8º Congresso de Pós-Graduação
AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE FUNCIONAL DE MULHERES COM OBESIDADE MÓRBIDA
Autor(es)
FABIANA SOBRAL PEIXOTO SOUZA
Co-Autor(es)
BRUNA GALLO DA SILVA
Orientador(es)
ELI MARIA PAZZIANOTTO FORTI
1. Introdução
A obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo excesso de gordura corporal, sendo um grave problema de saúde pública que
atinge países desenvolvidos e em desenvolvimento, revelando-se como um importante fenômeno clínico epidemiológico da atualidade
(PI-SUNYER, 2002; WANG, 2007). Além disso, a obesidade está associada a uma redução da capacidade física, que é um
componente importante da qualidade de vida (ANNA ZELDA, 2006).
O acréscimo de gordura depositado na cavidade abdominal exerce efeito mecânico sobre a caixa torácica e o músculo diafragma,
provocando alterações na função pulmonar (ENZI, 1990) assim como na força e endurance dos músculos esqueléticos quando
comparados a indivíduos não obesos (KOENIG, 2001). Isto impõe estresse adicional à ventilação durante o exercício, exigindo uma
maior troca metabólica. A diminuição da capacidade de realizar exercício também pode estar afetada nesta população por dor e
aumento de sobrecarga nas articulações, bem como atrito da pele dos membros (HULENS M, 2003).
A capacidade funcional é um componente importante na qualidade de vida porque reflete a capacidade de realizar atividades do
cotidiano. Com a obesidade aumenta a carga de trabalho para um determinado exercício e, portanto aqueles com maior índice de
massa corporal (IMC) provavelmente apresentam uma menor distância percorrida (HULENS M, 2003).
O teste de caminhada de seis minutos (TC6) é um instrumento bem conhecido para avaliar a aptidão física e a capacidade funcional,
pois reflete alterações cardiovasculares e respiratórias sobre a capacidade física. É considerado um método simples, de fácil
administração e baixo custo (MANISCALCO, 2006). Vários pesquisadores têm estudado os fatores que determinam a distância que
um adulto saudável pode andar dentro de 6 minutos e a partir disso propor equações de referência ou dados normativo para o TC6
(CHETTA, 2006).
O TC6 tem sido também utilizado para avaliar a capacidade funcional de obesos já que este perfil de paciente não é normalmente
capaz de tolerar outros testes funcionais, devido dor, cansaço precoce e dificuldade de deambulação (DE SOUZA, 2009).
2. Objetivos
Avaliar a capacidade funcional de mulheres com obesidade mórbida a partir do teste de caminhada de 6 minutos
3. Desenvolvimento
Foram avaliadas nove obesas mórbidas, selecionadas para cirurgia bariátrica na clínica bariátrica de piracicaba- SP. O estudo foi
aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da Universidade Metodista de Piracicaba sob protocolo e as voluntárias assinaram termo de
consentimento livre e esclarecido. Os critérios considerados para inclusão deste estudo foram: índice de massa corpórea (IMC) ? 40
Kg/m2, ausência de doenças cardiopulmonares. Os critérios de exclusão foram: mulheres praticantes de atividade física regular,
fumantes e ex- fumantes, portadoras de incontinência urinária ao esforço, doença vascular obstrutiva periférica e desordens
músculo-esqueléticas que dificultassem a realização do teste. O teste foi realizado no setor de fisioterapia da UNIMEP, utilizando-se
um corredor plano livre de 30 metros demarcado com rolo de papel de mesmo comprimento, com marcações para cada metro. Os
participantes receberam instruções para caminhar durante seis minutos do início ao final do corredor o mais rápido que conseguissem
(ATS, 2002). A cada 30 segundos, as voluntárias foram incentivadas, de forma padronizada com frases de incentivo como as
seguintes: “você está indo bem’’ ou “mantenha o bom trabalho’’ (ENRIGHT, 1998). Procedimento experimental: no início do teste
foi perguntado às voluntárias a escala de dispnéia de Borg, que é composta de questionamentos acerca de sensação de desconforto
respiratório, sendo 0 (nenhum sintoma) e 10 (máximo desconforto) (BORG, 1982) . Durante o teste e ao término do mesmo foram
monitorizadas a pressão arterial), a freqüência cardíaca e respiratória e a saturação de oxigênio (marca Nonin Medical Inc, modelo
Onyx 9500). A medida da saturação de oxigênio foi feita com o sensor posicionado no terceiro quirodáctilo da mão direita, sendo a
leitura determinada após a estabilização do sinal. O cálculo do valor previsto ou de referência para distância no TC6 foi realizado por
meio das equações propostas por Enright e Sherril (1998), determinando-se o percentual do previsto para cada teste realizado segundo
recomendado por Troosters, Gosselink e Decramer (1999). Distância TC6 (m) prevista = (2,11 x altura cm) – (2,29 x peso kg) – (5,78
x idade) + 667m. Análise estatística de significância foi realizada a partir de testes não paramétricos como o teste de Wilcoxon para
amostras pareadas. O teste de correlação utilizado foi o de Pearson, para determinados pares de variáveis estudadas (distância
percorrida com massa corporal e IMC). O nível de significância estabelecido em todos os testes estatísticos usados foi de 5%. Os
dados foram apresentados graficamente em “Box-plot” contendo os valores da mediana, 1º quartil (25%), 3º quartil (75%), valores
máximos e mínimos, “outliers” e extremos. Todos os procedimentos estatísticos foram realizados a partir do aplicativo “Statistica for
Windows, Release 6.1. Stat. Soft, Inc. 2000-2003”.
4. Resultado e Discussão
Na tabela 1 estão expressos os dados correspondentes à idade e características antropométricas das nove voluntárias.
Houve diferença significativa entre a distância percorrida (506±63) e a distância média prevista em metros (554±26) no TC6. (figura
1).
As figuras 2 e 3 apresentam as correlações da distância percorrida com IMC e massa corporal respectivamente. Todas as correlações
encontradas foram de baixa magnitude e não significativas. Valores de r (-0,17; 0,19).
A capacidade funcional é definida como a capacidade do homem em realizar as atividades físicas e mentais necessárias para
manutenção de suas atividades básicas e instrumentais. A capacidade funcional especialmente a dimensão motora, refere-se a
atividades rotineiras que fazem parte do cotidiano dos indivíduos e contribui para sua independência inclusive caminhar uma certa
distância (RAMOS, 2003; SOUZA & IGLESIAS, 2002).
Pode-se constatar neste estudo que adistância percorrida no teste de caminhda para mulheres com obesidade mórbida, encontra-se
diminuída quando comparada ao previsto para mulheres da mesma faixa etária. Estes achados estão de acordo com o Hulens et al,
2003 que estudando mulheres eutróficas e obesas indicam que não somente os parâmetros antropométricos influenciam na capacidade
funcional mas também a aptidão física e concluem que a habilidade de andar é reduzida em mulheres com obesidade, principalmente
sob a condição de obesidade mórbida.
Indivíduos severamente obesos possuem uma aptidão cardiorrespiratória extremamente reduzida (GALLAGHER et al 2006), pois sua
demanda metabólica é aumentada pelo trabalho extra-muscular necessário para compensar o excesso de massa corporal (WHO,
2004).
O parâmetro utilizado para calcular a distância percorrida prevista para as voluntárias é confiável, pois a fórmula matemática utilizada
por Troosters, 1999 leva em consideração a massa corporal além da idade e altura.
Embora as voluntárias apresentem uma menor capacidade funcional estabelecida pela distância prevista, não foram encontrados na
literatura trabalhos que comparassem as distâncias percorridas com as previstas na população de obesos, mas somente entre obesos e
eutróficos ou até mesmo comparando sucessivos intervalos de tempo após uma determinada intervenção seja ela cirúrgica ou por
meio de exercício físico.
Num estudo realizado com 188 mulheres severamente obesas mostrou que a distância percorrida no TC6 foi significativamente menor
do que a observada para as mulheres magras e que a dor músculo-esquelética, principalmente nos membros inferiores, era uma
importante razão para o término precoce do teste (MATTSSON et al, 1997). Neste estudo a principal queixa relatada pelas voluntárias
para o término do teste também foi fadiga de membros inferiores sobrepondo a dispnéia.
Segundo Sabia et al., (2004) o desempenho físico depende de fatores como força, flexibilidade muscular, amplitude de movimento,
coordenação motora, fatores estes que podem influenciar na capacidade funcional das obesas em realizar exercícios físicos e de certa
forma contribuir para a redução do condicionamento físico e piora do consumo máximo de oxigênio.
Não foram encontradas correlações entre a distância percorrida com massa corporal o IMC, e isto pode ser atribuído ao fato de que a
amostra deste estudo é pequena, pois diferentemente deste estudo, Larsson et al., (2002) salientaram que o aumento do peso está
relacionado com a piora da capacidade física.
O TC6 pode ser considerado um método barato e seguro para avaliar a capacidade funcional de pessoas com obesidade severa. Em
estudo realizado por ROSTAGNO, 2003, foi feita a comparação do TC6 a outros métodos utilizados para avaliar a capacidade
funcional de pacientes obesos no pré e pos operatório de cirurgia bariátrica. O TC6 pode ser realizado por muitos pacientes com
obesidade grave, quando não é possível realizar um ciclo normal em um cicloergômetro ou teste ergométrico. No entanto, o método
do TC6, na população obesa, deve ser padronizado (DE SOUZA et al, 2009).
5. Considerações Finais
Concluí-se que mulheres com obesidade mórbida apresentam redução da capacidade funcional, evidenciada pela diminuição da
distância percorrida no teste da caminhada.
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