Bioenergia em Revista:
Diálogos
ano 4 | n. 1 | jan.2014 / jun.2014 | ISSN: 2236-9171
Bioenergia em Revista:
Diálogos
ISSN: 2236-9171
Bioenergia em Revista: Diálogos | publicação semestral | Piracicaba / Araçatuba
ano 4 | n. 1 | jan. 2014 / jun. 2014
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Editoria
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Editores de Seção
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Comissão Editorial
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Marcia Nalesso Costa Harder - Fatec Piracicaba
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Bioenergia em Revista: Diálogos (ISSN 2236-9171) é uma publicação eletrônica semestral
vinculada a Faculdade de Tecnologia de Piracicaba “Dep. Roque Trevisan” e a Faculdade de Tecnologia
de Araçatuba (Fatecs).
Objetivo: publicar estudos inéditos, na forma de artigos e resenhas, nacionais e internacionais,
que contribuam ao debate acadêmico-científico, além de estimular a produção acadêmica nos
níveis da graduação e pós-graduação.
Os artigos são de responsabilidade exclusiva dos autores. É permitida sua
reprodução, total ou parcial, desde que seja citada a fonte.
Bioenergia em Revista: Diálogos / Fatec - Faculdade de Tecnologia de Piracicaba /
Faculdade de Tecnologia de Araçatuba. - - Piracicaba / Araçatuba, SP: a Instituição, desde 2011.
v. Semestral - ISSN 2236-9171
1. Ciências Aplicadas / Tecnologia- periódico I.
Bioenergia em Revista: Diálogos II. Fatec Faculdade de Tecnologia de Piracicaba “Dep. Roque Trevisan” / Faculdade de Tecnologia de Araçatuba
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Sumário
5
7
10
Apresentação
Chamada de Artigos
Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de
óleos essenciais
TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana Heloísa Pinê; FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo;
GRANJA, Ana Carolina Ribeiro; HARDER, Márcia Nalesso Costa
23
34
58
Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes
porcentagens de soluções nutritivas
TESTOLIN, Gilmar; MANFRON, Paulo A.; ALVES, Vagner C.; MARQUES, Tadeu A.;
RAMPAZO, Érick M.
Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise
sob as perspectivas aprendiz, professor e empresa
CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana
Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo
bovino em Feira de Santana – Bahia
MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna
71
Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça e irradiado*
RHEINBOLDT, Marcella Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo;
CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos
82
98
Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de
formação
GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia;
SILVA, Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José; SILVA, Reinaldo Gomes da
126
Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD)
MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de; FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo;
AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia Hortense;
138
Dilemas da sustentabilidade urbana
MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick M.
Apresentação
A publicação Bioenergia em Revista: Diálogos, das Faculdades de Tecnologia de Piracicaba Dep.
“Roque Trevisan” e de Araçatuba apresenta à comunidade acadêmica mais um número, cuja proposta
segue pensando a formação tecnológica, porém considerando sempre a relevância da pesquisa, inovação e
dialogicidade como elementos constituidores desta formação.
Nessa perspectiva, o presente número traz a reflexão importantes temas que envolvem as áreas de
abrangência deste periódico.
O artigo “Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de
óleos essenciais” inicia a presente edição apresentando um levantamento bibliográfico acerca do potencial
de reaproveitamento energético dos subprodutos da madeira e extração de óleos essências das folhas para
outros fins. Lembram os autores, que tal estudo se deve ao fato de haver uma grande lacuna na literatura
especializada com relação a um adequado gerenciamento destes resíduos, negligenciando seus riscos
ambientais e sanitários, bem como seu potencial energético. Apontam, ainda, que de acordo com os dados
levantados, os diversos subprodutos demonstraram potencial para o seu reaproveitamento energético
através da produção de licor negro, carvão vegetal, briquetes, pellets, álcool e ácido pirolenhoso, e a
extração de óleos essenciais das folhas para utilização em indústria de cosméticos, produtos de limpeza,
entre outros.
“Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes
porcentagens de soluções nutritivas” trata de um trabalho que foi conduzido em estufa plástica, no
Instituto Federal Catarinense, Campus de Concórdia, SC, com o objetivo de avaliar o desempenho
agronômico da cultura da alface, cultivar Vera, no sistema hidropônico utilizando água de piscicultura
misturada com diferentes percentuais de solução nutritiva e avaliar o incremento de fitomassa seca,
analisando teores de nitrato (NO-3) nas folhas da alface na colheita. Afirmam os autores que os resultados
evidenciaram que: (a) a água residual da criação de peixes, em açudes no sistema semi-intensivo, não é
capaz de fornecer os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento das plantas de alface
para fins comerciais; (b) a produção de alface utilizando o sistema semi-intensivo com o uso da água da
piscicultura é tecnicamente viável em açudes, desde que seja realizada uma adubação complementar para
suprir as necessidades nutricionais das plantas; (c) o tratamento T1 apresentou os melhores resultados,
tendo as plantas atingido uma fitomassa verde e seca, respectivamente de 378,70 g e 19,97 g; (d) o
tratamento T2 não apresentou diferença significativa para o tratamento testemunha, com 293,59 g e 19,28
g, respectivamente, o que demonstra uma efetividade do sistema semi-intensivo, e que o mesmo é
perfeitamente viável a partir de ajustes nutricionais; (e) o tratamento T1 apresentou maior teor de nitrato
aos 28 dias após transplante, com 793,3 mg kg-1 de NO3-, entretanto, dentro dos limites aceitáveis para o
consumo humano das folhas de alface.
O eixo Gestão Empresarial traz à discussão o artigo “Programa de aprendizagem profissional e sua
contribuição mercadológica: uma análise sob as perspectivas aprendiz, professor e empresa” que reflete
sobre a aprendizagem profissional tendo se tornado um dos meios mais importantes para o
desenvolvimento de competências profissionais, principalmente para jovens que buscam a colocação no
mercado de trabalho que, atualmente, encontra-se em constante mudança. Desse modo, a fim de
contribuir com a inserção dos jovens no mercado de trabalho, instituições desenvolveram os Programas
de Aprendizagem Profissional. A partir desta proposta os jovens participam, como aprendizes, de
atividades teóricas em uma instituição de ensino e as atividades práticas em uma empresa da cidade onde
residem. Os autores informam, nesse sentido, que o objetivo do estudo foi verificar a contribuição deste
programa desenvolvido em Piracicaba-SP e seus resultados parciais considerando alunos, docentes e
empresas envolvidos.
“Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em
Feira de Santana – Bahia” apresenta um estudo de viabilidade econômico-financeira de uma mini usina
que utiliza sebo bovino como matéria-prima para produção de biodiesel. O estudo de implantação do
investimento foi realizado no município de Feira de Santana (Bahia), escolhido por algumas
particularidades tais como: localização privilegiada, próxima tanto da matéria-prima (zonas de criação de
gado e dos principais frigoríficos industriais), quanto da Refinaria Landulfo Alves de Mataripe (RLAM) e
das distribuidoras de combustíveis. Apontam os autores que o estudo demonstrou que, apesar das
vantagens em termos de custo do sebo bovino, um empreendimento que utilize apenas essa matéria-prima
não seria viável do ponto de vista econômico.
No âmbito das discussões referentes ao eixo Alimentos apresenta-se o artigo “Análise descritiva
quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça e irradiado*”. Informam os autores que a análise
descritiva quantitativa avaliou o perfil sensorial de pães franceses enriquecidos com linhaça, de 8 e 12%, e
submetidos à radiação ionizante com 60Co nas doses de 6, 8 e 10kGy, além dos controles, sem adição de
linhaça e irradiação. As amostras foram avaliadas por onze provadores selecionados e treinados em relação
aos atributos sensoriais: aparência característica, cor da casca, aroma característico, consistência da textura,
sabor característico e sabor de peixe. Em conclusão apontam os autores que, a adição de linhaça e a
irradiação não influenciaram consideravelmente os atributos “cor da casca” e “textura consistente”,
porém, amostras com maior quantidade de linhaça e dose de radiação apresentaram maiores valores
quanto ao “sabor de peixe”.
O artigo “Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de
formação” retrata o levantamento de dados e a análise das informações do conteúdo da pesquisa,
referente permanência trabalhando na área de formação dos alunos formados pela Fatec – Faculdade de
Tecnologia Deputado Roque Trevisan. Esta pesquisa pretende dar início a uma linha permanente de
análises e acompanhamento da vida profissional dos ex-alunos em todos os cursos de graduação da Fatec
Piracicaba. Basicamente se constitui em um estudo sobre a vida atual profissional dos ex-estudantes
formados nos últimos dois anos partindo de uma amostra inicial de 105 entrevistados nas duas áreas de
formação selecionadas. O objetivo imediato deste trabalho é desenvolver indicadores e permitir análises
sobre a empregabilidade, níveis salariais e identificar o período de início de trabalho na área de formação,
ou ainda, conhecer se nunca trabalharam na área de formação tecnológica. Pretende-se contribuir com o
Estado e o público em geral, pois tal informação tem importância em relação às possibilidades e iniciativas
que deverão surgir, seja de continuidade no acompanhamento, de orientação, de revisão metodológica dos
programas ou de proximidade e valorização do capital humano.
Na sequência, o artigo “Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores:
flex e híbrido” busca identificar as vantagens ecológicas geradas pelos veículos produzidos com motores a
combustível e com motores híbridos. O estudo aborda a preocupação com a questão ambiental e analisa
os prós e os contras de cada tipo de motor com relação à emissão de poluentes. Novas tecnologias de
motores híbridos para veículos estão sendo efetuadas pelo governo através de políticas públicas de
incentivos, como forma de estimular a inovação, o consumo e reduzir os efeitos da poluição nas grandes
cidades. O estudo discute, ainda, uma comparação entre os tipos de motores, o volume de emissão de
CO2, o processo de reciclagem e o ciclo de vida de tais produtos. A metodologia consiste numa revisão de
literatura e na utilização de dado secundários. Os resultados demonstram que os veículos híbridos são
considerados os mais ecológicos, mas, isso não significa que é um produto 100% ecológico, que preserva
o meio ambiente.
“Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD)” apresenta
um estudo no qual lembra que as ervas daninhas são um grave problema para grande parte das culturas
produzidas em todo o mundo, pois apresentam algumas características como o rápido crescimento,
produção contínua, alta longevidade e dormência. Também apresentam um curto período entre floração e
germinação, e germinam em quase todo substrato úmido e sem fertilização específica. No entanto, devido
ao fato de serem concorrentes diretas das culturas, disputando água, nutrientes e luz, é conveniente que
sejam controladas. A atrazina é uma substância que tem alto poder destrutivo, em relação às plantas
daninhas, por isso é muito empregada, principalmente nas culturas de grãos e gramíneas, mas seu uso em
excesso prejudica o solo e os mananciais. Uma técnica muito utilizada na quantificação dessas substâncias
é pela análise por cromatografia gasosa acoplada a detector por captura de elétrons. Neste contexto, este
trabalho objetiva analisar amostras de água e solo, coletadas no Ribeirão dos Porcos para quantificação de
atrazina, através de análises cromatográficas. Nesse sentido, os autores apontam que de acordo com os
resultados obtidos, as amostras de solo e água superficial coletadas não apresentaram contaminação pelo
herbicida atrazina.
Fechando a presente edição, o artigo “Dilemas da sustentabilidade urbana” mostra a relação dos
indivíduos com o meio ambiente, e a importância de um crescimento e desenvolvimento sustentável para
uma qualidade de vida, da nossa e futuras gerações. Nessa perspectiva, a preservação do meio ambiente
deve ser entendida como essencial para a qualidade de vida da nossa e futuras gerações. Neste contexto se
verifica a grande importância de uma gestão pública-privada participativa e compartilhada, com ênfase na
co-responsabilização por uma melhor qualidade de vida, com estímulos para ações preventivas na direção
de um desenvolvimento sustentável. Nestas ações necessitamos da continuidade, persistência e
manutenção dos direitos individuais de cada indivíduo, possibilitando a todos uma vida com qualidade.
Boa leitura a todos!
A Editora
Chamada de artigos
A Revista Bioenergia em Revista: Diálogos convida pesquisadores, docentes e
demais interessados das áreas de Bioenergia, Gestão Empresarial, Agroindústria, Alimentos e
áreas afins, a colaborarem com artigos científicos, de revisão e/ou resenhas para a próxima
edição deste periódico.
As normas de submissão e análise estão disponíveis em nosso site –
www.fatecpiracicaba.edu.br/revista. Os trabalhos serão recebidos por via eletrônica até
30/11/2014, e os autores poderão acompanhar o progresso de sua submissão através do sistema
eletrônico da revista.
Os dados apresentados, bem como a organização do texto em termos de formulação e
encadeamento dos enunciados, das regras de funcionamento da escrita, das versões em língua
inglesa e espanhola dos respectivos resumos, bem como o respeito às Normas da ABNT são
de inteira responsabilidade dos articulistas.
Aproveitamento sustentável dos
subprodutos da madeira e das folhas para
extração de óleos essenciais
TORRES, Nádia Hortense
AMÉRICO, Juliana H. P.
ROMANHOLO FERREIRA Luiz Fernando
RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina
HARDER, Marcia N. C.
Resumo
O presente estudo é um levantamento bibliográfico acerca do potencial de reaproveitamento energético
dos subprodutos da madeira e extração de óleos essências das folhas para outros fins. Isto se deve ao fato
de haver uma grande lacuna na literatura especializada com relação a um adequado gerenciamento destes
resíduos, negligenciando seus riscos ambientais e sanitários, bem como seu potencial energético. Contudo,
de acordo com os dados levantados, os diversos subprodutos demonstraram potencial para o seu
reaproveitamento energético através da produção de licor negro, carvão vegetal, briquetes, pellets, álcool e
ácido pirolenhoso, e a extração de óleos essenciais das folhas para utilização em indústria de cosméticos,
produtos de limpeza, entre outros.
Palavras-chave: Madeira; óleos essenciais; subprodutos.
Abstract
Present study is a literature perform about the potential reuse of energy wood by-products and extraction
of essential oils for another uses. This is because there is a big lack in literature with respect to an
appropriate management of these residues, neglecting their environmental and health risks, as well as its
potential energy. However, according to data obtained, various byproducts demonstrated its potential for
reuse of energy through the production of black liquor, charcoal, briquettes, pellets, pyroligneous acid and
alcohol, and essential oils extracted from leaves for use in cosmetic industry, cleaning products, among
others.
Keywords: Wood; essential oils; subproducts.
Resumen
El presente estudio es una revisión de la literatura en la reutilización potencial de la energía a partir de
subproductos de madera y la extracción de aceites esenciales para otros fines. Esto se debe a que hay un
gran vacío en la literatura con respecto a una adecuada gestión de estos residuos, dejando de lado sus
riesgos ambientales y de salud, así como su potencial de energía. Sin embargo, de acuerdo con los datos
obtenidos, los diversos subproductos demostraron su potencial de reutilización de la energía a través de la
producción de licor negro, carbón de leña, briquetas, pellets, ácido piroleñoso y el alcohol, y aceites
esenciales extraídos de las hojas para su uso en la industria comésticos, productos de limpieza, entre otros.
Palabras-clave:
Madera,
aceites
esenciales,
10
productos
secundarios.
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 10-22, jan./jun. 2014.
TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana H. P.; ROMANHOLO FERREIRA Luiz
Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C.
Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais
INTRODUÇÃO
A madeira é um material que vem sendo largamente utilizado pela humanidade ao longo
da história. No Brasil, um país rico em florestas nativas, convive-se com a exploração desses
recursos, às vezes de maneira não racional (BIASI & ROCHA, 2007).
Os resíduos sólidos representam um dos grandes desafios previstos para o século XXI.
Essa preocupação se justifica pelo crescente aumento da sua geração e pelo reconhecido déficit
de soluções sanitárias e ambientalmente adequadas à sua disposição final ou reaproveitamento,
sendo estas últimas ainda incipientes no país, embora de grande potencial. Além do aumento na
quantidade gerada, são descartados, diariamente no ambiente, resíduos de composições cada vez
mais complexas, tornando ainda mais difíceis e onerosos os processos de reaproveitamento,
limitando a capacidade de sua assimilação pelo ambiente natural. Somada aos impactos sanitários
e ambientais causados pela sua disposição inadequada, a geração de resíduos retrata um grande
desperdício de matéria-prima e energia. Dentro deste panorama, as indústrias de transformação
são responsáveis pelos maiores impactos ambientais registrados (FARAGE et al., 2013).
Sabe-se que hoje a atividade industrial madeireira no Brasil é altamente geradora de
resíduos de madeira. Adicionalmente, a utilização da madeira no meio urbano através da
construção civil, descarte de embalagens e poda da arborização urbana, acabam gerando um
volume expressivo de resíduos de madeira dos pequenos aos grandes centros urbanos do país. E
para Wiecheteck (2009), tal fato é um problema na medida em que apenas uma parcela do
volume de resíduos de madeira gerados tem atualmente algum aproveitamento econômico, social
e/ou ambiental.
De acordo com o mesmo autor, o excesso de resíduos de madeira associada ao baixo
aproveitamento tem como resultado danos ambientais que, além de perda significativa de
oportunidade para a indústria, comunidades locais, governos e sociedade em geral, especialmente
em regiões remotas, dependentes de fontes energéticas externas. Porém, os resíduos de madeira
gerados no processamento e não utilizados podem deixar de ser um passivo ambiental, sendo
processados como matéria-prima para diversos fins, incluindo o uso energético, gerar lucro para a
iniciativa privada e reduzir problemas ambientais de interesse da sociedade.
Sair da monocultura do eucalipto ou do pinus, investir em múltiplos cultivos e buscar a
sustentabilidade do setor de floresta plantada do Brasil, a partir, também, do aproveitamento
energético dos subprodutos da madeira, que, hoje, vão parar no lixo é uma opção
(WIECHETECK, 2009). Dentro dessa proposta de diversificação está incluído o total e correto
aproveitamento de cascas de árvore e de arroz, além de serragem e outros subprodutos
provenientes do processamento da madeira na produção de bioenergia resultante da biomassa
extraída da produção de celulose (WIECHETECK, 2009; PETRO; MORTOZA, 2010;
MOURA, 2012; SANTIAGO, 2013).
O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento bibliográfico acerca do potencial
de reaproveitamento sustentável de subprodutos da madeira, haja vista que há uma lacuna de
trabalhos com este enfoque. Os seguintes subprodutos da madeira foram alvo do levantamento
bibliográfico: licor negro, carvão vegetal, briquetes, pellets, metanol, óleos essenciais e ácido
pirolenhoso.
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 10-22, jan./jun. 2014.
TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana H. P.; ROMANHOLO FERREIRA Luiz
Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C.
Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais
REVISÃO DE LITERATURA
Licor negro
O licor negro é um subproduto do setor de celulose, obtido através do processo de
cozimento Kraft utilizado na fabricação de polpa celulósica para posterior utilização para
fabricação de papel (Melo et al., 2011), e a sua oferta está condicionada ao desempenho dessa
indústria. No mundo, destacam-se como principais produtores os Estados Unidos, China,
Canadá, Brasil, Suécia, Finlândia e Japão (VIDAL; HORA, 2013).
Aproximadamente 91% das pastas celulósicas produzidas são pelos processos químicos e
semiquímicos alcalinos. Destes o processo Kraft ocupa lugar de destaque com cerca de 80% do
total de pasta celulósica produzida no Brasil. O processo Kraft usa hidróxido de sódio (NaOH) e
sulfeto de sódio (Na2S) como produtos químicos para o cozimento. Concluída a etapa de
cozimento, os residuais químicos e as substâncias dissolvidas formam a solução aquosa que é
chamada de licor negro um subproduto do processo de polpação da madeira. O processo Kraft
de recuperação processa o licor negro fraco e regenera os produtos químicos de cozimento. Para
que o processo de polpação tenha viabilidade econômica, a soda que reagiu com as fibras
celulósicas, deve ser recuperada (MELO et al., 2011).
Além disso, a obtenção de energia térmica proveniente da incineração dos compostos
orgânicos contidos no licor negro via queima na caldeira de recuperação, visa reduzir o consumo
energético, tornando menores os custos de produção. A inexistência de um sistema de
recuperação neste processo, e a consequente descarga do licor negro em rios significaria
desperdiçar combustíveis e reagentes, além de provocar poluição no meio ambiente (MORAIS;
BENACHOUR; DUARTE-COÊLHO, 2000).
Na indústria de celulose e papel, no pátio de estocagem, os cavacos são enviados para o
digestor, onde são tratados quimicamente com o licor de cozimento. O licor de cozimento é
constituído pela solução aquosa de hidróxido de sódio e sulfeto de sódio, numa proporção molar
de aproximadamente 5/1. Durante esse tratamento, a temperatura é elevada gradualmente até
atingir de 165 a 170ºC. Essa temperatura é mantida por um tempo adicional para uma remoção
eficiente da lignina. Durante esse tratamento termoquímico, a lignina é degradada, o que
possibilita a separação das fibras, obtendo-se uma massa constituída pelas fibras individualizadas
e pelo licor residual que, por sua coloração muito escura, é denominado licor negro. Essa massa
escura é enviada a filtros lavadores, onde a polpa celulósica é separada do licor negro que, devido
à adição de água de lavagem, apresenta uma consistência relativamente baixa, da ordem de 1416% de sólidos (MIELI, 2007).
Carvão vegetal
O carvão vegetal é o produto sólido obtido por meio da carbonização da madeira, cujas
características dependem das técnicas utilizadas para sua obtenção e o uso para o qual se destina.
O rendimento do carvão vegetal gira em torno de 25 a 35%, com base na madeira seca
(COELHO, 2008). De acordo com Brito e Barrichelo (1981), os principais tipos de carvão são:
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TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana H. P.; ROMANHOLO FERREIRA Luiz
Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C.
Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais
- Carvão para uso doméstico: não deve ser muito duro, deve ser facilmente inflamável e
deve emitir o mínimo de fumaça e pode ser obtido a baixas temperaturas (350 a 400ºC);
- Carvão metalúrgico: utilizado na redução de minérios de ferro em altos-fornos,
fundição, etc. A preparação deste carvão necessita de técnicas em que a carbonização deve ser
conduzida a elevadas temperaturas (mínimo de 650ºC) com grande tempo de duração. Deve ser
denso, pouco friável e ter uma boa resistência, além de apresentar baixa taxa de materiais voláteis
e cinzas. O carvão deve ter no mínimo 80% de carbono;
- Carvão para gasogênio: carvão não deve ser muito friável, sua densidade aparente não
deve ultrapassar 0,3 g/cm³ e deve ter um teor de carbono de 75%;
- Carvão ativo: usado para descoloração de produtos alimentares, desinfecção, purificação
de solventes, etc. O carvão deve ser leve e ter grande porosidade;
- Carvão para a indústria química: boa pureza ligada a uma boa reatividade química.
O Brasil é um dos maiores produtores de carvão vegetal, respondendo por cerca de 1/3
da produção mundial e o setor industrial é o principal consumidor, responsável pelo consumo de
89% das 10,5 milhões de toneladas de carvão vegetal produzidos no ano de 2007 (BEN, 2008).
Para a redução do minério de ferro em uma siderúrgica, é necessária a utilização de uma
fonte de carbono, encontrada no carvão mineral ou carvão vegetal. O carvão mineral é um
combustível de origem fóssil e, portanto, altamente poluidor. Desta forma a utilização de um
combustível renovável como o carvão vegetal é viável do ponto de vista ambiental. O grande
problema é a origem deste carvão vegetal, que deve ser proveniente de florestas plantadas, pois a
utilização de mata nativa torna sua produção insustentável (COELHO 2008).
Segundo Coelho (2008), a retirada contínua de madeira ao longo dos anos resultou na
diminuição da mata nativa da região sudeste, maior consumidora deste recurso, o que acarretou
prejuízos ambientais, os quais estão descritos a seguir: destruição da biodiversidade, resultando na
destruição e extinção de diversas espécies; elevação das temperaturas locais e regionais, pois na
ausência das florestas que absorviam parte da energia solar, toda energia é devolvida à atmosfera
na forma de calor; aumento do processo de erosão e empobrecimento do solo, devido à remoção
de sua camada superficial; agravamento dos processos de desertificação devido à diminuição de
chuvas; aumento de temperatura; assoreamento de rios e lagos, devido à sedimentação,
ocasionando enchentes e baixa navegabilidade; diminuição dos índices pluviométricos (estima-se
que metade das chuvas sobre as florestas tropicais são resultantes da troca de água da floresta
com a atmosfera); proliferação de pragas e doenças devido ao desequilíbrio nas cadeias
alimentares.
Além destes, o desmatamento de florestas por meio de queimadas tem colaborado com o
aumento da concentração de gás carbônico, um dos gases responsáveis pelo agravamento do
efeito estufa, caracterizando um impacto de nível global. O reflorestamento de áreas degradadas é
vista como uma solução para este problema, visto que possui menor tempo de regeneração
quando comparado às florestas nativas. Esta atividade vem sendo praticada em diversas regiões
do Brasil, porém ainda não é capaz de substituir a exploração de matas nativas (BRASIL, 2005).
Dentre as vantagens das plantações florestais, destaca-se a possibilidade de remoção de
CO2 da atmosfera (1,8 t CO2/t madeira seca), liberação de O2 para atmosfera (1,3 t O2/t
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TORRES, Nádia Hortense; AMÉRICO, Juliana H. P.; ROMANHOLO FERREIRA Luiz
Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C.
Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais
madeira seca), além da retenção e aumento do estoque de carbono (20 kg CO2/árvore ano). A
relação do eucalipto e sequestro de carbono para o eucalipto é de 10 toneladas por hectare
anualmente, enquanto a do pinus é de 7 (COELHO, 2008).
Briquetes
Segundo Remad (2013), a densificação do resíduo através do processo de briquetagem
consiste na compactação a elevadas pressões, podendo elevar a temperatura do processo na
ordem de 100ºC. O aumento da temperatura provocará a "plastificação" da lignina, substância
que atua como elemento aglomerante das partículas de madeira. Isto justifica a não utilização de
produtos aglomerantes (resinas, ceras, etc.). O autor também aponta que para que a aglomeração
tenha sucesso, é necessária uma quantidade de água, compreendida de 8% a 15% e que o
tamanho da partícula esteja entre 5 e 10 mm. O diâmetro ideal dos briquetes para queima em
caldeiras, fornos e lareiras é de 70 mm a 100 mm, com comprimento de 250 a 400 mm. Outras
dimensões (diâmetro de 28 a 65 mm) são usadas em estufas, fogões com alimentação automática,
grelhas, churrasqueiras etc.
Entre as vantagens do briquete destacam-se sua alta densidade, dimensões padronizadas e
baixa umidade, barateando sobremaneira os custos de transporte e armazenagem deste produto,
seu elevado peso específico (cerca de 1.200 kg/m³), resultando em um produto com
concentração de poder calorífico por volume bem superior ao dos resíduos supracitados e da
própria lenha (FARAGE et al., 2013).
Existem dois tipos principais de equipamentos que realizam a briquetagem, as chamadas
briquetadeiras tipo prensa e por extrusão. No equipamento do tipo prensa briquetadeira de
pistão, a compactação acontece por meio de golpes produzidos sobre os resíduos por um pistão
acionado através de dois volantes. Do silo de armazenagem (aéreo ou subterrâneo) os resíduos
são transferidos para um dosador e briquetados em seguida (forma cilíndrica). O briquete deste
processo tem as seguintes características: densidade de 1.000-1.300 kg/m3; consumo: 20 a 60
kWh/t; produção: 200 a 1.500 kg/h; P.C.I 4.800 kcal/kg (20,1 MJ/kg); voláteis 81% (base seca) e
teor de cinzas a 1,2% (base seca) (SOUZA, 2007).
De acordo com Souza (2007) e INFOENER (2013), na briquetadeira por extrusão o
produto é obtido com 5% de umidade, ou menos. Quando a matéria-prima é conduzida para a
parte central do equipamento, chamada matriz, a mesma sofre intenso atrito e forte pressão, o
que eleva a temperatura acima de 250ºC, fluidificando-a. Posteriormente, o material é submetido
a altas pressões, tornando-se mais compacto. Ao final do processo, o material é resfriado
naturalmente, solidificando-se e resultando um briquete com elevada resistência mecânica. A
lignina solidificada na superfície do briquete o torna também resistente à umidade natural. Sendo
que briquete apresenta as seguintes propriedades: densidade de 1.200 a 1.400 kg/m3; consumo de
50 a 65 kWh/t; produção de 800 a 1.250 kg/h; P.C.I. 4.900 kcal/kg (20,5 MJ/kg); voláteis 85% e
teor de cinzas <1%.
Para INFOENER (2013), os consumidores finais ocupam um lugar de destaque na
comercialização do briquete. O uso de briquetes é associado à preservação ambiental, uma vez
que aproveita os resíduos e acaba por substituir a lenha e o carvão vegetal. Nos grandes centros,
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Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais
capitais e grandes cidades, o briquete tem seu papel destacado, competindo diretamente com a
lenha e o carvão vegetal. Na cidade de São Paulo, por exemplo, existem 5.000 pizzarias e 8.000
padarias das quais aproximadamente 70% utilizam fornos à lenha. Atualmente, os fabricantes de
briquetes não tem produto suficiente para atender este mercado em sua totalidade. Uma pizzaria
ou padaria utiliza em média o equivalente a 4t de briquete por mês. Para abastecer apenas a região
metropolitana da cidade de São Paulo, necessita-se de 36.400 toneladas por mês de briquetes, o
equivalente a 254.800 m3 de lenha por mês (1t de briquete é equivalente a 7 m3 de lenha)
(INFOENER, 2013).
Pellets
Os pellets e os briquetes são produtos com capacidades energéticas equivalentes,
principalmente se pulverizados ou moídos possuem a mesma opção de uso. Diferem-se
principalmente na dimensão do produto. Os pellets possuem diâmetro variando entre 6 mm e 16
mm com 10 a 40 mm de comprimento, enquanto os briquetes possuem em média um diâmetro a
partir de 50 mm com 15 a 400 mm de comprimento (MIGLIORINI, 1980).
O mesmo autor apresenta que, a peletização emprega uma matriz de aço perfurada com
um denso arranjo de orifícios de 0,3 a 1,3 cm de diâmetro. A matriz gira e a pressão interna dos
cilindros força a passagem da biomassa através dos orifícios com pressões de 7,0 Kg/mm3. O
pellet então formado é cortado por facas ajustadas ao comprimento desejado.
A alta densidade dos pellets de madeira para aquecimento também permitem um
armazenamento compacto e um transporte mais econômico a longas distâncias. Os pellets são
combustíveis limpos e eficientes e sendo a matéria-prima composta por subprodutos da indústria
do mobiliário e desperdícios gerados pela floresta, evita-se assim o corte de árvores,
implementando a limpeza das matas e o combate aos incêndios. É importante ainda referir, que
este combustível apresenta preços mais competitivos do que o gás natural, gás propano ou do
que o gasóleo de aquecimento. Os pellets, devido ao seu tamanho reduzido permite dosear
unidade a unidade a quantidade que vai ser queimada para produção de energia, assim este
produto é muito utilizado em aquecimento doméstico e geração de vapor para pequenas
comunidades (ABREU et al., 2010; DÜCK, 2013; RASGA, 2013).
Os briquetes e os pellets são produtos de maior concentração energética e permitem
melhores condições de armazenamento e transporte do que o uso de produtos tradicionais como
a lenha e o carvão. Dessa forma, a densificação da biomassa florestal é uma alternativa
tecnológica importante para o fornecimento de energia por meio de combustíveis sólidos
(ABREU et al., 2010; ABREU; OLIVEIRA; GUERRA, 2010).
Metanol
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Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais
O metanol é um álcool principalmente pela destilação da madeira. No Brasil, o metanol
não é utilizado como combustível por ser muito tóxico, e foi substituído pelo etanol. No entanto,
é utilizado como solvente na indústria de plásticos, como solvente, e em reações de importância
química. A relação que existe do metanol como combustível é que ele pode usado no processo de
transesterificação da gordura, para produção do biodiesel.
Um dos produtos que utilizam o metanol é a extração de óleos vegetais, os quais podem
ser utilizados na forma “in natura” ou modificados por processos físicos e químicos. Na forma
“in natura” podem ser queimados em motores multicombustíveis de tecnologia Elsbett para
geração de energia elétrica. Por seu turno, o óleo modificado é obtido a partir do processo de
transesterificação, no qual o óleo vegetal é misturado com álcool etílico (etanol) ou álcool
metílico (metanol) e colocado em um reator à temperatura ambiente durante 3 a 4 dias, com uma
substância que atua como catalisador do processo (ácido clorídrico ou hidróxido de potássio). O
óleo resultante (biodiesel) é um éster etílico ou metílico, conforme o álcool utilizado, que após ser
refinado para a eliminação de impurezas, pode ser utilizado puro ou misturado com o óleo diesel
na proporção de 5 a 30% em motores diesel convencionais, sem a necessidade de adaptação.
Além do biodiesel, deste processo também se obtém glicerina como subproduto (BERMANN,
2001).
Óleos essenciais
A denominação óleo essencial define um grupo de substâncias naturais aromatizantes,
que são extraídas de diferentes partes de algumas espécies vegetais, sendo processamentos
específicos, em sua maioria, por hidro destilação (BRAGA, 1987). De acordo com Costa (1975),
óleos essenciais são constituídos de misturas de numerosos compostos voláteis, com tensões de
vapor elevadas, insolúveis na água, mas solúveis em vários solventes imiscíveis nesta e também
no álcool.
Os óleos essenciais são geralmente produzidos por estruturas secretoras especializadas,
tais como: pelos glandulares, células parenquimáticas diferenciadas, canais oleíferos ou em bolsas
específicas. Essas estruturas podem estar localizadas em partes específicas ou em toda planta.
Assim podem-se encontrar óleos essenciais na parte aérea, como na menta; nas flores, como é o
caso do jasmim, nas folhas, como ocorre em eucaliptos e na madeira, como no sândalo, candeia e
pau rosa (SIMÔES e SPITZER, 1999).
A candeia (Eremanthus sp) é uma das plantas cuja madeira tem alta resistência,
durabilidade, poder energético e que possui um óleo essencial, cujo principio ativo é o alfabisabolol, de propriedades antiflogísticas, antibacterianas, antimicóticas e dermatológicas
(TEIXEIRA et al., 1996).
O pau rosa (Aniba rosaeodora Ducke) é uma espécie florestal nativa da Região Amazônica,
pertencente à família Lauracea, que se destaca pela produção de óleo essencial rico em linalol,
muito utilizado na indústria de perfumaria. Esta espécie, até a década de 1950, representou
grande parcela na balança comercial da Amazônia através da exportação do seu óleo essencial.
Porém, a intensa exploração do pau rosa nas matas naturais, aliada à falta de uma política de
reposição, seja através do manejo florestal ou do estabelecimento de plantios, contribuiu
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Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais
fortemente para que esta espécie tivesse seus recursos genéticos empobrecidos (OHASHI et al.,
2004).
O método usual de obtenção do óleo essencial do pau rosa tem sido através da destilação
de sua madeira, o que, em geral, exige a derrubada de uma grande quantidade de árvores.
Entretanto, a utilização de folhas e ramos finos pode ser uma alternativa de exploração, uma vez
que apresentam potencial para produção de óleo essencial, haja vista que a qualidade da essência
é a mesma da extraída da madeira (OHASHI et al., 1997).
Ácido pirolenhoso
Pirólise é o termo utilizado para caracterizar a decomposição térmica de materiais
contendo carbono, na ausência de oxigênio. Assim, madeira, resíduos agrícolas, ou qualquer
outro tipo de material orgânico durante a queima se decompõe, dando origem a três fases: uma
sólida, o carvão vegetal; outra gasosa, e finalmente, a líquida, comumente designada de fração
pirolenhosa (CAMPOS, 2007).
O ácido pirolenhoso pode ser obtido após o processo de condensação da fumaça
formada pela queima da madeira para produção de carvão vegetal. Este líquido de coloração
amarela a marrom avermelhada é adquirido de diferentes espécies vegetais, como bambu,
eucaliptos e pinus (MAEKAWA, 2002; CAMPOS, 2007; SOUZA-SILVA et al. 2006).
Esse ácido também conhecido como extrato pirolenhoso é constituído de 800 a 900
cm³.dm-3 de água e contêm cerca de 200 componentes químicos diferentes, tendo como
predominante o ácido acético, o metanol, a acetona e os fenóis (ZANETTI et al. 2004)
Segundo Campos (2007), as primeiras pesquisas com o extrato pirolenhoso foram
divulgadas no Japão em 1874. Em 1893, as pesquisas experimentais visavam à construção de
fornos, técnicas de carbonização para obtenção de óleo de terebintina e alcatrão. Após a Segunda
Guerra, em 1944, iniciou-se a utilização do ácido pirolenhoso nas lavouras. Em 1945, foi
publicado o primeiro livro, intitulado “Fabricação e Utilização do Extrato Pirolenhoso”, por
Tatsujiro Fukuda, com relatos interessantes sobre a eficiência deste extrato na cultura do arroz,
sendo utilizado contra pragas e pássaros e no processo de compostagem e esterilização.
Este líquido, chamado de ácido pirolenhoso, é utilizado pela indústria alimentícia como
aditivo, para imitar o sabor dos defumados (CASAGRANDE JUNIOR et al., 2004), na área
humana pode ser usado em banhos para lavagem de pele áspera, desinfecção de ambientes sendo
um esterilizante eficiente. Esse subproduto da madeira também se apresenta como um
potencializador da eficiência de produtos fitossanitários e absorção de nutrientes em
pulverizações foliares com potencial quelatizante (CAMPOS, 2007).
Pesquisas recentes vêm apontando para o grande potencial de utilização do extrato
pirolenhoso na agricultura, tanto na forma natural quanto utilizado em novas formulações de
insumos. É uma alternativa de produto natural de fonte renovável sustentável (CAMPOS, 2007).
Em um estudo sobre o feito do extrato pirolenhoso no crescimento de plântulas de arroz, os
autores observaram que o tratamento do solo com produto promoveu crescimento da parte aérea
das plântulas e aumentou o seu peso fresco, à medida que se aumentava as doses de EP,
avaliados aos 13 dias após a semeadura. Em relação ao desenvolvimento do sistema radicular,
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Aproveitamento sustentável dos subprodutos da madeira e das folhas para extração de óleos essenciais
este foi favorecido com uso de EP, apresentando aumentos significativos em função do aumento
da dose, que propiciava um maior número de novas raízes emitidas (ICHIKAWA e OTA 1982).
Na determinação da capacidade fitotônica do extrato pirolenhoso, Trivellato et al.(2001)
observaram que se aplicado constantemente em plantas de alface, proporciona incrementos na
produtividade dessa hortaliça, representando um potencial fertilizante foliar. No trabalho de
Zanetti et al. (2004) com limoeiro Cravo, os autores observaram que a adição de extrato
pirolenhoso a uma concentração de 10 cm3 dm-3 em solução contendo micronutrientes
aumentaram a absorção de Cu e Mn pela parte aérea das mudas, além do que as concentrações
contendo o extrato aumentaram a absorção das raízes por Ca (g kg-1) e diminuíram a absorção
das mesmas por Fe (mg kg-1).
Efeitos da incorporação de extrato pirolenhoso em substrato no desenvolvimento inicial
de mudas de tomate foram encontrados no estudo de Guerreiro et al. (2012), no qual o extrato
incorporado a um substrato de fibra de coco proporcionou um desenvolvimento positivo das
mudas, influenciando o tamanho da planta e o peso da parte aérea e do sistema radicular.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As condições edafoclimáticas, bem como a grande extensão territorial, aliadas à
disponibilidade de terras e mão-de-obra favoreceram o desenvolvimento tecnológico da
silvicultura em curto espaço de tempo, proporcionando ao Brasil alcançar um alto nível de
excelência em silvicultura de florestas homogêneas, reconhecido internacionalmente. Com isso
foram obtidos ganhos de produtividade e redução de custos. Por outro lado, os impactos
ambientais relacionados às técnicas de implantação, manejo e colheita de florestas plantadas,
foram minimizados, de forma que hoje os plantios florestais podem ser considerados
ambientalmente sustentáveis, assim como os subprodutos da utilização da madeira. As
alternativas mais eficazes de utilização de resíduos são para fins energéticos ou como matériaprima em produtos de maior valor agregado. Como biomassa, estes resíduos podem ser utilizados
para a geração de energia elétrica, térmica ou cogeração, para uso próprio ou comercialização
(incluindo produtos como briquetes e pellets). Em termos de produtos que utilizam tal matériaprima, os destaques são para o licor negro, carvão vegetal, lenha, briquetes, pellets, álcool e ácido
pirolenhoso. Estes usos consideram investimentos em tecnologias específicas que devem ser mais
bem avaliadas conforme o caso e propósito em questão.
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Fernando; RIBEIRO-GRANJA Ana Carolina, HARDER, Marcia N. C.
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1 1 TORRES, Nádia Hortense. Possui Doutorado em Química na Agricultura e no Ambiente
(CAPES
7)
pelo
Centro
[email protected];
de
Energia
Nuclear
na
Agricultura,
Brasil(2014).
2 AMÉRICO, Juliana Heloísa Pinê. Mestrado em Engenharia Civil pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil(2010) Aluna de Pós-Graduação (Doutorado) do Centro de
Aquicultura da UNESP (CAUNESP), Brasil. E-mail: [email protected];
3 FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo é Doutor em Microbiologia Agrícola pelo ESALQ,
Brasil(2009). Professor PPG I - 1 da Universidade Tiradentes , Brasil.
[email protected];
4 GRANJA, Ana Carolina Ribeiro. Doutorado em Química na Agricultura e Ambiente pelo Centro
de Energia Nuclear na Agricultura, Brasil(2013). Professor I do ETEC Coronel Fernando Febeliano
da Costa , Brasil. E-mail: [email protected];
5 HARDER, Márcia Nalesso Costa Márcia Nalesso C. HARDER é doutora em Ciências (Centro de
Energia Nuclear na Agricultura) pela Universidade de São Paulo (2009). Atualmente é
coordenadora do curso de Tecnologia em Agroindústria da FATEC Piracicaba. Tem experiência na
área de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Aplicações Industriais de Radioisótopos,
Biocombustíveis, atuando principalmente nos seguintes temas: biocombustíveis, bioetanol/açúcar,
irradiação de alimentos, processamento e conservação de alimentos, plantas medicinais e alimentos
funcionais, ecossustentabilidade. E-mail:
[email protected]>
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Avaliação da alface hidropônica usando
água de piscicultura misturada com
diferentes porcentagens de soluções
nutritivas
TESTOLIN, Gilmar,
MANFRON, Paulo A.
ALVES, Vagner C.
MARQUES, Tadeu A.
RAMPAZO, Érick M.
Resumo
Este trabalho foi conduzido em estufa plástica, no Instituto Federal Catarinense, Campus de Concórdia,
SC, com o objetivo de avaliar o desempenho agronômico da cultura da alface, cultivar Vera, no sistema
hidropônico utilizando água de piscicultura misturada com diferentes percentuais de solução nutritiva; e
avaliar o incremento de fitomassa seca, analisando teores de nitrato (NO-3) nas folhas da alface na colheita.
Os seguintes tratamentos foram utilizados: (T1) água mais 100% da solução nutritiva (testemunha); (T2)
água da piscicultura com 50% da solução nutritiva; (T3) água da piscicultura com 100% dos
micronutrientes da solução nutritiva; e (T4) somente água da piscicultura. Os resultados evidenciaram que:
(a) a água residual da criação de peixes, em açudes no sistema semi-intensivo, não é capaz de fornecer os
nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento das plantas de alface para fins comerciais; (b)
a produção de alface utilizando o sistema semi-intensivo com o uso da água da piscicultura é tecnicamente
viável em açudes, desde que seja realizada uma adubação complementar para suprir as necessidades
nutricionais das plantas; (c) o tratamento T1 apresentou os melhores resultados, tendo as plantas atingido
uma fitomassa verde e seca, respectivamente de 378,70 g e 19,97 g; (d) o tratamento T2 não apresentou
diferença significativa para o tratamento testemunha, com 293,59 g e 19,28 g, respectivamente, o que
demonstra uma efetividade do sistema semi-intensivo, e que o mesmo é perfeitamente viável a partir de
ajustes nutricionais; (e) o tratamento T1 apresentou maior teor de nitrato aos 28 dias após transplante,
com 793,3 mg kg-1 de NO3-, entretanto, dentro dos limites aceitáveis para o consumo humano das folhas
de alface.
Palavras-chave: Lactuca sativa; Solução nutritiva; Sistema hidropônico
Abstract
This work was carried out in plastic greenhouse at “Federal Institute Catarinense”, Campus of Concórdia,
State of Santa Catarina, Brazil, with the purpose of evaluating the agronomic performance of the lettuce
crop, cultivar 'Vera', under hydroponic system using water from pisciculture mixed with different percents
of macro and micronutrients in the nutritive solution; and of evaluating the increment of dry mass,
analyzing the leaf nitrate (NO-3) content of the lettuce at harvest. The following treatments were used:
(T1) water with 100% of the nutritive solution (control); (T2) water from pisciculture mixed with 50% of
the nutritive solution; (T3) water from pisciculture mixed with 100% of the nutritive solution; and (T4)
water from pisciculture, only. The results show that: (a) the residual water from fish production system in
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dams, in the semi-intensive system, is unable to provide the nutrients necessary for growth and
development of lettuce plants for commercial proposes; (b) the lettuce production using the semiintensive system with water from the fish production system is technically feasible in dams, if conducted
an additional fertilizer to attend the nutritional needs of plants; (c) the treatment T1 presented the better
results, where the plants reached a green and dry mass of 378.70g and 19.97g, respectively; (d) the
treatment T2 did not present significant difference to treatment T1, with 293.59 g and 19.28 g,
respectively, which shows an effectiveness of semi-intensive system, and it is perfectly feasible from
nutritional adjustments; (e) the treatment T1 presented the highest nitrate content at 28 days after
transplant, with 793.3 mg kg-1 of NO-3, however, within acceptable limits for human consumption of leaf
lettuce.
Keywords: Lactuca sativa; Nutritive solution; Hydroponic system
Resumen
Este trabajo se realizó en invernadero, en el Instituto Federal de Santa Catarina , en el Campus de la
Concordia , SC, con el objetivo de evaluar el comportamiento agronómico de la variedad de lechuga Vera
, el sistema hidropónico usando mezclado con diferentes porcentajes de água de cultivo de peces más
solución nutritiva; y evaluar el incremento de la materia seca y el análisis de los niveles de nitrato (NO-3) en
las hojas de lechuga en la cosecha. Se utilizaron los siguientes tratamientos : (T1) solución de agua más 100
% de nutrientes (de control); (T2) agua de pescado con 50 % de la solución de nutrientes ; (T3) el agua de
los peces con 100 % de los micronutrientes para solución nutritiva; y (T4) sólo agua de peces . Los
resultados mostraron que: (a) el agua residual del cultivo de peces en estanques en sistema semi-intensivo
es incapaz de proporcionar los nutrientes necesarios para el crecimiento y desarrollo de plantas de lechuga
con fines comerciales; (b) la producción de lechuga usando el sistema de semi-intensivo con el uso de agua
de peces en estanques es técnicamente factible, a condición de que una fertilización adicional se realiza
para satisfacer las necesidades nutricionales de las plantas; (c) el tratamiento T1 mostró los mejores
resultados, adonde las plantas alcanzaron un peso verde y seca, respectivamente 378,70 g 19,97 g; (d) el
tratamiento T2 no mostró diferencias significativas en relación al tratamiento de control , con 293,59 y
19,28 g, respectivamente, lo que demuestra la eficacia del sistema semi-intensivo, y que es perfectamente
viable desde los ajustes nutricionales; (e) el tratamiento T1 mostró los niveles de nitrato superiores a los 28
días después del trasplante, con 793,3 mg kg-1 de NO-3 , sin embargo, dentro de límites aceptables para el
consumo humano de las hojas de lechuga.
Palabras clave: Lactuca sativa; Solución nutritiva; Sistema hidropónico
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 23-33, jan./jun. 2014.
TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A.
RAMPAZO, Érick M
Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas
INTRODUÇÃO
O modelo de piscicultura praticado no Estado de Santa Catarina / SC, em específico na
região Oeste, é de caráter singular e serve de referência nacional devido ao aproveitamento de
dejetos de suínos. A irrigação com efluentes de viveiros de peixes também reduz o custo da água
e a quantidade de fertilizantes minerais utilizados (AL-JALOUD et al., 1993; SILVA e
MAUGHAN, 1994; SILVA e MAUGHAN, 1995). Num viveiro de piscicultura acumulam-se
compostos de nitrogênio inorgânico (amônia total), fósforo, matéria orgânica e outros poluentes
em potencial que podem ser liberados no ambiente durante a circulação de água, durante o
cultivo ou na drenagem do viveiro para a despesca. (BOYD, 1990; TURCHER, 1992 apud
PALHARES, 2005).
O material orgânico proveniente da adição de fertilizantes, excreção dos peixes e restos de
ração não consumidos pelos peixes, depositam-se no fundo dos tanques, já os metabólitos e
compostos nitrogenados e fosfatados, encontram-se diluídos no meio estimulando a floração de
algas (HUSSAR et al., 2002). O aproveitamento das águas do cultivo de peixes na produção de
vegetais aperfeiçoaria o uso deste recurso, pois, além de integrar as diferentes atividades
desenvolvidas nas propriedades rurais, combinaria a produção de proteína de origem animal com
a produção de plantas, dentre as quais, hortaliças, grãos, frutas, plantas forrageiras, pastagens, e
reflorestamento, através da fertirrigação, tendo ainda, a possibilidade de reduzir o uso de adubos
minerais. O cultivo hidropônico de plantas é uma técnica que permite uma produção efetiva em
meio líquido, associado ou não a substratos não orgânicos naturais, ao qual é adicionada uma
solução nutritiva para suprir as necessidades exigidas ao desenvolvimento da planta,
principalmente, se considerarmos a cultura da alface (Lactuca sativa L.), pertencente à família
Cichoriaceae.
O presente trabalho tem por objetivo: avaliar o desempenho agronômico da cultura de
alface, variedade cultivada Vera no sistema hidropônico, utilizando a água da criação de peixes
misturada com diferentes percentuais da solução nutritiva e avaliar o incremento de fitomassa
seca, analisando os níveis de concentração de nitrato nas folhas da alface no momento da
colheita.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido no setor de piscicultura e horticultura do Instituto Federal
Catarinense, no período de março à outubro de 2008 no Campus de Concórdia, localizado na
região Oeste do Estado de Santa Catarina/SC, tendo como coordenadas geográficas: latitude
27°13'55"S; longitude 52°00'26"W e altitude 569m. O experimento foi montado para a produção
de peixes e para a produção alface em sistema hidropônico, em estufas plásticas do tipo arco
pampeano, com dimensões de 12,5 m x 7,5 m e pé direito de 2,50 m, com cobertura e cortinas
laterais em policloreto de vinil (PVC) com 230 μ de espessura, aditivado contra raios ultravioletas.
Cada tratamento foi formado por duas bancadas, sendo cada bancada composta por seis perfis de
PVC com 6,0 metros de comprimento, e espaçamento de 25,0 cm entre os furos, perfazendo um
total de 24 furos por cano, totalizando 144 mudas de alface por tratamento. Para cada tratamento
(T1 - testemunha, água pura com 100% de solução nutritiva; T2 - água da piscicultura com 50%
da solução nutritiva do tratamento 1; T3 - água da piscicultura com 100% dos micronutrientes da
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TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A.
RAMPAZO, Érick M
Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas
solução nutritiva dos tratamentos 1 e 2; e T4 - somente a água da piscicultura), foi montado um
sistema formado por uma caixa d‟água de fibra com capacidade de 200 litros para depósito da
solução, e uma bomba de 0,33 HP, acionado por temporizador, com vazão de 1,5 a 2,0 L.min-1
cano-1, com intervalos de tempo de 15 minutos durante o dia e 2 a 3 vezes durante a noite, em
intervalos espaçados. A planta teste foi à alface (Lactuca sativa L.), variedade cultivada Vera, que
apresenta como características predominantes folhas crespas, indicação para semeadura o ano
todo, principalmente na época de primavera e verão, possuindo alta tolerância ao pendoamento
precoce, sendo que as plantas apresentam folhas de coloração verde clara.
A semeadura foi realizada em espuma fenólica no berçário, com uma semente peletizada
por célula. O berçário se compõe de uma mesa de telha de fibra de vidro, com dimensões de 4,40
m x 2,10 m e canais com 3,0 cm de profundidade e desnível de 3,0%. A solução nutritiva utilizada
foi diluída a 50% da formulação inicial.
Na fase seguinte do experimento foi utilizada solução nutritiva (CASTELLANE e
ARAÚJO, 1995). A água foi reposta sempre que o nível na caixa atingiu 50% do volume original,
sendo corrigida a solução nutritiva conforme a recomendação da tabela de correção e/ou até a
água atingir a condutividade elétrica original.
A leitura de pH foi realizada diariamente com o auxílio de peagâmetro digital, e o
monitoramento dos teores de resíduos nitrogenados, alcalinidade e dureza, através de testes
colorimétricos.
Os peixes foram criados no sistema semi-intensivo, integrados com suínos. A alimentação
foi feita por adubação orgânica para a geração de plâncton no modelo vertical (direto) suínopeixe, apresentando uma densidade de 60 animais ha-1 alagado de viveiro. O cultivo foi realizado
em tanque de terra, semi-escavado, com área de 400 m2 com profundidade de 1,3 metros na parte
mais profunda e 1,0 metro na parte mais rasa. O abastecimento de água foi individual, por
gravidade, com vazão de 3,0 L s-1 ha-1 ou taxa de reposição equivalente a 2,5% ao dia, oriunda de
nascente própria. A densidade de cultivo foi de 1,5 peixes.m-2 ou 15.000 peixes ha-1. A espécie de
peixe utilizada foi a tilápia nilótica (Oreochromis niloticus).
A avaliação do crescimento das alfaces foi realizada através da metodologia preconizada
por Manfron (1985) com estudo das seguintes variáveis: índice de área foliar (IAF) e
produtividade biológica (PB). Na cultura da alface foram realizadas as seguintes análises:
fitomassa fresca (FMV) e seca (FMS) aos 35 dias após o transplante de mudas para o local
definitivo, número de folhas por planta considerando-se somente as com tamanho superior a
0,05 m de comprimento (desconsideradas folhas senescentes). A avaliação da concentração de
nitrato (mg kg-1 de FMS) das folhas foi realizada aos 28 dias após transplante. Cada amostra foi
constituída por seis plantas de alface de cada tratamento, correspondentes ao 4º, 8º, 12º, 16º e 20º
furo do cano PVC, que correspondem respectivamente a 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e 5ª coleta (07, 14, 21, 28 e
35 DAT).
Para a obtenção da fitomassa fresca as plantas foram pesadas inteiras. Após a pesagem foram
separadas as raízes da parte aérea, determinado o número de folhas por tratamento e coletados 50
discos para cálculo da área foliar (AF). As folhas, discos e raízes foram colocados em bandejas
individuais e levadas a estufa de ventilação forçada à temperatura aproximada de 70°C, até
atingirem massa constante, sendo em seguida, utilizada balança eletrônica com precisão de 0,01 g
para pesar o material e se obter a fitomassa seca da parte aérea, raiz, disco e fitomassa seca total.
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RAMPAZO, Érick M
Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas
Com base nessas informações determinou-se o índice de área foliar (IAF) e a produtividade
biológica (PB).
A moagem da parte aérea do material seco em estufa foi realizada através de um micro
moinho do tipo Willey. A obtenção do extrato e a determinação de nitrato foram realizadas de
acordo com a metodologia tradicionalmente utilizada (CATALDO et al., 1975).
O modelo de delineamento estatístico foi o de blocos casualizados com quatro repetições.
Os tratamentos relativos às formulações nutritivas foram submetidos à análise de variância, sendo
suas médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro, e para as variáveis de
crescimento de plantas de alface foram determinadas regressões.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados experimentais médios de três anos de cultivo do número de folhas por
tratamento mostram que o melhor foi o T1 seguido pelo tratamento T2, e que os tratamentos T3
e T4 não diferiram significativamente, com grande diferença para os demais, caracterizando
deficiência nutricional em relação aos tratamentos T1 e T2 (Tabela 1).
Tabela 1 – Valores médios de três anos de cultivo e datas de coleta do número de folhas,
fitomassa fresca e seca da parte aérea, da raiz e total (g planta -1) de alface, variedade
cultivada Vera, sob quatro condições nutricionais (testemunha, T1 – água pura, com
100% de solução nutritiva Castellane e Araújo (1995); T2 – água da piscicultura com 50%
da solução nutritiva do tratamento 1; T3 – água da piscicultura com 100% dos
micronutrientes da solução nutritiva dos tratamentos I e II; T4 – somente água da
piscicultura). Instituto Federal Catarinese, Campus de Concórdia, SC. 2008.
Fitomassa Fresca(g)
Fitomassa Seca (g)
Número
Tratamento
de
Parte
Parte
Raíz
Total
Raíz
Total
Folhas
aérea
aérea
T1
36,4a
331,80a
46,27a
378,07a
17,76a
2,21a
19,97a
T2
32,0a
293,59a
35,50a
329,09a
17,30a
1,98a
19,28a
T3
23,4b
56,12b
19,22b
75,34b
6,04b
1,59b
7,63b
T4
21,6b
53,75b
18,22b
71,97b
5,69b
1,38b
7,07b
*Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de
erro.
O valor máximo do número de folhas para a alface foi obtido no tratamento T1 com a
média de 36,4 folhas, não apresentou diferença significativa com o tratamento (T2) média de 32,0
folhas, o que mostra a eficiência da solução nutritiva utilizada no crescimento das plantas de
alface, que se desenvolveram mesmo com aplicação de 50% da solução nutritiva do tratamento
T1 (Tabela 1). A água da piscicultura continha teores muito baixos de nutrientes, pois ocorre uma
precipitação natural dos mesmos no açude.
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TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A.
RAMPAZO, Érick M
Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas
Para todas variáveis de produtividade analisadas houve comportamento muito similar
entre os tratamentos, salientando sempre o melhor crescimento nos tratamentos com adição de
nutrientes, em relação aos demais tratamentos (Tabela 1). Os valores encontrados permitem
concluir que no tratamento T4 houve deficiência nutricional, obtendo-se plantas com menor
número de folhas (21,6) e menores produções de fitomassa fresca e seca (71,97 g e 7,07 g).
As curvas ajustadas de IAF ao longo do ciclo da cultura, para todos os tratamentos, com
suas respectivas equações de regressão são apresentados na Figura 1. De um modo geral verificase que o valor máximo de IAF foi atingido aos 35 dias após transplante (T1; 12,71 e T2; 11,55),
sendo que para os tratamentos T3 e T4 apresentaram os valores de IAF, respectivamente, de
2,31 e 2,05, valores inferiores aos obtidos nos tratamentos anteriormentes citados (T1 e T2).
Este fato deve-se a senescência das folhas mais velhas, certamente provocado pela escassez de
macronutrientes da solução, principalmente, nos tratamentos T3 e T4. No 25º dia após
transplante (DAT) houve uma reposição do volume de água e solução nutritiva, proporcional
para todos os tratamentos, na ordem de 50%, fato que acelerou o crescimento da alface nos
tratamentos T1 e T2, o que nos leva a concluir que as reposições periódicas de água e solução
nutritiva são benéficas ao crescimento da cultura.
2
-2
Figura 1 - Índice de Área foliar (IAF, cm .cm ) média de plantas de alface variedade
cultivada Vera, num sistema hidropônico sob quatro condições nutricionais (T1- água
pura, com 100% de solução nutritiva Castellane e Araújo (1995), testemunha; T2 – água
da piscicultura com 50% da solução nutritiva do tratamento 1; T3 – água da piscicultura
com 100% dos micronutrientes da solução nutritiva dos tratamentos I e II; T4 – somente
a água da piscicultura). Instituto Federal Catarinense, Campus de Concórdia, SC. 2008.
No tratamento T3 observa-se um crescimento muito pequeno no intervalo entre o 28
DAT e 35 DAT, sendo que no tratamento T4 essa tendência se manteve, com um decréscimo de
11,2%, em relação ao tratamento T3. Fica então, evidenciado que a falta de macronutriente na
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RAMPAZO, Érick M
Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas
formulação foi determinante no crescimento da alface, e não os micronutrientes os elementos
nutritivos decisivos para um bom desenvolvimento da alface. Os valores de produtividade
biológica (PB), as equações de regressão para cada tratamento, os valores dos coeficientes da
equação de regressão e respectivos coeficientes de determinação (R2) compõe a Figura 2. Para os
tratamentos T1, T2, T3, e T4 de uma forma geral as maiores produtividades biológicas foram
alcançadas aos 35 DAT, cujos valores foram, respectivamente, de 229, 29 g m-2; 210,67 g m-2;
45,49 g m-2 e 46,72 g m-2. O melhor tratamento foi o tratamento T1, inclusive no momento que
as plantas atingiram um porte comerciável, aos 28 DAT. Na Figura 2, verificam-se claramente as
diferenças entre os quatro tratamentos, com vantagem para os que receberam adubações com
macronutrientes (T1 e T2).
-2
Figura 2 - Produtividade biológica (PB, g de planta.m ) média de plantas de alface
variedade cultivada Vera, num sistema hidropônico sob quatro condições nutricionais
(T1- água pura, com 100% de solução nutritiva Castellane e Araújo (1995), testemunha;
T2 – água da piscicultura com 50% da solução nutritiva do tratamento 1; T3 – água da
piscicultura com 100% dos micronutrientes da solução nutritiva dos tratamentos I e II;
T4 – somente a água da piscicultura). Instituto Federal Catarinense, Campus de
Concórdia, SC. 2008.
A alface acumulou diferentes teores de nitrato na parte aérea em função do tipo de
solução nutritiva empregada em cada tratamento (Tabela 2). A solução nutritiva do tratamento
T4 foi a que proporcionou o menor acúmulo de nitrato, diferindo significativamente dos demais
tratamentos (α = 5%). O maior teor de nitrato no material analisado foi de 793,3
mg kg-1 (T1) e o menor foi de 7,9 mg kg-1 (T4) quando do uso de água da piscicultura (Tabela 2).
Pode-se suspeitar que a cultivar Vera possui características genéticas que regulem o acúmulo de
nitrato, diferentemente de outras cultivares, tendências que podem ser observadas pela
comparação entre os tratamentos T1 e T2 em comparação com os tratamentos T3 e T4.
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Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas
Tabela 2 - Valores de condutividade elétrica (CE) em mS cm-1, pH da solução nutritiva e
temperatura do ar (°C), e concentração de nitrato em amostras de folhas de alface em mg
de NO-3 kg-1, na hora da coleta do material, aos 28 dias após o transplante das mudas.
Instituto Federal Catarinense, Campus de Concórdia, Concórdia, SC. 2008.
Tratamento
CE (mS.M)
pH
Temperatura (°C)
T1
2,16
6,28
14
T2
1,19
6,27
14
T3
0,16
6,28
14
T4
0,14
6,28
14
Nitrato
793,3a
413,8b
87,5c
7,9d
*Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de
erro.
O nitrato pode servir como regulador osmótico, em condições de baixa luminosidade,
para compensar a escassez de carboidratos, principalmente glicose, resultante de uma fotossíntese
baixa. Entretanto, as diferenças genotípicas quanto à capacidade osmótica não podem ser
relacionadas com as diferenças genotípicas para o acúmulo de nitrato (BLOM-ZANDSTRA e
LAMPE, 1985; REININK e BLOM-ZANDSTRA, 1989).
Muito são os fatores que podem ter contribuído para o menor acúmulo de nitrato na
alface ao se considerar o tratamento T4, mas o que certamente exerceu maior influência foi à
baixa concentração de macronutrientes desse tratamento, pois o tratamento T3 mostrou que com
50% da solução do tratamento T1 decresceu significativamente o teor de nitrato, com um nível
de 41,8% inferior. O maior acúmulo de nitrato obtido no tratamento T1 e por semelhança no
tratamento T2, pode ser atribuído ao fato dessas soluções nutritivas fornecerem nitrogênio na
forma de nitrato e em maior concentração que as demais, uma vez que o nitrato acumulado nas
hortaliças é derivado primeiramente do nitrato aplicado ou formado no meio nutritivo, sendo o
suprimento de nitrogênio o fator nutricional mais importante na determinação do acúmulo de
nitrato (OHSE, 1999).
Nas condições experimentais do trabalho esperava-se que o teor de nitrato atingisse níveis
mais elevados, no entanto, observa-se que os valores encontrados foram significativamente
inferiores aos limites máximos permitidos para consumo humano. A disparidade entre os valores
encontrados da concentração de nitrato nos tecidos da alface variedade cultivada Vera, deve-se
também ao fato que as soluções nutritivas modificam sua composição inicial durante o ciclo
vegetativo das plantas, onde os catíons e os ânions são absorvidos em quantidades diferentes e
tempos diferentes, o que certamente ocorreu nesse experimento com os tratamentos estudados.
A literatura circulante na comunidade européia define os limites máximos para alface produzida
em casa-de-vegetação durante a época de inverno de 4500 mg kg-1 de fitomassa fresca (FF) e,
consequentemente abaixo do limite máximo permitido para alface produzida a campo aberto
com níveis de 2500 mg kg-1 de fitomassa fresca (FF), segundo MCCALL e WILLUMSEN (1998).
CONCLUSÕES
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TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A.
RAMPAZO, Érick M
Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas
- O tratamento testemunha foi o que apresentou melhores resultados em todas as
variáveis de produtividade analisadas, entretanto, não apresentou diferença significativa para o
(T2).
- A maior concentração de nitrato aos 28 DAT no tratamento testemunha (T1), com
793,3 mg NO-3 kg-1 está dentro dos limites aceitáveis para o consumo humano das folhas de
alface.
- A água residual da criação de peixes (Tilápia) em açudes no sistema semi-intensivo, não
é capaz de fornecer os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento das plantas
de alface.
LITERATURA CITADA
AL-JALOUD, A.A.; HUSSAIN, G.; ALSADON, A.A.; et al. Use of aquaculture effluent as a
suplemental source of nitrogen fertilizer to wheat crop. Arid Soil Research and Reabilitation,
n.7, p.223-241, 1993.
BLOM-ZANDSTRA, M.; LAMPE, J.E.M. The role of nitrate in the osmoregulation of lettuce
(Lactuca sativa L.) grown at different light intensities. Journal of Experimental Botany, n.36,
1043-1052, 1985.
CASTELLANE, P. D.; ARAÚJO, J. A. C. de. Cultivo sem solo – hidroponia. Jaboticabal:
FUNEP, 1995. 43 p.
CATALDO, D.A.; HAROON, M.; SCHRADER, L.E.; et al. Rapid clorimetric determination of
nitrate in plant tissue by nitrification of salicylic acid. Communication in Soil Science and
Plant Analysis, v.6, n.1, p.71-80, 1975.
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31
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 23-33, jan./jun. 2014.
TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A.
RAMPAZO, Érick M
Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas
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32
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 23-33, jan./jun. 2014.
TESTOLIN, Gilmar, MANFRON, Paulo A. ALVES, Vagner C. MARQUES, Tadeu A.
RAMPAZO, Érick M
Avaliação da alface hidropônica usando água de piscicultura misturada com diferentes porcentagens de soluções nutritivas
¹Gilmar Testolin é Mestre em Fitotecnia pela Universidade de São Paulo, Brasil (2009) e Professor
da Escola Agrotécnica Federal de Concórdia, Brasil.
²Paulo Augusto Manfron é Bolsista de Produtividade em Pesquisa 1D, Doutor em Agronomia pela
Universidade de São Paulo, Brasil(1992) e Professor de Pós-Graduação da Universidade do Oeste
Paulista , Brasil.
³Vagner C. Alves é Doutor em Agronomia (Fitotecnia) (Esalq) pela Universidade de São Paulo,
Brasil (2001) e Professor tirular da Universidade do Oeste Paulista, Brasil.
4Tadeu
Alcides Marques é Doutor em Tecnologia de Alimentos pela Universidade Estadual de
Campinas, Brasil(1997) e PS-1 da Faculdade de Tecnologia de Piracicaba , Brasil.
5Erick
Malheiros Rampazo é Mestre em Agronomia pela Universidade do Oeste Paulista,
Brasil(2011) e Tempo Integral da universidade do Oeste Paulista - Unoeste , Brasil.
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Programa de aprendizagem profissional e
sua contribuição mercadológica: uma
análise sob as perspectivas aprendiz,
professor e empresa
CALAZANS, Flávio Dornello
SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de
FISCHER, Luciana
Resumo
A aprendizagem profissional tornou-se o meio mais importante para o desenvolvimento de competências
profissionais, principalmente para jovens que buscam a colocação no mercado de trabalho que,
atualmente, encontra-se em constante mudança. Desse modo, a fim de contribuir com a inserção dos
jovens no mercado de trabalho, instituições desenvolveram os Programas de Aprendizagem Profissional.
A partir desta proposta os jovens participam, como aprendiz, de atividades teóricas em uma instituição de
ensino e as atividades práticas em uma empresa da cidade onde reside. O objetivo deste estudo foi
verificar a contribuição deste programa desenvolvido em Piracicaba-SP e seus resultados parciais
considerando alunos, docentes e empresas envolvidos.
Palavras-chave: aprendizes; aprendizagem profissional; programas de aprendizagem; jovem aprendiz;
mercado de trabalho.
Abstract
The professional learning has become the most important mean for the development of professional skills
of people, especially for young people looking for a placement in the labor market, since it is a world that
today is constantly changing. Thus, in order to contribute to the integration of young people into the labor
market institutions developed the Professional Learning Programs. From this proposal, they participate,
under the name of apprentice, of the theoretical activities in a institution and the practical activities in a
city where the company resides. The aim of this study was to investigate the contribution of this program
developed in Piracicaba-SP and its partial results considering students, teachers and companies involved.
Key-words: apprentices; professional learning; learning programs; young apprentice; labor market.
Resúmen
El aprendizaje profesional se ha convertido en el medio más importante para el desarrollo de
competencias profesionales, especialmente para los jóvenes que buscan su colocación en el mercado de
trabajo, ya que es un mundo que está en constante cambio. Por lo tanto, con el fin de contribuir con la
integración de los jóvenes en el mercado laboral, las instituciones han desarrollado los Programas de
34
Aprendizaje Profesional. A partir de esta propuesta los jóvenes participan, con el nombre de aprendiz, de
actividades teóricas en una institución y las actividades prácticas en una empresa de la ciudad en que
reside. El objetivo de este estudio fue investigar la contribución de este programa desarrollado en
Piracicaba-SP y sus resultados parciales considerando alumnos, profesores y empresas involucradas.
Palabras-clave: aprendices; aprendizaje profesional; programas de aprendizaje; joven aprendiz; mercado
de trabajo.
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bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014.
CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana.
Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
INTRODUÇÃO
Uma grande parcela da população juvenil brasileira tem buscado a inserção e colocação
no mercado de trabalho, com isso, vê-se diante de duas situações que permeiam diversas
organizações, como a falta de oportunidade dada ao jovem e a falta de qualificação técnicoprofissional.
Tendo em vista esse cenário, para tentar suprir esses aspectos foram instituídos os
Programas de Aprendizagem, que tem como objetivo inserir esses jovens no mercado, sob a
denominação de aprendizes, e fornecer uma formação profissional.
Esses programas são regidos pela Lei da Aprendizagem nº 10.097/ 2000 e pelo Decreto
nº 5.598/ 2005, que regulamenta a contratação de aprendizes e dá outras providências, como o
contrato de Aprendizagem, as entidades qualificadas para fornecer a formação profissional, os
direitos e obrigações trabalhistas, a certificação de qualificação profissional, entre outras questões
que serão apresentadas no decorrer deste trabalho.
É Importante ressaltar que a palavra aprendizagem apresenta duas acepções,
compreendendo a primeira referente à aprendizagem como processo de obtenção de novos
conhecimentos e habilidade, na qual ocorre em todo o processo da vida, e a segunda acepção é a
Aprendizagem descrita pela lei, na qual se volta aos programas técnicos de Aprendizagem. De
modo a versar a diferenciação foi adotado que, quando for referida ao primeiro sentido a palavra
aprendizagem será grafada com inicial minúscula e quando se referir ao segundo sentido a palavra
Aprendizagem será grafada com a inicial maiúscula.
O objetivo geral desse estudo consiste em analisar o Programa Aprendizagem, que tem
ênfase em Gestão e Negócios, desenvolvido por uma instituição de ensino técnico-profissional,
situada no município de Piracicaba–SP; a pedido da própria instituição o seu nome não será
citado. A pesquisa contou com a participação de aprendizes e docentes que participam do
programa de Aprendizagem desta instituição, a fim de verificar a percepção dos mesmos sobre o
programa. Profissionais das empresas que mantêm convênio com a instituição de ensino, e que
adotam o programa, também foram entrevistadas a fim de identificar qual contribuição o
programa trouxe para a organização.
Aprendizagem profissional e sua relação com o contexto empresarial
A relação aprendizagem profissional e ambiente empresarial apresenta um grande valor,
principalmente, quando está focada no processo de desenvolvimento do capital intelectual das
organizações, através da ação da aprendizagem e formação para o trabalho, além da possibilidade
da inclusão de novos colaboradores no mercado, especialmente quando se tratam de jovens que
buscam uma oportunidade nesse dado contexto.
Aprender diz respeito à aquisição de novos hábitos, conhecimentos, habilidades, atitudes
e valores, na realidade é um processo de obtenção de novas formas de conduta ou de
modificação de uma conduta existente (RIBEIRO, 2005).
Para Fleury (2002), a aprendizagem pode ser compreendida como um processo de
mudanças provocadas por estímulos e mediado por emoções que podem ou não produzir
mudanças nos comportamentos do indivíduo.
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bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014.
CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana.
Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
Desse modo, a reflexão sobre o que faz e o porquê se faz também deve ser contemplada
no ensino, pois os indivíduos a partir da aprendizagem poderá obter a plena consciência dos
resultados e consequências. A qualificação profissional nas organizações permite obter resultados
para os indivíduos, para as equipes de trabalho e para as organizações, essa qualificação ocorre de
diversas maneiras, seja pela contratação de estagiários e pessoas em primeiro emprego até as
ações de capacitação, como treinamentos, investimentos em cursos dentro ou fora da empresa
(MOURÃO, 2009).
Essa pesquisa utilizará a definição de aprendizagem profissional, fornecida pelo Ministério
Público, o qual a “aprendizagem é um ensino técnico-profissional, um processo educativo que,
além da formação geral, fornece estudos de caráter técnico e aquisição de conhecimento e
aptidões práticas relativas ao exercício de certas profissões” (BRASIL, 2013a, p. 20).
Nesse contexto de uma profunda necessidade de qualificação profissional, tanto jovens
quanto adultos devem estar envolvidos para desenvolverem as capacidades técnicas e intelectuais,
a fim de exercer da melhor maneira possível suas atividades dentro da empresa.
Mota (2013) afirma que a escola deixou de ser o único ambiente de aprendizagem, como
era visto antigamente, recentemente esse ambiente, seja por exemplo nas organizações, permite
que os indivíduos tenham a possibilidade de obter experiências educacionais sem precedentes,
como jamais visto nos modelos clássicos de ensino. Essas novas circunstâncias fazem com que
seja necessário um novo olhar da relação estabelecida entre educação, tecnologia e o mundo do
trabalho.
A Importância da Aprendizagem Profissional no Ambiente Corporativo
Antigamente a aprendizagem e os cursos de formação profissional eram considerados
apenas custos e baixo retorno para a empresa, porém essa concepção atualmente vem sendo
modificada a partir da conscientização de que os resultados obtidos são favoráveis (DIAS, 2007).
O processo de aprendizagem nas organizações é de suma importância considerando a
ampliação do conhecimento dentro das empresas, pois um colaborador, mesmo que através de
mecanismos informais, transmite o que aprende para os demais, de maneira que haja uma troca
constante de experiências assim como crescimento pessoal e profissional. (COELHO JUNIOR e
BORGES-ANDRADE, 2008).
O processo de desenvolvimento das pessoas dentro das organizações, que no passado era
limitado ao departamento de Recursos Humanos, tornou-se pulverizado por toda a organização,
integrando todos os departamentos da empresa, reforçando a importância do capital intelectual
como ferramenta estratégica das organizações, no sentido de se tornarem mais ágeis, competitivas
e eficientes diante de um mundo globalizado (BRUNI et al, 2005).
Mota (2013, p. 112) afirma que “(...) na educação profissional buscar essas novas formas
de ensino/aprendizagem é uma necessidade inerente e uma oportunidade ímpar de utilizar o
espaço do trabalho também enquanto esfera educacional privilegiada”.
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bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014.
CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana.
Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
A INSERÇÃO DO JOVEM NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO: UMA
BREVE RETROSPECTIVA (1980 A 2013)
Influenciado pela economia mundial, que passou por inúmeras transformações, o
mercado de trabalho brasileiro passou por diversos problemas, principalmente, o desemprego
generalizado e o aumento da precariedade dos empregos. Na primeira metade da década de 1980,
o desemprego tornou-se o problema número um para muitos brasileiros, a ideia da perda do
emprego superou outros temores sociais como assaltos, poluição, a seca e as enchentes (SERRA,
1984).
A crise dos anos 80 provocou uma queda aproximada de 25% na Produção
Industrial acompanhada por uma redução semelhante do nível de emprego
industrial. Foi uma novidade para o país a ocorrência de um desemprego em
massa oriundo da Indústria de Transformação. Nos anos de 1981 e 1982, o
desemprego transformou-se em uma nova realidade para o país, chegando
atingir mais de 20% (DEDECCA, 2005, p. 102).
Dificuldades como a inserção no mercado de trabalho foram enfrentadas pelos jovens no
período (1981-1983), na faixa etária dos 15 aos 19 anos de idade houve uma redução da
participação de 15,4% para 14,2%, ocorrendo um comportamento semelhante para a faixa etária
dos 20 aos 24 anos (SABÓIA, 1986).
A década de 1990 teve início com uma forte recessão e a elevada inflação vinda do final
dos anos de 1980. No entanto, em meados de 1992, nota-se que devido à retomada do
crescimento econômico do país, o desemprego apresentou um pequeno recuo, conforme Neri et
al (2000). No ano de 1994, foi implantado o Plano Real, que tinha como principal objetivo o
controle da inflação que vinha preocupando o país, por meio da concorrência interna com
produtos importados gerada pela abertura comercial, controle cambial, entre outros (NERI et al,
2000).
Com os efeitos do Plano Real, apesar do impacto positivo no desempenho das atividades
econômicas da década, podia-se observar a degradação dos níveis de emprego e o país presenciou
mais um período de quase estagnação, desemprego e acentuada desigualdade social (DEDECCA,
2005).
Os anos 90 foram marcados por mudanças substanciais no mercado de
trabalho brasileiro. A recessão econômica do período 1990/92, a abertura
comercial, o ajustamento no setor privado em busca de maior
competitividade, o plano de estabilização econômica e a privatização
repercutiram sobre a ocupação, a desocupação e o rendimento dos indivíduos.
Reduziu-se substancialmente o número de trabalhadores na indústria de
transformação e, em contrapartida, expandiu-se o número de trabalhadores
nos setores de "prestação de serviços" e do comércio (IBGE, 2013).
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bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014.
CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana.
Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
No início do século XXI, a economia brasileira aposta num novo cenário de
reestruturação comparado com os anos de 1990. Verificou-se uma melhoria generalizada da
quantidade de empregos formais em função das condições externas e internas consideradas
favoráveis, como a educação básica e a qualificação profissional da força de trabalho (REMY et
al, 2010; DIEESE, 2012).
O mercado de trabalho nacional apresentou um comportamento atrelado à dinâmica
econômica brasileira, após ter uma taxa de desemprego alta em 2003, na faixa de 12,3%.
Posteriormente a esse período os indicadores passaram por uma melhora significativa, apenas
apresentando desvio nos anos de 2008 e 2009, devido aos efeitos da crise financeira internacional,
iniciada nos Estados Unidos, devido ao estouro da bolha imobiliária (DIEESE, 2012).
De acordo com a publicação do Ministério da Fazenda (Brasil, 2013b), o mês de
dezembro de 2012 fechou com uma taxa de desemprego de 4,6% e o mês de janeiro de 2013
apresentou uma taxa de 5,4%. Com toda a evolução do mercado de trabalho brasileiro, pode-se
verificar uma maior participação juvenil no campo profissional, que possui grande importância
para o desenvolvimento da economia nacional.
Participação e Importância dos Jovens no Mercado de Trabalho
Segundo Lobato & Labrea (2013), os jovens representam, no ano de 2013, 26,9% da
população brasileira, a maior proporção na curva demográfica. Consequentemente verifica-se
que, em muitos casos, os mesmos buscarão uma oportunidade do primeiro emprego, que nem
sempre o encontram de maneira fácil.
A importância de se levar em consideração os jovens trabalhadores que estão
no primeiro emprego ocorre pelo fato de que eles serão os responsáveis pelo
futuro das organizações e da sociedade, podendo se constituir como líderes da
nação e criadores de um novo Brasil. Desse modo, a preocupação com a
formação e a qualificação profissional de jovens se intensifica nos últimos anos,
assim como a exigência das organizações por trabalhadores dotados de
iniciativa, autonomia e criatividade (MACIEL e MENDONÇA, 2010, p. 353).
Chahad e Pozzo (2013) afirmam que, as empresas buscam trabalhadores com mais
experiência, o que acaba dificultando a inserção dos jovens, principalmente, na busca pelo
primeiro emprego. Isso faz com que esses jovens fiquem mais propensos a aceitação da
informalidade, devido a essa tamanha seletividade de contratação, contribuindo assim, para a
marginalização desses jovens (OLIVEIRA e SIMÃO, 2012).
Desse modo, para tentar suprir esses aspectos, foi criado os programas de Aprendizagem
Profissional e o Plano Nacional da Aprendizagem Profissional – PNAP, que tem como objetivo
inserir esses jovens no mercado de trabalho, sob as características de aprendizes, e fornecer uma
formação profissional ao mesmo.
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bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014.
CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana.
Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
Não se trata apenas de gerar empregos, mas de permitir a formação profissional
do adolescente, sem comprometer os seus estudos e o seu desenvolvimento
como pessoa. Com isso, permitir-se também a geração de renda, não
comprometendo a empregabilidade futura (MACIEL e MENDONÇA, 2010, p.
352).
Comparando-se os anos de 2006 e 2010, verifica-se que esse valor quase dobrou,
passando de 51.965 para 100.474 aprendizes. Na tabela 1 pode-se verificar a concentração dos
empregos formais a partir da contratação de aprendizes, principalmente na região Sudeste,
representando aproximadamente 52% do total destes no Brasil. Seguido das regiões Sul,
concentrando 16,7% dos empregos de aprendizes, da região Nordeste com uma concentração de
14,9%, da região Centro-Oeste com 10,9% e região Norte com uma concentração de 5,4% dos
empregos de aprendizes no ano de 2010.
Tabela 1 – Evolução dos empregos formais de aprendizes (Brasil e Grandes
Regiões 2006-2010 em nos absolutos)
Brasil e Grandes Regiões
2006
2007
2008
2009
2010
Norte
4.172
5.627
7.029
8.025
10.341
Nordeste
8.298
11.854
14.371
22.209
28.907
Sudeste
51.965
66.810
76.266
83.968
100.474
Sul
10.054
13.755
20.647
23.184
32.283
Centro-Oeste
11.036
13.598
15.660
17.777
20.954
BRASIL
85.525
111.644
133.973
155.163
192.959
Fonte: Adaptado de DIEESE (2011).
Com isso, além de proporcionar a participação ativa dessa camada juvenil no mercado de
trabalho, também proporciona uma melhoria na qualificação da mão-de-obra, consequentemente,
as empresas que empregam os aprendizes terão benefícios significativos, como jovens
colaboradores treinados e participativos, além de benefícios fiscais e tributários, entre outros.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS LEGISLAÇÕES E DOS PROGRAMAS DE
APRENDIZAGEM: UMA INVESTIGAÇÃO EVOLUTIVA NO CONTEXTO
BRASILEIRO
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bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014.
CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana.
Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
Os programas de Aprendizagem que são conhecidos atualmente, nem sempre
apresentavam o caráter de profissionalização e inserção dos jovens no mercado de trabalho.
Pode-se verificar que no início era tido como um suporte aos jovens menos favorecidos da
sociedade brasileira. Com o tempo, as intervenções da legislação brasileira, trouxeram um
contorno mais profissional.
A Revolução Industrial brasileira, segundo os historiadores se deu a partir da
década de 1930. Até então, o que era produzido no país, era desenvolvido pelos chamados
artesãos, que ensinavam seu ofício a um determinado aprendiz para que pudesse vir a realizar o
trabalho com a devida qualificação, o qual era realizado do início ao final do processo. Vale
ressaltar que naquele momento a qualificação estava essencialmente voltada para o trabalho
manual, não se tratava de uma formação que conjugasse a teoria e a prática (GOMES, 2003). Já
quando as máquinas passaram a substituir o trabalho manual, não foi uma mudança com fácil
adaptação.
No decorrer da industrialização, verificou-se a necessidade de treinamento e a capacitação
profissional para ensinar os operários a realizarem seu trabalho nesse novo modelo de mercado.
Em 1923 já se estabelecia a aprendizagem metódica entre a prática e a teoria, com apoio do
Estado.
[...] Só foi com o ingresso de Roberto Mange nos Liceus de Artes e Ofícios, que
o método tradicional de aprendizagem acabou sendo substituído pela
capacitação profissional científica. Com o apoio financeiro do Estado, Mange
instalou em 1923 nos Liceus de Artes e Ofícios, a Escola Profissional de
Mecânica, podendo assim testar por meio de erros e acertos o sistema das séries
metódicas que até hoje, é estabelecido em lei como “aprendizagem metódica
entre teoria e prática” (BUIAR e GARCIA, 2008).
Entretanto, a aprendizagem metódica como um modelo pedagógico, a qual se tornou
uma referência como método de ensino à época, aconteceu através da inserção dos jovens
trabalhadores no segmento ferroviário, com da criação, em 1934, do Centro Ferroviário de
Ensino e Seleção Profissional – CFESP. Cunha (2005, p. 26) afirma que “nas escolas de
aprendizagem de ofício, os alunos eram, invariavelmente, órfãos e outros “desvalidos”, oriundos
do lumpemproletariado1, mais interessadas na comida gratuita do que no aprendizado
propriamente”.
Nessa conjuntura histórica brasileira em 1942, por meio do Decreto-Lei nº 4.048 foi
criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI, que atualmente é uma das
instituições habilitadas para formar jovens aprendizes, através de ensino profissionalizante.
Todas essas mudanças no âmbito financeiro, sindical, estrutural, social, cultural, econômico,
tecnológico e político no Brasil, serviram para motivar a discussão e a implantação da lei
trabalhista, talvez, mais conhecida no país, a Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT, a qual
passou a dar uma maior proteção aos trabalhadores em geral e também aos jovens aprendizes que
eram inseridos no mercado de trabalho através do ensino profissionalizante.
1
Termo utilizado para a designação marxista do proletariado mais pobre que não tem consciência de classe
(LINDEN, 2005).
41
bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014.
CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana.
Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e as Legislações que Precederam a Lei de
Aprendizagem
Desde a implantação da Consolidação das Leis de Trabalho – CLT, pelo Decreto-Lei nº
5.452, datada de 1º de maio de 1943. A CLT não somente consolidou as leis trabalhistas que já
existiam na época, como adotou outras ações para reger a relação entre os empregados e os seus
empregadores e definiu as características básicas do sistema legal e oficial das relações
trabalhistas.
Para uniformizar as leis trabalhistas e para regulamentar, também no quesito da educação
profissionalizante, o governo interfere e prevê a obrigatoriedade para que as organizações
contratem em seu quadro, nas funções que demandam formação profissional, um mínimo de 5%
de aprendizes (BRASIL, 1943). Atualmente (2013) esse percentual pode chegar ao máximo a 15%
(BRASIL, 2000). A estipulação desse percentual limite é somente uma das alterações que foram
feitas através do tempo, entre outras, que irá se verificar.
Considerando que as transformações na indústria trouxeram uma grande migração das
pessoas das localidades rurais para as áreas urbanas, inevitavelmente o setor de comércio e
serviços nas cidades também teve seu crescimento e, no ano de 1946, através do Decreto-Lei nº
8.621 foi criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC, que é outra
instituição habilitada a fornecer a Aprendizagem Profissional (BRASIL, 1946).
O Ensino profissional estava organizado – para atender as três áreas da
economia (industrial, comercial e agrícola) e compunha-se de 2 ciclos: um
fundamental, com duração de 4 anos e, um técnico, com duração de 3 a 4 anos.
Ao lado desses cursos de formação, estavam previstos cursos artesanais –
destinados a treinamento rápido e curso de aprendizagem (SENAI-SENAC)
destinado a qualificação de aprendizes – os que já trabalhavam
(prioritariamente) e os que se preparavam para o ingresso imediato na força-detrabalho (PIMENTA, 2011, p.65).
Minayo (2006) afirma que, se estabeleceu direitos fundamentais para as crianças e
adolescentes, garantindo e priorizando as necessidades, pelo fato de considerar que os mesmos,
estão ainda em desenvolvimento, no tocante geral, como pessoa.
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente
e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão (BRASIL, 1988, grifo nosso).
Outro passo para desenvolvimento e o estabelecimento dos parâmetros da Lei de
Aprendizagem, que viria a ser instituída em 2000, foi criado, pela Lei nº 8.069/90, o Estatuto da
42
bioenergia em revista: diálogos, ano 3, n. 1, p. 34-57, jan./jun. 2014.
CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana.
Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
Criança e do Adolescente – ECA. Esse estatuto visa apresentar alguns aspectos para a proteção
das crianças e dos adolescentes.
A Lei da Aprendizagem e o Papel de seus Protagonistas: Aprendizes, Estabelecimentos
Contratantes e Instituições Formadoras
A Lei nº 10.097/00, também conhecida como Lei da Aprendizagem, complementada pela
Lei nº 11.180/05 e regulamentada pelo Decreto nº 5.598/05, teve como base jurídico-legal, os
artigos que regiam a Aprendizagem na CLT e no ECA. Na legislação, aprendiz é o adolescente ou
jovem entre 14 e 24 anos que celebra contrato de Aprendizagem (BRASIL, 2011). O Ministério
do Trabalho e Emprego – MTE conceitua programa de Aprendizagem como sendo um
programa técnico-profissional com alguns parâmetros para a orientação das instituições
formadoras.
O programa técnico-profissional que prevê a execução de atividades teóricas e
práticas, sob a orientação de entidade qualificada em formação técnicoprofissional metódica, com especificação do público-alvo, dos conteúdos
programáticos a serem ministrados, período de duração, carga horária teórica e
prática, mecanismos de acompanhamento, avaliação e certificação do
aprendizado (BRASIL, 2011, p. 13).
A contratação do aprendiz deverá ser feita diretamente pelo estabelecimento que deve
cumprir a cota de Aprendizagem, o qual assumira o papel de empregador e carece inscrever o
aprendiz em um programa de Aprendizagem, que são ministrados pelas entidades qualificadas
(BRASIL, 2005).
O contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado por
escrito e por prazo determinado não superior a dois anos, em que o
empregador se compromete a assegurar ao aprendiz, inscrito em programa de
aprendizagem, formação técnico-profissional metódica compatível com seu
desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz se compromete a
executar com zelo e diligência as tarefas necessárias a essa formação (BRASIL,
2005)
A validade do contrato pressupõe anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social –
CTPS, onde se deve assinalar no campo Função a palavra “aprendiz”, seguida da função
conforme a Classificação Brasileira de Ocupações – CBO. A seguir uma tabela apresentando
uma síntese da Lei da Aprendizagem para uma melhor visualização.
Tabela 2 – Quadro-síntese da Lei da Aprendizagem e suas principais características
Lei da Aprendizagem
Características
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CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana.
Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
A lei
O aprendiz
A instituição
formadora
A empresa contratante
Remuneração
Jornada de trabalho
Cota de aprendizes
Direitos trabalhistas e
previdenciários
Contrato de trabalho
Vínculo empregatício
Incentivos fiscais e
tributáveis

Lei nº 10.097/2000

Decreto nº 5.598/2005 (regulamenta a lei anterior)

Jovens entre 14 e 24 anos, que estejam cursando no mínimo
o ensino fundamental

Instituições do sistema S (ex.: SENAC, SENAI, SENAT,
SENAR, SESCOOP);

Escolas técnicas, inclusive as agrotécnicas (ex.: ETEC‟s);

Entidade sem fins lucrativos (ex.: CIEE – Centro de
Integração Empresa-Escola)

Estabelecimentos de qualquer natureza, sendo facultado
para as microempresas e entidades sem fins lucrativos

Salário mínimo/hora

Até 06 horas diárias para jovens que estejam cursando o
ensino fundamental;

Até 08 horas diárias para jovens que estejam cursando ou
concluído o ensino médio

5% a 15% do total de funcionários da empresa

13º salário;

Vale-transporte;

Férias;

Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS

Seguridade Social (INSS)

Contrato de trabalho com prazo determinado, com duração
de até 02 anos, salvo no caso de jovens com deficiência

Pela Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT e registro na
Carteira de Trabalho e Previdências Social – CTPS



Redução de 8% para 2% do FGTS;
Dispensa aviso prévio;
Isenção de multa rescisória
Órgão responsável

Superintendência Regional do Trabalho
pela fiscalização da lei
Fonte: elaborado pelos autores com base na Lei da Aprendizagem.
Como se pode verificar, na tabela 3, a Lei da Aprendizagem possui algumas características
principais, as quais empresas, aprendizes e instituições formadoras devem seguir.
O PROGRAMA DE APRENDIZAGEM PROFISSIONAL EM UMA INSTITUIÇÃO
DE ENSINO (PIRACICABA-SP): CARACTERIZAÇÃO EM GESTÃO E NEGÓCIOS
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Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
O Programa Aprendizagem da instituição de ensino do município de Piracicaba-SP, a
qual por solicitação da própria instituição, não será citado o nome, tem como finalidade atender a
Lei nº 10.097/00 e seus decretos e portarias citados no capítulo anterior. O programa da
instituição objeto deste estudo tem como foco o campo de conhecimento em Gestão e Negócios,
que possibilita ao aprendiz atuar nas diversas áreas e departamentos de empresas dos ramos
atacadista, varejista e de serviços.
O processo de contratação no Programa Aprendizagem transcorre da seguinte forma, a
empresa entra em contato com a instituição formadora, estabelece a parceria, verifica os dias e os
horários das turmas, qual o início e o término do programa, verifica o prazo e os documentos
necessários da empresa e do jovem para efetuar a matrícula. Na sequência, a empresa realiza o
processo de recrutamento e seleção e elabora em papel timbrado o Contrato de Aprendizagem
com o jovem aprendiz.
O jovem aprendiz uma vez contratado, no cumprimento das 933 horas práticas, seguirá
um cronograma para o rodízio de funções e áreas, que deve ser compatível com a proposta
pedagógica do programa, onde o mesmo é inserido como parte do processo de aprendizagem e
não do caráter produtivo da empresa.
Em cada um dos departamentos é necessário que se tenha um monitor ou um
responsável para acompanhamento diário das atividades do aprendiz, e um tutor que conheça a
legislação da Aprendizagem e o programa da instituição formadora, o qual responde pelas
atividades do jovem aprendiz dentro da empresa.
Uma das características desse programa é buscar conciliar a experiência vivida na
empresa, levando em consideração os aspectos facilitadores e as dificuldades encontradas pelo
aprendiz, para serem trabalhadas em sala de aula com a orientação do docente. Ao final do
Programa Aprendizagem: Gestão e Negócios, os jovens, nos aspectos de organização e operações
das diversas áreas administrativas e comerciais, obterão a compreensão de alguns processos de
funcionamento de vários departamentos e o fluxo desses processos na empresa, na qual esse
aprendiz está realizando as atividades práticas.
Metodologia da Pesquisa
Para a classificação da pesquisa, esse estudo toma-se como base a taxonomia apresentada
por Vergara (2009), que qualifica a mesma em relação a dois aspectos: quantos aos fins e quanto
aos meios de investigação. Quantos aos fins, a pesquisa é exploratória e descritiva. Exploratória,
pois como não há tantos estudos sobre programas de Aprendizagem, permite proporcionar
maior compreensão do tema e do Programa Aprendizagem, foco desse estudo. Descritiva
Qualitativa, pois como esse tipo de pesquisa visa expor características de determinada população
e fenômeno, assim permite descrever a percepção e análises dos participantes do programa.
Quanto aos meios de investigação, este estudo foi realizado mediante a pesquisa
bibliográfica e o estudo de caso. Bibliográfica, pois a fundamentação teórica envolveu fontes
secundárias, como livros e sites especializados sobre aprendizagem e capacitação profissional,
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Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
inserção do jovem no mercado, legislação que regem os programas de Aprendizagem. O trabalho
apresenta um Estudo de caso, caracterizado pela análise em profundidade do objeto em estudo.
O estudo de caso é sobre o Programa Aprendizagem, com foco em gestão e negócios, de
uma instituição de ensino no município de Piracicaba-SP, que já foi apresentado anteriormente, a
qual apresenta três dimensões de análise, sendo os aprendizes, os docentes e as empresas que
contratam os aprendizes, que serão caracterizados nos subtítulos a seguir.
O universo dessa pesquisa compreende o total de integrantes do Programa
Aprendizagem: Gestão e Negócios, que é desenvolvido por uma instituição de ensino em
Piracicaba-SP. Três grupos compõem o processo de coleta de dados e análise, são eles, o total de
aprendizes que frequentam as aulas teóricas e a prática nas organizações (N = 440), os docentes
da instituição de ensino (N = 5), onde acontecem as atividades teóricas e, por fim, as empresas
conveniadas com a instituição de ensino, onde os aprendizes realizam as atividades práticas (N =
57).
A amostra utilizada para a pesquisa foi a não-probabilística e definida pelo critério de
acessibilidade (Vergara, 2009), onde foram selecionados pela disponibilidade de acesso aos
aprendizes, docentes e gestores de organizações que participam do Programa Aprendizagem:
Gestão e Negócios da instituição de ensino estudada. A amostra foi definida da seguinte maneira:
n = 58 aprendizes, n = 03 docentes e n = 05 gestores das empresas que possuem aprendizes na
instituição de ensino que é o objeto de estudo desse trabalho.
Para a coleta de dados, esse estudo se valeu de três modelos de formulários: um aplicado
aos aprendizes do programa em estudo, outro formulário aplicado aos docentes do programa e o
último aplicado aos gestores das organizações, que possuem aprendizes. Os dados obtidos na
aplicação dos formulários serão apresentados a seguir, com as análises realizadas e possíveis
discussões em relação ao referencial teórico abordado anteriormente. Pelo fato do estudo de caso
envolver três unidades de análise, sendo os aprendizes, a instituição formadora e as empresas
contratantes, as análises foram realizadas de modo similar, iniciando-se pelos aprendizes e assim
sucessivamente.
Resultados – Os Aprendizes: o programa sob a percepção dos jovens
Esses jovens buscam a inserção num mundo que atualmente encontra-se em constante
mudança, o mercado de trabalho. Um mundo exigente, onde os fatores educacionais e de
experiência imperam na maioria das vezes, de modo que os jovens encontrem barreiras para a
inclusão, por isso procuram formas de participação no campo profissional tais como os estágios e
os programas de Aprendizagem.
De acordo com a pesquisa realizada com os jovens aprendizes na instituição de ensino em
estudo, verificou-se que a maioria deles pertence ao sexo feminino, compreendendo 53,4% e que
46,6% do sexo masculino. Quanto à faixa etária, a sua grande maioria está entre os 14 e 18 anos
de idade, com 89,7%, o que demonstra o interesse, a necessidade e outras motivações, que levam
esses jovens a se inserirem no mercado de trabalho antes dos 18 anos. Na faixa etária de 19 a 24
anos, tem 10,3% dos aprendizes, aos quais podem executar alguns trabalhos que os designados
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perspectivasaprendiz, professor e empresa.
menores de idade não podem, como por exemplo, é vedado o trabalho noturno, compreendido o
horário entre às 22:00h e às 05:00h, além de mencionar que à eles não é permitido o trabalho em
locais e serviços perigosos ou insalubres e também em lugares ou serviços que seja prejudicial a
sua moralidade.
Em relação à educação do ensino normal, que os aprendizes, apesar da obrigatoriedade de
estarem cursando ou ter cursado, ao mínimo o ensino fundamental, constata-se, porém que
79,3% dos pesquisados estão cursando o ensino médio e 15,5% já terminaram o ensino médio,
isso é preponderantemente relevante, considerando que a característica do programa é voltada
para a aprendizagem profissional. É relevante a importância do programa por conter 3,4%
cursando o ensino superior.
Quando questionados sobre o que é ser aprendiz, obteve-se os seguintes argumentos,
oportunidade de inserir-se no mercado de trabalho, obter novos conhecimentos, aprender o que
acontece nas empresas.
“Ser aprendiz é conhecer algo diferente, é aprender coisas novas no mundo do trabalho”.
“É uma oportunidade para aprendermos sobre o mercado de trabalho, saber mais, nos prepararmos para a
vida lá fora”.
“É a descoberta de oportunidade e a possibilidade de inserção no mundo do trabalho”.
“Aprendiz é um passo importante para começar uma carreira profissional, aprender muitas coisas
importantes”.
Verifica-se que os jovens participantes do Programa Aprendizagem acreditam que ser
aprendiz é estar sempre disposto a aprender coisas novas, obter novos conhecimentos, é estar
disposto a mudanças. Mesmo com alguns problemas e inseguranças que os aprendizes passam,
eles tem a percepção da contribuição que o trabalho trouxe para a vida de cada um, sendo:
experiência profissional, trabalho em equipe, aprende-se a lidar com as diferenças, ajuda
financeira, visão do funcionamento de uma empresa, responsabilidade, maturidade, visão da
realidade do mercado de trabalho, conhecimento, respeito a normas e regras, principalmente as
pessoas, dentre outras.
Verifica-se que a maioria dos jovens coloca em prática parcialmente o que aprendem ao
longo do curso. Na percepção dos aprendizes, alguns conteúdos que são vistos na teoria não se
consegue colocar em prática, ou acreditam que não estão colocando em prática, mesmo que o
façam de maneira inconsciente. Por exemplo, temas como saúde, conforme é visto no programa
são temas que apresentam resultados intangíveis, diferentes das disciplinas como práticas de
rotinas administrativas, que podem obter resultados tangíveis, ou seja, na efetivação do trabalho.
O que possivelmente precisaria ser trabalhado com os jovens o aspecto, de que um tema pode ser
aplicável de maneira indireta sobre o trabalho.
O gráfico 1 apresenta a classificação, por ordem de importância, das contribuições que o
programa trouxe para a vida pessoal dos jovens. Para a tabulação dessa pergunta com escala de
importância, utilizou-se a tabulação ponderada, que segundo Samara e Barros (2007), atribuíra-se
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Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
peso para cada posição de importância elencada pelos respondentes. Nesse caso, a contribuição
que foi atribuída como 1ª posição recebeu peso 5, na 2ª posição recebeu peso 4, assim
sucessivamente, de modo a verificar qual categoria apresentava maior importância. O total de
cada nível de importância (1ª à 5ª) foi equivalente a 58, pois todos os participantes indicaram os
itens de 1ª a 5ª importância.
Gráfico 1 – Classificação por ordem de importância (tabulação ponderada)
das contribuições do programa para a vida pessoal dos jovens
200
213
200
124
Visão de mundo
Crescimento
pessoal
Aprendizagem de Independência
coisas novas
financeira
133
Inserção no
mercado de
trabalho
Fonte: Dados da pesquisa, 2013.
Nota-se que os jovens buscam constantemente uma maneira de serem reconhecidos pelos
indivíduos que os rodeia. Esse reconhecimento possibilita às pessoas algo que é de difícil
mensuração, que foi elencado no primeiro nível de importância, o “Crescimento pessoal”:
quando se obtêm a devida consideração das demais pessoas que convivem com o indivíduo, criase certo conforto e a vontade de sempre estar melhorando.
A “Visão de mundo”: a possibilidade de conseguir obter novas maneiras de ver a
realidade, principalmente a realidade empresarial, ou seja, o que ocorre realmente nas
organizações, para esses jovens tornou-se uma das principais contribuições que o programa
trouxe, pois esses jovens têm a oportunidade de absorver a rotina cotidiana das empresas, os
desafios enfrentados pela equipe de colaboradores, entre outros.
Juntamente com a visão de mundo, ficou “Aprendizagem de coisas novas”: percebe-se
que o mundo, de maneira geral, encontra-se em constante mutação e o ato de aprender coisas
novas, possibilita ao indivíduo um modo de estar “atualizado” sobre o que acontece, o porquê
acontece e como acontece. Podendo ser notado desde um simples modo de organizar
documentos em um arquivo até uma nova forma de operar um complexo sistema de informação
gerencial.
A “Inserção no mercado de trabalho”: possibilitar ao jovem a oportunidade de estar ativo
no mercado de trabalho é um dos objetivos dos programas de Aprendizagem, desse modo
verifica-se que os jovens possuem essa percepção. Por fim, em última posição ficou
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Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
“Independência financeira”: verifica-se que os jovens, buscam muito além do que simplesmente o
retorno financeiro, não que seja dispensável, porém eles tentam atribuir maior conhecimento para
a vida.
Resultados - A instituição de ensino: o programa sob o olhar do docente
As três docentes que participaram da pesquisa possuem idade entre 37 e 41 anos de idade
e apresentam formações acadêmicas de diversas áreas do conhecimento, tais como psicologia,
licenciatura em educação física, comunicação social-jornalismo, porém todas possuem
especialização, mestrado e/ou experiência profissional na área educacional.
“Digo à eles, que esse processo de “experimentação” é único na vida deles, e também
extremamente válido. Pois, essa oportunidade pode dar para eles um norte, um direcionamento
de áreas que se identificam e podem investir para sua carreira profissional” (FGVS, 2013).
Quando questionado aos docentes o que é ser aprendiz, todas as respostas se basearam,
nos mesmos princípios, somos todos aprendizes em constante transformação.
“Todos nós somos aprendizes desde o nascimento até o fim. Passamos por fases de
aprendizagem, mas ser aprendiz é estar disposto a aprender sempre” (DS, 2013).
“Ser aprendiz é estar em constante aprendizado, crescer pessoal e profissionalmente. Somos
todos aprendizes da vida, em constante desenvolvimento” (AAL, 2013).
“A nossa docente coordenadora, sempre enfatiza que aprendizes somos para a vida inteira. E
me apoio em sua afirmação. No Programa ser aprendiz, é apenas uma condição momentânea,
um degrau que superou para seguir sua vida profissional. Um passo importante!” (FGVS,
2013).
Através dessas afirmações pode-se verificar que ser aprendiz, não é apenas ser aluno de
um programa de Aprendizagem, pois essa visão é singular, ser aprendiz é um pouco mais
complexo, na vida aprende-se inúmeras coisas novas e tem-se a oportunidade de reaprender.
Conforme o último argumento, ser aprendiz no programa é uma condição momentânea, um
passo importante pra o crescimento pessoal e profissional, o qual ao finalizar a participação do
programa o aprendiz pode obter maiores chances para se posicionar melhor no mercado de
trabalho que está em constante transformação.
Quando questionadas, como avaliam a contratação de aprendizes e os principais motivos
para a contratação dos mesmos, pode-se verificar que muitas das empresas que atualmente
possuem aprendizes nos seus quadros de colaboradores, são porque estão apenas cumprindo
com a lei, pois tendem a preencher a cota estabelecida na mesma, para que não sejam penalizadas.
Entretanto, ressaltam as exceções, empresas que visam desenvolver habilidade em seus
colaboradores, dando importância aos seus recursos humanos. O que pode ser afirmado quando
uma organização, ao final do Programa Aprendizagem, contrata ou ao menos oferece a esses
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Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
jovens a oportunidade de efetivação. Quando questionado os professores do Programa
Aprendizagem, quais as contribuições vistas para a vida pessoal dos jovens ao participarem do
mesmo, pode-se verificar que algumas delas são o incentivo a formação contínua dos jovens, seja
em cursos técnicos ou faculdade, além da conscientização de valores morais, éticos e
comportamentais que são passados ao longo do processo de aprendizagem.
“O se conhecer, o trabalho, à sua auto-estima e o direcionamento para a sua vida
profissional, que certamente, irá contribuir para uma melhor qualidade de vida”
(FGVS, 2013).
E quando questionado, quais as contribuições que o Programa trouxe para as empresas
que contratam esses aprendizes, verifica-se que a principal citada foi a oportunidade de
qualificação dos aprendizes, permitindo assim as empresas possuírem um quadro de
colaboradores mais qualificado.
“Uma oportunidade de desenvolver um jovem talento” (FGVS, 2013).
“Responsabilidade social; ter um colaborador que iniciou como aprendiz e que
poderá chegar a outros cargos conhecendo toda estrutura da empresa” (AAL,
2013).
Os conteúdos debatidos em sala de aula propiciam ao aprendiz o desenvolvimento de
uma visão holística em relação ao mundo corporativo, foram citados dentre os inúmeros temas,
atitude empreendedora, ambientação profissional, desenvolvimento pessoal, e por ser um
programa com foco em gestão e negócios, são elencados temas como rotinas administrativas,
compreendendo atendimento ao público, segurança no trabalho, práticas da área financeira,
recursos humanos, entre outros.
Resultados - As empresas contratantes: o programa através da voz dos gestores
Na dimensão de análise, empresas contratantes, os formulários foram aplicados aos
gestores dos aprendizes, os quais deveriam supervisionar esses jovens nas atividades práticas.
Desta forma, pode-se verificar e analisar quais as percepções que os gestores, que representaram
as empresas, sobre os aprendizes e sobre a instituição de ensino, a qual fornece as atividades
teóricas.
As cinco empresas que participaram da pesquisa são diversos setores de atividade,
compreendendo comércio de alimentos, confecção e comércio em geral, calçadista, comércio de
móveis e outros produtos, todas localizadas no município de Piracicaba – SP. Essas organizações
possuem uma média de 60 funcionários, a que possui menor número de funcionários tem 22 e a
que apresenta maior número, tem 98 funcionários.
O que se pode notar é que após esses jovens participarem do programa, permitiu que os
mesmos continuassem ativos no mercado de trabalho, além de terem obtido uma qualificação
profissional, o que provavelmente facilitou a sua permanência. Ao serem questionados qual o real
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Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
motivo da contratação de aprendizes pelas empresas, tinha-se como pressuposto que o motivo
vai além de estar previsto em lei, um significado mais subjetivo. Dessa maneira, confirmou-se que
a maior parte das organizações contrata aprendizes por serem obrigados pela lei, porém eles
afirmam que é uma maneira de descobrir novos talentos.
Atualmente, as empresas adotam políticas de gestão de pessoas mais assertivas do que há
algum tempo atrás, dentre elas a oferta de treinamento e desenvolvimento aos seus
colaboradores, com o intuito de capacitá-los para o trabalho. O Programa Aprendizagem tem
esse propósito de fornecer capacitação e desenvolvimento dos jovens para o mercado. Com o
intuito de identificar as contribuições que os aprendizes trazem para as empresas, foi solicitado
que os mesmos descrevessem essas contribuições, dentre elas obteve-se os seguintes argumentos.
Primeiramente, são „sangue novos‟, por serem de uma geração que apresentam vontade de ser
reconhecidos, tentam fazer as tarefas que lhes são designadas da melhor maneira. São bem mais
maleáveis às mudanças do dia-a-dia, por exemplo, quando trocamos o sistema há uns dois anos
e seis meses, os funcionários que já trabalhavam apresentaram uma enorme resistência, mas
para eles [aprendizes] foi à coisa mais normal (Empresa do setor de comércio de
alimentos, 2013).
“São dinâmicos, possuem enorme facilidade em assimilar a filosofia da organização e normalmente seguem carreira na
empresa. E apresentam baixo turnover” (Empresa do setor de comércio de móveis, 2013).
Verifica-se que os jovens são mais flexíveis as mudanças e buscam absorver a cultura da
organização, para poderem ser reconhecidos e se sentir parte da empresa. Dessa maneira, notamse as contribuições subjetivas, pois os jovens tentem a colaborar da melhor maneira com a
empresa e seus colegas de trabalho. Os gestores foram indagados sobre como eles classificariam a
Lei da Aprendizagem (Lei nº 10.097/2000), se acreditam que é adequada ou não adequada e o
porquê da resposta. Dos cinco gestores das empresas participantes, três acreditam que a lei é
adequada, justificando suas respostas com argumentos de que é:
“Porque é uma excelente oportunidade de crescimento profissional e eles [aprendizes] sentem a responsabilidade do valor ao
mercado de trabalho” (Empresa do setor de comércio de móveis, 2013).
“É uma excelente forma de inserir o jovem no mercado de trabalho” (Empresa do setor de comércio de móveis,
2013).
Enquanto as organizações que classificaram a lei como não adequada, justificaram suas
respostas com aspectos técnicos como fatores de idade mínima e o fator escolaridade.
“Considero que o jovem aprendiz, não deveria ser maior de 18 anos de idade, nesta faixa etária, o jovem já pode estar
cursando um ensino superior e ter total condição de desenvolver um estágio na área em que estuda, não como aprendizagem e
sim como iniciante na carreira escolhida” (Empresa do setor calçadista, 2013).
“Na lei a obrigatoriedade é apenas o ensino fundamental, acreditamos que numa época de conhecimentos avançados, o ensino
médio deveria ser requisito mínimo” (Empresa do setor de comércio de alimentos, 2013).
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perspectivasaprendiz, professor e empresa.
Desse modo, pode-se verificar a participação das empresas em relação a legislação
vigente, que são aspectos fundamentais para o aprendiz desenvolver-se no Programa
Aprendizagem, possibilitando assim possíveis melhorias nos programas existentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nota-se por meio da pesquisa que jovens participantes do programa compreendem que o
mesmo possibilitou a inserção no mercado de trabalho. Concordando que é um mundo que ainda
apresenta barreiras de inserção, principalmente, quando o ingressante for jovem, devido muito
das vezes a falta de experiência e até mesmo de qualificação profissional.
Percebe-se que os jovens acreditam que ser aprendiz vai muito mais além de um
indivíduo que está inserido em um determinado Programa de Aprendizagem, ser aprendiz é a
busca incessante de novos conhecimentos e habilidades para a vida pessoal, mas também para a
vida profissional. Pôde-se notar que a maioria dos entrevistados possui a vontade de aprender, de
conseguir se qualificar profissionalmente e, consequentemente, colocar em prática o que
aprendeu no curso, possibilitando assim o reconhecimento, seja pelos familiares, companheiros
de trabalho, colegas de curso.
Quanto à contribuição dos docentes à pesquisa, foi possível verificar que o programa
permite diversas contribuições aos jovens, dentre as principais percebe-se que os mesmos ao final
passam a ter mais responsabilidade em relação à vida profissional, transferindo isso para a
empresa.
Outro aspecto levantado foi a possibilidade de desenvolver novos talentos, os aprendizes
passam a conhecer o funcionamento da empresa de uma maneira mais generalizada, após o
transcorrer das atividades teóricas e práticas, eles passam a conhecer profundamente como
funcionam os departamentos em que atuam e os departamentos em que atuaram, devido à
rotatividade departamental. Assim, dessa maneira, além da qualificação torna-se possível obter a
tal experiência que as empresas tanto exigem, o que possibilita a futura contratação dos mesmos
na empresa em que atua como aprendiz, ou em outra.
Os gestores das empresas pesquisadas acreditam na possibilidade de desenvolvimento de
novos talentos e afirmam que os jovens não apresentam vício empregatício e conseguem
assimilar rapidamente a filosofia da organização, ou seja, o programa permite que as organizações
tenham colaboradores novos e que se tornem profissionais engajados na empresa.
Com isso pode-se notar que os gestores acreditam que a aprendizagem, tanto básica
quanto profissionalizante, é fundamental para o desempenho das empresas e, principalmente, dos
indivíduos. Assim, pôde-se verificar que o Programa Aprendizagem pode trazer tanto para os
aprendizes quanto para as organizações contribuições significativas.
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Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
REFERÊNCIAS
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del8621.htm. Acesso em 05 out.
2013.
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outubro de 1988. (Texto consolidado até a Emenda Constitucional nº 66 de 13 de julho de 2010).
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10097.htm. Acesso em 05 out. 2013.
BRASIL (2005). Decreto nº 5.598 (Promulgado em 1º de dezembro de 2005). Disponível em:
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Programa Adolescente Aprendiz: vida profissional: começando direito. 2. ed. Brasília: CNMP,
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CALAZANS, Flávio Dornello; SOUSA, João Pedro Zamoner Marques de; FISCHER, Luciana.
Programa de aprendizagem profissional e sua contribuição mercadológica: uma análise sob as
perspectivasaprendiz, professor e empresa.
¹Flávio Dornello Calazans é Graduado em Tecnologia em Biocombustíveis pela Fatec Piracicaba.
²João Pedro Zamoner Marques de Sousa é Graduado em Tecnologia em Gestão Empresarial pela
Faculdade de Tecnologia de Piracicaba - Dep. Roque Trevisan, Brasil(2013) e Mestrando em
Engenharia de Produção pela Unicamp.
³Luciana Fischer é Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo,
Brasil(2002) , Professora Universitário da Pontifícia Universidade Católica de Campinas , Brasil e
Docente da Fatec Piracicaba.
57
Análise econômico-financeira da
implantação de uma mini usina de biodiesel
de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia
MARTINS, Luís Oscar Silva
CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna
Resumo
Este artigo apresenta um estudo de viabilidade econômico-financeira de uma mini usina que utiliza sebo
bovino como matéria-prima para produção de biodiesel. O estudo de implantação do investimento foi
realizado no município de Feira de Santana (Bahia), escolhido por algumas particularidades tais como:
localização privilegiada, próxima tanto da matéria-prima (zonas de criação de gado e dos principais
frigoríficos industriais), quanto da Refinaria Landulfo Alves de Mataripe (RLAM) e das distribuidoras de
combustíveis. Além disso, o município é margeado pelas duas principais rodovias federais que cortam o
país, a BR 101 e BR 116, bem como pela BR 324, que a liga diretamente com a capital Salvador e a outras
cidades importantes da região do semiárido baiano. O estudo demonstrou que apesar das vantagens em
termos de custo do sebo bovino, um empreendimento que utilize apenas essa matéria-prima não seria
viável do ponto de vista econômico.
Palavras-chave: Biodiesel, Sebo Bovino, Análise Econômico-financeira, Mini usina.
Abstract
This paper presents a study of the economic feasibility of a mini power plant that uses tallow as a
feedstock for biodiesel production. The study of implementation of the investment was made in the city
of Feira de Santana (Bahia), chosen by some peculiarities such as: prime location, near both the raw
materials (livestock areas, major industrial refrigeration) and as the Refinery Landulfo Alves Mataripe
(RLAM) and fuel distributors. In addition, the city is flanked by the two major federal highways that cross
the country, BR 101 and BR 116 and BR 324, which connects directly with the capital Salvador and other
important cities of the semiarid region of Bahia. The study showed that despite the advantages in terms of
cost of tallow, a venture that only use this raw material would not be feasible from an economic
standpoint.
Keywords: Biodiesel, Beef Tallow, Economic and Financial Analysis, Mini plant.
Resumen
En este artículo se presenta un estudio de la viabilidad económica de una mini central eléctrica que utiliza
sebo de res como materia prima para la producción de biodiesel. El estudio de la aplicación de la inversión
se realizó en la ciudad de Feira de Santana (Bahia), elegido por algunas particularidades tales como:
58
ubicación privilegiada, cerca tanto de la materia prima (áreas de ganado y grandes refrigeradores
industriales), la Refinería Landulfo Alves Mataripe (RLAM) y los distribuidores de combustible. Además,
el condado está bordeado por dos importantes carreteras federales que cruzan el país, BR 101 y BR 116 y
BR 324, por el que vincula directamente con la capital Salvador y otras ciudades importantes de la región
semiárida de Bahía. El estudio mostró que a pesar de las ventajas en términos de coste de sebo, una
aventura que sólo puede utilizar esta materia prima no sería viable desde el punto de vista económico.
Palabras clave: Biodiesel, Sebo de vacuno, Análisis económico y financier, Mini planta.
59
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014.
MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna
Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia
INTRODUÇÃO
O biodiesel diz respeito a um nome genérico, geralmente aceito para nomeação de
combustíveis que são produzidos partindo-se de fontes renováveis, tais como óleos vegetais,
gordura animal e óleos residuais, de modo que sejam usados em motores de ignição por
compressão, também denominados motores diesel (PAULILLO et al, 2007).
Já se reconhece os benefícios ambientais do biodiesel, classificando-o como um
biocombustível avançado: ele reduz as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 57%
quando comparado com o diesel de petróleo, tornando-se uma das maneiras mais práticas e de
baixo custo para auxiliar no combate ao processo de mudanças climáticas. Além disso, de modo
comparativo aos combustíveis fósseis, o biodiesel tem a possibilidade de reduzir de maneira
significativa as emissões líquidas de gás carbônico – o CO2, que é um dos grandes responsáveis
por agravar o efeito estufa. Reduz ainda a emissão de fumaça e, basicamente, elimina qualquer
provável emissão de óxido de enxofre (LIMA, 2005; BUAINAIN e BATALHA, 2006).
A intenção do Brasil em utilizar o biodiesel é diminuir a dependência do diesel
importado, reduzindo, consequentemente, o déficit da balança comercial e a vulnerabilidade aos
preços internacionais, bem como criar empregos e melhorar o meio ambiente. Feito a partir de
um mix diversificado de matérias-primas, a exemplo de oleaginosas diversas, óleos residuais de
frituras e também de gordura animal, ele é designado biocombustível e é produzido em quase
todos os estados do país.
Para que este biocombustível se torne uma realidade concreta e sustentável no longo
prazo, o país necessita diversificar as matérias-primas utilizadas na fabricação de biodiesel.
Atualmente, conforme a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP),
cerca de 70% do biodiesel fabricado no Brasil são provenientes da soja. (ANP, 2012). A soja,
além de não possuir rendimento satisfatório (aproximadamente 18% de óleo), está suscetível aos
preços do mercado internacional de commodities, e é utilizado na indústria de produtos
alimentícios.
Por outro lado, o sebo bovino, que já representa mais de 17% da produção de biodiesel
no país (ANP, 2012), possui um rendimento que, conforme Levy (2011) pode chegar a 93%,
além de não concorrer com o mercado de alimentos. Segundo Martins e Carneiro (2013), a Bahia
possui condições favoráveis para utilização do sebo bovino como insumo estratégico na cadeia de
biodiesel, visto que possui o maior rebanho da região Nordeste e o sexto maior do país.
Diante dessa conjuntura, o objetivo principal deste artigo é verificar a viabilidade
econômico-financeira de uma mini usina que utiliza sebo bovino como matéria-prima para
produção de biodiesel no município de Feira de Santana, estado da Bahia, que possui
aproximadamente 740.000 habitantes (IBGE, 2010) e está estrategicamente localizado na parte
inicial da região denominada semiárido, encontrando-se próximo tanto às principais unidades de
abate (frigoríficos industriais), fornecedores de insumos no Pólo Petroquímico de Camaçari, bem
como à Refinaria Landulfo Alves de Mataripe (RLAM), às distribuidoras de combustíveis e às
outras unidades de produção de biodiesel (Candeias e Simões Filho).
60
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014.
MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna
Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia
ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DO BIODIESEL
Aspectos Econômicos
O diesel, utilizado especialmente no transporte de cargas e passageiros, é o combustível
mais consumido do país, com comercialização, em 2012, de 45.405.004 m3, o que corresponde a
44,33% do consumo nacional de combustível no Brasil. No mesmo período, a produção de
biodiesel foi de 2.717.483 m3, pouco mais de 5% da produção de diesel. (ANP, 2012).
A partir dos dados extraídos da ANP (2012) foi possível traçar curva de tendência
polinomial de quinto grau dos preços do barril de petróleo (US$). O trabalho estatístico
demonstrou que o preço internacional do petróleo tende a se manter constante, porém, em um
nível elevado, acima de US$ 110,00 por barril, conforme coeficinete de ajuste de 0,896,
evidenciando que o investimento na produção de biodiesel pode ser uma saída para combater as
constantes altas no valor do petróleo como mostra a Figura 1 a seguir.
140
y = -0,870x5 + 8742,x4 - 4E+07x3 + 7E+10x2 - 7E+13x
+ 3E+16
R² = 0,896
120
100
80
Y
60
Polinômio (Y)
40
20
0
2004
2006
2008
2010
2012
2014
Período
Figura 1 – Curva de tendência de preços do barril de petróleo (2006-2012).
Fonte: ANP (2012).
Seguindo a mesma tendência de variação do preço do petróleo, que teve aumento de
58,28% de 2006 a 2012, o preço do óleo diesel também apresentou alta no Brasil e na Bahia. O
percentual de crescimento no território baiano foi de 9,73%, enquanto que no Brasil foi de
10,74% no período de 2006 a 2012. (ANP, 2012). A partir dessas informações, também foi
possível traçar curvas de tendência dos preços do óleo diesel praticados. Os valores
demonstraram coeficiente de ajuste entre os preços praticados e o período em estudo de 1 para a
Bahia e de 0,999 para o Brasil, evidenciando que os preços do óleo diesel ao consumidor seguem
tendência de alta. As Figuras 3 e 4 a seguir demonstram a análise estatística.
61
Preços médios óleo diesel
(Bahia)
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014.
MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna
Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia
y = -0,002x5 + 25,03x4 - 10059x3 + 2E+08x2 2E+11x + 8E+13
R² = 1
2,05
2
1,95
1,9
1,85
1,8
1,75
2004
2006
2008
2010
2012
2014
Período
Preços médios óleo diesel
(Brasil)
Figura 2 – Curva de tendência dos preços médios do diesel ao consumidor final na Bahia.
Fonte: ANP (2012).
2,15
y = -0,002x5 + 23,73x4 - 95383x3 + 2E+08x2 2E+11x + 8E+13
R² = 0,999
2,1
2,05
2
Y
1,95
Polinômio (Y)
1,9
1,85
1,8
2004
2006
2008
2010
2012
2014
Período
Figura 3 – Curva de tendência dos preços médios do diesel ao consumidor final no Brasil.
Fonte: ANP (2012).
Em resumo, pode-se afirmar que a forte demanda por biodiesel no país se determina,
em grande parte, devido a três setores: transportes (75%); agropecuário (16%); e transformação
(5%), sendo que este último no uso dos combustíveis para gerar energia elétrica
(BIODIESELBR, 2008).
Conforme análise das curvas de tendência, bem como dos aumentos sucessivos dos
preços do petróleo e por conseqüência do óleo diesel no Brasil e na Bahia, a diversificação de
matérias-primas para produção de biodiesel e o investimento em projetos que possam viabilizar
esses novos insumos deve ser matéria de suma importância na agenda dos setores público e
privado do estado.
Aspectos Sociais
O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), concebido em
dezembro de 2004 pelo Governo Federal, se caracteriza pela participação da agricultura familiar
62
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014.
MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna
Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia
na cadeia de produção do biodiesel. Para estimular a inclusão social o programa reduziu a carga
tributária para as indústrias produtoras de biodiesel, com alíquotas específicas dependendo da
matéria-prima utilizada e da região do país, adquiridas da agricultura familiar.
O sebo bovino, por sua vez, não possui vantagens fiscais em sua comercialização para
fabricação de biodiesel. Sua vantagem competitiva está no baixo custo, bem como na não
concorrência com o mercado de alimentos.
No entanto, com a inclusão, em alguns estados como a Bahia, e aumento da participação
em outras regiões do país que utilizam a gordura bovina como fonte para fabricação de biodiesel,
Filho (2006) acrescenta que a ampla utilização do sebo pode aumentar a produção do
biocombustível em análise, contribuindo para geração de energia elétrica em comunidades
isoladas do país, colocando-se como um desdobramento para o alcance das metas de programas
sociais como, por exemplo, o Luz para Todos, criado pelo Decreto nº 4.873 de 11 de setembro
de 2003.
METODOLOGIA PARA ANÁLISE
FINANCEIRA DO INVESTIMENTO
DE
VIABILIDADE
ECONÔMICA
E
Este tópico objetiva abordar as técnicas de engenharia econômica utilizadas para avaliar
a viabilidade de investimento e auxiliar no processo de tomada de decisão, pois todo projeto
financeiro requer que os investidores estejam seguros dos riscos inerentes ao negócio e tenham
ciência de suas reais chances de retorno do capital investido.
Segundo a literatura consultada (GITMAN, 1997; CASAROTTO FILHO e
KOPITTKE, 2000), há múltiplas ferramentas e diversos recursos disponíveis para auxiliar as
empresas em assuntos relacionados às modalidades de investimentos, principalmente no que diz
respeito ao ativo imobilizado. Geralmente, há ferramentas, processos técnicos e uma série de
ordenações para analisar e avaliar os investimentos, orçamentos de capitais e projetos.
Estes processos estão envoltos em mecanismos voltados a investimentos. Certas
empresas acabam por adotar procedimentos mais simples, que se sustentam, por vezes, somente
nas experiências acumuladas por sua gestão, ao passo que há outras que demandam que sejam
aplicadas ferramentas de maior sofisticação e análise. No presente artigo, foram utilizadas,
essencialmente, as seguintes metodologias de análise econômica: Fluxo de Caixa, Valor Presente
Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR) e análise de PayBack, ou prazo de retorno do
capital investido.
O fluxo de caixa demonstra todas as entradas e saídas de capital do negócio e constitui
uma proposta de investimento. O principal objetivo do fluxo de caixa é fornecer informações
para a tomada de decisão, especialmente relacionadas às necessidades de captação de recursos,
bem como prever períodos de necessidade ou não de capital de giro de terceiros.
O VPL corresponde à soma dos valores do fluxo de um projeto, atualizado às taxas de
desconto adequadas. Constitui ainda o valor presente do fluxo de caixa do projeto, descontado ao
custo de capital da empresa. É um dos métodos mais utilizados para avaliar propostas de
investimento e reflete a diferença entre o valor presente das entradas e saídas de caixa a uma
determinada taxa de desconto. O projeto é viável quando apresenta VPL maior ou igual à zero. É
dado pela fórmula:
63
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014.
MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna
Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia
Onde F é uma série de desembolsos e recebimentos e r é uma taxa mínima de
atratividade, representando o custo de oportunidade do capital que será investido no projeto.
A TIR representa a taxa de desconto que nivela as receitas futuras aos custos de
investimento, ou seja, é o valor que iguala à taxa do VPL a zero. Para ser economicamente viável,
o projeto tem que apresentar valor para TIR maior que a taxa de atratividade. (Clemente e Souza,
2001). Matematicamente é expressa por:
O período de recuperação de capital ou payback trata-se de uma metodologia auxiliar
usada como indicativo dos graus de risco do projeto. Ela visa à informação sobre o período
mínimo necessário para que os recursos alocados no investimento inicial do projeto se recuperem
no formato de entradas líquidas em caixa. Desse modo, quanto mais curto for o tempo do
payback, é mais provável que será mais extensa a liquidez do projeto (GITMAN, 1997).
Nesse processo analítico, não se pode segregar demasiadamente os elementos
englobados na pesquisa de viabilidade do projeto, de modo a evitar que seja perdida a visão
holística.
ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA PARA MINI-USINA DE
BIODIESEL DE SEBO BOVINO EM FEIRA DE SANTANA (BA)
A metodologia que foi utilizada nesse artigo é comumente empregada e aceita pela
literatura especializada. Os dados que alimentaram as planilhas de análise foram obtidos em
consulta direta às empresas Tecnologias Bioenergéticas Ltda. (TECBIO) e ABOISSA Óleos
Vegetais e os relatórios da ANP2. O projeto em questão terá vida útil de 120 meses, e terá
capacidade mensal inicial de produção de 2.700.000 litros de biodiesel por mês.
O primeiro procedimento para a análise é determinar os desembolsos e entradas no
caixa. Para Gitman (1997), os fluxos de caixa podem ser de quatro tipos: as despesas de
investimento, as despesas operacionais, as receitas operacionais e o valor residual de liquidação
do investimento. Dessa forma, com a série dos fluxos de caixa do projeto serão apresentados e
discutidos os resultados demonstrados através dos métodos de engenharia econômica
apresentados anteriormente.
Na Tabela 1 foram apresentadas as despesas de investimento inicial. Elas representam as
variáveis necessárias para operacionalizar a usina. Assim, foram definidos os valores de máquinas
e equipamentos, instalações em geral, laboratórios e despesas gerais de implantação, além de valor
de capital de giro. Na categoria máquinas e equipamentos foram considerados os objetos que
mais se adequavam à estrutura e capacidade de produção do projeto. Equipamentos de processo,
Os dados foram obtidos junto à TECBIO – Tecnologias Bioenergéticas Ltda.; Av. Santos Dumont, 2088
– Fortaleza (CE). CEP: 60.150-160; Fone (85) 4005-9019, http://www.tecbio.com.br/ e ABOISSA Óleos
Vegetais, Largo do Arouche, 396 Santa Cecília; CEP: 01219-010 São Paulo (SP); Fone: (11) 3353-3000.
http://www.aboissa.com.br/equipamentos
1
64
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014.
MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna
Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia
unidades de armazenamento de líquidos, unidades de utilidades industriais, veículos, móveis e
utensílios. Em instalações foram lançados os valores das obras preliminares, edificações, obras
complementares, ar condicionado e utensílios para escritórios. No item laboratórios foram
alocadas as variáveis para construção dos mesmos, bem como todo material de consumo,
utensílios e vidrarias. Nas despesas gerais de implantação foram definidas as despesas
administrativas, fretes e carretos e outras despesas gerais. E, finalmente, despesa com capital de
giro, que foi estimada em função dos valores dos custos fixos e variáveis do projeto para os
primeiros dois meses de funcionamento.
Tabela 1 - Investimentos iniciais do empreendimento
Categoria
Valores (R$)
Máquinas e equipamentos
3.467.182,00
Instalações
690.198,90
Laboratórios
1.739.037,00
Despesas gerais
105.000,00
Capital de giro
497.925,28
Total
6.499.342,28
Fonte: TECBIO; ABOISSA
No que tange ao faturamento do empreendimento, considerou-se os valores
empregados no fluxo de caixa estimado para o projeto, conforme vida útil do mesmo. Salienta-se
que na produção do biodiesel é gerada como subproduto a glicerina, que compõe o faturamento
da usina. A produção estimada de glicerina para o empreendimento é de 313,26 t/ano. Para o
preço do biodiesel foi considerado o valor apurado no último leilão (30o) realizado pela Agência
Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que foi de R$ 2,03/l. Para a
glicerina foi praticado o valor médio de mercado atual de R$ 0,36/kg (Glicerina loira 82%). A
Tabela 2 demonstra a composição média do faturamento anual do projeto.
Tabela 2 - Faturamento bruto médio do projeto.
Produto
Média Fat. Bruto Anual (R$)
Biodiesel
Glicerina
Total
Fonte: TECBIO; ABOISSA e ANP.
5.179.545,00
106.571,05
5.286.116,05
Os valores de depreciação, tanto das instalações, quanto das máquinas e dos
equipamentos, foram determinados pelo método contábil de depreciação constante. Além disso,
foram utilizados para totalizar os custos fixos os valores da mão-de-obra, luz, contador e
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014.
MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna
Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia
manutenção (Tabela 3). A Tabela 4 apresenta os custos médios variáveis do projeto. Destaca-se
que a maior composição de custo no empreendimento de fabricação de biodiesel é a matériaprima. Esta, segundo Campos e Carmélio (2009 apud Abramovay, 2009), representa cerca de 70%
a 80% do custo do produto. Para estimativa de custo do biodiesel de sebo bovino na Bahia foi
utilizado o estudo de Martins e Carneiro (2013)3, que versa especificamente sobre esse assunto.
Tabela 3 - Estimativa de custos fixos médios anuais do projeto.
Categoria
Valores Anuais (R$)
Depreciação de Instalações (4% a.a)
Depreciação máquinas e equipamentos (10% a.a)
Mão-de-obra
Luz (iluminação)
Contador
Manutenção
Total
Fonte: TECBIO; ABOISSA.
27.607,96
34.671,82
929.127,30
12.000,00
8.136,00
601.296,32
1.612.839,40
Tabela 4 - Estimativa de custos variáveis médios anuais do projeto.
Categoria
Valores Anuais (R$)
Energia Elétrica/ água e vapor
Impostos (ICMS, PIS e Cofins)
Matéria-prima (sebo bovino)
Metanol
Custo Logístico (frete)
Total Geral
Fonte: TECBIO; ABOISSA.
99.125,23
638.322,36
3.272.717,71
842.609,1
383.946,89
5.236.721,29
De posse dessas informações, a Tabela 5 apresenta os resultados da análise de
viabilidade de uma mini usina de biodiesel que utiliza como matéria-prima o sebo bovino. O
valor do VPL foi de -3.244.538,21 e a TIR do projeto foi de 3,34% ao ano. Apesar de positiva foi
bem menor que a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) considerada de 10,92% ao ano ao longo
do prazo de análise do projeto de 120 meses. Esse valor é definido pela taxa de referência da
economia (SELIC – Sistema Especial de Liquidação e Custódia) mais prêmio de mercado na
ordem de 15% ao ano.
O estudo demonstrou que apesar das vantagens em termos de custo e rendimento do
sebo bovino, um empreendimento com reduzida escala de produção e que utilize apenas este
insumo como matéria-prima, não é viável do ponto de vista econômico e financeiro, mesmo com
as vantagens logísticas de Feira de Santana. As ferramentas de análise indicaram que seria mais
3Martins
e Carneiro (2013) – Potencialidades e Restrições para inserção do sebo bovino na produção de biodiesel no
estado da Bahia.
66
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014.
MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna
Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia
vantajoso deixar os valores de despesas iniciais aplicados no mercado financeiro. Dada a
inviabilidade do projeto, não há motivos para cálculo do payback do investimento.
Tabela 5 - Resultados da Análise de viabilidade do projeto.
Categoria
Resultado
TIR
3,34% a.a
VPL
3.244.538,21
Payback
-
TMA
10,92%
Fonte: Dados da pesquisa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma mini usina somente pode ser considerada um empreendimento sustentável se
cumprir sua função social de apresentar resultados que incentivem seu investimento e garantam o
retorno do capital. Portanto, após a análise realizada se pode afirmar que o projeto de instalação
de uma mini usina de biodiesel, que utilize apenas sebo bovino como matéria-prima, mesmo em
um município com as vantagens locacionais de Feira de Santana (Bahia), não é viável do ponto de
vista econômico e financeiro.
Para tornar o projeto viável alguns aspectos se tornaram evidentes nesse período: a) A
escala de produção é fator estratégico para ganhos de economicidade e competitividade, uma
mini usina apresenta, portanto, desvantagens em relação a uma grande usina verticalizada; b)
Apostar em uma única fonte de matéria-prima é um grande risco, pois deixa a empresa vulnerável
ao desabastecimento e às oscilações de preço do mercado; c) Utilizar matérias-primas oleaginosas
gera, após o esmagamento para obtenção do óleo, a torta, uma importante fonte de receita para o
empreendimento.
Outro fator crítico do estudo foi a receita advinda da comercialização da glicerina. O
subproduto em questão, gerado a partir da produção do biodiesel possui teor de pureza na ordem
de 80% a 85%, que lhe confere valor de mercado em torno de R$ 0,36/kg. Para auxiliar na
viabilidade do projeto ela teria que passar por processo de tratamento até atingir níveis acima de
95% de pureza, e atingir valor de mercado de R$ 2,00/kg (Valor desse tipo de glicerina antes do
PNPB). Nesse cenário, ainda assim, os valores apresentados pelas ferramentas de engenharia
econômica seriam -679.885,47 para o VPL e 9,43% para TIR, necessitando de outros ajustes para
atingir parâmetros de viabilidade.
Um desses ajustes poderia ser realizado no custo logístico, que onerou o investimento
em aproximadamente 8%. Se o frete, na análise em questão, baseado exclusivamente no
transporte rodoviário, tivesse redução média de 20%, durante todo o período do projeto (120
meses), por meio da utilização de ferrovias, que via de regra custam metade do valor do
transporte rodoviário, o empreendimento se tornaria viável, atingindo VPL de 45.584,57, TIR de
11,10% e payback a partir do 49o mês. Importante ressaltar que essa perspectiva positiva seria
possível apenas com a junção do cenário da glicerina a R$ 2,00/kg, descrito anteriormente. Outra
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014.
MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna
Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia
sugestão para ajuste do valor do frete seria a utilização de biodiesel 100% (B100) na frota cativa.
Isto acarretaria economia na compra de diesel, diminuindo impacto nos custos variáveis e
auxiliando o aumento da receita do empreendimento.
Como agenda de pesquisa sugere-se o desenvolvimento de novos trabalhos específicos
para a área, a exemplo de: a) Estudos georeferenciados que subsidiem a construção de
mecanismos que combatam o abate clandestino, muito comum no estado da Bahia,
especialmente na região de Feira de Santana; b) Pesquisa de mercado relacionada à qualidade e
oferta do sebo bovino no estado, importante para fornecer maiores informações aos eventuais
investidores; c) Estudos de viabilidade de verticalização de produção do biodiesel a partir das
unidades industriais de abate de carne bovina, a exemplo do que já é realizado em outros estados
como São Paulo e Minas Gerais; d) Desenvolvimento de estudos para novos usos da glicerina,
uma vez que, esse subproduto teve sua oferta aumentada no mercado devido o incentivo à
produção de biodiesel; e) Realização de estudos de viabilidade do tratamento da glicerina na
planta produtora de biodiesel para aumento de sua pureza, visando analisar se esse aumento de
custos do projeto compensaria o preço que o mercado paga pelo cooproduto a níveis de pureza
acima de 95%.
REFERÊNCIAS
ABOISSA Óleos Vegetais, Largo do Arouche, 396 Santa Cecília; CEP: 01219-010 São Paulo (SP);
Fone: (11) 3353-3000. http://www.aboissa.com.br/equipamentos.
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AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO, GÁS NATURA E BIOCOMBUSTÍVEIS – ANP.
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BIODIESELBR. Glicerina – subproduto do biodiesel (2013). Disponível em
http://www.biodieselbr.com/biodiesel/glicerina/biodiesel-glicerina.htm. Acesso em 08 out. 2013
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014.
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2007.
TECBIO – Tecnologias Bioenergéticas Ltda.; Av. Santos Dumont, 2088 – Fortaleza (CE). CEP:
60.150-160; Fone (85) 4005-9019, http://www.tecbio.com.br/.
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 58-70, jan./jun. 2014.
MARTINS, Luís Oscar Silva; CARNEIRO, Roberto Antônio Fortuna
Análise econômico-financeira da implantação de uma mini usina de biodiesel de sebo bovino em Feira de Santana – Bahia
Luís Oscar Silva Martins é Mestre em Tecnologias Aplicáveis à Bioenergia pela Faculdade de Tecnologia
e Ciências (FTC); Especialista em Administração; Bacharel em Economia pela Universidade Federal de
Viçosa; Pesquisador com experiência em energias renováveis, especialmente biodiesel, no que diz
respeito às suas perspectivas de utilização e desenvolvimento do ponto de vista econômico, financeiro e
estratégico. Profissional com sólida vivência no ercado financeiro atuando na área de visita e prospecção
de clientes, produtos financeiros e orçamento bancário. Atualmente é analista econômico da
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), onde trabalha com a elaboração e análise de
viabilidade de projetos relacionados à Gestão Pública; Professor do curso de graduação em
Administração e Ciências Contábeis da Faculdade Adventista da Bahia (FADBA) e da Faculdade Maria
Milza (FAMAM) onde leciona as disciplinas Administração da Produção II e Organização, Sistemas e
Métodos, e Administração Financeira e Orçamentária. Atua também como consultor na área de análise
de viabilidade técnica, econômica e financeira para empresas dos setores públicos e privados.
2 Roberto Antonio Fortuna Carneiro Mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia
(1993); Diretor de Planejamento Econômico da Secretaria de Planejamento; Professor do quadro
permanente do Mestrado Profissional em Tecnologias Aplicáveis à Bioenergia da Faculdade de
Tecnologia e Ciências (FTC) e do Programa de Pós-graduação da Faculdade Área 1; Implantou e
coordenou o Programa de Biodiesel da Bahia (Probiodiesel Bahia) e o Programa Baiano de Bioenergia
(BahiaBio); Possui diversos artigos técnicos publicados sobre biodiesel e várias dissertações de mestrado
orientadas sobre o tema; Tem experiência em Planejamento Estratégico, Gestão Ambiental, Bioenergia e
Biocombustíveis; Experiência em gestão de projetos e pessoas; Consultor na área de bioenergia e
biocombustíveis com foco na elaboração de EVTE, Plano de Negócios e Projetos.
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Análise descritiva quantitativa de pão
francês enriquecido com linhaça e
irradiado*
RHEINBOLDT, Marcella Melleiro
RIZATTO, Gabriele Tibério
MOURA, Neila Camargo
CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin
ARTHUR, Valter
DIAS, Carlos Tadeu dos Santos
Resumo
A análise descritiva quantitativa avaliou o perfil sensorial de pães franceses enriquecidos com linhaça, de 8
e 12%, e submetidos à radiação ionizante com 60Co nas doses de 6, 8 e 10kGy, além dos controles, sem
adição de linhaça e irradiação. As amostras foram avaliadas por onze provadores selecionados e treinados
em relação aos atributos sensoriais: aparência característica, cor da casca, aroma característico, consistência
da textura, sabor característico e sabor de peixe. A adição de linhaça e a irradiação não influenciaram
consideravelmente os atributos “cor da casca” e “textura consistente”, porém, amostras com maior
quantidade de linhaça e dose de radiação apresentaram maiores valores quanto ao “sabor de peixe”.
Palavras chave: radiação ionizante; linhaça; pão francês; análise descritiva quantitativa.
Abstract
The descriptive quantitative analysis evaluates the sensory profile of french bread enriched with flaxseed,
addition of 8 and 12%, and irradiated by ionizing radiation with 60Co at doses of 6kGy, 8kGy, and
10kGy. The samples were evaluated by a team of eleven selected and trained tasters. Six sensory attributes
were analyzed: characteristic appearance, surface color, aroma, consistency, texture, characteristic flavor
and flavor of fish. After the study it was concluded that the addition of flaxseed and the irradiation had no
significant influence on the attributes "surface color" and "consistent texture," however, samples that had
a higher amount of flaxseed and radiation showed higher values for the attribute "flavor of fish".
Keywords: ionizing radiation, flaxseed, French bread, quantitative descriptive analysis.
Resúmen
El análisis descriptivo cuantitativo evalúa el perfil sensorial de francés Panes enriquecidos con linaza, 8 y
12% y sometidos a radiación ionizante con 60Co en dosis de 6, 8 y 10kGy, además de los controles, sin
adición de linaza y la irradiación. Las muestras fueron evaluadas para once catadores seleccionados y
capacitados en relación con atributos sensoriales: aspecto característico, aroma característico, color y
consistencia de la textura, sabor característico y sabor del pescado. La adición de linaza y la irradiación no
influyó considerablemente los atributos “ cáscara color”, “textura consistente”, sin embargo, las muestras
con mayor cantidad de dosis de radiación y linaza mostrado valores más altos con respecto a “pescado
sabor”.
Palablas clave: las radiaciones ionizantes; Linaza; Pan francés; analyses descriptivo cuantitativo.
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014.
RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo;
CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos.
Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado*
INTRODUÇÃO
Para a elaboração de pães os ingredientes essenciais são farinha, água, fermento
(Sacharomyces cerevisae) e sal. Outros ingredientes podem ser empregados como
enriquecedores na elaboração de pães como gordura, açúcar, ovos e leite. Uma vez
reunidos cumprem funções tecnológicas específicas tais como fermentar e favorecer o
crescimento da massa, reter água, realçar o sabor, conservar, formar e fortalecer a rede de
glúten, aumentar a maciez, desenvolver coloração agradável, distribuir a temperatura por
toda a massa, reter gás, conferir umidade, ligar, aromatizar, aerar, emulsificar, aumentar o
valor nutritivo e ampliar a durabilidade (MACHADO, 1996, p. 186).
Com a finalidade de melhorar a qualidade nutricional dos alimentos, têm surgido
no mercado pães confeccionados com farinha integral ou que incorporam em sua
composição ingredientes opcionais como grãos e sementes. A semente de linhaça tem se
destacado como um alimento funcional, uma vez que apresenta alguns nutrientes
específicos que podem trazer diversos benefícios à saúde (GIBSON; MAKRIDES, 2000,
p. 251-255).
Os produtos panificados ocupam a terceira colocação na lista de compras do
brasileiro representando, em média, 12% do orçamento familiar para alimentação. O
mercado brasileiro importa do Canadá e argentina cerca de 50% do volume de trigo para
consumo doméstico. Assim sendo, torna-se essencial o conhecimento das características
sensoriais de um produto tão consumido quanto o pão, já que o melhoramento da
qualidade do produto representa uma oportunidade de agregar valor de mercado aos
produtos agrícolas (BATTOCHIO et al., 2006, p. 429).
A técnica de irradiação é aprovada pela FAO (Food and Agriculture Organization),
órgão das Nações Unidas para a agricultura e alimentação, pelo Codex Alimentarius e pelo
Food and Drugs Administration (FDA) e usada em mais de 30 países em todo o mundo. O
processo de irradiação não induz radioatividade ao alimento (IPEN, 2003, p. 1). A
Organização Mundial de Saúde incentiva a utilização do processo e o descreve como uma
técnica para a preservação e melhoria da segurança do alimento (WHO, 1999, p.2).
Portanto, pode ser considerado que a formulação de um pão que seja enriquecido
com linhaça e irradiado é bastante interessante, pois se trata de um alimento que tem a
qualidade nutricional melhorada e durabilidade, porém, o mesmo tem que ter características
sensoriais agradáveis para os consumidores.
O objetivo desse estudo foi avaliar as qualidades sensoriais do pão francês
adicionado de linhaça em diferentes concentrações e doses de radiação gama.
REVISÃO DE LITERATURA
O mercado consumidor atual pede praticidade e qualidade de vida, influenciando
em uma maior preocupação com a alimentação. Uma das grandes tendências do ramo
alimentício é agregar valor, ou seja, produzir alimentos que não só sejam sensorialmente
agradáveis, mas que também possuam qualidade nutricional e durabilidade (CHITARRA,
1998, p. 87).
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014.
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CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos.
Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado*
Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar realizada entre os anos de 2008/2009,
consumo per capita anual de pão francês anual é de 13,87 kg, sendo o maior consumo nas
regiões norte e nordeste, com 15,22 e 16,00 kg, respectivamente, seguida das regiões
sudeste com 14,05kg, sul com 11,17kg e centro-oeste com 9,84kg. Comparado ao consumo
de outros tipos de pães, é evidente que o pão francês é o mais consumido no Brasil, visto
que, segundo a POF, o consumo anual per capita de pão de forma industrializado
corresponde a 0,85kg e o de pão integral a 0,19kg (IBGE-POF, 2008-2009, p. 10-12).
A linhaça (Linum usitatissimum L.) é considerada alimento com alegação funcional
devido à presença do ácido graxo ômega-3, fibras, lignanas e proteínas, (TARPILA et al.,
2002, p. 157-165; HUSSAIN et al., 2006, p. 87-92; OOMAH, DER e GODFREY, 2006, p.
733-741) agregando assim, valor nutricional a um alimento quando adicionada
(NOVELLO, 2011, p. 7-10). Segundo Moura (2008, p. 40-75), o consumo da linhaça é
baixo devido à falta de hábito e de informações sobre os benefícios dessa semente para os
consumidores.
Dentre os benefícios à saúde podem ser citadas: a diminuição do risco de doença
cardiovascular, hiperlipidemias e câncer. Além disso, apresenta atividade antiviral e
bactericida, atividade anti-inflamatória, efeito laxante e de prevenção dos sintomas da
menopausa e osteoporose (GALVAO et al., 2008, p. 2-5).
A irradiação de alimentos confere uma série de benefícios, dentre eles o aumento da
segurança do alimento, vida de prateleira, conservação, além de proporcionar a eliminação
ou redução de micro-organismos patogênicos e deteriorantes, tais como bactérias e fungos,
sem prejudicar o alimento, o qual é tratado embalado e com a dose para atingir o objetivo
pretendido (WALDER et al., 2002, p. 13-15).
Embora o uso da irradiação traga benefícios, há duas grandes barreiras que
impedem que o uso da técnica seja usado com maior frequência: o custo que é
relativamente elevado e a aceitação do consumidor que é baixa, pela falta de informações,
há muito preconceito com os alimentos irradiados devido à impressão de que esse tipo de
alimento pode causar danos à saúde (ORNELLAS et al., 2006, p. 10-17).
A Análise Descritiva Quantitativa (ADQ) tem como objetivo descrever e
quantificar os atributos que caracterizam um determinado produto através de provadores
selecionados e treinados segundo Stone (1992, p. 140). O método é mais sofisticado
comparado a um teste de aceitabilidade, o qual indica a preferência do provador mediante a
amostra apresentada através de uma escala hedônica. Já na análise descritiva quantitativa, o
provador descreve a amostra a ser estudada e ainda avalia qual a intensidade de cada
atributo descrito, possibilitando quantificar numericamente os dados obtidos através das
avaliações dos provadores, e assim, formar o perfil sensorial da amostra (ASSOCIÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1998, p. 74).
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014.
RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo;
CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos.
Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado*
MATERIAS E MÉTODOS
Preparo dos pães franceses
Os pães franceses foram confeccionados na panificadora Bisnaga, que se localiza na
cidade de Piracicaba-SP. Foram utilizadas sementes de linhaça marrom, doadas pela
empresa “Via Delícia”, localizada na cidade de São Paulo. Os pães foram preparados a
partir de uma pré-mistura para massa salgada composta por: farinha de trigo enriquecida
com ferro e ácido fólico, sal, farinha de soja, emulsificante estearoil-2-lactil lactato de sódio,
estabilizante polisorbato 80, melhorador de farinha, ácido ascórbico, azodicarbonamida,
enzimas hemicelulose, glucose oxidase, fosfolipase e alfa-amilase. Além da pré-mistura
foram utilizados fermento biológico fresco, açúcar cristal, melhorador e água. Adicionar
quando a linhaça foi colocada. Junto com os ingredientes secos e posteriormente
homogeneizada.
Todos os ingredientes foram pesados, homogeneizados na amassadeira até atingir o
ponto de véu e em seguida a massa foi levada à divisória volumétrica para padronizar a
gramagem e o tamanho. Em seguida, os pães foram levados à fermentação e logo depois
assados em forno, aquecido em 180°C, durante 15 minutos. Após serem resfriados os
mesmos foram embalados em embalagens de polipropileno e acondicionados em
temperatura ambiente até o momento da análise.
Armazenamento e irradiação das amostras
As amostras foram irradiadas no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
(IPEN), localizado na cidade de São Paulo, e submetidos a doses de radiação gama 6kGy,
8kGy, e 10kGy, em irradiador tipo Multipropósito, com fonte de Cobalto-60, com taxa de
dose de 7kGy/h. Após serem irradiadas, as amostras ficaram armazenadas em prateleiras,
em condições ambiente. Inicialmente havia 12 tratamentos diferentes, os quais variavam
entre duas concentrações de linhaça (8 e 12%) e quatro doses de irradiação (0,0; 6,0; 8,0 e
10,0 kGy). Foi realizado o teste de aceitabilidade, com provadores não treinados de ambos
os sexos, e idades entre 18 e 65 anos, e posteriormente, com base nos resultados do teste,
foram selecionados 5 tratamentos que tiveram melhores aceitações: Controle; 8% linhaça e
0 kGy; 8% linhaça e 8 kGy; 8% linhaça e 10 kGy e 12% linhaça e 10 kGy.
Análise Descritiva quantitativa (ADQ)
Foram recrutados 15 participantes, de ambos os sexos e de faixa etária entre 18 e 40
anos, que passaram por processos de seleção. A seleção constituiu na identificação dos
gostos básicos: doce (2% de sacarose); salgado (0,2% de cloreto de sódio), ácido (0,07% de
ácido cítrico) e amargo (0,07% de cafeína).
Em seguida foi realizado o teste triangular, no qual o candidato foi avaliado em
relação à sensibilidade e a capacidade de distinguir entre três amostras semelhantes àquela
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RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo;
CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos.
Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado*
seja diferente no gosto doce (2% e 4% de sacarose) e no salgado (2% e 4% de sacarose),
sendo duas dessas amostras iguais e uma diferente.
Os 11 provadores selecionados descreveram suas impressões em relação à
aparência, aroma, sabor e textura. Após levantamento dos atributos, os provadores
passaram por cinco sessões de treinamento.
Para o levantamento de atributos, foram distribuídas amostras adquiridas em
supermercados, semelhantes ao pão francês irradiado e enriquecido com linhaça, para que
os participantes descrevessem sobre o mesmo, utilizando assim pão francês comum e pão
francês integral.
Para treinar os provadores foi utilizada uma ficha com os atributos levantados e um
painel ilustrativo para esclarecer o conceito de cada atributo. A Tabela 1 aponta os
atributos levantados referentes à aparência, aroma, textura e sabor.
Tabela 1: Classificação dos atributos levantados
Aparência
Característica: Muito e Pouco
Cor da Casca: Clara e Escura
Aroma
Característico: Muito e Pouco
Textura
Consistência: Muito e Pouco
Sabor
Característico: Muito e Pouco
Sabor Peixe: Muito e Pouco
Os provadores foram treinados em cinco sessões, sendo que a cada treinamento,
recebiam uma ficha com os atributos levantados e deveriam quantificaram os atributos
levantados usando para isso uma escala não estruturada10 cm, que varia de nada (nota 0) e
muito (nota 10). Para a execução da análise descritiva quantitativa final os provadores
receberam as amostras e quantificaram os atributos levantados usando para isso a mesma
escala não estruturada10 cm. Foram oferecidas 10g de cada uma das cinco amostras, em
pratos brancos e com apresentação monádica, sendo uma amostra o controle e outras 4 as
amostras receberam adição de linhaça nas porcentagens de 8 e 12% e irradiação de 8kGy e
10kGy. Os provadores encontravam-se em cabines individuais de análise sensorial com
iluminação, temperatura ambiente, ausência de sons ou ruídos e livre de odores estranhos.
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014.
RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo;
CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos.
Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado*
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 2, há a relação dos atributos levantados pelos provadores, referentes à
amostra controle, a qual consistia em um pão francês tradicional.
Tabela 2: Levantamento de atributos da amostra controle.
Amostra Controle
Aparência: Agradável, coloração uniforme, “parece saboroso”, muito boa, cor escura nas
laterais, “parece crocante”, miolo de cor normal, macio e aparência de pão francês.
Odor: Bom, característico, agradável, normal, suave e amanteigado.
Textura: “Borrachudo”, normal, macio, leve, não esfarela com facilidade, consistente e
lisa.
Sabor: Bom, salgado, meio amanteigado, agradável e característico de pão francês
A Tabela 3 refere-se aos atributos levantados pelos provadores com relação à
amostra similar de pão francês integral.
Tabela 3: Levantamento de atributos de amostras similar a um pão francês integral.
Amostra similar a pão francês integral
Aparência: Cor agradável, muito boa, “parece não integral”, escuro nas laterais e mais
claro no centro, “parece saudável”, “parece ser pouco duro” e atrativo.
Odor: Bom, normal de pão, característico, leve, agradável, odor de trigo e suave.
Textura: Ressecada, bem macia, muito boa, esfarela com facilidade e consistente.
Sabor: Agradável, sabor suave de peixe, levemente amargo, forte, sabor de linhaça,
característico, meio adocicado, sabor de trigo e suave.
Na Tabela 4 podem ser observadas as avaliações do pão francês realizada pela
equipe de provadores treinados na ADQ.
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014.
RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo;
CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos.
Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado*
Tabela 4: Médias da equipe para os temos descritores da aparência, aroma, textura
e sabor para os 5 tipos de pães avaliados.
8% linhaça 8% linhaça
e 0 kGy
e 8 kGy
Aparência
7,77±1,9ab
7,96±1,3ab
Atributos
Controle
Caracterítisca
8,82±0,91a2
Cor da Casca
3,50±0,8ª
4,58±1,1ª
Característico
Consistência
8% linhaça e 12% linhaça
10 kGy
e 0k Gy
8,07±1,4ab
7,44±1,9b
3,07±0,70ª
3,43±0,83ª
4,27±1,03ª
7,61±1,9ª
Aroma
6,41±1,6ª
7,32±1,8ª
7,15±1,7ª
7,43±1,7ª
6,00±1,55ª
Textura
5,49±1,37ª
6,01±1,5ª
5,53±1,3ª
5,95±1,4a
Sabor
6,52±1,6ª
7,64±1,9ª
7,03±1,7ª
7,30±1,8ª
0,76±0,1ab
1,27±0,24ª
1,45±0,3ª
a
Característico
8,08±1,71
Sabor de
peixe
0,34±0,008b
0,97±0,2ab
1Média
± desvio padrão, 2Letras diferentes na horizontal indicam diferença significativa entre os
tratamentos no nível de 5%.
A partir da análise dos atributos e de uma reunião realizada com a equipe sensorial,
foi criada a ficha de levantamento de atributos, sendo que, para aparência surgiram os
atributos: característico e cor da casca; para aroma: característico, para textura: consistente e
para sabor: característico e sabor de peixe.
De acordo com a Tabela 4, a amostra controle, não apresentou diferença estatística
em todos os atributos, com exceção ao atributo “sabor de peixe” e “aparência
característica”. Quanto à “aparência característica”, observou-se que a amostra controle
diferiu estatisticamente da amostra que recebeu 12% de linhaça e dose de 10 kGy. Essa
diferença provavelmente se deva a adição de linhaça e a aplicação da irradiação. Já as
amostras com 8% de linhaça e 0 kGy, 8% de linhaça e 8 kGy e a que recebeu 8% de linhaça
e dose de 10 kGy não diferiram entre si e nem da amostra controle e nem da amostra que
recebeu 12% de linhaça e 10 kGy.
Em relação à “cor da casca” “aroma característico”, “textura consistente” e “sabor
característico”, não houve diferença significativa, indicando assim que a adição de linhaça e
a irradiação não influenciaram de modo determinante esses atributos levantados pelos
provadores.
Já referente ao atributo “sabor de peixe”, a amostra controle diferiu estatisticamente
das amostras com 8% de linhaça e 10 kGy e 12% de linhaça e 10 kGy. As amostras com
8% de linhaça e 10 kGy e 12% de linhaça e 10 kGy apresentaram os maiores valores para
esse atributo, pois em suas respectivas formulações receberam as maiores concentrações de
linhaça (8 e 12%) bem como a maior dose de radiação (10 kGy), isto pode ter intensificado
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014.
RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo;
CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos.
Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado*
o “sabor de peixe” das amostras. Os provadores evidenciaram pelas notas que as amostras
com 8% de linhaça e 0 kGy e 8% de linhaça e 8 kGy apresentaram “sabor de peixe”
mesmo que suavemente, não diferindo do controle.
De acordo com Ventura et al (2010, p. 30-35) é frequente, utilizando radiação,
encontrar gorduras com sabor a ranço, provocadas pelo processo natural de autoxidação
que é iniciado pela radiação. Os ácidos insaturados são mais susceptíveis à oxidação do que
os ácidos saturados, porque são mais instáveis. Este processo pode ser mais demorado pela
eliminação do oxigênio pelo vácuo ou pela atmosférica modificada. Nos lipídeos,
particularmente os ácidos graxos insaturados, a decomposição radiolítica é por via de uma
quebra preferencialmente na posição do carbono funcional da dupla ligação. Esta
decomposição induz a formação de alguns compostos voláteis responsáveis por odores
indesejáveis.
Ainda é possível observar que a amostra com 8% de linhaça e 0 kGy, que recebeu
apenas adição de linhaça em sua formulação, o atributo sabor de peixe apresentou valores
mais elevados em comparação à amostra controle, sem apresentar diferença estatística. Os
valores numéricos aumentaram de acordo com a porcentagem de linhaça adicionada e a
dose aplicada.
Na avaliação sensorial realizada com provadores treinados, permite identificar o
aparecimento progressivo dos produtos de degradação dos lipídios, causadores de off flavors
ou de off odors. Extremamente sensível, permite detectar quantidades da ordem dos μg.kg-1,
enquanto que outros métodos possuem em geral um limiar mil vezes superior. O ranço
torna-se perceptível, sensorialmente, para um conteúdo lipídico peroxidado da ordem dos
0,5%. Se por um lado os diferentes constituintes de um produto influenciam a percepção (a
natureza dos off flavors pode sofrer alterações pela interação de outros constituintes da
matriz), por outro lado a sensibilidade difere de indivíduo para indivíduo (SILVA;
BORGES; FERREIRA, 1999, p. 94-103). No método de ADQ são utilizados os
provadores treinados o que facilita a identificação desses compostos.
CONCLUSÃO
Quanto maior a porcentagem de adição de linhaça e a dose de radiação o sabor de
peixe aumentou significativamente.
A adição da linhaça e a irradiação das amostras com dose de 10 kGy provocou
surgimento de off flavors que foi detectado pelos provadores treinados pelo método da
ADQ, porém não influenciaram nos atributos “cor da casca” e “textura consistente”.
AGRADECIMENTOS
A Panificadora Bisnaga, ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) e
a empresa Via Delícia.
REFERÊNCIAS
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 71-81, jan./jun. 2014.
RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo;
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RHEINBOLDT, Marcela Melleiro; RIZATTO, Gabriele Tibério; MOURA, Neila Camargo;
CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin; ARTHUR, Valter; DIAS, Carlos Tadeu dos Santos.
Análise descritiva quantitativa de pão francês enriquecido com linhaça irradiado*
1 RHEINBOLDT, Marcella Melleiro - Graduanda em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São
Paulo - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) (conclusão em 2016). Realização de
estágios nas áreas de Análise Descritiva Quantitativa de Pães enriquecidos com linhaça e irradiados e de
Iogurtes adicionados de farinha de maracujá; Produção de Biomassa a partir de leveduras; Composição
centesimal de tambaquis cultivados em diferentes condições de estocagem e renovação de água; Bolsa de
Iniciação Científica concluída atuando na Recuperação de resíduos químicos provenientes de análises físicoquímicas em pescado.
2) RIZZATO, Gabriele Tibério. Cursando graduação Bacharelado em Ciências dos Alimentos pela Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”- Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) (conclusão em
2015), Técnico em Logística pela ETEC. Dep. Ary de Pedroso (2011). Realização de estágios nas áreas de
Análise Descritiva Quantitativa de Pães enriquecidos com linhaça e irradiados; análise fitopatológica de grãos
(arroz, feijão e milho); Bolsa de Iniciação Cientifica atuando com a Estimativa de Ingestão de gordura trans,
ômega 3 e 6 pela população brasileira através de dados do IBEGE e POF e atualmente realizando análises
físico-química, de qualidade e sensorial de pescado.
3) MOURA, Neila Camargo. Possui graduação em Nutrição pela Universidade Metodista de Piracicaba
(2005), mestrado na área de Ciência e Tecnologia de Alimentos pela ESALQ/USP (2009) e doutorado na
área de Energia Nuclear pelo CENA/USP (2012). Tem experiência na área de Nutrição, com ênfase em
Ciência e Tecnologia dos Alimentos, atuando principalmente nos seguintes temas: linhaça, antioxidantes,
desenvolvimento de produtos, propriedades sensoriais, irradiação, pães. Bolsa Fapesp no Mestrado e no
Doutorado. Docente da Fatec Piracicaba no curso de Agroindústria.
4 CANNIATTI-BRAZACA, Solange Guidolin - Possui graduação em Nutrição FSP/Universidade de São
Paulo (1985), mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos ESALQ/Universidade de São Paulo (1989) e
doutorado em Ciência dos Alimentos FCF/Universidade de São Paulo (1994). Livre docência em 2007.
Atualmente é professor associado 2 do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição/ESALQ/
Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Nutrição Humana e alimentos, com ênfase em
Alimentos, alterações e aproveitamento de seus componentes, atuando principalmente nos seguintes temas:
interações nutricionais, irradiação, ferro, antinutricionais e proteínas."
5) ARTHUR, ValterPossui graduação em Biologia pela Universidade Metodista de Piracicaba (1977),
mestrado em Energia Nuclear na Agricultura (Esalq) Universidade de São Paulo (1982) e doutorado em
Agronomia (Entomologia) (Esalq) Universidade de São Paulo (1985). Atualmente é professor Associado MS
5-3 no Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de
Agronomia, com ênfase em Radioentomologia (tratamento quarentenário de pragas de importância agrícola)
e Irradiação de alimentos (conservação e desinfecção de produtos agropecuários). É chefe da Divisão de
Produtividade Agroindustrial e Alimentos – DVPROD/CENA/USP.
6) DIAS, Carlos Tadeu dos Santos.Engenheiro Agrônomo graduado pela Universidade Federal do Ceará
(1983), mestrado em Agronomia (Estatística e Experimentação Agronômica) pela Universidade de São Paulo
(1988) e doutorado em Agronomia (Estatística e Experimentação Agronômica) pela Universidade de São
Paulo (1996) com pós-doutorado pela Exeter University-Inglaterra (2001). Fez livre-docência na
Universidade de São Paulo (2005), recebendo o título de Professor Associado. Atualmente é professor
Titular da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" Departamento de Ciências Exatas (2009). Tem
experiência na área de Estatística Experimental, com ênfase em Análise Multivariada, atuando
principalmente nos seguintes temas: Modelos AMMI, Correção dos Autovalores, Simulação Multivariada,
Imputação Múltipla e Biplot. É líder do grupo de pesquisas "Modelos de efeitos principais aditivos e
interação multiplicativa - AMMl" junto ao CNPq. É membro do corpo editorial e revisor de estatística da
Revista Ciência Agronômica da UFC desde 2009.
81
Permanência dos alunos formados pela
Fatec Piracicaba trabalhando na área de
formação
GONÇALES Filho, Manoel
PRUDENTE, Juliana Camargo
VIEIRA, Suellen Garcia
SILVA, Vanessa de Cillos
GERMEK; Hermas Amaral
Resumo
Este artigo retrata o levantamento de dados e a análise das informações do conteúdo da pesquisa
realizada em Agosto/13, referente permanência trabalhando na área de formação dos alunos
formados pela Fatec – Faculdade de Tecnologia Deputado Roque Trevisan. Objetivamos o
planejamento e as ações que visam à minimização da evasão escolar. Inicialmente foram
pesquisados os alunos formados nos cursos de Biocombustíveis e Gestão Empresarial, e o curso de
Agroindústria será avaliado futuramente porque ainda não formou alunos. Esta pesquisa pretende
dar início a uma linha permanente de análises e acompanhamento da vida profissional dos exalunos em todos os cursos de graduação da Fatec Piracicaba. Basicamente se constitui em um
estudo sobre a vida atual profissional dos ex-estudantes formados nos últimos dois anos partindo
de uma amostra inicial de 105 entrevistados nas duas áreas de formação selecionadas. O objetivo
imediato deste trabalho é desenvolver indicadores e permitir análises sobre a empregabilidade,
níveis salariais e identificar o período de início de trabalho na área de formação, ou ainda, conhecer
se nunca trabalharam na área de formação tecnológica. A contribuição deste artigo será tangível
para o estado e ao público em geral, pois tal informação tem importância em relação às
possibilidades e iniciativas que deverão surgir, seja de continuidade no acompanhamento, de
orientação, de revisão metodológica dos programas ou de proximidade e valorização do capital
humano.
Palavras-Chave: Mercado de trabalho, Área de formação, Área de atuação profissional, Alunos
Fatec Piracicaba.
Abstract
This article depicts the data collection and analysis of information content from research in
Agosto/13 referring stay working in the area of training of graduates by Fatec - Faculty of
Technology Deputy Roque Trevisan. We aim planning and actions aimed at minimizing truancy.
Initially the students surveyed were trained in courses Biofuels and Management and Agribusiness
course will be evaluated in future because students not yet graduated. This research intends to
initiate a permanent line analysis and monitoring of the professional lives of former students in all
undergraduate courses Fatec Piracicaba. Basically it is a study about the current professional life of
former students graduated in the last two years from an initial sample of 105 respondents in the
82
two selected areas of training. The immediate objective of this work is to develop indicators and
allow analysis of employability, wage levels and identify the period of early work in the area of
training, or even know if they have never worked in the field of technological education. The
contribution of this paper is tangible to the state and the public in general, as such information is
irrelevant to the possibilities and initiatives that should arise is continuity in monitoring, guidance,
methodological review of programs or closeness and appreciation of human capital.
Keywords: Labor market, training area, Professional practice, Graduates by Fatec Piracicaba.
Resumen
En este artículo se describe la recopilación de datos y análisis de contenido de información de la
investigación en Agosto/13 refiriéndose estancia de trabajo en el ámbito de la formación de los
titulados por Fatec - Facultad de Tecnología D. Roque Trevisan. Nuestro objetivo es la
planificación y las acciones destinadas a reducir al mínimo el absentismo escolar. Inicialmente los
estudiantes encuestados fueron capacitados en cursos de los biocombustibles y de gestión y por
supuesto Agronegocios se evaluará en el futuro, porque los estudiantes aún no graduados. Esta
investigación tiene la intención de iniciar un análisis de la línea permanente y el seguimiento de la
vida profesional de los antiguos alumnos de todos los cursos de pregrado FATEC Piracicaba.
Básicamente se trata de un estudio sobre la vida profesional actual de los ex estudiantes se
graduaron en los últimos dos años a partir de una muestra inicial de 105 encuestados en las dos
áreas seleccionadas de la formación. El objetivo inmediato de este trabajo es el desarrollo de
indicadores y permitir el análisis de la empleabilidad, los niveles salariales e identificar el período de
los primeros trabajos en el ámbito de la formación, o incluso saber si nunca han trabajado en el
campo de la educación tecnológica. La contribución de este trabajo es tangible para el Estado y el
público en general, ya que dicha información no es pertinente a las posibilidades e iniciativas que
deberían derivarse una continuidad en la supervisión, orientación, revisión metodológica de los
programas o la cercanía y el aprecio de capital humano.
Palabras-clave: Mercado de trabajo, área de entrenamiento, la práctica profesional, los graduados
por Fatec Piracicaba.
83
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014.
GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA,
Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral.
Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação
INTRODUÇÃO
Mediante a pesquisa realizada com os egressos da Fatec - Piracicaba, avaliaremos se
os cursos se enquadram com as exigências do mercado de trabalho uma vez conhecendo
sua trajetória profissional e os indicadores de empregabilidade pós-formatura.
A FATEC – Piracicaba (Centro Paula Souza) é uma autarquia do Governo do
Estado de São Paulo, sem fins lucrativos, a Unidade é uma Instituição de Ensino superior
que mantém contato permanente com seus ex-alunos através de publicações regulares e
dispõe, inclusive, de um cadastro computadorizado de cerca de 1916 egressos, com dados
completos e atualizados. Atualmente a Instituição conta com três cursos disponíveis que
são oferecidos ao público. São eles: Gestão Empresarial com 460 alunos, Biocombustíveis
com 316 alunos e Agroindústria com 81 alunos, que totalizam 857 alunos matriculados,
possui ainda 54 docentes e 12 funcionários.
Segundo Porto e Régnier (2003), com o desenvolvimento da tecnologia, do
aumento da competitividade entre as empresas, da procura por melhor qualidade de vida,
ou por um emprego e/ou a permanência no mesmo, fez com que a empregabilidade
ganhasse ênfase.
Para melhor entender o contexto deste trabalho realizou-se um breve histórico
sobre a educação brasileira a partir da Revolução Industrial. Iniciou-se na segunda metade
do século XVIII e, conforme Chiavenato (2004), o rápido e intenso fenômeno da
„maquinização das oficinas‟ provocou fusões de pequenas oficinas que passaram a integrar
outras maiores e que, aos poucos, foram crescendo e se transformando em fábricas, ou
seja, o operário foi substituído pelas máquinas, automatizando e acelerando cada vez mais a
produção.
Assim, a mecanização do trabalho levou à divisão do trabalho e à simplificação das
operações, substituindo os ofícios tradicionais por tarefas automatizadas e repetitivas
podendo ser executadas por operários sem qualificação (CHIAVENATO, 2004).
Já para Carvalho (2011), destacava-se a noção de indivíduo, ou seja, o homem
voltou a ser o centro das atenções e passou a ser visto como uma entidade que possuía
qualidade que poderiam e deveriam ser desenvolvidas.
Pela primeira Constituição do Brasil, em 25 de março de 1824, a instrução primária
passou a ser gratuita e fez previsões para que fossem criados no país colégios e
universidades, centralizou a administração do ensino sob a responsabilidade do governo
central e instituiu o ensino da religião católica como parte obrigatória dos currículos e
programas, posteriormente, foram criados os primeiros cursos superiores: Academia Real
da Marinha (1808), os cursos de Cirurgia, Anatomia e de Medicina em 1809 (GERALDO
FILHO, 2004).
Segundo Romanelli (2010), o resultado foi que o ensino, principalmente o
secundário, acabou ficando nas mãos da iniciativa privada e o ensino primário foi relegado
ao abandono, com pouquíssimas escolas, assim a Constituição da República de 1891, que
instituiu o sistema federativo, consagrou também a descentralização do ensino, ou melhor,
a dualidade de sistemas brasileiros. O problema do dualismo educacional é a posição das
84
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014.
GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA,
Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral.
Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação
camadas sociais em face da oferta de educação. As camadas médias e superiores
procuravam o ensino secundário e superior. Por outro lado, as camadas populares
passaram a procurar mais as escolas primárias e as escolas profissionais.
Com a Proclamação da República, em 1889, não houve grandes mudanças, o
ensino superior continuou formando a elite e as principais lideranças do país (GERALDO
FILHO, 2004).
Ainda conforme Romanelli (2010), em outubro de 1930, o governo do presidente
Washington Luiz era derrubado por um movimento armado. Na verdade o que se
convencionou chamar de Revolução de 1930 foi o ponto alto de uma série de revoluções
cuja meta maior tem sido a implantação definitiva do capitalismo no Brasil, neste mesmo
ano, com o apoio das forças armadas, Getúlio Vargas iniciou o Governo Provisório. A
principal ideia do manifesto era pela volta à normalidade constitucional, mas somente em
16 de julho de 1934, que foi promulgada a segunda Constituição, sendo: a família e o
Estado eram responsáveis pela educação, à educação é um direito de todos, e que a União
elaborasse o Plano Nacional de Educação. Cabia aos estados promoverem a educação em
todos os graus, e o período que vai de 1937 a 1946, foi a decretação das Leis Orgânicas do
Ensino e da criação do Senai e Senac (GERALDO FILHO, 2004).
Mais tarde, em 1942, Gustavo Capanema - que era Ministro da Educação -,
melhorou diversos níveis do ensino. O ensino superior recebe os maiores privilégios,
inclusive tendo mais participação nos conselhos e colegiados, foi organizado o ensino
técnico profissional, e os cursos técnicos (GERALDO FILHO, 2004).
Nessa mesma linha, afirma Ribeiro (2001), ocorreu à criação da Campanha
Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e em meados das
décadas de 1960 a 1971, houve medidas relacionadas à reestruturação do ensino,
salientando a Reforma Universitária. Para isso, foi criado o Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Salienta Geraldo Filho (2004), que a partir da Reforma Universitária houve, então,
o aumento de faculdades particulares, e os alunos das classes médias e baixas tinham que
pagar para fazer um curso superior e os alunos formados em escolas particulares garantiam
suas vagas na universidade pública.
Na sequência, o Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza foi criado
pelo governo do estado de São Paulo, com a ideia de desenvolver um Centro Estadual
voltado para Educação Tecnológica, por meio de decreto-lei em 6 de outubro de 1969
assinado pelo governador Abreu Sodré foi criado a entidade autárquica destinada a
articular, realizar e desenvolver a educação tecnológica nos graus de ensino Médio e
Superior (CENTRO PAULA SOUZA, 2013).
Em 1996 foi aprovada a Lei 9.394, como Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, englobando todos os níveis. (...) assegurou a
possibilidade de organizar diversos sistemas de ensino, enfatizando a
eliminação do analfabetismo e na inserção à cidadania. Deu autonomia às
universidades e a distribuição de recursos financeiros, que não serão
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014.
GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA,
Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral.
Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação
somente para as escolas públicas, (GERALDO FILHO, 2004, p. 148149).
E uma nova democracia segundo Bittar (2012), no governo de Luís Inácio Lula da
Silva foi investida mais na educação superior pública, especialmente, entendido como
estratégia de inclusão de camadas com menor poder aquisitivo, a esse nível de ensino.
Dessa forma, foram criadas 14 universidades públicas federais, em diversas regiões
brasileiras, e em 2007, foi criado o Programa de Apoio os Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (Reuni). Para possibilitar e ampliar o ingresso e a
permanência de jovens de baixa renda, à educação superior. Nas instituições privadas,
implantou-se, em 2004, o (ProUni) Programa Universidade Para Todos, com bolsas
integrais ou parciais, além de prever cotas a jovens negros ou indígenas.
Assim a demanda social pela educação cresce numa pressão cada vez mais forte
pela expansão do ensino superior que tem por finalidade estimular a criação cultural, o
desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo.
REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com Fraga (2012), devido à globalização surgem cada vez mais à
necessidade de se atualizar, e a educação torna-se fundamental para o desenvolvimento
humano e a busca pela empregabilidade é um fator chave para quem procura qualidade de
vida, estabilidade financeira e prestigio.
Empregabilidade, conforme Chiavenato (2004) significa a capacidade que uma
pessoa tem para conquistar e manter um emprego.
Para Carvalho (2011), empregabilidade é o conceito no qual se estabelece para
profissionais, empregados ou não, a obrigatória preocupação no sentido maior de se
manterem permanentemente atualizados e empregáveis, ou seja, diante das exigências de
formação, em busca das habilidades e especializações que o mercado de trabalho requer.
A empregabilidade deixa de ser vitalícia e fixa para ser temporária e
flexível. A segurança no emprego está sendo substituída pela
aprendizagem. A organização deixará de ser empregadora para ser
cliente. As pessoas deixarão de ser empregados para se tornarem
fornecedores de conhecimento para uma ou várias organizações
(CHIAVENATO, 2004, p. 613).
No Centro Paula Souza, hoje, visando atender o mercado de trabalho com mão de
obra especializada não apenas para as PMEs, mas também para as grandes, administra 211
Escolas Técnicas (ETECs) e 56 Faculdades de Tecnologia (FATECs) estaduais em 161
municípios paulistas. As FATECs atendem mais de 64 mil alunos que estão matriculados
nos 65 cursos de graduação tecnológica (CENTRO PAULA SOUZA, 2013).
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014.
GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA,
Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral.
Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação
Portando, a formação profissional se torna fundamental para quem busca fixar-se
no mercado de trabalho, alguns anos de curso podem ser significativos para a vida
profissional dos alunos.
Conforme Schwartzman (1991) supõe-se que os anos dispendidos na faculdade
afetam o desempenho e o rendimento profissional dos estudantes mais tarde, devendo-se
também supor que as diferentes maneiras pelas quais os estudantes passam durante a vida
escolar e, conforme a formação prévia que trazem e os cursos que escolhem o tempo de
que dispõem para estudar, a orientação que recebem dos seus professores, as facilidades e o
apoio que encontram influenciarão o resultado da vida profissional.
A relação entre a experiência educacional e o desempenho profissional posterior
ainda não pode, neste momento, ser estudada de forma sistemática, pois tratar os
diferenciais de salário pode depender de muitas outras coisas além de sua produtividade.
Conforme Blackwell (2008), de fato, sabe-se que os rendimentos obtidos no
mercado de trabalho podem ser influenciados por uma série de fenômenos de relação
duvidosa com a produtividade.
Essas dificuldades permitem inferir que, ainda que seja possível e interessante
examinar os níveis de renda obtidos pelos formados pela Fatec – Piracicaba em sua vida
profissional futura, esta informação não permite interpretação simples, que possa servir de
base a um cálculo contábil da produtividade agregada do investimento público em
educação.
Giglio (1992) reforça que estes tipos de dados serão tanto mais interessantes
quando eles estejam combinados com outras informações sobre as carreiras profissionais e
o desempenho das pessoas, de tal forma que as possibilidades resultantes de seu trabalho
também possam ser aferidas.
As características da trajetória profissional dos alunos sempre foram tema de
grande interesse para os diversos setores da Fatec Piracicaba, para tanto, informações
confiáveis e uma análise mais abrangente a respeito desta temática estão aqui apresentadas
possibilitando uma análise com vista ao planejamento da unidade de ensino e a mitigação
da evasão escolar.
A médio e longo prazos, este trabalho deverá proporcionar uma fonte de
informações e estudos para a avaliação, acompanhamento e reformulação dos programas
de formação profissional.
O segundo objetivo deste artigo é dar início a uma sistemática regular de obtenção
e análise destas informações, que possam responder às diferentes indagações que
dependem deste tipo de dados.
Apresentar dados a respeito do destino profissional de egressos desta Fatec, de
forma que contribua para a reflexão e avaliação dos investimentos realizados pelo estado e
justificando a sua aplicação à comunidade de Piracicaba e região, em última análise, saber se
a educação proporcionada pela Fatec – Piracicaba é adequada à demanda e se leva a um
aumento significativo da aderência ou mesmo da permanência no mercado de trabalho na
área de formação dos egressos destes cursos tecnológicos.
Uma motivação mais geral deriva do fato de que a Fatec – Piracicaba é uma
instituição pública que consome recursos públicos e que proporciona educação gratuita e
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014.
GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA,
Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral.
Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação
de qualidade a seus alunos, e por não existirem informações claras a respeito do
seguimento profissional, da rentabilidade social ou econômica dos alunos formados e dos
investimentos aportados pelo estado, embora este último devesse ser tratado em
oportunidade futura, devido a sua complexidade de entendimento e apropriação dos dados.
O consenso que existe é que a Fatec - Piracicaba forma tecnólogos altamente
qualificados o que justificaria amplamente sua relevância social e econômica. Falta, no
entanto, evidências mais circunstanciadas sobre resultados de suas atividades atuais pósformados por esta instituição de ensino.
HIPÓTESES DE PESQUISA E MÉTODO
Para o presente artigo optou-se por realizar uma pesquisa de campo com o intuito
de identificar a situação profissional dos alunos formados pela FATEC - Piracicaba, o que
remete à ideia de que a metodologia, nesta situação específica, diz respeito ao aspecto
quantitativo e qualitativo, ou seja, por meio da identificação de dados tangíveis, de fatos
palpáveis e mensuráveis, o que não foge ao aspecto qualitativo.
Todavia, convém explicar que a questão de pesquisa levantada se trata em
compreender melhor como está o momento atual dos ex-alunos, sendo que para isso,
como já exposto, buscaram-se informações mais concretas por meio de uma pesquisa de
campo.
No tocante à metodologia de pesquisa, o padrão adotado foi o mesmo utilizado por
Serpa e Ávila (2004), no sentido de se adotar o padrão utilizado por estudiosos da área de
Administração, ou seja, por meio de “experimento, com questionários contendo perguntas
curtas em situações de fato, em que se apela para a realidade atual dos respondentes.”
De acordo com Costa Neto (2002), a amostragem será probabilística quando cada
elemento da população tem uma probabilidade conhecida e igual de ser selecionado.
Segundo essa definição, a amostragem probabilística implica um sorteio com regras bem
determinadas, cuja realização só será possível se a população for finita e totalmente
acessível. A grande vantagem deste método é que os resultados obtidos na pesquisa
podem ser projetados para a população total.
Ainda conforme Costa Neto (2002) a amostragem aleatória simples (AAS) se
caracteriza pelo fato de todos os elementos da amostra ter a mesma probabilidade de
inclusão. Assim, foi entrevistada uma amostra probabilística do tipo aleatória simples,
composta por 105 ex-estudantes formados nesta unidade de ensino e, utilizando-se da
estrutura da Fatec - Piracicaba, contatado foi via pesquisa Google docs 30 respondentes do
curso de Biocombustíveis e 85 entrevistados para o curso de Gestão Empresarial,
proporcional ao total de ex-alunos de cada curso no período.
Para tanto, foi elaborado um questionário composto de sete questões abertas com
intuito de obter informações pessoais dos entrevistados, bem como identificar a sua
situação profissional atual.
As perguntas feitas aos entrevistados foram as seguintes:
1. Atualmente está trabalhando?
2. Qual seu salário atual mensal (em salários mínimos)?
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014.
GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA,
Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral.
Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação
Começou a trabalhar na área de formação antes da conclusão do curso e parou de
trabalhar na área?
4. Começou a trabalhar na área de formação antes da conclusão do curso e continua
trabalhando na área?
5. Começou a trabalhar na área de formação após a conclusão do curso e continua
trabalhando na área?
6. Começou a trabalhar na área de formação após a conclusão do curso e parou de
trabalhar na área?
7. Nunca trabalhou na área de formação.
Convém destacar que não houve resistência da amostragem em fornecer as
informações que, posteriormente, foram tabuladas por meio do programa Excel e
transformadas em gráficos ilustrativos, os quais vieram a sofrer análise individual para, ao
final dos resultados, comporem uma análise geral da pesquisa de campo.
Em referência à segunda pergunta do questionário, o IBGE – Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (2014) foi o critério utilizado para classificação social. As classes
sociais são classificadas consoantes às faixas salariais e são representadas pelas letras: A, B,
C, D e E. O instituto contabiliza de acordo com o número de salários mínimos que entram
na renda, a Tabela 1 a seguir ilustra o exemplo.
3.
Tabela 1 - Lista de classes sociais.
Classe Social
Renda Mensal
A
Acima de 15 salários mínimos
B
De cinco a quinze salários mínimos
C
De três a cinco salários mínimos
D
De um a três salários mínimos
E
Até um salário mínimo
Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2014)
RESULTADO E DISCUSSÃO
As perguntas elaboradas aos egressos consistiram em identificar se estavam trabalhando
atualmente, a renda média e o período de início do trabalho na área de atuação.
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GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA,
Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral.
Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação
Gráfico 1 – Alunos do curso de Biocombustíveis trabalhando atualmente.
Trabalhando (Biocombustíveis)
31%
Não
Sim
69%
Fonte: Os autores (2013)
Análise:
Pelo padrão de respostas obtido, percebe-se que apenas 31% dos entrevistados não
estão atualmente trabalhando, sendo que 69% da amostragem possui trabalho formal.
Isso leva ao entendimento de que a maior parte da amostra tem vínculo empregatício
com empresas de qualquer natureza, seja de bens de capital, serviços, empresa pública ou
privada.
Assim, entende-se que o público-alvo entrevistado do curso de Biocombustíveis vem a
compor exatamente a amostragem desejada para se entender o período em que iniciaram
suas atividades profissionais, seja antes do egresso ao Ensino Superior ou pós-formado pela
Fatec - Piracicaba.
Gráfico 2 – Pesquisa salarial - Alunos formados do curso de Biocombustíveis
Pesquisa Salarial (Biocombustíveis)
3%
20%
26%
6%
31%
8%
6%
Acima de R$ 4.747,00.
de R$ 1.357,00 à R$ 2.034,00.
de R$ 2.035,00 à R$ 2.712,00.
de R$ 2.713,00 à R$ 3.390,00.
de R$ 3.391,00 à R$ 4.068,00.
de R$ 678,00 à R$ 1.356,00.
Não trabalho.
Fonte: Os autores (2013)
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GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA,
Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral.
Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação
Análise:
Segundo tabela própria do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – no
Censo de 2012, é considerado classe alta (A) quem tem renda mensal acima de vinte
salários mínimos; os pertencentes à classe média (B e C) estão respectivamente nas faixas
correspondentes entre dez e vinte salários mínimos, e entre quatro e dez salários mínimos;
as classes mais baixas (D e E) possuem, também respectivamente, renda entre dois e quatro
salários mínimos, e até dois salários mínimos.
Assim, tem-se que a amostragem consultada apresentou renda mínima em sua maioria,
sendo que 3% acima de sete salários mínimos, 26% entre dois e três salários, 6% entre três
e quatro, 6% entre quatro e cinco, 8% entre cinco e seis, 31% entre um e dois salários e
20% não trabalha, portanto não possui renda, mas deve-se levar em consideração que os
ex-alunos são recém-formados.
Gráfico 3 – Alunos do curso de Biocombustíveis Trabalhando na Área
Trabalhando na área (Biocombustíveis)
12%
11%
54%
20%
3%
Comecei a trabalhar na área de formação antes da conclusão do
curso e parei de trabalhar na área.
Comecei a trabalhar na área de formação antes da conclusão do
curso e continuo trabalhando na área.
Comecei a trabalhar na área de formação após a conclusão do
curso e continuo trabalhando na área.
Comecei a trabalhar na área de formação após a conclusão do
curso e parei de trabalhar na área.
Nunca trabalhei na área de formação.
Fonte: Os autores (2013)
Análise:
Este item da pesquisa de campo é de grande importância, pois vem a apresentar in
loco como se dá atualmente à situação de trabalho temporal no mercado generalizado.
Percebe-se, então, que o ex-aluno formado no Ensino Superior da Fatec – Piracicaba,
curso de Biocombustíveis, teve ganho de 20%, ou seja, esse foi o percentual de alunos que
começaram a trabalhar na área de formação após a conclusão do curso e continuam na
área, comparados aos 3% que começaram a trabalhar na área de formação após a conclusão
do curso e pararam de trabalhar, e aos 11% que começaram a trabalhar na área de
formação antes da conclusão do curso e continuam na área, e aos 12% que começaram a
trabalhar na área de formação antes da conclusão do curso e pararam de trabalhar na área.
O mercado de trabalho está cada vez mais exigente e os formandos tiveram um ganho de
mercado pós-formatura.
91
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014.
GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA,
Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral.
Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação
Isso se comprova devido ao fato de que os 20% da amostragem pesquisada
afirmaram ter conquistado trabalho na área de formação sem mesmo nunca ter trabalhado
outrora no segmento.
Tal informação tem relevância para o estado e ao público em geral, pois indica que
a Fatec – Piracicaba tem ensino gratuito e de qualidade; ela também tem frentes de
trabalhos e iniciativas de acompanhamento do início ao fim e posterior a formatura dos
alunos e, sob essa ótica, haveria de se continuar e expandir a todas as outras unidades.
Gráfico 4 – Alunos do curso de Gestão Empresarial trabalhando atualmente.
Trabalhando
(Gestão Empresarial)
10%
Não
Sim
90%
Fonte: Os autores (2013)
Análise:
No curso de Gestão Empresarial, percebe-se que apenas 10% dos entrevistados
não estão atualmente trabalhando, sendo que 90% da amostragem possui trabalho formal.
Isso leva ao entendimento semelhante percebido nos dados do curso de
Biocombustíveis, pois a maior parte da amostra também tem vínculo empregatício com
empresas de qualquer natureza, seja de bens de capital, serviços, empresa pública ou
privada.
No gráfico 5 apresenta-se a pesquisa salarial obtida pelas entrevistas.
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GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA,
Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral.
Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação
Gráfico 5 – Pesquisa salarial - Alunos formados do curso de Gestão Empresarial
Pesquisa Salarial (Gestão
Empresarial)
de R$ 1.357,00 à R$ 2.034,00.
40%
de R$ 678,00 à R$ 1.356,00.
60%
Fonte: Os autores (2013)
Análise:
Aqui se tem que a amostragem consultada apresentou renda mínima em sua
maioria, sendo que 60% entre dois e três salários e 40% entre um e dois salários e um
número mínimo não considerado não possui renda, considera-se ainda que os ex-alunos
sejam recém-formados.
Por outro lado, registra-se novamente que as expectativas comportam certa
padronização, haja vista o nível de escolaridade dos entrevistados ser o mesmo e, portanto,
em equilibrado potencial concorrencial de mercado de trabalho.
Gráfico 6 – Alunos do curso de Gestão Empresarial Trabalhando na Área
Trabalhando na área (Gestão
Empresarial)
10%
Comecei a trabalhar na área de formação antes da
conclusão do curso e parei de trabalhar na área.
10%
20%
Comecei a trabalhar na área de formação antes da
conclusão do curso e continuo trabalhando na área.
60%
Comecei a trabalhar na área de formação após a conclusão
do curso e continuo trabalhando na área.
Nunca trabalhei na área de formação.
Fonte: Os autores (2013)
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GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA,
Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral.
Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação
Análise:
O gráfico acima apresenta mais uma etapa da pesquisa de campo, pois se registrou
que 10% dos ex-alunos formados no ensino superior da Fatec – Piracicaba, no curso de
Gestão Empresarial, começou a trabalhar na área de formação após a conclusão do curso e
continuam. E que 60% começaram a trabalhar na área de formação antes da conclusão e
continuam, e 10% começaram a trabalhar na área de formação antes da conclusão do curso
e pararam sendo que 20% nunca trabalharam. O mercado de trabalho está cada vez mais
exigente e nossos formandos tiveram um ganho de mercado pós-formatura.
Isso se comprova devido ao fato de que os 10% da amostragem pesquisada
afirmaram ter conquistado trabalho na área de formação sem mesmo nunca ter trabalhado
outrora no segmento.
Quando se compara este resultado do curso de Gestão Empresarial com o mesmo
resultado do curso de Biocombustíveis, percebe-se que existe uma diferença, pois os
egressos de Biocombustíveis totalizaram 20% os que conquistaram o mercado de trabalho
futuro na área de formação em contrapartida aos 10% dos ex-estudantes de Gestão
Empresarial.
Pode haver uma característica peculiar entre os cursos e as demandas pelo mercado
que justifique tal diferença, e os resultados obtidos comprovam que 70% dos alunos de
Gestão Empresarial atuavam na área quando iniciaram seu curso superior, sendo que para
Biocombustíveis totalizaram-se 23% os que estavam trabalhando na área antes de
ingressarem no curso.
Contudo, como a maioria dos egressos de Gestão Empresarial já atuavam na área,
estes se contrapõem em sua maioria aos egressos formados pelo curso de Biocombustíveis.
O que sinaliza que o mercado para este tipo de formação possui maior aderência para
indivíduos ainda sem formação superior dada possivelmente a generalidade da profissão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Num contexto geral da pesquisa de campo apresentada, mostrou que as respostas
correspondem a um universo composto na sua totalidade por ex-alunos formados pela
FATEC – Faculdade de Tecnologia de Piracicaba Deputado Roque Trevisan. Daí que tal
amostra se torna de fundamental importância para a pesquisa realizada, pois avalia
exatamente o público-alvo almejado para a consecução da pesquisa.
A pesquisa também permitiu entender que os ex-alunos vêm gerando um número
importante de inserção no mercado de trabalho dentro da sua área de formação, o que, por
um lado, pode aumentar o poder aquisitivo familiar e fomentar o consumo, o que implica
positivamente nos índices de empregabilidade, haja vista que houve 20% dos alunos de
Biocombustíveis que começaram a trabalhar na área após sua formatura e continuaram na
área, portanto, dá se o entendimento de que se ganha participação de alunos empregados
em empresas que atuam na área de formação desses alunos, e que foram, neste mesmo
contexto, 10% para os formados em Gestão Empresarial.
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GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA,
Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral.
Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação
No tocante à renda dos respondentes, o estudo mostrou que houve certa
homogeneidade no que se refere às classes D e E, pois a amostragem se apresentou de
forma concentrada, ou seja, a renda está em até três salários mínimos em sua maioria, mas
deve-se levar em consideração que os ex-alunos são recém-formados.
Outro dado é que o curso de Biocombustíveis teve 10% de incremental na
conquista do mercado de trabalho na área de formação pós-formatura. Entretanto, como a
maioria dos egressos de Gestão Empresarial já atuavam na área, estes passam a ter uma
participação futura menor, portanto, a oportunidade fica mais restrita e/ou limitada devido
à disponibilidade resultante. Esta consideração também se confirma quando se verifica que
para Biocombustíveis tem-se 54% dos alunos que nunca trabalharam na área de formação,
nesse mesmo contexto, encontrou-se 20% para Gestão Empresarial.
Possivelmente estas conclusões possam ser objeto de nova incursão prática, ou seja,
poder descobrir a situação futura, atentos no médio e longo prazo para os alunos dentro da
amostra de 20% e 10% formados em Biocombustíveis e Gestão Empresarial,
respectivamente, que aderiram ao mercado de trabalho nas suas áreas de formação e
acompanhar a continuidade e manutenção do seu trabalho nestas áreas, e assim, seguindo o
mesmo raciocínio, poder-se-á verificar o futuro dos outros que não estão atuando na área
de formação, mas isso, na realidade, deveria ainda, ser objeto de uma terceira pesquisa.
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96
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 82-97, jan./jun. 2014.
GONÇALES Filho, Manoel; PRUDENTE, Juliana Camargo; VIEIRA, Suellen Garcia; SILVA,
Vanessa de Cillos; GERMEK; Hermas Amaral.
Permanência dos alunos formados pela Fatec Piracicaba trabalhando na área de formação
1 Manoel Gonçales Filho é mestrando em Engenharia de Produção pela Universidade Metodista de
Piracicaba, Brasil(2016) e Trabalha no Seis Indústrias sucroalcooleiras da Micro região de Piracicaba , Brasil.
2 Juliana Camargo Prudente é graduanda em Tecnologia em Gestão Empresarial pela Fatec Piracicaba.
3 Suellen Garcia Vieira. Graduanda em Tecnologia em Gestão Empresarial pela Fatec Piracicaba.
4 Vanessa de Cillos Silva é Doutora em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura) pela Universidade de São
Paulo, Brasil(2014) e Coordenador-Tecnologia em Gestão Empresarial do Centro Estadual de Educação
Tecnológica Paula Souza, Brasil.
5 GERMEK; Hermas Amaral é Doutor em Agronomia (Energia na Agricultura) pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil(2005), Professor e Diretor da Faculdade de Tecnologia de
Piracicaba Dep. “Roque Trevisan”.
97
Análise das vantagens ecológicas de
veículos automotivos com motores: flex e
híbrido
SANTOS, Nilceia Cristina dos
BORTOLOTI, Márcio Augusto
PIACENTE, Fabrício José
SILVA, Reinaldo Gomes da
Resumo
Este trabalho procura identificar as vantagens ecológicas geradas pelos veículos produzidos com
motores a combustível e com motores híbridos. O estudo aborda a preocupação com a questão
ambiental e analisa os prós e os contras de cada tipo de motor com relação a emissão de poluentes.
Novas tecnologias de motores híbridos para veículos estão sendo efetuadas pelo governo através
de políticas públicas de incentivos, como forma de estimular a inovação, o consumo e reduzir os
efeitos da poluição nas grandes cidades. Mas a tecnologia híbrida ainda não está consolidada entre
os fabricantes e cada um adota uma configuração de veículo e de bateria e o consumidor fica
confuso quanto às opções disponíveis. Por fim, foi realizada uma comparação entre os tipos de
motores, o volume de emissão de CO2, o processo de reciclagem e o ciclo de vida de tais produtos.
A metodologia consiste numa revisão de literatura e na utilização de dado secundários. Os
resultados demonstram que os veículos híbridos são considerados os mais ecológicos, mas, isso
não significa que é um produto 100% ecológico, que preserva o meio ambiente.
Palavras-chave: veículos híbridos; incentivos, solução ecológica.
Abstract
This paper discusses the life cycle of the product , which includes the manufacture , use and
disposal of vehicles with flex-fuel engines and hybrids . The study addresses the concern with
environmental issues and analyzes the pros and cons of each type of motor with respect to
emissions. New engine technologies for hybrid vehicles are being made by the government through
public policy incentives as a way to stimulate innovation , consumption and reduce the effects of
pollution in large cities . But hybrid technology is not yet established among manufacturers and
each adopts a configuration of vehicle and battery and the consumer gets confused about the
options available . Finally , a comparison was made between the types of engines , the volume of
CO2 emissions , the recycling process and the life cycle of such products . The results demonstrate
that hybrid vehicles are considered more environmentally friendly , but that does not mean it is a
100 % ecological, preserving the environment.
Key-words: hybrid vehicles; life cycle; batteries; incentives, eco solutions.
98
Resumen
En este trabajo se analiza el ciclo de vida del producto, que incluye la fabricación , uso y eliminación
de los vehículos con motores flex -fuel y los híbridos . El estudio aborda la preocupación por los
temas ambientales y analiza los pros y los contras de cada tipo de motor en lo que respecta a las
emisiones . Las nuevas tecnologías de motores para vehículos híbridos se están realizando por el
gobierno a través de incentivos de política pública como una forma de estimular la innovación , el
consumo y reducir los efectos de la contaminación en las grandes ciudades . Pero la tecnología
híbrida no se ha establecido entre los fabricantes y cada uno adopta una configuración del vehículo
y la batería y el consumidor se confunde acerca de las opciones disponibles . Por último , se realizó
una comparación entre los tipos de motores , el volumen de las emisiones de CO2 , el proceso de
reciclaje y el ciclo de vida de tales productos . Los resultados demuestran que los vehículos híbridos
se consideran más respetuosos del medio ambiente , pero eso no quiere decir que es un 100%
ecológico , preservando el medio ambiente.
Palabras clave: vehículos híbridos, baterías de ciclo de vida, incentivos, soluciones eco.
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014.
SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José;
SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
INTRODUÇÃO
O automóvel teve origem na Alemanha, em 1885. Inicialmente, possuía três rodas e
foi criado por Karl Bens. Em seguida, foi aperfeiçoado na França, onde teve início a
produção e venda de automóveis pela empresa Panhard e Levassor. A popularização e
evolução ocorreram nos Estados Unidos quando, em 1892, Henry Ford fabricou seu
primeiro veículo movido à gasolina. O primeiro automóvel foi o Duryea que foi construído
pelos irmãos Charles e Frank Duryea (RACHID DA SILVA, 2011; SANTANA, 2008).
Em 1908, Henry Ford inovou os meios de produção dos automóveis ao
desenvolver a produção em série, ou seja, a produção em larga escala, o que contribuiu para
o que automóvel se tornasse mais popular e presente na vida das famílias ao redor do
mundo. Para se ter uma ideia, a Ford com o modelo Ford T (1908) comercializou cerca de
15 milhões de unidades nos seus 25 anos de fabricação. No Brasil, esse modelo ficou
conhecido como Ford Bigode (RACHID DA SILVA, 2011).
O mercado automobilístico abriu portas para outras atividades comerciais voltadas
para o fornecimento de peças, como fábricas de pneus, de baterias, de peças automotivas, e
também serviços, como alinhamento e balanceamento. Esse cenário contribuiu para o
surgimento de grandes empresas que se alicerçam na indústria automobilística, tais como:
Goodyear (pneus), Delphi (baterias), Bosch (injeção eletrônica e peças), Magneti Marelli
(componentes), Mahle (pistões), dentre inúmeras outras.
Esse crescimento do mercado de automóveis fez com que os fabricantes de
automóveis e as empresas fornecedoras de peças e acessórios necessitassem abrir suas
fábricas em outros mercados, como europeu, coreano, brasileiro, Oceania, argentino e
outros (DIAS, 2005).
O Brasil, particularmente, tornou-se um mercado atrativo principalmente devido
aos incentivos e mudanças na política pública mundial e interna. Sendo o quarto maior
mercado do mundo, perdendo apenas para China, EUA e Japão, em 2011 registrou um
crescimento de 2,9% em comparação ao ano de 2010 (CRUZ, 2012).
No Brasil, atualmente existem 57 empresas associadas â ANFAVEA, essas
unidades industriais estão distribuídas pelo país, sendo que 30 estão localizadas na região
sudeste, 21 na região sul, 3 na região centro-oeste, duas na região nordeste e uma na região
norte. O ramo de atuação dessas indústrias envolve os setores de máquinas agrícolas, de
veículos automotivos, de motores e componentes. As empresas que atuam na produção de
automóveis e veículos leves são: Fiat, Ford, General Motors, Honda, Hyundai, Nissan,
Peugeot Citroën, Renault, Toyota e, Volkswagen (ANFAVEA, 2013).
Para a sociedade brasileira, o automóvel é considerado um símbolo de status, de
liberdade, de sucesso e uma melhora na qualidade de vida de seus consumidores
(CAMPOS, 2008). Segundo a ANFAVEA (2013), em 2012, foram produzidos 3.415.486 de
autoveículos (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus), sendo que 75,87% desse
volume é somente de automóveis. Em relação ao tipo de combustível utilizado por esses
veículos, 88,88% são flex (álcool/gasolina), 11,10% funcionam apenas com gasolina e
apenas, 0,02% são movidos à diesel.
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014.
SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José;
SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
O crescente aumento dessa frota de veículos causou grande impacto na sociedade,
por exemplo: aumento da emissão de CO2 ou Gás do efeito estufa (GEE) e N2O; poluição
sonora; destinação correta dos fluidos como óleo e peças como baterias e peças de plástico,
como painéis, para-choque, dentre outros; a destinação a ser dada aos veículos que chegam
ao final do ciclo de vida; obtenção de combustível a um preço acessível para a população;
entre outros (SMAC, 2013).
Atualmente, a maior parte da responsabilidade pela geração de poluição e
contaminação dos ambientes nas grandes cidades passou a ser direcionado ao excesso de
veículos automotores presente nas ruas. Hoje, entre 70% e 90% dos poluentes do ar são
produzidos pelos veículos, principalmente nas grandes cidades, como Rio de Janeiro, São
Paulo, Los Angeles, Cidade do México, entre outras (EPELBAUM, 2002; NICOLETTI,
2013; PEREIRA, 2014).
Para tentar amenizar esse problema, os governos, juntamente com a pressão de
setores da sociedade, têm clamado por veículos ecologicamente corretos. Por exemplo,
atualmente possuem metas de redução de emissão de poluentes, item que não era cobrado
da geração anterior. Não há como atingir essas exigências sem investimento em inovação e
tecnologia. Mas quem arcará com o custo gerado para criar melhor desempenho ambiental
dos veículos?
Outra medida tomada é a cobrança do pedágio urbano, uma taxa pela utilização de
determinada via ou área. No Rio de Janeiro, há a cobrança do pedágio urbano na linha
amarela, ao valor de R$ 4,70 (EMSAMPA, 2012).
Em outros países, isso já funciona. Na Suécia, a empresa IBM implantou um
sistema que indica períodos de viagem entre rotas específicas em tempo real, levando em
consideração o fluxo de veículos. Os resultados foram impressionantes, apresentando
reduções significativas nos percentuais de trânsito (acima de 15%) e nas emissões de CO 2
(acima de 10%) (RAGAZZO, 2012).
É possível reduzir a emissão de CO2 por meio do desenvolvimento de motores
menos poluentes (flex, elétricos, híbridos) e pelo uso de fontes alternativas de combustíveis
fósseis (álcool, biodiesel, células de combustível) (RIBEIRO, 2006).
Segundo Rachid da Silvia (2011), veículos híbridos ou CEH (Carro Elétrico
Hibrido) combinam a energia de um motor elétrico com a de um MCI (motor
convencional de combustão interna) a gasolina, biocombustível ou flex.
No mercado automotivo, a Toyota lançou o CEH Prius em 1997 e chegou ao final
de 2010 com 2 milhões de unidades vendidas. Em 1999, a Honda lançou o Insight. Dentre
os híbridos vendidos no mundo atualmente, podemos citar o Ford Fusion, Honda Fit,
Lexus CT200h, Chevrolet Volt, Nissan Leaf, entre outros.
Ainda em relação ao impacto ambiental causado pela utilização de veículos e
consumo de combustíveis, é preciso se preocupar com o ciclo de vida desse produto, o
destino dos resíduos gerados pelo seu uso e o devido descarte.
Dentro desse cenário é possível fazer vários questionamentos, como: é viável a
troca do combustível gasolina por outros combustíveis alternativos? Qual o custo para o
consumidor dessas novas tecnologias ecológicas? Esses novos modelos de veículos são
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SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José;
SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
viáveis? Como é o ciclo de vida desses automóveis? Para esse estudo foi escolhida a
seguinte questão norteadora: quais tipos de motores automotivos realmente podem ser
considerados ecológicos?
Esse estudo tem por objetivo geral identificar as vantagens ecológicas geradas
pelos veículos produzidos com motores a combustível e com motores híbridos.
A metodologia adotada consiste numa pesquisa bibliográfica exploratória efetuada
por meio de livros, artigos, teses e projetos de graduação, abordando o mercado
automobilístico, a poluição automotiva, o ciclo de vida e tipos de veículo automotivo, e por
fim, quais incentivos são dados no mundo e no Brasil. Para Minayo (1993, p.23), pesquisa é
uma “atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma
atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente
inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca
se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados”.
Desta forma, o estudo permitirá analisar os tipos de veículos híbridos que existem,
as tecnologias empregadas no seu desenvolvimento e os ciclos de vida dos automóveis e
dos combustíveis (etanol e gasolina) e quanto eles geram de gases ao meio ambiente
durante o seu uso nos veículos.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Mercado Automobilístico Brasileiro
O primeiro veículo motorizado trazido para o Brasil chegou ao porto de Santos em
1891, trazido por Alberto Santos Dumont, na época com dezoito anos. O carro era um
Peugeot vindo da França e foi comprado por 1.200 francos (PORTAL; INVESTE, 2012).
No Quadro 1 observa-se um breve histórico do mercado e como procedeu a
evolução da indústria automobilística no Brasil.
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014.
SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José;
SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
Quadro 1 - Evolução do mercado automobilístico no Brasil.
ANO
1919
1920
1925
1929
Década de 40
1951
Final da década
de 60
Final dos anos
70 e início dos
anos 80
Anos 90
HISTÓRICO
Ford inaugura a 1ª fábrica de automóveis no Brasil.
5.596 veículos nas ruas de São Paulo.
General Motors inaugura fábrica no bairro Ipiranga.
A frota do estado de São Paulo é de 43.657 veículos.
Devido à guerra, não há venda de veículos novos. A frota começa a ficar
antiga e ultrapassada.
Getúlio Vargas proíbe a importação de veículos. Cria a CDI – Comissão
de Desenvolvimento Industrial para desenvolver a indústria local.
Chega-se a 321.150 veículos produzidos no Brasil.
Surge a microeletrônica tirando do Brasil a vantagem comparativa do
custo de mão de obra do país. Aumenta a competição com outros países,
principalmente os asiáticos.
Surge o carro popular, fruto da expansão da indústria automobilística
nacional, veículo de baixo custo. Abertura econômica e novos acordos
automobilísticos com o México, e o Mercosul, cresce a importação e a
exportação de veículos.
Fonte: Elaboração própria baseada em PORTAL (2012) e INVESTE (2012).
Com o governo intervindo para reduzir os níveis de emissão dos veículos,
tornando-os mais ecológicos, as perspectivas da CNI (Confederação Nacional da Indústria)
para o setor automotivo são de crescimento (CNI, 2012).
Já o relatório da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) destaca
treze pontos para os próximos 15 anos. Alguns deles são: carros mais eficientes, compactos
e silenciosos; carros elétricos mais acessíveis; a intensificação das fontes de energia
alternativas ao petróleo (biocombustíveis, elétricos); o projeto industrial de veículos mais
“verdes”; o fornecimento instável do petróleo; um maior crescimento nas vendas de
veículos nos países emergentes, entre outros (ABDI, 2009).
Poluição Automotiva
A poluição causada pelos veículos pode ser classificada em função da sua
abrangência, dos impactos causados por sua emissão, por exemplo: poluentes gerados nas
áreas do entorno de onde circulam, ruídos produzidos pelos motores e fuligem expelida
pelos escapamentos acumulando nas ruas e fachadas dos imóveis são chamados de
poluentes locais. Nesta categoria ainda entram os poluentes que se deslocam de uma região
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SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José;
SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
para outra por meio das correntes de ar, como os gases que causam a chuva ácida ou o
efeito smog (mistura de fumaça, poluentes gasosos, neblina, ar e partículas sólidas, que
origina uma nuvem escura), que ocorre devido à grande concentração de ozônio (O3),
formando assim uma névoa densa no ar. Os poluentes globais são aqueles gases que são
lançados para a atmosfera, causando impacto em todo o planeta, como o aquecimento
global e os gases do efeito estufa (GEE), sendo o dióxido de carbono (CO2) o principal
poluente desta categoria (CARVALHO, 2009).
O setor de transporte é um dos principais causadores dos gases do efeito estufa e
outros gases nocivos ao meio ambiente, sendo responsável por 20% das emissões globais
de CO2. No Brasil, o setor de transporte responde a 9% do total das emissões de CO 2
enquanto as queimadas representam mais de 70% das emissões. Além do CO 2, os veículos
movidos a combustível fóssil são responsáveis por outros poluentes que degradam o
ambiente e que são nocivos a saúde humana, dentre eles: monóxido de carbono (CO),
hidrocarbonetos (HC), materiais particulados, óxidos de nitrogênio (NO x) e óxidos de
enxofre (SOx) (CARVALHO, 2009).
Outro problema relacionado à emissão de gases do efeito estufa, segundo estudos
do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo realizados na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), é a
poluição gerada pelos veículos está associada a 200 doenças e a cerca de 3 mortes por ano
(MARTINS, 2001). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2012 cerca de 7
milhões de pessoas no mundo perderam suas vidas por causa da poluição do ar, sendo que
3,6 milhões de mortes são relacionadas às mortes provocadas por fontes móveis (veículos)
e fixas (ex. indústrias), o que representa 30% a mais do que ano anterior (VORMITTAG,
2014). A inalação contínua de nanopartículas e gases tóxicos como chumbo e cádmio
causam uma série de problemas de saúde, que vão desde o aparecimento ou agravamento
de doenças respiratórias até problemas cardíacos, aumento da pressão arterial, depressão,
esquizofrenia e problemas reprodutivos (NICOLETTI, 2013).
Em 2011, no Estado de São Paulo, os gastos com o tratamento de doenças
provocadas pela poluição foram de R$ 76 milhões (gastos públicos) e R$ 170 milhões
(gastos privados/complementares) totalizando gastos de R$ 246 milhões no Estado. para
R$ 246,2 milhões (US$ 111,7 milhões) de acordo um estudo realizado pelo Instituto Saúde
e Sustentabilidade (VORMITTAG et al, 2013).
Em função deste fato, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) criou
em 06 de maio de 1986, por meio da Resolução nº 18, o Programa de Controle de Poluição
do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE), coordenado pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos (IBAMA), que definiu os limites de emissão para os
veículos leves, contribuindo para o Padrões de Qualidade do Ar instituído pelo PRONAR
(Programa Nacional de Qualidade do Ar).
Por meio da Lei nº 8.723 de 28 de outubro de 1993, tornou-se obrigatória a
redução dos níveis de emissão de poluentes de origem veicular, adequando o veículo à fase
do Proconve vigente no ano de fabricação do veículo, fomentando o desenvolvimento
tecnológico dos fabricantes de motores, autopeças e combustíveis.
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SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José;
SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
Para que esta exigência seja cumprida, os veículos são aferidos em testes
padronizados no dinamômetro e com combustível de referência. Além disso, o Ibama
proíbe a comercialização de veículos não homologados ficando a cargo do Proconve desde
a certificação do protótipo até a homologação dos motores ou o recolhimento deles, caso
estejam em desconformidade frente à fase que o Proconve está atualmente. O Proconve só
atua sobre veículos novos, os veículos antigos seguem as exigências da fase no momento da
sua fabricação, e acabam poluindo mais (IBAMA, 2012).
As exigências do Proconve foi implementada em fases, para que as empresas
tivessem tempo para se adaptarem aos novos limites de emissão. No Quadro 2 estão
detalhados os anos e limites máximos de emissão dos gases permitidos pelas fases.
Quadro 2 – Anos em que cada fase do Proconve foi implementada.
ANO DA
FASE
CARACTERÍSTICA
EXIGÊNCIA
Eliminar os veículos mais poluidores, aprimorar a produção
L1
1988-1991
e implantar o controle das emissões evaporativas.
Investimento em novas tecnologias, como injeção eletrônica
de combustível e os conversores catalíticos para uso de
L2
1992-1996 A
misturas com etanol. Implantação do controle de ruídos em
veículos.
Melhorar a tecnologia para formação de mistura e controle
L3
1997-2004
eletrônico do motor, por exemplo, o sensor de oxigênio.
2005 (40%)
Reduzir as emissões de HC e NOx, (substâncias precursores
L4
2006 (70%)
de Ozônio), não obrigando os fabricantes a instalarem
2007 (100%)
equipamentos ou itens nos motores como havia sido feito.
Reduzir emissões de hidrocarbonetos não-metano e para as
L5
2009
emissões de NOx para os veículos leves do ciclo Otto.
2013 (Diesel leve)
2014 (Otto Novos
L6
Ampliar as reduções para outros tipos de veículos.
Mod.)
2015 (Otto 100%)
Fonte: Baseado em (JUNIOR, 2009; PROCONVE, 2012 e SCHOLL, 2009).
Segundo estudo de Junior (2009), nota-se que após a implantação das fases L1, L2,
Le e L4 acima pela Proconve, realmente houve redução das emissões de poluentes. Os
limites de emissão de gases que o veiculo pode emitir para cada fase esta disponível na
Figura 1, onde é possível consultar o gás e qual o seu limite de emissão para aquela fase.
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SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José;
SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
Figura 1 – Limite máximo de emissão para as fases do Proconve.
Fonte: PROCONVE (2012).
Com a redução dos níveis de poluição dos veículos em cada fase, o aumento da
frota causa um impacto menor no meio ambiente caso os veículos não seguissem a norma
ou a norma não existisse.
Ciclo de Vida de Veículos Automotivos
O ciclo de vida de um automóvel se inicia com a aquisição das matérias-primas,
sendo elas naturais (virgens), como petróleo e carvão, ou derivadas de reciclagem, como
alumínio, ferros e vidros (MEYER, 2001).
Após a aquisição das matérias-primas, estas são processadas e tornam-se
disponíveis para a utilização na manufatura, como o minério retirado da natureza que pode
ser transformado numa chapa de aço, por exemplo. Após a manufatura, modela-se o metal
e outros itens de plástico. Ocorre então a elaboração final do produto, empacotamento e
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SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José;
SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
entrega do veículo ao consumidor que irá fazer uso do mesmo (MEYER, 2001). Visto o
automóvel ser composto por muitos itens e, durante seu ciclo de vida, ter que passar por
diversas manutenções, como troca de fluidos, pneus e outros, geram-se muitos ciclos de
vida de produtos ao longo do uso e manutenção do veículo e prorrogam o tempo de vida
do bem (MEYER, 2001). Seria, portanto, muito difícil avaliar o ciclo de vida do todo ou de
todas as partes individualmente.
Em relação as emissões de poluentes veicular elas são o reflexo entre a tecnologia,
as condições de manutenção do veículo e as especificações do motor. Um veículo pode
originar emissões de partículas de vários sistemas, como os elementos de frenagem,
desgastes dos pneus. Pelo escapamento pode-se emitir partículas, óxidos e fuligem. Os
poluentes resultantes da combustão são: Monóxido de Carbono (CO), Hidrocarbonetos
(HC), Óxidos de Nitrogênio (NOx) e Óxido de Enxofre (SOx) (M. SILVA, 2007).
Para que um veículo obtenha movimentação é necessário potência, e a fonte da
potência em um veículo é o seu motor de combustão interna. Para que um Veículo
transporte mais cargas ou pessoas é necessário um motor mais potente. Temos, assim,
várias potências de motores que servem para diferentes tipos de veículos, carros, motos,
caminhões, cada um para sua especialidade e focando a atividade fim realizada pelo veículo
ao qual ele será introduzido. O Motor de Combustão Interna tem o princípio de converter
energia térmica em energia mecânica (PINTO, 2010).
O primeiro motor a combustão interna foi concretizado em 1966 por Nikolaus
August Otto, que teve a ideia de utilizar benzeno como combustível. Ele queria fazer um
mecanismo para gerar força de maneira automática, para isso ele se baseou no mecanismos
de pedais de bicicletas (pedal e manivela) onde o combustível pudesse explodir e gerar
força e consequentemente movimento. Este ciclo de admissão, compressão, explosão e
exaustão ficaram conhecidos como ciclo Otto (ROCHA, 2009).
Dentre os combustíveis usados para os motores, temos as seguintes opções:
Gasolina tipo C, Diesel, Etanol, Querosene, Biodiesel e Gás Natural.
O ciclo de vida do etanol combustível
A matéria-prima do etanol etílico hidratado é a cana-de-açúcar, combustível dos
veículos automotores. A cana-de-açúcar na safra de 2012/2013 se tornou a maior no Brasil,
alcançando 596 milhões de toneladas de cana moída, e o estado de São Paulo é o maior
produtor, com 51,28% do total produzido no país (CONAB, 2012).
Segundo Ometto (2005), o etanol é produto da destilação de líquidos fermentados,
como os vinhos. O etanol etílico ou simplesmente etanol é uma substância orgânica
ternária constituída por carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), cuja fórmula molecular
é C2H6O.
Segundo Unica (2012), na safra de 2011/2012, a produção do setor sucroalcooleiro
foi de 493,1 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, sendo que 31,3 milhões de toneladas
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SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José;
SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
foram de açúcar, 7.466.194 m3 de etanol anidro, 13.076.110 m3 de etanol hidratado,
contabilizando 20.542.304 m3 de etanol total. Somente o Estado de São Paulo foi
responsável pela produção de 11.597.637 m3 de etanol total. Para 2014/2015 estima-se que
safra de cana-de-açúcar deverá alcançar 671,7 milhões de toneladas, confirmando a posição
do Brasil de maior produtor e exportador mundial (CREA-PR, 2014).Segundo relatório da
Fenabrave - 2012, em 2011 foram comercializados no Brasil 2.165.534 veículos flex (etanol
e gasolina) e 352.197 veículos somente à gasolina (CRUZ, 2012).
Após a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, em fevereiro de 2005, houve um
aumento na demanda internacional por fontes renováveis de energia, estimulando a
produção de biocombustíveis, dentre eles o etanol. O Protocolo de Kyoto é um
ferramenta que estabelece aos países metas de redução de emissão de gases de efeito estufa
e mecanismos adicionais de implementação para que essas metas sejam atingidas
(MOREIRA E GIOMETTI, 2008).
Segundo Ometto (2005, p. 35), as etapas do ciclo de vida do álcool são: o preparo
do solo e o cultivo agrícola da cana-de-açúcar, transporte interno, processo industrial,
reutilização dos resíduos e dos efluentes industriais, geração de vapor e de energia elétrica,
armazenagem e distribuição e utilização do álcool etílico hidratado combustível. Assim,
tem-se o término do ciclo de vida da cana-de-açúcar e o novo plantio irá absorver todo o
CO2 emitido no ciclo anterior.
Conforme Tabela 1 temos um veículo com motor flex e utilizando Etanol
Hidratado como combustível, nela é possível analisar quanto o veiculo emite de gases, o
quanto esta emitindo atualmente e também podemos efetuar uma comparação de um
veículo mono-combustível com um veiculo flex, para verificarmos qual tem uma maior
emissão de gases, produz:
108
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014.
SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José;
SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
Tabela 1 – Emissões de um veículo a etanol
ANO
80-83
84-85
86-87
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2003
2004
2004
2005
2005
2006
2006
2007
2007
2008
2008
2009
2010
2011
COMBUSTÍVEL CO (g/km)
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Álcool
Flex Álcool
Álcool
Flex Álcool
Álcool
Flex Álcool
Álcool
Flex Álcool
Álcool
Flex Álcool
Álcool
Flex Álcool
Flex Álcool
Flex Álcool
Flex Álcool
18
16,9
16
13,3
12,8
10,8
8,4
3,6
4,2
4,6
4,6
3,9
0,9
0,7
0,6
0,63
0,66
0,74
0,77
0,51
0,82
0,46
0,82
0,39
0,67
0,47
ND
0,47
ND
0,71
0,56
0,51
0,49
HC
(g/km)
NOx
(g/km)
1,6
1,6
1,6
1,7
1,6
1,3
1,1
0,6
0,7
0,7
0,7
0,6
0,3
0,2
0,2
0,18
0,15
0,16
0,16
0,15
0,17
0,14
0,17
0,14
0,12
0,11
ND
0,11
ND
0,052
0,03
0,09
0,09
1
1,2
1,8
1,4
1,1
1,2
1
0,5
0,6
0,7
0,7
0,7
0,3
0,2
0,2
0,21
0,08
0,08
0,09
0,14
0,08
0,14
0,08
0,1
0,05
0,07
ND
0,07
ND
0,05
0,03
0,04
0,03
CO2(1)
(g/Km)
191
183
200
160
190
160
180
200
177
ND
177
ND
187
174
172
170
CHO
(g/km)
Emissão
Evaporativa de Combustível
(g/teste)
0,16
0,18
0,11
0,11
0,11
0,11
0,11
0,35
0,04
0,042
0,042
0,04
0,012
0,014
0,013
0,014
0,017
0,017
0,019
0,02
0,016
0,014
0,016
0,014
0,014
0,014
ND
0,014
ND
0,0152
0,0104
0,0073
0,009
10
10
10
10
1,8
1,8
0,9
1,1
0,9
0,9
0,8
1,1
1,3
1,6
1,35
1,31
ND
ND
ND
ND
ND
ND
ND
ND
1,27
ND
1,27
ND
1,1
Fonte: Cetesb (2011)
(1)
Inclusão do dióxido de carbono a partir de 2002. (Valores medidos, sem legislação
limitando as emissões).
O ciclo de vida da gasolina C
A matéria-prima da gasolina é o petróleo (óleo cru). Ela é obtida por meio do refino
do petróleo. A gasolina faz parte do Ciclo do Carbono (C). O Ciclo do Carbono tem início
no momento em que plantas ou outros organismos autótrofos absorvem o gás carbônico
109
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014.
SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José;
SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
que está presente na atmosfera e o utilizam na fotossíntese, incorporando as suas moléculas
(LUZ, 2011).
O próximo nível trófico é quando os animais herbívoros ingerem as plantam e com
isso incorporam uma parte do carbono presente nelas na forma de açúcar. Diz-se uma
parte do carbono porque uma parcela do carbono retornará pelos organismos
decompositores ou devolvidos à atmosfera no caso de uma queimada. Após o animal
herbívoro o ingerir, o carbono será devolvido à atmosfera por meio da respiração ou pela
decomposição do organismo (LUZ, 2011).
Segundo Cruz (2003), a composição química do petróleo “são misturas orgânicas
complexas de hidrocarbonetos, com quantidades relativamente pequenas de compostos
orgânicos sulfurados, nitrogenados, oxigenados e organometálicos. Predominam entre os
hidrocarbonetos, os acíclicos saturados (alcanos ou parafinas) tanto de cadeia normal como
ramificada”.
A gasolina automotiva possui de quatro a doze átomos de carbono, sendo uma
mistura complexa de hidrocarbonetos. Os hidrocarbonetos presentes na gasolina são
membros das séries parafínicas, naftênicas e aromáticas e, dependendo do petróleo e dos
processos de produção, mudam as proporções relativas. Os órgãos normativos exigem
rígido controle sobre as especificações e características das gasolinas comerciais, visando
atender a requisitos de desempenho dos motores e atenuar as emissões de gases poluentes
(CRUZ, 2003).
Há vários métodos de determinar quantitativamente as propriedades importantes da
gasolina. No Brasil, a ANP (Agencia Nacional de Petróleo) utiliza o índice de octano,
determinado pelo método MB-457 que é correspondente ao método ASTM D-2700 ou
MON (Motor Octane Number). O método MON avalia a resistência do combustível à
compressão quando o motor está sendo mais exigido e com rotações mais altas, como
ocorre em subidas com marcha reduzida, ultrapassagens e altas velocidades (CRUZ, 2003).
No Brasil, a gasolina do tipo C é a comum vendida nos postos e revendedores,
disponível no mercado, tem octanagem no mínimo igual a 80 (MON). É adicionado
Etanol, cujo teor varia conforme a legislação vigente, sendo de 21% a 25% do volume. A
Gasolina tipo A é a que as refinarias entregam para as distribuidoras, uma gasolina pura e
com maior octanagem. A gasolina tipo B é de uso exclusivo do exército (ANP, 2011).
Segundo Luz (2011), a gasolina é um produto esgotável, sendo que o ciclo de vida
da gasolina inicia nas refinarias, passando para as distribuidoras que revendem o
combustível para os postos, onde o consumidor final os adquire, seus resíduos são
lançados na atmosfera e tem-se o início do ciclo do carbono. Na Tabela 2, um veículo com
motor utilizando gasolina C combustível produz:
110
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014.
SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José;
SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
Tabela 2: Emissões de um veículo a gasolina
ANO
COMBUSTÍVEL
CO (g/km)
HC
(g/km)
pré 80
80-83
84-85
86-87
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2003
2004
2004
2005
2005
2006
2006
2007
2007
2008
2008
2009
2009
2010
2010
2011
2011
Gasolina
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Gasolina C
Flex Gasolina C
Gasolina C
Flex Gasolina C
Gasolina C
Flex Gasolina C
Gasolina C
Flex Gasolina C
Gasolina C
Flex Gasolina C
Gasolina C
Flex Gasolina C
Gasolina C
Flex Gasolina C
Gasolina C
Flex Gasolina C
Gasolina C
Flex Gasolina C
54
33
28
22
18,5
15,2
13,3
11,5
6,2
6,3
6
4,7
3,8
1,2
0,8
0,7
0,73
0,38
0,43
0,4
0,5
0,35
0,29
0,34
0,45
0,33
0,45
0,33
0,45
0,37
0,51
0,3
0,33
0,23
0,28
0,26
0,28
4,7
3
2,4
2
1,7
1,6
1,4
1,3
0,6
0,6
0,6
0,6
0,4
0,2
0,1
0,1
0,13
0,11
0,11
0,11
0,05
0,11
0,08
0,1
0,11
0,08
0,1
0,08
0,1
0,042
0,069
0,03
0,03
0,03
0,04
0,04
0,04
NOx
(g/km)
1,2
1,4
1,6
1,9
1,8
1,6
1,4
1,3
0,6
0,8
0,7
0,6
0,5
0,3
0,2
0,2
0,21
0,14
0,12
0,12
0,04
0,09
0,05
0,09
0,05
0,08
0,05
0,08
0,05
0,04
0,04
0,02
0,03
0,02
0,03
0,03
0,03
CO2 (1)
(g/Km)
198
194
210
190
201
192
188
192
185
192
185
223
185
228
181
213
178
198
178
CHO
(g/km)
0,05
0,05
0,05
0,04
0,04
0,04
0,04
0,4
0,013
0,022
0,036
0,025
0,19
0,007
0,004
0,004
0,004
0,004
0,004
0,004
0,004
0,004
0,003
0,004
0,003
0,002
0,003
0,002
0,003
0,0014
0,002
0,0017
0,0024
0,0014
0,0015
0,002
0,001
Emissão
Evaporativa de Combustível
(g/tes te)
23
23
23
23
2,7
2,7
2
1,7
1,6
1,6
1,2
1
0,8
0,8
0,73
0,68
0,61
0,75
ND
0,69
ND
0,9
ND
0,46
0,62
0,46
0,62
0,66
0,42
Fonte: CETESB (2011).
1
Inclusão do dióxido de carbono a partir de 2002. (Valores medidos, sem legislação
limitando as emissões).
ND - não disponível
111
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SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
Gasolina C - 78% gasolina + 22% álcool anidro (v/v).
Como pode ser observado na Tabela 2, há uma queda grande nas emissões dos
veículos ao longo do tempo, após atender a legislação vigente sobre as emissões, ou seja, as
fases do Proconve. Há uma maior emissão de CO e HC dos carros flex se compararmos
aos veículos somente mono-combustível.
Veículos Elétricos e Híbridos
No fim dos anos 80, a atenção voltou-se para os veículos elétricos que poderiam ser
a solução para a poluição das grandes cidades e poderiam ser a salvação da era do petróleo.
Neste período, o conceito de desenvolvimento sustentável ganha força e o foco muda para
o desenvolvimento de novas fontes de energia frente ao petróleo e seus derivados e novos
meios de transporte (BARAN, 2010).
Na década de 90, o estado da Califórnia se torna pioneiro ao implementar as
normas regulamentadoras para veículos limitando a emissão zero. Em 1992, ocorre a Rio92 (ou Eco-92) e esta conferência apresentou como resultados a Agenda 21. Neste
documento, cada país se compromete a refletir, local e globalmente, sobre como as
empresas, governos e os setores da sociedade podem cooperar para a solução de problemas
socioambientais. Na reunião, verificaram-se os problemas causados pelo uso da energia
fóssil em excesso e buscou-se a redução do consumo de energia fóssil pelos países
desenvolvidos, a busca por fontes renováveis e a transição para esta energia (BARAN,
2010).
Em 1999, a Honda lançou no mercado americano um veículo híbrido, o Insight.
Foi o primeiro veículo híbrido a ser comercializado nos Estados Unidos. No ano seguinte,
a Toyota lançou o Prius. Os dois veículos foram um sucesso quando foram lançados
(BARAN, 2010).
Em 2003, foi a vez do Civic ganhar a versão híbrida, com a mesma aparência e
dirigibilidade que a versão motorizada possuía. E em 2004, a Ford introduziu o Escape,
uma versão híbrida de um utilitário esportivo (BARAN, 2010).
Em 2007, visando diminuir a dependência de petróleo importado para manter a
frota americana, o governo decide investir em combustíveis limpos, e com isso cria a Energy
Independence and Security Act, a qual teria US$ 95 milhões anuais entre os anos de 2008 e
2013. Seu objetivo era a pesquisa, o desenvolvimento de um transporte elétrico e a
capacitação de pessoas para a manutenção dos veículos elétricos. Os fabricantes e
fornecedores foram beneficiados com 25 bilhões até 2020 para desenvolver veículos
híbridos e seus componentes (BARAN, 2010).
Segundo Baran (2010), foram vendidos em 2009, 598.739 unidades sendo 44% nos
EUA, 41% no Japão e o restante na Holanda, Reino Unido e Canadá. Nos EUA, os
maiores mercados se encontram em Los Angeles, Nova York, São Francisco, Washington
(D.C.) e Chicago. As vendas de híbridos nos EUA em 2008 representaram pouco mais que
4% do mercado norte-americano, totalizando 279.847 unidades.
112
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014.
SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José;
SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
Em 2009, foi criado o American Clean Energy and Security Act nos EUA. Com isso, a
Secretaria de Energia, a agência regulamentadora estatal e as distribuidoras de energia
deveriam apresentar planos de desenvolvimento de redes inteligentes integradas, já com
suporte a Veículos Elétricos Híbridos Plug-in até julho de 2012. Foi adicionado um teto de
50 bilhões de dólares para ajuda financeira às montadoras e produtoras de autopeças até
2020, visando fomentar os híbridos, reduzir a dependência do petróleo e as emissões de
gases estufa e com isso efetuar uma transferência de uma economia baseada no petróleo
para uma baseada em energia limpa (BARAN, 2010).
Há algumas variações dos carros elétricos e híbridos, segundo ABVE (2011) e
HOLLANDA (2011) algumas delas são:
a) Carro Elétrico (CE): possui pelo menos um motor elétrico;
b) Carro Elétrico a Bateria (CEB): possui baterias do carro são carregadas pela rede de
energia elétrica;
c) Carro Elétrico Híbrido (CEH): a energia elétrica para carregar as baterias é fornecida
por um gerador instalado no motor de combustão interna (MCI), fazendo com que o
motor a combustão funcione como a fonte de energia;
d) Carro Elétrico Híbrido “Plug-in” (CEHP): possui mais baterias e pode ser
carregado tanto na rede de energia elétrica como usar o gerador do motor a combustão;
e) Carro Elétrico com Células a Combustível (CECC): utiliza a energia gerada por
meio de uma célula a combustível de hidrogênio.
O veículo mais aceito dos híbridos foi o CEH, pois além de reduzir as emissões que
o motor a combustão gera, ele é mais silencioso e tem maior autonomia, usa menos
combustível do que os veículos similares somente à gasolina. Os CEB tiveram uma
evolução lenta devido às baterias. Somente recentemente elas se tornaram mais finas, leves
e com capacidade de armazenamento de energia maior, favorecendo bastante o
desempenho dos CEB. Algumas montadoras estão adotando os CEHP, pois reúne o
melhor dos carros elétricos, já que pode ser carregado tanto na rede de energia elétrica
quanto pelo motor a combustão (HOLLANDA, 2011).
Todos os híbridos disponíveis no mercado possuem um sistema de frenagem
regenerativa. Este sistema funciona capturando a energia cinética da frenagem do veículo e
a transforma em energia elétrica (ABVE, 2011). Uma das maiores limitações que o veículo
elétrico sofre é quanto a sua autonomia frente a um veículo com MCI. Torna-se
complicado percorrer grandes distâncias com o veículo sem que seja necessário efetuar a
recarga no seu SAE (Sistema de Armazenamento de Energia) (ABVE, 2011).
O Quadro 3 apresenta as baterias mais utilizadas, destacando suas vantagens e
desvantagens, com seus respectivos compostos químicos.
Quadro 3 – Baterias, compostos, vantagens e desvantagens.
MODELO
Bateria de
COMPOSTO
É composta por
VANTAGENS
Maturidade da
113
DESVANTAGENS
As descargas de energia da
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Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
Chumbo
(Lead-AcidBatteries)
óxido de chumbo
e ácido sulfúrico.
tecnologia e produção
em massa. Os custos
de aquisição não são
altos.
bateria não podem passar
20% de sua capacidade e, caso
isso ocorra, diminui a vida útil
da mesma e possui baixa
densidade de energia devido
ao peso do chumbo.
Bateria de
Hidreto de
Níquel Metálico
(Nickel-Metal
Hydride
Batteries)
É composta por
Hidreto e Níquel,
uma liga especial
de níquel, titânio e
outros metais e
uma solução
alcalina.
Possui o dobro da
densidade de energia
das baterias de
Chumbo. Possui uma
vida útil longa,
resistência a cargas e
descargas e os seus
componentes não são
agressivos ao meio
ambiente.
Se forem descarregadas a
taxas elevadas, seu ciclo de
vida pode se esgotar
rapidamente. Se o preço do
níquel aumentar, o custo final
será alto, impedindo assim a
massificação desse modelo de
bateria.
Bateria de Íons
de Lítio
(Lithium-Ion
Batteries)
É composta por
Cobalto oxidado,
carbono e sal de
Lítio.
Elevada capacidade de
energia e vida longa
útil.
Custo elevado e necessidade
de circuito eletrônico para
controlar sua carga, descarga e
temperatura.
Bateria de
Níquel-Zinco
(Nickel-Zinc
Batteries)
Alta densidade de
energia, extremamente
segura,
ambientalmente limpa
e reciclável.
Possui ciclo de vida curto e
tem o mesmo problema do
custo do níquel.
Bateria de
Npíquel-Cadmio
(NickelCadmium
Batteries)
Vida útil longa e bom
comportamento em
descargas totais de
energia
Elevado custo e o cadmio ser
lesivo ao meio ambiente.
Fonte: Elaboração própria baseada em Gonçalves (2012).
Incentivos
De modo a estimular o comércio de veículos híbridos, os governos estão oferendo
subsídios para que os consumidores optem por eles em detrimento ao veículo de
combustão interna.
Segundo Barbiere (2007), “subsídios são renúncias ou transferências de receita dos
entes estatais para os privados, podem ser isenções, redução, diferimento de imposto e de
financiamento em condições especiais com o objetivo de estimular o consumo”.
Nos EUA para a compra de um veículo 100% com autonomia estendida (híbridos
seriais plug-in), o governo concede um crédito de até US$7.500. O Nissan Leaf e outros
VEs têm benefícios similares. Além destes, os incentivos variam de estado para estado, por
exemplo, a Califórnia oferece U$5.000 para o Nissan Leaf 2011 ou Coda Sedan 2011. A
Alabama também oferece U$2.500 (ABVE, 2010).
114
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014.
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SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
As vendas do Volt começaram em 2010, após o governo liberar incentivos para a
construção da fábrica em Michigan (EUA). Ele será vendido por US$ 41 mil. Com a
isenção fiscal fornecida pelo governo Americano, o valor cai para até US$ 33,5 mil. O Volt
é a maior esperança da montadora para a recuperação financeira. Já no Canadá o objetivo
do governo de Ontário é que 5% dos veículos na estrada sejam elétricos nos próximos dez
anos e, para conseguir isso, oferece uma redução de US$8.500. Já a aquisição de VEs para a
frota governamental e para táxi a redução chega até a US$8.880 (ABVE, 2010).
Na Europa, a França, a redução chega a atingir US$6.500 (ABVE, 2010). A Bélgica
está oferecendo US$11.700 de redução no preço do VEs. Já a Dinamarca, Grécia e
República Tcheca isentam das taxas de licenciamento e de circulação. O Reino Unido
oferece isenção de taxas de licenciamento e de circulação para carros que emitem abaixo de
100 g/km de CO2 (ABVE, 2010).
Em Portugal incentivo de €1.500 para quem pagar o carro elétrico com um carro a
combustão interna. Na Espanha o preço do veículo hibrido terá abatimento em até 25% do
valor final ou até chegar à cota de €6.000 sendo estendido para ônibus, vans e táxis (ABVE,
2011).
Na Alemanha ha isenção do imposto de circulação anual por um período de cinco
anos para os carros elétricos e híbridos plug-ins. O governo anunciou uma ajuda para a
indústria automobilística de 2 bilhões de euros (US$ 2,8 bi) ate 2013 com o objetivo de
tornarem-se líder mundial em carros elétricos e tenham 1 milhão de veículos do tipo
rodando até 2020 (ABVE, 2010).
No Brasil, em alguns estados há a isenção da cobrança do IPVA (Imposto sobre a
Propriedade de Veículos Automotores) para veículos elétricos ou de força motriz elétrica.
O Quadro 4 mostra quais estados, a lei e qual categoria de veículos está isenta da cobrança
do IPVA.
Quadro 4 – Estados que isentam os veículos elétricos ou de força motriz da
cobrança do IPVA
ESTADO
Ceará
Maranhão
ARTIGO
Lei 12.023 - art. 4, IX - veículos movidos a motor elétrico
Lei 5.594 - art. 9, XI - veículos movidos a força motriz elétrica
Pernambuco
Lei 10.849 - art. 5, XI - veículos movidos a motor elétrico
Piauí
Lei 4.548 - art. 5, VII - veículos movidos a motor elétrico
Rio Grande do Norte
Lei 6.967 - art. 8, XI - veículos movidos a motor elétrico
Rio Grande do Sul
Lei 8.115 - art. 4, II - ... de força motriz elétrica
Sergipe
Lei 3.287 - art. 4, XI - veículos movidos a motor elétrico
Fonte: Elaboração própria baseada em ABVE (2010)
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Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
Alguns estados não isentaram a cobrança do IPVA dos veículos elétricos, mas
como forma de estimular a venda dos veículos, concederam uma redução na cobrança. No
Quadro 5, veem-se os estados, a lei e qual benefício eles deram aos elétricos.
Quadro 5 - Estados que concedem algum beneficio sobre o IPVA para veículos
elétricos.
ESTADO
ARTIGO
Lei 1.810 - O art. 153 prevê a possibilidade de o Poder Executivo
Mato Grosso do
reduzir em até 70% o IPVA de veículo acionado a eletricidade
Sul
Rio de Janeiro
São Paulo
Lei 2.877 - O inciso IV do art. 10 estabelece a alíquota de 1% para
veículos que utilizem energia elétrica (alíquota essa 75% inferior a dos
automóveis a gasolina)
Lei 6.606 - O inciso III do art. 7 estabelece a alíquota de 3% para
automóveis de passeio, de esporte, de corrida e camionetas de uso
misto movidos a eletricidade (alíquota essa 25% inferior a dos
automóveis a gasolina).
Fonte: Elaboração própria baseada em ABVE (2010)
A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) aprovou o Projeto de Lei nº 255 de 2010 de
Roberto Cavalcanti que suspende a cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI) por dez anos dos veículos híbridos ou movidos à energia elétrica que sejam fabricados
no país (CAVALCANTI, 2010).
Além da isenção do IPI para o veículo, algumas partes e acessórios também ficam
isentas da cobrança pelo mesmo prazo. Os acessórios que não possuem similares e que
sejam essenciais para a fabricação dos veículos também ficam livres do Imposto de
Importação (CAVALCANTI, 2010).
Há ainda a redução a zero da alíquota das Contribuições para os Programas de
Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep) e da
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), incidentes sobre a
receita bruta decorrente da venda, no mercado interno, dos veículos elétricos e híbridos
(CAVALCANTI, 2010).
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Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
O deputado Ronaldo Benedet da Câmara dos Deputados criou o Projeto de Lei
3.895/12 que cria o revendedor de energia para fins automotivos. Com isso, poderão ser
usados no Brasil os CEB e os CEHP. Segundo Benedet, “essa atividade poderá ser exercida
por concessionária ou permissionária do serviço público de distribuição de energia elétrica
ou por revendedor varejista de eletricidade registrado na Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) e o revendedor varejista poderá produzir, total ou parcialmente, a energia
elétrica que comercializar” (CAMARA, 2012).
Reciclagem Automotiva
À medida que mais e mais carros híbridos são produzidos, a sociedade preocupa-se
com o que farão com as baterias após se esgotar o seu ciclo de vida. Com as baterias de
chumbo-ácido já há o conhecimento de como fazer a reciclagem, mas as de íon-lítio usadas
nos híbridos estão apenas engatinhando quanto à reciclagem. A reciclagem dela apresentará
novos desafios à indústria. O processo não é simples, mas já há algumas empresas fazendo
o recolhimento e reciclagem das baterias de íon-lítio (ABDI, 2009).
Para analista, há ainda dez anos para a indústria se preparar, desenvolver técnicas e
aprimorar os processos de reciclagem, trabalhando de forma a maximizar os lucros e a
eficiência da planta (ABDI, 2009).
O Departamento de Energia Americano atribui à empresa Toxco US$9,5 milhões
para construir uma planta para a reciclagem de baterias de íon-lítio de veículos híbridos
(MULLIKEN, 2009).
A reciclagem da bateria procede da seguinte forma: armazenam-se as baterias em
casamatas de concreto no solo para que ele perca a eletricidade residual que há nela. Como
o lítio é facilmente explosível a temperatura ambiente, utiliza-se um processo de criogenia
que resfria a bateria a 198˚C negativos, tornando-a inerte para o processo de desmontagem
(MULILKEN, 2009).
Depois de feito o desmonte, é necessário recortar e fragmentar os metais
transformando o lítio em carbonato de lítio. O eletrólito se neutraliza com compostos
estáveis além das estruturas de plástico e outros matérias que são reciclados.
Como norma de segurança operacional, a Toxco utiliza em cerca de 90% dos
processos robôs operados remotamente (MULILKEN, 2009).
Atualmente, não é economicamente viável efetuar a reciclagem das baterias de íonlítio, mas como a quantidade de veículos com esta tecnologia tem aumentado a cada ano, a
atividade de reciclar baterias podendo ser mais importante e mais lucrativa. Atualmente, o
maior produtor de lítio do mundo é a Bolívia com cerca de 5,4 milhões de toneladas
disponíveis apenas no deserto de Uyuni. Existem no Chile cerca de 3 milhões de toneladas
disponíveis e cerca de 750.000 toneladas nos Estados Unidos. Não há relatórios
informando sobre problemas com as reservas de lítio disponíveis atualmente no mundo No
Brasil, a empresa Suzaquim efetua a reciclagem desde pilhas até baterias secundárias de íonlítio. (MULILKEN, 2009).
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Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
Visando o descarte correto o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama)
desenvolveu a Resolução n˚ 257 que visa regulamentar e disciplinar o descarte de pilhas e
baterias.
As pilhas e baterias que contenham em suas composições chumbo,
cádmio, mercúrio e seus compostos, necessário ao funcionamento de
quaisquer tipos de aparelhos,..., após seu esgotamento energético, serão
entregues pelos usuários aos estabelecimentos que as comercializam ou à
rede de assistência técnica autorizada pelas respectivas indústrias, para
repasse aos fabricantes ou importadores, para que estes adotem
diretamente, ou por meio de terceiros, os procedimentos de reutilização,
reciclagem, tratamento ou disposição final ambientalmente adequado.
A resolução entrou em vigor em junho de 2000 e tornou os comerciantes e
revendedores obrigados a fazer a logística reversa das baterias e/ou pilhas para o fabricante
e este fazer o descarte e reciclagem de maneira correta. A resolução também estabelece os
limites máximos de metais que uma bateria pode ter para ser vendida no país.
Não ha menção a baterias de lítio, se elas precisam ser reciclados ou não, e como a
resolução é antiga, espera-se que com a chegadas dos híbridos o Ibama inclua os novos
tipos de baterias na obrigatoriedade para serem reciclados, não ficando apenas na boa
vontade das empresas a destinação final das baterias apos o termino do seu ciclo de vida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral proposto por este trabalho que era identificar as vantagens
ecológicas geradas pelos veículos produzidos com motores a combustível e com motores
híbridos.
Primeiramente buscou-se identificar os tipos de motores automobilísticos
existentes, a pesquisa permitiu identificar que os motores utilizados por veículos, são
combustão, elétrico e hibrido, bem como suas vantagens e desvantagens (Quadro 6).
Quadro 6 – Vantagens e desvantagens por tipo de moto
Tipo de motor
Vantagens
Motor de
Já é conhecido por todos os
Combustão Interna mecânicos, tornando fácil sua
manutenção e o custo dos
reparos.
Elétrico
Não emitem gases, nem
produzem ruídos sonoros quando
estão em funcionamento.
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Desvantagens
Produz resíduos sonoros e
expelem gases nocivos
A reciclagem da bateria tem um
custo elevado e o veiculo tem
baixa autonomia e o tempo
para a recarga da bateria é
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Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
grande.
Hibrido
Possui uma autonomia maior que
o veiculo que possui um motor
interno a combustão, pode
funcionar só o motor elétrico, não
gerando ruídos.
O motor a combustão interna
produz gases como um veiculo
normal de hoje, ha o custo da
reciclagem da bateria que é alto.
Fonte: Elaboração própria
Os carros que funcionam com motores a combustão tem a vantagem de estarem
consolidados no mercado, serem utilizados em larga escala pelas indústrias automotivas e
terem um custo reduzido, devido os gastos com o desenvolvimento da tecnologia já terem
sido pagos e já ter ocorrido o retorno sobre o investimento.
Os carros elétricos tem a vantagem de não emitirem poluição (CO2) pelo
escapamento, isso ocorre por utilizarem somente um motor elétrico movido à bateria,
portanto, não utilizam combustíveis fosseis. Também não geram poluição sonora como os
motores a combustão.
Os carros híbridos poluem na mesma proporção que um veículo de combustão
interna, visto que há necessidade de um motor para efetuar a recarga das baterias de lítio ou
mesmo para auxiliar o motor elétrico no movimento do veículo. Outro ponto que deve ser
considerado é quanto a reciclagem dessas baterias de lítio, que é um processo caro,
realizado fora do Brasil e atualmente limitado a bateria de máquinas e equipamentos. As
condições ainda são novas e os processos ainda não atingiram sua maturidade.
A pesquisa permitiu verificar os combustíveis disponíveis para os veículos de
combustão interna disponíveis no mercado, que é a gasolina tipo C e o etanol hidratado,
que são utilizados em veículos de passeios.
Buscou-se analisar o grau de emissão de poluentes destes combustíveis no veiculo,
e segundo Cetesb (2011), ha uma grande redução na emissão do veículos ao longo dos
anos, graças ao programa Proconve, que tem fomentando a indústria a utilizar novas
tecnologias para reduzir a emissão do veiculo.
Pela pesquisa realizada pela Proconve (2013), por Junior (2009) e, pela CETESB
(2011), pode-se observar que a exigência pela utilização das normas da ISO e outras leis e
regulamentações que obrigam um maior controle sobre a emissão de poluentes, contribui
para redução da emissão do CO2.
Discutiu-se a respeito das inovações tecnológicas utilizadas nos tipos de motores
estudados, os novos componentes ou funcionalidades implantadas, contribuem para o
controle da emissão de poluentes. Desta forma foi possível ter um horizonte de visão das
tecnologias, pontos positivos e negativos de cada solução adotada atualmente pela indústria
automobilística no mundo.
Em relação aos veículos automotores é quase impossível identificar exatamente
qual o ciclo de vida dos motores automotivos, pois, a substituição de peças, utilização de
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Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
óleos e lubrificantes e outros serviços agregados, prolongam a estimativa de vida útil e
geram inúmeros resíduos.
É importante avaliar o ciclo de vida do produto (AVC), pois é uma técnica que
permite avaliar os aspectos ambientais e impactos potenciais associados a um processo,
produto ou atividade econômica, analisando diversas etapas que vão desde a extração de
matérias-primas da natureza (meio ambiente) que entram no sistema produtivo, berço do
produto, até a disposição do produto final (como resíduos) no meio ambiente, ou túmulo
do produto (CAMARGO, 2007).
Caso não se possa reciclar, reutilizar ou recuperar a energia do material, ele é
disposto, em geral, nos aterros. Para se obter uma melhoria contínua do processo e a
garantia da eficácia das medidas ambientais implementadas é fundamental o
monitoramento e a retroalimentação das informações para o sistema de gestão (OMETTO,
2005).
Atualmente existem vários veículos híbridos, ou ecológicos como são conhecidos,
são eles: Prius (Toyota), Altima Hybrid e Leaf (Nissan), Mitsubishi i-MiEV, Fusion Hybrid
(Ford), S 400 Hybrid (Mercedes-benz), Volt (Chevrolet), Active Hybrid 3 (BMW), Milan
Híbrido (Mercury), Civic Híbrido e Insight (Honda), Cayenne S Hybrid e Panamera S
Hybrid (Porsche), entre outros modelos existentes.
Entre todas as alternativas no mercado de carros ecológicos, os carros elétricos são
os mais desenvolvidos. Os preços ainda são muito altos, no entanto. Os carros elétricos são
uma alternativa muito boa no que diz respeito à redução da poluição proveniente de
veículos. Mas, esses veículos são abastecidos com eletricidade e recarregados em tomadas
elétricas, cuja origem são as estações responsáveis pela produção de energia, essas estações
emitem poluentes para a atmosfera. Não se pode dizer que esses carros são totalmente
ecológicos, mas, ainda é a melhor opção quando se trata de meio ambiente, já que produz
menos poluentes.
Durante a pesquisa identificou-se que o tema ainda é pouco explorado e que outras
pesquisas podem ser realizadas sobre o tema, como estudar o ciclo de vida de outro
componente do automóvel, por exemplo: pneus, vidros, injeção eletrônica, óleo,
estofamentos, etc.
Sugere-se que outros atores aprofundem mais na questão da reciclabilidade da
bateria, visto ser algo novo nos veículos híbridos e flex. A pesquisa também poderia ser
refeita com a inclusão de dados primários, por exemplo, para identificar a opinião do
consumidor em relação ao custo com carros elétricos.
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124
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 98-125, jan./jun. 2014.
SANTOS, Nilceia Cristina dos; BORTOLOTI, Márcio Augusto; PIACENTE, Fabrício José;
SILVA, Reinaldo Gomes da.
Análise das vantagens ecológicas de veículos automotivos com motores: flex e híbrido
1 Nilceia Cristina Dos Santos é Mestre em Administração pela Universidade Metodista de
Piracicaba, Brasil(2009) e Professora Associado da Faculdade de Tecnologia de Piracicaba.
2 Márcio Augusto Bortoloti, é Graduado em Analise de Sistemas pelo Centro Universitário
Salesiano de São Paulo, Brasil(2008).
3 Fabrício Jose Piacente é Doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de
Campinas, Brasil(2010) e Trabalha no Revista Eletrônica de Tecnologia e Cultura – RETC.
4 Reinaldo Gomes da Silva é Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, Brasil(2006) e Coordenador de Curso do Instituto Maria Imaculada ,Brasil..
125
Análise de atrazina em amostras de água
e solo por cromatografia gasosa (GCECD)
MARTINS, Carolina Xavier
SALVADOR, Priscilla de Moraes
JESUS, Julianne Dias de
FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo
AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê
TORRES, Nádia Hortense
Resumo
As ervas daninhas são um grave problema para grande parte das culturas produzidas em todo o
mundo, pois apresentam algumas características como o rápido crescimento, produção contínua,
alta longevidade e dormência. Também apresentam um curto período entre floração e germinação,
e germinam em quase todo substrato úmido e sem fertilização específica. No entanto, devido ao
fato de serem concorrentes diretas das culturas, disputando água, nutrientes e luz, é conveniente
que sejam controladas. A atrazina é uma substância que tem alto poder destrutivo, em relação às
plantas daninhas, por isso é muito empregada, principalmente nas culturas de grãos e gramíneas,
mas seu uso em excesso prejudica o solo e os mananciais. Uma técnica muito utilizada na
quantificação dessas substâncias é pela análise por cromatografia gasosa acoplada a detector por
captura de elétrons. Neste contexto, este trabalho teve como objetivo analisar amostras de água e
solo, coletadas no Ribeirão dos Porcos para quantificação de atrazina, através de análises
cromatográficas. De acordo com os resultados obtidos, as amostras de solo e água superficial
coletadas não apresentaram contaminação pelo herbicida atrazina.
Palavras-chave: Cana-de-açúcar, contaminação, herbicidas, atrazina, solo, água, cromatografia,
análises ambientais.
Abstract
Weeds are a serious problem for the majority of crops grown around the world, they present some
features such as rapid growth, continuous production, high longevity and dormancy, have a short
period between germination and flowering, have good structures for dispersion and germinate in
almost any moist substrate without specific fertilization. And because they are direct competitors of
cultures, competing water, nutrients and light, they should be controlled. Atrazine is a substance
that has high destructive power, for weeds, so it is much employed, mainly in grain crops and
grasses, but its excessive use damages the soil and water sources. A widely used technique for the
quantification of these substances is by gas chromatographic analysis. Therefore, this study aimed
to analyze soil and water samples collected in Ribeirão dos Porcos for quantification of atrazine by
chromatographic analysis. According to our analysis, samples of soil and surface water collected
were not contaminated by atrazine.
126
Keywords: Sugar cane, contamination, herbicides, atrazine, soil, water, chromatography,
environmental analyzes.
Resúmen
Las malas hierbas son un problema grave para la mayoría de los cultivos que crecen en todo el
mundo, presentan algunas características, tales como el rápido crecimiento, la producción continua,
alta longevidad y latencia, tienen un corto período entre la germinación y la floración, tienen buenas
estructuras para la dispersión y germinar en cualquier sustrato húmedo sin fertilización específica. Y
debido a que son competidores directos de las culturas, el agua, los nutrientes y competir luz, deben
ser controlados. La atrazina es una sustancia que tiene un alto poder destructivo, para las malas
hierbas, por lo que es muy utilizado, sobre todo en los cultivos de cereales y pastos, pero sus daños
uso excesivo de las fuentes de agua y suelo. Una técnica ampliamente utilizada para la cuantificación
de estas sustancias es por análisis cromatográfico de gases. Por lo tanto, este estudio tuvo como
objetivo analizar muestras de suelo y agua recogidas en Ribeirão dos Porcos para la cuantificación
de la atrazina por análisis cromatográfico. De acuerdo con nuestro análisis, las muestras de agua del
suelo y la superficie recolectada no se contaminaron con la atrazina.
Palabras-clave: Caña del azúcar, contaminación, herbicidas, atrazina, suelo, agua, cromatografía,
análisis ambientales.
127
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 126-137, jan./jun. 2014.
MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de;
FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia
Hortense;
Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD)
INTRODUÇÃO
A cultura de cana-de-açúcar é a mais representativa no Brasil, a partir dela fazemos
etanol, açúcar e energia elétrica. A cana-de-açúcar ocupa uma área de 4.900.000 ha (FAO,
1999). Como as plantas daninhas são o resultado do desequilíbrio criado pela monocultura,
elas são as únicas pragas constantes na agricultura, sendo um problema para o agricultor. O
uso de herbicidas e agrotóxicos são as tecnologias mais difundidas para o manejo de
plantas daninhas e pragas, no meio comercial da cana-de-açúcar, devido à alta eficiência de
mato controle; mais econômico que outros métodos de manejo; e aproveitamento das
condições ambientais.
A cana-de-açúcar é uma das culturas mais importantes da agricultura brasileira,
ocupando atualmente a 3ª posição em área plantada no país, perdendo apenas para a soja e
o milho. Planta-se cana, no Brasil, nas regiões do Centro-Sul e no Norte-Nordeste, o que
permite dois períodos de safra no ano (URASHIMA et al. 2010).
Originária do sudeste da Ásia, onde é cultivada desde épocas remotas, a exploração
canavieira iniciou-se com a espécie Saccharum officinarum. Hoje, após muitos cruzamentos, é
denominada Saccharum spp.
A importância da cana-de-açúcar pode ser atribuída à sua múltipla utilização,
empregada in natura, sob a forma de forragem, para alimentação animal, ou como matéria
prima para a fabricação de rapadura, melado, aguardente, açúcar, álcool, entre outros
(EMBRAPA 2013).
Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a produção nacional
para a safra 2009 foi de 612,21 milhões de toneladas, ocupando uma área total de 7.531
milhões de hectares. O estado de São Paulo teve destaque, com a maior concentração dessa
cultura com 4,1 milhões de ha, apresentando produtividade média de 78 t cana/ha, e
possuindo diversas unidades produtoras que ultrapassam a marca de 90-95 t cana/ha
(FERREIRA, 2009).
Embora a produtividade média brasileira de cana-de-açúcar tenha apresentado uma
elevação significativa (50% nos últimos 20 anos), esta atividade econômica está exposta a
diversos fatores que limitam o seu desenvolvimento. Toda a produção poderia ser ainda
maior se alguns dos problemas fitossanitários da cultura fossem adequadamente resolvidos,
influenciando direta e indiretamente na rentabilidade do empreendimento agrícola no país e
no mundo (URASHIMA et al. 2010).
E este problema está diretamente relacionado ao uso do herbicida atrazina, que é
um dos principais pesticidas utilizados na cultura da cana-de-açúcar (CAPPELINI, 2008).
Este composto é utilizado na agricultura para o combate a plantas daninhas devido a sua
capacidade de inibir a fotossíntese. Porém, a atrazina é um contaminante potencial da água
por ter uma alta persistência no solo, hidrólise lenta, solubilidade baixa para moderada,
absorção moderada à matéria orgânica e argila, e sua formula é representada por C8H14CIN5
(ARANTES, 2006).
Um dos mais relevantes problemas relacionados aos recursos hídricos tem sido a
presença de uma enorme variedade de poluentes orgânicos nas águas superficiais. Muitas
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bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 126-137, jan./jun. 2014.
MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de;
FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia
Hortense;
Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD)
dessas substâncias, incluindo os herbicidas triazínicos são tóxicos e perigosos para os
sistemas aquáticos e seres humanos. Como resultado de sua alta mobilidade no ambiente
água-solo, as triazinas podem ser encontradas em águas subterrâneas e superficiais
(ARANTES,2006).
O Estado de São Paulo se destaca por ser um dos maiores produtores de cana-deaçúcar, fazendo com que haja uma possibilidade real de contaminação do herbicida atrazina
nos rios do estado.
Nos rios em que as plantações de cana-de-açúcar encontram-se próximos à sua
margem, sendo que na maioria das vezes não há proteção por matas ciliares, facilitando a
contaminação por escoamento superficial. Neste sentido, o monitoramento de resíduos de
produtos aplicados nesta cultura e a determinação das concentrações e seus efeitos do
ponto de vista ambiental é extremamente importante para saber se os herbicidas que
inicialmente foram aplicadas nas plantações estão contaminando os recursos hídricos
(BOTELHO, 2013).
A persistência e a degradação de agrotóxicos no ecossistema aquático são
influenciadas por diversos fatores como: natureza físico-química da molécula,
características físico-químicas da água e do sedimento, conteúdo de matéria orgânica e
fisiografia (CELLA, 2009). Porém, devido à atrazina ter sido encontrada nos lençóis
freáticos, seu uso vem sendo questionado e já proibido em países europeus (GRAYMORE,
STAGNITTI e ALLISON, 2001).
Segundo GUILHERME et al (2000), os solos funcionam como “filtros” químicos e
biológicos, reduzindo o impacto ambiental provocado por produtos químicos e evitando
que resíduos dos pesticidas atinjam as águas superficiais e sub superficiais. Vários fatores
físico-químicos interferem no poder de sorção do solo, dentre eles está os constituintes de
matéria orgânica e o pH.
A presença do ácido húmico é responsável por cerca de 70% da capacidade de
sorção da atrazina (BARRIUSO et al., 1992), e na presença desse ácido, o solo
contaminado com atrazina apresenta um pH 3, abaixo do normalmente encontrado em
solos não contaminados (pH 5-7), onde a sorção é menor (TRAGETTA et al., 1996).
Os latossolos em geral são os mais utilizados no Brasil para a cultura da cana-deaçúcar. São profundos, porosos, bem drenados, bem permeáveis mesmo quando muito
argilosos, friáveis e de fácil preparo, o teor de silte é inferior a 20% e a argila varia entre
15% e 80% (SOUSA, 2008). Estes fatores minimizam os problemas de contaminação do
ambiente fazendo dele o solo mais propício ao uso do herbicida atrazina.
Porém, pode-se utilizar a cromatografia para analisar amostras, a fim de detectar
atrazina em amostras ambientais. Uma das técnicas muito utilizadas é a cromatografia
gasosa (CG). Os detectores utilizados nesta técnica são: fonte de ionização de chama
(FID), Condutividade térmica (TCD), detector de nitrogênio e fósforo (NPD), detector de
foto ionização (PID), detector fotométrico de chama (FPD), detector de espectrometria de
massas (EM), e detector de captura de elétrons (ECD).
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FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia
Hortense;
Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD)
Portanto, dentro do contexto exposto, o objetivo deste trabalho foi analisar
amostras de água e solo, coletadas no Ribeirão dos Porcos para quantificação de atrazina,
através de análises cromatográficas.
MATERIAS E MÉTODOS
Coleta das amostras de água e solo
Para o presente estudo, uma única coleta foi realizada no mês de julho de 2013,
próximo ao Sítio São Jorge, localizado na região das cidades de São João da Boa Vista e
Vargem Grande do Sul, Estado de São Paulo, que fazem parte da região de Campinas,
fazendo divisa com o Estado de Minas Gerais, conforme mostra a Figura 2.
Figura 1. Mapa do Estado de São Paulo destacando a cidade de São João da Boa Vista.
Fonte: Adaptado de Wikipedia (2014).
As terras do município estão na região da Serra da Mantiqueira e próximas à linha
de contato com a região sedimentar (Depressão Periférica), tendo um clima tropical quente.
O solo predominante é do tipo latossolo. A vegetação original é de mata tropical.
O principal rio é o Jaguari-Mirim. Com muitos afluentes, constitui uma grande
bacia fluvial na região. Os principais afluentes do Jaguari-Mirim são: o Ribeirão do Prata,
Córrego São João e o Ribeirão dos Porcos (SCANNAPIECO, 2011).
Foram coletadas amostras no Ribeirão dos Porcos e no seu entorno, a qual é utilizada para
o plantio da cana-de-açúcar, no período de julho de 2013, seguindo recomendações citadas
no APHA (2005) e EPA (2007). Após a coleta, as mesmas foram direcionadas para o
laboratório a fim de serem analisadas. Para a realização do preparo das amostras de água e
solo para análises cromatográficas foram utilizados alguns materiais e reagentes, como funil
de separação; copo de buchi e balão; funil; filtro de papel; vials de 2 e 60 mL; Buchi
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FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia
Hortense;
Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD)
Syncore Vacum Pump V-7000; pipeta de Pasteur; ultrassom; fitas medidoras de pH;
balança analítica; nitrogênio; sulfato de sódio (NO2SO4); diclorometano; proveta; padrão
surrogate; cromatógrafo gasoso acoplado a detector de captura de elétrons (GC-ECD)
(Agilent Technologies). modelo 5740.
Extração das amostras de água
Um volume da 400 mL de amostra de água foi inserida em um funil de separação.
O pH foi aferido, e se a amostra apresentava-se no estado neutro, foram adicionados 16µL
do padrão surrogate. Após esse processo, a amostra foi submetida em meio ácido e em
seguida adicionou-se 80 mL de diclorometano, agitou-se por alguns minutos e fez-se a
primeira filtração. Depois da primeira filtração foi adicionada à mesma a base, aferiu-se o
pH e adicionou novamente 80ml de diclorometano, agitou e filtrou. Após esse
procedimento, a amostra passa pelo processo de concentração através do equipamento
Buchi Syncore Vacum Pump V-7000, por alguns minutos. Em seguida, é transferida para
um vial de 2mL e levada para o equipamento Jec vap por alguns minutos para receber
nitrogênio. A amostra de água depois de todo processo foi de 400µL e em seguida foi
realizada a análise cromatográfica.
Extração das amostras de solo
Inicialmente pesou-se 20g de solo no vial de 60mL, adicionou-se sulfato de sódio,
40 µL do surrogate e 60 mL de diclorometano. Feito isto, a amostra foi levada para o
ultrassom por 25 min. Após este tempo, a amostra foi filtrada em um balão e adicionou-se
novamente ao solo o diclorometano, em seguida mais 25 min no ultrassom e fez-se a
segunda filtração. Em seguida foi feita a concentração da mesma pelo equipamento Buchi
Syncore Vacum Pump V-7000 e pelo Jec vap para receber nitrogênio. O volume total da
amostra de solo após todo o processo foi de 1 mL.
Análise cromatográfica
A detecção da atrazina nas amostras de água e solo foi realizada empregando o
sistema constituído por um cromatógrafo a gás equipado com injetor split/splitless e
acoplado a um espectrômetro de massas (Agilent Technologies). A separação foi feita
empregando uma coluna capilar DB-5 (0,25 mm x 30 m, espessura do filme de 0,25 µm) (J
& W Scientific) nas seguintes condições (Tabela 1):
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MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de;
FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia
Hortense;
Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD)
Tabela 1. Condições cromatográficas para determinação de atrazina



Cromatógrafo a gás
(temperatura)



Coluna



Fluxo
Injetor

tv = 240ºC
tc = 60ºC, durante 1 min
20ºC/min até a temperatura de
150ºC
10ºC/min até a temperatura de
280ºC
td = 230ºC
DB-5 (0,25 mm x 30 m, espessura
do filme de 0,25 µm)
28,0 mL/min
Splitless
Tempo de corrida cromatográfica
de 17 min
Volume injetado = 2 µL.
A curva de calibração do equipamento para a metodologia aplicada foi obtida com
pontos que variam de 10 a 1500 PPB, e a concentração da amostra foi de 500 µL.
Validação da metodologia
As validações metodológicas foram realizadas após a definição das faixas de
trabalho de acordo com os seguintes itens:


Limite de detecção do método (LD) – O LD é definido como a
concentração mínima do analito medida e declarada com 95% de
significância estatística de que a concentração do analito é maior que zero;
Limite de quantificação do método (LQ) – O LQ é a menor concentração
do analito que pode ser determinada com um nível aceitável de precisão e
veracidade.
O LQ da curva é de 0,00005 mg/L e o LD é 0,000001 mg/L.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD)
A partir da análise cromatográfica do solo e da água, foram obtidos os seguintes
resultados (Tabela 2).
Tabela 2: Resultados analíticos das amostras analisadas
Resultados
Resolução
Compostos
analíticos
CONAMA 357/05
Atrazina em amostra
< 0,5 µg/L
2 µg/L
de água superficial
Atrazina em amostra
< 0,003 mg/kg
0,003 mg/kg
de solo
LQ
µg/L
< 3,0 µg/L
< 3 µg/L
De acordo com os resultados expressos na tabela 2, foi constatado que ambos não
estavam contaminados com o herbicida atrazina. Para ser considerado agente poluente, os
valores de atrazina devem ser maiores que 2,0 µg/L, para a água e 0,003 mg/kg no solo,
baseados na resolução do CONAMA 357/05. E, conforme as análises realizadas, os
resultados analíticos foram < 0,5 µg/L para a amostra de água superficial e < 0,003 mg/kg
para a amostra de solo. Com Limite de Quantificação (LQ) inferior a três.
Alguns fatores podem ter influenciado nesse resultado, como:
- O solo estava em descanso para nova plantação e é um latossolo. O latossolo é um tipo
de solo que ajuda a amenizar a contaminação pela Atrazina devido a suas características já
citadas, junto ao fator de a meia vida do agente ser de 60 a 100 dias.
- Pelos motivos anteriormente citados, a contaminação não chegou ao recurso hídrico mais
próximo, o rio.
Entretanto, isso não quer dizer que esse herbicida não seja utilizado na plantação,
apenas não foi detectado no período coletado. Seria interessante coletar outras amostras
logo após o plantio, que é a fase na qual a atrazina é aplicada, após isto quantificar seus
valores e verificar se o local está contaminado ou não pela referida substância.
Segundo Cerdeira (2010) a atrazina é um herbicida altamente persistente nos solos
e tem mobilidade considerada de moderada a alta em solos com pouco conteúdo de argila
ou matéria orgânica. Devido às suas características físico-químicas, esse herbicida não é
fortemente adsorvido às partículas de solo e tem meia-vida de 60 a 100 dias, e por isto, o
herbicida pode não ter sido encontrado nas amostras coletadas. A mobilidade desses
compostos pode ser influenciada pelas condições climáticas como índice pluviométrico e
temperatura, bem como as características intrínsecas do solo (CANUTO, 2010).
Uma das alternativas para remoção dessas substâncias é barreiras usando
trincheiras, aterros ou óleos vegetais. Essas barreiras impedem que as substâncias sejam
carregadas pelos fluxos das águas. Outro mecanismo de remoção é o uso de minhocas que
são capazes de adsorver esses compostos. A biodegradação da atrazina pode variar de
acordo com o tipo de solo, microbiota presente e disponibilidade de nutrientes como
carbono e nitrogênio (CARMO, PIRES e OLIVEIRA, 2013).
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Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD)
Algumas classes de solos apresentam comportamentos diferenciados no que diz
respeito à contaminação ambiental por pesticidas. Os Latossolos, solos mais empregados
na agricultura, são solos relativamente menos erodíveis, armazenando maior quantidade de
água e apresentando lençol freático mais profundo. Tal fato pode, de certa forma,
minimizar o problema de contaminação ambiental causado pelo uso de pesticidas. Os solos
de várzea, com lençol freático mais elevado, constituem ambiente de maior risco à
contaminação por poluentes (ARANTES, 2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A avaliação de parâmetros físico-químicos e químicos de qualidade da água e solo
é importante para a compreensão do funcionamento dos ecossistemas, e de problemas
ambientais. A aplicação de metodologias precisas e seguras contribui para o alcance desses
objetivos. Neste trabalho foi possível observar que os compostos apresentaram valores
ideais, isentos de contaminação, sendo que o LQ encontrado foi menor que três. Portanto,
todos os resultados estiveram dentro dos valores esperados previstos através das injeções
das amostras em cromatógrafo a gás acoplado a detector de captura de elétrons.
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Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD)
SCANNAPIECO. João Batista. São João da Boa Vista. Disponível em:
<http://www.guiasaojoao.com.br/guiasaojoao/000/pag/acidade/geografia.htm> Acesso
em 03 de Novembro de 2013
SÃO
JOÃO
DA
BOA
VISTA.
Disponível
em:
<http://www.cidadesaojoao.com.br/index.php> Acesso em 03 de Novembro de 2013.
SÃO JOÃO DA BOA VISTA. Disponível em: <http://www.saojoao.sp.gov.br/home/>
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SOUSA. Djalma M. G; LOBATO. Edson. EMBRAPA. Latossolos. Disponível em:
<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia16/AG01/arvore/AG01_96_101120051
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São
João
da
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Disponível
em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Jo%C3%A3o_da_Boa_Vista. Acesso em 12 de
Julho de 2014.
136
bioenergia em revista: diálogos, ano 4, n. 1, p. 126-137, jan./jun. 2014.
MARTINS, Carolina Xavier; SALVADOR, Priscilla de Moraes; JESUS, Julianne Dias de;
FERREIRA, Luiz Fernando Romanholo; AMÉRICO, Juliana Heloisa Pinê; TORRES, Nádia
Hortense;
Análise de atrazina em amostras de água e solo por cromatografia gasosa (GC-ECD)
1 Carolina Xavier Martins é Graduanda em Tecnologia em Biocombustíveis na Fatec Piracicaba.
2 Priscilla de Moraes Salvador é Graduanda em Tecnologia em Biocombustíveis na Fatec Piracicaba
3 Julianne Dias de Jesus é Graduanda em Tecnologia em Biocombustíveis na Fatec Piracicaba
4 Luiz Fernando Romanholo Ferreira é Doutor em Microbiologia Agrícola pelo ESALQ, Brasil(2009)
Professor PPG I - 1 da Universidade Tiradentes , Brasil.
5 Juliana Heloisa Pinê Américo é Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, Brasil(2010) e Aluna de Pós-Graduação (Doutorado) do Centro de Aquicultura da UNESP
(CAUNESP), Brasil.
6 Nádia Hortense Torres é Doutora em Química na Agricultura e no Ambiente (CAPES 7) pelo Centro de
Energia Nuclear na Agricultura, Brasil(2014) e Trabalha no African Journal of Microbiology Research.
137
Dilemas da sustentabilidade urbana
MANFRON Paulo A.
PINHEIRO Renes R.
CARON Bráulio O.
MARQUES Tadeu A.
RAMPAZO Érick M.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo mostrar a relação dos indivíduos com o meio ambiente, e a importância
de um crescimento e desenvolvimento sustentável para uma qualidade de vida, da nossa e futuras
gerações. Atualmente, as discussões sobre novos conceitos e modelos de desenvolvimento englobam
questões referentes ao meio rural e urbano, pois os problemas encontrados nestes ambientes não podem
ser considerados de forma isolada e independente. A preservação do meio ambiente deve ser entendida
como essencial para a qualidade de vida da nossa e futuras gerações. Neste contexto se verifica a grande
importância de uma gestão pública-privada participativa e compartilhada, com ênfase na coresponsabilização por uma melhor qualidade de vida, com estímulos para ações preventivas na direção de
um desenvolvimento sustentável. Nestas ações necessitamos da continuidade, persistência e manutenção
dos direitos individuais de cada indivíduo, possibilitando a todos uma vida com qualidade.
Palavras-chave: sustentabilidade, meio ambiente, desenvolvimento sustentável, preservação ambiental,
qualidade de vida.
Abstract
This work aims to show the relationship between individuals and the environment, and the importance of
sustainable growth and development for a quality of life, and our future generations. Currently,
discussions of new concepts and models of development include issues related to rural and urban areas, as
problems encountered in these environments can not be considered in isolation and independently. The
preservation of the environment should be seen as essential to the quality of life of our and future
generations. In this context it appears the great importance of a public-private participatory and shared
management, with an emphasis on co-responsibility for a better quality of life, with incentives for
preventive action towards sustainable development. These actions need continuity, persistence and
maintenance of individual rights of each individual, allowing everyone a life with quality.
Keywords: sustainability, environment, sustainable development, environment preservation, Quality of
life
Resumen
Este trabajo tiene como objetivo mostrar la relación entre las personas y el medio ambiente , y la
importancia del crecimiento sostenible y el desarrollo de la calidad de vida , y nuestras futuras
generaciones. Actualmente , las discusiones sobre los nuevos conceptos y modelos de desarrollo incluyen
cuestiones relacionadas con las zonas rurales y urbanas, los problemas encontrados en estos ambientes no
138
pueden considerarse de manera aislada e independiente. La preservación del medio ambiente debe ser
visto como esencial para la calidad de vida de nuestros y futuras generaciones. En este contexto, se deduce
la gran importancia de una gestión público-privada participativa y compartida, con un énfasis en la
corresponsabilidad de una mejor calidad de vida, con incentivos para la acción preventiva hacia el
desarrollo sostenible . Estas acciones necesitan continuidad , persistencia y el mantenimiento de los
derechos individuales de cada persona , lo que permite a todos una vida con calidad.
Palabras clave: sostenibilidad, medio ambiente, desarrollo sostenible, preservación del medio ambiente,
calidad de vida
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MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick
M.
Dilemas da sustentabilidade urbana
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos têm sido frequentes as discussões sobre as relações do homem com o
meio ambiente. Essas discussões são decorrência de uma melhor compreensão dos impactos
negativos que as atividades humanas têm provocado no meio ambiente e principalmente do
aumento no número de eventos, resultados destas ações, sob a forma de inundações, degradação
do solo, efeito estufa, esgotamentos de recursos naturais, entre outros.
Inicialmente voltadas para o ambiente natural, as discussões sobre novos conceitos e
modelos de desenvolvimento, aos poucos, passaram a englobar questões referentes ao meio
urbano. Essa nova visão tornou-se inevitável principalmente devido ao fato que as cidades
tornaram-se o principal refúgio da sociedade moderna, é nelas que a maior parte da população
passou a morar, onde se dá o grande consumo do que é gerado nas demais áreas e
consequentemente onde são gerados os maiores volumes de resíduos desse processo.
Os problemas encontrados no ambiente urbano ocorrem de forma paralela e interligada
aos problemas do meio ambiente natural, não podendo assim, ser considerados de forma isolada
e independente. O ritmo das atividades humanas e a geração de resíduos são algumas das
preocupações das sociedades atuais, no sentido da preservação ambiental como garantia de
sobrevivência às futuras gerações.
A preservação do meio ambiente entendida como elemento essencial à satisfação das
necessidades humanas das gerações atuais e futuras tem sido o ponto central das discussões
acerca do meio ambiente e dos modelos de desenvolvimento. Apesar da complexidade e das
dificuldades de implementação, o desenvolvimento sustentável tem avançado, tanto nas
discussões teóricas quanto em diversas práticas, o que tem contribuído para que este modelo seja,
cada vez mais, visto como uma alternativa a ser seguida. É neste contexto que discutiremos os
dilemas da sustentabilidade urbana, a partir da análise dos impactos da ação do homem sobre o
meio ambiente e os reflexos desse novo modelo de desenvolvimento que é posto em discussão.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Define-se por Desenvolvimento Sustentável um modelo econômico, político, social,
cultural e ambiental equilibrado, que satisfaça as necessidades das gerações atuais, sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades.
Este termo foi usado pela primeira vez em 1987 no Relatório Brundtland, elaborado pela
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criado em 1983 pela Assembléia
das Nações Unidas (INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIÇÃO
INTERNACIONAIS – ICONE, 2012; JACOBI, 1999).
A definição mais usada para o desenvolvimento sustentável é: “O desenvolvimento que
procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e
no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização
humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e
preservando as espécies e os habitats naturais” (Relatório Brundtland).
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M.
Dilemas da sustentabilidade urbana
O desenvolvimento sustentável se baseia em três componentes básicos: a sustentabilidade
ambiental, a sustentabilidade econômica, e a sustentabilidade sócio-política.
A Sustentabilidade Ambiental é a noção de que existe a necessidade da manutenção das
funções e componentes do ecossistema. Uma maneira de que o homem continue produzindo e
tirando da natureza o que precisa, mas sem destruir o ecossistema no processo.
A ONU tem
como objetivos integrar os princípios de desenvolvimento sustentável nas políticas e programas
nacionais e internacionais, e tentar reverter a perda de recursos ambientais, reduzindo a perda
gradativa da biodiversidade. Além disso, há uma tentativa de reduzir pela metade o número de
pessoas sem acesso a saneamento básico e água potável, e o objetivo de melhorar, até 2020, a
qualidade de vida de pelo menos cem milhões de pessoas que, agora, vivem abaixo da linha da
pobreza.
A Sustentabilidade Econômica é a tentativa de incorporação de medidas pró meio
ambiente na política social e econômica regulamentada por cada país, em um esforço para
integrar os princípios de igualdade social, preservação ambiental e crescimento controlado e
sustentável polícia e economicamente, medindo o lucro não apenas em razões financeiras, mas
também em desenvolvimento humano.
A Sustentabilidade Sócio-Política visa humanizar a economia, e formar pessoas mais
cientes das necessidades ambientais de seu planeta, ao mesmo tempo em que potencializa a busca
por recursos reutilizáveis, que fortaleçam a economia em todas as suas vertentes, não apenas a
financeira, mas a humana. A Agenda 21 e as Metas de Desenvolvimento do Milênio são dois
programas criados pela ONU para garantir que os princípios de sustentabilidade sócio-econômica
saiam do papel e se tornem efetivos. A primeira é uma verificação global de impactos sobre o
meio ambiente; já a segunda é uma série de compromissos concretos, nos âmbitos de
desenvolvimento e produção de riqueza, que compila diversos acordos realizados nos anos 90
que, se forem cumpridos dentro de seus prazos, irão resultar em um grande salto para o destino
do planeta.
O desenvolvimento sustentável tem como princípio, em suma, a integração entre
desenvolvimento social, ecológico e econômico, visando um futuro melhor para todos, como
pode ser visto na Figura 1, as bases do desenvolvimento sustentável.
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M.
Dilemas da sustentabilidade urbana
Figura 1. As bases do desenvolvimento sustentável. Fonte: Adaptado de dados do IBGE,
2000.
O AMBIENTE URBANO
Quando se fala em meio ambiente pensa-se logo em áreas naturais, normalmente rurais,
em preservação de florestas, cerrados, etc. Mas a área urbana de um município, ou seja, a área em
que há significativas alterações antrópicas, tais com construções de prédios, arruamentos, praças
públicas, também é possível defini-la como um meio ambiente, denominada “meio ambiente
urbano”. Mota (1999) define o ambiente urbano como sendo formado por dois sistemas
intimamente inter-relacionados: o “sistema natural” composto do meio físico e biológico (solo,
vegetação, animais, água) e o “sistema antrópico” consistindo do homem e de suas atividades, de
forma que o ambiente urbano interage com o ambiente natural e os reflexos das atividades
humanas podem ser visto em ambos.
As cidades também podem ser definidas como ecossistemas, formados por necessidades
biológicas e culturais. As necessidades biológicas são ar, água, espaço, energia (alimento e calor),
abrigo e disposição de resíduos e as necessidades culturais são organização política, sistema
econômico (trabalho, capital, materiais e poder), tecnologia, transporte e comunicação, educação
e informação, atividades social e intelectual (recreação, religião, senso de comunidades, etc.) e
segurança.
No meio ambiente urbano encontram-se todas as preocupações sócio-ambientais que se
encontram no meio ambiente rural natural, acrescido fortemente do fator humano e suas obras
como habitação, meios de locomoção, vias públicas, etc. Incluem-se também neste meio, as
condições relativas ao ambiente de trabalho interno e externo de empresas ou indústrias. Vale
salientar que a cidade não funciona como um sistema fechado, onde o homem possa encontrar
tudo o que necessita, mas sim, deve ser entendida como um sistema aberto, dependente de outras
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Dilemas da sustentabilidade urbana
partes do meio ambiente geral. Esta característica de sistema aberto, que troca materiais e energia
como outros ambientes, para atender as necessidades do homem, resultando na produção de
resíduos que são lançados, geralmente, na área urbana, acaba gerando problemas ambientais nas
próprias cidades, visto que, parte do que entra na cidade volta para o ambiente externo, na forma
de produtos e, muitas vezes, como resíduos.
Sobral (1996) acrescenta ainda que o sistema urbano é incompleto, visto que o fluxo de
energia e matéria, característico de todo ecossistema e que mantêm a sua autonomia é, no sistema
urbano, parcial e unidirecional, uma vez que a cidade é apenas um local de consumo, estando os
centros produtores situados fora de seu território. Além disso, os elementos que vem das áreas
produtoras para as de consumo não têm retorno, acumulando-se nestas, na forma de poluentes,
excesso de energia, geração de entropia. Do ponto de vista termodinâmico, a cidade é um sistema
em permanente desequilíbrio. Na Figura 2 é possível verificar a ocupação do território brasileiro,
evidenciando a menor porção ocupada pela urbanização, embora os produtos gerados nas áreas
produtoras sejam direcionados aos grandes centros.
600
65%
Milhões de hectares
500
400
300
23%
200
100
7%
4,5%
0
Áreas produtivas Vegetação nativa
Pastagens
Urbanização
Figura 2. Ocupação territorial do Brasil, 2011.
Fonte: Adaptado de Instituto de Estudos do Comércio e Negócios Internacionais – ICONE,
2012.
Com a urbanização, o ser humano transformou ambientes naturais, criando outros
artificialmente em uma complexa teia de obras para atender todas as suas necessidades como um
ser social. Isto implica em problemas relacionados ao ambiente, sua conservação e qualidade,
sendo importante estudar e conhecer profundamente o então criado meio ambiente urbano, para
que se possa melhorar a qualidade de vida dentro das aglomerações urbanas.
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Dilemas da sustentabilidade urbana
O ecossistema urbano difere ainda dos outros sistemas naturais, pela ação predominante
do homem, provocando mudanças intensas e rápidas. O homem tem a capacidade de dirigir suas
ações utilizando o meio ambiente como fonte de matéria e energia ou como receptor de seus
produtos e resíduos. Devido a esta ação predominante do homem sobre o ambiente, pode-se
dizer que existe certo “controle” do homem sobre o ambiente, o qual em determinado período
foi considerado total, atualmente, já não pode mais sê-lo.
A postura, de excessiva valorização do individual, da tecnologia, do produto e da
economia, contribuiu para acentuar os reflexos negativos de sua ação, tais como: a extinção de
recursos naturais, poluição do ambiente natural e conseqüente deterioração da qualidade de vida,
pobreza, miséria, má distribuição de renda, devastação dos recursos naturais, entre outros, os
quais ocorrem tanto em países desenvolvidos, como em desenvolvimento. As cidades
diferenciam-se dos demais sistemas naturais ainda pela sua dinâmica social e econômica. Nos
países em desenvolvimento, a dinâmica social e econômica é marcada por um quadro de
desigualdades que se refletem na forma urbana, principalmente nas periferias das grandes cidades.
O crescimento acentuado da população e das cidades, não acompanhado do devido
crescimento da infraestrutura urbana tem resultado em cidades desiguais. As cidades passam a
serem “divididas”, gerando assim uma cidade formal e outra informal num mesmo espaço, cujas
inter-relações mostram-se cada vez mais complexas e conflituosas. Para Abramo (2003) as
cidades da informalidade são um desafio incontornável para a promoção de cidades com um
componente de equidade urbana e social. Confirmando o quadro de diferenças nas grandes
cidades brasileiras, Taschner (2003) afirma que uma marca da nossa sociedade é a desigualdade, e
esta característica reflete-se tanto no diferencial entre regiões, quanto entre cidades, como
também dentro do espaço intra-urbano, onde a segregação é uma presença constante.
No processo de construção das cidades, o ambiente natural desempenha um papel
importante, impondo restrições às cidades que se refletem em um desenho urbano diferenciado.
Pode-se ver inclusive, a predominância de assentamentos precários em áreas de encostas, fundos
de vales e alagados, enquanto a cidade formal ocupa as áreas mais próprias aos assentamentos
humanos. Com isso, ao longo dos últimos anos, tem-se verificado uma significativa concentração
populacional nas metrópoles brasileiras, com importantes implicações demográficas e
socioeconômicas, sem que haja uma política metropolitana, que busquem suprir as carências
urbanas, reduzir as desigualdades sociais e atenuar a segregação residencial, fenômenos esses que
acompanham o processo de aglutinação populacional nas metrópoles.
De acordo com um estudo sobre a Rede Urbana Brasileira (Baeninger e Gonçalves, 2000 apud
IPEA/NESUR/IBGE, 1999), no Brasil, há 13 metrópoles e outras 37 aglomerações urbanas não
metropolitanas. Esse conjunto metropolitano, atualmente, é composto por 453 municípios que
concentram mais de 70 milhões de pessoas, respondendo, portanto, pela significativa parcela,
aproximadamente, 40% do total da população nacional. Na Figura 3 pode-se observar a
concentração populacional brasileira em regiões super povoadas. Portanto, o meio ambiente
urbano é de relevante importância nos estudos urbanísticos e deve ter a atenção dos estudiosos
de todas as áreas de influência sobre esse complexo item de nossa sociedade. Assim, podemos
perceber que o meio ambiente pode exercer influências sobre o processo de urbanização, através
de características que lhe são favoráveis ou não, como o relevo, o solo, o clima, etc. Por outro
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Dilemas da sustentabilidade urbana
lado, o processo de urbanização provoca modificações no meio ambiente, alterando suas
características, causando impactos com reflexos indesejáveis ao próprio homem. Torna-se então,
imprescindível entender como tem ocorrido o processo de desenvolvimento urbano para poder
contribuir para um planejamento em consonância com os novos modelos de desenvolvimento
sustentável e preservação ambiental.
DESENVOLVIMENTO URBANO
O processo de urbanização é uma realidade constatada mundialmente. Em todo o mundo
este processo tem sido intenso, modificando rapidamente a dinâmica das cidades. No Brasil, esse
fato iniciou-se em meados do século XX sob a influência de diversos fatores, como a migração
rural-urbana e a explosão da industrialização nas grandes cidades. Observando a Figura 4
percebe-se claramente a tendência de centralização das populações nas cidades, com diminuição,
inclusive em termos absolutos, da população rural. Ao mesmo tempo em que os centros urbanos
ganham indiscutível protagonismo econômico e político, afirmando-se como espaços territoriais
mais propícios à criação de riqueza e de emprego e como os meios mais criativos e inovadores,
eles também são dotados de um conjunto significativo de aspectos negativos associados à
sociedade atual, tais como a degradação ambiental, a exclusão social, a insegurança e os
congestionamentos de tráfego.
Figura 3. Densidade demogáfica do Brasil, 2010.
Fonte: Adaptado dos dados do Censo 2010 do IBGE.
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Dilemas da sustentabilidade urbana
200
81%
Milhões de habitantes
População Urbana
Poulação Rural
150
78%
76%
100
68%
50
55%
64% 45%
56%
44%
32%
24%
22%
19%
36%
0
1950
1960
1970
1980
1990
2000
2010
Figura 4. População urbana e rural do Brasil de 1950 à 2010.
Fonte: Adaptado do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
Os homens e as mulheres vêm ocupando de forma cada vez mais intensa as áreas urbanas
afetando em conseqüência todo o meio-ambiente. No Brasil, no ano de 2000, a taxa de
urbanização já era de 81,25% e o estado mais urbanizado, o Rio de Janeiro, possuía uma taxa de
urbanização de 96,04%, como podem ser analisadas na Figura 5, apresentando maiores taxas de
urbanização as regiões sul, sudeste e centro-oeste.
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M.
Dilemas da sustentabilidade urbana
Posição Estado
1º
2º
3º
4º
5º
6º
7º
8º
9º
10º
11º
12º
13º
14º
15º
16º
17º
18º
19º
20º
21º
22º
23º
24º
25º
26º
27º
Rio de Janeiro
Distrito Federal
São Paulo
Goiás
Amapá
Mato Grosso do Sul
Paraná
Espírito Santo
Rio Grande do Sul
Santa Catarina
Minas Gerais
Mato Grosso
Pernambuco
Amazonas
Tocantins
Rio Grande do Norte
Roraima
Paraíba
Ceará
Alagoas
Sergipe
Rondônia
Acre
Bahia
Pará
Piauí
Maranhão
Taxa
Urbana
96.71
96.62
95.88
90.29
89.81
85.64
85.31
85.29
85.10
83.99
83.38
81.90
80.15
79.17
78.81
77.82
76.41
75.37
75.09
73.64
73.51
73.22
72.61
72.07
68.49
65.77
63.07
Taxa
Rural
3.29
3.38
4.12
9.71
10.19
14.36
14.49
14.51
14.90
16.01
16.62
18.10
19.85
20.83
21.19
22.18
23.59
24.63
24.91
26.36
26.49
26.78
27.39
27.93
31.51
34.23
36.93
Figura 5. Taxa de urbanização brasileira, por estado, 2010.
Fonte: Adaptado de dados do IBGE.
Esta concentração da população nas áreas urbanas interfere no meio-ambiente natural,
principalmente de três formas: pela utilização do solo natural como solo urbano; pela utilização,
extração e esgotamento dos recursos naturais; pela disposição dos resíduos urbanos. Conforme
novas cidades são constituídas e as atuais se expandem, a terra agrícola e os habitats naturais como
as matas, os campos, as encostas e os mangues se transformam em habitações, estradas,
indústrias, etc. A população urbana e suas atividades econômicas requerem recursos que
excedem, em muito, o que a própria cidade pode fornecer. Desta forma a cidade passa a
necessitar de alimentos, água e energia provenientes de outros lugares. Adiciona-se a isso a
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Dilemas da sustentabilidade urbana
necessidade de dispor os resíduos por ela produzidos, que não conseguem ser absorvidos pelo
ecossistema local.
A escala do consumo urbano, a geração de resíduos e seu impacto ambiental variam
consideravelmente de cidade a cidade, e dentro da cidade, de área para área. É lógico que cidades
ricas contribuem desproporcionalmente para o problema ambiental global, tanto no que diz
respeito à utilização de recursos como quanto a emissão de poluentes na natureza.
Em contraposição a esta situação, a contribuição das cidades pobres no que diz respeito à
utilização de recursos per capita e aos níveis de geração de resíduos, tende a ser menor, o que
ocasiona um menor impacto em relação à questão ambiental global. No entanto a pobreza da
população interfere de forma aguda nas condições ambientais locais.
Os pobres urbanos não tendo alternativas, muitas vezes estabelecem-se em
assentamentos precários em áreas ecologicamente frágeis. Inúmeras vezes esses assentamentos
não são atendidos de forma adequada por coleta de esgotos, por sistemas de drenagem ou coleta
de lixo e em consequência, os resíduos líquidos e sólidos se acumulam e degradam o solo,
causando também inundações. Embora as cidades representem algumas vezes uma interferência
radical nos terrenos naturais, a quantidade de solo ocupada pelas áreas urbanas ainda é muito
pequena. Algumas estimativas apontam para números da ordem de 1% da área seca da superfície
terrestre (BAENINGER e GONÇALVES, 2000).
As mudanças dos sítios naturais para as atividades da agricultura, pecuária e infraestrutura
como, por exemplo, geração de energia e transportes, apresenta significativa importância quando
se trata de estudos ambientais. A ocupação urbana leva ao desperdício do solo e ao aumento dos
custos de infraestrutura e dos serviços públicos. Em função da necessidade de utilização de
transporte motorizado causado por esta dispersão no espaço, eleva-se o consumo de energia e
consequentemente, a poluição do ar torna-se um problema disseminado.
AS ATIVIDADES HUMANAS E A POLUIÇÃO
As alterações causadas pelas atividades humanas ao meio ambiente são as mais diversas.
Nas cidades, algumas dessas alterações são mais caracterizadas devido às concentrações
populacionais. Dentre os efeitos ambientais destas atividades pode-se destacar o desmatamento,
inevitável para qualquer ocupação humana, porém, ocorrido de forma desordenada e
descontrolada com efeitos nocivos tanto para o meio ambiente, como para o homem; a
terraplanagem, cujas alterações na topografia têm efeitos em cadeia que vão desde a alteração dos
sistemas de drenagem natural até o assoreamento de corpos d‟água e as enchentes; podem-se citar
ainda as erosões, aterros, impermeabilização do solo, modificações em ecossistemas e as diversas
formas de poluição.
As alterações no ambiente urbano refletem-se não somente no ambiente natural, mas no
mesmo ambiente construído, tais como adensamento de áreas e poluição sonora e visual. Dessa
forma, além dos impactos iniciais, as cidades passam a sofrer de seus próprios males, sob a forma
de diferentes tipos de poluição que se inter-relacionam e interagem e que refletem,
principalmente, na saúde do homem.
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Dilemas da sustentabilidade urbana
Para efeito didático, podem-se dividir os principais tipos de poluição em: poluição do
solo, do ar, da água, acústica e visual. Didática, pois de fato, dificilmente estes tipos de poluição
ocorrem de forma isolada, geralmente ocorrem conjuntamente, com várias relações de
interdependência entre elas. Por exemplo, a disposição inadequada de lixo em terrenos baldios
pode causar simultaneamente a poluição do solo e da água, através do líquido gerado pelo resíduo
que percola pelas camadas do solo, podendo atingir o lençol freático e o ar, através da queima e
dos gases gerados e, visual, pelo aspecto desagradável dos resíduos. Assim, torna-se importante
conhecer as diversas formas de poluição, e como ocorrem, seus fatores e processos, para poder
fazer o devido planejamento ambiental, de forma a prevenir e minimizar os impactos das
atividades humanas no meio ambiente. A Figura 6 apresenta de forma simplificada alguns
reflexos das atividades humanas ao meio ambiente e ao homem.
Figura 6. Atividades humanas no meio ambiente urbano e a poluição ambiental.
Fonte: Adaptado de Mota, 1999.
A seguir é apresentado um breve resumo de como podem ocorrer algumas das formas de
poluição mais comuns no ambiente urbano.
Poluição do solo
O solo atua frequentemente como um filtro, tendo a capacidade de depuração e
imobilizando grande parte das impurezas nele depositadas. Esta propriedade tem sido utilizada,
mesmo quando não percebemos, pelo homem há muito tempo e é extremamente importante
também no ciclo da água. No entanto, essa capacidade é limitada, podendo ocorrer alteração da
qualidade do solo, devido ao efeito cumulativo da deposição de poluentes. Com a concentração
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da população e o crescimento das cidades esta capacidade vem sendo cada vez mais
comprometida.
A poluição do solo se dá basicamente sob duas formas: atividades humanas que
provocam alterações em suas características e lançamento de resíduos no solo. As principais
fontes de poluição do solo são: aplicação de agentes químicos, presença de dejetos oriundos de
animais, despejos de resíduos sólidos, lançamento de resíduos líquidos, domésticos ou industriais,
atividades que possam resultar na erosão do solo. Dentre as fontes citadas acima, umas das
grandes preocupações para as cidades é a questão dos resíduos sólidos, principalmente por que
até bem pouco tempo, e ainda hoje em algumas cidades, a prática mais comum é a disposição dos
resíduos sólidos urbanos em lixões a céu aberto, geralmente nos arredores das cidades.
Dos impactos negativos desse tipo de disposição inadequada dos resíduos pode-se citar:
aspecto estético desagradável; maus odores, resultantes da decomposição dos detritos;
proliferação de insetos e roedores, transmissores de doenças; possibilidade de acesso de pessoas,
podendo ocasionar doenças por contato direto; poluição da água subterrânea ou superficial,
através da infiltração de líquidos e carreamento de impurezas por escoamento superficial;
possibilidade de queima dos resíduos, como incômodos a população e causando poluição do ar;
desvalorização de áreas próximas ao depósito de resíduos sólidos.
Veja que, a muito tempo se discute que mesmo a solução conhecida como “aterro
sanitário” quando não corretamente aplicada, pode causar poluição do solo e, a partir daí,
provocar a poluição de águas superficiais e subterrâneas nas proximidades (Mota, 1999). Outra
fonte de poluição do solo é o lançamento de resíduos líquidos, domésticos ou industriais, no
solo.
A poluição do solo por esta fonte de poluição pode ocorrer em duas condições: falta de
um sistema adequado de esgotamento sanitário, favorecendo a prática não correta de dispor os
dejetos humanos ou resíduos industriais diretamente sobre o solo ou em processos de tratamento
de esgoto, quando o líquido é disposto em lagoas de estabilização ou utilizado em práticas de
irrigação. Além da poluição do solo, há o perigo de contato das pessoas com organismos
patogênicos, lançados no solo. Considerar ainda, a erosão do solo como forma de poluição, visto
que é um processo de modificação da estrutura do solo, além do que é uma das grandes fontes de
poluição da água, através do carreamento de resíduos para os corpos d‟água.
Poluição da água
É tamanha a quantidade de água na Terra, três quartos de sua superfície são cobertos por
água. Com tal abundância, pensam alguns, jamais faltaria esse líquido precioso. Infelizmente não
é bem isso o que acontece, porque há uma distribuição desigual das reservas de água no planeta,
variando numa relação de 1:1000 entre um deserto e uma floresta tropical. Além disso, a maior
parte da água, em torno de 97%, está nos oceanos e mares, não podendo, portanto, ser utilizada,
a não ser a partir de caros processos de dessalinização.
As fontes de água doce, as mais vitais para os seres humanos, são justamente as que mais
recebem poluentes. Muitos lugares do planeta, cidades e zonas agrícolas correm sério risco de
ficarem definitivamente sem água. Além disso, poder-se chegar a uma época em que não haja
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nenhum lugar no planeta com águas limpas. A causa fundamental dessa tragédia ecológica, que
pode eventualmente piorar se medidas sérias não forem tomadas, é o aumento acelerado de
várias formas de poluição, além da ocupação desordenada em regiões de preservação de
mananciais.
A poluição da água pode ser definida como qualquer alteração das suas propriedades físicas,
químicas ou biológicas, que possa prejudicar a saúde, a segurança e o bem-estar das populações,
causando danos à flora e à fauna, ou comprometer o seu uso para fins sociais e econômicos. As
principais fontes de poluição dos rios, lagos, ribeiros, toalhas de água, águas superficiais e
subterrâneas, são as águas residuais resultantes da indústria, da agricultura e das atividades
domésticas. Na Figura 7 observa-se que as cidades são responsáveis pela maior parcela do uso da
água. As águas residuais estão carregadas de sais minerais, substâncias não biodegradáveis,
fertilizantes, pesticidas, detergentes e micróbios. Tornam a água imprópria para abastecimento
público e põe em causa a vida dos seres vivos que habitam os rios, ribeiros e lagos. De acordo
com a sua natureza e concentração, os poluentes apresentam diferentes efeitos sobre o meio
ambiente e a saúde pública, apresentando-se na Figura 8 alguns dos efeitos da poluição da água
mais relevantes.
4000
Cidades
Indústrias
Agricultura
Outros
Km³/ ano
3000
2000
1000
0
1940
1950
1960
1970
1980
Figura 7. Uso mundial da água por setores
Fonte: Adaptado de Teixeira, W. et all., 2000.
151
1990
2000
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Figura 8. Diferentes efeitos da poluição aquática sobre a saúde humana e sobre o meio
ambiente.
Fonte: Adaptado do Instituto de estudos do Comércio e Negócios Internacionais, ICONE,
2012.
Poluição do ar
Outra forma de poluição cujos reflexos sobre homem urbano são os mais desastrosos é a
poluição do ar. Característica de zonas urbanas, a poluição do ar depende das fontes de emissão e
também de fatores ambientais como as condições climáticas e topográficas do sitio onde se
localizam estas fontes.
As fontes de emissão da poluição do ar estão sob controle direto do homem e delas
depende o tipo de poluente, períodos de emissão e as quantidades. Já os fatores ambientais
podem influir positivamente ou não nos efeitos destes poluentes. As características climáticas do
ambiente contribuem para dispersar, transformar e remover os poluentes gerados pelas atividades
urbanas, enquanto que as condições topográficas do meio influem na circulação do ar. As
principais fontes de poluentes atmosféricos são as indústrias, os meios de transporte, a
incineração de resíduos sólidos e processos de queima de combustíveis para diversos fins. Dentre
os efeitos desagradáveis causados no meio ambiente pelos poluentes atmosféricos pode-se citar:
danos à saúde humana, contribuindo para maior incidência de doenças respiratórias, irritações
nos olhos e pulmões, podendo causar até a morte. É importante salientar que os efeitos da
poluição do ar na saúde humana nem sempre são imediatos, podendo ocorrer em longo prazo,
em conjunto com outras causas; redução da visibilidade, causada, principalmente, pela presença
de material particulado na atmosfera; danos aos animais; prejuízos aos materiais, tais como:
corrosão do ferro, aço, mármore; deterioração da borracha, produtos sintéticos e tecidos, sujeira
de roupas, prédios e monumentos; danos aos vegetais; chuvas ácidas (precipitação de águas com
pH inferior a 5,6), as quais se forma devido a presença, principalmente, de dióxido de enxofre e
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óxidos de nitrogênio, originando ácido nítrico, ácido sulfúrico e acido nitroso. As chuvas ácidas
têm efeito direto no abastecimento humano e outros usos, bem como no meio ambiente de uma
forma geral, como na vegetação, fauna aquática, no solo, corrosão de monumentos, edificações,
etc.
Sobral (1996) mostra dados de que no período de 1984 e 1990, na cidade de São Paulo, a
chuva que precipitou sobre a cidade apresentou um caráter ácido, onde os resultados das análises
de 404 amostras de chuvas, possuíam valores mais frequentes de pH entre 4,2 e 4,5 e somente
6,4% das amostras apresentaram valor neutro. É importante também citar que os poluentes
atmosféricos lançados em um determinado lugar podem causar impactos em outras áreas,
principalmente pela ação dos ventos que podem carrear estes resíduos para áreas adjacentes.
Poluição acústica
A poluição acústica é um fenômeno tipicamente urbano e são vários os fatores
responsáveis pela poluição sonora nos fluxos urbanos, os principais são o barulho que é emitido
pelos veículos automotores (caminhão, ônibus, carros e motos), e também em construção civil,
sons que são produzidos o tempo todo e em grande altura. O que causa tanto problema é que, o
conjunto de emissores de sons funcionando simultaneamente alcança elevados índices, apesar de
muitas vezes passar despercebido.
O principal efeito da poluição acústica é a perda gradativa da audição. Além de contribuir
para outros sintomas como a irritabilidade, incômodo, exaustão física, distúrbios psíquicos,
perturbações do sistema nervoso central até mesmo para perturbações cardíacas e circulatórias. O
limite máximo tolerável para a saúde humana é de 65dB. O efeito sobre a saúde humana
dependerá, contudo, do nível de ruído e do tempo de exposição, por exemplo, uma pessoa que
trabalhe 8 horas por dia, todos os dias, com ruídos do nível de 85dB, após dois anos, apresentará,
com certeza, problemas auditivos causados pela poluição sonora. Uma forma de amenizar a
poluição sonora é a utilização de equipamentos de segurança (fones de ouvido por exemplo) e a
aplicação de tecnologias menos ruidosas ou que abafem os ruídos. Esse tipo de poluição como já
mencionado acima pode causar muitos danos ao organismo, principalmente porque nós não nos
preocupamos com ela, alguns causadores da poluição sonora são: os veículos que fazem ruídos e
sua buzina; as indústrias; as construções que utilizam máquinas barulhentas;
casas noturnas que deixam o volume do som muito alto.
Algumas medidas, que se adotadas, beneficiaria muito os ruídos urbanos são as citadas a
seguir: redução no uso das buzinas de veículos; multas contra lojas que fazem propagandas
barulhentas; recolhimento de veículos sem silenciadores; redução de publicidade por auto
falantes.
Poluição visual
Outra forma de poluição tipicamente urbana é a visual. Ocorre basicamente através da
ocupação e de construções sem o devido estudo de impacto visual, distribuição inadequada de
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equipamentos urbanos, disposição inadequada de resíduos sólidos e também pelas técnicas de
propaganda.
CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE URBANA
Na situação atual do meio urbano é inquestionável a necessidade de implementar políticas
públicas orientadas para tornar as cidades social e ambientalmente sustentáveis como uma forma
de se contrapor ao quadro de deterioração crescente das condições de vida. Para colocar em
prática a sustentabilidade urbana, um dos principais esforços necessita ser para a geração de
empregos com práticas sustentáveis e ampliar o nível de consciência ambiental, estimulando a
população a participar mais intensamente nos processos decisórios, como um meio de fortalecer
a sua co-responsabilização no monitoramento dos agentes responsáveis pela degradação sócioambiental.
O principal desafio que se coloca nos dias atuais é que as cidades criem as condições para
assegurar uma qualidade de vida que possa ser considerada aceitável, não interferindo
negativamente no meio ambiente do seu entorno e agindo preventivamente para evitar a
continuidade do nível de degradação, realidade nas regiões habitadas pelos setores mais carentes.
A possibilidade de maior acesso à informação, principalmente para os grupos sociais mais
excluídos, pode potencializar mudanças comportamentais necessárias para a defesa de questões
vinculadas ao interesse geral. Cidadãos bem informados, ao se assumirem enquanto atores
relevantes têm mais condições de pressionar autoridades e poluidores, assim como de se motivar
para ações de co-responsabilização e participação comunitária (JACOBI, 1999).
As questões urbanas, que estão intimamente relacionados com a sustentabilidade, são as
opções de transporte, o planejamento e uso do solo e o acesso aos serviços de saneamento e
infraestrutura básica, todos eles com grandes potenciais de riscos ambientais. Isto impõe
mudanças profundas na questão da ocupação indevida de áreas de risco, na priorização do
transporte público e na lógica que prevalece nos sistemas de limpeza urbana - redução do lixo,
reciclagem e coleta seletiva, políticas de destinação de resíduos. É necessária a redução dos
nossos consumos particulares, reutilizar o que é possível, e principalmente reciclar e dar um fim
apropriado nos nossos descartes no meio aonde vivemos, como pode ser visto na Figura 9, os
dilemas apara um desenvolvimento sustentável.
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Dilemas da sustentabilidade urbana
Figura 9. Dilemas do desenvolvimento sustentável. Fonte: Adaptado de Mota, 1999.
Destaque-se ainda, a importância de uma gestão compartilhada com ênfase na coresponsabilização na gestão do espaço público e na qualidade de vida urbana, e o estímulo
crescente às ações preventivas, não esquecendo que para um desenvolvimento sustentável
necessitamos dar continuidade, manter o direito individual de cada indivíduo, possibilitando a
todos uma vida com qualidade.
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(org.). Cidade da Informalidade: o desafio das cidades latino-americanas. Rio de Janeiro: Sete Letras,
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MANFRON Paulo A.; PINHEIRO Renes R.; CARON Bráulio O.; MARQUES Tadeu A.; RAMPAZO Érick
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1 Paulo Augusto Manfron, Agrônomo, Prof. Dr. Universidade do Oeste Paulista/Unoeste,
Pesquisador do CNPq. [email protected] Autor Correspondente.
2 Renes Rossi Pinheiro, Agrônomo, Me. em Agronomia pelo CESNORS/UFSM, Doutorando pela
ESALQ/USP. [email protected]
3 Bráulio Otomar Caron, Agrônomo, Prof. Dr. Centro de Educação Superior Norte-RS/UFSM,
Frederico Westphalen, RS. [email protected]
4 Tadeu Alcides Marques, Agrônomo, Prof. Dr. Universidade do Oeste Paulista/Unoeste,
Presidente Prudente, SP. [email protected]
5 Érick Malheiros Rampazo, Estudante de Agronomia, Universidade do Oeste Paulista/Unoeste,
Presidente Prudente, SP. [email protected]
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