Pesqueira. Barbosa,
José Milton II. Barroso, Haroldo Gomes III. Universidade
Estadual do Maranhão
CDD 639
______________________________________________________________________________
Apoio
Curso de Engenharia de Pesca
Universidade Estadual do Maranhão
Departamento de Pesca e Aqüicultura
Universidade Federal Rural de Pernambuco
3
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ISSN 1980-587X
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA
Volume 2
Janeiro, 2007
Número 1
Editorial
P
rezados amigos que estão acompanhando nossa Revista Brasileira de Engenharia
de Pesca (REPesca), estamos apresentando o segundo número (V.2, N.1) da
Revista, esperando corresponder a expectativa de todos ou pelo menos da maioria.
Muitas coisas ocorreram neste período, eleições, debates e como não poderia deixar de ser
calorosas discussões entre os honoráveis participantes de nosso “GI de Pesca e
Aqüicultura”. Por outro lado, alguns sectários da desinformação lançaram suas redes, com
velhos refrões. Ultimamente, tem estado na moda criticar a atividades de aqüicultura
imputando-lhes culpa pelos desmazelos ambientais: seculares práticas de poluidores
tradicionais. Não se levando em consideração os benefícios desta atividade, geradora de
emprego e renda em regiões de tão baixo nível de desenvolvimento humano e de tão
escassas possibilidades de implemento de atividades capazes de gerar suporte financeiro e
valorização social do homem. Outro fato notório foi a crítica infundada aos colegas que
trabalham no controle dos ataques de tubarões na costa do grande Recife que esqueceram
os reclamos da sociedade acerca os acidentes com tubarões que, além de ceifar vidas, tem
causado prejuízos a atividade turística e cerceado a população do seu direito de lazer,
prazeroso e barato.
José Milton Barbosa
Editor Chefe
*CAPA: “SUBIENDO
REDES” QUADRO DO PINTOR MARINISTA E DIRETOR DO Museo del Hombre del
Puerto (MAR DEL PLATA, ARGENTINA) HÉCTOR BECERINI (FOTO), QUE GENTILMENTE NOS CEDEU AS
FOTOS DE SEUS QUADROS PARA EMBELEZAR NOSSA REVISTA, COM INTERVINIÊNCIA DE PASQUALINO
Marchese. A AMBOS OS NOSSOS MAIS SINCEROS AGRADECIMENTOS.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Sumário
Pag.
6
Normas para Publicação
I - ARTIGOS TÉCNICOS/INFORMATIVOS
Atlas da biodiversidade de peixes da Alemanha e Áustria – um contributivo para comunicação e
informação na ictiologia
- Heiko BRUNKEN, Universidade de Ciências Aplicadas Bremen, Alemanha.
A Associação dos Engenheiros de Pesca de Pernambuco: histórico e atuação
- Maria do Carmo Figueredo SOARES; Leonardo Teixeira de SALES; José Milton BARBOSA; Augusto
José NOGUEIRA; Vanildo de Souza OLIVEIRA; Claudia Fernanda da F. OLIVEIRA
REVIZEE – Missão cumprida?
- Carlos Frederico Simões SERAFIM - SECIRM
Beneficiamento e comercialização do pescado na Região de Itapissuma, Pernambuco
- José Milton BARBOSA; Helder Correia LIMA; Erivaldo José da SILVA JÚNIOR; Artur Delmiro
Sodré da MOTA; Ivo Thadeu Lira MENDONÇA; Edson José da SILVA FILHO
Museo del Hombre del Puerto (Mar del Plata, Argentina)
- Héctor BECERINI
A pesca oceânica no Brasil no século 21
- Fábio Hissa Vieira HAZIN; Paulo Eurico TRAVASSOS
Método primitivo de transporte do caranguejo-uçá compromete sustentabilidade do estoque
- Raimundo Ivan MOTA
I I- ARTIGOS CIENTÍFICOS
Áreas potenciais para a aqüicultura sustentável na bacia do rio itapecuru: bases para o
planejamento utilizando o Sistema de Informação Geográfica
- Haroldo Gomes BARROSO; Antônio de Pádua SOUSA
Fontes naturais de carotenóides de interesse para a aqüicultura: eficiência de métodos de extração
- Renata PASSOS; Danilo G. MORIEL; Francisco LAGREZE; Luisa GOUVEIA; Marcelo
MARASCHIN; Luis H. BEIRÃO
Utilização da macrófita aquática Egeria densa Planchon, 1849 (Hydrocharitacea) na produção de tijolos
para construção civil
- Thales Pacífico BEZERRA; Cristiano Pereira da SILVA; José Patrocínio LOPES
Análise estatística das variáveis de cultivo do camarão Litopenaeus vannamei (Boone, 1931)
- Bruno Leonardo da Silva SANTOS; Paulo de Paula MENDES
Sobrevivência de tilápia-do-nilo Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758), em diferentes concentrações de
biofertilizante.
- Éder André GUBIANI; Nyamien Yahault SEBASTIEN
Utilização do anelideo enquitréia, Enchytraeus albidus Henle, 1837 na alimentação do niquim,
Lophiosilurus alexandri Steindachner, 1876 durante a alevinagem inicial
- José Patrocínio LOPES; Tâmara A. e SILVA; Darciene S. GOMES; Ana Cristina M. RANGEL
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9
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA (REPesca)
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
OBJETIVO - A Revista Brasileira de Engenharia de Pesca (REPesca) tem por objetivo publicar artigos
científicos e técnicos/informativos, abordando temas de interesse na área de Recursos Pesqueiros e
Engenharia de Pesca.
INFORMAÇÕES GERAIS - Os originais – redigidos de forma concisa, com a exatidão e a clareza
necessárias à sua fiel compreensão – devem ser enviados à Comissão Editorial pelo e-mail:
[email protected] ou entregues em CD, rigorosamente de acordo com estas normas, donde serão
enviados aos consultores “ad hoc”, membros da Comissão Editorial ou indicados pelo Editor. Os
pareceres serão transmitidos anonimamente aos autores. Em caso de recomendação desfavorável,
poderá ser pedida a opinião de um outro assessor. Os trabalhos serão publicados na ordem de aceitação,
ou pela sua importância.
Nunca use negrito no texto, em parte ou para destacar títulos sub-títulos ou expressões.
PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS
DIGITAÇÃO - Os artigos com no máximo 15 páginas, incluindo tabelas e figuras, devem ser digitado
em letra Times New Roman, tamanho 12, papel A4 e em espaço 1,5 (entre linhas) com margens de 2
cm em todos os lados, justificado e sem divisão de palavras no final da linha. Nomes científicos e
palavras estrangeiras devem ser grafados em “itálico”.
TÍTULO - O título deve dar uma idéia precisa do conteúdo e ser o mais curto possível escrito em letras
maiúsculas tamanho12, centralizado.
NOMES
DOS AUTORES
- Os nomes dos autores devem constar sempre na sua ordem direta, sem
inversões, com o sobrenome maiúsculo. Segue-se aos autores os endereços institucionais e após o email do autor correspondente.
Ciro Mendes CASTOR1* José Mário BRAGA2; Maria da Penha PIRILO1
1
Departamento de Educação, Universidade Federal de Carolina
2
Instituto de Pesca de Carolina
*Email: [email protected]
O RESUMO
E O
ABSTRACT (que é iniciado com o título em inglês) - devem conter as mesmas
informações e sempre sumariar resultados e conclusões. Não devem ultrapassar 300 palavras e serem
seguidos de, no máximo, cinco palavras-chaves e key-words.
Os artigos devem ter os seguintes itens:
6
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ARTIGOS
CIENTÍFICOS
- Resumo (+ Palavras-chave), Abstract (+ Keywords), Introdução, Material e
Métodos, Resultados e Discussão (estes dois juntos ou separados), Conclusões (opcional),
Agradecimentos (opcional) e Referências.
ARTIGOS TÉCNICOS/INFORMATIVOS - Resumo (+ Palavras-chave), Abstract (+ Key words),
Introdução, Corpo (desenvolvimento do assunto) Conclusões (denominados de Comentários
Conclusivos ou Finais, Considerações Finais), Agradecimentos (opcional) e Referências (quando
houver citações no texto).
Os nomes dos itens devem ser maiúsculos e centralizados, com um espaço acima e abaixo.
REFERÊNCIAS - Baseada no APA Citation Guide (Publication Manual of the American Psychological
Association, 5th ed.).
Livro (um autor)
Bellini, C. T. (2005). Tratado de Zoogeografia do Brasil: aspectos econômicos. Ubá: Editora Nova.
No texto: A espécie ocorre... (Bellini, 2005) ou Segundo Bellini (2005) a espécie...
(Dois autores)
Rocha, R. & J.P. Lara (Eds.) (2004). Marine fishes. Victoria: University Press.
No texto: (Rocha & Lara, 2004)
Capítulo de livro
Brito, N. & Datena, C. R. (2005). Crescimento de miracéu Astrocopus y-grecum em laboratório. In: H.
G. Barroso (Ed.). The Sea Fishes (pp.23-27). São Luís (MA): Ed. Amazônia.
No texto: (Brito & Datena, 2005)
Artigo de Revista
Costa, J.B. (1957). A seca no agreste pernambucano. Rev. Bras. Secas. 7(27): 21-7.
No texto: (Costa, 1957)
Galvão, G.G.& Café , J.M. (2002). Peixes do Rio Farinha, MA. Rev. Mar. Biol. 27(7): 733-49.
No texto (dois autores): (Galvão & Café, 2002)
Pantaleão, N. T., Omino, P., Gil, C. & Falcão, E. (1987). Raias do Brasil. Bol. Zool. 7(8): 3-13.
No texto (três a cinco autores) (Pantaleão, Omimo, Gil & Falcão, 1947)
Koike, J., Itu, B., Marinho, A., Bitu, R. Brito, A.A. & Victor, J. (2007). A importância do bem-estar.
Rev. Bras. Bem-estar. 7(1):7-27.
No texto (mais de cinco autores): (Koike et al., 2007)
Anais
Marinho, M. A. & Abe, B. (2001). A violência contra as tartarugas. In: Congresso Latinoamericano de
Zoociências (pp. 33-47). Buenos Aires: Anais do CLZ, 6.
7
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
No texto: (Marinho & Abe, 2001)
Tese e Dissertação
Maris, M. (2001). Contribuição estudo da pesca na Lagoa dos Patos [Tese de Doutorado]. Pelotas
(RS): Universidade do Arroio.
No texto: (Maris, 2001)
Artigo on-line
FAO
(2007).
The
world's
fisheries.
Acessado
em
27
de
setembro
de
2007
em
http://www.fao.org\fi\statist\htm.
No texto: (FAO, 2007)
Correções - Os trabalhos que necessitarem de correções serão devolvidos aos autores e deverão
retornar ao Editor no prazo de 7 dias, caso contrário poderão ter a publicação postergada.
MATERIAL ILUSTRATIVO - As Tabelas e Figuras devem se restringir ao necessário para o
entendimento do texto e numeradas em algarismos arábicos. As Figuras devem ser “inseridas” no texto
e nunca “recortadas” e “coladas”, devem ser de tamanho compatível, para não perder a nitidez quando
reduzidas e agrupadas, sempre que possível. As Tabelas devem ser feitas com utilização da ferramenta
Tabela do “Word”. As legendas devem ser auto-explicativas colocadas acima nas Tabelas e abaixo nas
Figuras. Símbolos e abreviaturas devem ser definidos nas legendas.
OBSERVAÇÃO - Antes de remeter o trabalho, verifique se o mesmo está de acordo com as normas,
atentando ainda para os seguintes itens: correção gramatical, correção da digitação, correspondência
entre os trabalhos citados no texto e os referidos nas referências, correspondência entre os números de
tabelas e figuras, e as citações no texto.
ATENÇÃO:
a) a revista não concorda necessariamente com os conceitos emitidos pelos articulistas; b) os recursos
advindos de possíveis doações, financiamentos, assinaturas, venda de publicações da REPesca
(disquetes, CDS, cópias impressas etc.) serão utilizado na manutenção da revista, não cabendo
participação dos autores no usufruto desses recursos; c) os autores ao enviar seus trabalhos concordam
com os termos destas normas; d) o autor principal (ou correspondente) é responsável pela aceitação,
para publicação nesta REPesca, dos demais autores do trabalho.
DÚVIDAS E ENVIO DE TRABALHOS: contactar o Editor-Chefe no seguinte e-mail: [email protected]
A REPesca está disponível em pdf (Adobe reader ou adobe acrobat) no site da Universidade Estadual
do Maranhão/Engenharia de Pesca: www.engenhariadepesca.uema.br
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
I - ARTIGOS TÉCNICOS/INFORMATIVOS
ATLAS DA BIODIVERSIDADE DE PEIXES DA ALEMANHA E ÁUSTRIA – UM
CONTRIBUTIVO PARA COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO NA ICTIOLOGIA
Heiko BRUNKEN ([email protected])
Instituto de Meio Ambiente e Biotecnologia, Universidade de Ciências Aplicadas Bremen, Alemanha
RESUMO
Pela primeira vez são apresentados mapas de distribuição de peixes de água doce e peixes marinhos,
para toda a Alemanha e Áustria. O projeto “Atlas da Biodiversidade de Peixes da Alemanha e Áustria”
tem um sistema de informações ictiológico feito com base nos programas BioOffice 2.0© (BIOGIS
GmbH, Salzburg) e ArcGis 9© (ESRI) (banco de dados e geographical information system). O acesso
a mapas e informações biológicas está aberto para o público via internet (www.fischartenatlas.de). Os
mapas se baseiam em grid de sistema de mapas na escala 1:25.000 para Alemanha (sistema de grid
1:50.000 para Áustria e sistema de grid 5x5 milhas marítimas para o Mar do Norte e Mar Báltico
respectivamente). O layout dos mapas pode ser modificado online, a depender de informações
escolhidas no background, como topografia, bacias hidrográficas, sistema de grid dentre outras. Além
disso, os mapas da distribuição oferecem informações ictiológicas, por exemplo, sobre biologia e
taxonomia das espécies com uma galeria de fotos. Fora essas informações a cerca de espécies, o atlas
contém informações sobre literatura, lei européia nas áreas de proteção ambiental, projetos de
recuperação dos rios e chaves de identificação das espécies. O atlas é um projeto independente non
profit e preenche uma lacuna entre as ofertas de informações globais, como fishbase, e regionais (por
exemplo, com relação a cada Estado). A redação do projeto encontra-se na Hochschule Bremen
(Universidade de Ciências Aplicadas Bremen) sob os auspícios de Gesellschaft für Ichthyologie
(Sociedade Ictiologia da Alemanha). O input das informações específicas ou informações sobre as
bacias hidrográficas é provido por uma equipe de aproximadamente 50 especialistas externos, que vão
completando e atualizando o banco de dados continuamente.
PALAVRAS-CHAVES: Sistema de informação ictiológica, Alemanha, Áustria, Mar do Norte, Mar Báltico
9
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
INTRODUÇÃO
Até hoje não há mapas de distribuição de peixes, nem da Alemanha (incluindo o Mar do Norte e
o Mar Báltico), nem da Áustria. Uma das causas desta ausência é o fato do órgão responsável pela
pesca na Alemanha ser estadual, e não federal. Com a introdução da Lei Européia referente às áreas de
proteção ambiental, onde os peixes servem como bioindicatores para a qualidade das águas (Diretiva
2000/60/CE), ou seja, estão protegidos pela rede européia das reservas da natureza “NATURA 2000”
(Diretiva 92/43/CEE).
Apesar de o interesse pelos dados de biologia e distribuição de peixes ter aumentado muito,
tanto em águas doces, como em águas marinhas, ainda não existem informações adequadas. Os dados
existentes estão espalhados (por exemplo, nas instituições estaduais de pesca, nas universidades ou
museus naturais) e o sistema global fishbase (FROESE; PAULY, 2006) não tem uma escala apropriada
e ainda não foi plenamente aceito por estar em inglês e ter uma estrutura complexa. No entanto, fazer
uma monografia sobre todas as espécies da Alemanha e Áustria por meio de uma abordagem científica,
a fim de preencher essa lacuna, parece quase impossível para uma só pessoa, devido à gama de
informações existentes atualmente.
Desta necessidade de uma exata catalogação das espécies de peixes resultou a idéia de distribuir
o trabalho entre diversos colegas. Partindo da idéia de “um peixe (espécie) por pessoa” tentaremos criar
uma rede de especialistas, para a qual um grande número de “encarregados de espécies” contribuirão,
cada um em seu lugar de origem, o que resultará em uma plataforma de informações sobre biologia e
distribuição dos peixes. Essa plataforma, que tem o nome de “Atlas da Biodiversidade de Peixes da
Alemanha e Áustria”, terá uma redação central na Universidade de Ciências Aplicadas de Bremen,
onde também será administrada e posta à disposição de um público de cientistas e pessoas interessados.
Uma vez que na realidade não haverá especialistas suficientes para todas as espécies e, por outro
lado, muitos especialistas trabalham com várias espécies, tentar-se-á construir um grupo de
especialistas de aproximadamente 50 pessoas para peixes de água doce e, caso se leve em consideração
os peixes marinhos, o número será bem maior.
Objetivo e intenção do projeto são a criação, a longo prazo, de uma plataforma de comunicação
e informação na área de ictiologia, tendo em vista primordialmente a conservação e a proteção das
espécies e dos ecossistemas aquáticos. Com este projeto, queremos reunir pessoas e informações para
apoiar a pesquisa ictiológica. É importante frisar que não temos a intenção de construir um centro de
dados, paralelo ao das instituições oficiais já existentes. Em várias instituições já existem excelentes
bancos de dados (por exemplo, nas superintendências de pesca estaduais ou nas instituições ligadas à
10
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
pesquisa de ictiologia) e possibilidades de análises, mas não há uma plataforma de informação
nacional. O objetivo do projeto é prioritariamente divulgar informações já existentes e, com isso,
melhorar o conhecimento destas informações.
O atlas é um projeto independente non profit sob os auspícios de ONG Gesellschaft für
Ichthyologie (Sociedade Ictiologia da Alemanha e Áustria). O projeto encontra-se na Hochschule
Bremen (Universidade de Ciências Aplicadas Bremen) e o autor é responsável pela sua concepção e
redação.
MAPAS DE DISTRIBUIÇÃO
O atlas é um sistema de informações ictiológico sobre os peixes da Alemanha e Áustria na área
de especialização em biodiversidade e proteção do meio ambiente (em parte ainda na fase de
estruturação; novembro 2006). Pela primeira vez estamos apresentando os mapas de distribuição de
peixes de água doce e de peixes marinhos para toda a Alemanha (Figuras 1, 2) e Áustria. O acesso a
mapas e informações biológicos está aberto para o público via internet (www.fischartenatlas.de).
Base de dados são os mapas de distribuição dos peixes existentes em cada estado e dados de
distribuição em parte ainda não publicados por várias instituições e especialistas de ictiologia da
Alemanha e Áustria; em pormenor: BARLAS et al., 1987; DIERCKING; WEHRMANN, 1991;
SCHIRMER, 1991; GAUMERT; KÄMMEREIT, 1993; VILCINSKAS; WOLTER, 1993; BOCK et
al., 1996; FÜLLNER et al., 1996; KAMMERAD et al., 1997; SPRATTE; HARTMANN, 1998;
BRÄMICK et al., 1999; BOHL et al., 2000; PELZ; BRENNER, 2000; DUßLING; BERG, 2001;
FISCHEREIVERBAND SAAR, 2001; KLINGER, 2001; SCHAARSCHMIDT; LEMCKE, 2004;
assim como dados de Centro de Pesquisa Nacional de Pesca de Hamburgo Bundesforschungsanstalt für
Fischerei Hamburg, a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Mecklenburg-Vorpommern,
Protecção a Natureza e Geologia do Estado de Mecklenburg-Vorpommern Naturschutz und Geologie
Mecklenburg-Vorpommern, Instituto Alfred-Wegener para Pesquisa Polar, Instituto de Ecologia das
Águas Institut für Gewässerökologie Scharfling e mais.
As distribuições de peixes são apresentadas numa visão geral nos mapas e apresentados por
espécies em representações de presença-ausência. Os mapas baseiam-se em grid de sistema de mapas
na escala 1:25.000 para Alemanha, em grid de sistema de mapas na escala 1:50.000 para Áustria e em
grid 5x5 milhas marítimas para o Mar do Norte e para Mar Báltico. Atualmente o atlas tem mais ou
menos 100.000 séries de dados (pontos de distribuição).
11
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Figura 1 – Mapa de distribuição exemplar do banco de dados, parte „Peixes de água doce da
Alemanha”. Nas barras de navegação à direita se pode modificar o layout dos mapas online
escolhendo-se várias informações no background como, topografia (Topographie), bacias
hidrográficas (Flussgebiete) ou sistema dos rios (Gewässernetz). Clicando „Artinformationen
(PDF)“ se pode acessar aos dados biológicos da espécie. O “cartão-de-visita” tem informações
sobre o especialista da espécie.
12
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Figura 2 – Mapa exemplar da distribuição do banco de dados, setor de “Peixes de marinhos da
Alemanha”, referente apenas ao Mar do Norte. AWZ Ausschließliche Wirtschaftszone Zona
Econômica Exclusiva da Alemanha. Os polígonos verdes mostram áreas protegidas (FFH-Gebiete
preservação dos habitats naturais e da fauna como também da flora selvagem).
ESTRUTURA DE DADOS
No centro do sistema das informações há o programa BioOffice 2.0© (de empresa BIOGIS,
Salzburg, Áustria), feito especialmente para o projeto (BRUNKEN; BRUNSCHÖN, 2006) (Figuras 3 e
4). Importação e exportação de dados são feitas com um módulo do programa MS-Access© com várias
funções especiais para filtrar e controlar os dados. Os mapas são configurados com ArcGis© (de
empresa ESRI), com o programa BioMapper© (de empresa BIOGIS). A exportação de dados para
internet é feita através de um banco de dados MySQL.
Os mapas de distribuição são criados online, quando o usuário acessa o site na internet. Com
isso, pode ter várias opções de background, como topografia, bacias hidrográficas, sistema dos rios ou
13
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
áreas protegidas. Os mapas têm informações biológicas, fotografias e vários outros dados sobre cada
espécie (atualmente ainda em fase de construção).
MySQL - Banco de dados
para apresentar os dados na
internet
(online information system)
MS Access©
Importação
Dados de distribuição
BioOffice 2.0©
Banco de dados
principal do Atlas
o
çã
rta
o
p
Ex
LSQ
Shapefiles
Coleção
Por exemplo: Dados do
„Atlas de Peixes da Alemanha“
Locais de
distribuição
a. grid dos mapas
ArcGIS 9©
b. Coordenadas
exatas
para fazer mapas de
distribuição
Tabelas das
espécies
Pontos da distribuição
(agora mais ou menos
100.000 dados)
Contatos
Especialistas e redação
Exportação
Espécies
Objetos
Alemanha água doce
Austria água doce
Alemanha marinhos
Literatura
Figura 3 – Estrutura do sistema das
Figura 4 – Banco de dados principal
informações ictiológicas.
(BioOffice 2.0©).
PLATAFORMA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
A base de projeto é uma rede centralizada de especialistas da área de Ictiologia na Alemanha e
Áustria (Figuras 5 e 6).
Figura 5 – Colaboradores do projeto e estrutura
Figura 6 – Equipe de redação
da rede dos especialistas ictiológicos.
A estrutura do atlas é aberta para colaboradores. Há várias formas de apoiar o projeto, por
exemplo, redigindo uma monografia sobre uma espécie, contribuindo com literatura ou colaborando
14
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
com projetos nas áreas de recuperação dos rios ou proteção das espécies ameaçadas. Os colaboradores
podem corrigir e completar as informações sobre a distribuição das espécies. O atlas tem muitas
informações para download sobre normas para publicação, transferência de dados, etc. na página
“contato e redação” (Kontakt & Redaktion). O input das informações específicas ou informações com
relação às bacias hidrográficas é provido por um grupo de aproximadamente 50 especialistas externos,
que vão completando e atualizando o banco de dados continuamente. Os especialistas contribuem com
monografias e outras colaborações com direitos autorais, havendo regras claras de como se fazer
citações. A redação do projeto encontra-se na Hochschule Bremen (Universidade de Ciências
Aplicadas Bremen), no grupo de pesquisa ecologia de peixes.
O projeto ainda está na fase da construção. Além de informações específicas, o atlas deve conter
colaborações sobre temas como: lei européia nas áreas de proteção das águas (quadro de ação
comunitária no domínio da política da água; Diretiva 2000/60/CE) e da natureza (preservação dos
habitats naturais e da fauna e da flora selvagens; Diretiva 92/43/CEE), literatura, especialmente artigos
sobre distribuição de peixes, relatórios, monografias e várias dissertações, chaves de identificação com
fotografias, gráficos, tabelas, informações sobre espécies ameaçadas e possibilidades para a sua
proteção, informações sobre projetos de recuperação dos habitats aquáticos e informações sobre
coleções ictiológicas (museus, universidades),
CONCLUSÕES
Com o projeto “Atlas de biodiversidade de Peixes da Alemanha e Áustria” podemos preencher
uma lacuna no conhecimento ictiológico. As primeiras reações mostram que existe uma grande
necessidade de informações sobre a biologia e a distribuição de peixes. O atlas, mesmo se tratando de
um trabalho científico, tem uma linguagem simples. Além disso, alguns aspectos são muito importantes
para o projeto ser aceito pelo grande público de interessados. A viabilidade científica dos dados e
informações é essencial e pode ser garantido, não só devido à participação de muitos especialistas,
como pelo fato de a redação ser efetuada de forma centralizada. A variedade de opiniões entre os
pesquisadores é normal como, por exemplo, sobre a taxonomia das espécies, e por isso o atlas deve ser
uma plataforma apropriada para apresentar e discutir esses casos. Um outro aspecto é a garantia de os
colaboradores terem todos os direitos autorais preservados, seja nas monografias, fotografias etc. O
atlas tem citações de diversas instituições utilizadas de formas distintas e só apresenta informações
sobre presença/ausência, espécie, ano e origem de dados. Os dados completos, com mais informações,
como por exemplo sobre parâmetros dos habitats, permanecem nas instituições originais. O atlas não
15
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
deve se utilizado para um projeto paralelo de museus ou universidades, muito pelo contrário, ele deve
ser uma plataforma de comunicação e ajuda para todos os colaboradores.
Em princípio, as idéias apresentadas nesse artigo – tanto o banco de dados como a estrutura de
uma rede de ictiologistas – podem ser empregadas a outras áreas e outros grupos de animais e plantas.
Sua estrutura permite, com seu sistema facilmente inteligível, que essas idéias possam ser empregadas
aplicando uma mistura de programas universais e específicos (BioOffice©) sem grande esforço.
AGRADECIMENTOS
Gostaríamos de agradecer a:
- Corinna Brunschön, Henning Harder, Martin Sperling e Martin Winkler pelo apoio técnico e pela
realização do projeto.
- Silke Eilers, Jörg Freyhof e Matthias Hein pela colaboração redacional.
- Glícia Calazans pela ajuda nos contatos e comunicação no Recife.
- Vania Kahrsch pela tradução.
BIBLIOGRAFIA
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18
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ASSOCIAÇÃO DOS ENGENHEIROS DE PESCA DE PERNAMBUCO:
HISTÓRICO E ATUAÇÃO
Maria do Carmo Figueredo SOARES ([email protected]);
Leonardo Teixeira de SALES ([email protected]);
José Milton BARBOSA ([email protected])
Augusto José NOGUEIRA ([email protected])
Federação das Associações de Engenheiros de Pesca do Brasil, FAEP-BR
Vanildo de Souza OLIVEIRA ([email protected]);
Claudia Fernanda da F. OLIVEIRA ([email protected])
Associação dos Engenheiros de Pesca de Pernambuco, AEP-PE
RESUMO
São apresentados alguns dados sobre a Associação dos Engenheiros de Pesca de Pernambuco
(AEP-PE), ao longo de sua trajetória de 28 anos de existência, na qualidade de uma associação de
classe pioneira no país. Destacou-se um pequeno histórico desde a sua fundação, com a composição da
primeira diretoria até as principais ações desenvolvidas pelo grupo.
PALAVRAS-CHAVE: engenharia de pesca; presidentes da AEP-PE; congressos.
INTRODUÇÃO
A importância do convívio em nível das associações de classe pode ser mais bem entendida,
refletindo-se sobre as três instâncias indivíduo-sociedade-espécie, formando uma tríade inseparável. O
indivíduo humano, mesmo na sua autonomia, é 100% biológico e 100% cultural (MORIN, 2005).
Partindo dessa premissa apresenta-se a Associação dos Engenheiros de Pesca de Pernambuco, (AEPPE) uma das primeiras associações da classe dos engenheiros de pesca, que vem conseguindo reunir-se
ao longo dos anos, de forma contínua, com uma boa participação de seus associados.
A AEP-PE foi fundada em 20/01/1978 no Departamento de Pesca da Universidade Federal
Rural de Pernambuco. É nesta universidade, que também foi criado o primeiro curso de Engenharia de
Pesca do país, cuja implantação se deu em 1971, por iniciativa do então reitor, Adierson Erasmo de
Azevedo. Nesses vinte e oito anos de existência vem implementando ações, no sentido de fortalecer as
atividades do profissional da Engenharia de Pesca. Com o desenvolvimento do setor pesqueiro nacional
a responsabilidade da categoria aumentou, principalmente, no que se refere à extração sustentável de
produtos pesqueiros através da pesca e da aqüicultura.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
A Engenharia de Pesca é uma habilitação que integra a área das Ciências Agrárias, na subárea
de Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca e qualifica, em nível superior o profissional para a
intervenção técnico-científica em aqüicultura, pesca e tecnologia do pescado, além de atividades de
pesquisa, ensino e extensão em biotecnologia e demais serviços voltados à aqüicultura e pesca.
Portanto, as associações dos engenheiros de pesca no Brasil, buscam discutir e defender, além de
valorizar as ações da categoria inseridas no desenvolvimento do setor pesqueiro nacional.
CRIAÇÃO DA AEP-PE
A Comissão de Fundação da Associação dos Engenheiros de Pesca de Pernambuco teve como
presidente Leonardo Teixeira de Sales e, na data de sua fundação, foi aprovado o estatuto da associação
e eleita a primeira diretoria, assim composta: Presidente: Raimundo Evangelista Neto; Vice-presidente:
Leonardo Teixeira de Sales; Secretário geral: Fábio José Castelo Branco Costa; Primeiro secretário:
Erivaldo Barbosa da Silva; Segundo secretário: Elizeu Augusto de Brito; Primeiro tesoureiro: Eudes de
Souza Correia e Segundo tesoureiro: Jorge Almeida de Albuquerque.
Foram sócios fundadores: Raimundo Evangelista Neto; Leonardo Teixeira de Sales; Fábio José
Castelo Branco Costa; Erivaldo Barbosa da Silva; Elizeu Augusto de Brito; Eudes de Souza Correia;
Jorge Almeida de Albuquerque; Itamar de Paiva Rocha; Paulo Guilherme de Alencar Albuquerque;
Antônio Lisboa Nogueira da Silva; Elias Alves Cordeiro; João Alves da Silva Filho; João Batista
Cabral; Enox de Paiva Maia; José Roberto Fonseca e Silva; Isabel Cristina de Sá Marinho; Maria de
Fátima Pereira de Sá; Tarcizo Cirilo; Antônio Carlos de Arruda Pires de Freitas; Aradi Alves de Melo;
Athiê Jorge Guerra Santos; Ricardo Múcio de Oliveira; Manlio Ponzi Júnior; Rômulo Alves Ebrahim;
Joel Xavier de Barros; Paulo da Silva Oliveira; José Geraldo dos Santos; Josélio Lucas Ribeiro; José
Benigno Viana Portela; Odilon Juvino de Araújo; Flávio Marcelo Correia de Melo; Marluce Rocha
Melo; Maurílio Gonçalves da Silva; Carlos Roberto da Silva; Francisco de Assis Câmara Dantas e
Valdemir Batista.
No ano de 1979, a AEP-DF realizou em Brasília o I Congresso Brasileiro de Engenharia de
Pesca (I CONBEP). Em 1981 foi a vez da AEP-PE realizar, no Recife, o II CONBEP e, a partir daí,
outros congressos foram realizados, sempre contanto com o apoio desta Associação.
Acatando decisão da Federação das Associações dos Engenheiros de Pesca do Brasil (FAEPBR) a AEP-PE passou a comemorar, na data de 14 de dezembro, o dia do Engenheiro de Pesca, pois
nesta data ocorreu no Recife a Colação de Grau da primeira turma de Engenheiros de Pesca do Brasil.
Desde sua fundação até meados de 1980 as assembléias e reuniões da AEP-PE foram realizadas
em sede provisória do antigo Laboratório de Ciências do Mar (LACIMAR), hoje Departamento de
20
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Oceanografia da UFPE, na época, funcionando na Av. Bernardo Vieira de Melo, 986, Piedade,
Jaboatão dos Guararapes. A partir do segundo semestre de 1980, a sede provisória passou a ser o
Departamento de Pesca da UFRPE, no Bairro de Dois Irmãos. Seguiu-se como sede para reuniões em
1982, o Clube de Engenharia localizado na Rua Real da Torre 501, bairro da Madalena. Durante o
biênio 1986/1987 funcionou no Edifício CIBRAZEN no Bairro de São José, sendo que, a partir de
1988, retornou para o Clube de Engenharia de Pernambuco. Na reunião de 02/06/1988 estabeleceu-se
em ata, que as reuniões da AEP-PE, seriam realizadas semanalmente, toda às quintas-feiras, no horário
das 18:00h, no Clube de Engenharia. Posteriormente, em junho de 2005, as reuniões passaram a ocorrer
no Círculo Militar de Pernambuco, com freqüência semanal, até a atualidade.
PRINCIPAIS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA AEP-PE
Dentre as principais atividades da AEP-PE destacam-se suas reuniões periódicas presididas pelo
presidente e, na sua ausência, pelo vive-presidente. É interessante caracterizar, uma certa informalidade
nestas reuniões e o clima de amizade que se construiu ao longo do tempo. A Tabela 1 apresenta a
relação dos presidentes da AEP-PE com as respectivas datas de seus mandatos.
Tabela 1 – Presidentes da AEP/PE com as datas de seus respectivos mandatos
Nome
Raimundo Evangelista Neto
Itamar de Paiva Rocha
Eudes de Sousa Correia
Jaime Teles de Andrade Lima
Claudemilson Farias Barreto
Jorge Pereira de Castro Filho
Leonardo Teixeira de Sales
José Rodolfo Rangel Moreira Cavalcante
Ricardo Múcio de Oliveira
Augusto José Nogueira
José Telino de Lima Neto
Augusto José Nogueira
Ronaldo Almeida Lins
Dalgoberto Coelho de Araújo
Vanildo Souza de OLiveira
Mandato
20.01.78 a 19.01.80
19.01.80 a 14.02.81
14.02.81 a 12.12.81
l2.l2.81 a 27.04.84
27.04.84 a 25.04.86
25.04.86 a 27.05.88
27.05.88 a 12.12.89
12.12.89 a 19.12.91
19.12.91 a 14.12.93
l4.12.93 a 14.12.95
l4.12.95 a 14.12.99
l4.12.99 a l4.12. 0l
l4.12.01 a 14.12.03
14.12.03 a 14.12.04*
14.12.04
* Dalgoberto Coelho de Araújo foi substituído pelo Vice-Presidente, Vanildo Souza de Oliveira, em
virtude de sua redistribuição para o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, no Estado do
Ceará.
Os presidentes são eleitos para gestão que compreende um biênio, podendo ser re-eleito. O
regimento interno estabelece um prazo mínimo de 30 dias para a posse da diretoria eleita. A pose de
21
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
cada diretoria eleita é feita em assembléia da categoria. Neste momento é comum ocorrer homenagens
com distribuição de placas e títulos a sócios benemérito e honorário. Acontece também um jantar de
confraternização natalina e de comemoração ao dia nacional do Engenheiro de Pesca, aproximando a
categoria profissional do Estado.
A partir da VIII Semana do Engenheiro de Pesca (2002), evento anual, realizado pelo grupo do
Programa de Educação Tutorial do Curso de Engenharia de Pesca (PET/Pesca) da UFRPE, o dia 14 de
dezembro, passou a ser anunciado em folder e faixas deste evento, abrindo-se inclusive a participação
de representantes discentes no jantar de adesão do dia do Engenheiro de Pesca, organizado anualmente
pela AEP-PE. A associação também tem participado, a convite do grupo PET/Pesca das semanas,
apoiando-as e marcado sua presença através de mesas-redondas e na sessão de abertura, ressaltando os
aspectos da valorização profissional.
A Tabela 2 apresenta um demonstrativo dos Congressos de Engenharia de Pesca (CONBEP),
evento máximo da categoria, que acontece com periodicidade de dois anos, congregando os
profissionais da área e associações responsáveis pela sua organização, juntamente com a Federação das
Associações dos Engenheiros de Pesca do Brasil (FAEP-BR).
Outras atividades desenvolvidas pela AEP-PE são eventos e celebração de convênios/projetos na área
das Ciências Pesqueiras, a exemplo do convênio celebrado entre a AEP-PE e a SUDENE, intitulado:
“Estudo para o Desenvolvimento da Maricultura do Nordeste” durante a gestão 2000/2001, envolvendo
engenheiros de pesca, pesquisadores da SUDENE e professores do Departamento de Pesca e
Aqüicultura da UFRPE. Palestra e cursos de extensão estão ocorrendo na atual gestão com apoio do
DEPAq, a exemplo do curso, intitulado: Piscicultura Ornamental, Concepção, Implantação e
Empreendimento, ocorrido nos período de 30/10 a 1/11/2006 na sede do DEPAq, tendo sido ministrado
pelo Prof. Dr. George Nilson (UFPE) que também é engenheiro de pesca associado da AEP-PE. Outro
momento bem prestigiado pelo público acadêmico da UFRPE foi a palestra: O desenvolvimento da
tilapicultura no São Francisco a partir do papel comercial da Netuno e as oportunidades para o
Engenheiro de Pesca, ministrada em 28/08/2006 pelo Engo de Pesca Rogério Bellini .
Uma atividade acadêmica que vem acontecendo junto a AEP-PE, através do Programa de
Educação Tutorial do Curso de Engenharia Pesca da UFRPE, é a participação de discentes/bolsistas
deste programa nas reuniões da associação desde o ano de 2003, numa ação denominada: O PET/Pesca
vai a AEP/PE. A atividade foi inserida no planejamento anual do grupo e visa aproximar os alunos de
graduação do Curso de Engenharia de Pesca, mais precisamente os bolsistas e voluntários do PET com
a categoria profissional.
22
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Tabela 2 - Demonstrativo dos Congressos de Engenharia de Pesca (CONBEP),
com respectivos locais e períodos.
CONGRESSO
LOCAL
AEP RESPONSÁVEL
MÊS
ANO
I CONBEP
Brasília – DF
AEP-DF
Julho
1979
II CONBEP
Recife – PE
AEP-PE
Julho
1981
III CONBEP
Manaus – AM
AEPA
Julho
1983
IV CONBEP
Curitiba – PR
AEP-SUL
Julho
1985
V CONBEP
Fortaleza – CE
AEP-CE
Julho
1987
VI CONBEP
Teresina – PI
AEP-PI
Junho
1989
VII CONBEP
Santos – SP
AEP-PE
Junho
1991
VIII CONBEP
Aracaju – SE
AEP-SE
Setembro
1993
IX CONBEP
São Luís – MA
AEP-MA
Setembro
1995
X CONBEP
Guarapari – ES
AEP-ES
Novembro 1997
XI CONBEP
Recife – PE
AEP-PE
Outubro
1999
XII CONBEP
Foz do Iguaçu – PR
AEP-SUL
Setembro
2001
XIII CONPEB
Porto Seguro – BA
AEP-BA e AEP-SE
Setembro
2003
XIV CONBEP
Fortaleza - CE
AEP-CE
Outubro
2005
Os petianos vêem participando desta atividade, numa forma de interação entre a academia e os
profissionais. Nas reuniões semanais do grupo na Sala do PET/Pesca na UFRPE são colocados os
principais temas que foram tratados na AEP-PE, sendo sempre retirado o representante do grupo que
participará da próxima reunião. Todos os bolsistas, voluntários e a própria tutora do grupo já
participaram de várias reuniões realizadas na AEP-PE, de tal forma que está se mantendo uma
freqüência quinzenal do grupo na Associação. Foi realizado pela tutora e integrantes do grupo um
breve resgate histórico da AEP-PE e das principais atividades desenvolvidas, sob a forma de pequena
publicação (SOARES et al, 2003), apresentada durante a III Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão
(JEPEX) da UFRPE, ressaltando a atuação desta associação e o espaço por ela aberto para a academia.
23
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Outro aspecto a ser destacado foi à criação da comunicação eletrônica entre os membros da
AEP-PE, incluindo a convocação das reuniões entre seus associados, na gestão do presidente Ronaldo
Almeida Lins e a criação do GI Pesca & Aqüicultura - [email protected] (Grupo de
Interesse em Pesca e Aqüicultura) pelo então vice-presidente Leonardo Sales. De fato, com o
desenvolvimento das tecnologias eletrônicas e informatizadas, o cotidiano na sociedade atual tem
encurtado as distâncias e permitido maior interação. A partir desta ação, aumentou inclusive, a
freqüência de participação dos associados nas reuniões.
A CATEGORIA PROFISSIONAL DO ENGENHEIRO DE PESCA
O Engenheiro de Pesca é um profissional de nível superior capaz de supervisionar, planejar e
coordenar atividades integradas visando ao aproveitamento dos recursos naturais aqüícolas, à criação e
à exploração sustentável de recursos pesqueiros marítimos, fluviais e lacustres e sua industrialização.
De acordo com o Art. 1o da Resolução no 279/83 - Compete ao Engenheiro de Pesca o
desempenho das atividades 01 a 18 do Art. 1o da Resolução nº 218, do CONFEA, de 29 de junho de
1973, no referente ao aproveitamento dos recursos naturais aqüícolas, a cultura e utilização da
riqueza biológica dos mares, ambientes estuarinos, lagos e cursos d' àgua; a pesca e o beneficiamento
do pescado, seus serviços afins e correlatos.
O profissional da Engenharia de Pesca é congregado através da Federação de Associações dos
Engenheiros de Pesca do Brasil (FAEP-BR), existindo atualmente no país doze (12) associações da
categoria. (SOARES, 2004).
Com o aumento do número de cursos de Engenharia de Pesca no país (na década de 1970,
haviam apenas 2 cursos e atualmente temos 14 cursos) há que se pensar na profissão e no profissional
pautados pela ética, inclusive numa ética planetária como discorreu Moran (2005), onde o autor
destacou que: pela primeira vez, na história humana, o universal tornou-se realidade concreta: é a
intersolidariedade objetiva da humanidade, na qual o destino global do planeta sobredetermina os
destinos singulares das nações e na qual os destinos singulares das nações perturbam ou modificam o
destino global.
É preciso ainda considerar na formação desses profissionais que atuam com os recursos
pesqueiros os princípios da sustentabilidade que têm como paradigma à noção da verdade científica
fundamentada na ética civilizatória, princípios esses que derivam das bases conceituais do
ecodesenvolvimento, que, segundo Sachs (1993) é um projeto de Estados e sociedades, cujo centro do
desenvolvimento econômico é a sustentabilidade social e humana capaz de ser solidária com a biosfera.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Ainda, segundo o mesmo autor op.cit. para que o desenvolvimento seja sustentável, precisa contemplar
as dimensões: econômica, social, ambiental (ecológica), espacial e cultural.
Iniciativas como a Reunião sobre o Ensino da Engenharia de Pesca no Brasil, ocorrida em
Fortaleza no ano de 1995, numa promoção da FAEP-BR, tendo a frente o presidente Leonardo Teixeira
de Sales e contando na época com o patrocínio do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia (CONFEA) além do apoio da AEP-CE, DEPESCA-UFC e do CREA-PE precisam ser mais
estimulados na atual conjuntura onde a Resolução no 5, de fevereiro de 2006, instituiu as diretrizes
Curriculares para o curso de graduação em Engenharia de Pesca.
CRIAÇÃO DA REPESCA
Outro importante marco para a classe, com participação da AEP-PE, foi a recente criação da
Revista Brasileira de Engenharia de Pesca (REPesca). Lançada no dia 4 de agosto, deste ano, durante a
aula inaugural do curso de Engenharia de Pesca da Universidade Estadual do Maranhão, no Palácio dos
Leões em São Luis do Maranhão. A REPesca é uma revista semestral e tem por objetivo divulgar
trabalhos técnicos/informativos e científicos de profissionais da área de Recursos Pesqueiros e
Engenharia de Pesca.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que os Engenheiros de Pesca, presentes em quase todos os estados do Brasil, se
congregam através de suas associações de classe denominadas Associação dos Engenheiros de Pesca
(AEP) torna-se interessante, que cada associação, faça um pequeno resgate de sua atuação e o divulgue
nesta REPesca, que tem como objetivo publicar artigos resultantes de pesquisas científicas e artigos
técnicos/informativos da área de Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca. O volume 1 trouxe a
publicação do histórico da Associação dos Engenheiros de Pesca do Estado do Amazonas e agora,
neste volume, constam algumas informações sobre a AEP-PE, o que vem contribuir para a valorização
do profissional.
É importante que os movimentos sociais, as associações e as organizações não governamentais
que lhes dão apoio redefinam suas estratégias de atuação, a princípio limitadas à esfera reivindicatória,
para o domínio econômico e do conhecimento, estabelecendo parcerias e discutindo à luz das
transformações que o Brasil e o mundo vem passando na contemporaneidade.
A participação do grupo PET-PESCA nas reuniões da AEP-PE tem sido de grande importância,
aproximando estudantes e profissionais, enriquecendo desta maneira o aprendizado e servindo para dar
uma visão holística, sobre a profissão, através da atuação dos seus profissionais nas diversas áreas.
25
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Depoimentos e a práxis do cotidiano destes profissionais tornam-se focos de discussão das reuniões
permitindo que conceitos e vivências possam ser formados e internalizados pelo estudante de
engenharia de pesca da UFRPE.
A discussão das diretrizes curriculares nacionais para os cursos de Engenharia de Pesca deve
necessariamente envolver os atores interessados, passando pelos profissionais egressos destes cursos
através de suas associações, da academia e do público em geral com atuação no setor pesqueiro
nacional.
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26
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
REVIZEE – MISSÃO CUMPRIDA?
Carlos Frederico Simões SERAFIM ([email protected])
Capitão-de-Mar-e-Guerra, Subsecretário para o Plano Setorial para os Recursos do Mar,
Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
RESUMO
O presente trabalho apresenta uma breve avaliação do programa REVIZEE, desenvolvido durante dez
anos por diversas instituições de pesquisa do país, constituindo-se no mais importante programa de
pesquisa na área de Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca no âmbito nacional. Os resultados
possibilitaram uma mudança de mentalidade com respeito aos mares brasileiros: mitos foram desfeitos
e realidades foram mostradas, com a descoberta de novos recursos, dantes desconhecidos.
MITO E REALIDADE
No dia quatro de setembro passado, em cerimônia realizada no Espaço Cultural da Marinha, com
a presença da Ministra de Estado Marina Silva, do Secretário da Pesca Altemir Gregolin, e do
Comandante da Marinha e Coordenador da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
(CIRM), Almirante de Esquadra Roberto de Guimarães Carvalho, foi encerrado o mais bem sucedido
Programa, de âmbito nacional, sobre os recursos vivos do mar no Brasil, o REVIZEE, programa que
propiciou o desenvolvimento de pesquisas no mar brasileiro pelo período de dez anos.
Em pesquisas que duraram dez anos, o REVIZEE quebrou o mito de que em função de sua
grande extensão costeira – cerca de 8.500 km, e uma Zona Econômica Exclusiva (ZEE), de cerca de
3,5 milhões de km2 e volume de massa líquida d’ água da ordem de 10,0 bilhões de m3, delimitada por
uma área que se estende desde limite do Mar Territorial, de 12 milhas marítimas de largura, até 200
milhas marítimas - o mar brasileiro reuniria todas as condições para transformar o país num dos
maiores produtores mundiais de pescado por captura. Mas pelos levantamentos realizados, devido às
condições oceanográficas, que tornam a zona eufótica de nossas águas jurisdicionais, onde vive a
maioria dos peixes, deficitária em nutrientes, observa-se a ocorrência de baixos estoques pesqueiros, ou
seja, biomassas relativamente pequenas de cada espécie.
Por outro lado, o REVIZEE possibilitou a descoberta de novas espécies, diversas delas
endêmicas, a apuração do potencial de captura de outras já conhecidas, algumas de alto valor comercial
e ainda subexplotadas, revelou hábitos desconhecidos de espécies pelágicas e demersais e apresentou
uma exuberante fauna marinha, constituída de um invejável número de espécies. Mas, como dito
anteriormente, com pouco volume de exemplares em cada uma, todas sensíveis à degradação ambiental
27
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
e de equilíbrio ecológico delicado. Também é decorrência desse Programa, o estabelecimento do macro
vetor que deve ser perseguido para desenvolver o setor pesqueiro nacional, a fim de alcançar as
sonhadas inserção social e a geração de emprego e renda, além de promover a segurança alimentar dos
mais necessitados, tornando o setor pesqueiro forte elemento para o desenvolvimento do país.
MOTIVAÇÃO
Os ambientes marinhos, costeiros e oceânicos abarcam a maior parte da biodiversidade do
planeta. Com o crescimento da população mundial, principalmente nas proximidades do litoral, a
pressão antrópica sobre o mar se elevou em níveis exponenciais, levando muitas populações de
importantes recursos pesqueiros, antes numerosos, à reduzida abundância, por vezes ameaçando
algumas espécies de extinção. Hoje, os desequilíbrios de ecossistemas causados, na maioria das vezes,
pela poluição e pela sobrepesca, ameaçam o desenvolvimento sustentável do planeta, e o Brasil não é
exceção.
Na segunda metade do século passado a comunidade internacional, preocupada com o
desequilíbrio ecológico da Terra, pactuou normas para a exploração racional das regiões costeiras,
mares e oceanos, plataformas continentais e grandes fundos marinhos. Destacam-se a Convenção das
Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), também conhecida como Lei do Mar ou,
simplesmente, Convenção; o Capítulo 17 da Agenda 21, que trata da proteção dos oceanos, de todos os
tipos de mares e de zonas costeiras, além da proteção, uso racional e desenvolvimento de seus recursos
vivos; e a Convenção da Diversidade Biológica. O Brasil participou da construção e assinou todos
esses documentos, o que demonstra nosso interesse e preocupação com o tema.
A Convenção, ratificada por 145 países, dispõe sobre os usos de todos os espaços marítimos e
oceanos, estabelecendo direitos e deveres dos Estados costeiros. O Brasil incorporou seus conceitos
sobre espaços marítimos à Constituição Federal (art. 20, incisos V e VI) em 1988; e os internalizou na
legislação ordinária, em 1993.
Em 1994, com a entrada em vigor da Lei do Mar, um ano após o depósito do 60o instrumento de
ratificação por parte da Guiana, foi concedido ao Brasil o uso de seus espaços marítimos, dentre eles o
da ZEE, onde o país tem direitos exclusivos de soberania para fins de exploração e aproveitamento,
conservação e gestão dos recursos naturais, vivos e não-vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar,
do leito e seu subsolo, assim como para a produção de energia a partir da água, marés, correntes e
ventos.
Por outro lado, em seus artigos 61 e 62, a CNUDM estabelece que os Estados-parte, no caso
específico dos recursos vivos, incluindo os biotecnológicos, devem avaliar o seu potencial sustentável,
28
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
tendo em conta os melhores dados científicos disponíveis, de modo que fique assegurado, por meio de
medidas apropriadas de conservação e gestão, que tais recursos não sejam ameaçados por um excesso
de captura ou coleta. Essas medidas devem ter, também, a finalidade de restabelecer os estoques da
captura, de modo que se produza o rendimento máximo sustentável dos recursos vivos marinhos, sob
os pontos de vista econômico, social e ecológico.
CRIAÇÃO DO REVIZEE
Para atender a esses dispositivos da CNUDM, a
CIRM aprovou, em 1994, o Programa REVIZEE Avaliação do Potencial Sustentável dos Recursos Vivos
da Zona Econômica Exclusiva, destinado a fornecer
dados técnico-científicos consistentes e atualizados,
essenciais para subsidiar o ordenamento do setor
pesqueiro nacional. A logomarca do programa pode ser
Figura 1 - Logomarca do REVIZEE
visualizada na Figura 1.
ESTRATÉGIA E ESTRUTURA
Iniciado em 1996, o Programa adotou como estratégia básica o envolvimento da comunidade
científica nacional, especializada em pesquisa oceanográfica e pesqueira, atuando de forma
multidisciplinar e integrada, por meio de Subcomitês Regionais (SCOREs). Em razão dessas
características, o REVIZEE foi considerado o Programa mais amplo e com objetivos mais complexos
já desenvolvido no país, entre aqueles voltados para as ciências do mar, determinando um esforço sem
precedentes em termos de logística de pessoal especializado, material no estado da arte e provisão de
recursos financeiros.
Essa estratégia foi alicerçada na divisão da ZEE em quatro grandes regiões, de acordo com as
características oceanográficas, biológicas e tipo de substrato dominante (Figura 2), a saber:
a) Região Norte – da foz do Rio Oiapoque à foz do Rio Parnaíba; b) Região Nordeste – da foz do Rio
Parnaíba até Salvador, incluindo os Arquipélagos de Fernando de Noronha e de São Pedro e São Paulo,
além do Atol das Rocas; c) Região Central – de Salvador ao Cabo de São Tomé, incluindo a Ilha da
Trindade e o Arquipélago Martin Vaz e d) Região Sul – do Cabo de São Tomé à foz do Arroio Chuí.
29
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Em cada uma dessas regiões, a coordenação e
execução do Programa ficaram a cargo de um SCORE,
formado por representantes das instituições de
pesquisa locais e contando, ainda, com a participação
de membros do setor pesqueiro regional.
O processo de supervisão do REVIZEE foi
orientado para a garantia, em âmbito nacional, da
unidade
e
coerência
do
Programa
e
para
a
alavancagem de meios e recursos, em conformidade
Figura 2 - Subcomitês Regionais do REVIZEE
aos princípios cooperativos (formação de parcerias) da
CIRM, por meio da Subcomissão para o Plano Setorial
para os Recursos do Mar – PSRM e do Comitê Executivo para o Programa. Coordenado pelo
Ministério do Meio Ambiente, esse fórum foi composto pelos seguintes representantes: Ministério das
Relações Exteriores (MRE); Ministério da Educação (MEC); Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT); Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP/PR); Marinha
do Brasil (MB); Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), coordenador operacional
do REVIZEE; Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM); e Bahia
Pesca S.A. (Empresa vinculada à Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária da Bahia).
INVESTIMENTOS
Foram compartilhados recursos dos diversos órgãos e instituições envolvidas. O Programa
recebeu recursos diretos, entre 1994 e 2004, de pouco mais de R$ 32 milhões, não computados aqui os
custos relativos à operação dos navios da Marinha e os custos da PETROBRAS, que financiou todo o
combustível utilizado pelos navios do REVIZEE.
RESULTADOS: AMPLIAÇÃO DO CONHECIMENTO, POSSIBILIDADES DE EXPANSÃO
E ESPÉCIES EM COLAPSO
Os dados coletados mostram que a tomada de ações mais efetivas no controle do esforço
pesqueiro são essenciais. Todos os trabalhos científicos e análises, reunidos em diversos relatórios e
concentrados no sumário executivo, recentemente publicado e disponibilizado pelo MMA, são
categóricos: salvo poucas exceções, a pesca na ZEE do Brasil está sendo feita de forma insustentável.
O REVIZEE mostrou com clareza a inexistência de estoques de pescado capazes de gerar ou sustentar
30
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
um aumento significativo da produção, pelo fato de os recursos tradicionais apresentarem biomassas
muito reduzidas.
A importância do estudo não se resume, entretanto, às advertências sobre a oferta e a sobrepesca
no país. Pelo contrário, o Programa ampliou o conhecimento da biodiversidade marinha,
principalmente a existente em águas profundas. Os pesquisadores não sabiam o que encontrariam em
profundidades maiores do que 100 metros, pois não havia estudos suficientes para isso. A pesquisa
sobre as populações que habitam a quebra da plataforma, onde a profundidade aumenta dos 100 ou 200
metros para 1.000 metros ou mais, gerou informações absolutamente inéditas e muito interessantes do
ponto de vista científico.
Além de ocorrências de peixes conhecidos em novos locais, os pesquisadores identificaram várias
espécies até então desconhecidas. Só na região Sudeste-Sul foram onze. Entre elas estão a Hydrolagys
matallanasi e a Eptatretus menezesi. Descobertas durante os vários cruzeiros oceanográficos dos quais
participaram os cientistas, a maioria das descobertas ainda carece de descrição completa e até de nomes
populares, como as citadas acima.
Um dos achados relativos a hábitos diz respeito ao
peixe-lanterna
(Maurolicus
stehmanni)
(Figura
3).
Descobriu-se que essa espécie migra, em alta velocidade,
das zonas mais profundas para as mais rasas, em busca de
alimento. O deslocamento ao longo de um curto período
tem implicação ecológica grande, pois se trata de espécie
Figura 3 - Peixe-lanterna
Maurolicus stehmanni
forrageira, impactando o ecossistema de vários animais. O
mesmo ocorre com o calamar argentino (Illex argentinus)
(Figura 4), já explorado no Sul do país, no Uruguai e na
Argentina, que pode ser considerado um recurso pesqueiro
potencial propriamente dito. Essa espécie foi detectada na
região oceânica localizada na quebra da nossa plataforma
Figura 4 - Calamar argentino
Illex argentinus
continental.
Dentro desse grupo de estoque potencial, o REVIZEE fez outras descobertas. A anchoíta
(Opisthonema oginum) ocupa a plataforma continental em abundância considerável, no extremo Sul, e
moderada, no Sudeste. Sua ampla distribuição e facilidade de captura tornam essa espécie um recurso
importante, mas ainda sem aproveitamento no Brasil, apesar de apresentar potencial para a obtenção de
concentrados protéicos. Dificuldades de conservação e falta de mercado têm sido apontados como
fatores impeditivos à sua explotação.
31
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
A merluza (Merluccius hubbsi) e a abrótea-de-profundidade (Urophycis mystacea) (Figura 5)
também poderão ser explotadas em maior quantidade, desde que estabelecidas as quotas de captura.
Essas espécies vêm sendo explotadas desde 2001.
A merluza ocorre desde a Patagônia, Argentina, no Sul do
continente, até o Sul do estado do Espírito Santo. Ela é mais
abundante no talude superior, a partir dos 300 metros de
profundidade. Na região Nordeste, os grupos de atum também
fazem parte da lista das consideradas surpresas positivas. O
estoque desses peixes e de seus derivados (afins), de alto valor Figura 5 - Abrótea-de-profundidade
Urophycis mystacea
comercial, apresenta grande potencial para exploração.
Por outro lado, possuímos espécies cujo colapso é evidente. É o caso do cherne-poveiro
(Polyprion americanus), de alto consumo, mas que se esgotou. Apenas a proibição total de pesca dessa
espécie pode, neste momento, permitir algum nível de explotação sustentável no futuro. A produção,
que era de duas mil toneladas anuais, entre 1989 e 2001, caiu para 460 toneladas nos últimos anos.
Por outro lado, essa espécie desapareceu das águas do Sul, junto com várias outras também de
alto valor comercial, como a cioba, pargo e peixe-batata.
Sobre a plataforma continental, a lista de espécies próximas do colapso é mais longa. Os
camarões, entre os invertebrados, a sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis), cações, tubarões,
arraias e a corvina (Micropogonias furnieri), estão todos sendo explotados acima dos limites possíveis.
O caso específico dos tubarões merece ser destacado. Sua situação pode ser classificada como
dramática. Apenas no oceano Atlântico, cerca de dois milhões de tubarões-azuis são capturados por
ano. O grande atrativo para sua captura continua sendo as barbatanas, comercializadas a preço de ouro
no mercado internacional, onde são tidas como iguaria.
DINÂMICA DA FROTA PESQUEIRA E TÉCNICAS DE CAPTURA
Para reunir toda a informação necessária, os pesquisadores do REVIZEE foram consultar
diferentes fontes. O Programa, com recursos disponibilizados pelo Governo e pela iniciativa privada,
fez várias campanhas oceanográficas durante os últimos anos pela ZEE brasileira. Essas missões de
campo, além de reunir dados importantes da oceanografia física, química e geológica, também
ajudaram os pesquisadores a escolher as espécies-alvo que deveriam ser estudadas mais
profundamente.
Depois disso, foram coletados dados sobre produção, ou seja, a quantidade pescada por dia, nos
principais portos de desembarque das frotas, e nos arquivos de várias instituições de pesquisa que já
32
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
estudavam o tema, localizadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Para
cada população foi montado um diagnóstico sobre o conhecimento e o estado de explotação das
espécies. Isso equivale a dizer que os pesquisadores estudaram, além da dinâmica da frota de
pesqueiros, o ciclo de vida de cada conjunto de indivíduos. Para que a análise ficasse completa, o foco
dos cientistas se voltou tanto para o coletivo quanto para o individual, com o estudo de cardumes e de
seus indivíduos.
No caso específico da região Sul-Sudeste, onde a exploração industrial dos recursos pesqueiros é
maior, foi necessário analisar cinco tipos de frota. A de arrasto, a de cerco ou traineiras, a de covos ou
armadilhas, a de espinhel ou linha e a de emalhar. Em todos os casos, o que os empresários e
pescadores fazem é desenvolver um método e aliá-lo à tecnologia disponível, para melhorar cada vez
mais o rendimento final. E para que tudo isso dê certo, é preciso que se saiba, de antemão, qual o
objetivo daquela pescaria.
As técnicas de arrasto, que praticamente varrem o fundo do mar, normalmente na altura da
plataforma continental, com profundidade média de 150 metros, são usadas para a pesca dos chamados
peixes demersais. São peixes como o linguado, que gosta de areia. Eles têm os dois olhos de um lado só
do corpo. As camaroneiras também utilizam esse mesmo sistema, que pode ter algumas variações,
dependendo da situação. A frota de cerco é composta necessariamente por traineiras. No litoral Sul e
Sudeste do Brasil, esses barcos suspendem dos portos com a missão de voltar atestados,
principalmente, de sardinha (Sardinella brasiliensis). Apenas durante o inverno, na entressafra, é que
eles buscam os cardumes de corvina (Micropogonias furnieri). A sardinha desaparece no inverno (por
causa do ciclo reprodutivo) e então, a única alternativa encontrada foi sobreviver com a pesca da
corvina.
As armadilhas servem para a captura
de peixes e de crustáceos. E essas operações
podem
ser
feitas
a
mil
metros
de
profundidade, no caso dos caranguejos real
(Chaceon ramosae) e vermelho (C. notialis)
(Figura 6), cuja biomassa abundante foi
Figura 6 - Caranguejo-real Chaceon ramosae (Esquerda)
e caranguejo-vermelho C. notialis (Direita)
descoberta pelo REVIZEE.
As técnicas modernas de linha e anzol estão sendo usadas na pesca comercial para dezenas de
espécies, tanto oceânicas como costeiras, pelágicas ou demersais. Nessa lista estão os famosos
espadartes (Xiphias gladius), cação-azul (Prionace glauca) e o anequim (Isurus oxyrinchus), que vêm
para a costa por causa da técnica de espinhel-de-superfície. Os chernes (Epinephelus niveatus e
33
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Polyprion americanus), o peixe-sapo (Lophius gastrophysus)
(Figura 7) e o namorado (Pseudopersis numida) (Figura 8), por
exemplo, são capturados pelo mesmo sistema, mas bem mais
fundo, a 600 metros de profundidade, em média.
Usada apenas em
Figura 7 - peixe-sapo Lophius
zonas estuarinas, a passiva gastrophysus
técnica do emalhar está
ganhando cada vez mais adeptos em regiões costeiras. Nesse
Figura 8 – Namorado Pseudopersis
caso, o peixe é apreendido quando a porção anterior dele se
numida
enrosca com a malha lançada ao mar.
Com a finalização dos estudos do REVIZEE, foi possível elaborar diretivas sobre qual
modalidade de pesca se adapta melhor a determinadas populações. Conhecer a fundo o comportamento
dos animais é essencial para a escolha da técnica de captura.
RODÍZIO ECOLÓGICO
Na comunidade científica, após as revelações inquestionáveis dos números e das centenas de
estudos gerados na última década, poucos pareceram ter uma leitura diferente dessa mensagem final,
dada com clareza pelo Programa REVIZEE. "Os dados nos colocaram diante de um paradigma",
avaliou Silvio Jablonski, pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e consultor “ad
hoc” da Coordenação Geral do Programa. "Não há dúvida de que a maior parte dos estoques, objeto de
pescaria comercial, encontra-se plenamente explotada ou no limite de explotação".
Com tudo mapeado, e com a necessidade de esforços e percursos cada vez maiores para ser
mantida a produção atual no mar (extrativa + maricultura) de mais de cerca de 600 mil toneladas por
ano, foi possível indicar os pilares de sustentação para uma nova gestão da pesca no Brasil.
A política de gerir os recursos pesqueiros nacionais, principalmente na região Sul-Sudeste, onde
a presença das frotas comerciais é maior, foi iniciada, por meio de Instruções Normativas emanadas
pela Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP/PR), com base em
cinco linhas de ação emergenciais: suspensão da possibilidade indiscriminada de acesso aos recursos
marinhos e aos subsídios concedidos; definição de áreas de pesca e de preservação; foco maior no
aproveitamento dos recursos que são descartados a bordo (fauna acompanhante) e no processamento
do pescado, que muitas vezes são plenamente aproveitáveis; desenvolvimento da maricultura, a
criação de organizamos marinhos na beira do mar, como caranguejos e invertebrados em geral; e
investimentos na pesca de atuns e afins.
34
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
O extenso litoral brasileiro, recortado por enseadas e baías, pode muito bem comportar, desde
que bem regulamentadas atividades que tragam desenvolvimento econômico e social, em
complementação à atividade pesqueira tradicional. Isso, claro, desde que se leve em conta o uso de
águas públicas e o interesse de seus múltiplos usuários, o destino dos efluentes, o controle sanitário e
assim por diante. É importante, em termos de áreas geográficas, que ocorra uma espécie de rodízio de
espécies cultivadas nas mariculturas. Com os dados do REVIZEE é muito fácil identificar onde é
possível pescar.
O pescador artesanal sabe agora onde encontrar determinada espécie. Os experimentos
realizados no âmbito do Programa também permitem saber se uma técnica é mais ou menos nociva a
certas espécies. A expectativa é de que, além de se transformar em paradigma da pesquisa
oceanográfica brasileira, o REVIZE continue dando frutos. Temos material para mais dez anos de
trabalho, que poderão produzir um número significativo de relatórios, trabalhos científicos, teses,
apresentações em conclaves e contribuições em reuniões técnicas. Ele também está sendo publicado
em linguagem não científica para que possa ser divulgado à sociedade como um todo, incluindo os
nossos pescadores artesanais.
Como efeito colateral, além do conhecimento das espécies que habitam nosso oceano, o
Programa acabou ampliando a formação de recursos humanos em todo o país, seja na área de
oceanografia propriamente dita, da hidroacústica ou da pesca. O desenvolvimento científico foi mais
acentuado no Norte e Nordeste do Brasil. Além dos dados biológicos, os cientistas conhecem melhor
agora as condicionantes oceanográficas que regem os recursos pesqueiros e o efeito de novas
tecnologias de pesca. O detalhamento do fundo marinho, realizado por modernas técnicas de análise,
também foi possível a partir dos esforços do REVIZEE.
Os mapas do leito do oceano foram gerados pelo Departamento de Oceanografia da Fundação
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), situado na cidade de Rio Grande. Todo o estudo esteve
sob coordenação do oceanógrafo Lauro Saint Pastous Madureira, do Laboratório de Tecnologia
Pesqueira e Hidroacústica. Para chegar ao exuberante resultado, os pesquisadores trabalharam sobre
dados fornecidos por satélite e medições feitas com a técnica de batimetria, que registra a
profundidade do oceano com o auxílio de ecossondas instaladas em navios. As inéditas figuras foram
geradas com base em sete milhões de pontos georreferenciados, com latitude, longitude e
profundidade determinadas com rigor. No caso da Prainha de Canto Verde, no litoral leste do Ceará,
atividades paralelas também surgiram com o estudo do mar, como o turismo sustentável. Mas a pesca
ainda é a principal fonte de renda daquele local.
35
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ESFORÇO DE PESQUISA E FRÁGIL DIVERSIDADE
Em pesquisa que durou dez anos, mais de 300 pesquisadores fizeram um levantamento completo
sobre a ZEE do Brasil, representando cerca de 60 universidades e instituições de pesquisa, distribuídas
ao longo de 17 estados costeiros. Foram empregadas mais de 10 embarcações oceanográficas e de
prospecção pesqueira, incluindo aquelas alugadas da frota comercial. Como já citado, apesar da grande
diversidade da fauna marinha, o estoque de peixes é pouco e deve ser manejado com cuidado para não
haver um desequilíbrio ecológico.
ULTRAPASSAGEM TECNOLÓGICA
No Brasil, frotas comerciais estão um passo à frente das científicas. As caravelas portuguesas,
que há 500 anos atravessaram o oceano Atlântico rumo ao Novo Mundo, são consideradas um grande
símbolo tecnológico da história da navegação. Nos tempos “cabralinos”, descoberta e negócios eram
protagonizados por uma mesma nau. Agora, separados os objetivos, a ciência ficou para trás. As frotas
comerciais que operam nos mares brasileiros continuam com tecnologia embarcada avançada, mais
moderna do que a dos navios oceanográficos.
Assim, para fazer frente às suas necessidades, o REVIZEE arrendou alguns desses navios, pois as
embarcações disponíveis para a prospecção eram, em sua maioria, inadequadas para o trabalho em
águas profundas.
Os avanços tecnológicos cada vez mais presentes nos barcos comerciais vencem a ciência. Com
mais ferramentas em mãos, os pescadores das frotas comerciais conseguem ir atrás dos cardumes que
lhes interessam com muito mais facilidade. Os recursos, portanto, são mais facilmente explorados. No
mundo inteiro, a tecnologia empregada na pesca vem tendo um papel mais destrutivo do que
construtivo, ampliando de forma desmedida a capacidade de navegação, localização do pescado e
captura por parte dos barcos comerciais.
Com todos os avanços técnicos, singrar os sete mares também tem sido uma tarefa muito fácil,
por isso, são comuns embarcações de bandeira espanhola, japonesa e coreana chegarem ao largo da
costa brasileira.
Para evitar sérios conflitos internacionais, por causa da disputa por espaços oceânicos, a
Organização das Nações Unidas (ONU) criou a Lei do Mar. A grande contribuição do texto da ONU é
definir os conceitos de mar territorial, zona econômica exclusiva e plataforma continental. Esse último
difere um pouco do mesmo termo usados pelos oceanógrafos, que se baseiam apenas em características
topográficas. O mar territorial brasileiro, a partir da convenção, passou a ter largura de 12 milhas, ou
21,6 km. A ZEE, por sua vez, é mais ampla: estende-se até 200 milhas, ou 350 km. Nessa região, a
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Nação é soberana no direito de navegação e de ocupação do espaço aéreo. A soberania se estende para
fins exploratórios e de aproveitamento dos recursos, sejam eles de origem mineral, como o petróleo, ou
biológica, caso dos pescados.
Antes dessas definições, muitos conflitos ocorreram. Na década de 1960, o mar territorial
brasileiro tinha largura de apenas três milhas. Mas, a plataforma continental que já era associada ao
sentido de soberania, era muito maior. Barcos franceses vieram para o litoral nordestino pescar lagosta
sem autorização. Afirmavam estar em águas internacionais, porque nunca ultrapassavam as três milhas
da costa. O Brasil conseguiu fazer valer a idéia de que o crustáceo vivia exclusivamente em sua
plataforma continental e, portanto, era direito brasileiro a exclusividade de explorar a lagosta. A
questão agora é ocupar cada vez mais esta imensa área, pois os pequenos conflitos estão longe de
desaparecer.
Tendo como limite Norte a foz do rio Oiapoque e ao Sul o Chuí, as águas oceânicas do Brasil se
projetam bastante para Leste, incluindo as regiões do Atol das Rocas e dos Arquipélagos de Fernando
de Noronha e de São Pedro e São Paulo, além de abrigar as lhas Trindade e o Arquipélago Martin Vaz.
A plataforma continental brasileira chega a ter 160 milhas náuticas na direção da descarga das águas do
colossal Rio Amazonas.
Nos trechos onde ela é mais estreita, na baía do rio Tubarão, no Sul, tem apenas 40 milhas
náuticas. A profundidade também oscila bastante, entre o mínimo de onze metros e o máximo de quatro
mil. A grande distância entre a superfície e o assoalho oceânico é registrada nas planícies abissais do
Ceará e de Pernambuco. Nesse trecho, a plataforma continental não existe mais, pois é interrompida
por um grande escorregador submarino antes do mundo abissal.
Normalmente, na altura do litoral norte do Rio Grande do Sul, a corrente das Malvinas encontrase com a corrente do Brasil, que veio da zona equatorial. Nesse local é que se forma a Água Central do
Atlântico Sul (Acas), rica em nutrientes e bastante fria. Em alguns meses do ano, no verão, as águas
mais densas e de menor temperatura afloram até a plataforma continental. Esse é o fenômeno da
ressurgência. Em grande parte das vezes ele é registrado na área de Cabo Frio.
Todas essas correntes - e no norte do Rio Amazonas elas também têm importância toda especial são diretamente responsáveis pelo fluxo, ou não, dos seres vivos. No caso específico do REVIZEE, as
informações geológicas, físicas e químicas foram direcionadas para o enriquecimento do conhecimento
biológico, necessário para um melhor gerenciamento da pesca no Brasil. Isso não significa, entretanto,
que qualquer uma dessas quatro grandes áreas tenha peso maior que as demais.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
LACUNAS
Os estoques apontados como promissores demandam a determinação mais precisa de seus
potenciais. Para diversos recursos, há a necessidade de levantamentos mais focados, com a
identificação de agregações reprodutivas, que possam subsidiar a gestão pesqueira e a definição de
áreas de restrição ao esforço de pesca.
RECOMENDAÇÕES PARA A PESCA MARINHA
Quais as alternativas para o crescimento da produção brasileira de pescado?
1) PESCA COSTEIRA E CONTINENTAL (PLATAFORMA E TALUDE)/ARTESANAL
No segmento da pesca costeira e continental, considerando-se a atual condição de esgotamento da
maioria dos estoques, já não há praticamente qualquer possibilidade de expansão das capturas. A
recuperação do setor deve ser buscada a partir do aprimoramento dos instrumentos de gestão,
ordenamento e fiscalização, no sentido de assegurar a sustentabilidade da atividade, além de iniciativas
que permitam agregação de valor ao produto capturado, sem que haja necessariamente uma ampliação
da produção.
Entre as alternativas disponíveis para se estimular a recuperação do setor estão: a)
desenvolvimento da aqüicultura, particularmente em escala familiar; b) organização da base produtiva
(associativismo, cooperativismo e gestão); c) desenvolvimento de técnicas de beneficiamento e
conservação do pescado que permitam a agregação de valor ao produto capturado; d) desenvolvimento
de novas tecnologias de captura, que permitam a explotação de novos estoques; e) política de crédito
adequada à atividade e voltada para a melhoria de infra-estrutura, aparelhos de pesca e embarcações; f)
capacitação e treinamento nas várias fases da cadeia produtiva, incluindo a alfabetização dos
pescadores e dos seus filhos e g) aprimoramento dos processos de comercialização.
2) PESCA OCEÂNICA
Em relação à pesca oceânica, a situação é bastante diversa. No Oceano Atlântico, atualmente, são
capturadas cerca de 600.000 t de atuns e espécies afins, por ano, correspondendo a um valor da ordem
de US$ 4 bilhões. A participação brasileira neste total, contudo, é ainda bastante tímida, com uma
produção próxima a 50.000 t, o que representa cerca de apenas 8% do total capturado.
Considerando-se, porém, que praticamente a metade da produção brasileira é de bonito listrado,
uma das espécies de atum de menor valor comercial, capturada quase que inteiramente dentro da ZEE,
a participação nacional, em termos de valor, é ainda muito mais reduzida.
Os recursos pesqueiros oceânicos apresentam uma série de vantagens em relação aos recursos
costeiros, dentre as quais pode-se destacar: a) grande proximidade das principais áreas de pesca, no
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
caso do Brasil; b) algumas espécies capturadas, como as albacoras, apresentam um alto valor comercial
para exportação, constituindo-se em uma importante fonte de divisas para o país; c) outras espécies,
também presentes nas capturas, como os tubarões, apresentam preço relativamente baixo, apesar do seu
excelente valor nutritivo, representando uma importante fonte de proteínas para a população de baixa
renda; d) ciclo de vida independente dos ecossistemas costeiros, já intensamente degradados; e) ampla
distribuição e f) biomassa elevada.
Uma vantagem adicional é que, desde que adequadamente planejado, o desenvolvimento da
pesca oceânica nacional poderia resultar em uma redução do esforço de pesca sobre os estoques
costeiros, já sobreexplotados. Como os estoques pesqueiros oceânicos também já estão sendo
explotados em níveis próximos do limite sustentável, a ampliação da produção brasileira dependerá
diretamente da sua capacidade de negociação com os países pesqueiros tradicionais, no âmbito da
ICCAT - Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico.
Neste sentido, a posição do governo brasileiro tem sido sempre a de defender intransigentemente
o respeito aos limites sustentáveis, defendendo, porém, com a mesma intransigência, o direito de o país
participar, de forma eqüitativa, da pesca oceânica. Por meio de um grande esforço de negociação, em
grande medida fundamentado nos instrumentos jurídicos internacionais, particularmente na Convenção
das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, o Brasil tem conseguido ampliar suas cotas de captura de
algumas espécies, como o espadarte, cuja cota passou de 2.340 t para 4.086 t em 2003, crescendo até
4.365 t em 2006. Infelizmente, a maior parcela da produção nacional de atuns e afins, excetuando-se o
bonito listrado, é ainda proveniente de embarcações arrendadas.
Apesar de extremamente útil como forma de assegurar a assimilação da tecnologia de pesca
estrangeira e gerar um histórico de capturas essencial ao processo de negociação para ampliação das
quotas de captura, o instrumento do arrendamento deve ser compreendido sempre como um dispositivo
provisório e emergencial.
O grande desafio que se impõe ao país neste momento é desenvolver uma frota oceânica
genuinamente nacional, que permita superar a elevada dependência, e conseqüente vulnerabilidade, da
frota estrangeira arrendada. Desta forma, é preciso compreender que o desenvolvimento da pesca
oceânica brasileira não diz respeito apenas à produção de pescado, nem à geração das divisas,
empregos e renda dela resultantes; ele implica também na efetiva ocupação das águas internacionais do
Atlântico Sul, essencial à plena realização da estatura geopolítica de nosso país.
Por fim, cabe destacar que a realização das aspirações nacionais quanto ao crescimento de sua
participação na pesca oceânica dependerá, diretamente, de sua capacidade de fazer cumprir
internamente as medidas de ordenamento e conservação impostas pela ICCAT, uma vez que a defesa
39
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
de qualquer direito só se sustenta se devidamente amparada pelo fiel cumprimento dos deveres
correlatos.
3) MARICULTURA
O macro vetor para a expansão dos recursos pesqueiros no país é a maricultura, pois o Brasil
possui cerca de 8.500 km de costa, 2.500.000 ha de manguezais, clima tropical e subtropical, o que
permite o ciclo de produção durante todo o ano,
temperatura da água entre 24 e 30º C, luminosidade
entre 130 e 310 lux, boa infra-estrutura, rodovias,
eletricidade, comunicações, portos e aeroportos.
No final de 2004, apenas cerca de 17.000 ha
eram utilizados em maricultura, sendo que mais de
82% para a produção de camarão (carcinicultura)
(Figura 9), que teve uma produtividade de apenas
75.000 t, ficando a produção de ostras, mariscos,
vieiras, peixes e caranguejos, com produtividade de
Figura 9 – Carcinicultura do Nordeste
brasileiro
apenas 13.000 t.
Com o adequado ordenamento costeiro, minimizando os impactos ambientais causados pelas
fazendas de maricultura, as quais não deverão lançar produtos químicos nos estuários e rios e,
tampouco, o excesso de nutrientes, será possível elevar em níveis exponenciais a produção aqüícola do
país, podendo atingir a produção da China, que é de cerca de 400.000 ton/ano, correspondendo a quase
1/3 da produção nacional de pescado e gerando divisas, emprego e renda, principalmente, na região
Nordeste do país.
RECOMENDAÇÕES GERAIS
Além da necessidade de superação das lacunas apontadas, alguns direcionamentos para o futuro
da gestão pesqueira foram evidenciados pelo Programa:
- investimento em qualidade do pescado, condições de armazenamento, manuseio, desembarque
e comercialização, a fim de agregar valor e renda ao produto das pescarias;
- medidas de preservação – implantação de áreas de preservação para todas as pescarias, em
especial para aquelas de baixa seletividade e operantes nos ecossistemas recifais e de profundidade.
Além disso, é preciso tomar ações que evitem a captura acidental de espécies não comercializáveis e de
indivíduos juvenis;
40
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
- aperfeiçoamento da gestão das pescarias – dar continuidade aos programas de amostragem e
monitoramento de espécies comerciais, ao controle de desembarques artesanais e industriais, assim
como à fiscalização da atividade pesqueira por meio de observadores de bordo, ao rastreamento das
embarcações por satélite, ao cadastro de embarcações e ao licenciamento à pesca; e
- medidas de controle – compatibilizar o esforço de pesca com o efetivo potencial dos estoques
disponíveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além de nos proporcionar um nível de conhecimento inédito sobre os recursos vivos existentes
em uma parte da nossa Amazônia Azul, não podemos nos esquecer que o REVIZEE foi apenas uma
fotografia instantânea de nossa ZEE, a qual caracterizou o ambiente marinho, no que tange à
climatologia, circulação e massas d`água, produtividade, geologia e biodiversidade; retratou os
estoques pesqueiros no que concerne a abundância, sazonalidade, biologia e dinâmica; e analisou as
pescarias comerciais. Por isso, embora tenha cumprido a sua missão, o Programa REVIZEE também
nos alerta para a necessidade de continuarmos a trabalhar para a conservação e uso sustentável dos
recursos vivos da nossa ZEE.
Para tal, surge com igual vigor, o Programa de Avaliação do Potencial Sustentável e
Monitoramento dos Recursos Vivos Marinhos, o REVIMAR, já em fase inicial de execução.
O REVIZEE foi concluído, podendo ser considerado como o maior esforço integrado
desenvolvido no país para a avaliação de estoques pesqueiros. Como resultado desta avaliação, foi
possível a identificação de alguns estoques até então desconhecidos, com a abertura de novas fronteiras
para a pesca no país, em áreas mais afastadas na ZEE, o que pode contribuir para a diversificação da
atividade pesqueira nacional, com a conseqüente geração de emprego e renda e o alívio da pressão
sobre as espécies tradicionais, em geral sobrexplotadas.
Em continuidade àquele Programa, será imprescindível uma ação permanente de monitoramento
dos principais estoques pesqueiros, a fim de permitir a geração contínua de informações essenciais para
a definição de política de pesca que possa garantir a sustentabilidade da atividade, incluindo medidas
de ordenamento.
O REVIMAR tem a finalidade de avaliar continuamente o potencial sustentável e monitorar de
forma sistemática os estoques presentes nas áreas marítimas sob jurisdição nacional, com vistas a
subsidiar políticas pesqueiras que garantam a sustentabilidade e a rentabilidade da atividade.
A avaliação e o monitoramento dos principais estoques pesqueiros marinhos permitirão o
ordenamento da atividade, assegurando o aproveitamento sustentável dos estoques pesqueiros, e
41
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
beneficiarão o setor pesqueiro nacional, neste incluídos os segmentos industrial e artesanal, e
contribuirão, também, para a produção de alimentos e a geração de emprego e renda, além da
necessária conservação dos ecossistemas marinhos, beneficiando, assim, a sociedade brasileira como
um todo.
Serão identificados os recursos vivos marinhos, oceânicos e costeiros, que deverão ser avaliados
ou monitorados, assim como os dados oceanográficos, biológicos e pesqueiros a serem coletados e
acompanhados de forma sistemática. No sentido de possibilitar o gerenciamento adequado da sua
explotação, os recursos pesqueiros selecionados deverão ter os seus estoques avaliados periodicamente,
por meio da realização de prospecção pesqueira, pesca exploratória e do uso de modelos de dinâmica
populacional que permitam a obtenção subsídios necessários ao ordenamento pesqueiro, o que requer o
utilização de barcos de pesquisa, como o Antares (Figura10).
O acompanhamento do esforço de pesca ao
longo do litoral brasileiro deverá ser mensurado a
partir dos seguintes dados: quantificação dos
desembarques totais, localização das áreas de
captura e registro das condições de comercialização
do pescado, conforme descreve a Proposta Nacional
de Trabalho do Programa REVIMAR, baseada nas
recomendações do REVIZEE.
Figura 10 - Navio Oceanográfico Antares
– participou ativamente do REVIZEE
Para tal, deverão ser definidos modelos de coleta de dados padronizados para pescarias de
pequena escala e industriais. Em paralelo, deverá ser desenvolvido um sistema de gerenciamento de
dados sobre a atividade pesqueira, envolvendo a coleta, o armazenamento, a análise e a disseminação
de dados de captura, o esforço de pesca, a comercialização e as informações biológicas e
socioeconômicas que se mostrarem pertinentes, assim como definidas as estratégias de
disponibilização da informação, buscando-se reduzir, ao mínimo, o tempo decorrido entre a coleta dos
dados, os procedimentos de crítica e seu efetivo acesso pelas instituições interessadas e por aquelas
com responsabilidades na gestão desses recursos. Várias dessas ações já se encontram em curso.
A imensa extensão da Amazônia Azul, gigante pela própria natureza, por si só já nos enche de
orgulho. Afinal, estamos falando de uma área com cerca de 4,5 milhões de km2.
Conhecê-la, protegê-la e integrá-la ao espaço econômico do país, assegurando a justa apropriação
pela sociedade brasileira dos recursos vivos nela presentes, de forma sustentável, é uma tarefa
grandiosa, ao mesmo tempo em que é árdua e espinhosa.
42
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Fazer-se ao mar para explorar os seus recursos exige coragem, dedicação, denodo e patriotismo,
sentimentos esses alentados pela satisfação de poder contribuir para assegurar ao povo brasileiro o
pleno usufruto dos recursos vivos que as nossas águas jurisdicionais podem nos oferecer, e que se
constituem em um patrimônio que é nosso.
O Programa REVIZEE, mais do que representar o necessário cumprimento das obrigações
assumidas pelo país frente à CNUDM, se constituiu num divisor de águas acerca do conhecimento das
espécies e dos ecossistemas da ZEE brasileira.
O passo inicial foi dado, e foi um grande passo. Conhecemos uma parcela dos recursos existentes
na nossa Amazônia Azul. Cabe agora gerenciarmos e monitorarmos seus recursos vivos, preservarmos
seus ecossistemas e exercermos a nossa soberania nessa importante porção do nosso Brasil.
AGRADECIMENTOS
O autor apresenta seus agradecimentos às pessoas e instituições cujos textos serviram de base
para elaboração deste trabalho: Eduardo Augusto Geraque, Biólogo e Jornalista; Silvio Jablonski,
Oceanógrafo, Pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Fábio Hissa Vieira Hazin,
Engenheiro de Pesca, Professor da UFRPE; Rudolf de Noronha, Diretor do Programa e Gerenciamento
Ambiental da Secretaria de Qualidade Ambiental do MMA; Roberto de Guimarães Carvalho,
Almirante-de-Esquadra, Comandante da Marinha e Coordenador da CIRM; e ao Ministério do Meio
Ambiente, pela consulta ao Relatório Executivo do Programa REVIZEE.D
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
BENEFICIAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO NA REGIÃO DE
ITAPISSUMA, PERNAMBUCO
José Milton BARBOSA ([email protected]);
Helder Correia LIMA ([email protected]);
Erivaldo José da SILVA JÚNIOR ([email protected]);
Artur Delmiro Sodré da MOTA ([email protected]);
Ivo Thadeu Lira MENDONÇA ([email protected]);
Edson José da SILVA FILHO ([email protected])
Departamento de Pesca e Aqüicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco.
RESUMO
O município de Itapissuma, situado à margem Norte do Canal de Santa Cruz é o principal ponto de
desembarque, beneficiamento e comercialização de boa parte da produção pesqueira artesanal advinda
desse complexo. A pesca incide, principalmente, sobre peixes de pequeno porte, de espécies como:
sapuruna Pomadasys corvinaeformis, dentão Lutjanus jocu, carabeba Eugerres brasilianus, carapicu
Diapterus olisthostomus, boca-torta Cetengraulius edentulus, saúna Mugil sp. que são destinados a
salga como peixe salgado-seco, conhecido por “caíco”, sendo este processo realizado de forma precária
e sem controle de sanidade. A pesca representa uma das principais atividades de subsistência praticada
pelos moradores da região, muitas vezes, constituindo-se como a única fonte de renda de famílias
inteiras. Além disso, esta atividade é prejudicada, tanto pela falta de políticas públicas de incentivo,
quanto à visível degradação ambiental e por conflitos, gerados pela crescente exploração turística no
Canal de Santa Cruz. A comercialização do pescado produzido nesta região, geralmente é intermediada
por “empreseiros” (intermediários), proprietários dos barcos e redes, além dos girais onde os peixes são
submetidos à secagem, iniciando, nesse caso, uma cadeia de intermediação para revenda em Recife
(mercado público de São José, bairros próximos da Avenida Caxangá) ou nas feiras livres da Região
Metropolitana do Recife e no interior do Estado (Limoeiro, Orobó, Carpina, Caruaru e outros).
PALAVRAS-CHAVE: Itapissuma, peixes, salga.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ABSTRACT
The city of Itapissuma, situated to the edge North of the Canal of Santa Cruz is the main point of
landing, improvement and commercialization of good part of the happened artisan fishing production
of this complex. It fishes it happens, mainly, on fish of small transport of species as: “sapuruna”
Pomadasys corvinaeformis, “dentão” Lutjanus jocu, “carabeba” Eugerres brasilianus, “carapicu”
Diapterus olisthostomus, “boca-torta” Cetengraulius edentulus, ‘saúna” Mugil sp., destined salts it, the
salty-dry fish is known as “caíco”, being this, carried through of precarious form and without control of
health during the process. It fishes it represents one of the main activities of subsistence practised for
the inhabitants of the region, many times, consisting as the only source of income of entire families.
Moreover, this activity is harmed, as much for the lack of public politics of incentive, how much to the
visible ambient degradation and for conflicts, generated for the increasing tourist exploration in the
Canal of Santa Cruz. The commercialization of the produced fished one in this region, generally are
intermediated by “empreseiros”, proprietors of the boats and nets, beyond turn them where the fish are
submitted to the drying, initiating, in this in case that, a chain of intermediação for resale in Recife
(public market of São José, quarters next to the Caxangá Avenue) or in the free fairs of the Region
Metropolitan of Recife and in the interior of the State (Limoeiro, Orobó, Carpina, Caruaru and others).
KEY-WORDS: Itapissuma city, fishes, salty fish
INTRODUÇÃO
A região de Itapissuma apresenta intensa atividade pesqueira sendo considerada uma nas mais
produtivas do Brasil. A pesca incide, principalmente, sobre espécies de pequeno porte, destinadas a
salga.
O processo de salga é extremamente rústico, realizado em condições precárias, sem controle de
higiene e sanidade, sendo os peixes lavados com águas impróprias, expostos às moscas e à ação
bacteriana durante o processo de secagem. Ações para melhoria desta realidade seriam de grande
importância para o melhoramento das condições de higiene e da qualidade final do produto, no entanto
esbarram no aumento do custo de produção, o que não é interessante para os produtores e
consumidores. Após a salga o produto passa por uma cadeia de comercialização ainda pouco estudada.
O município de Itapissuma, desmembrado do município de Igarassu, foi criado pela Lei
Estadual Nº 8.952 de maio de 1982 e instalado a 1º de janeiro de 1983. Situado na região metropolitana
do Recife a 36 Km de distância da capital pernambucana. Possui uma área de 74,3 Km2 e sua
população é de aproximadamente 20.405 habitantes (MORAES, 1998).
45
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Devido a sua localização, muito próxima ao grande Recife, sua beleza natural e a sua alta
produtividade pesqueira, essa região é agredida por diversas ações antrópicas, como a urbanização,
aterros imobiliários, turismo, despejo de dejetos e a pesca predatória que ameaçam a sua
sustentabilidade (BARROS e ESKENAZI-LEÇA, 2000). Segundo Macedo et al. (2000), as áreas
estuarinas sofrem forte agressão ambiental, devido a explorações pesqueiras, derrubadas de mangues,
turismo ou simples especulação imobiliária.
Estima-se na região de Itapissuma, que o
número de pescadores (homens e mulheres)
totaliza cerca de 4,2 mil pessoas, no entanto,
apenas 35% dos pescadores e 33% das
pescadeiras foram cadastrados no IBAMA,
em 1996. Estima-se, que 70% da população
do município está envolvida direta ou
indiretamente
com
a
produção,
beneficiamento e o comércio do pescado.
Itapissuma é o único município da região que
apresenta todos os pontos de desembarque no
canal de Santa Cruz (Figura 1) e com frota
pesqueira
formada
exclusivamente
por
canoas, que corresponde à cerca de 20% da
Figura 1 – Canal de Santa Cruz, às margens do
município de Itapissuma/PE.
produção pesqueira marítima do Estado (LIMA e QUINAMO, 2000).
Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi estudar as condições de beneficiamento e
comercialização do pescado (relações comerciais entre os trabalhadores do mar), determinar cadeias de
comercialização das espécies utilizadas na salga e propor melhorias na técnica de salga empregada
pelos pescadores da região e outras que possam promover maior qualidade do produto.
METODOLOGIA
O projeto foi realizado durante o período compreendido entre os meses de junho e dezembro de
2003, pelos estagiários do Laboratório de Avaliação Ponderal em Animais Aquáticos (LaAqua) do
Departamento de Pesca e Aqüicultura (DEPAq) da Universidade Federal Rural de Pernambuco –
UFRPE, junto a Colônia de Pescadores do Município de Itapissuma (Z-10).
46
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Antes da observação do processo de salga em campo, foram realizadas pesquisas bibliográficas
sobre as atividades relacionadas com a pesca e salga realizada naquela região, visando maior
compreensão e familiarização com o processo.
Após o levantamento bibliográfico foram realizadas visitas periódicas (quinzenais) a Colônia de
Pescadores de Itapissuma Z-10, localizada às margens do Canal de Santa-Cruz, com o intuito de
observar não somente o processo de salga, e sua organização, como as reais condições de realização do
mesmo e as relações comerciais existentes entre os pescadores da região.
ÁREA DE ESTUDO
O município de Itapissuma, situado à margem Norte do Canal de Santa Cruz é o principal ponto
de desembarque, beneficiamento e comercialização de boa parte da produção pesqueira artesanal
advinda desse complexo.
A fauna potencialmente econômica do canal pode sustentar cerca de cinco mil pescadores que
desenvolvem a pesca de sobrevivência, obtendo alimento e gerando empregos e renda para as famílias
envolvidas no processo (LIMA e QUINAMO, 2000) de forma que se presta como excelente modelo
para estudos ictiofaunísticos e do contexto social da atividade pesqueira.
PROCESSO DE SALGA
Segundo Ogawa (1999), o processo de salga baseia-se no princípio da desidratação osmótica.
Os tecidos do peixe vivo atuam como membranas semipermeáveis e após a morte do animal, estas se
tornam permeáveis, permitindo, assim, a entrada de sal por difusão, à medida que ocorre desidratação
dos tecidos.
Em circunstâncias de alta pressão osmótica, o protoplasma das células dos microorganismos se
desidrata, havendo contração da membrana plasmática, fenômeno este conhecido por plasmólise. Em
virtude disso, o crescimento de microorganismos é inibido.
O processo de salga aumenta o poder de conservação do pescado, havendo inibição da atividade
enzimática, tanto de enzimas próprias do pescado como de bactérias. Há ainda uma redução no
desenvolvimento de microorganismos aeróbicos, em face da diminuição da solubilidade do oxigênio na
salmoura, ou pela desinfecção direta do produto com íons Cl-. Porém, o princípio de conservação
consiste na retirada de umidade tissular, paralelamente à entrada de sal.
Em concentrações de 1 a 3% de sal, verifica-se uma aceleração no desenvolvimento da maioria
das bactérias patogênicas e envolvidas no processo de putrefação. Em geral, é necessária uma
concentração acima de 15% para inibir este desenvolvimento, quando a atividade de água torna-se
reduzida.
47
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
PESCA E APETRECHOS
A pesca constitui uma das principais atividades de subsistência praticada pelos moradores da
região próxima ao Canal de Santa Cruz no município de Itapissuma. Muitas vezes, constituindo-se
como a única fonte de renda das famílias. Em sua maioria, a pesca ainda é praticada de forma
incipiente, com embarcações rústicas e sem a utilização de qualquer método de sensoriamento remoto.
A captura dos peixes é promovida em
embarcações de pequeno porte conhecidas como
“baiteiras” (Figura 2). São embarcações movidas à
vela ou mais comumente a remo, confeccionadas
em madeira, com dimensões que variam de 5 a 8
metros de comprimento e largura podendo variar
de 1 a 1,5 metros. São utilizadas redes de cerco, de
espera, mangote e tarrafas, cujo diâmetro da malha
pode variar de 15 a 30 mm (entre nós opostos).
Figura 2 – Enbarcações, tipo “baiteiras”
O comprimento das armadilhas (redes)
varia bastante, de acordo com o tipo de pesca a que
utilizadas na pesca artesanal no canal de
Santa Cruz em Itapissuma, PE.
se destina. Algumas chegam a medir mais de 150m de comprimento. A pesca é realizada durante toda a
semana, nos mais variados horários do dia ou mesmo durante a noite. As embarcações podem voltar ao
mar mais de uma vez por dia, dependendo das condições de pesca, podendo até mesmo, algumas
permanecerem no mar, por mais de um dia. O número de pessoas para realização da captura dos peixes
também pode variar de dois a seis pescadores por embarcação.
A atividade pesqueira se inicia com a escolha de um determinado local de pesca (escolhido com
base nas experiências acumuladas pelos pescadores), onde a rede é jogada na água. A partir deste
ponto, o barco segue se afastando e a rede é gradativamente lançada ao mar até ser totalmente
distendida. Após um período de espera, que pode variar de 30 minutos a 1 hora, a rede é puxada com o
auxílio de uma corda presa em uma de suas extremidades, e é fechada perfazendo uma trajetória em
forma de ferradura, depois puxada para dentro da embarcação onde os peixes são recolhidos e
separados de acordo com o tamanho (pequenos e grandes) e colocados em cestos.
O desembarque é realizado em pequenos ancoradouros ou em pontos localizados próximo às
comunidades de pescadores. Após retornarem da pesca, os trabalhadores do mar lavam os peixes com
água do próprio canal (Figura 3A e B). Para facilitar o transporte dos peixes para os locais de secagem,
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
“girais”, ou de venda, muitas vezes os pecadores utilizam carros-de-mão ou levam os peixes nos
próprios cestos dependendo da distância destes locais (Figura 4).
Figuras 4 – Canal de Santa Cruz, Itapissuma: transporte dos peixes para local de
salga e secagem.
Durante o processo de pesca, vários peixes de
diferentes tamanhos e espécies são capturados. Os
peixes maiores (Figura 5) são vendidos, muitas
vezes, sem beneficiamento para comerciantes. Os
peixes de pequeno porte (Figura 6) geralmente são
destinados a salga ou mesmo vendidos sem este
processamento, após secarem ao sol nos “girais” ou
sobre redes dispostas no chão, mais comumente na
rampa que dá acesso aos locais de desembarque,
durante algumas horas.
Figura 5 – Peixes capturados no canal de Santa
Cruz, Itapissuma, PE. De cima para baixo: salema,
bicuda, agulha, agulhinha, sauna e carapeba.
B
A
Figura 3 – Canal de Santa Cruz, Itapissuma/PE - A) Desembarque do pescado;
B) Lavagem dos peixes após o desembarque.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
A
B
C
D
E
F
Figura 6 – Itapissuma – Peixes utilizados na salga: A) sapuruna Pomadasys corvinaeformis,
B) dentão Lutjanus jocu, C) carabeba Eugerres brasilianus, D) carapicu Diapterus olisthostomus,
E) boca-torta Cetengraulius edentulus, F) saúna Mugil sp.
As principais espécies capturadas são as seguintes: a manjuba Opisthonema oglinum
(exemplares juvenis de sardinha-laje), tainha Mugil spp., boca-torta Anchovia clupeoides (manjuba),
sardinha Cetengraulis edentulus, sauna Mugil spp., carapeba Eugerres brasilianus, camurim
Centropomus undecimalis, Xaréu Caranx spp.
A quantidade de peixes capturados varia muito, de embarcação para embarcação e no decorrer
da semana, podendo uma embarcação capturar 400kg de peixes, num dia de boa pescaria.
Os pescadores desta região ainda contam com uma casa, localizada na rua José Gonçalves, nº
83 – Centro, que dá acesso ao Canal, e abriga a sede da Colônia de Pescadores Z-10 de Itapissuma,
responsável por assegurar os direitos destes pescadores. Porém, segundo o relato dos próprios
pescadores, esta poderia atuar mais na defesa dos interesses dos pescadores.
CONDIÇÕES PREJUDICIAIS À ATIVIDADE DE PESCA
A pesca em Itapissuma também enfrenta problemas que refletem diretamente sobre as
condições de vida dos pescadores, influenciando o comércio local e indiretamente as atividades
comerciais de outros municípios, da Região Metropolitana do Recife e do interior do Estado, que
também dependem da produção pesqueira do município.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ALGUNS DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS RELACIONADOS À PESCA
Os problemas mais graves na Região são: a) pesca predatória, devido ao grande número de pessoas
pescando com redes de malha fina e redes de arrasto (pesca não seletiva); b) poluição dos rios e
estuários por esgoto doméstico e resíduos industriais (calda de usina açucareira, cloro e outros
produtos); c) circulação intensa de embarcações motorizadas (lanchas e jet skis) nas bocas Norte e Sul
do Canal de Santa Cruz, afugentando os peixes, destruindo as redes de pesca, pondo em risco a vida
dos pescadores e ameaçando a reprodução das espécies que realizam parte de seu ciclo de vida nos
estuários (LIMA e QUINAMO, 2000).
Além de outros, como a dragagem de certas áreas do Canal de Santa Cruz, para passagem de
embarcações maiores, refletindo a influência da exploração turística sem o devido planejamento e sem
levar a cabo o impacto ambiental que essas atividades poderão causar ao ecossistema.
BENEFICIAMENTO POR SALGA
Durante a coleta de dados foram evidenciadas
as condições precárias onde é realizado o processo de
salga, este normalmente realizado por dois homens.
Os peixes ao serem desembarcados, são
lavados com água do próprio estuário, depois
transportados até as “salgadeiras” (tanques de cimento
de cerca de 1m3, revestido com azulejos ou cimento)
(Figura 7), onde são depositados inteiros e com
vísceras, depois é adicionado o sal, que posteriormente
formará a salmoura, onde permanecerão por cerca de
Figura
7
–
Salgadeiras
usadas
no
beneficiamento por salga do pescado
no canal de Santa Cruz, Itapissuma/PE.
24 horas.
Passado este período na salmoura, os
peixes são colocados nos “girais” (Figura 8),
espécie de mesa, construída com varas de madeira,
possuindo pequenos espaços entre elas e forrada
com redes de pesca, facilitando o escoamento da
água dos peixes e evitando que estes caiam no
chão. Os girais apresentam medidas que variam de
10 a 15 metros de comprimento por 2 metros de
Figura 8 – “Quarais” utilizados na secagem
de peixes na Região de Itapissuma.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
largura e cerca de 1 metro de altura, os peixes são dispostos sobre a rede e permanecem lá para secarem
ao sol por períodos que podem variar de 2 a 6 horas dependendo das condições climáticas.
Os “girais” estão localizados próximos à margem do canal de Santa Cruz, onde o acúmulo de lixo
de várias origens (Figura 9) e a presença de
pragas urbanas tornam-se bastante evidentes,
contribuindo de forma negativa na qualidade
do
produto
final,
o
peixe
salgado-seco
conhecido como “caíco”. A produção muitas
vezes é comercializada nos próprios girais,
para comerciantes que compram em grande
quantidade para revenderem nas feiras locais
ou de outras cidades. O peixe depois de
salgado e seco pode ainda ficar estocado por
até três dias dependendo da procura.
Figura 9 – Proximidade dos “girais” com lixo
doméstico propiciando a presença de pragas
RELAÇÕES COMERCIAIS
As relações comerciais envolvendo a produção da salga, muitas vezes são conduzidas pelos
“empreseiros”, proprietários dos barcos e redes, além dos girais onde os peixes são submetidos à
secagem.
As relações de trabalho observadas durante este estudo apresentam pequenas diferenças em
relação às descritas por Lino (2003), porém, ainda estão baseadas em atividades informais sem vínculo
empregatício.
Mediante entrevistas realizadas na Região, registrou-se que muitos pescadores possuem
embarcações e apetrechos de pesca, porém, preferem negociar o pescado com os “empreseiros”, muitas
vezes, pela natureza da atividade que se torna muito desgastante, desestimulando o pescador a
comercializar o pescado diretamente com o consumir. Às vezes, nos finais de semana, as esposas de
alguns pescadores esperam seus maridos retornarem da pesca e levam uma certa quantidade de peixe
para venderem nas feiras livres, conseguindo assim um lucro maior com a venda direta ao consumidor.
Os pescadores que não possuem embarcações dependem unicamente dos meios fornecidos
pelos “empreseiros” para a realização da atividade, comprometendo-se assim, a vender a produção
comercializável para estes.
Após o processamento: salga e secagem, os peixes são comercializados pelo “empreseiro” em
transações feitas diretamente por telefone, sendo negociadas pequenas quantidades ou em grosso,
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
iniciando, nesse caso, uma cadeia de intermediação (Figura 10) para revenda em Recife (mercado
público de São José, bairros próximos da Avenida Caxangá) ou nas feiras livres da Região
Metropolitana do Recife e no interior do Estado (Limoeiro, Orobó, Carpina, Caruaru e outros).
Meio
Ambiente
Consumo
Próprio
Pescador
Empreseiro
Intermediário
Processamento
Salga / Secagem
Atacadista
Varejista
(comerciante e feirante)
Armazenamento
Consumidor
Figura 10 – Fluxo do processamento e comercialização do peixe salgado-seco (caíco)
na região de Itapissuma, Pernambuco.
O “empreseiro” adquire o pescado ao preço de R$ 0,50 o quilo. O produto final após o
processamento e a intermediação chega ao consumidor pelo preço de R$ 2,00 o quilo. No local da
salga o preço ao consumidor é R$ 1,50 o quilo.
53
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
COMENTÁRIOS CONCLUSIVOS
A pesca artesanal no município de Itapissuma representa uma importante fonte de subsistência,
senão a única, para uma grande parcela da população marginal do Canal de Santa Cruz. Esta atividade,
bem como outras advindas de sua efetivação (comércio de frutos do mar em feiras livres, bares,
restaurantes etc.) são responsáveis, quase que inteiramente, pelo volume comercial e base econômica
do município, sendo esta retransmitida por várias gerações, constituindo-se numa herança cultural e
profundamente enraizada no costume local.
Porém esta atividade se desenvolve sem planejamento, sugerindo que, sem o devido
direcionamento, a pesca no Canal de Santa Cruz poderá sofrer futuramente com a falta do produto
pesqueiro devido à redução dos organismos aquáticos explorados, que já sofrem com a influência do
turismo e da poluição.
Os trabalhadores diretamente envolvidos na pesca são pessoas simples e de poucas posses,
quando muito, donos apenas de poucos utensílios destinados à pesca ou a ela ligados.
O beneficiamento do pescado se desenvolve de acordo com as condições econômicas da
população diretamente favorecida e está intimamente influenciado pelo desenvolvimento da região.
A salga, embora se constitua num dos métodos mais antigos de conservação de alimentos,
atende as necessidades e condições de vida destes pescadores.
Ações para melhoria no beneficiamento do pescado, e conseqüentemente, das atividades
econômicas e condições de vida dos pescadores e consumidores, podem ser efetivadas, desde que
sejam incorporadas na realidade da região, levando em consideração os custos advindos de sua
implantação e os benefícios que podem ser alcançados, e levando paralelamente a conscientização da
responsabilidade social com a preservação e uso racional dos recursos naturais.
SUGESTÕES OU RECOMENDAÇÕES
No decorrer deste projeto tomou-se ciência da realidade enfrentada pelos pescadores que
dependem do produto da labuta diária no mar e no Canal de Santa Cruz, e as principais rotas destinadas
ao pescado daquela região além de alguns dos problemas ocasionados pela falta de conhecimento das
possíveis vias de contaminação do pescado e dos possíveis causadores de doenças.
Como sugestões para a melhoria das condições de pesca, processo de comercialização e
conseqüentemente da qualidade de vida das pessoas influenciadas por essa atividade, podemos citar:
a) Encaminhar solicitação aos órgãos competentes, através de suas representações, para que as águas
decorrentes da drenagem pública e canalizada para os estuários da região sejam tratadas, de forma a
minimizar o impacto ambiental provocado nos organismos aquáticos e que é repassado para a
54
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
população; b) recolhimento periódico do lixo doméstico acumulado próximo ao Canal; c) engendrar
formas de esclarecer e conscientizar a população residente na região e visitantes, da importância que o
Canal de Santa Cruz representa para a subsistência dos pescadores e tentar promover melhor interação
entre a exploração turística da região e a atividade pesqueira realizada; d) efetuar campanhas que
busquem a conscientização, envolvendo a população local na solução dos problemas existentes e, em
parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco, a Prefeitura de Itapissuma e demais órgãos
e entidades interessadas na proposta, da importância da preservação da flora e fauna da região e do
planejamento adequado como forma de promover o desenvolvimento sustentável da localidade.
REFERÊNCIAS
BARROS, H.M. e ESKENAZI-LEÇA, E. Introdução. In: LEÇA, E.; MACÊDO, J.; LIMA, T.; (Ed)
Gerenciamento Participativo de Estuários e Manguezais. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2000. p.
7-25
LEÇA, E.; MACÊDO, J.; LIMA, T.; (Ed) Gerenciamento Participativo de Estuários e Manguezais.
Recife, Ed. Universitária da UFPE, 2000. p. 7-25.
LIMA, T. e QUINAMO, T. Características sócio-econômicas. In: BARRO, H. M.; ESKENAZI-LEÇA,
E.; MACÊDO, J.; LIMA, T.; (Ed) Gerenciamento Participativo de Estuários e Manguezais. Recife.
Ed. Universitária da UFPE, 2000. p. 181-224.
LINO, M.A.S. Estudo Biológico-Pesqueiro da Manjuba Opisthonema oglinum (Lesueur, 1818) da
Região de Itapissuma, Pernambuco. Dissertação (Mestrado em Recursos Pesqueiros e Aqüicultura) –
Departamento de Pesca e Aqüicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco, [2003]. f. 24-26.
MORAES, A.L. Pesca predatória na área estuarina do Canal de Santa Cruz, Itapissuma-PE.
Monografia (Pós-Graduação em Geografia) Fundação de Ensino Superior de Olinda/ UNESF, [1998].
OGAWA, M. e MAIA, E. L. Manual de Pesca Ciência e Tecnologia do Pescado. São Paulo. v. 1,
1999. p. 293-294.D
55
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
MUSEO DEL HOMBRE DEL PUERTO (MAR DEL PLATA, ARGENTINA)
Héctor BECERINI, Director del Museo del Hombre del Puerto, Mar del Plata, Argentina
INTRODUCCIÓN
El Museo del Hombre del Puerto, inaugurado en noviembre de 1990. Posee una importante
colección de fotos, documentos, bibliografía y objetos que hacen a la vida y costumbres de los primeros
pobladores de la zona. En una sala dedicada al célebre pintor Cleto Ciocchini se exponen sus más
renombradas obras, en las que supo plasmar los paisajes, actividades e idiosincrasia de los pescadores.
El proyecto de crear un museo en el barrio portuario de la ciudad de Mar del Plata, fue concebido
tiempo atrás con los integrantes de la Asociación de Fomento del Puerto, siendo uno de sus principales
precursores Don Aldo Marcone Benvenuto.
Con este objetivo se fueron convocando a integrantes de viejas familias radicadas en la zona, así
se consiguió rescatar antiguas fotografías y material que hace a la historia primigenia del lugar.
Finalmente tras muchos esfuerzos, la obra de la Asociación de Fomento del Puerto, se concreta en
el Museo que es inaugurado el 22 de noviembre de 1990 en el edificio de calle Padre Dutto 383. Hacia
el año 2002 el Museo se traslada a su actual sede en el Centro Comercial Puerto local 8.
EL MUSEO
Cuenta con un amplio frente de acceso, allí encontraremos sobre su fachada elementos que
pertenecieron a la lancha pesquera, “Fratelli Uniti”, y una placa de bronce sobre mármol con la efigie
del pintor Cleto Ciocchini, donada por su hijo Federico Ciocchini Solá.
En su interior, el Museo ofrece una serie de salas en donde se tratara de introducir al visitante en
una dimensión diferente, la cual le permite vivir sensaciones que solo el Puerto puede ofrecer.
La primer sala funciona como centro de interpretación de la temática general del museo, allí nos
encontraremos con la temática de la Inmigración, pasaportes, decretos y leyes, objetos y un baúl de la
familia Penisssi en el que trajeron sus pertenencias. Tambien nos encontraremos con el origen de Mar
del Plata, el saladero, los proyectos de puertos, el origen de la pesca y la aparición del turismo.
La segunda sala esta dedicada a la construcción del puerto a cargo de la “Societe Nationale de
Travaux Publics”, con documentos y fotografías y en otro sector de la misma se exhibe mobiliario
original de la empresa.
En otra sala encontraremos a las familias de los primeros pobladores del Puerto, la llegada de los
pescadores, sus actividades y sus tradiciones, objetos típicos, la historia del barrio del Puerto.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Existe otra sala dedicada al pintor Cleto Ciocchini, con obras como el óleo “Quico” que recuerda
a un típico y conocido pescador marplatense, mientras otro muestra a la Parroquia Sagrada Familia,
primera iglesia del Puerto y punto de partida de las procesiones. Junto a ésta, el caballete, porta
estudios de Ciocchini y otras obras.
Dentro de la misma sala, se puede observar la historia de los astilleros, los hombres que se
dedicaron a la construcción y reparación de embarcaciones, junto a las artes de pesca y construcción de
redes.
En otra parte se exhiben paneles en donde están representadas todas las colectividades del Puerto
de Mar del Plata, con sus Santos patronos, estando el Museo bajo la protección del “Divino san
Salvador”.
Finalmente las salas de exposición de pintura y escultura, con exposiciones temporarias y de
colección del museo y la sala de proyecciones audiovisuales y conferencias en donde se exhiben videos
con la temática del museo.
ACTIVIDADES
La principal motivación del Museo es rescatar el acervo cultural e histórico del puerto, ya que
constituye un nucleamiento humano con valores artísticos, pautas de vida, artesanías y tradiciones que
se han mantenido como testimonio histórico, con su carácter singular, propio y autentico. Su función es
preservar para las futuras generaciones, los nombres y hechos históricos y anécdotas que se vinculan al
origen del primer asentamiento en el lugar, y como su crecimiento y desarrollo constituyo la actual
comunidad portuense.
El Museo ha establecido vínculos con los viejos pobladores a fin de obtener material y reconstruir
la historia del Puerto.
EL ECO-MUSEO
Se trata de revalorizar los sitios de interés de la zona, sus edificios históricos y patrimoniales, sus
monumentos y viviendas típicas mediante placas de referencia, así como de la realización itineraria de
circuitos turísticos culturales guiados por profesionales especializados a través del área de su
influencia, con la distribución de folletos explicativos.
SERVICIO EDUCATIVO
Comprende la atención del público en general, como a establecimientos educativos de distintos
niveles y universitarios, mediante visitas guiadas, proyección de videos, cursos y conferencias referidas
a temas artísticos culturales.
57
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
El Museo cuenta con un servicio de extensión a la comunidad e institución que lo solicite.
ARCHIVO DEL INMIGRANTE
Se creo con el fin de almacenar datos obtenidos a través de entrevistas personales, con voces de
los protagonistas relatando anécdotas familiares, narrando las peripecias y angustias de la inmigración,
los comienzos en el arraigo y el destino que les deparo nuestra tierra, todo ilustrado y documentado con
fotografías aportadas por la misma comunidad.
Se constituye así no solo en la herramienta para hilar esta historia, sino fundamentalmente como
banco de datos computarizado, a disposición del público, para ubicar a sus orígenes y conocer a sus
antecesores.
En este momento el Museo se ha hermanado con el de “San Benedeto del Tronto”, Italia,
ampliando así nuestros datos e intercambiando información y exposiciones artísticas.
El museo tiene el seguinte cuerpo técnico:
Director - Hector Becerini; Servicio Técnico y Educativo - Arq. Osvaldo Destandau;
Investigación Histórica - Prof. Jose Mateo; Secretaria: Patricia Macchia
Sigue abajo algunas fotos del Museo
AGRADECIMIENTOS*
Queremos hacer expreso nuestro inmenso agradecimiento a Pasqualino Marchese cuya
colaboración tornó posible la publicación de este artículo.
* Agradecimientos del editor.D
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FOTOS DEL MUSEO DEL HOMBRE DEL PUERTO
D
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A PESCA OCEÂNICA NO BRASIL NO SÉCULO 21
Fábio Hissa Vieira HAZIN ([email protected]); Paulo Eurico TRAVASSOS ([email protected])
Departamento de Pesca e Aqüicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco
RESUMO
As capturas de atuns e espécies afins no Oceano Atlântico, incluindo as albacoras (laje, branca e
bandolim), o bonito listrado, o espadarte (meka), os agulhões (branco, negro, vela e verde), diversas
espécies de tubarão (principalmente o tubarão-azul), além de outros peixes como a cavala, o dourado e
o peixe-prego, têm, nos últimos anos, oscilado em torno das 500.000 t. Em 2004, a frota atuneira
nacional, composta por embarcações brasileiras e estrangeiras arrendadas, capturou 44.640 t, ou o
equivalente a cerca de 9% do total capturado no Atlântico. Em 2005, este montante subiu para 48.900t,
representando um incremento próximo a 10%. Do ponto de vista do resultado econômico, entretanto,
uma vez que aproximadamente a metade da produção nacional é constituída por bonito-listrado, uma
das espécies de atum mais costeiras e de menor valor comercial, a participação brasileira no rendimento
proporcionado por esta pesca, em torno de US$ 4 bilhões/ano, certamente se situou bem abaixo dos
5%. Considerando-se a proximidade estratégica do País em relação às rotas migratórias dos principais
estoques de atuns e afins no Atlântico Sul, além da grande extensão de sua costa, com cerca de 8.500
km, fica claro que a posição atualmente ocupada pelo país no cenário da pesca oceânica no Atlântico
não se justifica. Neste contexto, o presente trabalho apresenta uma breve descrição da evolução e atual
situação da pesca de atuns e afins no país, abordando os principais aspectos estratégicos que devem ser
considerados para promover o desenvolvimento sustentável desta atividade no Brasil.
PALAVRAS-CHAVES: Pesca oceânica, atuns e afins, captura, desenvolvimento sustentável.
STATUS DA PESCA NO BRASIL
No ano de 2004, no Oceano Atlântico, excluindo-se o Mar mediterrâneo, foram capturadas
cerca de 500.000 t de atuns e espécies afins, incluindo as albacoras (azul laje, branca e bandolim), o
bonito-listrado, o espadarte (meka), os agulhões (branco, negro, vela e verde), e diversas espécies de
tubarão (principalmente o tubarão azul), além de outros peixes como a cavala, o dourado, o
peixe-prego, entre muitos outros. No mesmo ano, as embarcações sob jurisdição nacional, brasileiras e
arrendadas, capturaram 44.640 t, ou o equivalente a cerca de 9% do total capturado no Atlântico. Em
2005, este montante subiu para 48.900 t, representando um incremento próximo a 10%. Do ponto de
vista do resultado econômico, entretanto, uma vez que aproximadamente a metade da produção
60
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
nacional é constituída por bonito-listrado, uma das espécies de atum mais costeiras e de menor valor
comercial, a participação brasileira no rendimento proporcionado por esta pesca, em torno de US$ 4
bilhões/ ano, certamente se situou bem abaixo dos 5%. Considerando-se a proximidade estratégica do
País em relação às rotas migratórias dos principais estoques de atuns e afins no Atlântico Sul, além da
grande extensão de sua costa, com cerca de 8.500 km, fica claro que a posição atualmente ocupada pelo
país no cenário da pesca oceânica no Atlântico não se justifica. Enquanto embarcações operando a
partir de portos brasileiros alcançam as áreas de ocorrência dos cardumes com poucas horas de
navegação, as frotas de países com grande tradição pesqueira, como o Japão, Taiwan, Coréia, Espanha,
Portugal, entre outros, são obrigados, em alguns casos, a viajar mais de 20.000 km para atingir as
mesmas áreas de pesca. Entretanto, apesar de tal condição conferir ao país uma grande vantagem
comparativa, a pesca oceânica nacional apresentou uma tendência declinante, nos quatro primeiros
Produção em peso vivo (t)
anos do presente século (2000-2004), com uma leve recuperação somente no ano passado (Figura 1).
60000
60
50000
50
40000
40
30000
30
20000
20
10000
10
0
0
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Total
Bonito Listrado
Outros Atuns e Afins
% Bonito Listrado
Figura 1- Evolução das capturas nacionais de atuns e afins e do bonito listrado,
incluindo a sua participação relativa no total capturado.
É importante destacar que as quatro principais espécies capturadas pelas embarcações nacionais,
depois do bonito listrado, as albacoras laje, branca e bandolim, além do espadarte, vêm sendo
capturadas em níveis próximos, porém abaixo do rendimento máximo sustentável (Figura 2), indicando
61
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
160000
Produção em peso vivo (t)
140000
120000
100000
80000
60000
40000
20000
0
Albacora Laje
RMS
Albacora
Branca
Captura Total
Albacora
Bandolim
Espadarte
Captura Nacional
Figura 2 - Rendimento Máximo Sustentável (RMS), captura total no Oceano Atlântico e
captura nacional de albacoras e do espadarte.
que os seus estoques estão sendo adequadamente manejados pela ICCAT- Comissão Internacional para
a Conservação do Atum Atlântico (International Commission for the Conservation of Atlantic Tunas).
Na mesma figura, contudo, pode-se observar claramente a ainda reduzida participação brasileira.
PERSPECTIVAS PARA O SÉCULO 21
Com o esgotamento dos recursos pesqueiros costeiros, a principal alternativa para o
desenvolvimento do setor pesqueiro nacional, excetuando-se a aqüicultura, reside na pesca oceânica,
voltada para a captura de atuns e peixes afins (espadarte, agulhões e tubarões), os quais apresentam
uma série de vantagens comparativas, em relação aos recursos costeiros, entre as quais pode-se
destacar: a) grande proximidade das principais áreas de pesca, no caso do Brasil; b) algumas espécies
capturadas, como as albacoras, apresentam um alto valor comercial para exportação, constituindo-se
em uma importante fonte de divisas para o País; c) outras espécies, também presentes nas capturas,
como os tubarões, apresentam preço relativamente baixo, apesar do seu alto valor nutritivo,
representando uma importante fonte de proteínas para a população de baixa renda; d) ciclo de vida
independente dos ecossistemas costeiros, já intensamente degradados; e) ampla distribuição; e f)
biomassa elevada. Uma vantagem adicional é que, desde que adequadamente planejado, o
desenvolvimento da pesca oceânica nacional poderia resultar em uma redução do esforço de pesca
sobre os estoques costeiros, já sobre-explotados.
62
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Vários são os entraves, porém, para o desenvolvimento da pesca oceânica nacional, com destaque
para a falta de mão-de-obra especializada, de tecnologia e de embarcações adequadas, as quais, devido
ao seu elevado custo, encontram-se comumente muito além da capacidade de investimento das
empresas de pesca brasileiras. Para que o País consiga, portanto, ampliar a sua participação na pesca
oceânica, precisará ampliar quotas de captura, consolidar uma frota pesqueira oceânica nacional,
formar mão-de-obra especializada e gerar conhecimento científico e tecnológico sobre as espécies
explotadas.
Como os estoques pesqueiros oceânicos já estão sendo pescados em níveis próximos do limite
sustentável, a ampliação da produção brasileira dependerá diretamente da sua capacidade de
negociação com os países pesqueiros tradicionais, no âmbito da ICCAT- Comissão Internacional para a
Conservação do Atum Atlântico, assim como na FAO, no seu Comitê de Pesca, na OMC e na própria
ONU. Ocorre que os atuns e afins são espécies altamente migratórias com suas populações
distribuindo-se por todo o Oceano Atlântico ou hemisfério oceânico. A albacora-bandolim capturada
por barcos nacionais, por exemplo, pertence à mesma população explorada pelos barcos norteamericanos na costa do Maine, ou pelos barcos espanhóis na Baía de Biscay, uma vez que há uma
única população em todo o Atlântico. Já a albacora-branca que o Brasil captura no nordeste brasileiro
faz parte do mesmo estoque explorado pelos sul-africanos, na costa africana. Ou seja, são todos
estoques internacionais, explotados simultaneamente por vários países.
Não existe, assim, atum brasileiro. O atum brasileiro é somente aquele pescado por barcos
nacionais ou estrangeiros arrendados a empresas brasileiras e desembarcado nos portos do País. É
exatamente em função disto, por serem recursos internacionais e altamente migratórios, que o seu
ordenamento tem que ser realizado por um organismo internacional, no caso a Comissão Internacional
para a Conservação do Atum Atlântico-ICCAT, da qual o país é membro desde a sua fundação, no Rio
de Janeiro, em 1966.
PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NO ICCAT
A ICCAT possui um corpo científico, denominado de Comitê Permanente de Pesquisa e
Estatística (SCRS- Standing Committee on Research and Statistics), integrado por pesquisadores dos
vários países membros, e uma Comissão política. De uma maneira simplificada, a ICCAT funciona da
seguinte forma: todos os anos o SCRS se reúne e define os limites sustentáveis de captura das diversas
espécies explotadas. Subseqüentemente, a Comissão decide como a captura máxima permitida (TACTotal Allowable Catch) será repartida entre os vários países membros. Um ponto fundamental, neste
contexto, é que a grande maioria, se não a totalidade, das espécies de atuns e afins já estão sendo
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
capturadas em níveis próximos de suas capacidades máximas sustentáveis, ou seja, não há,
concretamente, como se ampliar a captura de atuns no Oceano Atlântico sem comprometer a
sustentabilidade dos estoques. Neste sentido, a posição do governo brasileiro tem sido sempre a de
defender o respeito estrito aos limites máximos sustentáveis de captura, com a mesma ênfase com que
tem defendido o direito do País de desenvolver a sua pesca oceânica. Ou seja, o tamanho da torta de
atum do Atlântico deve ser respeitado, mas o tamanho da fatia brasileira tem que aumentar.
Assim sendo, é evidente que o crescimento da produção nacional de atuns e afins implicará
necessariamente a redução das capturas por parte dos países pesqueiros tradicionais, como Espanha,
Japão, Taiwan, etc. Considerando-se que esta atividade no Oceano Atlântico envolve valores da
magnitude de US$ 4 bilhões, conforme dito acima, é fácil compreender a forma agressiva com que os
países pesqueiros tradicionais têm defendido a sua hegemonia histórica nesta atividade. É óbvio,
também, que o atum que o Brasil não pescar, será pescado por outras nações.
É preciso, também, contextualizar o momento político atravessado pela ICCAT hoje. Pois com a
entrada em vigor da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, em novembro de 1994, e
do Acordo das Nações Unidas sobre as Espécies de Peixes Transzonais e Altamente Migratórias, em
Dezembro de 2001, se estabeleceu um arcabouço jurídico com base no qual os países pesqueiros em
desenvolvimento conquistaram condições favoráveis para ampliar as suas quotas de captura, a partir do
pleno reconhecimento do seu direito de desenvolver a sua pesca oceânica.
Foi com base nesses e em outros instrumentos jurídicos internacionais, como o Código de
Conduta para uma Pesca Responsável, da FAO (Organização para Alimentação e Agricultura das
Nações Unidas), com os seus Planos Internacionais de Ação correlatos, que o Brasil conseguiu aprovar
na ICCAT, em novembro de 1998, um Grupo de Trabalho para a Definição de Novos Critérios para
Alocação de Quotas de Captura. Finalmente, em 2001, após quatro reuniões, marcadas por negociações
duríssimas, a ICCAT terminou por aprovar uma lista de 27 novos critérios, em substituição ao critério
de capturas históricas, até então utilizado de forma quase que exclusiva pela Comissão, na distribuição
de quotas de captura. Entre os novos critérios aprovados, incluem-se, por exemplo, a ocorrência do
estoque na Zona Econômica Exclusiva do país, a necessidade de se privilegiar a pesca artesanal e de
pequena escala, a importância do estoque para as comunidades costeiras, entre outros.
A vitória dos países em desenvolvimento foi resultado de sua sólida argumentação jurídica,
fundamentada nos instrumentos citados. Segundo o critério de capturas históricas, as quotas eram
tradicionalmente divididas em função dos montantes capturados pelo País nos últimos anos, ou seja, os
países desenvolvidos com pescarias tradicionais perpetuavam a sua hegemonia, enquanto os países em
desenvolvimento eram tolhidos nos seus direitos legítimos de desenvolverem a pesca oceânica. Assim
64
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
foi que, em uma reunião realizada na Paraíba, em Julho de 1997, ao Brasil coube apenas 16% (2.340 t)
da quota do espadarte do Atlântico Sul, para o período de 1998 a 2000, cabendo à Espanha e ao Japão
(países sem costa no Atlântico Sul), respectivamente, 40% e 26%.
Nas reuniões da ICCAT em 2000 e 2001, grande parte em função de um endurecimento da
posição brasileira, não foi possível se alcançar um consenso para distribuição das quotas de espadarte
no Atlântico Sul. Finalmente, na reunião da ICCAT realizada em Bilbao, em 2002, com base nos novos
critérios de captura, a delegação brasileira conseguiu aumentar a quota para o País no Atlântico Sul, de
2.340 t, para 4.086 t, em 2003, crescendo deste ano em diante até atingir 4.365 t (ou 27,2% do total),
em 2006. Além disto, conquistou, também, pela primeira vez, o direito de pescar até 200 t no Atlântico
Norte, além de haver sido perdoado da penalidade de 1.500 t que deveria descontar em função do seu
excesso de captura em 1998.
Em função dessas conquistas, imediatamente após a reunião da ICCAT, o Governo da Espanha,
em retaliação, proibiu a continuidade das operações dos barcos espanhóis arrendados a empresas
brasileiras. O despacho do Secretário Geral de Pesca Marítima do Ministério de Agricultura, Pesca e
Alimentação da Espanha, datado de 05/12/01, no qual baixa a referida ordem, é bastante esclarecedor
acerca de como as autoridades daquele país compreendem a gestão dos recursos atuneiros do Atlântico:
“As razões para impedi-lo (o arrendamento) são sólidas e se fundamentam na melhor defesa do
patrimônio espanhol gerado pelos direitos históricos na pesca de espadarte e outras espécies reguladas
pela ICCAT”.
Vale ressaltar que até o ano de 1987 a Espanha não possuía qualquer captura no Atlântico Sul.
Naquele ano, em decorrência da aplicação de medidas de limitação das capturas no Atlântico Norte, a
Espanha deslocou boa parte da sua frota para o Atlântico Sul com o objetivo óbvio de construir um
histórico de captura, que assegurasse a sua hegemonia quando de uma futura alocação de quotas, como
de fato aconteceu.
A captura espanhola de espadarte no Atlântico Sul, inexistente em 1987, alcançou já no ano
seguinte, 1988, 4.400 t, saltando para 9.622 t, em 1996, ano anterior ao da reunião da Paraíba, 1997,
quando as quotas de captura para os anos de 1998 a 2000 foram estabelecidas.
A produção nacional de atuns e afins cresceu de pouco mais de 20.000 t, em 1995, para mais de
50.000 t, em 2000, em decorrência, principalmente, da ampliação dos arrendamentos promovidos pelo
DPA/ MAPA (Departamento de Pesca e Aqüicultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento). Excetuando-se o bonito listrado, atingiu um máximo em 2002, igual a 32.200 t,
declinando, contudo, em 2004, para 21.600 t, uma retração da ordem de 30% (Figura 1). Esse declínio
resultou, principalmente, de uma redução da frota espanhola, em retaliação à ampliação da quota
65
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
brasileira, em 2002, e da frota chinesa, em função de dificuldades para o adequado cumprimento da
legislação nacional. Cabe destacar, em relação a este aspecto, o importante avanço no controle das
atividades dos barcos arrendados, advindo da obrigatoriedade da presença de observadores de bordo em
100% da frota arrendada, instituída pela SEAP/ PR, a partir de 2004.
Como conseqüência da saída dos barcos espanhóis, em 2002, a produção brasileira de espadarte
decresceu de um patamar acima de 4.000 t, em que vinha se mantendo desde 1997, para 2.900 t, em
2002. A captura da albacora-branca, principal alvo da frota chinesa, declinou, com a saída da mesma,
de quase 7.000 t, em 2001, para 3.200 t, em 2002, atingindo um mínimo de 522 t, em 2004 (Figura 3).
8000
Produção em peso vivo (t)
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
2000
2001
2002
2003
Albacora Laje
Albacora Bandolim
Espadarte
Tubarões
2004
2005
Albacora Branca
Figura 3 - Evolução da produção nacional das albacoras-laje, branca e bandolim,
espadarte, e tubarões, entre 2000 e 2005.
Tal situação, obviamente, expõe a grande vulnerabilidade do País, em função de sua alta
dependência da frota estrangeira. Apesar disso, ocorre relativa estabilidade na produção oriunda de
barcos nacionais, em torno de 2.000 t (Figura 4).
Uma grande dificuldade enfrentada pelo País no processo de negociação foi, e continua sendo, o
fato dos principais adversários brasileiros serem também os nossos principais mercados (Espanha,
EUA, Japão). Assim, o Brasil tem disputado com estes países o direito de pescar mais, em grande parte
como o País pode ser atingido por medidas dessa natureza, pode ser encontrado nas recentes
exigências da Comunidade Européia (CE), relativas à necessidade de equivalência das normas
sanitárias, em função da qual o Brasil foi obrigado a preparar e implementar um Plano Nacional de
66
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Figura 4 - Evolução da produção brasileira de espadarte, entre 1999 e 2004, oriunda de
embarcações nacionais e arrendadas (números, em azul, no interior da figura, indicam os
limites correspondentes às quotas conquistadas pelo País, em 2002). Fonte: SEAP/ PR.
Controle de Resíduos, o qual, inclui, no caso dos atuns e afins, a necessidade de se realizar exames de
histamina, entre outros, através de Cromatografia Líquida de Alta Performance. Mesmo
desconsiderando-se os empecilhos de ordem logística decorrentes de tal medida, a mesma,
evidentemente, implicará um importante aumento dos custos de produção, diminuindo, por conseguinte,
a competitividade da indústria nacional. Quando não são barreiras tarifárias, são barreiras técnicas, ou
mesmo artifícios legais, como a ação alegadamente “anti-dumping” impetrada pelo governo
estadunidense contra o camarão brasileiro, sem qualquer fundamento, se não o de preservar os interesses
dos pescadores de camarão da Lousiana e demais estados do Golfo do México, infligindo pesados
prejuízos à carcinicultura nacional.
Uma outra disputa recorrente com a CE tem sido a utilização do documento estatístico de
acompanhamento da exportação de atuns e afins, como forma de criar dificuldades burocráticas à
entrada do pescado brasileiro, incluindo exigências, como a identificação pessoal, com nome e
assinatura, dos responsáveis técnicos no Brasil pela validação do referido documento, quando a
recomendação aprovada pela ICCAT não estabelece tal necessidade. Nesse contexto, o Brasil tem se
contraposto, também, veementemente, à pretensão comunitária de utilizar o documento estatístico
como forma de unilateralmente controlar as quotas dos países exportadores.
Um outro argumento recorrente tem sido o de que um país não deve receber quotas de captura
se não tem a capacidade de utilizá-las de forma plena. Neste contexto, uma outra batalha dificílima,
67
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
finalmente vencida também na reunião da ICCAT, em Bilbao, em 2002, foi o reconhecimento formal
por parte da Comissão, refletido na Recomendação 02/21 (Art. 5), de que as capturas realizadas pelos
barcos arrendados pertencem ao país arrendatário (Brasil). Note-se que esta batalha vem sendo travada
também em outros fóruns internacionais, particularmente no Comitê de Regras de Origem, da
Organização Mundial do Comércio (OMC), onde a CE tem tentado, insistentemente, reverter a vitória
alcançada pelo Brasil na ICCAT, sobre a questão. Neste contexto, igualmente, o crescimento de quase
800 t, ou cerca de 30%, na produção nacional de espadarte em 2004, foi crucial no sentido de assegurar
a manutenção das quotas de captura conquistadas na rodada de Bilbao, em 2002.
Pulverizar a agenda internacional da pesca em diversos fóruns tem sido uma das estratégias dos
países pesqueiros tradicionais para preservar a sua hegemonia, apostando na tradicional dificuldade dos
países em desenvolvimento de acompanhar os desdobramentos internacionais, em decorrência de suas
tradicionais deficiências de coordenação interna. Assim sendo, um outro tema de grande relevância
para o setor pesqueiro nacional, também tratado no âmbito da OMC, é a questão da utilização de
subsídios à pesca.
Neste sentido, o Brasil apresentou uma proposta, fundamentada na necessidade de um tratamento
especial e diferenciado para os países em desenvolvimento (TN/RL/GEN/79)1, na qual busca assegurar
o direito desses países de utilizarem subsídios para o legítimo desenvolvimento de sua pesca oceânica,
a exemplo do que pesadamente o fizeram os países pesqueiros tradicionais, impedindo, ao mesmo
tempo, o uso abusivo de subsídios por parte das nações desenvolvidas, que continuam a subsidiar as
suas frotas pesqueiras.
Apenas para citar um exemplo, em meados de junho último, a União Européia decidiu criar um
novo fundo de apoio ao setor pesqueiro, no valor de 4,8 bilhões de dólares, com o objetivo exclusivo de
subsidiar os pescadores europeus de 2007 a 2013. Além de ser travado em várias frentes, o embate
pelos recursos atuneiros do Oceano Atlântico reverbera entre os diversos fóruns, de forma que
conquistas diplomáticas e políticas em uma determinada área, muitas vezes motiva iniciativas e
retaliações em outras áreas, aparentemente totalmente desvinculadas da questão.
Recentemente, a Espanha, assim como o Japão em outros momentos, de forma recorrente, tem
desenvolvido gestões bastante incisivas, não apenas junto ao governo federal, mas diretamente também
aos governos estaduais, no sentido de viabilizar a criação de “portos internacionais”, na costa brasileira,
a partir de financiamentos evidentemente assegurados pelos mesmos. Tais portos, se criados, claro,
reduziriam significativamente os custos operacionais de suas frotas no Atlântico Sul, particularmente
1
http://www.trade-environment.org/page/theme/tewto/para28.htm
68
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
quando da explotação dos estoques que apresentam uma maior proximidade da costa brasileira. Uma
das poucas, se não a única, vantagem comparativa que o Brasil ainda possui ao competir com as frotas
oceânicas de longa distância no Atlântico Sul é exatamente a proximidade dos seus portos das áreas de
pesca.
Neste contexto, registre-se que as embarcações nacionais são obrigadas a competir pelos recursos
pelágicos deste oceano, com as frotas estrangeiras, particularmente a espanhola e japonesa,
pesadamente subsidiadas e que operam com um custo financeiro que representa uma pequena fração da
realidade brasileira, com tecnologia mais sofisticada e mão-de-obra infinitamente melhor qualificada.
Não é um desafio de pouca monta. Se diante de tal contexto o Brasil decidir franquear a utilização dos
seus portos pela frota internacional estará, evidentemente, anulando a principal vantagem comparativa
que possui o que invariavelmente resultará no aniquilamento de qualquer pretensão brasileira de
desenvolver a sua pesca oceânica. O que claramente se coloca, portanto, é qual futuro o Brasil prefere.
Conceder às frotas internacionais o livre acesso aos portos brasileiros, e ficar literalmente a ver os
navios estrangeiros pescando em seu quintal, ou enfrentar o desafio de desenvolver a sua pesca
oceânica. Cabe destacar, ainda, que tal desenvolvimento não diz respeito apenas à produção de
pescado, nem à geração das divisas, empregos e renda dela resultantes, ele implica também a efetiva
ocupação, não apenas da Zona Econômica Exclusiva, mas das águas internacionais do Atlântico Sul,
essencial à efetiva realização geopolítica do País. A decisão do Estado brasileiro foi, e não poderia ser
outra, pelo desenvolvimento do setor pesqueiro nacional. Diante de tal estratégia, a cessão dos portos
nacionais às frotas estrangeiras é claramente incompatível e de todo indesejável.
QUESTÕES COMERCIAIS
Além dos desafios apresentados pelas negociações internacionais, há, ainda, outras grandes
dificuldades conjunturais que vêm diminuindo sobremaneira a capacidade competitiva da pesca
oceânica nacional, entre as quais destacam-se: a defasagem cambial, o preço do petróleo e o preço de
comercialização dos atuns e afins, no mercado internacional. O valor do real frente ao dólar atingiu em
2006 níveis próximos à metade do que se verificou no início da década reduzindo, portanto,
substancialmente a margem de lucro do pescado exportado (Figura 5).
69
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
4,50
Taxa de Câmbio (R$ x US$)
4,00
3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
03/05/06
03/01/06
03/09/05
03/05/05
03/01/05
03/09/04
03/05/04
03/01/04
03/09/03
03/05/03
03/01/03
03/09/02
03/05/02
03/01/02
03/09/01
03/05/01
03/01/01
03/09/00
03/05/00
03/01/00
0,00
01/01/2000 a 30/06/2006
Figura 5- Variação da taxa de câmbio R$ x US$, entre janeiro de 2000 e junho de 2006.
Por outro lado, em função de um aumento de quase sete vezes no preço do petróleo no mesmo período
(Figura 6), o custo do diesel, um dos principais insumos da atividade pesqueira, particularmente no
caso da pesca oceânica, em função das grandes distâncias que as embarcações são obrigadas a
percorrer, e do frete, especialmente o aéreo, do qual depende toda a exportação do pescado fresco,
subiram fortemente, aumentando simultaneamente o custo de operação e de exportação do produto
capturado.
Figura 6- Variação do preço do petróleo e da gasolina, entre 1997 e 2006.
70
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Os preços de venda, por outro lado, tomando-se como exemplo o espadarte fresco no mercado norte
americano, caíram cerca de 40%, em relação aos valores vigentes na década de 90, particularmente
após o 11 de setembro de 2001, atingindo em 2002 o seu menor valor (US$ 3,50/lb, contra US$ 6,5/lb,
em 1996) (Figura 7). Tais dificuldades têm erodido a lucratividade da atividade, obstando, na mesma
proporção, a consolidação de uma frota genuinamente nacional, particularmente em função da atual
condição de descapitalização do setor pesqueiro nacional.
7
6
US$/ lb
5
4
3
2
1
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
0
Figura 7- Variação do preço do espadarte fresco (meka) no mercado norte-americano (New
York’s Fulton Market), entre 1991 e 2004 (Fonte: U.S Department of Commerce).
A FROTA PESQUEIRA
Para formar e consolidar uma frota pesqueira, o Brasil dispõe basicamente de três diferentes
instrumentos: o arrendamento, a importação, e a construção de barcos em estaleiros nacionais. São
instrumentos complementares, com diferentes alcances, finalidades e tempos de resposta. Se por um
lado, o arrendamento pode ser extremamente útil na construção de um histórico de captura, de forma a
assegurar o cumprimento de quotas politicamente conquistadas, por outro, torna o País extremamente
vulnerável a eventuais retaliações dos países de bandeira das embarcações arrendadas, particularmente
quando os mesmos são também importantes mercados para o pescado brasileiro, como o da Espanha.
Diante de tal circunstância, a suspensão dos arrendamentos pela SEAP foi uma medida acertada,
principalmente no intuito de gerar um fator motivador para a importação e construção de novos
atuneiros pelas empresas arrendatárias, através do PROFROTA Pesqueira2. Entretanto, o instrumento
do arrendamento não deve ser definitivamente abandonado, tendo em vista a sua grande importância
2
Programa Nacional de Financiamento da Ampliação e Modernização da Frota Pesqueira Nacional.
71
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
para assimilação de novas tecnologias, treinamento da mão de obra nacional e formação de um
histórico de captura. A presente suspensão, portanto, deve ser flexibilizada, caso o monitoramento das
capturas nacionais, particularmente no caso do espadarte, aponte dificuldades para a consecução das
quotas atribuídas ao País, ou no caso da necessidade de assimilação de novas tecnologias de captura,
voltadas para espécies pouco explotadas pelo País.
Em relação ao arrendamento de embarcações pesqueiras, uma outra medida urgente, e já bastante
atrasada, é a necessidade de se viabilizar legalmente o arrendamento de embarcações a casco nu, com
suspensão de bandeira, uma vez que sob tal enquadramento jurídico, a mesma passa a ser, para todos os
efeitos da legislação nacional e internacional, uma embarcação brasileira. De qualquer modo, o
arrendamento de barcos pesqueiros deve ser entendido sempre como um instrumento provisório, a ser
utilizado estrategicamente, em circunstâncias emergenciais.
Em relação à importação de embarcações pesqueiras, por outro lado, tem prevalecido no País a
lógica perversa de que tal instrumento deve ser evitado, ou pelo menos limitado, em função de que a
construção de barcos em estaleiros nacionais seria muito mais vantajosa para o Brasil. O argumento
seria verdadeiro se não houvesse uma grande oferta de barcos usados no mercado internacional, a um
custo que representa uma fração do custo de construção, com a grande vantagem de já estarem prontos
e equipados, sendo, portanto, capazes de dar uma resposta em termos de ampliação da capacidade
pesqueira nacional muito mais rápida do que o moroso processo de construção de um barco de pesca,
com todos os desafios tecnológicos implicados. Assim, com a intenção de se favorecer a indústria
naval, perversamente sacrifica-se o setor pesqueiro nacional, retardando ou mesmo, em certa medida,
impedindo o desenvolvimento da pesca oceânica no País. Além das embarcações pesqueiras
representarem uma parcela diminuta do mercado naval, em relação a outros setores como o de
transporte marítimo e de exploração de petróleo, esquece-se, também, que, uma vez nacionalizadas, tais
embarcações continuariam a demandar manutenções periódicas, gerando emprego e renda para os
estaleiros sediados no País.
A flexibilização da importação de embarcações atuneiras seria particularmente conveniente, no
caso das embarcações que já se encontram em operação no Brasil, através do arrendamento, uma vez
que a empresa arrendatária, além de já estar plenamente inserida na cadeia produtiva da pesca de atum,
estaria importando uma embarcação cujos aspectos técnicos e operacionais já seriam completamente
conhecidos e dominados. A importação poderia, inclusive, ser apresentada como uma alternativa à
continuação das atividades da embarcação no País, uma vez finalizado o período autorizado de
arrendamento.
72
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Por fim, cabe destacar a grande importância do PROFROTA como instrumento de consolidação
da pesca oceânica nacional, embora o seu alcance seja limitado pela morosidade na resposta no
aumento da produção, tendo em vista o longo tempo demandado para construção de um barco
pesqueiro, assim como pelos altos custos financeiros envolvidos, decorrentes da realidade nacional.
Infelizmente, mesmo subsidiados, os juros no Brasil implicam um custo financeiro muito maior que o
de outras frotas internacionais, grande parte das quais continuam a ser pesadamente subsidiadas.
Não adianta, porém, se dispor de embarcações de pesca bem equipadas se, ao mesmo tempo, não
houver disponibilidade de mão de obra qualificada para tripulá-las. Neste sentido, cabe destacar o
grande esforço de treinamento de mão-de-obra nacional desenvolvido pela SEAP/ PR, que, por meio do
Subcomitê Científico do Comitê Consultivo Permanente de Gestão de Atuns e Afins (SC-CPGAA), e
pela UFRPE, desde maio de 2005, já viabilizou a realização de 8 cursos de formação de pescadores
para a pesca oceânica, tendo sido 2 em Natal- RN, 2 em Cabedelo- PB, 2 em Recife- PE, e 2 em
Santos- SP, com 250 pescadores treinados. Além dos pescadores, também com o apoio da SEAP-PR, a
UFRPE já treinou 85 observadores de bordo, em 3 cursos realizados desde setembro de 2004,
capacitando os mesmos não apenas em relação aos diversos aspectos diretamente ligados a sua função
a bordo, mas a habilidades complementares necessárias ao bom desempenho do trabalho, incluindo o
conhecimento acerca da legislação nacional e internacional pertinente, a biologia das principais
espécies capturadas, o acompanhamento e descrição da metodologia de pesca empregada, assim como
o monitoramento dos descartes e capturas incidentais de espécies que não constituem o alvo da pesca,
como aves e tartarugas marinhas.
A consolidação do Brasil como um País importante na pesca oceânica do Atlântico Sul, porém,
só poderá se concretizar se todo o esforço de desenvolvimento pesqueiro for adequadamente calçado
pela condução de pesquisas que permitam, não apenas gerar as informações biológicas essenciais para
uma correta avaliação dos estoques explotados, aspecto crucial para a construção de medidas de
ordenamento que possam assegurar a sustentabilidade da atividade, mas também informações técnicas
que possam contribuir para aumentar a competitividade e a eficiência da frota nacional. Considerandose que a defesa de qualquer direito só se sustenta quando devidamente amparada pelo adequado
cumprimento dos deveres correlatos, pode-se igualmente afirmar que o desenvolvimento de pesquisas
científicas sobre os atuns e afins do Atlântico se configuram como um importante ativo no processo de
negociação necessário à sustentação das aspirações brasileiras de crescimento de sua participação na
pesca desses importantes recursos pesqueiros.
Novamente, o SC-CPGAA, com o apoio da SEAP- PR, tem envidado um grande esforço de
pesquisa, o qual, além de incluir a coleta sistemática e rotineira de dados de esforço de pesca, captura e
73
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
desembarques, tem envolvido o desenvolvimento de pesquisas pioneiras no País, entre as quais se
destacam os projetos: Agulhões do Atlântico - Estudo sobre a Biologia de Agulhões da Família
Istiophoridae capturados no Oceano Atlântico Sul; Tubarões Oceânicos do Brasil; ESCALAR- Estudo
do Comportamento da Albacora Laje no Arquipélago de São Pedro e São Paulo; e ECOBAN- Ecologia
da Albacora Bandolim no Atlântico Tropical.
O primeiro, já iniciado desde meados de 2005, a respeito dos agulhões, envolve, além do estudo
da biologia reprodutiva e do crescimento dos agulhões negro e branco, a utilização de marcas PSATPop-up Satellite Archival Tags3, para identificação do comportamento e uso do habitat pelos mesmos,
sendo esta a primeira vez no Brasil que este tipo de marcas é utilizada em peixes. O projeto, que é
desenvolvido em cooperação com pesquisadores norte-americanos da Universidade de Miami, do
Instituto de Ciências Marinhas da Virginia e do Centro de Ciência Pesqueira do Sudeste (NMFS/
NOAA4), envolve também uma pesquisa com anzóis circulares, cujos resultados preliminares apontam
para um significativo aumento do rendimento pesqueiro e do tempo de vida pós-captura das espécies
alvo da pesca, reduzindo, ao mesmo tempo, as capturas incidentais.
O projeto Tubarões Oceânicos do Brasil, cujo início deverá ocorrer já no próximo mês de
setembro, assemelha-se ao projeto dos agulhões, focando, contudo nas principais espécies de tubarão
capturadas na pesca atuneira (tubarão-azul, estrangeiro, mako, raposa, e cachorro, além da raia roxa
pelágica). Da mesma forma, também será conduzido em cooperação com pesquisadores norteamericanos da Universidade da Flórida, do Instituto de Ciências Marinhas da Virginia e do Centro de
Ciência Pesqueira do Sudeste (NMFS/ NOAA).
O Projeto ESCALAR, por sua vez, objetiva estudar o comportamento da albacora-laje, face à
variabilidade do ambiente oceanográfico, no entorno do Arquipélago de São Pedro e São Paulo,
principalmente em relação à distribuição vertical da temperatura da água, prevendo-se, para a
realização do mesmo, a utilização de telemetria acústica e marcas PSAT.
Já o ECOBAN pretende aprofundar os conhecimentos técnicos e científicos sobre a pesca e
biologia da albacora-bandolim, contribuindo para a exploração sustentável deste importante recurso
3
4
São marcas que, uma vez fixadas no peixe, passam a coletar dados a respeito da temperatura da água,
profundidade, e posição geográfica. Após um período de tempo pré-programado, normalmente entre 1 e 6
meses, as mesmas se liberam automaticamente, vindo até a superfície, a partir de onde passam a transmitir
todos os dados coletados durante o período em que permaneceu presa ao peixe, através do sistema de satélite
ARGOS, para uma base em terra.
NMFS- National Marine Fisheries Service/ NOAA- National Oceanic and Atmospheric Administration.
74
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
pesqueiro oceânico pela frota atuneira nacional, prevendo-se a realização de pesca experimental com
espinhel profundo, com a utilização de hook timers5 e minilogs6, além de marcas PSAT.
Cabe destacar, que uma grande dificuldade enfrentada no desenvolvimento das pesquisas aqui
descritas tem sido a falta de uma embarcação de pesquisa pesqueira no País, capaz de realizar a pesca
oceânica, de forma experimental, sendo urgente a superação de tal deficiência.
A aquisição de um barco de pesquisa, com este fim poderia, atender igualmente, outras iniciativas
de pesquisa marinha no Brasil, além do treinamento de alunos vocacionados para a pesca e pescadores
profissionais. É importante ressaltar, neste tocante, o fato de existirem hoje no País 15 Cursos de
Engenharia de Pesca, sem que nenhum deles possua uma embarcação capacitada a operar na área
oceânica, a quase totalidade dos quais, aliás, não possuem é embarcação nenhuma.
A embarcação aqui proposta poderia ser administrada por uma fundação, dotada da necessária
flexibilidade administrativa, a qual atenderia às diversas demandas de pesquisa e treinamento
apresentadas pelas Escolas Técnicas, Universidades e Institutos de Pesquisa no País.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, cabe destacar, também, que as aspirações brasileiras para o crescimento de sua pesca
oceânica não se sustentarão se o país não demonstrar a sua capacidade de implementar e fazer cumprir
as medidas de ordenamento e conservação adotadas pela ICCAT. Aspecto em relação ao qual ainda se
faz necessário um considerável progresso, particularmente em relação à fiscalização da atividade. Por
exemplo, nas capturas de agulhão-branco e negro, embora o descarte em alto mar seja obrigatório caso os exemplares capturados se encontrem ainda vivos no momento do embarque, além de sua
comercialização se encontrar proibida, por meio da Instrução Normativa no 12, de 14 de julho de 2005,
da SEAP- PR, não há praticamente qualquer controle do poder público sobre a efetiva implementação
de tais medidas. Em parte, como conseqüência deste fato, as capturas de ambas espécies em 2005
voltaram a crescer significativamente. Tal situação precisa ser revista e retificada com a máxima
urgência, para que o País possa, definitivamente, se credenciar a ser um dos mais importantes
pescadores do Oceano Atlântico.
Por outro lado o interesse de instituições científicas e empresas privadas, além das excepcionais
condições climáticas e extensão de nossas costas, têm alavancado sobremaneira o interesse pelas
pesquisas referentes à implementação da maricultura no Brasil. De forma que podemos prever, num
futuro próximo, o substancial incremento da produção pesqueira brasileira por esta via.D
5
6
Dispositivos que permitem identificar a hora em que o peixe foi fisgado.
Equipamento que, unido à linha secundária, registra continuamente a temperatura da água da mar.
75
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
MÉTODO PRIMITIVO DE TRANSPORTE DO CARANGUEJO-UÇÁ
COMPROMETE SUSTENTABILIDADE DO ESTOQUE
Raimundo Ivan MOTA ([email protected])
Gerência Regional do IBAMA no Ceará
RESUMO
O mais importantes recursos pesqueiros do delta do Rio Parnaíba, localizada ao norte dos Estados do
Piauí e do Maranhão, é o caranguejo-uçá, (Ucides cordatus) que é o maior crustáceo encontrado nos
manguezais brasileiros. Apresenta carne muito apreciada e é comercializado em grandes quantidades.
Sua captura, realizada de forma artesanal, representa postos de trabalho para mais de 4.500 coletores da
região, que, em sua maioria, têm nessa atividade a única fonte de renda. Embora esses trabalhadores do
mar tenham renda média inferior a um salário mínimo, a atividade é de grande interesse sócioeconômico. Os caranguejos desta região são transportados e comercializados em quase todos os estados
do Nordeste, especialmente nas capitais, onde há um grande fluxo turístico. As condições inadequadas
de transporte desses animais tem trazido muitos desperdícios e ameaçado a sustentabilidade de seu
estoque.
PRODUÇÃO E TRANSPORTE
Segundo dados do IBAMA, em 2005 a produção desembarcada alcançou 980 toneladas de
caranguejos, o equivalente a cerca de 6.000.000 de indivíduos que foram comercializados para diversas
cidades do Nordeste, com destaque para Fortaleza, no
Estado do Ceará, como maior centro consumidor
adquirindo 95% desta produção. Ocorre que destes seis
milhões de caranguejos, cerca de três milhões foram
descartados, jogados ao lixo, ou seja, 50% dos
caranguejos
coletados
são
descartados
devido
à
mortalidade precoce no processo de transporte e
comercialização (Figura 1). A causa desta mortalidade
está relacionada a diversos fatores, tais como: manuseio
incorreto dos animais durante a coleta, realizada dias
antes da entrega para distribuição, quando se utiliza o
“cambito”, instrumento que fere o animal; o manuseio
Figura 1 – Caranguejos-uçá Ucides cordatus
descartados por morte durante o transporte
descuidado dos distribuidores, durante a acomodação no meio de transporte – os animais são
76
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
amarrados, empilhados e enlonados aos montes em caminhões e posteriormente transportados durante a
noite aos centros consumidores. Com isso muitos animais perecem antes do abate para o consumo, não
sendo aproveitados, e com isso leva os pescadores a extrair mais caranguejos do que o necessário para
atender a demanda do mercado consumidor. A coleta dos caranguejos é feita manualmente por
pescadores nos manguezais e transportados vivos, diariamente, através de embarcações motorizadas, à
vela e a remo, até as vilas de pescadores (Figura 2).
Figura 2 – Transporte de caranguejo-ucá no Delta do Parnaíba: amontoados para embarque em
caminhões (à esquerda) e transportados em embarcações (a direita).
O intermediário é que faz o transporte e a distribuição e a comercialização da mercadoria por sua
conta e risco, sendo os caranguejos transportados para os grandes centros consumidores través de
caminhões e caminhonetas. Os pontos de revenda nos grandes centros urbanos são localizados em
feiras livres, dentro e fora dos mercados públicos, logradouros públicos, bares, restaurantes e em pontos
isolados de comercialização de pescado. Toda a produção do caranguejo do Brasil é comercializada no
mercado interno, sendo o estado do Ceará um dos principais compradores. O produto é vendido “vivo”,
carne ou massa e a “patola” (quela).
A pesca indiscriminada é outro problema na cata de caranguejo-uçá em vários locais do
nordeste do Brasil, observando-se o uso de artes predatórias como a “redinha” no Rio Grande do Norte
e a “ratoeira” no Ceará, Rio Grande do Norte e Alagoas. Outro aspecto preocupante é a captura
realizada na época da migração reprodutiva (andada) quando, aumentam o número de pescadores na
atividade, principalmente os pescadores “eventuais” que se dedicam a esta prática neste período,
devido à facilidade de captura dos indivíduos.
77
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
REGULAMENTAÇÃO
A regulamentação da pesca do caranguejo-uçá no Brasil foi estabelecida pelo IBAMA, a partir de
1989, visando proteger o estoque juvenil, proibindo a captura de indivíduos machos menores de 45 mm
de comprimento da carapaça e o estoque desovante, não permitindo a pesca de fêmeas de qualquer
tamanho. No ano de 1998 foi estabelecido o primeiro defeso da espécie nos estados de Espírito Santo,
Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Em 1999 este órgão estabeleceu que na captura do
caranguejo-uçá, somente seria permitida pelo método do “braceamento” (coleta manual), proibindo,
assim o uso de aparelhos e arte de pesca na fase de captura. A partir do ano de 2003 o IBAMA proíbe a
captura da fêmea, anualmente, somente no período de 1º de dezembro a 31 de maio no estado do Pará e
região Nordeste e delega competência aos gerentes nestes estados para suspender a captura do
caranguejo-uçá durante o fenômeno da migração reprodutiva (andada, carnaval).
A situação dos estoques do caranguejo-uçá se apresenta com uma elevada taxa de explotação, em
algumas regiões do nordeste, principalmente na região do Delta do Rio Parnaíba, nos estados do
Maranhão e Piauí. Observamos também um aumento do esforço de pesca, mesmo assim,
provavelmente a captura ainda não entrou no estágio de sobrepesca devido ao processo de coleta, com
baixo índice de participação de fêmeas, em decorrência da proibição de sua pesca e do seu pequeno
valor comercial, e da pequena proporção de indivíduos capturados com comprimento abaixo daquele
correspondente à primeira maturidade sexual.
PESQUISAS
A Embrapa Meio-Norte, desde o início de 2002, vem priorizando a pesquisa aplicada à pesca e
aqüicultura na região Nordeste, através de sua Unidade de Execução de Pesquisa, em Parnaíba. O
Núcleo Integrado de Pesquisa em Aqüicultura e Meio Ambiente da UEP-Parnaíba vem promovendo
ações articuladas com diversos parceiros, incluindo Instituições de Pesquisas e Desenvolvimento,
Ensino e Extensão, IBAMA, SEBRAE, Banco do Nordeste, Prefeituras Municipais e Instituições de
Fomento. Dentre dessas ações, em 2004 deu início ao Projeto de Sustentabilidade do Extrativismo do
caranguejo-uçá no Estado do Piauí, destinado a encontrar formas de reduzir a mortalidade do animal
durante o processo de transporte. Apesar do Projeto já ter conseguido identificar as causas das mortes
dos caranguejos, e de ter desenvolvido alternativas que podem fazer cair as perdas para taxas de 0% a
5% durante todo o processo, a EMBRAPA, ainda, não apontou soluções factíveis para solução desse
problema.
78
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, a principal preocupação com a sustentabilidade da atividade está relacionada com o
ritmo de exploração, estrutura inadequada de transporte, aliado a degradação ambiental do ecossistema
manguezal, constantemente agredido de várias formas, dentre as quais se destacam as seguintes: aterros
motivados pela especulação imobiliária, desmatamento para o uso da madeira, com finalidades
diversas, bem como para implantação de culturas de arroz, campos para pastagens; poluição de origem
doméstica e industrial; ocupação por salinas e projetos de cultivo de camarão. É necessário um trabalho
conjunto e articulados entre as instituições de pesquisa, legislação ambiental e de fomento visando a
salvaguarda de tão importante recurso econômico e principalmente social do litoral do Delta do
Parnaíba.D
79
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
II - ARTIGOS CIENTÍFICOS
ÁREAS POTENCIAIS PARA A AQÜICULTURA SUSTENTÁVEL NA BACIA DO
RIO ITAPECURU: BASES PARA O PLANEJAMENTO COM USO DO SISTEMA
DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA
Haroldo Gomes BARROSO ([email protected])
Curso de Engenharia de Pesca, Universidade Estadual do Maranhão
Antônio de Pádua SOUSA
Centro de Ciências Agrárias, Universidade Estadual de São Paulo
RESUMO
As áreas mais adequadas para o implemento de projetos aqüícolas sustentáveis, na bacia do rio
Itapecuru, foram selecionadas a partir da sinergia de parâmetros que tornam a aqüicultura uma
atividade capaz de gerar benefícios econômicos como: elevar o nível de inclusão social de grande
parcela de seus habitantes; melhorar o grau de conforto a seus usuários; propiciar maior usufruto de
mananciais de água integrantes da bacia; alertar para a importância dos estudos das bacias nacionais,
visando o planejamento da aqüicultura responsável. O planejamento e execução deste trabalho foram
motivados pela necessidade mundial de preservar o meio ambiente, em particular, os sistemas
aquáticos. A bacia é composta por uma contingência de problemas que tiveram início em sua
colonização, marcada pelo latifúndio e exploração inadequada de seus recursos naturais, apesar de sua
grande importância ao Estado do Maranhão. Exibe um quadro de difícil diagnóstico em função da
escassez de dados seguros para seu planejamento sustentável, principalmente das atividades produtivas
que dependem do binômio água/uso da terra. A viabilidade desse trabalho ocorreu com a utilização da
metodologia do Sistema de Informação Geográfica (SIG) que selecionou um total de 16.768,64 km² de
áreas com declividades entre 0% e 3%, das quais 9.122 km² foram enquadradas segundo os atributos
admitidos para escolha de áreas propícias para a instalação de projetos e programas de aqüicultura.
10% dessa área foram destinadas a atender modelos de gestão cujos efluentes produzidos na
aqüicultura sejam utilizados pela agricultura perene ou temporária nos 90% das áreas eleitas por classes
de ponderação da seguinte forma: 8,68 km² excelente; 351.82 km² muito boa; 48.62 km² boa; 122.83
km² regular; 237.59 km² ruim e 142.66 km² com restrições técnicas. Os estudos apontaram o baixo
curso da bacia do rio Itapecuru como a área que reúne maiores chances para o desenvolvimento da
aqüicultura sustentável.
PALAVRAS-CHAVE: Bacia do rio Itapecuru, Aqüicultura sustentável, Sistema de Informação Geográfica
80
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ABSTRACT
The adjusted areas more for implement it of sustainable aquatic programs, in the basin of the river
Itapecuru, had been selected from the synergya of parameters that become the aquaculture an activity
capable to generate economic benefits as: to raise the level of social inclusion of great parcel of its
inhabitants; to improve the comfort degree its users, to propitiate greater fruition of water integrant
sources of the basin; to alert for the importance of the studies of the national basins, aiming at the
planning of the responsible aquaculture.The planning and execution of this work had been motivated
by the world-wide necessity to preserve the environment, in particular, the aquatic systems. The basin
is composed for a contingency of problems that had had beginning in settling, marked for the large
state and inadequate exploration of natural resources, although its great importance to the State of the
Maranhão. It shows a picture of difficult diagnosis in function of the scarcity of safe data for
sustainable planning, mainly of the productive activities that depend on the use of the water and
land.The viability of this work counted of the use of the methodology of the Geografic Information
System (SIG) that km² of areas with declivities in the interval between 0% and 3% selected a total of
16.768,64, of which 9,122 km² had been fit according to attributes admitted for choice of propitious
areas for the installation of projects and programs of aquaculture. 10% of this area had been destined to
take care of management models whose effluent produced in the aquaculture they are used by perennial
or temporary agriculture in 90% of the elect areas for classrooms of balance following the form: 8,68
km² excellent; 351.82 km² very good; 48.62 km² good; 122.83 km² to regulate; 237.59 km² bad and
142,66 km² with restrictions techniques. The studies had pointed the low course of the basin of the river
Itapecuru as the area that congregates greaters possibilities for the development of the sustainable
aquaculture.
WORDS KEY: Basin of the river Itapecuru, sustainable aqüicultura, Geografic Information System.
INTRODUÇÃO
A produção de pescado mundial, em 2002, foi da ordem de 142 milhões de toneladas, sendo 96 milhões
oriundos da captura e 45 milhões da aqüicultura. A produção da pesca extrativa encontra-se estagnada, tendo
atingido seu limite sustentável de produção. Em contrapartida, a produção proveniente da aqüicultura vem
ganhando importância na oferta total de pescados, com crescimento mundial médio de 7% ao ano, nos últimos
cinco anos. Mesmo com essa expansão da produção aqüícola, projeta-se para o ano de 2010 um déficit de 25
milhões de t/ano de pescados, considerando-se uma expansão da demanda mundial compatível com o atual
consumo per capita de 14 kg/ano(FAO, 2003).
81
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
O Brasil, apesar de deter um dos maiores aportes de variadas classes de água do mundo, produziu, em
2002, 985 mil toneladas de pescado e apresentou um consumo per capita de apenas 5,7 kg/ano, média muito
inferior à mundial, (IBAMA, 2002).
Aqüicultura é o processo de produção em cativeiro de organismos com habitat predominantemente
aquático, em qualquer estágio de desenvolvimento, ou seja: ovos, larvas, pós-larvas, juvenis ou adultos. De
acordo com a FAO, três fatores caracterizam essa atividade: o organismo produzido é aqüícola, existe um
manejo visando a produção, e a criação tem um proprietário, isto é, não é um bem coletivo como são as
populações exploradas pela pesca (RANA, 1997).
A aqüicultura moderna está embasada em três pilares: a produção lucrativa, a preservação do meio
ambiente e o desenvolvimento social. Os três componentes são essenciais e indispensáveis para que se possa ter
uma atividade perene. A produção deve ser entendida como um processo amplo, que envolve toda a cadeia
produtiva. A simples criação dos organismos não é suficiente para o estabelecimento da atividade, de forma
lucrativa e permanente, como deve ser qualquer empresa. Todos os elementos da cadeia têm seu papel e
qualquer elo fraco limitará o desenvolvimento da atividade de forma geral (VALENTI et al., 2000).
O Estado do Maranhão, integrante da Amazônia Legal, ocupa no Nordeste uma posição privilegiada
com relação ao seu potencial hídrico. Possui nove bacias hidrográficas formadas por rios perenes, complexos
lacustres em planícies de inundação, inúmeras pequenas bacias em sua costa ocidental repleta de exuberantes
manguezais; na costa oriental, lagoas temporárias e nas regiões de dunas formando os lençóis maranhenses
(IBGE, 1998).
O rio Itapecuru, escolhido para esse trabalho, por sua importância vital ao Estado do Maranhão, o mais
extenso, e sua bacia de contribuição ocupa o segundo lugar em extensão no Estado. Divide-se fisiograficamente
em três níveis (alto, médio e baixo curso), atravessa várias unidades litoestratificadas e diversas divisões
geomorfológicas se caracterizando como um rio de planície.
A bacia hidrográfica do rio Itapecuru encontra-se geologicamente localizada na porção oriental da
plataforma Sul-Americana, na Província Estrutural do rio Parnaíba. Constitui-se de uma faixa de direção
dominante Norte-Sul, formada por rochas, na maioria sedimentar, de bacia Introcratônica do rio Parnaíba e da
bacia marginal de São Luís (ALMEIDA et al., 1997).
O rio Itapecuru nasce nos contrafortes das serras da Crueira, do Itapecuru e do rio Alpercatas, a 500m de
altitude, percorrendo 1.090 km, até sua desembocadura na baía do Arraial, ao sul da ilha de São Luís (IBGE,
1998). Limita-se a sul e ao leste pela bacia hidrográfica do rio Parnaíba, pela serra do Itapecuru, chapada do
Azeitão entre outras pequenas elevações, a oeste e a sudeste com a bacia do rio Mearim e a nordeste com a bacia
do rio Munim.
A aqüicultura praticada na bacia do rio Itapecuru, apesar de empírica, é responsável por 40% do pescado
consumido na região, onde se registrou 22 criadores, cultivando principalmente o tambaqui (Colossoma
macropomum), tilápia (Oreochromis spp), carpa (Cyprinus carpio), curimatá (Prochilodus spp), bagre-africano
82
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
(Clarias gariepinus), camarão-gigante-da-malásia (Macrobrachium rosenbergii), camarão-marinho (Litopenaeus
vannamei) e rã (Rana catesbeiana) (PEREIRA et al., 2000).
O estado do Maranhão criou a Agência Estadual de Pesca e Aqüicultura em 2002, para se
adequar ao modelo federal que criou a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da
República-SEAP/PR, objetivando o planejamento e ordenamento desse setor produtivo com
representação regional e estadual, em fase de estruturação.
A crescente expansão das atividades antrópicas sobre o meio ambiente tem gerado aumento expressivo
da demanda por tecnologias de manejo ambiental (TROTTER, 1991). A necessidade de mapeamento, manejo e
monitoramento dos recursos naturais renováveis e não renováveis tem resultado na evolução tecnológica dos
Sistemas de Informação Geográfica (SIG). Tais sistemas, utilizados inicialmente apenas no auxílio à elaboração
de mapas, vêm sendo cada vez mais utilizados no auxílio de extração de informações e tomadas de decisões.
Em um SIG a apresentação de dados tem papel relevante na extração de informações. Ela é usada para
visualizar o problema, possibilitando observar, manipular e estudar os relacionamentos geográficos envolvidos, e
também pode apresentar alternativas à solução do problema considerado (EGENHOFER, 1990). Tais técnicas
têm avançado significativamente nesta última década e sua importância tem estabelecido papel relevante para o
gerenciamento de recursos.
A tecnologia do SIG emprega, na maioria de suas aplicações, um banco de dados para armazenagem e
recuperação de informações, o qual pode também ser aproveitado para gerar outras formas de análises de dados e
facilitar a tomada de decisões. As informações capazes de serem extraídas de um banco de dados dificilmente
podem ser obtidas examinando-se apenas a parte gráfica dos dados, ou seja, mapas contidos no SIG.
Informações complementares podem ser utilizadas por um SIG de modo a possibilitar novas formas de
apresentação e análise de dados.
Com a deficiência de informações citadas em Pereira et al. (2000) levantou-se a hipótese de que somente
se disponibilizando de ferramentas científicas para o planejamento da aqüicultura sustentável, a bacia do Rio
Itapecuru certamente experimentará o equilíbrio ecológico e sócio-econômico.
Caso haja o incremento da aqüicultura sustentável na área em estudo, serão eliminados os
desmatamentos ciliares; haverá um aumento na oferta de alimentos protéicos, da lâmina d’água, da evaporação e
da umidade relativa do ar, da recarga dos mananciais; minimização dos riscos de queimadas; um crescente grau
de conforto aos usuários e conseqüentemente um maior nível de inclusão social.
Este trabalho objetivou determinar macro áreas propícias à prática da aqüicultura sustentável, sem
egessar a produção de pescado na bacia do Rio Itapecuru, apontando modelos capazes de alavancar a atividade
como a melhor alternativa na promoção do emprego e renda à maioria da população rural ribeirinha,
promovendo uma socioeconômica equilibrada da área em estudo.
83
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
GEOMORFOLOGIA
Os fatores como característicos da rede de drenagem, a compartimentação, as formas de relevo e a
navegabilidade formaram um conjunto de critérios adotados pela SUDENE para dividir a bacia do rio Itapecuru
em três níveis fisiográficos: alto curso, médio curso e baixo curso (BIZERRA, 1984).
Os limites e características de cada trecho da bacia são:
•
Alto Itapecuru: Compreende toda a bacia de contribuição a montante da cidade de Colinas, onde
recebe as águas de seu maior tributário, o rio Alpercatas, com predominância dos chapadões, chapadas e
cuestas, relevo forte ondulado compondo as partes mais elevadas da bacia com as serras do Itapecuru, do
Alpercatas, da Crueira e da Boa Vista.
•
Médio Itapecuru: Compreende o trecho entre os municípios de Colinas a Caxias, apresentando uma
situação morfológica denominada testemunhos, onde predomina o relevo de chapadas baixas e uma
superfície variando de suave ondulado a forte ondulada, com uma diferença de altitude de 60m.
•
Baixo Itapecuru: Compreende o trecho entre os municípios de Caxias até a foz, na baia do Arraial.
Essa área possui uma geomorfologia caracterizada pela presença da superfície maranhense com testemunho
e na sua foz pelo Golfão Maranhense, com um relevo de superfície suave ondulado, originário
principalmente da Formação Itapecuru do Cretáceo.
HIDROLOGIA
Os rios da bacia do Itapecuru drenam os terrenos sedimentares da bacia do rio Parnaíba, composto
principalmente pelas seqüências de arenitos, siltitos, folhelos e argilitos, onde a ocorrência de falhas e fraturas
direcionam o curso dos mesmos. Devido a isto, as perspectivas no que dizem respeito às suas reservas em águas
subterrâneas são relativamente promissoras. Os principais sistemas aqüíferos são as formações: Mutuca,
Sambaíba, Corda e Itapecuru. Em conjunto, essas formações podem ser consideradas como um único sistema
aqüífero livre, localmente com potências em carga nas áreas onde são sobrepostas por formações impermeáveis
que são: Pedra de Fogo, Pastos Bons e Codó (IBGE, 1998; PETRI; FULFARO, 1988; TUCCI, 2001).
A bacia hidrográfica do rio Itapecuru é falciforme, cuja concavidade está voltada em direção Oeste, para
o vale do Mearim. É uma bacia irregular, estreita nas nascentes e na desembocadura, alargando-se na parte
central, onde atinge aproximadamente 120 km. A rede de drenagem distribui-se em padrão geral
aproximadamente paralelo no alto curso, embora uma tendência dentrítica se revele cada vez mais à medida que
vai atingindo o baixo curso (IBGE, 1998).
Corre no sentido Oeste-Leste das nascentes até o povoado de Várzea do Cerco, 25 km à
montante da cidade de Mirador, tomando rumo norte ao deslocar-se sobre os chapadões do alto curso
até receber seu maior depositário o Rio Alpercatas, que contribui com 2/3 de seu volume em sua
desembocadura. Muda de direção para nordeste até receber o rio Corrente, mudando bruscamente sua
direção para o sentido nordeste, tracejando um longo contorno, no município de Caxias. Apesar de
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
apresentar algumas inflexões, se mantém na mesma direção até sua desembocadura na baia do Arraial
por dois braços, o Tucha como principal e o Mojó como secundário.
Um problema que acomete a bacia do rio Itapecuru são os esgotos. O esgotamento, da maioria das
cidades brasileiras, é feito a céu aberto e os resíduos normalmente são conduzidos a um corpo d’água que recebe
o esgoto in natura. Uma grande metrópole tem um efeito poluidor das águas que pode ser detectado a centenas
de quilômetros rio abaixo, comprometendo seu uso em outros povoamentos nas atividades humanas que
dependam da água bruta. A poluição industrial também contribui com diversos tipos de poluentes orgânicos e
inorgânicos que degradam a qualidade da água. Alguns possuem alta toxidade e periculosidade para os
organismos aquáticos e para o consumo humano.
Além deste, a agropecuária se constitui em mais um responsável pela degradação da bacia do rio
Itapecuru, com grandes queimadas como conseqüência da pecuária e, principalmente, do extrativismo vegetal
para a produção de madeira e, de significativa produção de carvão vegetal.
ASPECTOS QUANTITATIVOS DA ÁGUA
A disponibilidade de água no alto curso do rio Itapecuru até o deflúvio do rio Alpercatas é de 17,6m.s-1,
em média, dado que limita o uso da água em grandes projetos hidroagrícolas, não significando sua vasta
utilização em projetos sustentáveis, embora o acompanhamento técnico responsável se torna um requisito básico.
A partir do município de Colinas, onde o aporte fluvial triplica a oferta de água já qualifica essa área
para maiores demandas por parte de projetos de maiores proporções no uso de água.
A oferta de água na bacia do rio Itapecuru para múltiplos usos apontou uma bacia de médio porte, que
apesar da inexistência de um completo cadastramento do uso de suas águas não há indícios do comprometimento
da oferta de água bruta para seus usuários, mesmo assim, faz-se necessário seu controle na perspectiva de sua
preservação como bem público e de duração finita (IBGE, 1998).
CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA
As combinações diversas dos processos atmosféricos produzem um grande número de tipos climáticos, o
que se aplica à bacia do rio Itapecuru como área de transição de macroclimas da região Amazônica com alta
umidade e da região Nordestina com baixa umidade.
A classificação climática distribui em diferentes tipos climáticos a bacia do Itapecuru. O Clima
predominante na bacia é o sub-úmido seco, seguido do sub-úmido e Úmido na interface com áreas marinhas de
altas pluviosidades. Os maiores excessos pluviométricos ocorrem entre janeiro e maio (período chuvoso) e com
maiores deficiências de julho a setembro (período seco).
TEMPERATURA E UMIDADE RELATIVA DO AR
A variação da temperatura na bacia do rio Itapecuru tem uma amplitude média muito pequena, não
ultrapassando a 4°C, variando de 25°C a 28°C na maioria da referida bacia, sendo registradas médias de 27°C no
85
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
baixo Itapecuru e nos município de Caxias e Codó, registrando-se menores médias no alto curso do rio
Itapecuru, com 25°C. Essa baixa temperatura está relacionada com a latitude e a altitude do local.
A umidade relativa do ar na bacia do rio Itapecuru varia em média entre 70 a 82%, registrando-se
maiores índices no litoral. O período de maior umidade é de janeiro a maio com médias de 85%, as áreas com
menores índices são as mais próximas da bacia do rio Parnaíba.
PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA
É a variável climática que apresenta maior variabilidade, tanto espacial como temporal. Através do
conhecimento da distribuição da precipitação pluviométrica, anual e mensal, pode-se ter noção do potencial
hídrico disponível ao longo do ano na referida bacia. Essas informações são imprescindíveis para todos os
setores da economia, principalmente para projetos hidroagrícolas. Os valores médios de distribuição demonstram
uma diferença de amplitude média de precipitações na bacia do rio Itapecuru entre a mínima e máxima de 1600
mm (INSTITUTO DO HOMEM, 1992).
USO E OCUPAÇÃO DA TERRA
Segundo o Instituto do Homem (1992), um fato que tem agravado este problema é a má distribuição
fundiária, ficando as terras mais férteis à disposição de grandes latifúndios, com explorações de monoculturas
principalmente do arroz, como primeira cultura para em seguida serem transformados em pastos;
conseqüentemente, os pequenos e médios produtores acabam sendo deslocados para áreas inadequadas, mais
pobres, onde se dá um outro processo de devastação, seja pela exploração da madeira ou implantação de
agricultura nômade.
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E ÁREAS AFINS
A maior reserva da bacia é o Parque Estadual do Mirador, com 500.000 ha nas nascentes e a formação
dos primeiros córregos que constituem o curso principal, visa a proteção do ecossistema do alto curso do rio.
As outras Áreas de Preservação Ambiental instituída na bacia são a do Upaon-Açu/Miritiba/Alto
Preguiça (de acordo com o Código Florestal, CONAMA, Código de Águas, Código de Proteção do Meio
Ambiente do Maranhão, Lei do Babaçu), que na verdade está contida na bacia do rio Itapecuru apenas nas
proximidades de sua desembocadura, fronteiriça à bacia do rio Munim.
Foram constatadas pelo Instituto do Homem (1992) agressões às matas ciliares, às bordas de chapadas e
desmatamentos indiscriminados, inclusive em nascentes e babaçuais. Fatos do cotidiano na bacia do rio
Itapecuru acentuam ainda mais com o uso indiscriminado de defensivos agrícolas, despejos urbanos e industriais
em todo o seu curso (INSTITUTO DO HOMEM, 1992; IBGE, 1998).
ORGANIZAÇÃO SOCIAL DA POPULAÇÃO NA BACIA
A população da bacia do rio Itapecuru é resultante da ocupação pelos primitivos indígenas, portugueses,
africanos e franceses, passando por variados regimes como em todo Brasil, registrado em sua história como
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
palco de conflitos, a exemplo da guerra da Balaiada que teve seu maior foco de resistência no município de
Caxias, no limite do alto e médio curso da Bacia em estudo. Outro marcante episódio foi marcado pela passagem
da Coluna Prestes em dezembro de 1925 nos municípios de Colinas e Mirador, no alto curso do Itapecuru
(IBGE, 1998). A consolidação da atual estrutura político-administrativa da bacia do rio Itapecuru se deu no
século passado, nas décadas de 40 e 50, pela emancipação de grande número de municípios.
A política implementada a partir de 1970, incentivando a instalação de grandes projetos agropecuários,
aumentou a concentração de terra. Esse processo causou a desestruturação social e econômica de milhares de
famílias, obrigadas a migrarem para as zonas urbanas ou outras regiões (IBGE, 1998).
As práticas políticas na bacia do Itapecuru ainda são consideradas colonialistas pelos estudos do IBGE
(1998), com imensos latifúndios improdutivos. Os agricultores, em sua maioria, são parceiros ou arrendatários
refletindo no menor Índice de Desenvolvimento Humano-IDH da federação, segundo relatório da ONU/2003,
(JORNAL NACIONAL, 2003).
CONCEITOS SOBRE SUSTENTABILIDADE
Segundo Sachs (1993), para que o desenvolvimento seja sustentável, é preciso que ele contemple pelo
menos os pontos a seguir:
•
Atividade seja economicamente viável;
•
Socialmente justa, contribuindo para a redução das desigualdades e para a eliminação das injustiças;
•
Consideração ecológica, a perda da qualidade ambiental e a degradação dos ecossistemas, não sejam
o preço a ser pago, comprometendo a perenidade da vida;
•
Imperativo da eqüidade espacial, ou a importância de se evitarem as concentrações ou aglomerações
que, pela lógica das economias de escala, acabam resultando em deseconomias de qualidade de vida e em
distribuição desigual das oportunidades;
•
Cultura: as características de cada grupo social devem ser preservadas frente à avassaladora
tendência homogeneizadora dos padrões de produção e consumo, que viola e descaracteriza identidades;
• Político-institucional, que na atual crise do Estado, em todo o mundo, cujas raízes têm características
diferenciadas em cada país, mas que tem se manifestado na esfera das finanças públicas, tem fragilizado e
deslegitimado o papel regulador do poder público, abrindo espaço para que a conjuntura de mercado
prevaleça como regulador.
CONCEITOS SOBRE SIG
Um SIG é baseado em computador que permite capturar, modelar, manipular, recuperar, consultar,
analisar, e apresentar dados geograficamente referenciados (CÂMARA NETO, 1995). A tecnologia do SIG pode
trazer enormes benefícios devido à sua capacidade de manipular a informação georeferenciada de forma precisa,
rápida e sofisticada (GOODCHILD et al., 1993).
87
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Na década de 80 do Século XX, o uso do SIG, tornou-se comum nas empresas, universidades e agências
governamentais, e atualmente diversos profissionais o utilizam para as mais variadas aplicações. Essa
diversidade de usos e aplicações fez surgir várias definições do SIG, tais como:
•
conjunto poderoso de ferramentas para coletar, armazenar, recuperar, transformar e visualizar dados
sobre o mundo real (BURROUGH, 1987);
•
banco de dados indexados espacialmente, sobre o qual opera um conjunto de procedimentos para
responder as consultas sobre entidades espaciais (SMITH et al., 1987);
•
sistema de suporte à decisão que integra dados referenciados espacialmente num ambiente de
respostas a problemas (COWEN, 1988);
•
conjunto manual ou computacional de procedimentos utilizados para armazenar e manipular dados
georeferenciados (ARONFF, 1989).
Essas definições de SIG refletem, cada uma à sua maneira, a multiplicidade de usos e visões possíveis
desta tecnologia e apontam para uma perspectiva interdisciplinar de sua utilização. Atualmente algumas de suas
aplicações incluem temas como aqüicultura, agricultura, florestas, cartografia, geologia, cadastro urbano, rede de
concessionárias (água, energia e telefone), dentre outras (STAR; ESTES, 1990).
MATERIAL E MÉTODOS
A bacia hidrográfica do rio Itapecuru situa-se na parte centro-leste do Estado do Maranhão, entre as
coordenadas de 21°51’ a 06°56’ de Latitude S e 43°02’ a 45°58’ de Longitude W, Abrange uma área 54.300
km², que corresponde a 16,7% da área do Estado (IBGE, 1998).
A pesquisa teve duas etapas distintas: (1) avaliação do potencial para o desenvolvimento do projeto; (2)
coleta dos dados de campo.
ORDENAMENTO METODOLÓGICO
A abordagem metodológica para realização de estudos em bacias hidrográficas, propostas por Pires e
Santos (1995), definem o planejamento ambiental como um processo de planificação que busca soluções para os
problemas e as necessidades humanas, visando metas e objetivos: maximização da qualidade ambiental,
produção sustentada com o desenvolvimento e aproveitamento dos recursos naturais dentro dos limites da
capacidade de suporte ambiental e da minimização dos riscos a impactos ambientais.
As bases para elaboração de um projeto integrado de manejo de bacias hidrográficas (ARÉVALOS,
1998), são as seguintes:
•
Unificação de métodos e de planejamento de propostas de ação e de investigação, originadas a partir
dos problemas e limitações da região;
•
Confecção de mapas geoecológicos e;
•
Planejamento e zoneamento ambientais.
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Segundo Ballester et al., (1995), para o manejo de um complexo ambiental é necessário um
conhecimento detalhado das variações espaços-temporais dos fatores naturais e antrópicos que atuam sobre o
mesmo. A união de tais dimensões, permitindo o processamento simultâneo de dados, dessa forma, tem sido
possibilitada pelos SIG, definidos como tecnologias para investigação dos fenômenos ambientais que combinam
os avanços tecnológicos da cartografia e banco de dados automatizados, o sensoriamento remoto e a modelagem.
As informações de caráter sinergético resultantes do emprego dessas ferramentas têm auxiliado na formulação de
propostas de manejo.
O SIG foi a principal ferramenta utilizada para análise espacial das informações geradas para esse
trabalho, por ser um sistema de coleta, armazenamento, checagem, manipulação, análise e disponibilização de
informações espaciais indexadas, sobre as quais várias perguntas podem ser interpretadas, respondidas e
visualizadas, através de cruzamentos de informações criando uma imagem final.
Dessa forma, foram utilizadas imagens geradas pelo IBGE (1998), na Escala de 1:250.000 e 1:180.000,
geoprocessadas posteriormente com agregação de novos dados bibliográficos, 360 entrevistas utilizando
formulários semi-estruturados, nas cidades de: Sucupira do Norte, Mirador, Colinas, Caxias, Codó, Timbiras,
Coroatá, Cantanhêde, Itapecuru Mirim, Santa Rita, Bacabeira e Rosário; doze expedições para avaliação de
impactos ambientais, quatro para investigação dos parâmetros físicos e químicos da água do rio Itapecuru e três
seminários sobre o aproveitamento de ecossistemas fluviais sustentáveis.
Os parâmetros físicos medidos de maior importância para a aqüicultura foram a transparência e a
temperatura, medidos com disco de Sechi e termômetro digital YSI do kit F1003.
Utilizando-se o kit F1003, foram feitas medições diretas dos principais parâmetros exigidos para o bom
desempenho da aqüicultura (O2, CO2, pH, Condutividade elétrica, Nitrato, Nitrito, Amônia, Alcalinidade,
Fósforo e Silicato), na superfície, meio e fundo, a montante e jusante de oito municípios ribeirinhos (Mirador,
Colinas, Caxias, Codó, Coroatá, Itapecuru Mirim, Cantanhêde e Rosário). A Alcalinidade foi obtida por titulação
de acordo com o método descrito por (MACHERETH et al., 1978).
Para determinação dos nutrientes, amostras brutas e filtradas foram congeladas a -20ºC e, posteriormente
analisadas para fósforo total (VALDERRAMA, 1981), nitrato, nitrato e amônia (KOROLEFF, 1976), fósforo
inorgânico dissolvido, silicatos e cloretos (GOLDERMAN et al., 1978).
O fator solo ao ser relacionado a aqüicultura se subentende como um conjunto de fatores que interfiram
nos sistemas de cultivo, proporções de áreas a serem utilizadas continuamente e economia do empreendimento,
para em seguida adequar-se às questões legais, técnicas globais e localizadas. No advento da modernidade hoje,
a tipologia de solo está mais intimamente dependente do sistema de cultivo, economia do projeto e espécie a ser
cultivada, não deixando de prevalecer os fatores ecológicos que são limitantes e determinantes para a seleção de
espécies a serem cultivadas (ONO; KUBITZA, 2002).
As áreas foram selecionadas a partir de cruzamentos e manipulação de dados (Figura 1), seguindo a
metodologia do SIG, com ponderação dos diversos parâmetros correlacionados à atividade da aqüicultura, com
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delimitação de áreas propícias com declividade variando de 0 a 3% e que ofereça menor risco para
empreendedores e meio ambiente.
As áreas selecionadas em toda a bacia são prestáveis para a piscicultura, ranicultura e carcinicultura de
água doce até o município de Rosário no baixo curso do rio Itapecuru. Poderão também ser realizadas atividades
de malacocultura e carcinicultura de águas salinas no baixo curso do referido rio, segundo o somatório das
pontuações enquadradas nas diversas categorias (ASSADA; SANO, 1998; HARA, 1997; NISHIYAMA, 1998;
SAITO et al., 1998).
Mapa de Declividade
Mapa de Drenagem
Mapa de Geologia
Mapa de Geomorfologia
Mapa de Infra-estrutura
Mapa de Solo
Mapa de Climático
Mapa Final
Figura 1 - Ilustração da metodologia de montagem do mapa final utilizando o SIG
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CARATERIZAÇÃO DA AQÜICULTURA NA BACIA DO RIO ITAPECURU
Apesar de constituir um ambiente de grande importância para a aqüicultura, a bacia do rio Itapecuru não
dispõe de assistência técnica sistêmica a exemplo do Estado, o que compromete seu desenvolvimento. Constitui
como ação concreta apenas a programação propiciada pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), com minicursos para produtores, que na verdade não satisfazem as necessidades do público com verdadeiro potencial,
pelos processos seletivo e metodológico efetuados.
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A área em estudo não dispõe de um conjunto de dados capazes de propiciar elementos para um
planejamento adequado, constituindo-se esse trabalho no primeiro material com tal finalidade.
O Estado do Maranhão dispõe de menos de dez especialistas na área de aqüicultura com nível superior,
seis com pós-graduação Lato Sensu, dois Mestres e um Doutorando, aspecto que demonstra a distância entre
potencialidade, produção e assistência técnica. Na Bacia do rio Itapecuru só existem três desses profissionais,
todos os produtores na área da piscicultura, atividade mantida com recursos próprios com total ausência do
Estado, que não esboça nenhuma vontade política em mantê-los atualizados, ao contrário, mantém políticas que
pulverizam o setor com generalidades sem nenhuma projeção a curto, médio e longo prazo, ofuscando toda a teia
produtiva potencial, do profissional ao consumidor.
REGULARIDADE E QUALIDADE NA OFERTA DE ALEVINOS
Na bacia do rio Itapecuru a oferta de alevinos é muito escassa e irregular, contabilizando-se apenas um
produtor com oferta mais regular durante oito meses por ano, mesmo assim não atende à demanda do mercado
que não se constitui apenas de produtores da Bacia em estudo e sim a todas as áreas vizinhas.
Não é privilégio do Estado do Maranhão a oferta de alevinos de baixa qualidade genética,
principalmente do tambaqui (Colossoma macropomum) que ainda permanecem como reprodutores os
remanescentes de cruzamentos dos espécimes selvagens introduzidos no Nordeste em 1976 pelo DNOCS, que
concretizou sua primeira propagação artificial e distribuição dos alevinos para demais entidades e estações de
piscicultura no ano seguinte, perdurando até nossos dias como banco genético, promovendo grande degradação
consangüínea. No que se refere à bacia do rio Itapecuru, os alevinos cultivados nessa área, são na maioria,
importados de grandes distâncias, de outros estados, causando um grande estresse e alta taxa de mortalidade,
baixo índice de rendimento final, fatos que desestimulam o produtor.
A oferta de alevinos além de precária é de alto custo e não atende a nenhum preceito de qualidade,
controle sanitário e profilático, deixando toda a bacia susceptível a contaminação por parasitos e bactérias
exóticas que podem causar grandes danos ao meio ambiente da área em estudo.
Os projetos de aqüicultura existentes na bacia do rio Itapecuru, não têm nenhum preceito de
sustentabilidade, com exceção do Centro de Piscicultura de Mirador, hoje desativado, onde a inobservância da
legislação pertinente é nítida em cada direção, predominando uma conceituação neoliberal, mesmo inconsciente,
deixando-se de lado a sustentabilidade social pela visão do maior lucro mesmo que os danos ao próximo e ao
meio ambiente sejam imensuráveis (ARANA, 1999).
Na atual conjuntura com ares de modernização da aqüicultura mundial, aqui no Brasil já se dispõe de
tecnologias capazes de relegar certos preceitos que visem à escolha de áreas para instalação de projetos de
aqüicultura a depender de seu sistema como: Tanque-rede, raceway e gaiolas. Mesmo para um sistema
convencional de cultivo já se dispõem de tecnologias de impermeabilização de viveiros com mantas plásticas,
controles de temperaturas, estufas, entre outros modernos sistemas de aproveitamento de qualquer área, desde
que haja uma prévia relação de custo/ benefício (ONO; KUBITZA, 2002).
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É com esse contexto que a visualização da real potencialidade da bacia do rio Itapecuru para a
aqüicultura, onde os avanços tecnológicos quebram barreiras no dia a dia, e transformam áreas imprestáveis a
verdadeiros celeiros produtivos. Isso significa que se utilizando o princípio da imaginação e do bom senso;
haverá um grande avanço nas ações tomadas em direção ao desenvolvimento sócio-econômico da bacia do rio
Itapecuru. É com essa notoriedade que discutimos um total de áreas com maiores chances de sucesso sem que o
meio ambiente seja exatamente o coletor de todas as formas impactantes, causando malefícios a curto, médio e
longo prazo.
OFERTA DE RAÇÃO E
DE MATÉRIA-PRIMA
Com o eventual aquecimento do setor aqüícola mundial, essa prática tem crescido bastante, chegando
figurar como a principal responsável pela oferta de pescado na bacia do rio Itapecuru. Constatado um grande
número de pequenos piscicultores, que lastreia a Bacia de forma empírica, socialmente desordenada,
impossibilitando seu levantamento estatístico, principalmente com relação à oferta e consumo de ração, porém a
oferta de matéria prima para fabricação é muito competitiva e abundante, por conter em sua Bacia e entorno,
grandes produtores de grãos (comodities) utilizáveis na fabricação de ração, proporcionando menores custos ao
produto final na região, fato que tem despertado interesse desses produtores, já operando uma pequena fábrica de
ração extrusada (250 kg. h-1) no município de Balsas, hoje em ampliação, e uma peletizadora (200 kg.h-1) no
município de Colinas.
A maioria da ração consumida na bacia é proveniente de estados vizinhos, principalmente a extrusada,
porém a fabricação artesanal sem balanceamento adequado e acompanhamento sistêmico é quase totalidade, fato
que concorre para baixas produtividades.
DEMANDA DE PESCADO
O consumo de pescado no Maranhão tem destaque no litoral, na baixada ocidental maranhense e nas
áreas ribeirinhas aos grandes lagos. Na bacia do rio Itapecuru de modo geral, não há hábito de consumo de
produtos pesqueiros no cotidiano, lentamente este hábito vem mudando, em função da freqüência de oferta de
produtos advindos da piscicultura regional, uma vez que os rios da bacia não disponibilizam estoques naturais de
pescado em quantidade para atender a atual demanda, até pelos problemas ecológicos que se agravam a cada
ano, diminuindo a vida nos ambientes naturais.
QUALIDADE DOS PRODUTOS
Na década de 80 do Século XX, o Governo Federal construiu um grande entreposto de pesca no Estado,
no complexo do Itaqui, chegando a funcionar por seis meses e fechou, deixando para trás toda uma perspectiva
de desenvolvimento do setor naquele momento.
As investidas do Estado, no sentido de alavancar o setor pesqueiro ainda não aconteceram. Conta-se com
pequenas instalações da iniciativa privada ao longo do litoral e nas áreas de maiores concentrações de
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pescadores, porém os aqüicultures não dispõem de estruturas de refrigeração para agregar benefícios ao pescado
produzido, obrigando-os a comercializá-los inteiro “in natura”, fresco, resfriado ou eviscerado resfriado. O
pescado congelado, conduzido, de outras áreas, para as feiras dos centros urbanos, não oferece nenhuma
segurança de sua sanidade ao consumidor, normalmente são submetidos ao congelamento por processos
inadequados e após o rigor mortis, promovendo a condução de uma grande carga bacteriana ocasionando uma
baixa qualidade no pescado.
ESPÉCIES CULTIVADAS
As principais espécies cultivadas na bacia do rio Itapecuru são: o tambaqui (Colossoma macropomum),
tilápia (Oreochromis sp.), curimatá (Prochilodus sp.) e carpa-comum (Cyprinus carpio), com grande destaque ao
primeiro, que além de reunir maiores vantagens em sua oferta de alevinos já faz parte da culinária da região.
O diagnóstico da aqüicultura na bacia do rio Itapecuru revela sua insipiência na produção dos diversos
organismos aquáticos, seja pela pequena extensão utilizada ou pelo pequeno grau tecnológico empregado, de
certo é que na mesma proporção se mantém com relação ao meio ambiente, não sendo ainda apontada como uma
atividade que venha a comprometer a vitalidade equilibrada na referida bacia. Contudo propõe-se a indicação de
modelos a serem investigados e aplicados como padrão de uso nas bacias hidrográficas brasileiras como forma
de anteceder a ações poluidoras provenientes da aqüicultura. De modo que para a bacia em estudada, precisa
adotar modelos capazes de manter a sustentabilidade das áreas potencialmente selecionadas, tais como:
“Sistemas de cultivo em viveiros escavados”, são viveiros instalados através de operações de escavação corte e
aterro. Essa operação é uma sincronização de máquinas e instrumentos, são facilitados e adequados
economicamente, segundo a declividade, tipo de solo e cobertura vegetal.
Proponho para esse modelo, a inclusão da agricultura irrigada, como reciclador de efluentes, composto
por micro e macro nutrientes e cobertura verde proveniente de grande quantidade de microalgas potencializadas
no cultivo de organismos aquáticos não filtradores, o que os tornam indispensáveis ao aproveitamento na
agricultura, devolvendo o corpo líquido à natureza por infiltração ou evaporação sem nenhum dado aos sistemas
aquáticos, ao contrário, passa pela produção, seja fruticultura ou para outras cultivares, como arroz, feijão,
milho, cebola, minimizando seus custos com insumos e devolvendo a água com qualidade ao meio ambiente.
Com a concepção dessa proposta de modelo de gestão integrada da aqüicultura com a agricultura
irrigada, se demonstra uma gama de vantagens para o caso da bacia do rio Itapecuru como:
a) Propiciar maior permanência da água na bacia promovendo sua movimentação em maior volume, em todo seu
ciclo, seja aumentando sua superfície de contato com a atmosfera e solo, obviamente a quantidade de vapor
d’água aumentará consubstancialmente bem como as recargas dos mananciais superficiais e freáticos;
b)Aumentar a Umidade Relativa do Ar da região melhorando o grau de conforto das populações, bem como
contribuir para minimizar as chances de incêndios na região, sobretudo nas margens ciliares e áreas adjacentes a
projetos, onde a vegetação permanecer verde pelo ciclo vivo de água e nutrientes dispensados;
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
c) Retorno constante da água a seu curso d’água anterior, filtrada naturalmente pelo sistema planta, solo,
evaporação e evapotranspiração;
d)Favorecer o crescimento da fauna ciliar, animais que dependam da margem ciliar para sua sobrevivência e
interação naquele nicho ecológico, habitat misto entre vegetação água, abrigo e oferta de alimento natural.
e) Minimizar o processo de assoreamento através da interposição de projetos de aqüicultura consorciados a
agricultura irrigada, utilizando os efluentes como base para a adubação agrícola e forma de filtragem e
devolução de água pura aos mananciais superficiais e freáticos.
A proposta que utiliza a agricultura irrigada, em substituição à lagoa de depuração, canais, viveiro de
fundo rebaixado, onde os efluentes ficam depositados pode acumular problemas ao aquicultor, ao invés de lucros
com sua utilização econômica sustentável.
REFLEXOS DAS ATIVIDADES ANTRÓPICAS
Durante expedições, constatou-se que o rastro de devastação tem se agravado, principalmente com a
demasiada quantia de carvoarias clandestinas e criminosas que têm atingido grandes proporções, capazes de
manter as guseiras em pleno funcionamento, sem nenhum programa de reflorestamento promovendo um
crescente número de aluviões. Nas terras do alto curso encontram-se as maiores carvoarias do Estado, nas
adjacências do Parque Estadual do Mirador, acentuando-se no município de Colinas até o município de Caxias,
onde o misto de chapadões e cerrado está cedendo lugar às voçorocas e desertos de areias quartzosas, que
facilmente são conduzidas aos córregos e ao curso principal do rio Itapecuru, promovendo assoreamentos de
grandes proporções, transformando seu curso navegável em armadilhas para a prática da navegação (IBGE,
1998). Todo o curso do rio Itapecuru e seus afluentes, alguns como o Balseiro e o Itapecuruzinho, já agonizam
com seus regimes modificados, só se mantendo com deflúvio no período chuvoso.
Observou-se também que muitas áreas que outrora serviram como criadouros naturais (lagos naturais),
encontram-se assoreadas e invadidas pela cultura de forrageiras para bovinos ou agricultura, penalizando todo
um ecossistema aquático conjuntamente à sócio-economia da área em discussão.
Baseados nos conceitos de sustentabilidade chamam a atenção em especial para o processo devastador e
inconseqüente que o desmatamento vem submetendo a bacia do rio Itapecuru, tanto para fins de expansão de
suas fronteiras agropecuárias como na produção de carvão vegetal, e deixando sua marca desoladora,
principalmente por se tratar de áreas de grande fragilidade como o cerrado onde nasce o rio Itapecuru e alguns
afluentes outrora perenes (IBGE, 1998).
Todo esse rol de evidências é preocupante, com relação ao comprometimento da qualidade e/ou escassez
completa da água na bacia do rio Itapecuru que pelos aspectos geológicos e antrópicos.
No último século, onde no início definia-se que os oceanos e outros recursos naturais eram inesgotáveis,
em suas últimas décadas as autoridades científicas, técnicos, organizações governamentais e não
governamentais, visualizaram um outro cenário onde se constatou o contrário, daí a grande preocupação com o
futuro do planeta. As preocupações com os dias futuros tomaram direção rumo à preservação, deixando o
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homem de ser apenas um extrativista poluidor e transformando-se em extrativista conservacionista e produtor
conservador, muito menos poluidor (AGENDA 21, 2000).
No decorrer dos anos a legislação tem avançado no sentido de conscientizar e cobrar a aplicabilidade da
mesma, coibindo abusos contra agressões à natureza. Segundo documento elaborado em 1987, Nosso Futuro
Comum, pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, a pesca e a aqüicultura são
atividades consideradas estratégicas para a segurança alimentar sustentável do planeta, pois estas são capazes de
fornecer proteínas e gerar empregos, (AGENDA 21, 2000).
Constitui-se em fato inusitado a apropriação de áreas de hidroelétricas, cercados pelos antigos
proprietários, já indenizados, proibindo o acesso a usuários da água dos cursos públicos e o dessedentamento de
animais, fato público sem que as autoridades tomem providências.
O planejamento de ações econômicas tem âncora nos adventos ecológicos para que possam ter
sustentabilidade. A aqüicultura é uma prática produtiva dependente do meio ambiente, portanto é uma atividade
que requer sustentabilidade em todas as etapas e fases de sua gestão, deixando de lado a retórica compartilhada,
tanto pelos setores envolvidos na dilapidação dos recursos naturais para a produção quanto por aqueles
envolvidos nos atuais sistemas de conservação e gestão ambiental (AGENDA 21, 2000; ESTEVES, 1998;
CUNHA e GUERRA, 1996; TUCCI, 2001).
SOLOS DAS ÁREAS SELECIONADAS COM DECLIVIDADE DE 0 A 3%
O processo metodológico utilizando-se o SIG, como ferramenta para seleção de áreas com declividades
nos intervalos 0 a 3%, classes de solos predominantes, suas características físicas e químicas, já promove uma
definição segura das áreas como se verifica nas descrições de Prado (2003), IBGE (1992); e o novo Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos serviu de base para a seleção de áreas com declividade de 0 a 3%.
PONDERAÇÃO DE CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE ÁREAS PROPÍCIAS À AQÜICULTURA
O diagnóstico avaliou por meio do SIG, as áreas potenciais para o aproveitamento no cultivo de
organismos aquáticos, apontadas as vocações e os principais entraves para o desenvolvimento das atividades
aquícolas na bacia do rio Itapecuru.
A disponibilidade de áreas propícias para instalação de projetos de aqüicultura inseridas na bacia do rio
Itapecuru é muito grande, extraídas do cruzamento de mapas geoprocessados que contemplou os seguintes itens:
a) Uso e ocupação da terra, visualizado pela ponderação de classe de uso como agropecuária explorada ou não.
Nesse item foi visualizada toda a extensão com variações de declividade de 0-3%, cujo critério para seleção de
áreas para instalação de projetos é recomendado o intervalo de declividade que varia de 0 até 5%, pressupondose que quanto maior a amplitude de variação de declividade maior o custo e mais limitação quanto à extensão
dos viveiros e adequação do layout de instalação, (BITTENCOURT; TORRES, 1983; PROENÇA;
BITTENCOURT, 1994; ONO; KUBITZA, 2002; WOYNAROVICH; HÓRVAT, 1983).
Nas classes selecionadas nessa área topográfica estão inseridas as áreas com restrições legais que são:
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a) APP - Áreas de Preservação Permanente, constituídas por margens ciliares até 100m, nascentes e áreas
inundáveis anualmente (lagos marginais); APA-Áreas de Preservação Ambiental, constituídas pelo Parque
Estadual do Mirador no alto curso do Rio Itapecuru e do Upaon-Açu/ Miritiba/ Alto Preguiças; Reserva Indígena
Kanela na área mais alta da margem direita do rio Alpercatas; Ferrovias, Rodovias, Linhas de Transmissão e
Áreas restritas (urbanas, entorno dos centros urbanos até 10 Km, praias, restingas e manguezais).
b) Ponderação da disponibilidade de água enquadrada pela resolução CONAMA nº 20/86 (II-1, III-2, VI-5 e
VIII-7) quanto à oferta e distância da fonte abastecedora à área do projeto. Nesse estudo foram considerados os
intervalos com valores úteis a partir de 100m, isso devido à restrição de uso da APP como área de produção só
permitindo sua avaliação para investimentos na aqüicultura as áreas após os 100m da margem de áreas
amparadas pela legislação.
Nas referências bibliográficas realizadas não se constatou a demanda e uso real da água na aqüicultura,
no Brasil, ferramenta indispensável para o planejamento da atividade, principalmente no tocante ao cultivo
sustentável, onde a fonte explorada possa ser utilizada sem que a quantidade e qualidade sejam comprometidas,
principalmente por sua utilização pelas civilizações futuras. A utilização da água doce no Brasil, onde a
aqüicultura fica subentendida como uso agrícola, que para qualquer atividade com chances de visualização de
ascensão não deve passar despercebida ou a atividade é insignificante para constar na estatística ou é tão
desordenada que não consta como atividade econômica dependente dos recursos hídricos.
A composição econômica de projetos passa pelo abastecimento e drenagem, ou seja, pela circulação
diária de volumes determinados pelo sistema de cultivo, portanto as categorias de distância do recurso hídrico ou
fonte de abastecimento é de fundamental importância no seu custo final no transporte de água ao destino (ONO;
e KUBITZA, 2002; PROENÇA; BITTENCOURT, 1994).
• A infra-estrutura constitui um conjunto de classes que envolvem bens físicos como: acesso, oferta de
energia elétrica, existência de apoio e centros consumidores com suas respectivas demandas. Esse item é
superlativo para a instalação de projetos econômicos, principalmente de aqüicultura que exigem essas condições
para seu funcionamento sustentável, assim determinando o local e seu dimensionamento pautado segundo o
mercado. Ao analisar-se esse item detalhadamente, fica implícito que ao se tratar do conjunto de itens que
compõem a infra-estrutura de uma localidade, precisa-se lançar mão de outros dados, que para esse diagnóstico
não foram considerados essenciais como: linhas de crédito, instituições financiadoras, bens sociais, infraestrutura de comercialização nos centros comerciais e segurança para operacionalizar o empreendimento.
A assistência técnica é uma ferramenta a qual o produtor não deve considerar apenas nos momentos de
instalação do projeto, porque a aplicabilidade de tecnologias no andamento do projeto são tão indispensáveis
quanto o layout de instalação, constituindo-se de etapas distintas, mas interdependentes (HUET, 1983).
• Aspecto climático, composto por um conjunto de eventos ecológicos que permitem uma visualização de
oferta de água num determinado ciclo, assim prever sua oferta máxima e escassez. Desses aspectos o de maior
significado para a aqüicultura é a temperatura, que além de determinar o metabolismo da grande maioria dos
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organismos utilizados no cultivo, seleciona espécies por região e estabelece formas de manejo diferenciado para
cada faixa de oscilação (HUET, 1983; KUBITZA, 2000; ONO; KUBITZA, 2002).
SELEÇÃO DE ÁREAS COM DECLIVIDADE DE 0 A 3% ATÉ 10 KM DOS MANANCIAIS
Nessa ponderação de classe de solo quanto à tipologia e adequação para sua utilização na aqüicultura
foram classificadas 9.121,93 km², no mapa final (Figura 2), com os seguintes conceitos:
Excelente, classe de solo com um índice de argila elevado, o Gleissolo cotem teores de argila de alta a
muito alta, somou 86,8 Km² de área, requer moderação pela assistência técnica na seleção do local inserido nessa
classe de solo para evitar instalação de projetos em áreas com teores de argila muito elevados;
•
Muito bom, constituídos por solos de boa capacidade de compactação e retenção de água. É uma
área composta por declividade suave aparecendo elevações fora da declividade em estudo, não figurando no
mapa por serem pequenas em relação à escala usada, exigindo estudos detalhados para seleção final de áreas
para instalação de projetos, essa classe totaliza 3.518,20 Km²;
•
Bom, constituída por solos de classe média a argilosa, apresentando longos trechos com declividade
suave e suporta ótima compactação, totaliza 486,13 Km²;
•
Regular, área com restrição de solo quanto textura grossa e alta porosidade, exigindo uma acurada
análise técnica localizada para determinação de áreas propícias a instalação de projetos de aqüicultura,
totaliza 1.228,30 Km²;
•
Ruim, constituem as áreas com muitas restrições técnicas, apesar de poder ser utilizada na
aqüicultura, sob análise criteriosa encontram-se áreas de deposição, planas e argilosas, com elevados níveis
de saturação de água, mede 2.375,90 Km²;
•
Com limitações técnicas, são áreas contínuas constituídas por variadas declividades, onde se
encontram grandes áreas com solos impermeáveis e de topografia favorável e suportam compactação, muito
bom para instalação de projetos de aqüicultura, mede 1.426,6 Km²;
•
Inapta, Constituídas por areias quartzosas, muito permeáveis e não permitem compactação, medem
333,21 Km².
Apesar da conceituação mais clássica da aqüicultura convencional, há de se convir que nos dias atuais a
tipologia de solos não é fator limitante para a instalação de projetos de aqüicultura, o que limita nesse caso é sua
economicidade. No entanto, da área selecionada, prognosticou-se que a atividade aqüícola atingirá um ótimo
grau de desenvolvimento sustentável com a utilização de 10% desse total.
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Figura 2 – Mapa da bacia do Rio Itapecuru, com demarcação das áreas para a aqüicultura.
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PERSPECTIVAS DA ATIVIDADE
Com o incremento da aqüicultura sustentada na bacia do rio Itapecuru, serão eliminados os
desmatamentos ciliares, haverá um aumento na oferta de alimentos protéicos, aumento da lâmina d’água e maior
exposição para evaporação acrescendo a umidade relativa do ar, mantendo recargas constantes dos mananciais,
minimização dos riscos de queimadas, e um maior nível de inclusão social.
Muito há de ser conquistado para que a sociedade da bacia do rio Itapecuru possa ter dignidade e
respeito na distribuição de bens e direitos, na ocupação humanitária e uso da terra, à exploração racional e
democrática de seus recursos naturais, imputados pelo autoritarismo de sua colonização até hoje.
O cruzamento dos mapas temáticos da área, mostrados no mapa final, demonstraram uma complexidade
exacerbada de ações em toda a bacia hidrográfica, composta por itens satisfatórios aos requisitos básicos para o
implemento da aqüicultura, mas com dispersões relevantes, dessa forma as áreas do alto curso são pequenas não
figurando na escala gráfica admitida nesse trabalho. No médio curso do rio Itapecuru, existem muitas restrições
técnicas principalmente na convergência de várias outras ações promotoras da elevação do custo de produção
como (infra-estrutura, assistência técnica e insumos básicos para a aqüicultura), tornando proibitiva a
implementação de uma aqüicultura que não seja a extensiva ou semi-intensiva. No baixo curso, as áreas
oferecem melhores chances para o sucesso econômico de empreendimentos com menor custo de produção pela
sinergia de ações que promovem o desenvolvimento da atividade com sustentabilidade.
A bacia do rio Itapecuru oferece em toda sua extensão uma imensa área com especial vocação para o
aproveitamento hidroagrícola, onde a aqüicultura é uma atividade que comporta oportunidades de emprego e
renda, aliada à grande necessidade de oferta de proteína para o combate da desnutrição e oportunizar essa
sociedade ao convívio igualitário aos que sobrevivem com dignidade.
A aqüicultura familiar e a associativa são as formas a serem implementada com maiores chances de
sustentabilidade na bacia do rio Itapecuru, pelo fato de reunirem excluídos em torno de uma atividade capaz de
reparar parcela dos danos causados a eles, com o norteamento de políticas capazes de sintonizar ações
sinergéticas da atual realidade da sociedade que nela habita, respeitando a legislação pertinente; aglutinando
chances de atenção pelos programas sociais nos diversos níveis, por fim favorecer a eqüidade espacial, cultural
e, sobretudo acessar essa categoria ao patamar mínimo de justiça social.
Com a instalação de projetos em 10% da área selecionada para aqüicultura, haverá uma produção e
oferta de pescado na ordem de 273.660 t/ano projetando-se uma produção de 3 t.ha/ano.
É de fundamental importância para a vitalidade da bacia do rio Itapecuru a criação de uma reserva
ecológica em toda a bacia do rio Alpercatas pela sua representação do seu aporte fluvial, fragilidade dos solos e
facilidade de implementação de um plano de manejo adequado para sua preservação total ou parcial.
Se constitui em prioridade para a preservação da água na bacia do rio Itapecuru, a efetivação de um
programa de construção de barragens pelo governo do Estado do Maranhão, em toda a bacia, respeitado a
legislação vigente e as peculiaridades locais, aproveitando todas as rodovias como forma de contenção, rios e
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riachos de forma a facilitar o acesso da água à aqüicultura, irrigação, fornecimento de energia elétrica e
dessedentamento de animais de forma sustentável.
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Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina.
Luisa GOUVEIA ([email protected])
DER-Unidade de Biomassa, INETI, Lisboa, Portugal.
Marcelo MARASCHIN ([email protected]); Luis H. BEIRÃO ([email protected])
Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina.
RESUMO
Na Indústria Alimentar, em particular na Indústria Aqüícola, a utilização de corantes tornou-se uma
ferramenta indispensável na conquista de mercado, garantindo uma melhoria no aspecto e no aumento
da aceitação e valor econômico de seus produtos. A associação dos corantes naturais às vantagens
nutricionais e sua obtenção por processos de baixo custo têm reduzido a utilização de pigmentos de
origem sintética na Indústria Alimentar em escala mundial. Desta forma, estudou-se a eficiência de três
métodos de extração de pigmentos carotenoídicos totais e astaxantina das microalgas Chlorella
vulgaris e Haematococcus pluvialis e da levedura Phaffia rhodozyma, potencialmente utilizadas no
arraçoamento de peixes e crustráceos em cativeiro. Dentro das biomassas estudadas, a microalga
Haematococcus pluvialis revelou o maior conteúdo de carotenóides totais (20,79 mg de carotenóides
totais/g célula seca), enquanto a levedura Phaffia rhodozyma, apesar de um menor conteúdo de
pigmentos totais (0,22 mg/g célula seca), apresentou a maior relação entre a concentração de
astaxantina livre e o conteúdo de carotenóides totais (cerca de 87,5% dos carotenóides presentes como
astaxantina livre), quando comparada aos outros microorganismos (Chlorella vulgaris, 13,4%;
Haematococcus pluvialis, 4,7%). A utilização de dimetilsulfóxido DMSO como solvente revelou ser a
melhor estratégia para a extração dos carotenóides dentro dos métodos estudados.
PALAVRAS-CHAVE: aqüicultura, carotenóides, astaxantina.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ABSTRACT
NATURAL SOURCES OF CAROTENOIDS OF INTEREST FOR AQUACULTURE:
COMPARATIVE ANALYSIS OF THE EFFICIENCY OF EXTRATION METHODS
In Food Industry, particularly Aquaculture Industry, the utilization of pigments has been an
indispensable tool to market achievement, assuring an improvement on visual aspects, increase on
acceptability and economic value of its products. The association of natural pigments to nutritional
advantages and its acquisition by low cost processes have decreased the utilization of synthetic
pigments in Food Industry, followed by a worldwide tendency for the reduction in the utilization of
synthetic products on foods. Thus the pigmentation activity and pigment extraction efficiency of
microalgae Chlorella vulgaris and Haematococcus pluvialis and the yeast Phaffia rhodozyma,
potentially used on fish farming, were studied. The microalga Haematococcus pluvialis showed the
highest total pigment content (20.79 mg of total carotenoids per gram of dried cells) while the yeast
Phaffia rhodozyma, although showing the lowest total pigment content (0.22 mg/g dried yeast), showed
the highest free astaxanthin content (87.5%) when compared to the other microorganisms studied
(Chlorella vulgaris, 13.4%; Haematococcus pluvialis, 4.7%). The utilization of DMSO as solvent
showed the highest efficiency on carotenoid extraction.
KEYWORDS: aquaculture, carotenoids, astaxanthin.
INTRODUÇÃO
A aqüicultura é uma atividade em crescente expansão devido ao aumento da população mundial e
ao declínio de fontes pesqueiras naturais, associado ao consumo crescente de pescados em uma dieta
equilibrada e saudável.
Astaxantina é o principal pigmento utilizado na aqüicultura, especialmente na criação de salmões,
trutas e crustáceos. Estes organismos não são capazes de sintetizar carotenóides e, desta forma, estes
pigmentos devem ser adicionados à sua alimentação para viabilizar sua incorporação e deposição na
carne, conferindo a coloração característica da espécie e aumentando sua aceitação e valor de mercado.
A deposição de astaxantina em trutas e salmões é muito mais eficiente, comparativamente a
outros carotenóides, sendo que a maioria dos criadores utiliza astaxantina sintética. Contudo, o custo
deste insumo é elevado, aliado ao fato de que suas formulações podem conter configurações
indesejadas de astaxantina e seus derivados, diminuindo sua eficiência na pigmentação (LATSCHA,
1990 e TORRISEN, 1995). Adicionalmente, observa-se uma tendência mundial à utilização de fontes
naturais de nutrientes e à exclusão de componentes sintéticos da cadeia alimentar. Tais fatores têm
aumentado o interesse em fontes naturais de astaxantina, sendo que diversas empresas têm investindo
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
na obtenção deste pigmento, a partir de fontes naturais (MCCOY, 1999). Atualmente, as fontes naturais
mais promissoras de astaxantina são a microalga Haematococcus pluvialis (GOUVEIA et al., 1996) e a
levedura Phaffia rhodozyma (MORIEL, 2005).
Neste contexto, a necessidade de obtenção de astaxantina a partir de fontes naturais com
elevada produtividade, sustentabilidade e baixo custo, aliado ao uso de processos eficientes de extração
e quantificação daquele carotenóide, vem direcionando pesquisas nesta área, buscando incrementos de
qualidade e redução do custo do pescado produzido em cativeiro. Este trabalho avaliou a eficiência de
três métodos de extração de carotenóides totais e astaxantina, a partir de fontes naturais, a saber, as
microalgas Haematococcus pluvialis e Chlorella vulgaris e a levedura Phaffia rhodozyma.
MATERIAL E MÉTODOS
MICROORGANISMOS
Amostras de biomassas das microalgas Haematococcus pluvialis e Chlorella vulgaris foram
gentilmente cedidas pelo Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI – Portugal).
Para o cultivo dos microrganismos e produção das biomassas de interesse, utilizou-se o protocolo e as
condições experimentais descritas por Gouveia et al. (2006).
A levedura Phaffia rhodozyma (cepa ATCC 24202) utilizada nesse estudo foi cultivada
conforme descrito por (BONFIM, 1999) e cedida pela Universidade Federal do Paraná.
Com o intuito de romper a parede celular e otimizar a extração dos pigmentos de interesse,
amostras (10g – peso seco) das biomassas em estudo foram trituradas em moinho de bolas (NV-TEMA,
Labor-Scheibenschwingmuhle, T100), por 60 segundos. Alíquotas de 100 mg de amostra triturada de
cada microorganismo foram utilizadas, em três experimentos independentes, segundo o protocolo de
extração dos pigmentos carotenoídicos.
EXTRAÇÃO
Três diferentes métodos de extração foram testados:
Método A: a extração e a determinação do conteúdo de carotenóides totais nas amostras em estudo foi
realizada conforme método descrito por Lim et al. (2002), utilizando-se acetona (Merck, p.a.) como
solvente. Sucintamente, a 100 mg de cada amostra foram adicionados 5 mL de acetona. A suspensão
foi homogeneizada em agitador vortex e levada à centrifugação (10 krpm/5min). Os sobrenadantes
foram coletados, seguido da repetição do procedimento descrito até a exaustão da extração dos
pigmentos carotenoídicos, condição esta confirmada através da espectrofotometria de varredura UV-
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Vis (λ = 474 ηm) dos sobrenadantes retirados. Ao final do processo de extração, os sobrenadantes
coletados foram reunidos para efeitos de dosagem do teor de carotenóides totais.
Método AB: A cada 100 mg de amostra, adicionou-se concomitantemente 6 mL de acetona (Merck,
p.a.) e 2 mL de bolas de vidro (Sigma, 425-600 microns), conforme descrito previamente por Goveia et
al. (1996), seguido de agitação (Vortex) por 1 min, com intervalos de repouso em banhos de gelo por
20 minutos. Os sobrenadantes foram coletados, repetindo-se o procedimento de forma a extrair
exaustivamente os pigmentos das biomassas. A confirmação da ausência destes compostos nas
amostras foi realizada através de especfotometria de varredura UV-Vis (λ = 474 nm), considerando-se
finalizado o procedimento quando valores de absorbância inferiores a 0.05 foram obtidos.
Método DMSO: A cada amostra (100mg) foram adicionados 2ml de dimetilsulfóxido (DMSO) (Merck,
p.a.), incubando-se o material em condição de repouso por 30 minutos, a temperatura ambiente, sob
atmosfera de N2, na ausência de luz. Subsequentemente, o material foi centrifugado (3,5 krpm/5 min),
recuperando-se o sobrenadante e repetindo-se o processo de extração com o material precipitado. Aos
sobrenadantes coletados foram adicionados 10 ml de solução de NaCl 20% e éter de petróleo (1:1). A
fase etérea foi coletada e, sob a fase aquosa, 5 mL de éter de petróleo foram adicionados por mais duas
vezes. A fase etérea foi filtrada em suporte contendo Na2SO4 anidro e completada ao volume final de
25ml (adaptado segundo Moriel, 2005). Todas as extrações foram repetidas até que cor da biomassa se
esgotasse nos solventes extratores, conforme descrito acima (Método AB – extração exaustiva). Todos
os experimentos foram realizados em triplicata.
QUANTIFICAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO
Para a quantificação dos carotenóides totais, os valores de absorbância a 477 ηm (métodos A e
AB) e 474 ηm (método DMSO) foram obtidos em espectrofotômetro Shimadzu LC10. Para efeito de
cálculo da concentração de carotenóides totais, utilizou-se a lei de Lambert-Beer para os métodos de
extração A e AB, onde o valor da absortividade aplicado para a acetona foi de 219,8 L/g.cm, sendo o
valor de carotenóides totais expresso em equivalentes de astaxantina. Para o método DMSO, calculouse a concentração de astaxantina a partir de dados da literatura (ANDREWES e STARR, 1976, LIM et
%
al., 2002) , utilizando-se a absortividade específica para as xantofilas a 474 nm, i.e., A 11cm
= 1.600.
Para a identificação dos pigmentos, os extratos foram filtrados (0.22 µm) e injetados (10µL) em
sistema de cromatografia líquida de alta eficiência HP-1100, equipado com coluna C18 de fase reversa
(Vydac 201TP54, 250mm, 4,6 mm ∅), e detector UV-VIS (477 ηm). Metanol:acetonitrila (90:10 v:v)
foi utilizado como fase móvel, em fluxo de 1ml/min. A identidade de astaxantina livre no perfil
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cromatográfico foi confirmada através do tempo de retenção (min) de padrão cromatográfico (1 mg/ml,
SIGMA, St. Louis – USA, 98% de pureza) e para efeitos de cálculo da concentração daquele pigmento,
utilizou-se uma curva-padrão externa (r2 = 0,99), construída a partir da área do pico de interesse (Rt
4,59min), nas condições experimentais acima descritas.
Os dados obtidos foram sumarizados e analisados através do teste t-student (p < 0,05), com o auxílio do
programa Statistica (v. 5.0). Tendo em vista o uso mais freqüente de Haematococcus pluvialis como
suplemento carotenoídico da dieta de peixes e crustáceos cultivados em cativeiro, aquela microalga foi
considerada como testemunha relativa, para efeito de análise estatística referente às biomassas fontes
de carotenóides, enquanto o método A foi utilizado como referência comparativa para os tratamentos de
extração em estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As amostras das microalgas Haematococcus pluvialis e Chlorella vulgaris apresentaram
valores de conteúdos de carotenóides totais superiores, comparativamente ao observado para a levedura
Phaffia rhodozyma, independente do protocolo de extração utilizado. Teores de carotenóides totais
superiores em 16 e 82 ordens de magnitude foram detectados nas amostras de Chlorella vulgaris e
Haematococcus pluvialis, em relação à amostra de P. rhodozyma, para os métodos de extração A e AB
(Figura 1), respectivamente. Tal fato é de interesse, porque indica que o uso de bolas de vidro (Método
AB) e a incubação das amostras em banho de gelo (20 min) não se mostraram vantajosos em relação à
utilização do organosolvente isoladamente (Método A).
O método DMSO, por sua vez, revelou o efeito positivo do pré-tratamento das amostras com
aquele solvente aprótico nas condições experimentais utilizadas.A interação do DMSO com os
componentes de parede celular, corroborando para um relaxamento das estruturas macromoleculares
associadas, é um fator que, em alguma extensão, parece favorecer a extração dos pigmentos
carotenoídicos por organosolventes, i.e., éter de petróleo, conforme observado. De fato, o método
DMSO mostrou-se como o de maior eficiência, independente da espécie fonte de carotenóides.
Adicionalmente, ressalta-se que a associação de DMSO e éter de petróleo: NaCl (1:1) revelou a
existência de concentrações de carotenóides totais altamente significativas (p < 0,01) em H. pluvialis
(28785ug carotenóides totais/g biomassa seca), comparativamente à C. vulgaris (4413ug carotenóides
totais/g biomassa seca) e P. rhodozyma (254ug carotenóides totais/g biomassa seca). Estes resultados
dão suporte à preferência de uso de H. pluvialis como fonte de compostos carotenoídicos em sistemas
intensivos de cultivos de peixes e crustáceos, por exemplo.
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DMSO
H. pluvialis
a B*
P. rhodozyma
bA
Solvente AB
cB
aA
H. pluvialis
P. rhodozyma
bA
C. vulgaris
Solvente A
Protocolo de extração
C. vulgaris
cB
aA
H. pluvialis
P. rhodozyma
bA
cA
C. vulgaris
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
m icrogram as carotenóides totais/g biom assa seca
Figura 1 - Conteúdo de carotenóides totais (equivalentes de astaxantina) das microalgas Chlorella
vulgaris e Haematococcus pluvialis e da levedura Phaffia rhodozyma, segundo o método de
extração utilizado (A, AB e DMSO). Valores médios de três experimentos independentes (*tstudent, p< 0,05), segundo a espécie fonte de carotenóides em estudo. Médias seguidas pela
mesma letra minúscula não diferem entre si (p< 0,05), segundo a fonte de carotenóides. Valores
médios não diferem entre si (p < 0,05) para os métodos de extração, quando acompanhados pela
mesma letra maiúscula.
A Figura 2 ilustra as distintas colorações das biomassas em estudo, previamente à extração dos
pigmentos carotenoídicos.
(a)
(b)
(c)
Figura 2 - Amostras de biomassas liofilizadas dos microorganismos em estudo (a) Chlorella
vulgaris, (b) Phaffia rhodozyma e (c) Haematococcus pluvialis, previamente à extração dos
pigmentos carotenoídicos.
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As análises por cromatografia líquida revelaram a eficiência na extração de astaxantina livre (Rt =
4.59min) em relação aos outros carotenóides, nomeadamente sobre o β-caroteno, equinenona. As
amostras de Haematococcus pluvialis apresentaram concentrações de astaxantina livre de 2,6%, 1,7% e
4,7%, em relação ao conteúdo de carotenóides totais, com a utilização dos métodos A, AB e DMSO,
respectivamente. De forma similar ao observado para a extração de carotenóides totais, o método
DMSO evidenciou um rendimento superior (p < 0,05) à obtenção de astaxantina livre em relação aos
demais tratamentos em estudo.
Para a microalga Chlorella vulgaris, valores de concentração de astaxantina livre de 13,1%
(método A), 13,16% (método AB) e 13,4% (método DMSO) foram observados em relação ao conteúdo
de carotenóides totais, indicando que os três métodos apresentaram a mesma eficiência na extração
daquele carotenóide em sua forma livre. No entanto, conteúdos de astaxantina livre de 87,5%, 52,7% e
16,2% foram observados para os solventes A, AB e DMSO, respectivamente, para Phaffia rhodozyma.
Este resultado é de interesse, uma vez que revela claramente a necessidade da escolha correta do(s)
solvente(s) na definição de métodos extratores de alta eficiência. Dadas as características estruturais da
parede celular de Phaffia rhodozyma (BONFIM, 1999), é instigante especular que o efeito da acetona
foi mais efetivo em relação aos demais agentes extratores utilizados, no que concerne a uma maior
permeabilização daquele componente celular, viabilizando um maior rendimento de extração de
astaxantina livre, portanto.
Em resumo, os resultados demonstraram que para Haematococcus pluvialis e Chlorella vulgaris o
método DMSO foi o mais eficiente à extração de astaxantina livre (p < 0,05). De forma contrária, para
as amostras da levedura Phaffia rhodozyma, o método A mostrou-se mais seletivo à extração de
astaxantina livre. Em função disto, recomenda-se a determinação prévia da eficiência de sistemas
extratores, quando se objetiva alcançar altos rendimentos e seletividade na obtenção dos pigmentos de
interesse, haja vista a aparente especificade de ação destes, segundo a fonte de carotenóides em estudo.
Tal abordagem é de interesse tecnológico dado ao alto valor agregado dos pigmentos carotenoídicos à
atividade aquícola e à saúde humana, bem como em processos de identificação e avaliação do potencial
de novas fontes daqueles metabólitos secundários.
As microalgas em estudo apresentaram conteúdos altamente significativos (p < 0,01) de
astaxantina livre em relação à levedura Phaffia rhodozyma, independentemente do solvente extrator
utilizado (Figura 3). De forma interessante, destaca-se a similaridade de valores de conteúdo daquele
pigmento nas amostras de microalgas observada para o método de extração AB, indicando claramente o
efeito do sistema extrator sobre os resultados de rendimento do pigmento de interesse, a despeito das
diferenças genéticas e bioquímicas (i.e., potencial produtivo intrínseco de cada genótipo) e de
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tecnologia de produção das biomassas (i.e., sistemas de cultivo e manejo) entre aquelas amostras. Este
resultado reforça a necessidade de definição de sistemas extratores adequados, de baixo custo e de alto
rendimento, em processos produtivos de compostos de alto valor agregado e de reconhecida
importância tecnológica nas áreas da aqüicultura e da nutrição e saúde humana.
DMSO
H. pluvialis
a A*
P. rhodozyma
bB
Solvente AB
cC
aB
H. pluvialis
P. rhodozyma
bA
C. vulgaris
Solvente A
Protocolo de extração
C. vulgaris
aB
H. pluvialis
aA
P. rhodozyma
bA
C. vulgaris
cA
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
m icrogram a astaxantina livre⁄g biom assa seca
Figura 3 - Conteúdo de astaxantina livre de amostras de biomassas de microalgas Chlorella
vulgaris e Haematococcus pluvialis e de levedura Phaffia rhodozyma, segundo o método de
extração DMSO, AB e A. Valores médios de três experimentos independentes (*t-student, p<
0,05), segundo a espécie fonte de carotenóides em estudo. Médias seguidas pela mesma letra
minúscula não diferem entre si (p< 0,05), segundo a fonte de carotenóides. Valores médios não
diferem entre si (p < 0,05) para os métodos de extração, quando acompanhados pela mesma
letra maiúscula.
Na análise dos resultados obtidos, é de interesse considerar que as discrepâncias observadas nos
valores de concentração dos pigmentos carotenoídicos para os tratamentos em estudo podem estar
relacionadas, em alguma extensão, à ligação destes compostos a macromoléculas tais como proteínas
protoplasmáticas e polissacarídeos (CREMADES et al., 2003; VELU, 2003) nas amostras, dificultando
sua extração. Além disto, a degradação enzimática dos compostos carotenoídicos pode ser observada
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
no decorrer da etapa de moagem das amostras, ainda que o efeito deste processo possa ser inibido com
a utilização de agentes antioxidantes e/ou inibidores enzimáticos.
O protocolo que considera o pré-tratamento das amostras via adição de DMSO mostrou-se o mais
eficiente para as amostras de microalgas, explicado pelo fato de que aquele solvente aprótico promove
o inchamento das células dos microorganismos em estudo, favorecendo a extração dos carotenóides
com solventes orgânicos subseqüentemente (ANDREWES; STARR,. 1976) (Figura 1). No que
concerne aos resultados obtidos para Phaffia rodozyma, entretanto, tal fato não foi observado,
ressaltando-se que esta levedura apresenta uma parede celular de espessura bastante proeminente, o que
dificulta sobremaneira a extração dos pigmentos em análise (BONFIM, 1999).
Outros métodos de extração vêm sendo estudados, com o intuito de maximizar a extração dos
carotenóides para posterior emprego alimentos, como é o caso do uso extração supercrítica associada
ou não ao óleo de soja usado para a extração de carotenóides das microalgas Chlorella vulgaris e
Haematococcus pluvialis (GOUVEIA et al., 2007; NOBRE et al., 2006)
Em estudo recente Nobre, et al., (2006), verificou que a extração de carotenóides de
Haematococcus pluvialis com o uso do método AB mostrou resultados similares ao observado no
presente trabalho para o conteúdo de carotenóides totais. No entanto, o método DMSO realizado neste
estudo proporcionou ainda maiores percentagens de extração, cerca de 59,2% de carotenóides totais
extraídos da microalga Haematococcus pluvialis.
Em outro estudo, Gouveia et al. (2006) apresenta concentrações na ordem de 4mg/g de
carotenóides totais na microalga Chlorella vulgaris, um valor bastante próximo aos resultados
encontrados dentro dos três métodos estudados: 4,4mg/g para o método DMSO, 3,4 mg/g para o
método AB, e 3,8mg/g para o método A.
PASSOS et al. (2006) recentemente publicaram um estudo onde se verificou a extração de
astaxantina por extração supercrítica e organosolventes na levedura Phaffia rhodozyma. Os autores
concluíram que a biomassa moída em moinhos de bola e extraída com acetona apresentava o maior
rendimento dentro das técnicas estudadas.
Adicionalmente, a extração supercrítica mostrou ter um rendimento em torno de 75% comparada
com a extração com acetona. A extração supercrítica mostra-se ser uma alternativa eficaz, e de alta
qualidade, uma vez que esta proporciona seus extratos de forma limpa, sem resíduos de solventes
orgânicos.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
CONCLUSÕES
Independentemente do método de extração escolhido, a microalga Haematococcus pluvialis
parece ser a biomassa de escolha no que concerne à quantidade de carotenóides totais, assim como de
astaxantina livre.
Entre os métodos de extração estudados, o método DMSO mostra ser de maior eficiência para a
obtenção de carotenóides totais e astaxantina livre. Contudo, devido à alta toxicidade inerente aquele
composto, este método deve ser reservado apenas para a quantificação em laboratório.
Sugere-se para estudos futuros uma análise detalhada sobre a facilidade em obtenção das três
biomassas em análise e a sua produção de carotenóides em larga escala, com a finalidade de se obter a
melhor relação custo-benefício entre os métodos e fontes de carotenóides estudadas.
AGRADECIMENTOS
A Professora Dra. Tânia Bonfim por ter cedido a levedura Phaffia rhodozyma para este estudo.
A CAPES pela Bolsa de Estudos de Renata dos Passos e de Danilo G. Moriel
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partir de meios de cultura de baixo custo. Tese (Doutorado em Bioquímica) - Setor de Ciências
Biológicas, Universidade Federal do Paraná (UFPR). Curitiba, 1999. 159p.
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clarkii). Food Chemistry, v. 82, p. 559 –566, 2003.
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Physiology, Part B. v. 135, p. 35-42, 2003.D
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
UTILIZAÇÃO DA MACRÓFITA AQUÁTICA Egeria densa PLANCHON, 1849
(HYDROCHARITACEA) NA PRODUÇÃO DE TIJOLOS PARA CONSTRUÇÃO
CIVIL
Thales Pacífico BEZERRA ([email protected]); Cristiano Pereira da SILVA
([email protected]); José Patrocínio LOPES ( [email protected]).
Departamento de Educação, Universidade do Estado da Bahia.
RESUMO
Nos reservatórios do rio São Francisco, um fato novo vem ocorrendo desde 1998 com o
aproveitamento das águas desses reservatórios, gerando também uma nova fonte de renda para a região,
através de cultivos de tilápias em tanques-rede. Esta nova atividade econômica praticada nos
reservatórios da Companhia Hidroelétrica do São Francisco é de fundamental importância para o
desenvolvimento regional, porém precisa-se ter o cuidado necessário para que não venha contribuir
com maior intensidade no processo de eutrofização das águas e conseqüente proliferação de macrófitas
aquáticas, administrando-se rações com baixo potencial poluente e com altos índices de conversão
alimentar. Este trabalho busca otimizar a utilização de biomassa de macrófitas aquáticas na produção
de tijolos ecológicos tipo adobe (tijolos de barro cru, secos ao sol). Desta forma, a macrófita pode se
utilizada para construções de habitações de baixo custo, já que o tijolo de adobe é usado desde os
tempos mais remotos com esta finalidade. Por outro lado, busca-se uma solução para o bloom da
macrófita Egeria densa nos reservatórios das usinas hidroelétricas que vem ocasionando problemas
para CHESF, através da eutrofização dos reservatórios. O trabalho foi realizado na Estação Piscicultura
de Paulo Afonso, com objetivo de testar a utilização da E. densa para confecção de tijolos artesanais.
As porcentagens de biomassa adicionada à argila para elaboração dos tijolos foram: 1%, 2% e 5%
visando verificar o melhor percentual da macrófita, para utilização aglutinante na confecção dos tijolos.
Com o acréscimo da fibra da macrófita em quantidade certa (5%) e contrastando-se com a estrutura de
um tijolo normal de adobe sem macrófitas verifica-se neste último, mais fissuras do que um tijolo de
adobe inoculado por esta biomassa vegetal e que nos testes de resistência apresentou melhores
resultados.
Palavras-chaves: Tijolo de adobe, macrófitas aquáticas, manejo de lagos
114
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ABSTRACT
USE OF MACROPHYTE Egeria dense PLANCHON, 1849 (HYDROCHARITACEA) IN THE
PRODUCTION OF BRICKS AS ALTERNATIVE FOR CIVIL BUILDING
In the reservoirs of river San Francisco, a new fact is happening since 1998 with the use of the waters
of those reservoirs, also generating a new source of income for the area, through tilapias cultivations in
tank-net. This new economical activity practiced in the reservoirs of the Hydro Electric Company of
San Francisco, it is of fundamental importance for the regional development, however needs to be the
necessary careful so that it doesn't come to contribute with larger intensity in the process of
eutrofization of the waters and consequent proliferation of aquatic macrophytes, being administered
rations with pollutant potential bass and with high indexes of alimentary conversion. This work search
to optimize the use of biomass of aquatic macrophytes in the production of bricks ecological type it
marinates (bricks of raw mud, dry in the sun), like this looking for a solution to the bloom of the
macrophytes Egeria densa in the reservoirs of the hydroelectric plants that it is causing problems for
CHESF, through the eutrofization of the reservoirs. The work was accomplished handmade in Paulo
Afonso's fish culture, belonging CHESF. The experiment consisted of the use of E. densa for making
of craft bricks. The biomass percentages added to the clay for elaboration of the bricks were: 1%, 2%
and 5% seeking to prove the percentile necessary of these macrophytes as agglutinant in the making of
the bricks. And its has as goal also of suggesting the use of this material for constructions of low cost
houses, since the adobe brick is used since the most remote times with this purpose. With the increment
of the fiber of the macrophytes in right amount (5%) and being contrasted with the structure of a
normal brick of adobe without macrophytes is verified in this last, more fissures than an adobe brick
inoculated by this vegetable biomass and that in the resistance tests presented better results.
KEYWORDS: adobe brick, aquatic macrophytes, handling of lakes
INTRODUÇÃO
Com os represamentos dos trechos encachoeirados do submédio São Francisco, visando a
produção energia hidrelétrica, possibilitou a formação de grandes lagos artificiais, com amplas
possibilidades de também serem explorados economicamente por meio de uma piscicultura racional em
gaiolas flutuantes (TENÓRIO et al., 1999).
Com a formação dos reservatórios, a colonização das áreas adjacentes vem crescendo a um
ritmo acelerado, provocando muitas vezes a derrubada da vegetação ciliar das margens do rio São
Francisco, que pouco ou nada sobrou. A vegetação existente hoje em suas bordas e ilhas é
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
inexpressiva e não possui significado fitofisionômico, já que a influência antrópica foi marcante e
arrasadora (HIDROSERVICE, 1987).
O nitrogênio e o fósforo são os nutrientes mais limitantes à produtividade primária (produção de
fitoplâncton e plantas aquáticas) em ambientes aquáticos naturais (KUBITZA, 1999). Os resíduos e
excrementos lançados na água tendem a acumular-se em algum ponto do reservatório levados pelas
águas, podendo causar impactos ambientais indesejáveis, como por exemplo, a proliferação excessiva
da Egeria densa, uma macrófita aquática submersa que pode se proliferar a profundidades de até 9 m e
que hoje já é problema nos reservatórios Moxotó/PA IV e Delmiro Gouveia. Segundo Canfield et al.
(1984), quando em excesso as macrófitas aquáticas interferem na produtividade planctônica, na
qualidade da água e na atividade da pesca. O controle pode ser efetivado através de métodos
mecânicos, químicos e biológicos (NAGLE, 1980; SUMMERFELT, 1993; BETOLLI et al., 1993,
apud AGOSTINHO e GOMES, 1997).
Normalmente, constroem-se diques que represam o curso da água, acumulando-a num
reservatório a que se chama barragem. Esse tipo de usina hidráulica é denominado Usina com
Reservatório de Acumulação. Em outros casos, existem diques que não param o curso natural da água,
mas obrigam a passar pela turbina de forma a produzir eletricidade, denominando-se usinas a fio de
água (MÜLLER, 1995). A construção de barragens, transformando rios em grandes bacias e
reservatórios, traz grande desenvolvimento às regiões, tornando uma tendência natural o grande
crescimento demográfico destas regiões, que quase sempre se encontram desprovidas de infraestruturas específicas no que se refere à saúde dos ecossistemas. Considerando esta nova condição de
maior consumo de água e também em maiores proporções a produção e destino de esgotos que nada
mais é que o despejo de águas servidas associadas ao carregamento de nutrientes, diretamente para o
leito dos rios, através do aporte dos dejetos domésticos e industriais, grande parte sem tratamento, tem
levado a uma condição de desequilíbrio no sistema hídrico, caracterizado pela grande disponibilidade
de nutrientes acumulada diariamente.
Atualmente esse processo é considerado por especialistas de todo o país como uma das patologias
de mais influência em toda a bacia hidrográfica brasileira. Sendo denominado e conhecido como
eutrofização, que se estabelece devido à grande concentração de algas e vegetação aquática,
alimentando-se destes nutrientes, acarretando o aumento da produtividade biológica destas espécies,
baixando as taxas de oxigenação e ocasionando problemas que vão desde a estética até o
comprometimento da possível utilização da água. Grande parte dos reservatórios da região é colonizada
por macrófitas aquáticas, e entre elas a elódea Egeria densa uma espécie exótica que vem
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
caracterizando-se como uma espécie daninha no ecossistema aquático, causando problemas
operacionais e de usos múltiplos em decorrência do desenvolvimento excessivo, formando verdadeiros
prados de macrófitas nas margens e em profundidades superiores a oito metros.
As plantas aquáticas submersas estão entre os mais sérios problemas dos ecossistemas aquáticos,
tendo em vista que elas não podem ser controladas com uso de herbicidas e dificilmente eliminadas via
extração mecânica. Elas invadem rapidamente novos locais devido a sua reprodução vegetativa por
sementes, dispersando-se cada vez mais catastroficamente em vários tipos de ecossistemas (LANGE,
1996). Desta forma, este trabalho objetiva descrever uma forma de utilização de E. densa
(Hydrocharitacea), que hoje se encontra em grande densidade nas bacias do Complexo Hidrelétrico de
Paulo Afonso (CHPA), causando grandes prejuízos a este Complexo, inclusive no inverno com
aumento e superpopulação destas plantas, que atingem principalmente as zonas periféricas à montantes
das barragens, comportas e turbinas em detrimento da a produção de energia elétrica (Figura 1).
15 0
14 0
13 0
12 0
Volume em M3
11 0
10 0
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
JAN
FEV
MAR
ABR
MAIO
JUN
JU L
AGO
SET
OUT
NOV
D EZ
Mês
Figura 1 - Volume de macrófitas de retiradas no reservatório Delmiro Gouveia,
apresentando pico no período de inverno (março a junho) de 1996 (Fonte: Lopes, 2002).
A distribuição das espécies no ambiente aquático é variável, e dependendo do grau da adaptação
da espécie, ela habita regiões mais rasas ou mais profundas. Elas estão presentes em todos os
ecossistemas aquáticos, variando somente a composição entre si. Normalmente, as plantas aquáticas
têm uma distribuição mais ampla do que a maioria das plantas terrestres; isto é decorrente da pequena
variação sofrida pelos fatores do ambiente aquático, o que confere às macrófitas aquáticas uma ampla
distribuição fitogeográfica, possibilitando o aparecimento de muitas espécies cosmopolitas (IRGANG;
GASTAL Jr, 1996).
O controle mecânico utilizando embarcações apropriadas, visando a retirada da biomassa do
corpo hídrico, é uma das alternativas a serem consideradas. Embora este método apresente algumas
117
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
vantagens, como ação de modo pontual nas áreas infestadas e não-contaminação do ambiente com
compostos químicos e tóxicos, existe a preocupação em relação ao material coletado a ser descartado,
haja vista a grande quantidade de biomassa envolvida nesse processo e enfim tentar destinar e
desenvolver um valor agregado a este material.
A expansão das populações de E. densa nos
reservatórios do CHPA vem acarretando inúmeros transtornos operacionais, aumentando a
preocupação do setor de geração de energia elétrica.
A capacidade de produção de biomassa e regeneração dos prados de E. densa já é avaliada nos
reservatórios de Paulo Afonso. Isto indica o grande potencial de produção de biomassa destes prados e
a rapidez com que estes se recompõem, mostrando a dificuldade permanente do seu controle nos
reservatórios, por isso a grande preocupação para uma objetivação nos processos de manejos desta
macrófita (FADURPE, 2002). O objetivo deste trabalho foi avaliar o potencial de Egeria densa,
principal planta aquática que gera grande problema nos reservatórios hidrelétricos e com precisão nos
do CHPA no que se refere à geração de energia, visando o estabelecimento de programas de controle
mecânico e usual, com finalidade da utilização deste material coletado como alternativa de fabricação
de tijolos ecológicos e de baixo custo na região.
Este tema envolve diversos profissionais em áreas da engenharia e outros profissionais que
trabalham com manejo de reservatórios. O produto final (tijolos) também deve auxiliar principalmente
no estabelecimento de novos programas biológicos de controle podendo ser utilizado na construção
civil atendendo a programas de construção de casas populares ou outras obras como da engenharia para
aqüicultura quando de sua utilização na construção de caixas de coletas de tanques e viveiros ou
mesmo como forro de taludes destes ambientes, sendo necessária a impermeabilização a base de terracimento conforme utilizado tradicionalmente na construção civil.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado na Estação Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA), pertencente à
Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF). A matéria-prima (elódea) foi colhida no lago o
Boi e a Sucuri que faz parte dos lagos do CHPA. A argila foi doada pela Cerâmica São Francisco de
Paulo Afonso. O experimento consistiu na utilização da Elódea, Egeria densa, misturada a argila, para
confecção de tijolos artesanais. Na fabricação, serão acrescentadas porcentagens diferentes desta
macrófita junto com a argila para se ter o conhecimento com qual porcentagem se chegará a um tijolo
ecológico de melhor resistência e de uma boa qualidade. As porcentagens de biomassa seca
adicionadas a argila para a elaboração dos tijolos foram 1%, 2% e 5% para se ter uma melhor
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
comprovação das propriedades compactantes da elódea e desta forma saber que quantidade será
adotada para a confecção dos tijolos.
O primeiro passo foi coletar o material no lago o Boi e a Sucuri, colonizado por esta macrófita e
em seguida colocar para secagem adquirindo a fibra seca e em ponto de ser agregada ao produto (tijolo
de adobe). As características dos ensaios mecânicos dos tijolos foram realizadas com adaptações
relativas à produção dos tijolos maciços. Desta forma, por se tratar da pouca existência de material que
descreva os métodos de ensaios, normas e especificações e características de procedimentos nacionais,
foi optado pelo processo artesanal para poder melhor especificar o detalhamento dos testes, mostrando
todas as etapas de realização do processo diante das dificuldades encontradas nesta fase de experiência
da produção.
MATERIAL E MÉTODOS
A MACRÓFITA
Egeria densa é classificada em função de sua instalação ao ecossistema aquático e seu grau de
povoamento em relação ao nível de água, como uma macrófita submersa (Figura 2), é conhecida
vulgarmente
como
elódea
e
está
incluída
na
relação
das
monocotiledôneas
aquáticas.
Taxonomicamente está enquadrada da seguinte maneira: Classe Monocotiledônea; Ordem Heloliae;
Família Hydrocharitacea; Gênero Egeria e Espécie Egeria densa Planchon, 1849
A coleta realizou-se no período da manhã para aproveitar
a boa visibilidade da água em dia de sol forte na região do lago o
Boi e a Sucuri, na zona central de Paulo Afonso. Colheu-se um
volume aproximado de 20 kg, sendo quantidade de macrófitas
suficiente para as devidas etapas do experimento. Após a coleta,
as plantas foram devidamente acondicionadas em sacos
plásticos, e levadas para a EPPA e espalhadas ao sol por 48
horas para perda do excesso de umidade (87%), tornando a
Figura 2 - Elódea Egeria densa
planta seca sem se tornar quebradiça. Após a secagem da
(Fonte: Lopes, 2002)
macrófita e adquirida a fibra propriamente dita, foi iniciado o processo de pesagem que ocorreu no
sentido de separar em embalagens plásticas com os respectivos volumes do percentual estipulado para
cada amostra dos tratamentos. Assim, foram selecionados 10 volumes com 20 g equivalentes as
amostras de 1%; 10 volumes com 40 g equivalentes as amostras de 2% e 10 volumes com 100 g
equivalentes as amostras de 5% de E. densa. O percentual foi baseado no peso total de tijolos utilizados
na região (2 kg).
119
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
A ARGILA
Encontrada abundantemente na natureza a argila é de fácil manipulação, tem uma enorme
elasticidade permitindo trabalhos com diversidade e é totalmente reciclável. A argila tem em comum
componentes de lamas e solos sendo constituída, principalmente de minerais do grupo das argilas aos
quais agregam-se hidróxidos coloidais floculados e diversos outros componentes, cristalinos ou
amorfos. Trata-se de material natural, de textura terrosa, de granulações finas, constituídas
essencialmente de argilominerais, podendo conter outros minerais que não são argilominerais (quartzo,
mica, pirita, hematita, etc), matéria orgânica e outras impurezas. Os argilominerais são os minerais
característicos das argilas; quimicamente são silicatos de alumínio ou magnésio hidratados, contendo
em certos tipos outros elementos como ferro, potássio, lítio, etc.
Graças aos argilominerais, as argilas na presença de água desenvolvem uma série de propriedades
tais como: plasticidade, resistência mecânica a úmido, retração linear de secagem, compactação,
tixotropia e viscosidade de suspensões aquosas que explicam sua grande variedade de aplicações
tecnológicas. Os principais grupos de argilominerais são caulinita, ilita e esmectitas ou montmorilonita.
Em função principalmente das possibilidades de emprego tecnológico, que são influenciadas pela
gênese e pela composição mineralógica do material, em muitos casos as argilas recebem designações
como: caulins, bentonitas, argilas refratárias, flint-clays e ball clays.
SELEÇÃO E COLETA DA ARGILA
O solo escolhido partiu de uma amostra selecionada pela Empresa Cerâmica São Francisco,
mediante processo de produção adotado por essa Empresa, localizada na cidade de Paulo Afonso que
cedeu este material para realização desta pesquisa. O material foi previamente colhido na jazida da
localidade do povoado Rio de Sal, que apresenta uma argila com um excelente fator ligante.
PRODUÇÃO DE TIJOLOS
Os tijolos foram produzidos manualmente na área externa da EPPA, onde as etapas de produção
dos tijolos maciços exigiram bastante mão-de-obra. Esta pesquisa de utilização de macrófitas aquáticas
na fabricação de tijolos de adobe consistiu em três tratamentos (T1, T2 e T3) com 10 repetições cada.
Foi utilizado um modelo de “forma” ou gabarito de tijolo maciço, comum, utilizado e produzido nesta
região, aonde as dimensões adotadas para confecção dos tijolos são: 8cm x 12cm x 25cm. Assim, cada
amostra do tijolo necessariamente estará pesando 2 kg, que é o peso referente a esse tamanho de tijolo
adotado na construção civil local. Para se início da construção dos tijolos é necessário o amassamento e
descanso da argila. Segundo Minke (2000), é necessário o amassamento do barro (mistura de solo,
biomassa e água), para melhor homogeneização da umidade e absorção, sendo necessário o descanso
120
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
do barro por média de 48 horas, antes da moldagem dos tijolos. Trata-se de um processo vigoroso e
repetitivo para a boa qualidade da mistura do aglomerante ao aglomerado. Com isso adquirir o melhor
ponto de liga do material composto. O ideal seria que o solo passasse por uma peneira grossa para o seu
melhor “destorroamento” e mistura para homogeneização do mesmo, logo esse procedimento foi
desprezado devido o material já tinha sido adquirido com um grande teor de umidade e seu composto
apresentava-se muito argiloso.
Esse processo de amassamento teve toda execução manual por meio artesanal e rústico. Logo
com o tempo de descanso do material concluído, observou-se o ponto de umidade do material. Assim,
foi dado início a distribuição das partículas e medição dos volumes disponíveis de cada amostra. Onde
foram separados os volumes respectivos de cada amostra de percentual determinado por tratamento.
Para o tratamento 1 (T1) 1% de Egeria adicionado a argila. Para o tratamento 2 (T2) 2% Egeria
adicionado a argila e para o tratamento 3 (T3) 5% da macrófita fenada para inoculação na argila e
confecção dos tijolos de adobe. Todos os três tratamentos tiveram 10 repetições.
A moldagem consistiu em produzir uma amostragem com 10 peças de tijolos de adobe com
peso de 2 kg de cada série. Logo foi feito o processo de pesagem volumétrica das amostras usando
uma balança mecânica. Com o material já em ponto de boa mistura, onde a biomassa foi devidamente
incorporada à argila para imediatamente colocá-la nas formas para tijolos. O ponto de boa mistura foi
identificado visualmente. Antes da utilização das formas, estas se mantiveram dentro de tanques com
água para manter-se úmida e facilitar a rápida desmoldagem das peças. Esse processo é bastante
rápido, pois a partir do ponto de homogeneização de mistura o material é rapidamente lançado nas
formas e em seguida depois de 10 minutos já é feita a desmoldagem, com isso torna-se um processo
repetitivo de operação de: mistura, homogeneização, moldagem e desmoldagem.
CARACTERIZAÇÃO DO ENSAIO
Depois de confeccionados os tijolos com o intuito testar capacidade de resistência dos mesmos,
foram enviadas três amostras de cada ensaio e uma amostra de tijolos confeccionados somente com
argila, sem acréscimo da macrófita a sua constituição.
Estas amostras foram encaminhadas ao Laboratório de Pesquisas de Estruturas e Materiais
(LEMA) do NPT do Núcleo de Pesquisas Tecnológicas (NPT) da Universidade Federal de Alagoas
(UFAL), Maceió-AL, para os ensaios de resistência à compressão de corpos-de-prova cilíndricos de
concreto, blocos (cerâmicos e de concreto) e prismas (de blocos cerâmicos de concreto). As amostras
encaminhadas ao laboratório caracterizam-se por quatro amostragens de tijolos maciços. Os ensaios
foram realizados com base nos métodos de ensaios recomendados pelas normas da Associação
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): NBR 8492/81 – tijolo maciço de solo – cimento –
Determinação da resistência à compressão da absorção d’água – Método de Ensaio e NBR 7170 Tijolo
maciço para alvenaria.
RESULTADOS
Em exame visual verificou-se que os tijolos (T1), que foi adicionado 1% de biomassa à argila,
foram encontrados nas dez amostras confeccionadas oito blocos que apresentaram fissuras. No
experimento (T2), com 2% de biomassa adicionada à argila, dos dez blocos, cinco (50%)
apresentaram fissuras. Nos blocos com 5% de biomassa misturada à argila somente em dois blocos
(20%) foram encontradas fissuras, o que já demonstra que os tijolos com cinco por cento de
macrófitas misturada à argila apresentam melhor resistência (Figura.3).
Figura 3 - Tijolos com 1, 2 e 5% de Egeria densa em sua composição.
A tabela 1 apresenta os resultados de resistência da amostra testemunha (tijolos de barro sem
macrófitas).
Tabela 1. Resistência em tijolos de barro sem inóculo da macrófita aquática Egeria densa
ENSAIO
DIMENSÕES (mm)
14/03/06
COMP.
LARG.
LOTE
BLOCO Nº
0
01
14/03/06
111
108
22072
1,8
0
02
14/03/06
111
108
17413
1,5
0
03
14/03/06
111
108
22072
1,8
MÉDIA
CARGA (N) TENSÃO (MPA)
1,7
122
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
A tabela 2 apresenta os resultados de resistência em tijolos de barro com inóculo de 1% de E.
densa.
Tabela 2. Resistência em tijolos de adobe com inóculo de 1% da macrófita aquática Egeria densa
ENSAIO DIMENSÕES (mm)
LOTE
BLOCO Nº
1
1
CARGA (N)
TENSÃO (MPA)
103
24525
2,1
101
24525
2,2
14/03/06
COMP.
LARG.
01
14/03/06
111
02
14/03/06
111
MÉDIA
2,2
A tabela 3 apresenta os resultados de resistência em tijolos com inóculo de 2% de E. densa.
Tabela 3. Resistência em tijolos de adobe com inóculo de 2% da macrófita aquática Egeria densa
ENSAIO DIMENSÕES (mm)
LOTE
BLOCO Nº
2
CARGA (N)
TENSÃO (MPA)
104
27959
2,5
108
100
26978
2,5
107
100
24525
2,3
14/03/06
COMP.
LARG.
01
14/03/06
109
2
02
14/03/06
2
03
14/03/06
MÉDIA
2,4
A tabela 4 apresenta os resultados de resistência em tijolos com inóculo, 5% de E. densa.
Tabela 4 - Resultados de resistência em tijolos de adobe com inóculo de 5% da
macrófita aquática Egeria densa
ENSAIO
DIMENSÕES (mm)
14/03/06
COMP.
01
14/03/06
5
02
5
03
LOTE
BLOCO Nº
5
LARG.
CARGA
(N)
TENSÃO (MPA)
107
105
22073
2,0
14/03/06
108
102
27713
2,5
14/03/06
107
105
25751
2,9
MÉDIA
2,5
Diante os resultados, observa-se que a inoculação de 5% de fibra de E. densa à argila, para
confecção de tijolos de adobe, apresentou menos fissuras e maior resistência que os demais (Figura
4).
123
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Figura 4 - Tijolos com inóculos de 5% de Egeria densa
DISCUSSÃO
Segundo Margalef (1986) apud Vega (1997), “Comunidades de macrófitas que formam grandes
ilhas impossibilitando a passagem total da luz pode acarretar a diminuição de 3 a 6 oC na temperatura
em camadas inferiores da água, que por sua vez pode modificar totalmente o ecossistema subaquático”.
Macrófitas aquáticas em excesso nos lagos e reservatórios, e principalmente próximos a capitação de
água para abastecimento em piscicultura, podem proporcionar sérios problemas no cultivo de peixes,
pelo acúmulo de matéria orgânica, deixando a água imprópria para esta finalidade. Como exemplo real,
podemos citar o lago do Cemitério em Paulo Afonso, que face ao excesso de macrófitas aquáticas,
ficou impróprio para o abastecimento de água na Estação de Piscicultura da CHESF, sendo necessário a
transferência da captação d’água para o reservatório de Moxotó. Existem plantas aquáticas que
constituem um substrato ideal para proliferação de insetos (culicideos), moluscos e outras comunidades
transmissoras de enfermidades relacionadas com as represas (VEGA, 1997).
A grande discussão deste trabalho está ao redor de um questionamento a respeito dos tijolos
de adobe confeccionados da forma que este trabalho se propõe com a introdução de Egeria densa
uma macrófita, recolhida nos reservatórios da CHESF, na cidade de Paulo Afonso - Bahia. Estes
tipos de tijolos não são levados ao forno para queimar e sim deixados para secar normalmente o que
permite uma discussão em relação a sua resistência.
Ressalta-se que, ao longo do tempo, vários países, inclusive o Brasil e precisamente na
região Nordeste, esta prática ainda é comum. No Estado do Piauí comunidades carentes fabricam
seus tijolos de adobe geralmente as margens de reservatórios hidrelétricos. Estes secam ao sol e
após, são utilizados diretamente na construção de suas casas sem necessidade de serem assados ao
forno (Figs. 5 e 6). Através de várias culturas e hábitos sociais diferentes ainda se utiliza a
124
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
construção de casas a base de tijolos de argila crua, estando em acordo com autores como Barrios e
Arcos (1986), que afirma que um terço da população vive em habitações de tijolos de adobe.
Figura 5 - Fabricação de tijolos de adobe as margens do reservatório de
Boa Esperança, Rio Parnaíba, MA/PI
Figura 6 - Casa construída com tijolos de adobe em Porto Alegre do Piauí, PI.
Segundo Meunier (1998), os egípcios, utilizavam tijolos de adobe para construir residências
tanto dos ricos como pobres. Na bíblia são encontradas referências aos tijolos de adobe com
utilização de fibras vegetais adicionadas aos blocos, tais como os seguintes trechos bíblicos: “tira
água para o tempo do cerco; reforça as tuas fortalezas; entra no lodo, pisa o barro, pega na forma
para os tijolos (livro de Naum, capítulo 3, versículo 14)” e “não tornareis a dar, como dantes, palha
ao povo para fazer tijolos; vão eles mesmos, e colham palha para si (livro de Êxodo, capítulo 5,
versículo 8)”.
No experimento realizado dá para constatar que o tijolo de adobe possui uma boa
resistência, mas quando misturada à argila junto com as macrófitas aquáticas na confecção do bloco
principalmente na quantidade de 5% percebe-se nos resultados obtidos uma maior resistência destes
tijolos. Em relação à manutenção de construções a base de tijolos de adobe, lembra-se que a
125
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
necessidade de manutenção não é somente dos tijolos de adobe, mas também que qualquer material
utilizado em uma construção exigirá cuidados com sua manutenção seja ela corretiva ou preventiva
para o seu bom desempenho e durabilidade.
Os tijolos confeccionados, aparentemente, mostram asperezas no acabamento. No entanto,
esta superfície menos lisa favorece a aderência de revestimento das paredes e a proteção mecânica
dos tijolos, contra a ação do intemperismo e favorecem a sua utilização em outras obras de
engenharia como construção de tanques e caixas de coletas para viveiros. A produção dos tijolos de
adobe também favorece a diminuição progressiva do desmatamento e extração de madeira, que
ainda hoje é utilizada como combustível, na queima de tijolos e telhas, um dos processos na
produção nas olarias, estes de grande produção na região. Onde a extração de madeira continua
sendo uma exploração econômica.
CONCLUSÕES
A utilização da macrófita Egeria densa para confecção de tijolos do tipo adobe é uma
alternativa no controle do bloom destas macrófitas que ocorrem nos reservatórios das hidroelétricas
como os da CHESF, o que vem acarreta transtornos operacionais ao setor elétrico na geração de
energia.
Os tijolos apresentaram boa resistência, de modo que podem ser utilizados para construções
de casas populares e/ou para obras que exijam menor esforço, de forma que pode ser uma solução
para aproveitamento das macrófitas retiradas dos reservatórios.
REFERÊNCIAS
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alvenaria. Rio de Janeiro: ABNT, 1983.
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BARRIOS, G. A., L; ARCOS. Comportamiento de los suelos para la confeccion de adobes.
Informes de la construcion. 1986.
CANFIELD J.R. et al. Prediction of chlorophyll a concentrations in Florida lakes: importance of
aquatic macrophytes. Can. J. Fish. Aquat. Sci., v. 41. p. 497-501. 1984.
FADURPE. Estudo do Ecossistema dos Reservatórios das Barragens do Sistema Hidrelétrico de
Paulo Afonso e Itaparica. Terceira etapa. 3º Relatório. Recife. 2002.
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CHESF, 1987.
IRGANG, B.E.; C.V.S. GASTAL Jr. Macrófitas aquáticas da planície costeira do Rio Grande do
Sul. Porto Alegre, 1996.
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127
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ANÁLISE ESTATÍSTICA DAS VARIÁVEIS DE CULTIVO DO
CAMARÃO-CINZA Litopenaeus vannamei (BOONE, 1931)
Bruno Leonardo da Silva SANTOS ([email protected]);
Paulo de Paula MENDES ([email protected])
Departamento de Pesca e Aqüicultura/UFRPE.
RESUMO
Foram utilizados 53 dados de cultivos de uma fazenda comercial do camarão-cinza Litopenaeus
vannamei, objetivando correlacionar as variáveis respostas com as de manejo utilizando-se modelos
matemáticos. As variáveis dependentes analisadas foram: sobrevivência, peso final, fator de conversão
alimentar, produção, produtividade e quantidade de ração, enquanto que as independentes foram:
número do viveiro, número do ciclo, área do viveiro, trimestre do ano, ano, densidade de estocagem,
dias de cultivo, laboratório fornecedor de pós-larva e marca da ração. Para selecionar as variáveis
significativas nos modelos (P < 0,05), utilizou-se a técnica de Stepwise associada ao processo de
transformação de Box e Cox. A estimação do transformador (λ) foi feito com a minimização da soma
dos quadrados dos resíduos. Verificou-se que dias de cultivo, densidade de estocagem, laboratório
fornecedor de pós-larva e a área dos viveiros foram as variáveis independentes significativas para
predição das variáveis respostas.
PALAVRAS CHAVE: Litopenaeus vannamei, manejo, modelos, variáveis.
ABSTRACT
STATISTICAL ANALYSIS OF THE VARIABLE OF CULTIVATION OF THE SHRIMP
Litopenaeus vannamei (BOONE, 1931)
Fifty tree data of cultivations of the commercial marine shrimp farm Litopenaeus vannamei were used,
to correlate the dependent variables with the one of handling being used mathematical models. The
analyzed dependent variables were: survival, final weight, ration rate, factor of alimentary conversion,
production, productivity and amount of ration, while the independent ones were: number of the pond,
number of the cycle, area of the pond, trimester of the year, year, stocking density, days of cultivation,
supplying laboratory of post-larvae and mark of the ration. To select the significant variables in the
models (P < 0.05), it was used the technique of Stepwise associated to the process of transformation of
Box and Cox. The estimate of the transformer (λ) it was done with the minimization of the sum of the
squares of the residues. It was verified that days of cultivation, stocking density, and supplying
laboratory of post-larvae and the area of the pond were the significant independent variables for
prediction of the variables.
KEYWORDS: Litopenaeus vannamei, handling, models, variables.
128
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
INTRODUÇÃO
A produção mundial de crustáceos em 2003 foi de aproximadamente 2,8 milhões de toneladas,
em que os três principais produtores foram China, Tailândia e Vietnã. Desse total de crustáceos
cultivados 75% foram representados pelos peneídeos e, aproximadamente, 25,9% dessa produção foi
gerada pelo Litopenaeus vannamei sendo, portanto, a espécie mais cultivada no mundo (LIMA e
MENDES, 2005). Atualmente, no Brasil, o L. vannamei é a única espécie de camarão-cinza cultivada.
O Brasil produziu em 2004 aproximadamente 75,9 mil toneladas da espécie, o que corresponderam a
5,47% da produção mundial (FAO, 2006). O Nordeste do Brasil é o principal pólo da atividade da
carcinicultura do país, acolhendo um total de 883 produtores, os quais são classificados em pequeno,
médio e de grande porte e foram responsáveis por 93,1% da produção nacional em 2004. O estado de
Pernambuco possui 98 produtores e destaca-se por ser o quarto maior produtor do país (RODRIGUES,
2005).
No Brasil, a grande parte dos empreendedores da carcinicultura adota o cultivo bifásico,
composto pela fase de berçário e de engorda. Segundo Nunes (2004), a fase berçário serve para
aclimatar os camarões às condições ambientais da fazenda e selecionar os indivíduos mais resistentes e
com tamanho homogêneo para a fase de engorda. Em sua maioria, a fase berçário, é desenvolvida em
tanques de alvenaria, a densidade de estocagem média é de 15 a 30 mil pós-larva/m³ e o período de
cultivo de 10 a 15 dias. A grande maioria dos criadores de camarão brasileiro adota a metodologia de
cultivo semi-intensivo (na fase de engorda), a qual é caracterizada por densidades populacionais
relativamente moderadas (20 a 30 ind/m2), pela utilização de aeradores, em horários críticos de
diminuição do oxigênio dissolvido na água, e também pelo uso de ração como complemento ao
alimento natural presente no viveiro (PONTES e ARRUDA, 2005).
Técnicas estatísticas têm sido utilizadas para analisar os dados e modelar os parâmetros
relacionados com o cultivo de camarão, buscando otimizar a produção. A análise de regressão é uma
das técnicas utilizadas para correlacionar os dados de manejo e vários autores já utilizaram esse método
(PEREIRA, 2001; LIMA, 2005; XIMENES, 2005; BEZERRA, 2006). Segundo Mendes (1999), a
regressão tem como objetivo explicar ou prever determinados eventos, baseando-se em fatores que
podem ser quantitativos e ou qualitativos, mas que sejam relacionáveis entre si. A regressão é uma
técnica estatística utilizada para determinar uma curva ou uma reta que melhor ajuste aos dados
observados (PEREIRA, 2001). Mendes (1999), ao relacionar uma variável resposta Y, em função de
outras variáveis independentes, recomenda a utilização do seguinte modelo linear múltiplo:
129
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Yi = β0 + β1X1i + β2X2i + ... + βkXki + ei
Em que: Yi – i-ésima observação da variável dependente Y; β0, β1, β2, ..., βk – parâmetros do modelo; X1, X2, ...,
Xk – variáveis independentes; ei - erro aleatório com distribuição N(0, σ2).
Para estimar os parâmetros do modelo (β) Mendes et al. (2006), aconselham fazer com o auxílio
de matrizes, ou seja:
b̂ k = (XTX)-1(XTY)
Em que: T – matriz transposta; -1 – matriz inversa;
b̂ k – estimadores de βk = (0, 1, 2,..., k)
Nesses modelos, ou seja com “Xk” variáveis independentes, segundo Neter e Wasserman
(1974), a técnica mais utilizada para selecionar as variáveis significativas é a de “Stepwise”. Essa
técnica consiste basicamente em estimar o valor da sua estatística “F” de todas as variáveis
independentes, em relação a dependente, e depois, dependendo do seu valor coloca-la ou não no
modelo. Dependendo da técnica uma variável que foi inserida no modelo, poderá ser retirada
posteriormente (MENDES et al., 2006). Para que um modelo possa ser utilizado, faz-se necessário
realizar a análise de variância (ANOVA) para regressão, a qual tem como finalidade verificar a
linearidade do conjunto dos dados observados (DRAPPER E SMITH, 1981; MONTGOMERY E
PECK, 1982). Com a ANOVA, testa-se se a equação ajustada apresenta as inclinações (β1,
2, 3,..., k)
iguais a zero ou não (MENDES et al., 2006).
Portanto, objetivou-se com o presente trabalho analisar estatisticamente as variáveis de cultivo
de uma fazenda comercial de camarão-cinza Litopenaeus vannamei, com o intuito de identificar as
variáveis de manejo mais significativas sobre as variáveis respostas de cultivo.
MATERIAL E MÉTODOS
Dados oriundos de uma fazenda do camarão-cinza Litopenaeus vannamei, foram utilizados para
correlacionar matematicamente as variáveis de manejo com os dados de produção. A referida fazenda
localiza-se no município de Sirinhaém, distante 76 Km do Recife, no litoral sul do Estado de
Pernambuco, Brasil. Esse agronegócio, possui uma área total de 54 ha, dos quais 30,7ha são destinados
a carcinicultura. A captação de água é realizada por uma estação de bombeamento, localizada às
margens do estuário do Rio dos Passos. Sua infra-estrutura principal é composta por prédio de
administração, quatro tanques-berçário, sendo dois de 200 m3 e dois de 100 m3. Possui 11 viveiros com
área média de 2,64ha/cada.
O sistema de cultivo utilizado na fazenda é o bifásico. Na primeira fase, as pós-larvas (PL) são
aclimatadas as condições locais, estocadas a densidade de 25 a 30 PL/L, durante 15 a 20 dias, em
tanques-berçário de alvenaria e com forma retangular. Após esse período são transferidas para os
130
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
viveiros de engorda (segunda fase), utilizando-se recipientes denominados submarinos. Nessa fase, a
densidade média de estocagem é de 40 camarões/m2. Nos viveiros as pós-larvas são estocadas até
atingirem peso para comercialização.
Os tanques-berçário ou os viveiros de engorda, antes de serem povoados são submetidos a um
período de vazio, para sua preparação. A limpeza e desinfecção dos tanques-berçário são feitas
retirando-se os incrustantes, contido na lateral dos tanques, depois são lavados com sabão neutro e em
seguida água clorada (5,0 ppm) e exposição ao sol durante dois dias. A limpeza dos viveiros de
engorda é baseada na remoção dos incrustantes encontrados nas estacas de fixação das bandejas, nas
bandejas, cascos dos aeradores, comportas de drenagem e abastecimento. Após a retirada dos
incrustantes é feito o mapeamento do solo, objetivando identificar as isolinhas de pH e, posteriormente,
fazer a aplicação de calcário dolomítico, para sua correção. Também é feita a esterilização, com cal
virgem e hipoclorito de sódio, para eliminar possíveis parasitas e predadores existentes no viveiro. A
cal virgem é utilizada nas valas dos viveiros e ao redor das estacas das bandejas de alimentação. O
hipoclorito é utilizado apenas nas valas. Após este processo são feitas as vedações das comportas,
colocação das telas e em seguida inicia-se o enchimento do viveiro.
A última etapa para o processo de preparação do viveiro de engorda é a fertilização, cujo
objetivo é o aumento da disponibilidade do alimento natural já existente no viveiro. O uso de
fertilizante foi feito de acordo com as peculiaridades de cada viveiro (Área, profundidade, produção
natural do viveiro, etc.). Os principais fertilizantes utilizados foram: Silicato e Nitrato de sódio.
Na fase do berçário, administrou-se ração a cada duas horas durante todo o dia. Na engorda, nos
primeiros 25 dias a ração foi administrada a lanço. Após esse período, a ração foi administrada em
bandejas e ofertada três vezes ao dia, em intervalos de quatro horas, com a quantidade de ração
previamente determinada.
Após 30 dias de cultivo iniciaram-se semanalmente as biometrias, com intuito de coletar
dados para monitorar o crescimento e as condições de saúde dos camarões. Foram escolhidos quatro
pontos distintos do viveiro, para coleta do material. Em média, para cada ponto, foram capturados 50
camarões. Baseando-se nessas amostras foram avaliados o crescimento dos camarões.
O monitoramento da qualidade de água (oxigênio dissolvido, temperatura, transparência, pH e
salinidade) foi realizado diariamente com três mensurações no período do dia e três durante a noite com
exceção da transparência o qual era mensurado uma vez ao dia. Com base nesses resultados foram
tomadas ações corretivas.
Com base nas informações referidas anteriormente quanto ao manejo, foi organizado o Banco
de Dados correspondente ao período do 3º trimestre de 2003 ao 4º trimestre de 2005. A massa de dados
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
utilizada foi ordenada pelas variáveis respostas (dependentes) e as de manejo (independentes) de
acordo com a Tabela 1.
Tabela 1 - Variáveis utilizadas para o gerenciamento do Banco de Dados de produção
do camarão-cinza Litopenaeus vannamei.
Variáveis dependentes
Variáveis independentes
Sobrevivência (%)
(Sob)
Número do viveiro
(Viv)
Peso final (kg)
(Pfinal)
Número do ciclo
(Ciclo)
Fator de conversão alimentar
(FCA)
Área do viveiro (ha)
(Area)
Produção (kg)
(Prod)
Trimestre do ano
(Trim)
Produtividade (kg/ha/ciclo)
(Prodt)
Ano
(Ano)
Quantidade de ração (kg)
(Qração)
Densidade de estocagem (ind/m²)
(Dini)
Dias de cultivo
(Dcult)
Laboratório fornecedor de pós-larva
(LAB)
Marca da ração
(RAC)
A variável “Trimestre do ano” (Trim) foi inserida no Banco de Dados baseando-se na data de
início do cultivo, portanto cada cultivo foi identificado com Trim1, ou Trim2, ou Trim3 ou Trim4, para
os trimestres de 1 a 4, respectivamente. A variável “Laboratório fornecedor de pós-larva” (LAB) foi
representada por 4 empresas, doravante denominadas de LAB1, LAB2, LAB3 e LAB4. Enquanto que a
de ração (RAC), por 3 empresas (RAC1, RAC2 e RAC3). Para correlacionar as variáveis respostas de
cultivo com as de manejo (Tabela 1), utilizou-se o seguinte modelo linear múltiplo:
Respostaiλ = β0 + β1 Viv + β2 Ciclo + β3 Area + β4 Trim1 + β5 Trim2 + β6 Trim3 + β7Ano +
+ β8 Dini + β9 Dculti + β10 LAB1 + β11 LAB2 + β12 LAB3 + β13 RAC1 +
+ β14 RAC2 + єi
Em que: Resposta – poderá assumir as variáveis dependentes; β0, β1, β2, ..., β14 – parâmetros do modelo; Viv –
Viveiro; Ciclo – Ciclo; Área – Área; Trim1 – 1ºtrimestre do ano; Trim2 - 2ºtrimestre do ano; Trim3 - 3ºtrimestre
do ano; Ano – Ano; Dini – Densidade de estocagem; Dcult – dias de cultivo; LAB1 – Fornecedor de pós-larva 1;
LAB2 – Fornecedor de pós-larva 2; LAB3 – Fornecedor de pós-larva 3; RAC1 – Fabricante de ração 1; RAC2 –
Fabricante de ração 2; λ – Coeficiente de transformação; є – Erro; i – i-ésima observação.
132
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As variáveis de manejo “Trimestre do Ano”, “Laboratório fornecedor de pós-larva” e “Marca da
ração”, por serem qualitativas foram inseridas no modelo sob forma de variável muda (0 ou 1). Para
não ocorrer numa indeterminação do determinante na matriz de dados, fez-se necessária a exclusão de
um dos níveis de cada uma dessas variáveis, no modelo. Os parâmetros do referido modelo (β) foram
estimados com auxílio das matrizes de determinação, segundo recomendações preconizadas por
Mendes et al. (2006). Para selecionar as variáveis significativas no modelo (P < 0,05) foi utilizada a
técnica de Stepwise forward e/ou backward, associada ao processo de transformação de Box e Cox
(BOX e COX, 1964). A estimação do coeficiente de transformação (λ) foi feito com a minimização da
soma dos quadrados dos resíduos, de acordo com recomendações de Montgomery e Peck (1982). Os
cálculos de estimação dos modelos foram realizados utilizando os softwares Syseapro e Excel.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 53 registros de cultivo foram utilizados apenas 43 dados em decorrência dos demais
apresentarem valores destoantes a um Banco de Dados para o camarão-cinza Litopenaeus vannamei, ou
por apresentarem erros como valores faltando. Portanto, ao utilizar a estatística descritiva (mínimo,
máximo e média) verificou-se os resultados apresentados na tabela 2.
Tabela 2 - Variação dos dados de cultivo do camarão-cinza Litopenaeus
vannamei, oriundos de uma fazenda comercial.
VARIÁVEIS
MÍNIMOS
MÁXIMOS
MÉDIA ± ERRO*
Ciclo
1
9
4,53 ± 0,65
Densidade de estocagem (ind/m2)
14,5
71,4
42,04 ± 4,08
Dias de cultivo (dias)
69
177
115,93 ± 7,79
Sobrevivência (%)
40,1
89
70,07 ± 3,45
Área (ha)
1,75
3,77
2,62 ± 0,11
Peso final (g)
6,8
14
10,1 ± 0,57
Produção (kg)
1677
18471
7753,37 ± 1019,97
Produtividade (kg/ha/ciclo)
682
6527
2961,69 ± 363,67
Quantidade de ração (kg)
2378
31505
13681,95 ± 1878,77
FCA
1,01
2,68
1,7 ± 0,09
* Erro = t (GL; α/2). S x . Em que: t – distribuição t de student; S x – erro padrão da média.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
De acordo com os dados da Tabela 2, observou-se que se trata de uma fazenda de atividades
recente, pois o número máximo de ciclo foi de 9. Admitindo a possibilidade de 3 cultivos por ano
(115,93 ± 7,79 dias), estimou-se uma vida útil nesse agronegócio de 3 anos, aproximadamente.
Verificou-se também grande variação entre o peso final mínimo e máximo (106,0%), o que pode ser
atribuído à variação dos dias de cultivo. A grande variação do peso final e da sobrevivência influenciou
diretamente nas variáveis respostas produção, produtividade e quantidade de ração. Ao correlacionar as
variáveis dependentes com as independentes, obtiveram-se as seguintes equações matemáticas e suas
respectivas análises de variância apresentado na Tabela 3.
As equações apresentadas na Tabela 3 para serem utilizadas devem estar em conformidade com
os valores de mínimos e máximos apresentados na tabela 2. Ao observar as equações matemáticas
verificou-se que algumas variáveis de manejo não influenciaram nas variáveis respostas de cultivo
(Trimestre do ano, Ciclo, Fabricante de ração e o número do viveiro) (Tabela 3).
Esses resultados contradizem os modelos estimados por Lima (2005) e Bezerra (2006). Com
base nas equações estimadas, foram construídas as respectivas representações gráficas para uma melhor
compreensão e análise dos dados.
Verificou-se que o fator de conversão alimentar (FCA) foi influenciado apenas pela variável
“dias de cultivo”, ou seja, quanto maior o tempo de cultivo maior o valor do FCA (Figura 1). Maia et
al. (2004), ao avaliarem a influência da densidade de estocagem no FCA, constatou que essa variável
não influenciou estatisticamente no mesmo e sim que o FCA obedeceu a uma estreita relação com o
tempo de cultivo, aumentando com o incremento da duração do tempo de cultivo e diminuindo à
medida que o mesmo decresce. Lima (2005) em uma análise similar encontrou que o FCA é
dependente do tempo de cultivo e outras variáveis.
Verificou-se que o aumento da densidade de estocagem das pós-larvas, até 71,4ind/m²,
propiciou uma maior produtividade e que nesse caso as pós-larvas com origem do laboratório 3, “Dcult
69” e “Dini 14,5”, tiveram uma produtividade maior em 25,34% em relação as demais fornecedoras de
pós-larvas (Figura 2). Wasielesky et al. (2003) ao cultivarem o Farfantepenaeus paulensis obtiveram
que as melhores densidades de cultivo encontram-se no intervalo de 15 a 30 ind/m². Almeida et al.
(1999) ao cultivarem o L.vannamei utilizando rações alternativas e não utilizando aeração mecânica
estimou que a densidade de 10ind/m² foi a melhor densidade de cultivo, mas ressaltou que com isto a
produtividade era menor. Castro et al. (2000) utilizando densidade de 30 ind/m² durante 95 dias
obtiveram uma produtividade de 724,79kg/ha/ciclo.
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Tabela 3 - Equações matemáticas obtidas para dados de cultivo do camarão-cinza
Litopenaeus vannamei, em viveiros comerciais.
1. Fator de conversão alimentar (FCA)
EQUAÇÃO: FCA = (0,9228 + 0,00327*Dcult)²
ANOVA
FV
GL
SQ
Regressão
1
2,0377
Resíduo
40
1,7393
R² = 0,528 λ = 0,5
QM
2,0377
0,0435
F
46,8612
2. Produtividade (Prodt)
EQUAÇÃO: Prodt = (9,9256 + 0,16627*Dcult + 0,523*Dini + 4,5605*LAB3)²
ANOVA
FV
GL
SQ
QM
F
Regressão
3
44848802,6428 14949600,8809 42,6395
Resíduo
38
13322985,3027
350604,8764
R² = 0,7529 λ = 0,5
3. Peso final (Pfimal)
EQUAÇÃO:
Pfina l = (2,2137 + 0,008282*Dcult)²
ANOVA
FV
GL
SQ
Regressão
1
77,0059
Resíduo
40
67,9683
R² = 0,5194 λ = 0,5
QM
77,0059
1,6992
4. Sobrevivência (Sob)
EQUAÇÃO:
Sob = (70,9052 - 0,5686*Dcult)/ (1 – 0,008*Dcult)
ANOVA
FV
GL
SQ
QM
Regressão
2
4997,1162
2498,5581
Resíduo
39
261,5695
6,7069
R² = 0,9477
Prob(F)
0,0000
Prob(F)
0,0000
F
45,3187
Prob(F)
0,0000
F
372,5349
Prob(F)
0,0000
5. Produção (Prod)
EQUAÇÃO:
Prod = (-8,07026 + 8,249*Area + 0,2793*Dcult + 0,8541*Dini + 8,9544*LAB3)²
ANOVA
FV
GL
SQ
QM
F
Prob(F)
Regressão
4
352131364,4153 88032841,1038 39,3856
0,0000
Resíduo
37
82700657,0376
2235152,8929
R² = 0,7892 λ = 0,5
6. Quantidade de ração (Qração)
EQUAÇÃO: Qração = (-31,1039 + 8,3161*Área + 0,6241*Dcult + 1,0797*Dini + 11,3439*LAB3)²
ANOVA
FV
GL
SQ
QM
F
Prob(F)
Regressão
4
1413216375,6075 353304093,9019 72,2814
0,0000
Resíduo
37
180852291,7311
4887899,7765
R² = 0,8785 λ = 0,5
135
Fator de Conversão Alimentar
(FCA)
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
2,50
FCA = (0,9228 + 0,003271*Dcult)²
R² = 0,528
2,00
1,50
1,00
0,50
65
80
95
110
125
140
Dias de cultivo
155
170
185
Figura 1 - Fator de conversão alimentar (FCA) do camarão-cinza
Litopenaeus vannamei em função dos dias de cultivo.
Dcult = 69
LAB 3
Produtividade (kg/ha/ciclo)
4500
Prodt = (9,9256 + 0,16627*Dcult + 0,523*Dini + 4,5605*LAB3)²
3500
R² = 0,7529
Dcult = 69
Outros LAB
2500
1500
500
14
24
34
44
54
64
74
Densidade de Estocagem (ind/m²)
Figura 2 - Produtividade em função da densidade de estocagem do
camarão-cinza Litopenaeus vannamei (ind/m²) em viveiros comerciais.
De acordo com o modelo para predição do peso final do camarão-cinza, verificou-se que foi
diretamente proporcional apenas ao tempo de cultivo (Figura 3). Bezerra (2006) identificou também a
influência do tempo de cultivo no ganho de peso, porém em seu modelo detectou a influência da
origem das pós-larvas. Pereira (2001), em seu trabalho com Macrobrachium rosenbergii, constatou que
em cultivos realizados com tempos mais longos, foram obtidos indivíduos com maior ganho de peso.
Mendes et al. (1997), trabalhando com a espécie Macrobrachium rosenbergii, observaram que os
camarões apresentam maior ganho de peso quando cultivados por períodos mais longos. Lima (2005).
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16
Pfinal = (2,2137 + 0,008282*Dcult)²
Peso final (g)
14
R² = 0,5154
12
10
8
6
65
80
95
110
125
140
155
170
185
Dias de Cultivo
Figura 3 - Peso final em função dos dias de cultivo Litopenaeus vannamei em
viveiros comerciais.
ao analisar o peso final dos camarões L.vannamei observou que além do tempo de cultivo outras
variáveis influenciam no seu resultado.Ao correlacionar a sobrevivência com as variáveis de cultivo,
verificou-se que ela foi inversamente proporcional ao tempo de cultivo e que, nessa equação (Figura
4), apenas o tempo de cultivo influenciou nessa resposta.
72
Sobrevivência (%)
Sob = (70,9052 - 0,5686*Dcult) / (1 - 0,008*Dcult)
R² = 0,9477
71
70
69
65
75
85
95
105
115
Dias de Cultivo
Figura 4 - Sobrevivência em função dos dias de cultivo Litopenaeus.vannamei
em viveiros comerciais.
137
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Segundo Lima (2005), a variável sobrevivência é influenciada pela estação do ano, o que está
em desacordo com presente trabalho, porém ele obteve um R² igual a 0,042, levando a acreditar que
seu modelo não foi muito preciso. Modesto e Maia (2004), cultivando o L .vannamei em viveiros
berçários intensivos durante 41 dias obtiveram uma sobrevivência de 96,3% e durante 43 dias
sobrevivência de 87,9%, porém eles não atribuíram a grande diferença na sobrevivência apenas a
diferença ao tempo de cultivo. Paquote et al. (1998), cultivando o L. vannamei em tanque-rede
obtiveram uma sobrevivência de 49% após 120 dias de cultivo.
A produção do camarão-cinza L. vannamei, em viveiros comerciais, foi altamente dependente da área
dos viveiros, dos dias de cultivo, da densidade de estocagem e fornecedor de pós-larvas (Figura 5). A
produção foi maximizada quando se utilizaram pós-larvas oriundas de LAB3, o qual propiciou aumento
de 34,38% na produção, em relação às demais pós-larvas.
Area = 1,75 ha
Dcult = 69 dias
LAB3
Produção (kg)
10000
Prod = (-8,07026 + 8,249*Area + 0,2793*Dcult +
+ 0,8541*dini + 8,9544*LAB3)²
8000
Area = 1,75 ha
Dcult = 69 dias
Outros LAB
R² = 0,7892
6000
4000
2000
0
14
24
34
44
54
64
74
Densidade de Estocagem (ind/m²)
Figura 5 - Produção em função da densidade de estocagem de pós-larvas
do Litopenaeus vannamei em viveiros comerciais.
Castro et al. (2000), utilizando dados de produção, observaram que um viveiro de 2,34 ha
submetido a uma densidade de 30ind/m², obtém-se uma produção de 1696 kg. Cavalcanti et al. (2000),
analisando os dados de cultivo em um viveiro de 3,0 ha e uma densidade média de 19,35 ind/m²
observaram uma produção média de 4276,5 kg. Ostrensky et al. (2000), citaram que em viveiros com
área de 2,92 ha, com densidade média de 11,73 ind/m², é possível obter uma produção de 3282 kg.
Assim como na produção (Figura 5), verificou-se que a quantidade de ração administrada
(Figura 6) para o L.vannamei foi proporcional à área do viveiro, dias de cultivo, densidade de
estocagem e aos laboratórios fornecedores de pós-larvas. Ao utilizar as pós-larvas oriundas do LAB3
138
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
foi identificado um aumento de 37,9% na quantidade de ração administrada em relação às pós-larvas
dos outros fornecedores. Verificou-se que a relação entre densidade de estocagem e quantidade de
ração administrada foi crescente. Maia et al. (2000), ao cultivarem o L.vannamei durante 113 dias
obtiveram um consumo de 5100 kg de ração. Castro (2000), ao cultivar o L.vannamei em sistema semiintensivo com uma densidade de 30 ind/m² durante 95 dias utilizou 1967 kg de ração.
Os modelos, para correlacionar o peso final e fator de conversão alimentar, não apresentaram
um bom índice determinístico (R²) isto pode ser atribuído à falta de outras variáveis principalmente os
parâmetros físicos e químicos da água como oxigênio dissolvido, pH, temperatura, salinidade, etc. que
podem ser associadas a essas respostas.
Qunatidade de Ração (kg)
16000
13000
Qração = (-31,1039 + 8,3161*Area + 0,6241*Dcult +
+ 1,0797*Dini + 11,3439*LAB3)²
10000
Area = 1,75
Dcult = 69
LAB3
R² = 0,8785
7000
Area = 1,75
Dcult = 69
Outros LAB
4000
1000
14
24
34
44
54
64
74
Densidade de Estocagem (ind/m²)
Figura 6 - Quantidade de ração ofertada ao camarão-cinza Litopenaeus
vannamei quando submetido as diferentes densidades de estocagens.
CONCLUSÕES
“Dias de cultivo”, “densidade de estocagem”, “laboratório fornecedor de pós-larva” e “área”
foram as variáveis independentes significativas para predição das variáveis respostas.
As variáveis respostas “fator de conversão alimentar”, “peso final” e “sobrevivência” foram
influenciadas apenas pela variável “dias de cultivo”.
A variável independente “laboratório fornecedor de pós-larva” foi altamente significativa nas
respostas de “produção”, “produtividade” e “quantidade de ração” ofertada.
139
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142
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
SOBREVIVÊNCIA DE TILÁPIA-DO-NILO Oreochromis niloticus (LINNAEUS,
1758) EM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE BIOFERTILIZANTE
Éder André GUBIANI ([email protected])
Curso de Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais, Departamento de
Biologia, Universidade Estadual de Maringá
Nyamien Yahault SEBASTIEN ([email protected])
Departamento de Engenharia de Pesca, Universidade Estadual do Oeste do Paraná
RESUMO
Resíduos de suinocultura causam problemas de poluição das águas em vários países do mundo, em
virtude de suas altas cargas orgânicas. Dessa forma, tem crescido o uso de biossistemas integrados nos
quais os dejetos suínos e de outros animais passam por um processo de decomposição em um
biodigestor que, além de remover boa parcela de poluentes, transforma os dejetos em biofertilizantes e
biogás. A tilapicultura vem se mostrando uma ótima alternativa para a piscicultura de água doce.
Assim, o principal objetivo deste trabalho foi avaliar a sobrevivência de tilápia (Oreochromis niloticus)
em diferentes concentrações de biofertilizante, em substituição a adubação tradicional, bem como, a
influência de algumas variáveis abióticas. O pH, oxigênio dissolvido e a condutividade elétrica
apresentaram diferenças significativas entre os períodos e concentrações analisadas, entretanto a
interação entre os níveis dos fatores foi significativa (p<0,05), não sendo possível, portanto distinguir
se a maior fonte de variabilidade é temporal ou dos tratamentos. A temperatura da água apresentou
diferenças significativas entre os períodos analisados (p<0,05), sendo maior à tarde. O tempo de
sobrevivência apresentou uma relação quadrática negativa com a concentração de biofertilizante
(Tempo de sobrevivência = a + b*concentração de biofertilizante + c*(concentração de
biofertilizante)2). A concentração de 25% apresentou o maior tempo de sobrevivência (≈ 35 dias). A
concentração ideal para que a sobrevivência seja maximizada foi de 13,44%. É evidente que a
utilização de excrementos como fertilizante reduz os custos de produção e aumenta a produtividade em
condições de manejo assistido. Considerando os altos custos para implantação de biodigestores a
atividade de piscicultura torna-se mais uma fonte de renda nesse sistema, entretanto apenas uma
pequena parcela de biofertilizante pode ser empregada para tal finalidade.
PALAVRAS-CHAVE: resíduos, biofertilizante, sobrevivência, tilápias.
143
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ABSTRACT
SURVIVAL OF NILE TILAPIA Oreochromis niloticus (LINNAEUS, 1758) IN DIFFERENT
BIOFERTILIZING CONCENTRATIONS.
Wastes of pig raising cause problems of water pollution in many countries around the world, because
of their high organic loads. Thus, the use of integrated biosystems has increased, in which the rejects
from the pigs and other livestock are decomposed by a bio-digester, that besides removing a large
amount of pollutants, can also transform rejects in biofertilizers and biogas. Tilapia farming has been
shown a good alternative to the freshwater fish cultures. Therefore, this work aimed to evaluate the
survival of tilapia (Oreochromis niloticus) raised in different concentrations of bio-fertilizers, as a
substitute for the traditional fertilizing techniques, and the influence of some abiotic factors. Dissolved
oxygen, pH and electric conductivity showed significant differences among the experimental periods
and biofertilizing concentrations. However, the significant interaction among factor levels (p <0.05)
indicates that it is not possible to determine whether the main source of variability is from the period or
from the treatments. Water temperature showed significant differences among the periods (p <0.05),
being higher in the afternoon. The survival time showed a negative quadratic relationship with the
biofertilizing concentration (Survival time = a + b*biofertilizing concentration + c*(biofertilizing
concentration)2). A concentration of 25% produced the longest survival time (≈ 35 days). The ideal
concentration to maximize survival was 13.44%. Evidently, the use of rejects as fertilizers reduces the
cost of the fish production, and may increase its productivity in conditions of attended handling.
Considering the high costs for biodigesters implantation, the activity becames plus a surce of income
in this sistem, however only one small parcel of biofertilizers can be used for such purpose.
KEYWORDS: rejects, biofertilizing, survival, tilapias.
INTRODUÇÃO
A piscicultura pode ser uma saída relativamente simples para a ampliação dos limites de
exploração dos recursos naturais e obtenção de proteína animal a baixo custo (econômico e social),
principalmente para países tropicais, como o Brasil, onde a produção piscícola pode ser multiplicada
pela sua riqueza de mananciais, pelo grande número de diferentes espécies e pela união da agropecuária
e aqüicultura no reaproveitamento de resíduos (ALZUGUIR, 1984). Nos dias atuais a crescente
produção de resíduos, tanto nos grandes centros populacionais como nas propriedades rurais, tem se
tornado um grande problema para pesquisadores e administradores políticos.
144
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
No meio rural, os resíduos de suinocultura causam problemas de poluição e contaminação das
águas em vários países do mundo, em virtude de suas altas cargas orgânicas, de sólidos e de nutrientes
(N e P). No Brasil, com rebanho de suínos estimado em 36,5 milhões (ABCS, 1999), a produção
concentra-se nas regiões Sul (34,1% dos animais) e Sudeste (18,8% dos animais). Um dos maiores
problemas no confinamento de suínos, é a grande quantidade de dejetos produzidos diariamente, a qual
é considerada pelos órgãos ambientais como atividade de grande potencial poluidor. Diagnósticos
recentes têm demonstrado um alto nível de contaminação dos rios e lençóis de água superficiais que
abastecem tanto o meio rural como o urbano (DIESEL et al. 2002).
De forma a reduzir o potencial poluidor da suinocultura algumas medidas estão sendo sugeridas,
como é o caso da integração com outros animais. A criação de peixes no sistema de integração vem
sendo bastante utilizada nos últimos dez anos, possivelmente devido aos baixos custos de produção.
Vários autores têm demonstrado que a consorciação de viveiros associados com porcos e patos
apresentam muitas vantagens, principalmente na Europa, Ásia e África (BLUME, 1960; LINGEN,
VAN DER, 1960; CHISLOV e CHESNOKOV, 1974; WOYNAROVICH, 1976; BEHRENDT, 1978).
Outra medida em crescente expansão é a utilização de biodigestores inicialmente mais onerosa, porém
em longo prazo torna-se uma solução viável. Os biodigestores são uma alternativa para o tratamento de
dejetos, pois além de permitir a redução do potencial poluidor e dos riscos sanitários dos dejetos ao
mínimo, promove a geração de biogás, utilizado como fonte de energia alternativa e permite a
reciclagem do efluente, podendo ser utilizado como biofertilizante (AMARAL et al. 2004).
Dessa forma, tem crescido o uso de biossistemas integrados nos quais os dejetos suínos e de
outros animais passam por um processo de decomposição em um biodigestor que, além de remover boa
parcela de poluentes, transforma os dejetos em biofertilizantes e biogás. As águas servidas passam por
tanques de criação de algas que servem para alimentação de peixes e crustáceos, transformando os
dejetos, que eram considerados uma ameaça ambiental, em uma oportunidade de agregar valor a nível
econômico.
A tilapicultura vem se mostrando uma ótima alternativa para a piscicultura de água doce e
estuarina. A expansão do cultivo da tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) deve-se ao ótimo
desempenho, alta rusticidade, facilidade de obtenção de alevinos, adaptabilidade aos mais diversos
sistemas de criação, grande aceitação no mercado de lazer (pesque-pague) e alimentício (frigoríficos),
pelas qualidades nutritivas e organolépticas do seu filé (MEURER et al. 2003).
Assim, o principal objetivo deste trabalho foi avaliar a sobrevivência de tilápia (Oreochromis
niloticus) em diferentes concentrações de biofertilizante, como substituinte da adubação orgânica “in
natura”. Desse modo, otimizando o uso de biofertilizante na adubação de tanques de piscicultura
145
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
evitando problemas de mortalidade de peixes com o uso excessivo de tal recurso. Assim, tentamos
responder as seguintes questões: i) Qual a melhor concentração para que a sobrevivência seja
maximizada? ii) Quais variáveis abióticas influenciam no tempo de sobrevivência nas diferentes
concentrações?
MATERIAL E MÉTODOS
O presente experimento foi realizado no Laboratório de Aqüicultura, do Departamento de
Engenharia de Pesca na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, durante o período de 10 de janeiro
a 18 de fevereiro de 2001. Foram utilizados 15 alevinos de tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus),
com aproximadamente 35 dias de idade, distribuídas num delineamento completamente casualizado,
com cinco tratamentos (0, 25, 50, 75 e 100% de diluição do biofertilizante) e três repetições, em 15
aquários, onde foi considerado como unidade experimental, um aquário com 1 alevino. Os aquários de
vidro, apresentavam capacidade total de 57,6 l, entretanto o volume de água utilizado neste
experimento foi de 35 l. Possuíam aeração constante por pedra microporosa ligadas por meio de uma
tubulação de PVC, a um soprador elétrico monofásico com potência de 1/4 cv. Os alevinos foram
alimentados “ad libitum” com ração comercial contendo 32% de proteína bruta.
Os aquários foram sifonados, para a retirada das fezes e restos de ração, uma vez ao dia (12h00)
com a remoção de cerca de 30% da água total diária, sendo as diluições novamente repostas para
concentração acima especificada. A temperatura da água (°C), pH, oxigênio dissolvido (mg/l) e
condutividade elétrica (µS/cm) foram quantificados diariamente, em cada aquário, pela manhã e a tarde
sempre antes da sifonagem.
A fim de verificar qual a melhor concentração de biofertilizante, que resulte em um maior tempo
de sobrevivência, os dados foram plotados em gráfico de dispersão, posteriormente foi ajustado aos
dados um polinômio de grau dois. Para encontrar o ponto de máximo da função ajustada, o qual
corresponde a melhor concentração de biofertilizante, procedemos de forma que derivada fosse igual à
zero, resolvendo o sistema para encontrarmos a solução.
Para verificar se existem diferenças significativas entre as médias das variáveis abióticas entre os
períodos (manhã e tarde; fator 1) e concentrações (0, 25, 50, 75 e 100%; fator 2) foi aplicado uma
análise de variância (ANOVA bifatorial) (os pressupostos de normalidade e homocedasticidade foram
testados pelos testes de Shapiro-Wilk e Levene, respectivamente). Quando a ANOVA identificou
diferenças significativas, foi aplicado o teste de Tukey a posteriori, para verificar quais os níveis dos
fatores que diferiram isso quando a interação não foi significativa. Os testes estatísticos (ANOVA
bifatorial) e a estimação dos parâmetros do modelo (procedimento não-linear, método de estimação dos
146
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
mínimos quadrados) foram feitos usando o software StatisticaTM 7.1 (STATSOFT INC. 2005). O nível
de significância estatística adotada foi de p<0,05. A qualidade do ajuste foi verificada com base em seu
percentual de explicação da variação total.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As variáveis físicas e químicas da água pH, oxigênio dissolvido e condutividade elétrica apresentaram
diferenças, entre as diferentes concentrações e entre os períodos analisados (Tabela 1), porém não é
possível distinguir se a maior fonte de variabilidade é temporal ou dos tratamentos, pois a interação
entre os níveis dos fatores analisados foi significativa, demonstrando tendências diferentes para os
períodos amostrados (Figura 1).
Tabela 1. Resultados das Anovas bifatoriais avaliando-se a fonte de variação dos
tratamentos (concentrações; 0, 25, 50,75 e 100%), temporal (períodos; manhã e tarde)
e a interação entre essas fontes para as variáveis físicas e químicas da água analisadas.
VARIÁVEL
Temperatura
pH
Oxigênio Dissolvido
Condutividade elétrica
EFEITOS
S.Q.
G.L.
Q.M.
F
P
Períodos
1043,61
1
Concentrações
0,00
4
0,00
0,00
1,00
Períodos*Concentrações
0,00
4
0,00
0,01
1,00
Erro
94,20
1040
0,09
Períodos
40,02
1
40,02
Concentrações
1736,39
4
434,10 13069,98 0,00
Períodos*Concentrações
9,86
4
2,46
Erro
34,54
1040
0,03
Períodos
29,93
1
29,93
Concentrações
2288,58
4
572,15
Períodos*Concentrações
10,10
4
2,52
Erro
53,03
1040
0,05
Períodos
69126
1
69126
Concentrações
7152574
4
Períodos*Concentrações
7855
4
1964
Erro
67723
1040
65
1043,61 11521,81 0,00
1204,93 0,00
74,21
0,00
587,0
0,00
11219,8 0,00
49,5
0,00
1061,5
0,00
1788143 27459,8 0,00
30,2
0,00
Legenda: S.Q. = soma dos quadrados; G.L. = graus de liberdade; Q.M. = quadrado médio; F = valor da
estatística F para o nível de significância adotado, segundo o número de graus de liberdade do numerador e
denominador; P = nível de significância. Valores em negrito indicam diferenças significativas em nível de 5%.
147
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Figura 1 – Variáveis físicas e químicas da água. (A) pH; (B) Oxigênio Dissolvido; (C)
Condutividade elétrica; e (D) Temperatura.
Entretanto, nota-se que há uma tendência de diminuição nos valores de pH e oxigênio dissolvido,
como aumenta a concentração de biofertilizante (Figura 1a e b). É interessante ressaltar que mesmo
com a utilização de aeração constante nos diferentes tratamentos, há uma diminuição na concentração
de oxigênio dissolvido, tornando-se desse modo, um fator limitante à sobrevivência dos peixes, pois
segundo Boyd (1990) e Popma e Phelps (1998) os padrões ideais indicados para aqüicultura situam-se
entre 3 a 8 mg/l. A condutividade elétrica, ao contrário, aumentou como aumentaram as concentrações
de biofertilizante, tornando-se também um fator limitante (BOYD, 1990; POPMA e PHELPS, 1998).
A temperatura da água foi a única variável em que a interação não foi significativa, demonstrando
assim, diferenças entre os períodos (manhã e tarde), com a temperatura no período da tarde sendo
superior ao da manhã, o que é esperado, contudo não ocorreram diferenças entre as concentrações de
biofertilizante. Apesar dessa diferença significativa entre os períodos a temperatura ficou entre o
recomendado por Popma e Phelps (1998) para o bom desempenho da espécie.
148
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Além do equilíbrio entre produção e consumo no cultivo de peixes, a harmonia em viveiros de
cultivo adubados com excremento, também se aplica à estabilidade das variáveis físicas e químicas da
água. Concentrações de oxigênio e pH são maiores e os ciclos de oxigênio diurno são mais estáveis, em
lagoas adubadas com excremento que contêm peixes que em lagoas sem peixes (SCHROEDER,
1975a). Pela “pastagem” dos planctívoros, os peixes ajudam a eliminar os ciclos extremos de “bloom”
de algas e a perda pelo sombreamento, comum em viveiros eutróficos. Devido à demanda por oxigênio
pelo excremento adicionado ser previsível (SCHROEDER, 1974), o efeito do excremento adicionado
no regime de oxigênio do viveiro pode também ser previsível. O principal consumo de oxigênio no
viveiro é normalmente associado ao plâncton e a respiração dos peixes (SCHROEDER, 1975b; BOYD
et al. 1978). Excremento, até mesmo a taxas de aplicação de 100 kg de matéria orgânica seca por
hectare por dia, é um fator secundário no consumo de oxigênio. A interação entre peixe e excremento
requer uma boa prática de manejo. Grandes quantidades de excremento, biofertilizante ou esgoto
podem ser adicionados e um alto rendimento de peixes pode ser atingido com um viveiro
ecologicamente equilibrado (WOHLFARTH e SCHROEDER, 1979).
No entanto, altas cargas de biofertilizante necessitam grande demanda de oxigênio para que seus
nutrientes possam ser disponibilizados aos organismos aquáticos, como pode ser observado em nosso
estudo, nas maiores concentrações de biofertilizante, o oxigênio, mesmo com aeração suplementar, foi
um fator limitante a sobrevivência dos peixes.
Além das variáveis analisadas, é importante destacar que o enriquecimento com nutrientes,
principalmente de nitrogênio e de fósforo, em tanques de piscicultura é bastante comum, devido
principalmente à entrada de compostos que contêm tais elementos. Entretanto, o uso inadequado desses
nutrientes associado a uma série de outros fatores bióticos e abióticos pode ocasionar prejuízos tanto
ambientais quanto financeiros (MAINARDES-PINTO; MERCANTE, 2003). De acordo com
Wolhfarth e Schroeder (1979) o excremento animal contém nitrogênio e fósforo, os quais estimulam a
produção heterotrófica, aumentando assim, a produtividade piscícola em viveiros. Apesar de não
termos avaliado as concentrações de nitrogênio e fósforo em nosso experimento, pelos dados
disponíveis na literatura, podemos concluir que tais fatores, possivelmente foram limitantes a
sobrevivência dos peixes. Pois, segundo Boyd (1992) os fertilizantes utilizados em tanques de cultivo
geralmente contêm nitrogênio na forma de amônio e de nitrato. A acumulação dessas formas
inorgânicas é um dos principais obstáculos para o desenvolvimento intensivo de peixes (KOCHBA et
al. 1994). Sipaúba-Tavares (1994) ressalta que a amônia é altamente tóxica para organismos aquáticos
e pode causar severas mortalidades em viveiros. As principais fontes desse elemento nesses locais são
os fertilizantes, os excrementos e a decomposição microbiana dos compostos nitrogenados.
149
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Programas de fertilização devem levar em consideração os requerimentos algais, bem como, a
qualidade da água e do sedimento do viveiro. Entradas excessivas de nitrogênio podem causar altas
concentrações de amônia não ionizadas, as quais podem reduzir o crescimento dos peixes ou causar
mortalidade (RUFFIER et al. 1981; MEADE, 1985).
A figura 2A apresenta a dispersão do tempo de sobrevivência nas diferentes concentrações. Foi
possível observar uma clara diminuição exponencial no tempo de sobrevivência conforme aumentou a
concentração de biofertilizante. Desse modo, foi ajustado um modelo polinomial de grau dois, por meio
da seguinte equação:
Tempo de sobrevivência = a + b*concentração de biofertilizante + c*(concentração de biofertilizante)2
Quando: b e c são os parâmetros e, a é definido pela condição inicial do modelo (Figura 2B).
O modelo apresentou um ótimo ajuste (R2 = 0,99), com uma proporção da variância explicada de
98,57%. Assim, para que o tempo de sobrevivência seja maximizado é necessário calcularmos qual a
melhor concentração de biofertilizante, dessa forma, procedemos ao cálculo do ponto máximo da
função, o qual consiste em igualarmos a derivada da função à zero (f’(x) = 0).
A partir do modelo obtido na figura 2B, o qual corresponde a: Tempo de sobrevivência = 33,97 +
12,53*concentração de biofertilizante – 46,61*(concentração de biofertilizante)2 derivamos a função e
chegamos a: Tempo de sobrevivência = 12,53 – 93,22*concentração de biofertilizante então, igualando
a zero, temos: 12,53/93,22 = concentração de biofertilizante, a qual será igual a: 13,44%. Desse modo,
a concentração ideal para que o tempo de sobrevivência seja maximizado nessas condições do
experimento foi de 13,44% de concentração de biofertilizante, resultando em um tempo de
sobrevivência de 34,81 dias (Figura 2B).
Fazendas piscícolas provavelmente seja o único ramo da agricultura animal no qual o uso de
excremento é uma ferramenta de manejo tradicional. O uso de excremento, como fertilizante de
viveiros piscícolas, é uma prática antiga e muito difundida na Ásia, principalmente na China, onde o
cultivo de peixes tem sido praticado por milhares de anos e o uso de excremento intensivo é uma
prática padrão. Desse modo, o desenvolvimento orgânico heterogêneo, causado pela utilização de
excremento, requer peixes de hábitos alimentares diferentes para sua efetiva utilização, destacando o
uso de policultivos (diferentes espécies de peixes estocadas ao mesmo tempo em cada viveiro) (TANG,
1970; TAPIADOR et al. 1977; WOHLFARTH; SCHROEDER, 1979).
150
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Figura 2 – (A) Dispersão do tempo de sobrevivência nas diferentes concentrações; (B)
Ajuste de um modelo de regressão não-linear (função polinomial de grau dois) para o
tempo de sobrevivência nas diferentes concentrações de biofertilizante. (13,44%, ponto de
máximo da função, indicando a concentração cujo tempo de sobrevivência é maior).
De acordo com Tomazelli Jr. e Casaca (2001) em viveiros devidamente adubados e
apropriadamente estocados com peixes de hábitos alimentares diferentes (policultivo), as partículas
orgânicas provêem a base de nutrientes para a produção de pescado, estimulando a produção de
plâncton e bactérias. Os peixes em policultivo, por sua vez, consomem estes organismos mantendo o
equilíbrio entre a produção e o consumo possibilitando níveis adequados de oxigênio dissolvido, pH e
outras variáveis limnológicas. No entanto, a produção integrada não é uma forma de utilizar totalmente
os dejetos produzidos por suínos, pois os dejetos suínos possuem uma grande carga de DBO (Demanda
Bioquímica de Oxigênio) e DQO (Demanda Química de Oxigênio) prejudicando o desenvolvimento
dos peixes. Então, é perfeitamente conciliável a esta prática a utilização do excedente de dejetos como
biofertilizantes. Desse modo, como citado anteriormente, mesmo a altas taxas de aplicação, se o viveiro
for bem manejado e em sistema de policultivo, a concentração de biofertilizante adicionada pode ser
maior do que 13%.
No Brasil nos últimos anos, a piscicultura vem crescendo de uma forma vertiginosa e, devido ao
alto custo dos insumos necessários à produção, os piscicultores estão optando pelo uso do sistema de
produção integrada de peixes com outros animais que tem o meio aquático como hábitat natural ou
eventual, colaborando com seus excrementos no aumento da produção primária dos viveiros
(CECCARELLI; FIGUEIRA, 2001). Os fertilizantes orgânicos são freqüentemente adicionados em
viveiros para aumentar a produção por meio do aumento da produtividade primária em função dos
151
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
nutrientes inorgânicos liberados ou através da liberação de carbono orgânico por meio heterotrófico.
Dependendo das espécies, os peixes ingerem alimento diretamente dos fertilizantes ou de algas
planctônicas, detrito/fungos ou animais, como zooplâncton e caracóis que se alimentam de algas e
detritus (COLMAN; EDWARDS, 1987).
O excremento pode entrar no regime alimentar, como alimento diretamente consumido pelos
peixes, como uma fonte de minerais usado na produção fotossintética do fitoplâncton e como um
substrato suplementar de matéria orgânica e mineral aos microorganismos heterotróficos. O
conhecimento dos vários caminhos da cadeia alimentar natural pode facilitar para que a estocagem e a
produção de diferentes espécies de peixes em policultivo sejam feitas de uma maneira mais racional, as
quais resultem no aumento da produção piscícola, diminuindo os riscos da mortandade de peixes,
devido à anoxia e a utilização mais eficiente do material contido no excremento (WOHLFARTH;
SCHROEDER, 1979).
Estudos com a utilização de excrementos e fertilizantes minerais têm demonstrado resultados
contraditórios. Fertilizantes minerais foram mais efetivos do que excremento bovino em um estudo de
cultivo de tilápias realizado no Centro de Pesquisas Ictiológicas, Fortaleza, Brasil por Lovshin et al.
1974. No entanto, em Ginosar, Israel na Estação de Cultivo de peixes intensivos Rappoport et al.
(1977) encontraram resultados opostos. Excremento de frango foi mais efetivo do que excremento de
gado em Ginosar, enquanto que em Dor, Israel na Estação de Pesquisas em Aqüicultura e Peixes Moav
et al. (1977) encontraram resultados igualmente efetivos para ambos os excrementos. Essas
contradições podem ser devido aos métodos de manejo empregados e aos níveis de produção
alcançados.
Formas de manejo adequadas são importantes para o sucesso do empreendimento aqüícola e para
a efetividade na utilização de excrementos, pois segundo Schroeder (1973; 1974) os microorganismos
presentes em águas lênticas de viveiros de cultivo são os maiores responsáveis pela eficiência da
utilização de adubos orgânicos, como excremento. Esse mesmo autor demonstrou que a utilização de
excremento líquido de vacas é relativamente segura quando a patologia dos peixes e a demanda de
oxigênio não alcançam níveis críticos. A efetividade do excremento líquido de vaca no cultivo de
peixes pode ser baseada na cadeia alimentar que inicia com a atividade de bactérias e protozoários na
decomposição da matéria orgânica do excremento. Devido a essa cadeia não ser diretamente
dependente da fotossíntese (como é o caso dos fertilizantes químicos), o limite inerente da penetração
de luz e a produção de alimento natural podem ser limitados somente pelo suprimento de nutrientes,
como por exemplo, pela quantidade de excremento e oxigênio dissolvido presente na água do viveiro.
152
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
UTILIZAÇÃO DO ANELIDEO ENQUITRÉIA Enchytraeus albidus HENLE, 1837, NA
ALIMENTAÇÃO DO NIQUIM Lophiosilurus alexandri STEINDACHNER, 1876,
DURANTE A ALEVINAGEM INICIAL.
José Patrocínio LOPES ([email protected]);
Tâmara Almeida e SILVA; Darciene S. GOMES; Ana Cristina M. RANGEL
Departamento de Educação, Universidade do Estado da Bahia, Campus VIII Paulo Afonso.
RESUMO
Na Estação de Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA), utiliza-se branconeta (Dendrocephalus
brasiliensis), na alimentação do niquim (Lophiosilurus alexandri) após a fase de plâncton, sentindo-se
necessidade de alimento vivo intermediário no período pós-larval. O objetivo deste trabalho foi
verificar a possibilidade de enquitréia (Enchytraeus albidus) aumentar a produtividade de alevinos,
principalmente na larvicultura de carnívoros como Lophiosilurus alexandri. Utilizou-se incubadora
para ovos fixos, tipo calha, aonde foi colocada a desova para posterior eclosão das larvas de niquim.
Após eclosão, estas foram transferidas para seis incubadoras e a seguir foi fornecida dieta à base de
plâncton, enquitréias e por fim, Dendrocephalus. Foram realizados dois tratamentos (T1 e T2) com três
repetições. Foram colocadas 50 pós-larvas de niquim por incubadora, com comprimento médio de 10
mm. O cultivo durou 45 dias. No T1, as pós-larvas receberam plâncton durante 15 dias. Do 16º dia e
até o 45º receberam Dendrocephalus animais vivos e mortos. Para o T2, as pós-larvas receberam
plâncton durante 15 dias. Do 16º até o 30º dia, foram alimentadas com o microverme enquitréia como
alimentação intermediária. Do 31º até o 45º dia foram alimentadas com Dendrocephalus. No início do
trabalho, quando os tratamentos receberam a mesma dieta, observou-se crescimento uniforme, com
comprimento médio de 35 mm e sobrevivência 100%. Depois de 30 dias do experimento, os resultados
foram: T1, comprimento médio de 50,01±0,26 mm e T2, comprimento médio de 44,91±0,45 mm. Ao
final do experimento, observou-se em T1, comprimento médio de 71,46±2,41mm e em T2 de
65,89±3,94 mm. A sobrevivência foi de 100, 100 e 99,33% ao longo do cultivo para T1 com uma
média de 99,78% e 100, 12 e 100% para T2 com uma média final de 70,66%. Conclui-se que
Dendrocephalus ainda é o melhor alimento vivo obtido na EPPA para alimentação do niquim.
Enquitréia é um bom alimento, mas os resultados mostraram que como alimento alternativo para o
niquim não apresentou vantagem quando comparado com branconeta, no que se refere ao crescimento
em comprimento e sobrevivência.
PALAVRAS-CHAVES: peixes, larvicultura, alimento natural.
156
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ABSTRACT
USE OF THE ANNELID ENQUITREIA, Enchytraeus albidus HENLE 1837, IN THE FEEDING OF
THE NIQUIM, Lophiosilurus alexandri STEINDACHNER 1876, DURING THE INITIAL
FINGERLING CULTURE
In the Station of Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA), branconeta is used (Dendrocephalus
brasiliensis), in the feeding of niquim (Lophiosilurus alexandri) after the phase of plâncton, feeling
intermediate alive food necessity in the after-larval period. The objective of this work was to verify the
enquitreia possibility (Enchytraeus albidus) to increase the productivity of alevinos, mainly in the
larvicultura of carnivores as Lophiosilurus alexandri. It was used for fixed eggs, type gutter, where was
placed the spawning of fishes for posterior eclosão of the larvae of niquim. After eclosão, these had
been transferred to six incubadoras and to follow it was supplied to diet the base of plâncton,
enquitreias and finally, Dendrocephalus. Two treatments (T1 and T2) with three repetitions had been
carried through. Fifty post-larvae of niquim for incubadora had been placed, with average length of 10
mm. The culture during 45 days. In the T1, post-larvae they had received plâncton during 15 days.
From 16º until 45º day, they had received Dendrocephalus alive and dead animals. For the T2, the
post-larvae had received plâncton during 15 days. In 16º and until 30º day they had been fed with the
enquitreia microworm as intermediate feeding. In 31º and until 45º day they had been fed with
Dendrocephalus. In the beginning of the work, when the treatments had received the same diet, was
observed uniform growth, with average length of 35 mm and survival 100%. After 30 days of the
experiment, the results had been: T1, average length
50,01±0,26 mm and T2, average length
44,91±0,45 mm. To the end of the experiment, was observed in the treatment T1, average length
71,46±2,41mm and in the T2 65,89±3,94 mm. The survival had been of 100, 100 and 99.33% to the
long one of the culture for T1 with a average 99,78% and 100, 12 and 100% for T2 with a final
average 70,66%. One concludes that Dendrocephalus still is the best gotten alive food in the EPPA
for feeding of niquim. Enquitréia is a good food, but the results had shown that as alternative food for
niquim did not present comparative advantage when with branconeta, as for the growth in length and
survival.
KEYWORD: fish, larviculture, natural feed.
157
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
INTRODUÇÃO
Em alguns países da Europa, Estados Unidos da América, Taiwan e Japão pesquisadores têm
descoberto novas fontes alternativas de alimentos vivos para complementar, mas dificilmente para
substituir rotíferos e Artemia como alimentos vivos para larvas de peixes marinhos. Algumas espécies
como Tisbe holothuriae (Copepoda), Daphnia e Moina (Cladocera) surgiram como possíveis fontes
alternativas depois de realizados muitos estudos sobre a nutrição e alimentação de larvas de muitas
espécies de peixes. Alguns desses microcrustáceos planctônicos possuem melhor valor nutricional do
que rotíferos e náuplios de Artemia (KJAEDEGAARD, 1997).
A produção de algumas espécies de organismos zooplanctônicos já acontece em alguns países
da Europa (Reino Unidos, Noruega e Bélgica) e tem se tornado uma possibilidade viável em muitas
larviculturas. No Brasil, alguns experimentos de maneira isolada estão sendo realizados com o objetivo
de se descobrirem novos candidatos a alimentos vivos.
Na região Nordeste do Brasil, desde 1998, pesquisadores da Companhia Hidroelétrica do São
Francisco (CHESF) em parceria com as Universidades do Estado da Bahia (UNEB) e Federal Rural de
Pernambuco (UFRPE) vêm intensificando esforços no sentido de dominar a técnica de produção de
cistos e náuplios de Dendrocephalus brasiliensis (branconeta) e sua utilização no cultivo de espécies
carnívoras e ornamentais, a exemplo de Lophiosilurus alexandri (niquim), Salminus brasiliensis
(dourado), Cichla ocellaris (tucunaré), Astronotus ocellatus (apaiari) e Pterophyllum scalare (acarábandeira).
Assim como a carcinicultura, a piscicultura continua tendo um grande crescimento. Segundo o
Comitê de Organismos Aquáticos (COAq), da Associação Nacional dos Fabricantes de Ração
(ANFAL), 101.000 toneladas de rações para peixes foram comercializadas em 2000 (KUBITZA, 2001
apud LOPES, 2002). Sabe-se, entretanto, que a formulação de dietas compostas por alimentos vivos na
fase de larvicultura apresenta melhores resultados quando comparada às rações artificiais
micropeletizadas e microencapsuladas (KOLKOVSKI, 1995). Neste contexto, reitera-se aqui a
importância do domínio da nutrição e da alimentação larval como fator determinante para o sucesso de
um cultivo em grande escala.
Procurando viabilizar o cultivo de espécies de peixes carnívoros, o grupo dos crustáceos
branchiópodos, cujo tamanho é normalmente da ordem de 1 a 2 cm, porém podendo alcançar
dimensões entre 7 a 10 cm como a Branchinecta gigas (COHEN, 1995), vem desempenhando um
papel fundamental no desenvolvimento da aqüicultura.
158
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Na Estação de Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA), vem sendo utilizado com sucesso a
branconeta, Dendrocephalus brasiliensis, Pesta 1921, na alimentação de L. alexandri após a fase de
plâncton, no entanto sente-se necessidade de um alimento vivo intermediário no período pós-larval.
O cultivo em massa de Enchytraeus albidus Henle, 1937 pode minimizar as dificuldades e
aumentar a produtividade de alevinos de peixes, principalmente a larvicultura de peixes carnívoros
como o niquim, L. alexandri. No entanto, para substituição de uma dieta é necessário, entretanto, que a
nova dieta tenha características particulares que proporcionem boa aceitação pelas larvas em
crescimento.
Segundo Kjaedegaard (1997), a produção de algas, de diversas espécies (Chlorella sp.,
Chaetoceros sp., Dunaliella sp.) de rotíferos (Brachionus plicatilis) e do microcrustáceo
zooplanctônico Artemia (cistos descapsulados, náuplios, metanáuplios e biomassa) há muito é realidade
na larvicultura de peixes marinhos e de crustáceos em países desenvolvidos e em muitos em
desenvolvimento. As técnicas de enriquecimento de B. plicatilis e de Artemia não só estão
suficientemente dominadas como são amplamente utilizadas por técnicos e profissionais da área de
larvicultura. Entretanto, segundo Kjaedegaard (1997), a oscilação do preço dos cistos de Artemia no
mercado mundial, sua disponibilidade e a crescente demanda por estes alimentos vivos imprescindíveis
para a larvicultura de dezenas de espécies marinhas forçaram governo de diversos países a investirem
milhões de dólares na pesquisa de novas fontes alternativas de alimentos vivos, rações
microencapsuladas e micropeletizadas que viessem a dar novas perspectivas para substituir ou
complementar o uso de rotíferos e de Artemia na alimentação das larvas de peixes.
Normalmente, o início da fase piscívora de peixes carnívoros coincide com a depleção do
zooplâncton e outros alimentos naturais, ou ainda, quando o tamanho do alimento não mais se adequa
às exigências energéticas e preferência alimentar dos juvenis. Desenvolve-se então a preferência
alimentar por crustáceos e peixes que permanecerá por toda vida (LOPES, 2002).
Os estágios mais difíceis da piscicultura são a passagem das larvas para alevinos (SIPAÚBATAVARES, 1993). A larvicultura das espécies de peixe tem sido desvantajosa por falta de alimentação
em tamanhos adequados de zooplâncton vivos, para as larvas (LUBZENS 1987; DIAS et al., 1988;
YAMANKA 1988; LUCAS et al., 1990; SIPAÚBA-TAVARES e ROCHA, 1994). Através do cultivo
da enquitréia, E. albidus visando alimentação na alevinagem inicial do niquim, têm-se uma perspectiva
de desenvolvimento não só desta espécie carnívora, mas de muitos outros peixes carnívoros de
interesse comercial e ecológico. O presente trabalho tem como objetivo o cultivo de enquitréia, E.
albidus como mais uma fonte alternativa de alimento de L. alexandri durante a alevinagem inicial.
159
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na Estação de Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA) (24 L 0586000
UTM 8963002), situada na avenida Maranhão S/N, Paulo Afonso, Bahia, pertencente à Companhia
Hidroelétrica do São Francisco (CHESF).
Foram utilizadas sete incubadoras tipo calha
(Figura 1), onde foram depositada a desova (ovos
adesivos) para posterior eclosão das larvas. Cinco
dias após a eclosão, quando as pós-larvas estavam
aptas
para
serem
transferidas
para
outras
incubadoras e a seguir acompanhamento de sua dieta
a base de plâncton, enquitréias e branchoneta
conforme processo tradicional utilizado na EPPA.
Por outro lado, para o cultivo da enquitréia
foram utilizadas
caixas
de
FIGURA
1
-
INCUBADORAS
TIPO
CALHA
UTILIZADAS NO EXPERIMENTO.
plástico medindo
17x12x10 cm, com carvão ativado em uma coluna de 2cm de altura, sempre úmida para servir como
substrato. Adicionou-se uma colher de sopa com enquitréias de cultura prévia e colocou-se uma lâmina
de vidro com 8x5cm por cima da cultura (Figura 2). O vidro serve para facilitar a colheita da
enquitréia.
A alimentação para as enquitréias consistiu de
uma papa de aveia e água com uma consistência de mel
servida geralmente a cada dois ou três dias. Na coleta
das enquitréias para alimentação dos peixes utilizou-se
de uma pinça cirúrgica.
O experimento constou de dois tratamentos (T1
e T2) com três repetições cada. Após sorteio das calhas
por tratamento, cada calha recebeu 50 pós-larvas de
FIGURA 2 – CAIXA
PLÁTICA, COBERTA COM
LÂMINA DE VIDRO UTILIZADA NO CULTIVO DE
ENQUITRÉIAS.
niquim cujo comprimento médio inicial foi de 10 mm
(Tabela 1). Para T1, as pós-larvas receberam plâncton
durante 15 dias. A partir do 16º dia e até o 45º dia passaram a receber branchonetas vivas (Figura 3) e
também mortas, dependendo da disponibilidade, de acordo com o procedimento de rotina da EPPA.
Para T2, as pós-larvas receberam plâncton durante 15 dias. A partir do 16º dia e até o 30º dia receberam
160
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
como alimento vivo enquitréia em alimentação intermediária. A partir do 31º dia e até o 45º dia foram
alimentadas com branchonetas.
O tempo de duração do experimento para observação do crescimento médio dos peixes em
comprimento (mm) e percentuais de sobrevivência foi de 45 dias. Para avaliação do crescimento
tomou-se apenas o comprimento dos peixes, visto que essa variável é mais utilizada nos trabalhos de
Tabela 1. Alimentação natural das larvas de acordo com os tratamentos.
TRATAMENTOS
T1
T2
TOTAL DE PÓS-LARVAS CALHA
DIETA
50
50
50
9
10
14
Plâncton + branchoneta
Plâncton + branchoneta
Plâncton + branchoneta
50
50
50
11
12
13
Plâncton + enquitréia + branchoneta
Plâncton + enquitréia + branchoneta
Plâncton + enquitréia + branchoneta
propagação de alevinos em reservatórios como
os desenvolvidos pelas companhias do setor
elétrico, como no caso da CHESF
Os tratamentos foram submetidos ao
teste de significância da diferença entre duas
médias (teste “t” ou de Student) ao nível de
significância α = 5%.
Figura 3 - Exemplar de Dendrocephalus
brasiliensis (Fonte: Lopes, 2003)
RESULTADOS
Decorridos 15 dias do início da 1ª etapa desse trabalho, com a utilização de organismos vivos
do zooplâncton para ambos os tratamentos, foi observado o desenvolvimento dos alevinos. Com auxílio
de um paquímetro foi realizada biometria e verificou-se um comprimento médio de 35 mm para os
alevinos nos dois tratamentos e a sobrevivência de 100%.
Na segunda fase do experimento quando os peixes em T1 passaram a receber branconetas e os
peixes em T2 enquitréias como alimento, decorridos os quinze dias desta fase (total de 30 dias), os
resultados foram os seguintes: em T1, os niquins alimentados com branconeta alcançaram o
comprimento médio de 50,01±0,26 mm e sobrevivência de 100% e em T2, os niquins alimentados com
enquitréias alcançaram o comprimento médio de 44,91 mm e sobrevivência de 12%.
161
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Na terceira e última fase do experimento os alevinos em T1 continuaram a receber branconetas
como alimento e os alevinos em T2 passaram a receber também branconetas em substituição as
enquitréias. Concluídos os 15 dias finais do experimento (total de 45 dias), os resultados foram os
seguintes: a) Os alevinos em T1 atingiram ao final do trabalho um comprimento médio de 71,46±2,41
mm (Fig 4) e sobrevivência de 99,33% com uma média geral em termos de sobrevivência de 99,78%.
Na tabela 2 é apresentada uma síntese de T1.
Os alevinos em T2 alcançaram um comprimento médio de 65,89±3,94 mm (Figura 5) e
sobrevivência 100% nesta fase. No tratamento como um todo, a sobrevivência foi de 70,66%. Na
Tabela 3 é apresentada uma síntese dos resultados de T2
Figura 4 – Tratamento 1: Alevino de
Figura 5 - Tratamento 2: Alevino de
niquim ao final do cultivo alimentado
niquim ao final do cultivo alimentado
com plâncton + branconeta
com plâncton + enquitréia +
Tabela 2 - tratamento T1: Síntese dos resultados da alimentação do niquim.
Dias
Alimento
Comp. Médio (cm)
Sobrevivência (%)
0-15
Plâncton
35±0,10
100
16-30
Branconeta
50,01±0,26
100
31- 45
Branconeta
71,46±2,41
99,33
A média dos dois tratamentos (T1 e T2), submetida ao teste de significância da diferença entre
as duas médias (teste “t” ou de Student) ao nível de significância α = 5 % apresentou diferença
significativa no que se refere à sobrevivência e comprimento, com uma superioridade de T1 sobre T2.
Tabela 2 - tratamento T2: Síntese dos resultados da alimentação do niquim.
Dias
Alimento
Comp. Médio (cm)
0-15
Plâncton
35±0,10
100
16-30
Enquitréia
44,91±0,12
12
31-45
Branconeta
65,89±3,94
100
162
Sobrevivência (%)
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
DISCUSSÃO
A branconeta, cujo valor protéico em torno de 67% de proteína bruta, supera o da artêmia 61,60,
se mostra com níveis protéicos suficientes para suprir as necessidades não só de peixes carnívoros mas
também de outros animais aquáticos como os camarões por exemplo. Com referência ao comprimento,
as branconetas, dependendo das condições ambientais aonde são cultivadas, atingem em torno de 25
mm, superando também a artêmia que é de 11 mm, isto implica positivamente numa maior produção de
biomassa de branconeta em relação a artêmia (LOPES, 1998).
Lopes e Tenório (2003) citam a grande importância da branconeta, Dendrocephalus
brasiliensis, como alimento natural, tornando-se um grande elo para o desenvolvimento de alevinos de
niquim a partir do momento em que o zooplâncton e outros organismos do plâncton não se fazem mais
atrativos para essa espécie.
Segundo Kubitza (1998), a importância do alimento natural em piscicultura é maior durante as
fases de larvicultura e alevinagem ou na recria de espécies planctófagas. Daí o bom desenvolvimento
dos alevinos de niquim quando alimentados com organismos vivos com a branconeta, por exemplo.
Segundo Pillay (1995), os organismos cultivados na aqüicultura têm de obter todos os seus
requerimentos nutricionais exceto os requerimentos minerais, através de alimentos que eles consomem.
A branconeta como animal filtrador de algas, pode repassar para os peixes vários nutrientes existentes
nesse alimento natural. Assim, é que para melhorar a qualidade nutricional dos alimentos vivos
normalmente utilizados (rotíferos e Artemia) com a finalidade de fornecer às larvas todos os nutrientes
necessários para seu desenvolvimento e crescimento larval, utiliza-se a técnica de enriquecimento com
emulsões (Selco
TM
, Super-SelcoTM) ricas em ácidos graxos (HUFA, EPA, DHA), vitaminas (C e E),
antibióticos e pigmentos (carotenóides).
Kubitza e Lovshin (1999) afirmam que a produção intensiva de peixes carnívoros pode ser
dificultada quando o alimento vivo é o único item alimentar. Entretanto, seu uso como dieta inicial no
treinamento alimentar de peixes carnívoros é amplamente aceito. Em seu trabalho utilizando alimento
vivo como dieta inicial no treinamento alimentar de juvenis de pirarucu (Arapaima gigas) verificou que
provavelmente o uso de alimento vivo seja a estratégia alimentar mais viável para facilitar a aceitação
de rações por parte destes juvenis, uma vez que é um alimento naturalmente consumido, podendo
oferecer a vantagem de treinar peixes de tamanhos menores e de não ser necessário o uso de atrativos.
Juvenis de pirarucu apresentam associação gregária e podem ser influenciados por condições
que favoreçam o estabelecimento de classes hierárquicas aumentando com isso a heterogeneidade do
lote, podendo resultar em agressões (CAVERO et al., 2003). Nos juvenis de niquim em estudo, foi
163
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
observado canibalismo acentuado em T2 com uso de E. albidus como alimento. Isto provavelmente é
justificado pela composição protéica deste microverme que apresenta alto teor de gorduras sólidas que
são oleosas, o que dificulta o processamento pelos peixes de modo eficaz quando oferecido
diariamente, aliado ao fato também de associação gregária existente nesta espécie.
Kubitza e Lovshin (1999) citam que este tipo de comportamento (canibalismo) pode ocorrer
durante o treinamento alimentar de diversas espécies de peixes carnívoros. Provavelmente as agressões
observadas: mordeduras nas nadadeiras caudais estejam associadas à mudança repentina da
alimentação durante o treinamento alimentar, fato que pode ter influenciado no comportamento dos
peixes. Entretanto, não existem registros de canibalismo ou agressões entre juvenis de pirarucu criados
em cativeiro.
Lopes et al. (1996) utilizaram o rotífero marinho B. plicatillis, náuplios de Artemia salina e do
cladócero Moina micrura na alimentação de larvas do surubim-pintado e observaram que esta espécie
aceita bem o alimento vivo como dieta inicial.
CONCLUSÕES
A branconeta é o melhor alimento vivo obtido na região para alimentação do niquim. A
enquitréia é um bom alimento. No entanto, sua utilização como alimento alternativo na dieta do
niquim, não apresenta vantagem quando comparado com a branconeta, tanto no que se refere ao
crescimento quanto à sobrevivência de pós-larvas.
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166
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