A BÍBLIA E AS CONFISSÕES
Introdução
O novo ano da Igreja vai precisar muito da mensagem bíblica. Quando se faz essa afirmação, a
pergunta que logo vem à mente é: “Por quê?” Será que a Bíblia foi menos necessária em 2012, ou
2011? O que há de diferente no novo ano eclesiástico que já se aproxima?
De certa forma a mensagem da Bíblia é igualmente importante e necessária em todos os dias da
existência humana. Não há um dia em que se possa dispensar essa Palavra. Mas há dias em que
precisamos de forma especial, de Deus e da sua Palavra. Poderíamos dizer que o mesmo se dá com
a oração. Devemos, podemos e precisamos orar, falar com Deus diariamente. Deus nos recomenda
dizendo: “Invoca-me no dia da angústia.” (Sl 50.15) Vivemos dias agitados no mundo. A crise
européia continua. Os Estados Unidos clamam por dias melhores, a liga árabe sempre em guerra, o
Brasil com seus problemas morais, enfim o mundo vai precisar muito da Bíblia, a Palavra de Deus,
para que o temor ao Senhor, traga sabedoria, discernimento e dias melhores.
Nesse nosso trabalho queremos destacar:
1. O que as Confissões Luteranas falam sobre a necessidade da Bíblia na vida do ser humano.
2. Num segundo momento, a atualidade das Sagradas Escrituras, e a necessidade de valorizala e usa-la no cotidiano da vida.
Estudar as nossas Confissões, ver e ouvir o que nossos reformadores passaram e como defenderam
a centralidade da Palavra, suas verdades, seu ensino, a teologia da cruz, e a justificação pela fé em
Cristo, é muito importante, necessário e fundamental.
Disse o professor Paulo P. Weirich:
A Reforma do século XVI fez com que, na segunda metade do milênio, a igreja estivesse em
permanente estado de alerta quanto à questão essencial: o que é realmente evangelho? Desde
a rejeição das proposições luteranas pelo Concílio de Trento até o diálogo católico-luterano
que resultou na tentativa de convergência da Declaração Conjunta de Augsburgo em outubro
de 1999, necessário é admitir que a questão da confessionalidade em função da fidelidade ao
evangelho é vital para a igreja cristã. Verdade é que a discussão em torno da
confessionalidade pode se tornar um fim em si em alguns momentos. Mas onde essa
discussão não acontece, o evangelho tende a ser sufocado por práticas, posturas e discursos
que o anulam. 1
Existem igrejas e pessoas que não aceitam, questionam a validade das confissões na vida e prática
da igreja. Nesse sentido o pastor e professor Otto Goerl, já falecido, escreveu:
1. Vejamos alguns argumentos contra a adoção de confissões:
a) Por que confissões se temos a Bíblia? Elas são desnecessárias, são supérfluas.
b) Elas podem tornar-se tradições humanas, decretos oficiais da igreja, que se colocam
ao lado ou até acima da Bíblia. Por isso são perigosas.
c) A fé é algo bem pessoal que não pode ser definida e formulada por terceiros e
imposto à consciência do indivíduo.
1
Seibert, Erni Walter. Introdução às Confissões Luteranas, Concórdia Editora, Porto Alegre, RS, 2000, p. 9
d) As confissões têm apenas valor histórico, cumpriram sua missão no passado, ao
passo que hoje, em condições diferentes, não podem mais ser invocadas. Tornaram-se
obsoletas.
e) As confissões são fórmulas mortas que não permitem à igreja acompanhar o avanço
de seu século e de interpretar os dogmas bíblicos à luz do conhecimento progressivo
da humanidade.
f) As confissões são letras frias, definições abstratas; o que vale é um cristianismo vivo
e ativo.
Pode haver ainda outras objeções, mas limitamo-nos às mais invocadas contra o uso de
confissões na igreja.
2. Em resposta assinalemos os pontos cardeais do autotestemunho das confissões luteranas:
a) Elas insistem em repetir que não querem apresentar coisas novas, mas tão somente as
verdades divinas tiradas das Escrituras do Antigo e do Novo Testamento. (Intr. do
Livro de Concórdia).
b) Elas enfatizam que somente “a Escritura Sagrada é o único juiz, norma e regra, de
acordo com que todas as doutrinas devem e têm de ser discernidas e julgadas”. (Intr.
da Fórmula de Concórdia).
c) Elas querem ser, isso sim, “testemunho e exposição da fé” o que vale dizer, uma fiel
interpretação das doutrinas escriturísticas. (Idem).
d) Igualmente procuram evitar que “pessoas turbulentas e briguentas, que não querem
prender-se a uma forma fixa da doutrina pura” abusem da liberdade para introduzir
erros, com o resultado que “a doutrina pura seja obscurecida e se perca”. (Intr. do
Livro de Concórdia).
3. Acresce que as confissões seguem a orientação da própria Escritura no que diz respeito a
seu caráter e objetivos.
a) A confissão é um resumo das verdades bíblicas que facilita seu estudo. Sirva de
exemplo o Catecismo Menor de Lutero, que se tornou a confissão mais usada e
conhecida. São notórios alguns resumos que encontramos na Bíblia: os Dez
Mandamentos, o Pai Nosso, o sermão do monte e, sobretudo, a clássica redução dos
10 Mandamentos a 2 apenas. Cf. Jo 21.24,25; Mt 22.37-40.
b) A confissão serve de bandeira, distintivo, testemunho frente a terceiros. – Mt
10.32; 16.13-16; Jo 1.49; 6.69; Rm 10.9; 2 Co 4.13; Hb 4.14; 1 Pe 3.15. CREMOS,
ENSINAMOS E CONFESSAMOS.
c) A confissão luta pela irrestrita fidelidade à palavra revelada, defendendo a verdade
e combatendo o erro. – Jo 6.66-68; 1 Tm 4.15,16; 6.3-5; 2 Tm 4.1-4; Cl 2.8; Gl 1.8; 1
Jo 4.1. REJEITAMOS E CONDENAMOS.
d) A confissão quer ajudar, através de uma interpretação exata e uma formulação
concisa dos ensinamentos bíblicos, a aproximar e unificar os crentes em Jesus,
dentro de um ecumenismo real e autêntico. – Ef 4.3-6; 1 Co 1.10; 1 Tm 1.3,4; Hb
13.8,9. (Cf Mt 22.41-46). FÓRMULA DE CONCÓRDIA.
e) A confissão, sendo um extrato das doutrinas escriturísticas, longe de ser uma fórmula
morta, no dizer da teologia racionalista e liberal, conduz ao manancial da água viva
que refrigera a alma, dá vida e salvação. – Jo 6.63,68; 4.10; 7.37,38.2
2
Goerl, Otto. Fórmula de Concórdia, Concórdia S.A., Porto Alegre, RS, 1997, p.13 e 14
2
Por isso, falarmos sobre as Confissões, termos elas como pano de fundo, diante dos problemas e
dificuldades atuais, parece-nos muito importante, para que o evangelho permaneça vivo entre nós.
2. A importância das traduções da Bíblia
Segundo o Dicionário Houaiss, tradução é uma “operação que consiste em fazer passar um
enunciado emitido numa determinada língua para o equivalente em outra língua”.
Disse o pastor Dr. Rudi Zimmer, presidente da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) e das Sociedades
Bíblicas Internacionais (SBI): “Mais do que mera substituição de palavras, tradução é um ato de
comunicação, pois o texto traduzido precisa fazer sentido.”3
Para traduzir corretamente, a pessoa precisa conhecer a língua original, bem como ter pleno
domínio da língua em que vai traduzir, sua interpretação do vocabulário, para que traduza fielmente
o que foi dito no original.
Lutero tinha essa preocupação. Lutero queria que o povo alemão lesse e entendesse o que estava
lendo, como Deus a deixou, e o que ele queria que fosse entendido e deixado, chegasse ao
conhecimento e entendimento do povo alemão.
Falando sobre a tradução que ele havia trabalhado e feito para o alemão, Lutero disse em suas
Tischreden:
Essa Bíblia – e que eu não me vanglorie, pois essa obra é uma glória por si mesma – é tão
boa e tão excelente, que posso dizer ser ela a melhor de todas as versões, quer grega ou
latina, e nem se encontra muito mais do que em todos os escritos que a comentam.” E Lutero
continuou: “Carrego comigo a preocupação de que não se lerá muito na Bíblia, pois se está
bastante enfastiado dela, e ninguém mais se lembra dela.4
Uma boa tradução da Bíblia é muito importante, por isso a SBB ou Sociedade Bíblica Mundial se
preocupam tanto com a capacidade, o preparo, o conhecimento nas línguas originais daqueles que
nela trabalham. Mesmo assim, por maior que seja o cuidado na tradução, nada substitui o original.
A tradução sempre será uma semelhança interpretativa, também por isso, quando se apresenta uma
nova versão da Bíblia, geralmente ela cria polemica, discussão, descontentamento, e muitas vezes,
rejeição.
Essa é uma situação que vivemos hoje no Brasil. Creio que devemos, sempre, ter muito zelo e
cuidado com a boa tradução, o que efetivamente nossas Sociedades Bíblicas têm, mas, em vez de
perder tempo discutindo qual a melhor tradução, deveríamos nos ocupar em incentivar, apoiar e
divulgar a Palavra de Deus, para que seja lida e meditada sempre mais e mais.
O que as Confissões falam sobre a Bíblia
Segundo Augustus Nicodemus Lopes, a hermenêutica de Lutero redimiu as Escrituras do cativeiro
da exegese medieval e do controle da Igreja Católica Romana. 5
As Confissões Luteranas são vistas pelos luteranos como confissões e não como tratados
teológicos. Elas não pretendem ser dogmáticas. Elas não são fruto de trabalho de laboratório,
mas expressão de luta, em campo. São a expressão de convicções de fé, testemunhos
públicos diante da oposição. A abordagem das Confissões não é abrangente, no sentido de
3
Zimmer, Rudi. Documento à CTRE, IELB, 2011.
Wolf, Manfred. Mais uma pergunta, Dr. Lutero, Sinodal, São Leopoldo, RS, p. 23
5
Lopes, Augustus Nicodemus. Lutero ainda Fala. Um ensaio em História da Interpretação Bílbica, http://old.thirdmill.org, p. 1
4
3
que todos os temas da fé precisassem estar presentes em seu conteúdo. As Confissões
abordavam os temas em que havia problemas a serem resolvidos.6
Esta ênfase está presente na Confissão de Augsburgo, nos Artigos de Esmalcalde e na Fórmula de
Concórdia. As Confissões Luteranas não eram simples debate ou disputa teológica, mas era uma
defesa convicta, fiel e firme da Palavra de Deus. Elas eram feitas, vividas e defendidas dentro
daquele espírito, que levou o Dr. Martinho Lutero dizer e confessar: “Se vierem roubar, os bens,
vida e o lar, que tudo se vá, proveito não lhes dá, os céus nos são deixados.” Theodore E. Schmauk
disse: “As Confissões são Escritura digerida, assimilada e pulsando na vida da Igreja.”7
As Confissões tinham fundamentação bíblica. Para ser bíblico, não basta citar a Bíblia, é necessário
fazer a exegese correta, interpreta-la adequadamente. Por exemplo, arrependimento não é fazer
penitência, mas mudar de vida.
Assim também, segundo as Confissões Luteranas, é necessário descobrir o tema central da Palavra,
para fazer a devida e correta interpretação da mesma.
O tema central da Escritura, segundo o que nós cremos e confessamos, aponta para o amor de Deus,
e a obra redentora de Cristo Jesus.
Dizer que a maior contribuição da reforma foi dar mais liberdade de opinião ao ser humano, é um
erro.
As Confissões acreditam que Deus deu sua palavra. O homem, ao recebê-la, não deve ser
auto-suficiente ou orgulhoso. Não compreender totalmente a Escritura não deve ser motivo
para rejeitá-la. O que Deus concedeu é precioso demais para ser perdido ou falsificado com
doutrina falsa. Antes deve ser crido, pregado e partilhado.8
Os Catecismos foram escritos para combater e vencer a ignorância do povo. Lutero tinha uma
grande preocupação no fato de o povo desconhecer a Palavra e por isso, os Catecismos era uma
forma simples, fácil de levar essa Palavra ao povo, começando em casa, com os filhos. Por isso
Lutero começou o Catecismo Menor dizendo: “Como o chefe de família deve ensina-los com
simplicidade a sua casa.”9
Assim também a Confissão de Augsburgo foi objetiva, pacífica, com fundamentação bíblica.
A Confissão de Augsburgo foi escrita para um encontro político, onde havia um poderoso
imperador católico no auge de seu poder. Ela também tinha em vista as Teses de Eck que
tentavam identificar os luteranos com movimentos radicais do período da Reforma. Sob tais
circunstâncias, a Confissão foi pacifista em vez de polêmica, em relação ao romanismo. Ela
foi ecumênica e não sectária. Ela foi escriturística e não escolástica, e mais popular que
acadêmica.10
Assim o Livro de Concórdia, um documento da Igreja, contendo suas confissões de fé e vida,
baseado nas Escrituras Sagradas, tem como objetivo apontar a justificação pela fé.
O Livro de Concórdia é também um documento teológico. Os documentos que formam o
Livro de Concórdia são coerentes e consistentes, com bom ensino bíblico. Isso mostra que
há, por detrás de sua elaboração, uma visão sistemática da Escritura. O centro do Livro de
6
Seibert, op. cit., p. 12
Schmauck and Benze. The Confessional Principle and the Confessions of the Lutheran Church, Philadelphia, general Council Publication board, 1991, p. 9
8
Seibert, op. cit., p. 13
9
Livro de Concórdia, CM, I, p. 366
10
Seibert, op.cit., p. 14
7
4
Concórdia é a doutrina da justificação pela fé, que é o centro do evangelho. Há nesta
teologia uma organicidade unificada.11
Se nós pensarmos nos dias de hoje, especialmente no Brasil, na realidade que conheço, onde
pseudo-pastores, falsos profetas, enganam e exploram o povo com promessas de prosperidade,
curas, milagres, solução para todo o tipo de problemas, mas, por outro lado, exploram o sofrimento
humano, um povo carente, massacrando-o com ameaças de castigo divino se não fizerem isso ou
aquilo. Com hipocrisia e quase deboche, se oferece ajuda com objetos hipoteticamente abençoados,
nesse universo o Livro de Concórdia é muito atual e necessário. Apontar para a graça, a
misericórdia, o amor de Deus, e não méritos humanos. Hoje não se vendem indulgências, mas se
explora a fragilidade humana, querendo vender a graça de Deus. Como falta e é necessário apontar
para o Deus de amor e misericórdia, o Deus que acolhe e recebe o pecador arrependido, o Deus que
não promete livramento dos sofrimentos e aflições desse mundo, mas muito melhor, promete
livramento do sofrimento eterno, e estar do nosso lado todos os dias, como vencedor que é, na
caminhada rumo à felicidade eterna no céu. Nessa caminhada, por mais difícil que seja, também
promete não nos abandonar, mas nos convida a confiar e entregar toda a nossa vida em suas mãos
(Sl 37.5; Mt 11.28).
Nas Confissões não temos muitas citações bíblicas, mas todas as Confissões estão baseadas,
fundamentadas na Palavra de Deus. As contestações sempre foram refutadas à luz da Bíblia
Sagrada.
Vociferam nossos adversários que eles é que são a igreja, eles é que seguem o
consenso eclesiástico. Acontece, todavia, que Pedro, aqui, em nossa questão, também
cita o consenso da igreja: “Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio
de seu nome, recebe remissão dos pecados, etc.” sem dúvida que se deve ter na conta
de consenso da igreja universal o consenso dos profetas. Nem ao papa nem à igreja
concedemos o poder de decretar contra esse consenso dos profetas. Mas a bula de
Leão abertamente condena esse artigo da remissão dos pecados, e outro tanto fazem
os adversários na Confutação. Evidencia-se daí o que devemos pensar da igreja dessa
gente, que não só desaprova, por decretos, a sentença segundo a qual obtemos a
remissão dos pecados pela fé, não em virtude de obras nossas, mas por causa de
Cristo, senão que ainda ordena que essa doutrina seja abolida pela força e pela
espada, e que por meio de toda espécie de crueldades sejam destruídos os bons
homens que assim pensam. 12
As Confissões também destacam a lei e o Evangelho. Ap IV, 5, 102; Ap XII, 53; Ap IV, 87.
Lei e evangelho são, para as Confissões, o resumo de toda Escritura. Seguindo nessa linha
de pensamento, o evangelho é o resumo de lei e evangelho. O evangelho é o resumo não
excluindo a lei, mas em distinção à lei, como promessa de Deus e perdão. Por isso, ele deve
ser estimado milhares de vezes mais que os juízos e mandamentos.
Essa ênfase no evangelho sugere que ele seja a norma na Escritura e a Escritura é a norma
para encontrar o evangelho. Por ser o evangelho o norteador da Escritura e por ser a
Escritura norma no testemunho do evangelho, entende-se por que todos os artigos das
Confissões, tentando preservar o evangelho, preservam a Escritura como norma de fé. (Ap,
IV,2-4. P.5-7)
Sem o conhecimento do evangelho, a Bíblia permanece ininteligível e inútil. A partir do
evangelho, que é o centro, todas as afirmações particulares da Escritura recebem seu lugar e
11
12
Ibid. p. 15
Livro de Concórdia, Concórdia Editora, Porto Alegre, RS, 1980, Apologia da Confissão, art. XII, 66 e 67
5
sentido próprios. O fato de serem usadas passagens bíblicas não torna ninguém bíblico.
Deve-se distinguir entre doutrina bíblica e biblicismo ou bibliolatria. 13
Portanto, em nossas Confissões, o Evangelho tem um destaque todo especial. O Evangelho não é
um livro que existe para si mesmo, mas é mensagem de Deus dirigida a nós. Não é doutrina por si,
mas é proclamação. O Evangelho não está em nós, mas nós o recebemos da parte de Deus, vindo a
nós por meio da Palavra e nos trazendo a absolvição. A Palavra ouvida ou lida, através da qual o
Espírito Santo age em nós e opera a fé em nós.
O Espírito Santo domina completamente o pensamento e a teologia de Lutero. Para entender-se a
teologia de Lutero é preciso conhecer o seu pensamento sobre a ação do Espírito Santo. Em todas as
questões decisivas da doutrina luterana, o Espírito Santo ocupa lugar fundamental
Lutero foi um homem muito inteligente, mas também muito humilde. Ele fazia questão de aplicar
tudo sempre á vida prática do cristão, para que as pessoas humildes entendessem as verdades
eternas de Deus.
Lutero dizia que o homem só podia amar a Deus, depois que o Espírito Santo agiu nele, operando o
arrependimento e a fé. O homem, por si só, não pode amar a Deus, é preciso que o Espírito Santo,
primeiro transforme a sua vida, como disse o apóstolo João: “Nós amamos, porque ele nos amou
priemiro.” (1 Jo 4.19). É o Espírito Santo que age em nós, por meio da Palavra e dos Sacramentos, e
nos faz reconhecer o amor de Deus, em Cristo Jesus. Só depois disso é que o ser humano consegue
amar a Deus. Esse amor não é mérito ou conseqüência do esforço do ser humano, mas ação do
Espírito Santo na vida, no coração do ser humano.
O ESPÍRITO SANTO E OS MEIOS DA GRAÇA
Os meios da graça podem ser definidos como a forma, a maneira que o Espírito Santo age na vida
do ser humano, para anunciar o amor de Deus, ou seja, através da Palavra e dos Sacramentos.
Para entendermos o conceito de Lutero sobre a Palavra de Deus, é preciso também compreender o
que ele afirmou sobre lei e evangelho. Lutero fazia a seguinte distinção a respeito da Palavra de
Deus: Palavra Interna e Palavra Externa. A Palavra Externa é a palavra de Deus escrita e revelada a
nós nas Escrituras Sagradas, a Bíblia. E a Palavra Interna é a palavra de Deus, propriamente dita.
Sem a palavra interna de Deus a palavra externa (Escritura), seria meramente palavra de homens. A
palavra externa atinge apenas o ouvido do homem, porém a palavra interna atinge o coração. A
palavra externa só atinge o seu efeito quando vem impregnada da palavra interna, mas, por outro
lado, a palavra interna precisa da palavra externa para atingir o coração do homem. A palavra
externa é o veículo que o Espírito Santo usa para poder comunicar a palavra interna no coração do
homem. A palavra é um instrumento do Espírito Santo. Tanto a palavra interna, como a palavra
externa fazem parte deste instrumento, e uma está intimamente ligada a outra. Assim como não se
pode separar o calor do sol de seus raios, também não se pode separar o Espírito Santo da palavra
externa e interna.
Lutero não aceitou separar o Espírito Santo da Palavra, porque a finalidade do Espírito Santo em
usar a Palavra é de fazer com que Cristo esteja realmente presente na vida do cristão. O apóstolo
João chamou Cristo de Verbo. O Verbo é a palavra, e é a Palavra em ação. Cristo é o Verbo que fez
a ação de salvar o homem. E este Verbo continua em ação, através da Palavra, que é comunicada ao
homem pelo Espírito Santo. Por isso, Cristo, como Vervo e Palavra, está intimamente ligado ao
Espírito Santo, e o Espírito Santo age em função da obra salvadora de Cristo, através da palavra.
Por isso, se quisermos separar o Espírito Santo da palavra, forçosamente estaremos separando o
13
Seibert, op.cit., p. 18
6
Espírito Santo de Cristo, e isso é impossível, porque o Pai e o Filho e o Espírito Santo são um.
Cristo, o Verbo e a palavra, formam uma unidade com o Pai e o Espírito Santo, unidade esta
indivisível e inseparável. Portanto, o Espírito Santo age no cristão, por meio da palavra. Todo o
espírito que agir fora da palavra não é o Espírito Santo, mas outro espírito qualquer. E é por isso
que o apóstolo Paulo escreveu: “Provai os espíritos para ver se procedem de Deus.” E a maneira de
tirar a prova é pelas Escrituras, porque nele e por meio dela o Espírito Santo age. O Espírito Santo
age pela palavra externa e interioriza essa palavra no coração do homem, tornando Cristo realmente
presente. O Espírito Santo age pela palavra, mas nem sempre a palavra contém o Espírito Santo.
Sem obra do Espoírito Santo a palavra continuará sendo simples palavra que fala de Jesus e não
palavra que traz Cristo real para o homem.
Para Lutero, tanto a lei como o Evangelho tinham o mesmo conteúdo: Cristo. Porém a diferença
está no seguinte: O conteúdo da lei tinha Cristo como exigência, e o evangelho tem Cristo como
dádiva. 14
A VERACIDADE DAS CONFISSÕES E SUA PRÁTICA
Interessante notar que as Confissões falem pouco da inspiração da Bíblia, mas destaca a ação do
Espírito Santo na vida dos ouvintes.
Para conseguirmos essa fé, instituiu Deus o ofício da pregação, dando-nos o evangelho e os
sacramentos, pelos quais, como por meios, dá o Espírito Santo, que opera a fé, onde e
quando lhe apraz, naqueles que ouvem o evangelho, o qual ensina que temos, pelos méritos
de Cristo, não pelos nossos, um Deus gracioso, se o cremos. 15
Para Lutero, tanto a lei como o Evangelho tinham o mesmo conteúdo: Cristo. Porém a diferença
está no seguinte: O conteúdo da lei tinha Cristo como exigência, e o evangelho tem Cristo como
dádiva.14
A VERACIDADE DAS CONFISSÕES E SUA PRÁTICA
Interessante notar que as Confissões falem pouco da inspiração da Bíblia, mas destaca a ação do
Espírito Santo na vida dos ouvintes.
As nossas Confissões, contidas no Livro de Concórdia, além de dizer o que cremos e defendemos,
precisam de fato ser confessadas por nós. Não basta dizer: “Aqui estão as nossas Confissões”, é
preciso confessá-las, vivenciá-las, praticá-las na vida. E isso Lutero, e os reformadores declaram e o
fizeram de uma maneira inquestionável.
Para a preservação de doutrina pura, e para que haja unidade cabal, permanente e
agradável a Deus na igreja, é necessário não só que a doutrina pura e sã seja
corretamente apresentada, mas também que sejam repreendidos os adversários, que
ensinam diversamente 1 Tm 3; Tt 1. Pois, como diz Lutero, pastores fiéis devem
fazer ambas as coisas, isto é, apascentar ou alimentar os cordeiros e defender contra
os lobos, de sorte que fujam da voz dos estranhos, Jo 10, e “apartem o precioso do
vil.” Jr 15.
Por isso nos declaramos uns aos outros de maneira cabal e clara também sobre este
ponto, como segue: que sempre se deve fazer distinção entre contendas
desnecessárias e inúteis, com que não se deve perturbar a igreja, visto que destroem
mais do que edificam, e controvérsia necessária, a saber, quando ocorre uma
controvérsia que diz respeito aos artigos da fé ou às partes principais da doutrina
14
15
Prenter, Regin. Spiritus Creator. Wipf&Stock Publ., 2001.
Livro de Concórdia, op. Cit., CA, V, 1, 2 e 3
7
cristã, onde, para salvamento da verdade, é necessário reprovar a falsa doutrina
contrária.
Agora, ainda que os escritos supramencionados dão ao leitor cristão que ama a
verdade divina e nela se compraz informação clara e correta sobre todos os artigos
controvertidos de nossa religião cristã, mostrando-lhe o que deve considerar e
receber como certo e verdadeiro de acordo com a Palavra de Deus dos escritos
proféticos e apostólicos, e o que deve rejeitar, fugir e evitar como falso e errado,
todavia, a fim de que a verdade seja tanto mais distinta e claramente preservada e
seja distinguida de todos os serros, e para não acontecer venha algo a ser escondido e
ocultado sob palavras ordinárias, declaramo-nos uns aos outros, clara e
expressamente, sobre os principais e mais importantes artigos, tomados um por um, e
que no presente tempo passaram a ser objeto de controvérsia, de modo que seja um
testemunho público e certo não só para os contemporâneos, mas também para a
nossa posteridade, do que é e deve continuar a ser o entendimento e juízo unânimes
de nossas igrejas com respeito aos artigos controvertidos.16
Visto querermos ter testificado, na presença de Deus e de toda a cristandade, entre os
contemporâneos e os pósteros, que a presente explanação de todos os artigos
controvertidos que precedem e que foram explicados, que ela, e nenhuma outra, é
nossa doutrina, fé e confissão, na qual também pela graça de Deus haveremos de
comparecer, de coração intrépido, diante do tribunal de Jesus Cristo e da qual
haveremos de prestar contas, e contra a qual nada falaremos ou escreveremos, nem
secreta nem publicamente, mas, sim, intencionamos, mediante a graça de Deus,
perseverar nela, subscrevemos, com madura ponderação, em temor e invocação de
Deus, com o próprio punho.17
Uma palavra de Lutero sobre a Bíblia
Lutero amava a Bíblia, defendia seu uso, sua importância e, especialmente, seu conteúdo. Para que
o povo alemão pudesse ter acesso a ela, lê-la, meditar no seu conteúdo, poderíamos dizer, que Deus
providenciou um meio para que Lutero se dedicasse a traduzi-la para o idioma alemão. Primeiro ele
traduziu o Novo Testamento do original grego, contando com a ajuda do amigo e colaborador,
Felipe Melanchthon. O Novo Testamento, foi publicado em 1522, com uma tiragem inicial de 3.000
exemplares, o que rapidamente foi vendido. No primeiro ano, foram vendidos 6.000 exemplares, o
que, para a época, foi um número muito expressivo. A Bíblia toda, só foi publicada em 1534, depois
de ser revisada por especialistas nas línguas originais, professores da Universidade de Wittenberg.
Sobre esse trabalho, Lutero declarou, como já foi mencionado, que esse foi um trabalho excelente,
abençoado por Deus, mas o seu maior desejo era ver o povo tendo acesso à Palavra, e aproveitando
o que Deus nos deixou para crescimento e fortalecimento na fé. É através da Palavra que Deus se
relaciona com o ser humano. Esse é o meio:
Deus jamais se relacionou com o ser humano de outra maneira nem se relaciona com o ser
Humano de outra maneira senão com a palavra da promissão. Inversamente, nós tampouco
Podemos relacionar-nos com Deus senão pela fé na palavra de sua promissão.18
Para Lutero a Bíblia era inigualável. Ele a considerava o Livro dos livros. Todo e qualquer escrito
humano, inclusive os escritos do próprio Lutero não valiam nada, diante do valor, significado e
mensagem de Deus. Vejam o que ele disse sobre isso:
16
Ibid. CMa, I, 158
Ibid. FC, DS, Suma, 14-16
18
Lutero, Martinho. Obras Selecionadas, Concórdia Editora e Sinodal, Porto Alegre, RS, 1989, p. 341-424
17
8
“Somente a Bíblia é o legítimo senhor e mestre de todos os escritos e doutrinas sobre a
Terra.”19
Eu ficaria bem contente em ver meus livros, um e todos, ficarem na obscuridade e
afundarem no mar. Entre outras razões, porque tremo ao pensar no exemplo que estou
dando, pois estou bem ciente quão pouco proveito a Igreja teve desde que se começou a
coletar muitos livros [...] ao lado das Escrituras Sagradas. [...] por esta prática não só
perdeu-se tempo precioso que poderia ser usado para o estudo das Escrituras, mas porque
no fim o puro conhecimento da Palavra divina também se perdeu [...] Pois todos os outros
escritos devem dar a primazia e apontar para as Escrituras [...] (Ninguém) o fará tão bem
como as Santas Escrituras, i. e., tão bem como Deus o fez [...] Por isso nos convém deixar
os profetas e apóstolos ficarem na cátedra do professor e nós, bem abaixo a seus pés,
ouvindo o que dizem. Não são eles que devem ouvir o que dizemos.20
A Escritura Sagrada é presente de Deus, que nos conforta, orienta, alimenta e vivifica.
A Escritura Sagrada está repleta de dádivas divinas e ações salvíficas. Todos os livros dos
gentios simplesmente nada ensinam sobre a fé, a esperança e o amor; sim, nem sequer
sabem alguma coisa sobre isso. Eles apenas tratam do que é presente
A Escritura Sagrada é o que existe de supremo, é um livro divino, cheio de consolo em todas
as tentações, pois ensina acerca da fé, da esperança e do amor de forma diferente da que é
entendida e experimentada pela razão humana. E, justamente em meio à desgraça, ela faz
essas grandezas resplandecerem, a fim de que nos façam entender que uma nova vida espera
por nós depois dessa miséria que vivenciamos.21
Àqueles que se opunham à Bíblia ou contestavam sua mensagem ele dizia:
Jamais foi escrito sobre a face da Terra um livro mais claro do que a Escritura Sagrada; em
relação a outros livros, ela é como o sol comparado a todas as outras luzes. Os que se
posicionam contra ela só querem nos levar para longe da Escritura e assumir o lugar de
mestres sobre nós, com o intuito de que venhamos a crer em suas pregações, que não passam
de pura ilusão.22
Onde a Bíblia silencia, está dentro da nossa liberdade agir, mas não podemos aí radicalizar ou
firmar doutrina, pois pertence ao campo da liberdade cristã.
Quando a Escritura Sagrada silencia por completo (sobre algum assunto), não nos compete
afirmar ou negar alguma coisa. Mas aquilo que a Escritura Sagrada ensina, contesta ou
determina como verdadeiro também nós podemos seguir tranquilamente e ensinar da mesma
maneira23
Não devemos medir, julgar, compreender e interpretar a Escritura Sagrada segundo a nossa
razão, mas, em oração, refletir sobre ela com todo o zelo e desejá-la ardentemente.
De jeito nenhum e de maneira alguma venhamos a perder a Bíblia, mas que a leiamos e
preguemos, pois quando a teologia prospera, tudo se realiza bem e é coroado de êxito,
porque ela é a cabeça de todas as faculdades e artes; se ela vier a sucumbir, então eu
renuncio a todas as outras coisas. 24
19
Gesamtedition der Werke Martin Luther, Weimer, 1883, vol VII, p. 317
WA 50, 657-661, LW 34, p.283s (Pref. À Ed. De Wittenberg das Obras de Lutero, 1539)
21
Luther, Martin. Tischreden, Ed. Kurt Aland, Stuttgart, Philipp Reclam, 1960
22
Gesamtedition, op. cit., 8, p. 236
23
Ibid. 43, 9.301
24
Tischreden, op. cit., p. 19
20
9
A Escritura se interpreta a si mesma. Para aprender o conteúdo, a riqueza das Sagradas Escrituras é
necessário muita oração, meditação, em meio as tentações e provações da vida, além do
conhecimento, tanto das línguas originais, quanto colocar o texto no seu contexto.
Não aprendi a minha teologia toda de uma só vez, mas tive que busca-la sempre de novo,
indo cada vez mais fundo. Quem fez isso para mim foram as minhas tentações, pois ninguém
consegue entender as Escrituras sem prática e tentações. Isto é o que falta aos entusiastas e
às seitas. Eles não têm o crítico certo, o diabo, que é o melhor professor de teologia. Se não
tivermos esse tipo de diabo, seremos apenas teólogos especulativos, que só ficam
perambulando em seus próprios pensamentos e especulando com a própria razão se as coisas
devem ser assim ou assado.25
Não devemos medir, julgar, entender nem interpretar a Sagrada Escritura segundo a nossa
razão, mas refletir sobre ela diligentemente e buscá-la com a oração. Desse modo, as
tentações e Satanás são também uma das causas porque aprendemos a entendê-la um pouco
e de certo modo através da prática e da experiência; de outro modo e sem isso jamais se
chega a entender algo dela, mesmo que a ouçamos e leiamos. Neste ponto o Espírito Santo
deve ser o único mestre e preceptor a nos ensinar, e o discípulo ou aluno não se envergonhe
de aprender desse preceptor. E mesmo que eu venha a cair em tentação, imediatamente lanço
mão de um texto ou dito da Bíblia que me apresenta Jesus Cristo como aquele que morreu
por mim, o que então me proporciona consolo.26
Sobre o Antigo e Novo Testamento, Lutero via neles uma unidade, um complemento.
Não existe nenhuma palavra no Novo Testamento que não se reporte ao Antigo
(Testamento), onde foi anunciada por primeiro. O Novo Testamento nada mais é do que uma
revelação do Antigo; é a mesma coisa como se alguém tivesse em mãos uma carta lacrada e
então a abrisse. Assim, o Antigo Testamento é uma carta-testamento de Cristo, que ele, após
sua morte, ordenou que fosse lida e pregada em toda parte por intermédio das lentes do
Evangelho.27
O Novo Testamento é um livro no qual estão escritos o evangelho e a promessa de Deus e,
além disso, igualmente a história tanto dos que crêem como também dos que não crêem no
que está escrito.28
É aconselhável para cada cristão que ele leia, em primeiro lugar e com maior freqüência, os
livros principais do Novo Testamento e que, pela leitura diária, torne-os para si próprio tão
familiares quanto o pão diário.29
Verdade é que tu não consegues ler a Escritura de forma suficiente; e aquilo que lês não
consegues ler perfeitamente; o que lês a contento não consegues entender na íntegra; o que
entendes bem não consegues ensinar corretamente; o que ensinas bem não consegues viver
integralmente.30
Ninguém pense já ter saboreado suficientemente a Escritura Sagrada, a não ser que,
juntamente com profetas como Elias e Eliseu, com João batista, Cristo e os apóstolos, tenha
dirigido a comunidade durante 100 anos.31
25
Kleinig, John W. Como se forma um teólogo. Oratio, Tentatio, Meditatio. Igreja Luterana, 61, 2002, pp. 5-17
Bayer, Oswald. A Teologia de Martinho Lutero. Ed. Sinodal, São Leopoldo, RS, 2007, p. 6
27
Gesamtedition, op. cit., 10, I/181
28
Ibid 6/2
29
Ibid., 6/10
30
Ibid, 53/218
31
Tischreden, 38
26
10
E cuide que não se canse, ou pense que já fez o suficiente quando leu, ouviu e falou uma ou
duas vezes (o texto bíblico) e que já tem entendimento completo. Você nunca será um
teólogo especialmente bom se o fizer, porque será como uma fruta temporã que cai no chão
antes de maturar pela metade.32
Para Lutero nada poderia impedir o curso da Palavra de Deus.
Estes querem proibir-nos de que o Evangelho tome o seu curso [cf. 2 TS 3.1], algo que não
está em nosso poder, assim como não podemos impedir que os campos fiquem verdes ou que
as plantas cresçam neles. 33
Lutero dizia: “Tentatio, oratio, meditatio faccit teologorum.”, ou seja, a tentação, a oração e a
meditação é que fazem o teólogo. Ele via na tentação uma oportunidade para buscar consolo,
conforto e animo na Palavra de Deus. A tentação impulsionava e impulsiona o cristão para mais
perto de Deus. Em meio a tentação, devemos nos agarrar a Deus em oração e buscar na sua Palavra
a orientação e o consolo para não desanimar. Por isso, Lutero via na tentação uma benção, para o
cristão, muito especialmente para o teólogo.
A relação entre tentação, oração e meditação em Lutero é interessante. Ele não consegue dissociar
uma da outra. A relação entre elas é uma seqüência divina. A tentação leva à oração, e a oração
sem a Palavra, sem deixar Deus falar conosco, não produz os frutos, os resultados esperados.
Pastor Breno Thomé, inspirando-se em Bayer, Kleinig, Pieper e o próprio Lutero, diz:
A correlação de oratio e gratia Spiritus põe em destaque sua ligação com a Palavra de Deus.
Lutero não deixa dúvida a respeito. No texto do Prefácio, declara que segue o exemplo de
Sto. Agostinho por ter sido o primeiro e quase o único determinado a submeter-se às
Escrituras Sagradas, sem a interferência de todos os pais e santos.34
O comentário de Pieper é:
O que Lutero diz aqui sobre a necessidade da oração se firma na convicção operada pelo
Espírito Santo de que não há no mundo outro livro como a Santa Escritura. [...] Por esta
razão é o único livro que ensina a vida eterna, pois todo o mundo é mantido cativo na opinio
legis. Quando outros livros ensinam sobre a vida eterna [...] que a salvação é obtida sem as
obras da Lei, pela fé na satisfactio vicaria de Cristo, isto se deriva da Escritura.35
E o professor Thomé, acrescenta:
A isso acrescenta ser próprio ao teólogo, ao abrir a Escritura, não por fé alguma em sua
inteligência, mas recomenda que “peça de Deus o seu Espírito Santo, pois só ele ensina
alguém a entender a Palavra de Deus e cria um espírito que se sujeita às Escrituras”. 36
Por isso deveríamos, orar muito mais, no entanto, o inimigo não dá tréguas. O diabo procura de
todas as formas atrapalhar nossa vida de oração. Enche-nos de preocupações, ficamos confusos,
nos torturamos, em vez de cair de joelhos e orar.
Por isso deveríamos aprender e guardar essas palavras no coração e acostumarmos [a orar]
assim que surge uma angústia ou tribulação diante dos olhos, cair imediatamente de joelhos
e apresentar a necessidade a Deus, segundo essa admoestação e promessa. (Mt 7.7-11)37
32
Bayer, op. cit., conforme WA 50, 657; LW p. 283-288
Ibid, p. 6 (WA TR 4, 311, 25-312.1)
34
Thomé, Breno C. Concílio de Pastores 2012, Editora Concórdia, Porto Alegre, RS, 2012., p. 39
35
Pieper, Francis. Christian Dogmatics. Concordia Publishing House, St.Louis, MO, 1950, p. 187
36
Thomé, op. cit., p. 40
37
Lutero, Martinho, Obras Selecionadas, op. cit., v. 9, p. 225
33
11
Assim conclui o professor Thomé:
A fé, gerada pelo Espírito Santo, na promessa de que Deus, por amor a Cristo, quer nos
atender, se expressa na oração. Ela expressa a fé e é também a batalha da fé, que coloca o
cristão na linha de batalha entre Deus e Satanás. “Isso equivale a dizer que a Teologia da
Cruz de Lutero torna-se evidente também na oração do Senhor.”38
Assim Lutero une a oração com a meditação. O Espírito Santo age no ser humano por intermédio
da Palavra, e cria nele a nova vida. A oração já é um fruto dessa nova vida.
Lutero afirma a inter-relação da oratio pelo dom do Espírito Santo com a meditatio, pois
“Deus não lhe dará o seu Espírito Santo sem a palavra externa”. A Escritura é a Palavra de
Deus, inspirada pelo Espírito vivificador e o meio pelo qual nos inspira e potencializa, 208
realizando sua obra em nós. Sem a meditação na palavra ligada à oração não se tem o
Espírito. Ambas são essenciais!39
O professor Anselmo Graff, Seminário Concórdia de São Leopoldo, RS, ele, a partir de estudos em
Lutero, exorta que:
Só há meditação verdadeira na Palavra, quando houver primeiro o prazer. E isto é uma
exclusividade dos cristãos. “Por isso Davi ora: „Inclina-me o coração aos teus testemunhos e
não à cobiça‟ (Sl 119.36).” Lutero outra vez afirma que o prazer na Lei do Senhor precisa vir
necessariamente dos céus. [...] Os desejos humanos estão em oposição à Lei do Senhor, a
ponto de o ser humano querer evitá-la. Não é uma ação livre do ser humano amá-la. Não é o
temor pela punição nem o desejo pelas promessas de recompensa da Lei que irão produzir
esse amor, mas esse desejo vem da fé em Deus, através de Jesus Cristo. 40
Pela fé o homem passa a ter prazer na lei do Senhor. Na fé o ser humano não foge da lei, mas a
saboreia e vê nela também o amor de Deus agindo e querendo o seu bem. Esse prazer na lei do
Senhor aumenta ainda mais em meio à tentação.
Quanto maiores as tentações, de fora e de dentro, mais ele se agarrava em Deus e nas suas
promessas, e isso o fortalecia e dava nova forças. Sobre isso, Pieper escreveu:
Toda a teologia de Lutero da tentatio de dentro e de fora. Primeiro, veio o interior. Após
anos de incerteza e de terrores de consciência sob a doutrina romana das [boas] obras, Deus
o guiou ao entendimento do Evangelho da livre graça de Deus em Cristo. Assim provou em
seu próprio coração e consciência “quão reta, quão verdadeira [...] é a Palavra de Deus”.
Então veio a tentatio de fora. Quando Lutero ensinou a Palavra de Deus, o papado, sim,
quase todo o mundo se pôs no seu caminho, e declarou que perdera o direito tanto à sua vida
eterna como à vida terrena. Em sua aflição ele aprendeu “a buscar e a amar a Palavra de
Deus” [...] Assim, pela via da aflição, Lutero tornou-se um “razoavelmente bom teólogo.41
Kleinig afirmou:
Na tentação [ele...] experimenta pessoalmente a justiça e a verdade da Palavra de Deus em
todo o seu ser, e não apenas em seu intelecto. Ele tem experiência da [sua] doçura e beleza
[...] não apenas com suas emoções. Ele experimenta o [seu] poder e a força [...] não apenas
com seu corpo. A tentação é, portanto, o teste para avaliar qualquer teólogo; ela revela o que,
sem ela, não se vê e não se conhece. Assim [...] a tentação testa e prova a realidade da
espiritualidade de alguém. 42
38
Thomé, op. cit., p. 42
Ibid, p. 45
40
Graff, Anselmo E. O Reformador Lutero e o Princípio do Estudo Teológico: Oratio, Meditatio, Tentatio. Canoas, RS. Trabalho não
publicado, p. 16
41
Pieper, op. cit., p. 189
42
Kleinig, op. cit., p. 14
39
12
Lutero disse:
Porque eu mesmo (para que eu, dejeto de rato, também me ponha no meu lugar [unter den
Pfeffermenge]) tenho muito a agradecer aos meus papistas, por terem me agredido, acossado
e intimidado dessa maneira com a fúria do diabo, ou seja, por terem feito de mim um teólogo
razoavelmente bom, o que jamais teria conseguido sem eles. 43
Pastor Breno Thomé, num trabalho para o Concílio de Pastores da IELB, 2012, disse:
Por reconhecer sua própria fraqueza espiritual e falta de sabedoria, confia no poder do
Espírito Santo e na sabedoria da Palavra de Deus. E o ataque do diabo acaba produzindo
efeito contrário ao proposto, pois conduz o cristão à Palavra de Deus. Ela se torna o único
fundamento de sua fé e a fortalece. O capacita para o trabalho e a ação na igreja, sem
depender de seus próprios recursos ou de que a Igreja ou o mundo confirmem a sua teologia.
A experiência cristã está na união com o Cristo crucificado, não na prosperitas.44
E novamente Kleinig afirma:
Por meio da tentação [...] se torna teólogo; ele aprende a teologia da cruz [...] a
espiritualidade da cruz. [...] conhece a dor da união com o Cristo crucificado. Ele carrega a
cruz juntamente com seu Senhor, sofrendo com ele na igreja.45
Lutero não apenas recomendava a leitura, mas ele, de fato, a lia. Ele praticava o que falava.
Desde alguns anos, tenho lido toda a Bíblia anualmente por, no mínimo, duas vezes. E se a
Bíblia fosse uma árvore enorme e imponente e se todas as suas palavras fossem um raminho,
então posso afirmar que me ocupei em sacudir cada um desses raminhos para realmente
saber o que estava pendurado neles, para saber o que produziam. E sempre de novo consegui
colher mais algumas maçãs ou mais algumas peras.46
Minha decisão é ver a Escritura como o que há de mais duradouro e como aquilo que ocupa
o primeiro lugar e só então aceitar ou rechaçar todas as outras coisas ensinadas a partir da
Escritura, não me importando com quem seja o autor do escrito.47
Diante dessa Palavra de Deus, o Espírito Santo age, e nós somos tocados e transformados.
A Palavra de Deus é verdadeira e não produz hipócritas, mas pessoas honradas e sinceras, e
também pessoas que tem uma fé autêntica e uma correta opinião sobre Deus.48
A palavra de Deus é como uma forte correnteza, diante da qual a gente não se consegue
defender com o uso de nenhum poder. Assim como a força da natureza, a palavra de Deus
faz com que as pessoas de fé sejam salvas. Mas essa mesma palavra condena e fulmina os
descrentes; isso acontece porque o Senhor dessa palavra é sabedoria, poder e justiça. Por
esse motivo, a palavra de Deus está acima de tudo o que possuímos e somos.49
Para Lutero, e isso defendemos e confessamos ainda hoje, a Bíblia é a única fonte de doutrina, fé e
verdade. É a partir das Escrituras Sagradas que Lutero defendia seu ponto de vista, levando sua
consciência cativa a ela. Dizia ele que queria e precisava defender o que Deus lhe dizia, pois este
também afirmou em Lucas 9.26: “Quem se envergonhar de mim sobre a terra, dele me
envergonharei perante o meu Pai Celeste e seus anjos.” Assim a Bíblia Sagrada sempre foi a base, o
fundamento de toda a sua argumentação e quando Lutero, se viu ameaçado, constrangido e quase
43
Bayer, op. cit., p. 27
Thomé, op. cit p. 51
45
Kleinig, op. cit., Weith, G. E. Jr. The Spiritualy of the Cross, St. Louis, Concordia, 1999
46
Tischreden, 10
47
Gesamtedition, 6/586
48
Ibid, 31, I/583
49
Ibid, 40, II/275
44
13
forçado a retirar tudo o que havia escrito e dito, na dieta de Worms, diante do imperador Carlos V,
em 17 e 18 de abril de 1521, depois de pedir autorização para reavaliar e revisar o que havia dito e
escrito, disse:
Sendo que vossa Majestade e Graça Imperial deseja uma resposta simples, quero dá-la de
Forma não ofensiva nem agressiva: A não ser que seja convencido pelo testemunho da
Escritura ou por argumentos evidentes (pois não acredito nem no papa nem nos concílios
Exclusivamente, visto que está claro que os mesmos erraram muitas vezes e se contradisseRam a si mesmos) - a minha convicção vem das Escrituras a que me reporto, e minha
Consciência está presa a palavra de Deus – nada consigo nem quero retratar, porque é
difícil,Maléfico e perigoso agir contra a consciência. Deus que me ajude. Amém. 50
Para os nossos dias, parece que quanto mais nós temos acesso e facilidade em ter contato,
aproveitar, ler as Escrituras Sagradas, mais o ser humano se afasta, esfria e não valoriza esse
tesouro, a Santa Bíblia. Já no tempo de Lutero, ele sentia isso. Ele se manifestou sobre isso dizendo:
Onde se tem a palavra de Deus, ali não se quer saber dela. Por outro lado: onde não se tem a
palavra de Deus, ali ela seria bem-vinda. Onde se tem a igreja diante da porta da casa, na
qual é ensinada a palavra de Deus, ali, durante a pregação, visita-se o mercado e passeia-se
por entre as sepulturas. Onde é preciso caminhar dez, vinte quilômetros, ali há o desejo de se
unir ao povo e, juntos freqüentar a casa de Deus em júbilo e em gratidão.51
A leitura da Bíblia hoje
Em nossos dias, vemos crises doutrinárias que afligem a Igreja Evangélica no Brasil, e creio que
podemos estender essa verdade para o mundo. Penso que a maior parte dessas crises e dificuldades
que surgem na Igreja, que provocam divisões, que trazem discórdia, nasce de um desconhecimento
cada vez maior das Sagradas Escrituras, onde uma hermenêutica defeituosa, de um sistema de
interpretação que, à semelhança dos tempos antes da Reforma, procura sentidos no texto inspirado
que vão além daquele pretendido pelo autor bíblico. Essa alegorização das Escrituras feita no
púlpito de muitas igrejas evangélicas tem contribuído para a disseminação de inúmeros erros
doutrinários. À semelhança do período medieval, quando esse tipo de interpretação serviu de
ferramenta para legitimar biblicamente doutrinas católicas, posteriormente rejeitadas pelos
reformadores, a hermenêutica da alegoria tem servido no Brasil evangélico como suporte para as
doutrinas mais diversas e estranhas. Creio que o retorno a uma exegese cuidadosa do texto bíblico, à
luz do contexto histórico, da gramática e da sintaxe das línguas originais, produziria pregação
expositiva das Escrituras, através da qual a igreja seria instruída, edificada, confortada e corrigida
pela Palavra de Deus.
Pastores e leigos, estudar mais a Palavra, buscar orientação segura, pedir a iluminação do Espírito
Santo, para que assim, a Palavra de Deus fale, e não a razão humana.
Em nossos dias, temos a Bíblia escrita, gravada em áudio e vídeo, e de forma digital, e com tudo
isso, parece que o ser humano, não a valoriza e cada vez menos tira tempo para lê-la, ouvi-la ou
meditar na riqueza do seu conteúdo. Ela quer ser: “lâmpada para os nossos pés, e luz para os nossos
caminhos” (Sl 119.105).
Imaginemos a seguinte cena: Um cristão chega no céu, conversa com Jesus, quando esse então lhe
faz a seguinte colocação. Como meu seguidor você deve ter lido muito a carta que eu vos deixei?
Meio constrangido o cristão diz: “Sim! Eu a li!” Quantas vezes você a leu toda? Mais constrangido
50
Schlupp, Walter O. (trad.) Pelo Evangelho de Cristo, Concórdia e Sinodal, Porto Alegre e São
Leopoldo, RS, 1984, p 148.
51
Wolf, op.cit., p.108
14
ainda vem a resposta em forma de pergunta: Toda? Mas ela era muito grande. Jesus, então, diz:
“Você, então, está querendo me dizer que não a leu toda?” Quantos anos eu te dei no mundo?
As pessoas, muitas vezes, conhecem todos os noticiários, programas os mais diversos na televisão,
gastam bastante tempo com a Internet, mas não se organizam para ler a Bíblia diariamente.
Uma pesquisa mostrava que mais de 25% dos membros da Igreja nunca lêem a Bíblia. Por que ela é
pouco lida?
AT
Sl 1.4: “Os ímpios não tem prazer na lei do Senhor.”
2 Rs 22.8: “O livro da lei se achava extraviado.”
Jr 36.23 e 24: “O rolo foi queimado por Joaquim.”
NT
Mt 21.16: “nunca lestes?”
Mt 22.29: “não conheceis a Escritura”.
1 Ts 5.27: “epístola seja lido a todos”.
Hoje lêem-se muitos livros, revistas, jornais, mas a Bíblia fica de lado.
O que fazer? Como resgatar o interesse pela Palavra de Deus? Como incentivar e fazer as pessoas
lerem mais a carta de Deus?
Lutero, preocupado com a ignorância do povo sobre o conteúdo da Palavra de Deus, dedicou grande
parte do seu tempo, para traduzir a Bíblia, afim de que o povo tivesse acesso as Sagradas Letras.
Naquele tempo, essa iniciativa foi uma benção. Muitos a procuraram, leram, aproveitaram. Isso se
deu por causa da linguagem popular da tradução. Lutero tornou um livro misterioso e reservado
somente para ricos e letrados, compreensível para o povo em geral.
O que hoje poderia fazer diferença para o povo buscar mais, ler mais, ouvir mais e meditar mais na
Palavra de Deus?
Talvez devamos nos unir e trabalhar mais por esse objetivo. Quanto mais distante e desconhecida
for a Palavra de Deus, mais o diabo e seu bando, como dizia Lutero, poderão cantar vitória. Quanto
menos conhecimento da verdade que liberta, dos mandamentos de Deus, mais as vãs filosofias, os
falsos profetas e todos aqueles que estão a serviço de Satanás, conseguem sucesso no mundo.
O que fazer?
Talvez devemos começar por nós mesmos. Como está a nossa dedicação de tempo para a leitura e
meditação na Palavra de Deus? Por vezes parece que o ser humano age como criança que não quer
se alimentar. A mãe insiste, oferece, promete recompensas, faz ameaças, enfim, faz de tudo para
que o filho se alimente, mas os filhos não valorizam, teimam e rejeitam. É preciso, por vezes, quase
forçá-los a comer. A nossa mesa está farta, a Palavra de Deus à disposição, mas parece que os
muitos afazeres da vida nos impedem de sentar, ler, meditar e deixar Deus falar conosco, por
intermédio dela.
Portanto, em primeiro lugar, nós, os pastores, os líderes, ler mais, estudar mais, cavar mais fundo
nesse tesouro que Deus nos deixou. Lutero, no Prefácio do Catecismo Maior disse:
Agora que estão livres do inútil e penoso falatório das horas canônicas, deveriam pelo
menos ler, de manhã, ao meio-dia e à noite, uma ou duas páginas do catecismo, do Livrinho
de Orações, do Novo Testamento ou de outra parte da Bíblia, e rezar o Pai Nosso, para si
15
mesmos e seus paroquianos. Assim demonstrariam reconhecimento e gratidão ao Evangelho,
pelo qual foram livrados de tantos encargos e preocupações.52
E Lutero insistiu e defendeu muito e intensamente a importância de estudar, ler e meditar nas
Sagradas Escituras. Sobre isso ele disse:
Perseverem na leitura, no ensino, no aprendizado, na meditação e reflexão, e não desistam
até fazer a experiência e adquirir a certeza de que mataram o diabo de tanto estudar e se
tornaram mais estudados que o próprio Deus e todos os santos. Se tiverem toda essa
dedicação, eu lhes prometo que as pessoas vão percebe-lo, conseguirão muito fruto e Deus
fará delas pessoas excelentes. Com o passar do tempo, elas próprias vão confessar que,
quanto mais estudam o catecismo, menos o conhecem e mais precisam aprender. Somente
então, famintas e sedentas, é que saberão apreciar aquilo que, agora, de tão fartas, não
querem nem cheirar de longe. Que Deus conceda a sua graça para tanto. Amém. 53
Em segundo lugar, fortalecidos, abastecidos no pão da vida, na água viva que vem de Deus,
incentivar mais, falar mais, ensinar mais e desafiar mais o povo para que valorize, leia e medite nas
Sagradas Escrituras. Em vez de discutir, debater e, por vezes, criticar essa ou aquela tradução,
incentivar e destacar mais a importância de ler. Ensinar os filhos, criar neles o hábito de ler a Bíblia.
Consideremos alguns textos bíblicos:
Dt .6ss; Dt 11.18-20; Pv 22.6. Deus quer que guardemos sua Palavra em nossos corações e as
ensinemos aos nossos filhos;
Sl 119.9; Ec11.9 e 10 e 12.1. Deus quer que os jovens conheçam sua Palavra e a guardem,
pratiquem,
Mt 7.24-27; Cl 3.15; Tg 1.22. Deus quer que os adultos conheçam a Palavra, e não apenas
conheçam, mas a pratiquem em sua vida.
1 Tm; 2 Tm; Js1.7ss. Deus quer que os pastores meditem em sua Palavra e a conheçam
profundamente.
Por que ler a Bíblia?
Dt. 6.4-9 – inculcar nos filhos
Dt 11.18-21 – Por as palavras no coração
Dt 27.1-9 – para conhecer e guardar
Dt 31.9-11 – ler diante de todos
Js 1.8 – ler sempre
Is 34.16 –Livro do Senhor não falha
Dt 17.19 – ler todos os dias
Jr 34.16 – ler
Jo 5.39 –Examinar as Escrituras
Ef 5.19 – Falar da Escritura Sagrada
Cl 3.16 – Para instrução e conhecimento
1 Tm 4.13 – Aplicar-se à leitura
2 Pe 2.19-21 Para possuir uma candeia que brilha
A certeza: Ela é a Palavra de Deus.
1 Ts 2.13 – A Palavra de Deus
Sl 119.105 – A lâmpada
Jr 30.2 – Palavra que Deus disse
Jo 17.17 – É a verdade
At 20.27 – Traz o conselho de Deus
52
53
Catecismo Maior, Martinho Lutero, Sinodal e Concórdia, São Leopoldo, RS, 2012, p. 19
Ibid, p. 21 e 22
16
Jo 3.63 – A Palavra que Jesus disse
2 Tm 3.16 – Inspirada por Deus
O resultado: A promessa de Deus: Is 55 e Rm 1.16.
Finalidade da leitura:
2 Tm 3.15; Jo 5.39; Lc 16.29; Jo 20.31 – tornar sábio para salvação
Jo 17.17; Sl 119.105; 2 Tm 3.16 e 17 – para ensino e treinamento
Hb 10.23; Ap 1.3 – para guardar o tesouro que temos
Sl 119.104 – para identificar e combater falsas doutrinas
Sl 119.9; 2 Tm 3.16 – para identificação do nosso lar
Sl 119.25, 92; Rm 15.4 – para consolo na tristeza
No prefácio do Catecismo Maior, Lutero disse: “Se eu tivesse que relatar todo o proveito e fruto que
a Palavra de Deus produz, de onde conseguiria suficiente papel e tempo?” 54
CONCLUSÕES
Diante das crises que hoje vemos e vivemos, o que fazer? Como enfrentar? Onde buscar força e
orientação?
Js 1.8: “Não cesses de falar desse Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas
cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e
serás bem sucedido.”
Esta recomendação dada por Deus para Josué, é muito válida e importante para nossos dias, diante
dos problemas sociais, políticos, morais e doutrinários: “ desse Livro da Lei ... medita nele dia e
noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; ...” Só assim
poderemos permanecer na verdade, no caminho, segundo à vontade de Deus, e sermos “bem
sucedidos”, como diz o texto de Josué. Por isso:
1º) Necessidade de estudarmos muito, lermos mais as Sagradas Escrituras, conhecermos e
adquirirmos a sabedoria que vem de Deus;
2º) Cuidarmos em termos sempre bons e profundos conhecedores das línguas originais na
Sociedade Bíblica, para termos boas traduções da Bíblia e podermos incentivar e apoiar a leituras da
Bíblia Sagrada. A crítica, pura ew simples, muitas vezes, serve como desestímulo aos nossos leigos
para que leiam, meditem e aproveitem a Palavra de Deus.
3º) Conhecer bem as nossas Confissões, contidas no Livro de Concórdia, e não apenas conhecer,
como praticar, defender e promulgar suas verdades e seu conteúdo.
4º) Observando e conhecendo o exemplo de Lutero, seu amos pelas Escrituras, sua motivação e
prática na leitura e meditação, imitar e como Lutero, diante das tentações, dificuldades e problemas
da vida, correr para dentro das Escrituras Sagradas e ali buscar conforto e orientação para a nossa
vida.
5º) Cuidar com a administração do nosso tempo. Diante da vida agitada, das muitas opções e
oportunidades, programas e convites, nunca esquecer de guardar o sagrado tempo para cavar,
pesquisar, tirar o máximo de proveito do conforto que Deus nos oferece e quer dar, através da sua
Palavra.
54
Ibid, p. 20
17
Sl 119.105; 2 Tm 3.16: Para todos nós, para todas as pessoas, Deus diz: Não deixem de usar a
minha Palavra. Ela quer ser lâmpada, luz para o teu andar nesse mundo. Usa essa Palavra, pois ela é
muito útil e necessária. Não mude e não deixa mudar nada do que nela está escrito, pois ela é
Palavra de Deus. Ap 22.18 e 19
Vídeo: - O Livro de Capa Preta e A Bíblia X Celular
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