Vítor Ramalho diz que Portugal não aproveitou o legado da resistência
(C/ÁUDIO)
Número de Documento: 18401954
Lisboa, Portugal 25/10/2014 16:45 (LUSA)
Temas: Literatura, Cultura (geral), História, Direitos humanos, Partidos e movimentos,
Política (geral)
Lisboa, 25 out (Lusa) – Vítor Ramalho, secretário-geral da União das Cidades Capitais de
Língua Portuguesa (UCCLA), disse à Lusa que Portugal não soube aproveitar o legado
histórico construído pelos antigos membros da Casa dos Estudantes do Império.
“Não tem havido preocupação de ir fundo nas memórias coletivas e é uma pena. Há um
vazio que não temos sabido aproveitar, nem nas escolas, nem nas próprias instituições “,
disse à Lusa Vítor Ramalho, organizador da homenagem aos antigos alunos da Casa dos
Estudantes do Império, na quarta-feira, em Coimbra.
Criada pela ditadura em 1944, a Casa dos Estudantes do Império destinava-se a acolher os
jovens das colónias durante o percurso universitário, em Portugal.
A instituição acabou por albergar os jovens nacionalistas e a elite dos movimentos de
independência a partir do final dos anos 1950.
Com sede em Lisboa, uma delegação em Coimbra e mais tarde no Porto a Casa dos
Estudantes do Império, sob vigilância da polícia política, foi encerrada por ordem de Salazar,
em 1965.
Para Vítor Ramalho, a “memória comum não pode ser esquecida” e recorda que os próprios
portugueses acompanhavam os jovens que vinham das colónias, não só do ponto de vista
cultural.
“Os outros países europeus que descolonizaram África já eram democracias consolidadas há
anos e isso não ocorreu com Portugal e portanto as cumplicidades que se estabeleceram e a
afetividade que então se formou entre estes jovens foi uma coisa marcante, única”, afirma
Vítor Ramalho sublinhando que os atuais interesses económicos não devem ultrapassar o
passado de resistência contra o totalitarismo.
“É grave e é uma pena porque a estratégia para a afirmação dos nossos povos no mundo –
de uma das línguas mais faladas no mundo - faz-se também pela cultura que é
complementar dos negócios e vice-versa. Não podemos valorizar apenas a componente do
lucro, sobretudo do lucro fácil. Temos especificidades que não podemos perder de maneira
nenhuma”, diz Vítor Ramalho.
Para homenagear os associados da Casa dos Estudantes do Império, a União das Cidades
Capitais de Língua Portuguesa (UCCLP), organiza na Universidade de Coimbra um encontro
em que vão estar presentes políticos e intelectuais que estiveram envolvidos na instituição.
As comemorações vão prologar-se até maio de 2015, altura em que se vai realizar em Lisboa
um colóquio e uma exposição sobre a Casa dos Estudantes do Império.
Entretanto, durante os próximos 12 meses a UCCLP vai também reeditar várias obras dos
antigos associados da Casa dos Estudantes do Império considerados nomes “incontornáveis”
da cultura e da política dos países de língua oficial portuguesa.
PSP // PJA
Lusa/fim
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