XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
Deslocamento de caprinos e ovinos em pastagem nativa 1
Walking distance of goats and sheep in natural pasture1
Juliete de Lima Gonçalves2, Marco Aurélio Delmondes Bomfim3, Diego Barcelos Galvani3, Ariosvaldo
Nunes de Medeiros4, Fabrício Ehm Martins5, Sueli Freitas dos Santos6 , Guilherme de Lira Sobral Silva7
1
Parte de doutorado do primeiro autor, financiada por CAPES
Doutoranda do Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia pela Universidade Federal da Paraíba,
Areia – PB, Brasil. Bolsista CAPES, UFPB– CCA. e-mail: [email protected]
3
Pesquisador da Embrapa caprinos e ovinos, Sobral- CE, Brasil.
4
Professor da Universidade Federal da Paraíba, Areia- PB, Brasil.
5
Mestre em Zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal- RN, Brasil.
6
Doutora em Zootecnia pela Universidade Federal do Ceará, Fortaleza- CE, Brasil.
7
Pós-doutorando pelo Programa de Doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza- CE, Brasil.
2
Resumo: Objetivou-se com este estudo, avaliar distância percorrida por caprinos e ovinos em pastagem
nativa. Foram utilizados quatro caprinos e quatro ovinos, manejados em área de 21 ha de pastagem nativa,
divididos em dois piquetes. O período de ocupação em cada área foi de 90 dias. A distância caminhada
pelos animais foi mensurada uma ao mês, durante 6 meses, utilizando dispositivos GPS presos ao pescoço
dos animais por meio de coleiras. Registros da posição geográfica de cada animal foram feitos a cada
trecho de 10 metros caminhados e o deslocamento total foi calculado utilizando-se o programa GPS
Trackmaker®. Houve interação significativa (P<0,05) entre espécie e período de avaliação, sendo a
distância percorrida pelos ovinos maior que aquela percorrida pelos caprinos apenas nos meses de junho e
julho. Quando as condições ambientais não inibem o deslocamento dos animais pelo pasto e, havendo boa
disponibilidade de forragem verde, os ovinos percorrem maiores distâncias em comparação aos caprinos.
Palavras–chave: GPS, pastejo, pequenos ruminantes, seletividade
Abstract: This study was conducted aiming to evaluate the walking distance of goats and sheep on a
native pasture. Four goats and four sheep were kept in a 21-ha area of native pasture, which was divided
in two paddocks. The period of occupation in each area was 90 days. The walking distance was measured
once a month, for 6 months, using GPS devices attached to the neck of the animals by means of collars.
Records of the geographical position of each animal were made at each 10 meters walked, and the total
walking distance was calculated by using the GPS TrackMaker® software. There was a significant
species × evaluation month interaction (P<0.05), being the distance walked for sheep greater than that
observed for goats only in the months of June and July. When environmental conditions are not
constraints to the animals, and green fodder is available, sheep walk more compared to goats.
Keywords: GPS, grazing, small ruminants, selectivity
Introdução
No semiárido nordestino, grande parte dos caprinos e ovinos são criados em sistemas extensivos
ou semi-extensivos, nos quais os animais necessitam pastejar ao longo do dia para obter os nutrientes
necessários para sua manutenção e produção. No entanto, o tempo gasto com a atividade de pastejo irá
depender de vários fatores como quantidade e qualidade da forragem disponível no pasto nativo, estrutura
do pasto, frequência de distribuição dos estratos da vegetação, temperatura e precipitação. Sahlu et al.
(2004) ressaltaram que a quantidade de energia gasta com atividade física por animais em pastejo é
dependente da digestibilidade da forragem, distância percorrida e topografia do terreno. A preferência dos
animais por certas plantas ou partes da planta podem também influenciar um maior ou menor
deslocamento dos animais em pastejo. Carvalho et al. (2004) observaram que os ovinos tendem a
selecionar plantas de maior altura e mais escuras.
Estes fatores relatados acima que podem influenciar um maior ou menor deslocamento pelos
animais em busca da forragem podem resultar em um maior ou menor gasto de energia. Talvez por
dificuldades de estudo com animais em pastejo, ainda existe uma má compreensão destes fatores que
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podem influenciar no pastejo e deslocamento dos animais. Em razão das diferenças entre caprinos e
ovinos, nas preferências e seletividade para diferentes plantas, e partes de plantas é possível que os efeitos
de deslocamento sejam diferentes para estas espécies. Portanto, objetivou-se com este estudo investigar a
distância percorrida por caprinos e ovinos em pastagem nativa.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Fazenda da Escola Família Agrícola Dom Fragoso, em
Independência, Ceará. O clima é tropical quente semiárido, com precipitação média de 608,4 mm e
temperatura média de 26 a 28°C (IPECE, 2011). O período experimental foi de maio a outubro de 2014.
Foram utilizados quatro caprinos e quatro ovinos, manejados em área de 21 hectares (ha) de pastagem
nativa, divididos em dois piquetes, sendo um de 8 ha e o outro de 13 ha. Os animais ficaram de maio a
julho no piquete de 8 ha e de agosto a outubro no de 13 ha. Os animais em pastejo receberam água e
suplemento comercial Ovinofós com minerais orgânicos (Tortuga®) ad libitum. Os dados de precipitação
pluviométrica foram acompanhados durante o período experimental.
As avaliações para calcular o deslocamento de caprinos e ovinos foram realizadas mensalmente,
durante dois dias consecutivos, utilizando dispositivos GPS presos ao pescoço dos animais por meio de
coleiras. Os dispositivos foram colocados nos animais por volta das 7:00 horas da manhã, quando os
animais foram liberados para pastejo, e retirados às 17:00 horas, quando os mesmos foram retirados da
pastagem. Registros da posição geográfica de cada animal foram feitos a cada trecho de 10 metros
caminhados e o deslocamento total foi calculado utilizando-se o programa GPS Trackmaker®. Os dados
foram analisados em delineamento inteiramente casualizado utilizando o programa SAS/STAT® (SAS
Inst. Inc., Cary, NY, EUA). O modelo da análise de variância incluiu os efeitos fixos da espécie animal,
do mês de avaliação e a interação entre estes fatores. Diferenças entre as médias foram analisadas pelo
teste de Tukey, a 5% de probabilidade do erro tipo I.
Resultados e Discussão
Houve interação significativa (P<0,05) entre espécie e mês de avaliação, sendo a distância
percorrida pelos ovinos maior que aquela percorrida pelos caprinos apenas nos meses de junho e julho
(Figura 1). Conforme pode ser observado, estes meses corresponderam a um período onde a precipitação
pluviométrica estava em declínio, e com boa disponibilidade de forragem verde. Possivelmente, tais
condições favoreceram a seletividade dos animais, que se deslocaram mais em busca de espécies vegetais
com maior aceitabilidade.
Figura 1. Deslocamento de caprinos e ovinos em pastagem nativa. Os asteriscos indicam os períodos onde
houve efeito significativo (P<0,05) da espécie animal
Os caprinos por serem mais seletivos e se alimentarem preferencialmente de espécies do estrato
arbóreo/arbustivo provavelmente teriam uma melhor disponibilidade deste estrato em períodos de menor
regime pluvial em relação aos ovinos por preferirem gramíneas, estrato que desaparece mais facilmente
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com a escassez de chuvas. Durante este período os caprinos tinham preferências por determinadas
plantas, principalmente espécies do estrato arbóreo tais como: Mimosa caesalpinifolia (sabiá), Mimosa
tenuiflora (jurema preta), Cordia salzmanni (marmeleiro) e Ziziphus joazeiro (juazeiro). Assim, como os
ovinos têm preferência alimentar por gramíneas ou dicotiledôneas herbáceas, estratos que nos meses de
junho e julho estavam menos disponíveis, os mesmos precisaram caminhar mais para colher a forragem
necessária para o atendimento de suas demandas nutricionais. Animut et al. (2005) trabalharam com
deslocamento de caprinos e ovinos e observaram que os caprinos gastaram menos tempo se alimentando
em comparação aos ovinos. Os mesmos relataram que isto pode estar relacionado com a composição da
dieta, já que caprinos preferem brotos de árvores e arbustos, enquanto os ovinos preferem as gramíneas. A
diferença de hábito alimentar entre as duas espécies, onde os caprinos têm o hábito de ramonear árvores e
arbustos e ter uma maior seletividade em comparação aos ovinos pode explicar porque os ovinos tiveram
que caminhar mais para obter sua dieta. Galyean & Goetsch (1993) ressaltaram que o tempo de ingestão é
menor para leguminosas do que para gramíneas.
No mês de maio, a ausência de diferença entre as espécies no tocante à distância percorrida pelos
animais pode estar associada à intensidade de precipitação diária, o que estimulou os animais a
manterem-se abrigados. De forma semelhante, nos meses de agosto a outubro, meses considerados com
temperaturas mais elevadas, parecem ter forçado os animais a procurarem lugares sombreados e pastejar
apenas nos horários com temperaturas mais amenas. Akasbi et al. (2012) trabalharam com o uso de GPS
para avaliar o deslocamento de caprinos, e os mesmos observaram que as estações do ano, associados
com a temperatura influenciam fortemente a distância percorrida.
Os resultados obtidos nesse estudo suportam observações de desempenho de caprinos e ovinos em
pastagens nativas, onde geralmente os caprinos conseguem manter melhor seu peso em relação aos
ovinos, pois além de selecionarem dietas de melhor qualidade, os animais parecem gastar menos energia
para seu deslocamento.
Conclusões
O deslocamento de caprinos e ovinos em pastagem nativa está associado a condições ambientais,
como precipitação pluviométrica, fenologia de espécies arbóreas/arbustivas e herbáceas e a seletividade
específica de cada espécie. Os ovinos percorrem maiores distâncias em comparação aos caprinos para
obter sua dieta. Medições de disponibilidade de forragem e composição botânica da dieta de caprinos e
ovinos será um próximo passo para melhor interpretação destas diferenças de deslocamento entre as
espécies.
Literatura citada
AKASBI, Z.; OLDELAND, J.; DENGLER, J.; FINCKH, M. Analysis of GPS trajectories to assess goat
grazing pattern and intensity in Southern Morocco. The Rangeland Journal, v.34, p.415–427, 2012.
ANIMUT, G.; GOETSCH, A.L.; AIKEN, G.E.; PUCHALA, R.; DETWEILER, G.; KREHBIEL, C.R.;
MERKEL, R.C.; SAHLU, T.; DAWSON, L.J.; JOHSON, Z.B.; GIPSON, T.A. Grazing behavior and
energy expenditure by sheep and goats co-grazing grass/forb pastures at three stocking rates. Small
Ruminant Research, v.59, p.191–201, 2005.
CARVALHO, P.C.F.; MACARI, S.; OLIVEIRA, L.; SOUZA JUNIOR, S.J.; POLI, C.H.E.C.; JOCHINS,
F.; PINTO, C.E.; BREMM, C.; MONTEIRO, A.L.G.; PIAZZETTA, H.V.L.; FISCHER, V. Desafios da
busca e da apreensão da forragem pelos ovinos em pastejo: construindo estruturas de pasto que
otimizem a ingestão. In: IV Simpósio Internacional sobre Caprinos e Ovinos de corte. João Pessoa, 2009.
CD-ROM.
GALYEAN, M.L.; GOETSCH, A.L. Utilization of forage fiber by ruminants. In: JUNG, H.G.;
BUXTON, D.R.; HATFIELD, R.D.; RALPH, J. Forage Cell Wall Structure and Digestibility. Crop
Science Society of America, 1993, pp.33–72.
IPECE 2011. INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEARÁ. Disponível
em: <http://www2.ipece.ce.gov.br>. Acesso em 10 de março de 2015.
SAHLU, T.; GOETSCH, A.L.; LUO, J.; NSAHLAI, I.V.; MOORE, J.E.; GALYEAN, M.L.; OWENS,
F.N.; FERRELL, C.L.; JOHNSON, Z.B. Nutrient requirements of goats: developed equations, other
considerations and future research to improve them. Small Ruminant Research, v.53, p.191–219, 2004.
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distância percorrida