‘Desescondendo’ o Brasil: olhares sobre a cultura brasileira
Curso à distância
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Abril de 2009
Coordenação Técnica
Patrocínio
2
Estamos vivendo um tempo de avaliar as pegadas que
constituíram o nosso caminhar. O modo como caminhamos
nos avalia. Pode-se dizer que avaliamos e somos avaliados.
Uma questão-eixo seria: como veio sendo planejado o
caminhar?
Com cuidado, com leveza e acuidade estivemos e estamos
trabalhando. Ao avaliar e sermos avaliados podemos fazer
projeções, apostando em algumas características na cultura
brasileira; haveria os “3E” que marcaram nossas ações: ética (o
cuidado), estética (a leveza) e economia (acuidade).
Esses “3E” produziriam (conforme o planejado) mais
participação. Mais poetas, pessoas e grupos mais musicais,
dramaturgia mais sofisticada e comunicativa, mais
expressividade nas coreografias, vigor nos repentes e nos
improvisos, melhor atenção dos brasileiros às farinhas, aos
bilros, às estórias e repentes, melhor pertença gastronômica de
panelas e potes, mais presença e sociabilidade de bonecas
negras e bonecos gigantes, mais ciranda, menos preconceito
contra as artes dramáticas e contra os saberes da tradição
afro-americana... enfim: mais vivência consciente do
pluralismo cultural.
Estamos fazendo e sendo parte de políticas publicas em
construção. Segundo a concepção de gestão em rede é isso:
fazemos e somos parte da política. Buscamos eficiência em
nossos planejamentos e presenças; encontramos (como
demanda) que mais eficiência advém de melhor democracia
nas interações estado-sociedade. Isso exigiu de nós coragem
intelectual, confiança no presente e aquela seriedade de habitar
os nossos referenciais, sendo tradicionais em nossas recriações.
¹ Revista Nova. No artigo: Luis Aranha ou a poesia preparatoriana. São Paulo, 1932.
Penso que seria oportuno correlacionar aqui trechos de uma
reflexão do Mario de Andrade:
(...) nosso atualismo é consequente com a observação direta da
realidade contemporânea. Isso significa amor ao jogo e não amor de
ganhar o jogo. Nos permitiu conceber o que temos que ser, brasileiros e
americanos, pra contribuirmos de alguma forma com o
enriquecimento da humanidade. De aí que o universalismo seja
pragmático: pesquisamos o nacional ao mesmo tempo em que nos
libertamos de tendências estreitamente regionalistas; a procura das
tradições favorece e ilumina o Aleijadinho, revitaliza o ameríndio e
persegue a ressonância histórica de nossa tristeza. E, quanto ao
realismo psicológico, importa verificar não apenas que a submissão e
pesquisa de realidade contribuíram para o excesso de personalismos e
multiplicar teorizações estéticas; o fenômeno realmente importante e
decisivo foi a fixação do conceito de intelectual. Nós hoje nos
debatemos ante problemas do homem e da sociedade com
consciência e desejo de solução, com aquele desespero inerente ao
intelectual de verdade: jamais nossos artistas do passado fizeram isso
com tal intensidade. (...) Hoje estamos preocupados em voltar às
nascentes de nós mesmos e da arte (...). 1
Reinventar seria assim. A contemporaneidade artística dos
brasileiros toma pra si a responsabilidade e o prazer do “fazer
cultura”, aprimorando o que vem sendo feito. O viver se torna
mais culto e mais jogo, o gosto de jogar é mais pleno do que a
mera incerteza de “vencer na vida”. No esforço de amar e
compreender nós, estado e sociedade, aprimoramos a crítica do
que estamos fazendo. Penso que estamos retomando e
aprimorando o Mario de Andrade...
Célio Turino
Secretário de Programas e Projetos Culturais
Ministério da Cultura
Coordenador do Programa Cultura Viva
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Nesta edição especial do Prêmio Cultura Viva,
Por meio desse Programa, procuramos ações e
que apresenta um projeto de formação, seguimos
oportunidades
a parceria com o Ministério da Cultura (MinC) e o
capacitação, além da produção de documentação e
Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,
materiais que possibilitam a troca e a circulação de
Cultura
experiências, bens e produtos do campo da cultura
e
Ação
Comunitária
(Cenpec),
promovendo a aproximação e capacitação de
profissionalizantes
e
de
em estreito vínculo com a educação.
representantes de mais de 300 iniciativas
atuantes no território nacional.
Nos reconhecemos como parceiros de todos os
contemplados nas duas primeiras edições do
Como a maior patrocinadora das artes e da
Prêmio Cultura Viva e também de todas as
cultura da sociedade brasileira, a nossa atuação
demais iniciativas dos Pontos de Cultura, que aqui
para viabilização deste projeto assume o foco
também
para uma formação de agentes culturais que se
promover grandes encontros, formar redes e
soma às linhas estruturadas no Programa Petrobras
ampliar as possibilidades de intercâmbio e
Cultural, desenvolvido desde o ano de 2003.
fortalecimento das ações.
acolhemos
com
o
objetivo
de
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A mobilização produzida pelas duas edições do
Prêmio Cultura Viva (2005/2006 e 2007) alcançou
4.175 inscrições de iniciativas de 1.078 municípios
brasileiros.
Essas
iniciativas,
oriundas
de
proponentes diversos – Escolas Públicas de Ensino
Médio, Fundações e Instituições Empresariais,
Gestores Públicos, Grupos Informais, Organizações
da Sociedade Civil e Pontos de Cultura –
desenvolvem práticas que revelam a diversidade e a
riqueza da cultura presente em todo o território
nacional.
O processo descentralizado de avaliação das
iniciativas inscritas agregou ao longo das duas
edições 350 avaliadores de todo o País, constituindo
um grupo composto por diversos perfis profissionais
do campo da cultura, da educação e da assistência
social, representantes de governo, de universidades
e da sociedade civil.
Esses números apontam que o Prêmio Cultura Viva,
em apenas duas edições, conquistou legitimidade e
reconhecimento
público,
desencadeando
o
compromisso dos seus realizadores - MinC, Petrobras
e Cenpec - com sua continuidade e aprimoramento.
Visando a esse aprimoramento, a partir de 2008 é
apresentada a proposta de intercalar na
realização do Prêmio Cultura Viva duas linhas
de ação que se complementam: desenvolver o
processo de inscrição, avaliação e seleção das
iniciativas e realizar encontros com a finalidade de
mobilizar e promover a formação de agentes culturais
- provenientes das instituições e dos grupos
participantes do Prêmio -, proporcionando o
intercâmbio de experiências, o fortalecimento das
ações e a composição de redes.
Ao longo de sua trajetória de 21 anos o Cenpec vem
apostando na formação de diversos agentes sociais.
Formação entendida como mudança intencional e
partilhada, como desenvolvimento e transformação
pessoal num contexto de socialização, como encontro
e diálogo entre os vários sujeitos com vistas à
construção do sentido de pertença a uma rede de
ações sócio-culturais de base comunitária.
Ao destacar o valor da prática como elemento de
investigação e autoria, o projeto de formação do
Prêmio Cultura Viva encontra-se com os princípios
do Programa Cultura Viva – fortalecimento da
comunidade,
protagonismo,
autonomia
e
empoderamento dos indivíduos – assegurando o
direito de aprender e respondendo ao desejo de
participação e desenvolvimento dos territórios.
Maria Alice Setubal
Presidente do Conselho de Administração do Cenpec
Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,
Cultura e Ação Comunitária
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Caminhos e Trilhas
Chegamos à reta final do processo de formação do
Prêmio Cultura Viva, iniciado com o encontro
nacional, em novembro de 2008, em Brasília. Desde
então, temos percorrido diversos caminhos e trilhas.
Após a primeira etapa do projeto, demos sequência
à segunda fase da formação, à distância, por meio da
Comunidade Virtual Ponto de Encontro – Prêmio
Cultura Viva e do curso Desescondendo o Brasil:
olhares sobre a cultura brasileira.
Para a terceira e última etapa – encontros regionais –
os participantes foram divididos em quatro grupos:
- Sudeste – Belo Horizonte/MG – de 22 a 25/04
- Norte/Centro Oeste – Belém/PA – de 06 a 09/05
- Sul – Porto Alegre/RS – de 13 a 16/05
- Nordeste – Recife/PE – de 27 a 30/05
Nesses encontros regionais temos o prazer de
apresentar esta publicação, desenvolvida a partir de
alguns dos materiais produzidos por vocês na
Comunidade Virtual e no curso à distância.
Durante quase quatro meses mantivemos contatos
constantes, trocamos inúmeras ideias e informações
no ambiente da Comunidade. Neste Caderno,
reunimos as reflexões que surgiram no Fórum sobre
o tema formação.
Algumas atividades do curso à distância também
estão aqui registradas. As discussões geradas a partir
das atividades sobre o conceito de cultura, festas
tradicionais e o papel transformador da cultura são
apresentadas com o objetivo de reunir pontos de
vistas diversos e enriquecer a discussão proposta.
Ao final dessa caminhada em conjunto nos sentimos
satisfeitos com as várias trilhas percorridas.
Acreditamos que ao encerrar este projeto tenhamos
conseguido alcançar nosso objetivo de construir
uma reflexão compartilhada com todas as iniciativas.
Deixamos como palavras finais um verso da poetisa
Cora Coralina:
A estrada da vida pode ser longa e áspera.
Faça-a mais suave
Caminhando e cantando com as mãos cheias de
sementes.
Até breve!
Equipe Prêmio Cultura Viva
Formação
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Caleidoscópio da Cultura
A cultura é como
uma lente através
da qual o homem
vê o mundo.
Ruth Benedict
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Estou há dias procurando algo que defina cultura como eu a vejo, algo
complexo e simples, complexo porque surge de uma mistura de coisas,
pensares e fazeres distintos. Simples porque quando tudo isso vai
sendo separado cada um vai se enxergando nas pequenas partes que a
compõem, para mim a cultura é a folha de papel que o Mestre Zen fala
e nós, parte dos elementos que a compõem.
Raquel do Nascimento Barbosa
Papéis Culturais Alternativos – Pendências/RN
Quem nunca chegou a percorrer a Floresta Amazônica de avião ou de barco de Manaus a São
Gabriel é muito fácil falar! Mas quem já percorreu essa imensa floresta já sabe que o desafio é
longo e cansativo, pois quando falamos da cultura do alto rio Negro falamos das 23 etnias
indígenas da região do alto rio Negro (...) Cultura para nós é o costume que passa no dia-dia na
aldeia, onde vivemos e onde estamos, é uma coisa que fica gravada na memória dos nossos
velhos ‘detentores do conhecimento dos conhecimentos’ dos nossos antepassados. Cultura
significa nome. Por quê? Porque o nome que recebemos, valorizamos e gravamos na nossa
memória... Ninguém desvaloriza seu próprio nome, então a nossa cultura é o símbolo de um
nome...
Moisés Maadzero Keerada Inewikite Irapakape
Grupo de Dança Baniwa do Mestre Luiz Laureano – São Gabriel da Cachoeira AM
O que é cultu
Aqui tem nome e memória:
(...) Lembro os barbadianos da minha família paterna e, particularmente da minha avó não me deixando
dormir a sesta ‘para não ser preguiçosa como essas mulheres paraenses’; do meu pai que, à noite, depois
que a minha mãe rezava conosco as orações cristãs, nos fazia repetir 20 vezes uma mensagem esotérica de
que ‘todos os dias sob todos os pontos de vista vou cada vez melhor’.
Minha mãe, cujo pai professor normalista era filho de um escravo alforriado nos passava a informação de
que jamais deveríamos atribuir quaisquer fracassos em nossas vidas ao fato de sermos negros. (...)
Meu pai, que era comunista, já havia morrido quando eu era pequena. Minha mãe não tinha qualquer
simpatia pelo comunismo e muito se preocupava com possíveis influências (...) A busca teórica me levou ao
Gilberto Freyre, Roberto Da Matta, Sérgio Buarque de Hollanda e Darcy Ribeiro. Quando fiz o doutorado em
1994 havia muita dificuldade de aceitação na academia ‘desses teóricos conservadores’. (...) Estou vendo
que esta minha escrita está parecendo uma autobiografia. Então vamos: o mais importante no século XX
para a minha vida foi o nascimento dos meus filhos Justo e Alegria, cujos belos nomes foram sugeridos pelo
meu marido poeta argentino Alberto Antonio Soria, que cultuava o Sol. Ao contrário da minha avó, dizia
que o povo brasileiro é muito trabalhador (...) Infelizmente, até agora não consigo dormir a sesta! (...)
Heliana
Luamim: peças interventivas na realidade – Belém/PA
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Cultura como olhar, jeito de estar, é citado por Juliana
e José Carlos:
A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo.
Frase de Ruth Benecdit, no livro do Laraia, citado por
Juliana Noleto
Arquivo Musical Timbira – Brasília/DF
Existem definições que nos deixam restritos... existem definições que nos
impedem de voar mais alto!
Prefiro aquelas que nos aproximam do coração! Falar de cultura é bem
assim, difícil, quase um desafio!
Sabe aquilo que amamos, criamos, exploramos e pouco dela sabemos?
Cultura minha soa bem assim, quase um enigma!
José Carlos
SACEM – Semana de Artes e Cultura do Col. Est. Manoel Vilaverde – Inhumas/GO
ra para você?
Mas também tem a cultura como algo não estático, movimento. Como citam Betânia, Josemeire e Vânia:
Cultura nasce, cresce, desenvolve,
envelhece... e nunca morre!
Cultura
está
na
genética,
no
comportamento, no pensamento. Na
infância conhecemos sua mais nobre
expressão,
como
o
tempo,
o
aperfeiçoamento e autenticação. E
depois, a mais bela forma de educação.
Mas só para os que sabem... os que
sentem... os que vêem... os que
reconhecem... os que respeitam... os que
entendem!
Betânia
Canto das Artes – arte, cultura e meio
ambiente– Palmas/TO
Cultura tem forma?
De onde vem tanta criatividade e gosto
estético de pessoas que nunca tiveram
uma experiência estética, contato com
arte e, no entanto, sai de suas mãos e
apenas de seu repertório imaginário,
obras que nos levam a diversos graus de
reflexão? Isso muda uma cultura,
interfere nela ou cria-se uma nova?
Continuo a pensar...
Para mim cultura é CRIAÇÃO! E criação
de seres que são puro imaginário,
sentimento e vida (todos nós seres
humanos). E o melhor de tudo é que
passa
do
imaginário
para
a
concretização e se perpetua na
MEMÓRIA imaginária de quem VIVE
(respira) e no CORAÇÃO de quem SENTE
(pulsa), pelos séculos e séculos e séculos
e séculos... graças a todos os deuses de
todas as culturas, assim seja!!
Josemeire Vieira Coelho
Artes Táteis – Brasília/DF
Vânia Rego
Caravanas de Arte-Educação – Santarém/PA
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O que é cultura para você?
E por falar em criação, Rubens concretiza
conceitos e cria poesia como a de Joaquina
Juruna, citada por Déa:
A poesia da indígena, Joaquina Juruna, que vive no Sul do Pará, Altamira,
é a síntese de como entendo cultura.
Déa
Peneirando – Belém/PA
Oh! formoso pai do céu
Que me ouve nessa hora
Daí-me entendimento
E uma boa memória
Para falar de uma árvore
Na qual me refiro agora
É uma árvore pequena
Que parece não ser nada
Mas, para quem lhe conhece
Merece ser preservada
Por toda nação do mundo
Merece ser respeitada
Essa árvore serve muito
Pra quem sabe lhe usar
Serve para fazer rede
Lençol para se embrulhar
Tipóia pra por do lado
E linha pra costurar (...)
ARTE
CORTE
X
CULTURA
COSTURA
E Rubens poderia continuar de forma
concreta a poesia de Joaquina:
Os conceitos erudito e antropológico são complementares.
O meio ambiente determina a cultura local (se houver rocha no
local, haverá reflexo na arquitetura, no artesanato, na
escultura; se houver palha, abundará a cestaria, tapetes,
objetos; argila proporcionará a cerâmica que será empregada
nas formas mais diversas...)
A memória também é determinante, e aí eu lanço mão da
mitologia grega, onde a memória é a mãe de todas as artes,
como elemento crucial na sobrevivência e difusão da memória
cultural.
Rubens Costa Marques
Projeto de Educação Patrimonial - Campo Grande/MS
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E se a gente fosse continuar, faria uma imensa
roda: nome, memória, jeito de estar, movimento,
criação, meio:
O que é cultura para você?
E eu acrescentaria resistência e luta.
Heliana
Luamin: peças interventivas na realidade – Belém/PA
O conceito de cultura é bastante
amplo e variado; é uma questão
de perspectiva. No entanto vou
tentar agora passar o meu
conceito do que é cultura. É o
conjunto
de
características
inerentes a pessoa, quer seja na
área artística, aí incluo música,
dança, teatro; religiosa tanto na
crença quanto em seus rituais ou
ainda manifestações religiosas ou
sociais como o modo que uma
determinada
sociedade
se
organiza. São elementos que em
conjunto
caracterizam
determinada sociedade, povo,
grupo, os quais são transmitidos
de geração em geração.
Cultura é inerente a pessoas e
lugares que fazem parte da
construção
de
nossa
personalidade em um constate
movimento sem perder suas
origens e sempre adicionando
novas formas, por meio de
cooperação social.
Conhecer
a
nossa
cultura,
conhecer o que nos distingue e nos
assemelha dos outros seres,
conhecer o que nos é próprio e nos
identifica, é caminho fundamental
ao crescimento e construção do
futuro para cada indivíduo, grupo
ou sociedade.
Eder
Ponto de Cultura a Bruxa Tá Solta
Boa Vista/RR
Jarbas Santos
Tudo que Fizerdes ao Adolescente
Brasília/DF
Cultura é a referência de tudo e de
todos, é como reconhecemos e
referenciamos a maneira de ser.
As pessoas assumem e se
comportam culturalmente e se
expressam de maneira a serem
identificadas através dos costumes
e valores que consolidaram ao
longo do tempo.
Quando vimos essa procissão
fluvial na Amazônia, percebemos
toda a participação coletiva numa
manifestação cultural legitimada
pelos seus costumes.
Esta procissão fluvial é em
comemoração
ao
Círio
na
comunidade de Serraria Pequena,
no município de Afuá/PA. Após a
parte religiosa vem a festa profana
com danças e jogos.
José Roberto
Navegar Amazônia –Macapá/AP
Foto postada pelo Walter Santos Dias.
Comunidade Capoeira, Teresina/PI
É a manifestação advinda de
qualquer expressão cultural, seja
artística, social, lingüística.
É toda a capacidade de produção
que nos diferencia e que nos
identifica.
É toda prática que dá real sentido
à nossa vida!
Rubia Goreth
Cuias de Santarém – Santarém/PA
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Cultura é a humanidade avançando ao encontro de si mesma. Em cada passo de homens e mulheres
que continuam palmilhando o caminho, apesar das pedras.
M. Fulgência
PROCURO - Projeto Cultural do Rosário – Feira de Santana/BA
O que é cultura para você?
A cultura está presente em todos os momentos de nossa vida.
Cíntia Arreguy
Cestas de Memória – Belo Horizonte/MG
Segundo os meus conhecimentos, a cultura representa a identidade, em constante transformação de um povo, conforme seus significados, épocas,
lugares e sua relação com o outro, consigo e seu meio.
Conforme SCHIMITI, descrevendo o ensino de música nas escolas públicas e privada, pode-se compreender o conceito de cultura como: “Contribuições
relativas à experiência de vida das crianças e dos jovens somente a cultura pode oferecer. Seu poder de expansão da criatividade e da auto-expressão
favorece uma interação social positiva e faz com que as crianças conheçam e participem dos rituais da sociedade de forma eminente mais expressiva”.
(p.15)
O conceito e as possibilidades da cultura se ampliam como descreve MARTINS: “sendo o conjunto das manifestações dos modos de vida, alguns
bastante característicos, que formam o patrimônio cultural das diversas regiões... que fazem uso das linguagens das artes visuais;artes cênicas; artes
da palavra; artes musicais; audiovisual;... tradições; tecnologia” e acrescentando o imaginário.(p15)
Compreende-se, portanto, que cultura é importante, não somente pela análise estética, mas como reconhecimento de sua capacidade, conhecimento,
desenvolvimento de potencialidades pessoais que provocam uma melhoria do equilíbrio geral do ser humano.
Cleotilde,
A Vivência Musical como Instrumento de Socialização no Ambiente Escolar – Boa Vista/RR
Idéia de cultura como dia-a-dia, como pequenas experiências e não grandes
marcos.
Cultura como mosaico
de saberes,
de vivência,
de quereres.
Como movimento coletivo
do sensível,
do prazer,
da vida.
Como pedaços particulares
Que formam e transformam
O dia a dia.
Marina Abib
Teatro Escola Brincante – São Paulo/SP
Eu,paulistana
Eu, Bororo
Eu,Terena
Nós, brasileiros
Cutura é identidade.
Dulcilia, Gilmar e Agostinho
O Museu na Aldeia: Comunicação e Transculturalismo
Campo Grande/MS
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Cultura é “tudo o que o povo acredita, sabe, imagina, vê, ouve, come, comenta, discute, defende,
tem medo, nojo, é a favor e/ou é contra...”
O que é cultura para você?
Ariane Piñeiro
Projeto Animação - Núcleo Animazul – Vitória/ES
Cultura é tudo o que o homem produz em um grupo ou em uma comunidade. É muito
interessante conhecer a cultura de outros países, cidades, grupos e outros para entrar em
contato com a diversidade de linguagens, festas, cultos, vestimentas, comidas e uma
infinidade de itens diferentes.
Roseli Aparecida
Brincando na Universidade: LABRIMP e MEB como Espaços de Cultura – São Paulo/SP
Cultura é (cultivar/cuidar) dos valores dos indivíduos de um determinado local, como eles pensam
e como eles são. Ocorrem mutações com o tempo... mas o jeito de ser e estar ficam definitivamente
agradados.
Cida Marques
Escola de Artes Sacras e Ofícios – Barueri/SP
Sou caipira, Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida (2x)
Me disseram, porém
Que eu viesse aqui
Pra pedir de
Romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar
Meu olhar
(Renato Teixeira)
Foto de Natanael de Andrade, que mostra alunos da
Comunidade de São Miguel do Cajuru preparando-se
para entrar no palco do Teatro Municipal de São João
del Rei.
A peça foi uma criação livre a partir da obra de Ariano
Suassuna, "O Auto da Compadecida". Os alunos
transportaram o enredo para o local onde vivem, uma
comunidade rural distante 40 km do centro da cidade.
Para isso, reconheceram histórias e personagens locais
e criaram, inventaram, brincaram...
Frase de uma aluna: "com o Projeto, eu aprendi que eu
posso ser o que eu quiser".
Juliano Pereira
Projeto Arte por Toda Parte – São João del Rei/MG
Monumento Romeiros, em Pirapora do Bom
Jesus (SP), que retrata a letra da música
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O que é cultura para você?
Diante de um conceito tão complexo e difuso, as imagens têm mais força.
Arheta
Festa da Rua – Rio de Janeiro/RJ
A valorização da cultura e da identidade popular nos
ajuda a fincar raízes, nos redescobrindo e dando novo
significado a nossa história de vida. (...) Somos coloridos
de cores e sabores... Todos temos muita coisa em
comum e ao mesmo tempo tanta diversidade.
Elaíse
Projeto Rádio Instrumental Educativa CBM – Serra/ES
Cultura é tudo o que move um povo, que dá sentido às
suas iniciativas e crenças, ao seu jeito de viver e conviver.
São suas histórias, brinquedos e brincadeiras, as festas e
celebrações; é tudo aquilo que os sustenta e lhes garante
a unidade e o espírito comunitário, promovendo o seu
desenvolvimento.
Eliete R de Araújo
Casinha de Cultura - Espaço de Celebração do Conhecimento
Coronel Murta/MG
Cultura refere-se a tudo que nos traz conhecimento,
permitindo assim, a socialização, a participação, as
experiências, a arte. Também entendo a cultura como
um potencial educativo, que possibilita a qualificação e
a mediação necessárias para a construção e o exercício
da cidadania, fortalecendo o tecido social e o
desenvolvimento das comunidades.
Rosa Hiroko
Projeto Cultural a Gente Não Quer Só Comida
Campinas /SP
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Cultura é a ferramenta libertadora de expressões,
potencial e o instrumento mais capaz de empoderar o
ser humano em toda sua ‘riqueza e essência humana’.
A única capaz de competir com o assédio do tráfico,
narcotráfico e capaz de abrir caminhos reais para a
vivência da Cidadania.
O que é cultura para você?
Lucinara Reis
Circo de Todo Mundo – Belo Horizonte/MG
Como dizia o filósofo, “cultura é tudo que não é natureza”. A cultura nasce da necessidade; o ser humano
transforma a natureza para satisfazer suas necessidades. O vazio interior da alma humana busca por uma
razão, por uma explicação da existência. O desejo de criação através da ação, do trabalho gera o ser cultural.
Paulo César
Grupo de Fandango da Juréia – Iguape/SP
Nosso mestre do baião imortalizou o conceito de cultura através da música: “é tudo aquilo que o povo sente,
que vem de dentro do coração...”.
Cultura é “o aconchego de sentir-se humano. Humanizado, sentindo, vivenciando, produzindo e reproduzindo.
É a arte e o artista, o público que se encanta. São as raízes que alimentam nossa identidade, fortalecem nossas
tradições, nos ajudam a saber quem somos. Em cada jeito de ser, acreditar e sonhar, construído e manifestado
em cada cantinho de nosso Brasil, dando gosto e sabor ao nosso viver. Mãos calorosas, que tecem com
diferentes retalhos, cada pedacinho de nossa colcha chamada vida”.
Cultura é o conjunto de manifestações artísticas, sociais,
lingüísticas e comportamentais de um povo ou
civilização. Mãos que sabem o segredo do barro...
iniciam mãos guardiãs do legado. Falo das Paneleiras de
Goiabeiras de Vitória do Espírito Santo, que passam seus
saberes e fazeres de geração para geração. Isso é a nossa
cultura, mostrando as manifestações artísticas e sociais
de nosso povo.
Elizete Terezinha
Projeto Viagem pela Literatura – Vitória/ES
Elaíse Carla,
Projeto Rádio Instrumental Educativa CBM – Serra/ES
Cultura é mobilização interna, transformação através dos estímulos da vida, olhares e percepção de beleza,
oportunidades, jogo de mãos, olhos e espírito focados no crescimento e desenvolvimento humano. Pessoal mais
pessoal, individual ou coletivo e devolutiva acrescida de um toque a mais para continuidade e crescimento de
cada um que puder ou quiser dela se apropriar. Bolo com muito fermento...
Cultura é “o conjunto de saberes e fazeres de um grupo,
os conhecimentos e prática que descrevem e definem o
modo de vida de uma comunidade e que a torna ciente
da sua posição no mundo”.
Heloísa Helena
Programa Cultura Caiçara Viva – Teia – Cananéia/SP
Inez Waack
Ponto de Cultura do Religare - Artes aos Quatro Ventos – São Paulo/SP
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O que é cultura para você?
Somos riquíssimos em arte e cultura, de norte ao sul
deste Brasil, por isso a minha compreensão de
cultura é que é algo orgânico, se misturando e se
mexendo o tempo todo e resgatando as nossas
origens, os nossos sabores, os nossos cheiros, as
nossas fantasias e alegrias.
Cultura é cultivar amor, unidade, consciência, liberdade, sabedoria e não somente conhecimento.
Jacqueline
Projeto Rodas e Brincadeiras Cantadas – São José dos Campos/SP
Cultura para mim é a forma que temos
de nos expressar e a interação
resultante dessa expressão (fotos do
trabalho das crianças do projeto Anima
Escola).
Destaque à “necessidade da interlocução, da
colaboração, da comunicação para o enriquecimento
humano, fator necessário para que tenhamos uma
‘travessia’ feliz e de qualidade”.
Algumas palavras que definem cultura:
Conhecimento / Saber / Coletividade / Valores /
Interação / Instrumento / Pensamento / Ação / Rede /
Diversidade...
Maria das Graças Souza Rocha
Gerando Cidadania e Cultura – São Gonçalo /RJ
Joana Sobra
Projeto Anima Escola – Rio de Janeiro/RJ
Marilene de Lucca
Cultura & Cidadania – Timotéo/MG
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Cultura como identidade.
O que é cultura para você?
Lucas Pablo
Rocinha Ontem e Hoje: Histórias Brincantes - Rio de Janeiro/RJ
Cultura é misturar tudo e todos... todas as
linguagens e pensamentos, conceitos e
deixar os resultados acontecerem (...)
Suassuna, expert em cultura popular que
critica e desconsidera o funk, uma
manifestação artística cultural com forte
expressão, que é representado pelas
camadas mais populares do país. Isso
tudo pode ser misturado e resultar em
uma atraente experiência, que permite o
conflito de linguagens, mas não
descartam a experimentação de ambas.
O que produzimos em nossa sociedade. O nosso
modo de vida é cultura. O futebol, o forro pé de serra,
as lendas e histórias verdadeiras de personagens
como o Lampião, manifestações de determinadas
comunidades.
Antonia Valesca
Escola de Gestão Cultural e Formação de Platéia da
Meninada do Sertão – Crato/CE
Rômulo
Oficinas Culturais no Programa de Ensino
Nova Iguaçu/RJ
”Não fiz vestibular, nem tão pouco a
faculdade, a minha universidade só me
ensinou a cantar. Na cultura popular foi
onde eu ganhei troféu, meu professor
esta no céu, me corrige e da ‘aprovo’, o
meu diploma é o povo, vale mais do que
papel...”
Coloco-me de joelhos em terra
ao olhar para o passado
que tanto reflete o presente.
Lanço o olhar no velho pilão
próximo ao fogão à lenha
é o mesmo sabor de tudo.
Ao amanhecer oração.
Ao longo do dia trabalho e
ao entardecer prosa e viola.
O batuque e os batuqueiros.
A lua onde mora São Jorge e
a fogueira que anuncia o nascido São João.
Pequeninos atos cotidianos que desde
o início da minha genealogia se instalam
com sons, sabores, suor, dança, prosa...
Ainda é o mesmo tengo tengo
mango mango, em vestes ousadas
na labuta para o pão e o esconder da dor.
Margarida Cassimiro Gasparino
Guarda de Moçambique e Congo 13 de Maio
Belo Horizonte/MG
Mestre João Paulo, Maracatu Leão Misterioso
citado por Sérgio Ricardo, Oficinas
Ternodamata – Nazaré da Mata/PE
Cultura é um conjunto de manifestações e hábitos culturais em lugares diferentes. São hábitos desenvolvidos pela convivência nas várias comunidades. Cultura é uma
maneira de criar e construir os objetos de vida. Cultura que vão e voltam em cada passar de ano. Isso é cultura.
Daiane Fausto
Projeto Canoa de Tolda – Brejo Grande/SE
21
O que é cultura para você?
Tratar de Cultura é tratar do conjunto extremamente variado de manifestações tradicionais e também
inovadoras do povo de uma região.
Cultura é todo e qualquer produto humano, identidade de um povo, costumes, crenças, manifestações,
tradições. Dança, teatro, artesanato, pintura, escultura, xilogravura, dentre outros, são muitas as
manifestações que envolvem a palavra cultura. Fazer Cultura significa fazer história e esta se revela no
cotidiano e imaginário das pessoas num processo criativo e criador.
Falando do povo Nordestino as manifestações são originadas da vivência cotidiana que mesmo pela seca
que fez do sertanejo um forte; da sua luta pela vida, a esperança de vencer cada desafio. E ainda em meio
as adversidade produzir as tão belas manifestações artísticas que definem os traços culturais do povo do
sertão e fascinam aos amantes e admiradores.
Este tema é, sem dúvida, muito instigante, até
porque, como aluno de antropologia e artista,
venho perseguindo esta resposta há muito
tempo... bem, na verdade, vejo que podemos falar
de CULTURAS, buscando uma abordagem mais
ampla, que envolve todo o FAZER humano!
Henrique José
Oficinas de Fotografia e Identidade – Natal/RN
Cícero
Programa Saberes – Senador Pompeu/CE
Fazer cultura é fazer história, e a partir do momento em que criamos algo em nossa comunidade,
contribuímos para que ela cresça e nós também. E podemos mudar um pouco o rumo da nossa história,
pois quando acontece algo novo, na comunidade, há uma mudança radical e é aí onde descobrimos o que
somos capazes de fazer. Quando vamos participar de algum movimento usamos nossos cinco sentidos, pois
pensar também é cultura. E penso que o imaginário que ele fala é isso, a questão mesmo do criar, botar a
mão na massa e fazer. Tirar tudo da mente e botar em papel, depois por em prática. E que também podem
estar ligadas às lendas e histórias que o povo conta, “o imaginário popular”.
Valêsca Cordeiro
Escola de Gestão Cultural e Formação de Platéia da Meninada do Sertão – Crato/CE
O imaginário está no poder que temos de transformar, criar, desenvolver, resgatar...
Cícero
Programa Saberes – Senador Pompeu/CE
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O que é cultura para você?
No meu olhar a cultura é toda forma de expressão de um povo, a língua, as idéias, as crenças, os costumes,
os códigos, as instituições, as ferramentas, a arte, a religião, a ciência, enfim, todas as esferas da atividade
humana. Essa cultura também pode ser pensada como a identidade desse povo e sob esse olhar ela é plural.
Lucinda
Consciência, Cor e Arte - A África Está em Nós – Santa Cruz da Baixa Verde/PE
“Não é possível qualidade de vida plena com mediocridade cultural, intolerância, incitamento à violência
sexual e ao alcoolismo! Escrevendo essas linhas, recordo de minha infância em Serra Talhada, ouvindo o
mestre Moacir Santos e meu querido tio Edésio em seus encontros musicais, cada um com o seu sax em
verdadeiros diálogos poéticos! Hoje são estrelas no céu de Pajeú das Flores! Eu quero o meu sertão de
volta!” * Anselmo Alves é jornalista, cineasta, sertanejo de Serra Talhada/PE, com larga compreensão do
Nordeste.
Edivânia
Valorização da Cultura Popular Sertaneja – Valente/BA
Eu procuro entender a cultura como algo capaz de transformar a atuação, a percepção do indivíduo no
tempo e no espaço, eu entendo que não da pra definir cultura como costume simplesmente. (...) sei que é
muito complexo o assunto e remete a um bom debate (...).
Cultura é o que define a humanidade. São as
ações
humanas,
vivenciadas
e
‘horizontalizadas’
em
cada
ambiente,
protagonizadas por todos, mas acima de tudo
respeitadas quanto à sua origem e poder de
repercussão.
Ana Lúcia Auricchio
Casa da Ecologia: Ponto de Cultura Ambiental – Arujá/SP
Cultura verdadeira é aquela que herdamos.
Nossos pais, avós, bisavós ou adquirimos dentro
de uma comunidade, e até mesmo repassado por
outras pessoas. Não basta só herdar, temos que
cultivá-la também. A cultura popular para mim é
um ótimo exemplo de cultura, e o nosso imenso
Brasil está repleto dessas culturas.
Marcio Fernandes
Projeto Arte na Praça – Guaraciaba do Norte/CE
Marcos Antonio
Ode aos Mestres e Griôs – Santa Cruz/RN
A cultura é líquida.
Francisco
Cinema de Animação: Mercado de Inclusão do Terceiro Milênio – Fortaleza/CE
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O que é cultura para você?
Não precisamos de muito conhecimento para se chegar em um jardim bem cuidado, precisa-se primeiro
plantar as sementes, aguar, podar, ter uma certa dedicação para se chegar num belo jardim, pois se não
cuidar morre e isso pode ser um trabalho em conjunto, que passa de geração para geração.
Katja
Grupo de Tradições Folclóricas Samba de Matuto Leão da Primavera – Maceió/AL
Cultura é uma maneira de criar e construir os objetos da
vida. Cultura que vão e voltam em cada passar de ano.
Isso é cultura.
Daiane Fausto
Projeto Canoa de Tolda – Brejo Grande/SE
Acredito que quando converso com eles/as (alunos) sobre as manifestações como expressão de quem
somos, não apenas estou conceituando do ponto de sentir, pensar e agir, mais vivenciando a experiência
cultural que dialoga com os tantos saberes com os quais não nos damos conta que temos. Que uma ação
que propõe o passado como referência através das tradições e do patrimônio material, pode estar sendo
ressignificada a partir de um novo olhar e das atitudes diante do diferente que parece contrário aos valores
que se defendem, do que parece exótico e do que imprime desigualdades entre as pessoas.
Esculpir o tempo, como Tarkovski, viver a arte, arte e vida.
João Simão,
Escola Pernambucana de Circo - Trupe Circus Protagonizando o Espetáculo da Vida – Recife/PE
(...) acredito que Cultura é o modo de ser de um povo. É aquilo em que vivem ‘com-unidade’. Que Cultura
está em todas as ações, que Cultura é a maneira de viver naquele espaço geográfico, portanto não é
possível importar cultura.
José Nilo,
Associação Carnaubeira de Arte-Educação – Limoeiro do Norte/CE
Hoje entendo muito bem porque minha avó nunca quis sair de lá, mesmo quando estava doente. Vivia
humildemente, mas com verdade, com naturalidade, pisando na terra, fumando seu cachimbo,
abençoando as centenas de afilhados, se balançando na cadeira na calçada em frente de casa.
Sempre que a gente tomava a benção a ela, ela dizia: “Deus te dê Fortuna!” E temos recebido realmente
muita Fortuna ao longo dessa vida. Ela se foi tendo o maior sonho da vida dela realizado: ver o filho
vencedor nesse mundo de tantas contradições.
Luciana Rabelo
Ventilador Cultural – Recife/PE
Darcy
Interação indio-estudantes
de escolas de Maringá-Paraná Maringá/PR
A meu ver, a cultura é o ser e o estar dos povos, das
comunidades, dos coletivos.
Janaina
No Campo da Cultura – Teatro e Literatura na Cultura Camponesa
Porto Alegre/ RS
Queiramos ou não, tudo que influencia nosso
comportamento é cultura, somos em nosso corpo, o
reflexo do espelho da verdade, daquilo que aceitamos
como certo culturalmente para nossa vida. Nosso modo
de vestir, de nos alimentar, de nos movimentar. Muitas e
muitas vezes sabemos que o que fazemos é errado,
enterramos nossos entes queridos e nossos amigos
vendo os erros, e continuamos errando... porque
continuamos vivendo sem ter a coragem de falar o que
é verdadeiro quando o falso nos favorece.
Nereuvaldo
Projeto Viagem da Leitura – Bituruna/PR
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O que é cultura para você?
Caros leitores amigos
Leiam com atenção
A história que estou contando
Com respeito e emoção
Pois são saudades que trago
Guardadas no coração
Estou escrevendo este livro
Com respeito e cuidado
Usando o palavreado
Da gente do interior
Para que o homem letrado
Ao ler não vá reparar
A nossa linguagem matuta
Que a gente aprendeu a falar
E tentando resgatar
O que já desapareceu
Da cidade de Bombinhas
Depois que ela cresceu
São histórias verdadeiras
Da gente do meu lugar
Eu escrevo em verso e prosa
Para a cultura preservar.
...................................
DO LIVRO “RETALHOS DA NOSSA VIDA”
Autora: Nadir Tomázia Pinheiro da Silva
(publicado em julho de 2007)
Essa pequenina e grande poetisa de olhos azuis tão
simples assim como é a Sabedoria Popular, guardou na
memória o que ela chama de “progresso”, ou seja, o
desenvolvimento e a transição do velho “mundo” até o
novo município, passando pelas transformações que
esse processo acarreta. Para sorte das futuras gerações,
ela não sucumbiu à memória e manteve suas origens
latentes no coração, traduzindo em poesia as mudanças
geradas com o crescimento da, então, Vila de
Pescadores,
que
conheceu
muito
bem!
Essa beleza e criatividade da Literatura Popular do
descendente de açoriano, transmitida através de versos
como forma de expressar sentimentos, contar algum
causo ou falar da Saudade é ainda, felizmente,
encontrada em nosso cotidiano. Assim, essa memória
viva e ativa, é Nadir Tomázia Pinheiro da Silva, aos 55
anos, que em “Retalhos da Vida”, escreveu fragmentos
da história Bombinense, desenhados em verso e prosa.
Sendo esta a primeira publicação escrita, rimada e
“consertada” por uma nativa, que aos dez anos de idade
já não freqüentava a escola para ajudar os pais na lida
da roça, é sem dúvida, um marco literário para o
município de Bombinhas. Como entusiasta das
expressões populares e minha dedicação ao estudo da
cultura de base açoriana desde 1995, esta rica literatura
fica por mim assinalada com alegria.
Rosane,
Unindo Gerações - Oficinas de Cidadania, Bombinhas /SC
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O que é cultura para você?
Cultura é pensamento
É movimento.
É criação, pertencimento.
É ser igual na diferença.
É unimultiplicidade.
Cultura é Campo, é Cidade
Cultura é cor e alegria.
É o significado.
É o amor descontrolado.
Cultura é quem fez e o que fiz
Cultura é fruto e raiz
É passagem, é mensagem
É saudade, é memória
É cada folha da história
cantada da boca pro ouvido
Cultura é o que foi vivido
Pensando em porque viver
Cultura é permanecer
É não querer entender
É jamais se conformar
Cultura é dar água aos brotos
Cultivar e ver crescer
A esperança de todos
Cultura é lutar pelo ninho
Pra nunca deixar sozinhos
Nossos sonhos passarinhos
Cultura é o sentido da vida, aquilo que move o que somos, o que sabemos e o que sentimos, é o exercício da
presença no mundo. E o futuro? O nosso vir-a-ser depende do que fizermos aqui e agora com o encontro desses
“universos culturais”.
Maria Inez Flores
Grupo de Teatro Estudantil ATIVAR – Santa Rosa/RS
Somos toda uma fração de Cultura, reunidos aqui em um Todo “Multi”, que é o que representa no que é dito, lido,
escutado, sentido e enxergado, a minha visão e o que defino como CULTURA e que quero compartilhar com todos!
Tadeu
FUMPROARTE – Porto Alegre/RS
(...) quando penso em cultura logo penso na diversidade, nas inúmeras culturas que nos encantam o Brasil a fora. (...)
A palavra cultura ganha mais significado quando a penso no plural, (...)
Claudia Feijó
Museu Comunitário da Lomba do Pinheiro / Memorial da Família Remião – Porto Alegre/RS
Cultura = Exercício da presença no mundo.
Maria Inez Flores
Grupo de Teatro Estudantil ATIVAR – Santa Rosa/RS
Ivan Therra,
Jornal O Marisco – Cidreira/RS
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Olhares para as festas de minha região
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Todas as quatro regionais do Prêmio Cultura Viva - Formação
falam sobre as festas juninas, mas é interessante observar
que as formas do falar variam de região para região. No
Nordeste, por exemplo, os relatos apresentam as festas
juninas com muito colorido e vida. No Sul, a festa é analisada
em contraponto com a tradição local; na região Sudeste
emerge o aspecto econômico e no Centro Oeste e Norte a
migração e a influência nordestina são relembradas.
Em vários depoimentos outras festas são lembradas e nesse
conjunto temos quase que um levantamento do repertório
deste grupo...
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Quem fala sobre as festas juninas?
Nós nordestinos, mais do que ninguém sabemos o impacto e a importância que essa festa representa para os senhores, senhoras, crianças, jovens...
do nosso nordeste como um todo. Entendo que uma das coisas que possibilita é o envolvimento da própria comunidade em realizar a festa: a
comunidade organiza a quadrilha, enfeita sua rua, divide a comida de milho com seus vizinhos, vai para fogueira uns dos outros. A interação das
pessoas para que a festa permaneça viva, forte, mesmo com toda essa evolução me parece de grande significado, possibilita a união dos povos.
Dificilmente a gente vê violência nas festas juninas: entre os participantes então é uma união só. Eu digo isso devido há 11 anos me envolver
diretamente nessa manifestação e procuro acompanhar de perto o passo a passo. É importante dizer que uma coisa é a manifestação junina onde
toda comunidade se envolve, se integra, se une para realizá-la. Outra coisa são os festivais. Eu entendo que precisa que os quadrilheiros e a própria
comunidade discutam melhor os impactos causados por esses festivais organizados pelas prefeituras, que na sua grande maioria visa meramente a
politicagem e que vem desfazendo o sentido da cultura junina no nordeste.
Marcos Antonio
Ode aos Mestres e Griôs – Santa Cruz/RN
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Do ponto de vista estético, a festa possibilita muita
animação, diversão, criação. Para os brincantes é um
momento mágico e de muita alegria. Dão o melhor de
si para fazer mesmo a festa acontecer. Aqui na minha
cidade, o pessoal que dança nas quadrilhas começa a
ensaiar meses antes. Preparam figurinos, cenários e a
história é muitas vezes baseada na história aqui do
nosso nordeste. Já trabalharam com vários temas,
como: a guerra de Canudos, Lampião e Maria Bonita
entre outros. Isso possibilita aos espectadores
conhecer um pouco da nossa história. Principalmente
os que não tiveram chance de estudar. E a cidade
toma outra cara. Fica viva!
Antonia Valêsca Cordeiro
Escola de Gestão Cultural e Formação de Platéia da
Meninada do Sertão – Crato/CE
Durante a festa há um grande comércio. A
costureira que costura os figurinos das
quadrilhas, as vendas de confecção e os
vendedores ambulantes. Quem sai ganhando
mais são as bandas de fora, que vem cantar. Isso
é em todo lugar que as prefeituras pagam: além
de serem ruins, não valorizam a cultura local. Do
ponto de vista social e político, acredito que o
melhor da festa junina é rever os familiares que
vem de muito longe.
Daiane Fausto
Projeto Canoa de Tolda – Brejo Grande/SE
Na Ilha de Itaparica as preparações para as
festas juninas mobilizam toda a comunidade. E
isso era muito mais forte antigamente. Minha
avó me conta que na comunidade dela era muito
esperada a festa. Todos arrumavam suas casas e
preparavam muita comida e licor. Na noite de
São João uns visitavam os outros para dançar
forró, comer e beber licor. E as visitas de casa em
casa iam até o amanhecer, acabando no nascer
do sol com muito samba de roda.
Antonio Sergio
Espaço Cultural Pierre Verger – Salvador/BA
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Todas as manifestações presentes nas festas juninas expressam um repertório rico em danças,
músicas, crendices, costumes, gastronomia, tradições: enfim toda a vida do povo do semi-árido
nordestino. O “São João”, como é chamado todo o ciclo junino, é a festa de maior identificação com
o povo da região. São as fogueiras acesas, tanto na zona rural como pelas ruas das cidade, onde a
vizinhança reunida em torno de uma mesa repleta de comidas típicas, contam “causos”,
acompanham as crianças na queima de fogos, dançam ao som do triângulo, sanfona e zabumba e
bebem quentão, licor e cachaça.
As festas populares do interior ganharam espaço no calendário turístico e, a partir disso, recebem
recursos do estado para sua implementação como evento oficial. O lado bom é que há geração de
empregos diretos e indiretos. Artesãos vendem seus produtos, há divulgação dos artistas locais. A
cidade melhora sua infra-estrutura, há um incremento no comércio local. O turismo começa a ser
visto como uma nova fonte de renda.
O ciclo junino tem significativa importância tanto na vida social como política da comunidade,
refletindo as interações, as trocas, as fusões, as rupturas e as permanências. Mas há de se pensar em
desenvolver ações sustentáveis que estimulem a base social, econômica, ambiental e cultural dando
maiores oportunidades aos moradores locais.
Lucinda
Consciência, Cor e Arte – A África Está em Nós - Santa Cruz da Baixa Verde/PE
Nosso município tem como padroeiro São João
Batista, portanto, esta festa está diretamente
ligada com a história, a religiosidade e a vida de
nossa comunidade. Durante anos ao ciclo junino
associaram-se as vaquejadas, que servia para
promover grandes festas na comunidade.
O ciclo junino começa no primeiro dia do mês e se
estende até o dia de São Pedro, onde outra festa
encerra esse espaço de tempo. Neste período a
cidade se renova; pessoas que moram longe
retornam para visitar familiares, as bandeirolas
enfeitam ruas e as tradicionais fogueiras ainda
brilham nas noites de Santo Antônio, São João e
São Pedro, aqui no interior.
A socialização, o retorno dos filhos que moram
fora, a mobilização da comunidade em torno das
festas. A igreja, os jovens, as escolas, grande parte
da sociedade se mobiliza para organizar a festa.
Sendo assim, o povo exercita seu fazer social e seu
agir político mesmo sem perceber.
Raquel do Nascimento Barbosa
Papéis Culturais Alternativos – Pendências/RN
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As festas juninas proporcionam a mais pura expressão
da cultura popular regional nordestina. Toda a região
ganha uma cor e uma nova alma, explícita através
das diversas formas de expressão do nosso povo,
quais sejam: dança (quadrilha junina, dança do coco,
dança das fitas etc.), teatro (casamento matuto),
crendices populares (simpatias), ornamentação
(fogueiras, chitão, bandeirolas e balões) e música
(baião, xote, xaxado) e dos diversos ritmos e estilos
que compõem a rica cadeia musical nordestina.
A realização das festas juninas na minha região, além
dos benefícios sócio-culturais, cria uma cadeia
produtiva a qual proporciona a geração de trabalho e
renda através das atividades de produção e confecção
de figurino e adereços dos grupos juninos,
contratação dos músicos para os grupos regionais,
bem como das atividades de comercialização de
artesanato e comidas típicas.
Tal atividade proporciona a formação de lideranças
junto aos grupos juninos envolvidos no processo de
produção das festas juninas. Alem de propiciar a todo
o povo um lazer sadio e alternativo.
A cidade não pode deixar de fazer sua festa: o Pátio de
São Pedro e o Sitio da Trindade são locais que
recebem um grande público durante todo o mês
junino para shows, concursos de quadrilha, grupos
culturais e brincadeiras no parque de diversão, onde
se encontram as barracas de comidas típicas que
todos fazem questão de saborear e levar para casa.
Ao pensar o Recife como uma capital litorânea,
acredito que a festa muda a estética da cidade ao
criar outros movimentos e sentimentos nas pessoas
que aqui permanecem sem ir ao interior ou aos
grandes centros de festa como Caruaru/PE e Campina
Grande/PB.
João Simão
Escola Pernambucana de Circo - Trupe Circus
protagonizando o espetáculo da vida – Recife/PE
Cícero
Programa Saberes – Senador Pompeu /CE
34
Possibilita a inserção da comunidade, a
participação, (...) proporciona o lazer, a alegria de
uma
comemoração
tão
importante,
principalmente na ativação da cultura local.
Surge um grande impacto para os pequenos
comerciantes da própria comunidade, tendo uma
renda nessas festas nas quais os mesmos vendem
amendoim, licor, pamonha, milho cozido e
assado para ganhar o pão de cada dia, sem contar
com o lucro da entidade responsável pela festa. É
claro que quem vender algo vai contribuir também
para garantir seu espaço, dependendo do lugar de
acesso.
Traz uma excelente contribuição, pois estará
beneficiando a comunidade geral e o município.
Ambos ganham com essas festas juninas, porque a
renda socioeconômica circula ao redor de toda
região, pois os convites nessa época não faltam
para contar com a presença e a participação das
pessoas de cidades vizinhas.
Edivânia
Valorização da Cultura Popular Sertaneja – Valente/BA
A festa de São João faz parte da cultura nordestina
e aqui em Pernambuco é uma forte manifestação
artístico-social. Não só a música (forró, baião),
como a indumentária e as comidas típicas (canjica,
milho, pamonha, bolo Souza leão, pé de
moleque...) marcam a festa. Em praticamente
todos os municípios o São João é comemorado,
alguns com mais investimentos e fama (Caruaru,
Arcoverde) e outros menos. Costumes como soltar
fogos e acender fogueiras estão presentes em todas
as localidades pernambucanas na época junina. A
quadrilha é uma dança típica bem participativa e
animada. Apesar de guardar traços tradicionais da
brincadeira, ao longo do tempo vem sendo
‘elitizada’. Hoje em dia é comum a competição de
quadrilhas no Recife.
Há sim uma forte movimentação econômica nas
comunidades, seja pela comercialização de
adereços (bandeiras, balões...), roupas ‘matutas’,
fogos, madeira, comidas, e nas cidades onde a
festa tem mais fama, há ainda a circulação dos
turistas.
Há oportunidades de lazer, de troca, diálogos,
vivências. Além disso, o próprio fato de muitas
famílias ganharem uma renda extra interfere
positivamente na sociedade.
Quanto a uma manifestação artística,
possibilita à comunidade o conhecimento das
tradições locais e seus processos de criação.
Quanto à economia, os festejos juninos
proporcionam aos trabalhadores locais e de
outras cidades próximas um impacto positivo,
uma vez que há um aumento significativo de
visitas. Pois a comercialização de produtos
locais é mais intensa nesses períodos, assim
como outros produtos alimentícios. Do ponto
de vista sócio-político, as contribuições são,
por exemplo, de maiores trocas de experiências
através de contatos informais, além de uma
exposição diferenciada da cultura local,
passando do “simplesmente ver” para o ver e
participar da cultura local. Mas penso que o
ideal seria uma política que trouxesse
sustentabilidade em outros períodos do ano.
Ana Olga
Samba de Roda Suerdieck – Cachoeira/BA
Luciana Rabelo
Ventilador Cultural – Recife/PE
35
As festas juninas, enquanto manifestações culturais, resgatam a vivência de costumes e
hábitos caipiras cultivados desde nossos avós e sempre revividos no mês de junho/julho,
oportunizando também momentos de recreação e congraçamento. É comum todas as escolas
realizarem em suas instituições atividades alusivas às festas juninas, sempre com a
participação de pais e comunidade. Do ponto de vista econômico não há nenhum impacto
significativo: geralmente as roupas e indumentárias dos participantes são preparadas pela
própria família e pela escola. Por ocasião das festas, a comunidade organiza as vendas de
comida típica sem fins lucrativos. A contribuição que as festas juninas trazem para a
comunidade é altamente significativa, pois a realização das mesmas não está atrelada a
geração de recursos, tendo como foco o resgate e valorização da manifestação cultural. Abrese espaço para a interação entre pais, alunos e professores (aqui em nossa cidade as festas são
organizadas pelas escolas), num ambiente de muito congraçamento e diversão.
Nereuvaldo
Projeto Viagem da Leitura – Bituruna/PR
Em relação ao ponto de vista estético o São João é
a festa tradicional mais bela que nós possuímos,
porque todo o Nordeste insiste até hoje em trazer a
vida da roça, o jeca, o povo trabalhador... E
através dessa insistência vai abrindo possibilidades
do povo se mostrar, lembrar da nossa cultura, da
vida na roça, dos nossos avós e até mesmo dos
nossos pais; poder ver como era alegre aquele
povo, como a arte era mais confortável, mais solta,
mais dançante, mais cantada. É com tudo isso que
eu acho que a festa de São João possibilita as
nossas comunidades, revitalizando a nossa cultura
local e trazendo nossas alegrias.
Ângela Santana
Artes Cênicas e Musicais – Simões Filho/BA
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“Se em 200 anos de história festejaram-se as datas juninas e seus respectivos santos através da particularidade de
cada região, incentivar a realização de festas caipiras, fantasiando nossas crianças de forma que ridiculariza o
homem do interior, transformando-as em imitações de pequenos Jecas Tatus, é aplaudir um erro de Vargas, que
tentou esmagar despoticamente todo legado cultural regional. É lamentável, mas decisões arbitrárias há 75 anos
promovem a centralização da cultura nacional, ditando através da mídia o que devemos vestir, comer ou ouvir.
Mas como tentar reverter esta situação se continuarmos aprendendo que em festa junina nos fantasiamos de
caipiras,
na
Semana
Farroupilha
de
gaúchos
e
no
Carnaval
do
que
quisermos?
Devemos conscientizar as crianças de que a pilcha não é uma fantasia, mas um traje histórico, que representa toda
a identidade cultural gaúcha. Respeitar a cultura regional é respeitar a própria origem, as raízes que sustentam
toda organização social vigente. Com o coração triste acompanharei mais um ano em que a televisão nos enfiará
goela abaixo músicas e roupas ‘caipiras’ em detrimento da cultura regional. Assim fica muito mais fácil vender
novelas, músicas e informações. Desta forma, cada vez mais ‘Egüinhas Pocotó’ e ‘Tô Ficando Atoladinha’ farão
parte da cultura musical de nossos filhos.”
(LEANDRO DE ARAÚJO - Acadêmico de História, declamador, é um dos coordenadores da Confraria de Declamadores do Rio Grande do Sul)
A única coisa que direi é que a pilcha hoje, é tão fantasia quanto as roupas das festas caipiras que denotam a simplicidade das pessoas que
moram no campo. Para o autor a pilcha denota toda a identidade gaúcha (grande equívoco), mas na minha opinião a festa junina
também denota parte da cultura do homem do campo no Brasil.
No mais, JUNHO é o mês de comemorar São João, setembro é o mês em que se comemora a GUERRA Farroupilha.
Para quem não considera como sendo uma festa típica de sua região, esse é o momento de expandir o horizonte cultural que não deve se
limitar apenas aos nossos próprios costumes: é um momento até mesmo de respeito e conhecimento das tradições de outros grupos.
Acredito que do ponto de vista econômico, esse tipo de festa movimenta economicamente a comunidade local onde ela acontece, além do que,
mesmo que as vestimentas sejam simples - e na maioria das vezes se reaproveite algumas peças do dia-a-dia - outras tantas pessoas procuram o
comércio para comprar adereços etc. Acredito que é um bom momento para que as "quituteiras" possam vender sua produção caseira também.
Portanto, acredito que existe uma movimentação econômica que em outros momentos não seria possível.
Claudia Feijó
Museu Comunitário da Lomba do Pinheiro / Memorial da Família Remião – Porto Alegre/RS
37
Em muitos lugares é um momento de mutirão, de
trocas, de ajuda mútua. Isso promove integração
econômica entre famílias de uma comunidade. Em
alguns lugares é o espaço para formar fundos
comuns, quando as festas são promovidas para
solução de problemas coletivos, como reformas de
centros comunitários etc.
Em alguns lugares a festa junina tomou conotação
comercial. Ela é promovida por grupos empresariais
e tem objetivo de dar lucro para estes mesmos
grupos.
Do ponto de vista social e político, que
contribuições esta festa permite?
Festa Junina possibilita o encontro de gerações. Quem nunca foi a uma festa junina? Por
mais que tenha se modificado ao longo dos anos sua essência é a mesma, a alegria e a
diversão. Mesmo os que não curtem tanto sempre dão uma passadinha para comer um
delicioso pedaço de bolo de milho. Movimenta ruas inteiras, colégios, paróquias dos bairros.
É lindo de se ver!
As festas juninas na sua maioria são feitas no processo colaborativo, aquelas feitas nas ruas
ou nos sítios. Nas paróquias e colégios também vivem do processo colaborativo, mas o
produto final gera renda. O comércio tem um movimento de caixa pequeno.
Permite estar perto das pessoas e sabores da terra e das tradições. De cantar e ouvir uma
boa música, festejar os santos do mês de junho. E Viva Santo Antônio! Viva São João! e Viva
São Pedro.
Elaine
Caixinhas de Memória – Londrina/PR
Este é um ponto importante, pois a integração que a
festa propicia é fundamental para o reforço do tecido
social em muitos lugares do Brasil, especialmente no
interior.
Janaina
No Campo da Cultura – Teatro e Literatura na Cultura
Camponesa – Porto Alegre/RS
As festas juninas são alegres e trazem alegria, comidas típicas, músicas e trajes de regiões que fogem dos padrões das grandes cidades como São Paulo e outras.
Do ponto de vista econômico, as escolas, igrejas, clubes e outros conseguem arrecadar dinheiro extra para pequenas inovações nas comunidades a que atendem.
Do ponto de vista social, é um momento de encontro das comunidades.
A festa junina ainda é uma festa tradicional muito comemorada e que não foi esquecida.
Roseli Mônaco
Brincando na Universidade: LABRIMP e MEB como Espaços de Cultura – São Paulo/SP
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As Festas Juninas são muito aguardadas por todas as pessoas da nossa comunidade. Há uma celebração da alegria, onde crianças, jovens e adultos se
unem num momento de celebração dos seus costumes, onde a alegria, sem dúvida, se faz presente.
É uma festa atraente, onde há a valorização dos tocadores; onde a sanfona tem o seu lugar privilegiado e assim, traz à praça toda a comunidade, como
também pessoas que morando fora, privilegiam na agenda o retorno ao seu lugar (...) a praça se torna palco das comidas típicas, onde escolas, grupos de
jovens, e aquelas pessoas já consagradas pela arte dos pratos tradicionais e especiais têm a oportunidade de angariar um recurso financeiro.
Eliete R. de Araújo
Casinha de Cultura - Espaço de Celebração do Conhecimento – Coronel Murta/MG
Somos de São Paulo e embora aqui ocorram diversas
manifestações culturais e cada vez mais as Organizações
Sociais, comunidades e grupos da sociedade civil e escolas
busquem realizar outras festas, tais como a Congada, o Boi,
geralmente o que mais aparece são as festas juninas. Muitas
são realizadas com intuito de arrecadar dinheiro através de
quermesses. Coleta de prendas, comidas e jogos que
envolvem convites a serem vendidos ou divulgação através
do boca a boca dos participantes.
Pela diversão, a coleta de músicas, as comidas típicas, a
maquiagem brejeira e as representações de uma certa cultura
que já não encontramos por aqui. Pertinente é falar das
músicas, que além da quadrilha contam histórias, relembram
amores e nos colocam em contato com as raízes do
personagem da casinha branca, do balão que sobe sem
provocar danos, da pipoca acompanhada do quentão...
Enfim. Reflexos de uma manifestação cultural. Acho que hoje
já não está carregada dos simbolismos autênticos da
comemoração.
Maria Inez Silva Waack
Ponto de Cultura do Religare - Artes aos Quatro Ventos – São Paulo/SP
As Festas Juninas são realizadas na Grande Vitória e em vários municípios do Estado do Espírito
Santo. E para manter a tradição trazida pelos portugueses, e por outros imigrantes europeus de
países cristianizados e incorporados aos costumes das populações indígenas e afro-brasileiras,
diversas atividades são realizadas para homenagear os três santos católicos: São João, São Pedro
e Santo Antônio. A temporada começa em junho e se estende até julho.
A festa mais tradicional em nosso município é a de São Pedro, no bairro Praia do Suá
Elizete Terezinha,
Projeto Viagem pela Literatura – Vitória/ES
É uma festa que inspira minha comunidade (Complexo da Maré) a estender bandeirinhas, pintar
os rostos, fazer quadrilhas. É o momento em que as comidas típicas são procuradas, e o momento
que todos se reúnem em uma grande roda, independente de facção ou qualquer fator que os
separem em outras épocas.
É uma festa que gera pouco impacto econômico (no local onde moro), pois as barraquinhas que
são montadas são feitas geralmente pela igreja católica e os produtos são vendidos a preço
popular para todos terem acesso.
(...) Essa festa permite uma integração social, pois há o encontro de pessoas de locais que têm
facções rivais, pessoas de diversas religiões, até mesmo um encontro familiar, entre outros.
Josy Cristina
Cinemaneiro – Rio de Janeiro/RJ
39
Apesar do Estado de Roraima ser um estado
pluricultural sim, pois é um estado jovem criado pela
Constituição de 1988 e sua população é formada por
brasileiros de todos os cantos, ainda busca uma
identidade cultural que traduza esse estado (o que já
esta acontecendo). No entanto, por sua população
ser formada por uma grande quantidade de
nordestinos, a manifestação que mais se destaca é a
festa junina, com concursos de quadrilhas, comidas
típicas e muito forró, levando à população a
possibilidade de conhecer um pouco desta arte.
Do ponto de vista econômico possibilita a centenas
de famílias uma renda extra durante as festividades,
tanto trabalhando durante o evento nas barracas
quanto antes, na confecção do figurino, cenários e
adereços.
A maioria dos grupos que se apresentam no Arraial é
formado por pessoas carentes que na sua maioria
mora na periferia da capital, portanto, contribuem
no fator social,pois possibilitam à esses jovens uma
atividade cultural e os tiram da ociosidade.
Ao falar no ponto de vista político não me refiro à
política de Estado ou de políticos, e sim na
possibilidade que as organizações tiveram de se
organizar politicamente em uma federação e uma
associação,dessa forma ganhando força para buscar
a melhoria coletiva.
Eder
Ponto de Cultura A Bruxa Tá Solta – Boa Vista/RR
Foto postada pelo Aurimar
Rabecas da Amazônia: Preservação e Ensino – Bragança/PA
Aqui em Campo Grande/MS as festas mais características são as das comunidades japonesa,
árabe, paraguaia, negra, entre outras, também as festas juninas.
Vou falar um pouco do banho do São João, no Rio Paraguai. A festa junina é uma festa brasileira,
sem dúvida, todavia em Corumbá/MS acontece algo peculiar. A festa tem no programa as
procissões características com muita gente local e turistas que levam os andores, estandartes e
mastros com bandeiras dos santos juninos em meio a cânticos, danças e muita guloseima.
O momento de culminância acontece quando as pessoas levam o santo até às margens do Rio
Paraguai, onde a imagem é banhada em meio a êxtase e catarse coletiva.
A título de enriquecimento da discussão, as danças e consequentemente, as festas em que estão
inseridas (que faltaram no script) características do Mato Grosso do Sul, especialmente no
Pantanal, são as herdadas do velho Mato Grossão: o sirirí e o cururú!
Rubens Costa Marques,
Projeto de Educação Patrimonial - Campo Grande/MS
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Centro Oeste, Norte, Sul e Nordeste comentam sobre
os festejos do Boi. Seria o mesmo Boi? Vejam a
diversidade e a riqueza desse tema: brincadeiras,
história e tradição, elementos locais interligando-se
com elementos tradicionais...
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Quem fala sobre Boi Bumbá?
O Bumba meu Boi, ou Boi Bumbá, é uma das maiores manifestações culturais do
Brasil que surgiu com a cultura da criação de gado. Envolve a comunidade e é uma
brincadeira que preserva nossa história, a dança, a confecção das fantasias algumas luxuosas, outras mais simples -, mas a alegria é sempre contagiante em
nossa região sul do Piauí, mais precisamente a cidade de Oeiras, que foi a primeira
capital do Estado do Piauí, de onde partiu a colonização. O Piauí foi o único estado
em que a sua colonização começou do interior para o litoral. Tem uma história, que
os mais antigos relatam, de um índio que encontrou uma carcaça de boi e colocou
uma vara na cabeça da carcaça e chegou brincando na aldeia. Esses índios, que
habitavam todo o Piauí, foram dizimados e expulsos; muitos fugiram para o
Maranhão.
Do ponto de vista econômico, a festa movimenta a economia da confecção das
fantasias (...) gerando renda para o artesão e o comércio em geral.
A sociedade se envolve com a brincadeira, onde o respeito pelos velhos Mestres
vê preservado seus ensinamentos e atrai políticas públicas e educacionais para
a comunidade envolvida.
Valter dos Santos
Comunidade Capoeira – Teresina/PI
Na minha região, o Boi é uma manifestação que envolve vários personagens. Cada um dos personagens tem relação com outros brinquedos populares (maracatu rural, bloco
rural), e desta forma, do ponto de vista estético, serve para fortalecer e garantir a continuidade da cultura popular, fruto da criatividade dos trabalhadores da cana-de-açúcar e
das relações sociais existente na região ao longo dos séculos e décadas, misturando as matrizes indígenas, africana e européia.
Do ponto de vista econômico, infelizmente não existe uma renda ou políticas de valorização econômica para o brinquedo, pelo contrário, essas manifestações são apropriadas
pelos políticos oportunistas que utilizam a cultura popular para interesses particulares.
Nesse ponto é muito interessante a relação que se estabelece entre os brincantes: eles gostam muito de participar e de fazer o brinquedo sair, mesmo com tamanha dificuldade,
sem dinheiro algum. Em alguns casos, os políticos partidários se apropriam do momento, dando alguma contribuição em dinheiro para comprar o material que tiver faltando,
garantindo a saída do Boi, e em troca do apoio, homenagens ao político “bondoso”. Todos fazem questão de sair e realizar uma bonita apresentação, aumentando a autoestima e a possibilidade de serem visto de forma diferente na sociedade.
Sérgio Ricardo
Oficinas Ternodamata – Nazaré da Mata/PE
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O Boizinho, aqui no sul, e especialmente na região praieira, ganha elementos
distintos, diversos das demais manifestações no Brasil. Aqui na beira da praia,
são agregados ao auto elementos do imaginário popular praieira, como o
boto encantado, a sereia e o minhocão. A história base permanece a
mesma, porém o ritmo do Boizinho ganha características especiais da
musicalidade gaúcha com forte influência dos ritmos africanos, originais da
região litorânea do estado.
Acreditamos que em pouco tempo poderemos ver nossas comunidades,
novamente apropriadas desta manifestação do folclore que já lhe pertencia,
mas que o tempo e as imposturas culturais fez serem desusadas.
Esta manifestação original da cultura popular praieira gaúcha é
demasiado importante, haja vista que carrega em si uma riqueza de
informações sobre a construção do pensamento cultural do nosso povo.
Contendo os ritmos fortes de origem africana, a história das colonizações e a
formação das oligarquias rurais gaúchas, os modos e relacionamentos dos
detentores do poder frente as classes menos privilegiadas, as soluções
cotidianas que estão encravadas nas nossas culturas, ordenando os saberes e
fazeres conforme as vontades e desígnios dos donos do poder e também toda a
riqueza iconográfica do imaginário popular das comunidades que vivem na
beira do mar dos gaúchos. O auto folclórico do "Boizinho" é uma ópera popular
que conta e canta histórias de todas as culturas, revelando toda a riqueza da
diversidade cultural produzida pelo povo gaúcho.
Penso que esses BOIS inventados e preservados espontaneamente é “coisa” do povo
brasileiro. Que para desvendar, teríamos que ter um curso e um encontro presencial de
uma semana somente para este assunto. E... penso que não será o suficiente. Mas
arrisco provocar os amigos: quem quer discutir este assunto?
Rosane
Unindo Gerações - Oficinas de Cidadania - Bombinhas/SC
Ivan Therra
Jornal O Marisco – Cidreira/RS
José Carlos
SACEM – Semana de Artes e Cultura do Col. Est. Manoel Vilaverde – Inhumas/GO
O Boi Bumbá, na minha opinião, é uma festa riquíssima que trabalha com toda
uma simbologia e nos remete fortemente à cultura popular. A comunidade sai
enriquecida destas experiências na medida em que amplia o contato humano e
trabalha valores como solidariedade, respeito às individualidades e senso de
coletividade. Na economia, ela impulsiona o turismo onde é realizada e ajuda os
membros de uma determinada localidade a mostrarem o que de típico a região
produz. Do ponto de vista social, acredito que é um resgate às tradições
populares e que se mantêm muito viva principalmente nas regiões norte e
nordeste do país. Politicamente está relacionada aos itens citados anteriormente.
Uma atividade nunca vêm dissociada da outra.
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Andei passeando por todas as tradições oferecidas nesta atividade, e confesso que não conhecia o Balaio (...). De fato o Brasil é uma
diversidade só e ainda que pesquisando há pelo menos sete anos, sempre me deparo com algo novo, do que é "antigo", ou seja da
tradição da cultura brasileira.
Devo dizer que escolhi o Boi Bumbá por não ter encontrado outra opção que mais se aproximasse do que é essa cultura no Pará. Não é o
Bumbá Boi do Maranhão, que é Nordeste, nem o Boi Bumbá de Parintins, Amazonas. São sotaques diferentes e formas também
diferenciadas de manutenção dessas tradições. Hoje vivemos um movimento de retorno, de valorização a essas raízes, mas com um longo
caminho a percorrer, para que políticas públicas realmente se estabeleçam, para atender não apenas os grupos folclóricos, mas grupos
tradicionais, que estão lá nas suas comunidades ou bairros distantes.
O Boi Bumbá do Mestre Alarico, O Boi Malhadinho do Guamá, são bois de bairros distantes, mas muito antigos, porém não são
conhecidos muitas vezes nem pelos e pelas paraenses; e sobrevivem simplesmente porque seus "amos" fazem dessa cultura sua razão de
viver.
Neste sentido, vejo que as festas que já se popularizaram - e que muitas vezes para isso tiveram que abrir mão de sua essência e até de
alguns de seus símbolos e/ou rituais mais importantes -, conseguiram movimentar publicidade, adesão e uma economia inquestionavelmente, importantes até para a sobrevivência desses mestres de cultura. A questão é como manter esse mestre na sua
comunidade, como manter essa festa viva lá, com seus ritos, símbolos e valores resguardados entre rios e florestas, para que a função
educativa, formadora e transformadora da cultura não se transforme apenas em mais um "produto" do turismo cultural, a serviço da
chamada indústria cultural, que quase sempre é causa de desagregação, de fragilização de um povo, de perda de identidade e de
degradação ambiental. É o que trata também o Edmilson Pereira no seu texto.
Mais ou menos por aí... Abraços-bumbás.
Déa
Peneirando – Belém/PA
Com certeza trata-se de um dos grandes patrimônios culturais do país, embora no Amapá a maior expressão seja o Marabaixo, também
existem manifestações festivas do Boi. Observando a nossa região e essa festa maravilhosa, do ponto de vista estético, acredito que as
diferenças em proporções e grandeza não influenciam a intensidade de orgulho e auto-estima proporcionados a comunidade em seus
festejos, ou seja, tanto a festa do Boi de Parintins como em outras comunidades tem para a comunidade local a mesma emoção e
orgulho. A diferença se reflete no aspecto econômico, de acordo com a grandeza da exploração e dimensão turística, o volume
econômico é maior ou menor, mas sempre existe um benefício. Quanto ao social e político só pode contribuir positivamente ao
estabelecer a integração, auto-estima e orgulho de toda a comunidade envolvida.
José Roberto
Navegar Amazônia –Macapá/AP
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Quem fala sobre Balaio?
A Maria Inez fala um
pouco sobre essa
manifestação
tradicional do Sul do
Brasil.
Sob o ponto de vista estético, possibilita momentos de abertura para o
conhecimento de um patrimônio cultural e de fruição. Conforme Duarte Jr. (2004),
quando falamos em arte é importante considerar além da criação, também a outra
via de acesso à arte que é a fruição. É ela que nos proporciona a experiência
estética, a percepção pelos sentidos da ”experiência que temos diante de um
quadro, uma música, no cinema, no teatro etc.” (p. 56 do livro de João Francisco
Duarte Junior)
Configura-se como importante oportunidade para a comunidade vivenciar momentos
estéticos e ampliar o universo cultural no sentido de perceber que além dos gostos
particulares de cada um, há um contexto maior no qual fazem parte as manifestações
tradicionais. A fruição colabora para a tomada de “consciência do valor e da
necessidade de preservação dessas manifestações”. (Paulo Garcez)
Dá visibilidade para a comunidade que ao realizar a festa é “dada” a conhecer, isto
é, ao colocar em evidência a sua manifestação artística, coloca-se também como
comunidade presente no mundo.
Possibilita um elemento motivador que resulta na auto-estima positiva da
comunidade que se vê como protagonista de importantes momentos nos quais a
sua cultura está pulsando, está sendo vivenciada, mostrada.
Oportuniza a integração, o contato entre as pessoas e desencadeia uma rede de
relações culturais e interpessoais que podem reforçar a manutenção do patrimônio
cultural.
Maria Inez Flores
Grupo de Teatro Estudantil ATIVAR – Santa Rosa/RS
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Quem fala sobre a Congada?
A Congada é uma
festa típica da região
sudeste do Brasil e
os participantes da
Formação trouxeram
suas
contribuições
sobre o tema.
Do ponto de vista estético, o teatro, a dança, a música, os figurinos presentes aí
demonstram um cuidado, uma atenção e uma prontidão para com a manifestação, que
ultrapassa o caráter religioso (mesmo estando em função dele) e expõe, tanto para os
participantes como para os apreciadores, uma cumplicidade do coletivo que
transparece no grau de riqueza que é alcançado. A comunidade se organiza em torno
da festividade. Se reconhece e se une em torno do fazer artístico. Do ponto de vista social
e político a comunidade se organiza para fazer acontecer a festa. Como roupas e
instrumentos serão levados, quem fará a comida que será servida aos participantes,
onde essa comida será servida e assim por diante. Além disso, a manutenção do
folguedo é dada pela oralidade (de pai para filho, neto, sobrinho, amigo), que só
funciona e apresenta resultados se houver um envolvimento considerável da
comunidade, ou pelo menos dos próprios participantes, incluindo os mais jovens.
Marina Abib
Teatro Escola Brincante – São Paulo/SP
Aqui no Espírito Santo conhecemos e participamos, desde crianças, dos cortejos das
bandas de congo, manifestação típica do Espírito Santo (que são bastante
desconhecidas em outros estados e muito diferente do congado mineiro, seja em ritmo,
tipo de instrumento, indumentária, mas com alguns traços de semelhanças).
Conhecemos bem as repercussões econômicas no Espírito Santo que são bastante
significativas e depois podemos detalhar.
De uma forma geral, sabemos que o congado expressa tradições profundas da origem
afro-brasileira que formou amálgama do que é hoje o povo mineiro.
Wander Silva de Oliveira
Instrumentarte Capixaba – Serra/ ES
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A partir da leitura dos textos propostos, comecei a refletir sobre o patrimônio cultural
intangível, a importância de sua preservação e como essas manifestações populares,
além de serem uma maneira de resistência cultural, são instrumentos de aprendizagem.
Bem, então uma história...
Trabalho desde 2005 em uma comunidade rural de São João del Rei/MG, distante 40 km
do centro da cidade, chamada São Miguel do Cajuru. Bem, após dois anos de trabalho
na comunidade me senti a vontade para trabalhar com o grupo de jovens um tema que
eu percebia mais delicado para eles, o preconceito racial.
No Cajuru, em suas ruas de terra, negros e brancos estão afastados por endereços,
sobrenomes e poder econômico. A miscigenação é mínima, apesar de haver uma
interação grande entre todos, e o tema não é abordado.
Propus aos alunos uma pesquisa dos ancestrais... de todos! E fomos andando até as
gerações mais antigas, os bisavôs, tataravôs e, enquanto os alunos brancos traziam
orgulhosos histórias européias, os alunos negros não reconheciam as origens africanas.
Fomos então falar com as senhoras negras mais antigas da comunidade, em busca de
histórias, costumes e cantigas, mas elas não lembravam de nada, ou não queriam falar.
O único caminho que encontrei então foi buscar na biblioteca histórias africanas. Lemos
essas histórias e começamos a criar cenas a partir deste material. Imaginamos e
inventamos no teatro uma história de amor iniciada no continente africano, separada
pela escravidão, que atravessava o oceano de canoa (é, no teatro isso é possível) e se
reencontrava em um quilombo, referência direta a um local próximo ao Cajuru, que
todos sabem que existiu, mas para variar, ninguém tem a informação precisa, nem tem
uma história para contar. Assim, fizemos através de livros e da imaginação, uma viagem
histórica e cultural a África e ao passado. Viagem esta que foi partilhada com todas as
famílias no momento da apresentação no Teatro. Uma viagem na busca deste
patrimônio imaterial que está se perdendo, ou que já se perdeu.
Juliano Pereira
Projeto Arte por Toda Parte – São João Del Rei/MG
A plástica das congadas com suas indumentárias carregadas de significados, histórias e
representatividade permitem à comunidade expressar de forma significativa toda sua
ancestralidade, com ritmos próprios que embalam os ritos que caracterizam essa
manifestação.
Do ponto de vista econômico, a atividade folclórica gera potencialização do turismo,
renda, visibilidade à comunidade, ao mesmo tempo em que divulga o potencial cultural
da região. Outro aspecto interessante de se destacar é a injeção de auto-estima com os
praticantes e o fortalecimento da comunidade em torno de um interesse comum. A
sociedade para saber aonde vai deve saber de onde veio e quem é. A valorização
das raízes e identidade de um povo e a preservação de suas tradições é essencial para
trilhar este caminho.
Elaíse Carla
Projeto Rádio Instrumental Educativa CBM – Serra/ES
A congada é bem cultural brasileiro que se apresenta em algumas regiões do Brasil, em
especial podemos citar, Minas Gerais e Espírito Santo. A congada e a "Irmandade do
Rosário dos Homens Pretos" são fruto de muita criatividade popular desde o princípio.
Essa criatividade não é só de beleza e fé, mas principalmente de necessidade de
expressão e sobrevivência da cultura popular. Esse tipo de manifestação geralmente é
bancada pela própria comunidade, que em suas organizações elegem um encarregado
responsável pela produção e organização da festa. (...) Toda a comunidade participa
com: doações de alimentos, dinheiro e mão de obra. Por outro lado temos também o
aspecto turístico que atrai vários espectadores que contribuem também para a
economia dessas comunidades. A questão política esta implícita na escolha dos Reis do
Congo e encarregados das festas que são escolhidos através de eleição.
Marcio Bello
Tambores do Tocantins – Porto Nacional/TO
Do ponto de vista estético, é importante observar a diferença de um grupo para o outro (o canto, a dança, o fardamento e os adereços usados).
Do ponto de vista econômico, a comunidade comerciária se prepara com “fome de lobo” na época dos festejos, vendendo salgados e bebidas que durante dois meses inteiros não
venderiam. Do ponto de vista social e político, um grande entrosamento e/ou congraçamento de idéias, projetos e outros. Exemplo: por diversos anos a Semana do Folclore (BH/MG)
foi programada durante o cortejo após a Missa Conga, onde grande parte dos possíveis participantes e/ou colaboradores estariam presentes.
Margarida Cassimiro Gasparino
Guarda de Moçambique e Congo 13 de Maio - Belo Horizonte MG
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Quem fala sobre a Cavalhada?
Aqui
temos
os
depoimentos
do
pessoal do Pará,
Distrito Federal e do
Rio Grande do Sul.
As Cavalhadas acontecem na cidade de Perinópolis que infelizmente só conheci há três
anos atrás. Sempre ouvi falar dessa festa, mas nunca tive a oportunidade de conhecer.
Somente os comentários de quem vive lá ou mesmo de quem já assistiu..
Josemeire Vieira Coelho
Artes Táteis, Brasília/DF
Vivi 41 anos em Brasília e só quando cheguei aqui na Paraíba (Campina Grande) é que
entendi de verdade PORQUE as pessoas se referem a nossa capital como Ilha da
Fantasia. É, determinantemente sem raízes. Agora é que seus filhos estão tendo filhos e
iniciando sua própria história.
Vânia Rego,
Caravanas de Arte-Educação – Santarém/PA
Na região da Serra Gaúcha acontecem várias cavalgadas durante o ano. Porém,
elas não têm esse cunho folclórico e toda a indumentária linda apresentada no
vídeo. As cavalgadas aqui estão mais ligadas às tradições gauchescas. Acontecem
em ocasiões ou datas específicas: Semana Farroupilha, em memória a uma figura
tradicionalista ou no aniversário de fundação do CTG (Centro de Tradições
Gaúchas), em vista da manutenção ou divulgação desta tradição.
Osvair
Protagonismo Infanto-juvenil da ACPMen – Caxias do Sul/RS
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O auto popular em que eram rememoradas as lutas
entre cristãos e mouros, e justas entre cavalheiros e
cavaleiro, não está mais na reminiscência dos
participantes da Cavalhada; ou porque esta festa
popular já aqui tenha chegado incompleta no enredo do
auto, o fato é que sua origem é ignorada. (...) os
proprietários de cavalos aproveitam essa oportunidade
para exibirem as excelentes qualidades e os bons
andares de suas montarias.(...)
A cavalhada, aqui em Bragança, apresenta um aspecto
garboso, com os cavaleiros ostentando camisas de cores
variadas, calças brancas, gorro de tecido branco na cabeça
ou chapéus de palha, algumas vezes, cobertos de pano e
ornados de flores de papel, azul ou vermelho. Suas
montarias, bem tratadas, se apresentam com arreios
simples ou bem ajaezados.
Olá amigos. Gostaria de falar um pouquinho sobre a
Cavalhada, uma manifestação festiva que é realizada há
mais de um século na minha Bragança.
Antigamente, à véspera do dia de São João ou de São
Pedro, à tarde, realizava-se a Cavalhada. Hoje o
acontecimento só ocorre no mês de dezembro,
acompanhando a Festividade da Marujada de São
Benedito de Bragança, festa que ocorre há mais de 200
anos também em Bragança.
O Jogo das Argolinhas, do Brasil colônia,
admiravelmente descrita por José de Alencar, em "As
Minas de Prata"; por Luiz Edmundo em "O Rio de Janeiro
ao tempo dos Vice-Reis"; por Manoel Querino, em "A
Bahia de outrora" e em outros autores, é praticado em
Bragança até o presente, com a denominação de
Cavalhada, nome vulgarizado em todo o país. (...)
Em veloz arrancada os cavaleiros levando na mão direita
uma pequena lança de madeira, porfiam uns após
outros, para enfiar e tirar a disputada argolinha, numa
demonstração invulgar de agilidade. A argolinha
conquistada é oferecida às senhoras e senhoritas, que
retribuem essa gentileza amarrando no braço esquerdo
do cavaleiro uma vistosa fita, que comprovará as
argolinhas obtidas. Assim prossegue o torneio até a
última argolinha.
É interessante notar-se entre os cavaleiros um palhaço,
correndo desengonçado e com trejeitos ridículos, ora
sentado de frente na sela, ora de costas, ora tentando
tirar uma argolinha ou causando atrapalhação entre os
disputantes. É a parte cômica do espetáculo, quero dizer,
do jogo..
Findo o torneio os cavaleiros não deixam escapar o
ensejo para por em destaque as qualidades de seus
cavalos. Estabelecem-se as porfias em marcha baixa, em
meia marcha e em marcha alta ou equipado sob a
admiração e os aplausos dos circunstantes.
Fora muito bom que tivéssemos a Cavalhada como parte
deste exercício. Ao menos fez-nos relembrar a
graciosidade daquele lindo espetáculo. No entanto, não
basta apenas narramos a cavalhada, vale-nos lançar
ainda sobre ela um olhar crítico, principalmente que
marque algumas negativas influências que aquele jogo
tem sofrido.
Parece que a Cavalhada tem sido mais apreciada por
visitantes, por turistas do que pelos próprios
bragantinos. (...)
Outro ponto negativo tem sido a forma como algumas
pessoas têm visto o jogo, as que possuem mais influência
econômica não participam do evento, julgando ser coisa
de "pobre", ou como alguns preconceituosos admitem,
coisa de "gentinha". Apesar disso a festa está viva! É
cultura! Independe do poder econômico e dominativo.
Alias, sobre este último aspecto, a realização da
cavalhada é algo que por depender deste povo humilde
que gosta, que tem suas raízes campesinas
profundamente ligadas ao acontecimento, jamais
deixaram morrer esse patrimônio, que dá a eles um
sentido de pertença da festa.
Essas são as minhas singelas contribuições sobre a
Cavalhada de Bragança.
Aurimar
Rabecas da Amazônia: preservação e ensino - Bragança/PA
52
Como
podemos
criar
identidades num lugar sem
raiz? O que são as nossas
raízes? Como podemos atuar
quando uma comunidade não
olha para a sua história ou não
a vê como importante? Vamos
pensar nisso?
Ampliando possibilidades
Existem manifestações folclóricas no Brasil quase desconhecidas fora de determinada região ou
mesmo fora de determinados estados. É o caso dos PÁSSAROS, manifestação registrada apenas
no Pará e que, algumas vezes, usam outros animais da floresta como símbolo. São grupos de
teatro dramático-burlesco-popular e teatro de revista cujo tema remete sempre à proteção do
animal e da mata. Fidalgos são os personagens que, com armas de fogo, tentam matar o animal.
Os personagens índios cumprem a tarefa de evitar a morte do animal de estimação da princesa.
Quando ocorre a morte do animal ele é salvo pelo príncipe ou por uma fada. Em Belém, os grupos
começaram a ser formados na primeira metade do século XX dentre os quais: o "Tem-tem", o
"Rouxinol", o "Beija-flor", o "Tucano", o "Caboclo Lino Pardo", o "Bem-Te-Vi", o "Arara".
Dentre tantas manifestações típicas do folclore paraense, o CARIMBÓ também encontra-se em
processo de instituição como patrimônio imaterial do Brasil. A DANÇA DO CARIMBÓ é a mais
extraordinária manifestação de criatividade artística do povo paraense. Criada pelos índios
Tupinambá que, segundo os historiadores eram dotados de um senso artístico invulgar,
chegando a ser considerados nas tribos como verdadeiros semi-deuses. Inicialmente, a Dança do
Carimbó era apresentada num andamento monótono, como acontece com a grande maioria das
danças indígenas. Quando os africanos tomaram contato com essa manifestação começaram a
introduzir um andamento vibrante como uma espécie de variante do batuque africano. O ritmo
contagiava também os portugueses que, excepcionalmente, participavam da manifestação,
acrescentando traços da expressão corporal característicos das danças portuguesas. Não é à toa
que a Dança do Carimbó apresenta, em certas passagens, alguns movimentos das danças
folclóricas lusitanas, como os dedos castanholando na marcação certa do ritmo agitado e
absorvente.
A DANÇA DO SIRIÁ: A mais famosa dança folclórica do município de Cametá é uma das
manifestações coreográficas mais belas do Pará. Do ponto de vista musical é uma variante do
batuque africano, com alterações sofridas através dos tempos, que a enriqueceram de maneira
extraordinária. Contam os estudiosos, que os negros escravizados iam para o trabalho na
lavoura quase sem alimento. Só tinham descanso no final da tarde, quando podiam caçar e
pescar. Como a escuridão dificultava a caça na floresta, iam para as praias tentar capturar
alguns peixes. Contudo, a quantidade não era suficiente para saciar-lhes a fome. Certa tarde,
como se fora um verdadeiro milagre, surgiram na praia centenas de siris que se deixavam pescar
com a maior facilidade, saciando a fome de todos. Como esse fato passou a se repetir todas as
tardes, os negros tiveram a idéia de criar uma dança em homenagem ao fato extraordinário. Já
que chamavam “cafezá” para plantação de café, “arrozá” para plantação de arroz, “canaviá”
para a plantação de cana, passaram a chamar de “síria” para o local onde todas as tardes
encontravam os siris com que preparavam seu alimento diário.
Heliana
Luamim: peças interventivas na realidade – Belém/PA
53
Ampliando possibilidades
Permitam-me entrar na conversa novamente. Na verdade quando se vê um
grupo folclórico dançando o Carimbó e um grupo tradicional, há uma
diferença significativa.
Os povos tradicionais trazem bem presentes a matriz indígena nos pés e a
matriz africana nos quadris; e no batuque também, de uma forma muito
natural, sem exageros nos movimentos, o que se vê nos espetáculos
produzidos pelos grupos folclóricos.
Embora ajam leituras e releituras, uma dança que lembra bem mais essa
relação com a dança cigana é o Lundu do Marajó, embora com alguns
elementos perdidos da dança tradicional. No oeste do Pará, por exemplo,
região de Santarém, vi um jeito totalmente diferente do Marajó de dançar o
Lundu, com uma matriz bem mais ancestral, que por sua vez tem toda uma
relação com o Retumbão da tradição da Marujada do Nordeste paraense.
Vale lembrar que no Norte do Brasil foi o único local onde o Lundu
sobreviveu também como dança, além da música.
Pelo menos foi o que pude ver e vivenciar até agora.
Déa
Peneirando – Belém/PA
Concordo com a resposta da Dea, o grande desafio desses rituais é como
podemos apoiá-los sem que eles virem um mero "produto". As
manifestações culturais têm muito mais poder e sentido do que apenas o
momento do "show". Elas dizem respeito também a um modo de vida e a
produção de sentido para a vida... os mestres é quem sabe disso com mais
propriedade...
Do ponto de vista estético e social, acho que essas manifestações são
possibilidades de "empoderamento" comunitário, de valorização do que há
para ser mostrado enquanto cultura e modo de vida.
Boaventura de Sousa Santos fala que temos que trabalhar com a
possibilidade de fazer emergir grupos sociais e iniciativas que ficam a
margem do universo de relações políticas e sociais. A grande questão é que
devemos valorizar o saber dessas iniciativas, não somente como uma
"manifestação folclórica". Mas como atores sociais cujo potencial de
transformação do mundo é grande e é real. O diálogo de saberes, nesse
sentido, é essencial e ele precisa ser exercitado para encontrarmos o
caminho...
Juliana Noleto
Arquivo Musical Timbira – Brasília/DF
Pirapora do Bom Jesus é uma cidade eminentemente religiosa. São 70 romarias
organizadas que atraem anualmente milhares de pessoas levadas pela fé e
devoção ao Padroeiro, o Senhor Bom Jesus.
A própria história do município está ligada à imagens de santos. A do Bom Jesus
foi encontrada às margens do rio Tietê, que corta a cidade, e esse fato unido ao
primeiro milagre deu origem ao município.
As imagens sacras fazem parte do perfil da cidade e sua comercialização é uma
importante fonte de renda. O projeto tem o objetivo de perpetuar esse segmento
de artes em todas suas manifestações e estilos e ensinar uma verdadeira
profissão aos jovens carentes, garantindo fonte de renda digna, abastecer o
comércio local. As peças são produzidas uma a uma e são exclusivas.
O baile de fandango, como é tradicionalmente conhecido pelo caiçara, integra
o mutirão que normalmente acontece quando uma família precisar fazer uma
roça de mandioca. Citando um exemplo, no mês de junho acontece o baile de
fandango na comunidade de Cachoeira do Guilherme e Grajaúna, ambas na
Juréia, e a meia noite tem o momento de passar a fogueira descalço. O baile dá
uma pausa e todos vão para perto da fogueira ver quem tem coragem de passar
descalço sobre as brasas. Quem consegue saí dela com a confiança de ser
agraciado durante o ano! Depois, segue o baile animado até o amanhecer!!! O
fandango, além de reunir as pessoas para realizar uma atividade prática e
social, também serve de escola para transmitir os conhecimentos tradicionais
dos mais idosos para os jovens.
Cida Marques
Escola de Artes Sacras e Ofícios – Barueri/SP
Paulo César
Grupo de Fandango da Juréia – Iguape/SP
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A cultura transforma?
Algumas poucas pessoas, em alguns poucos lugares, fazendo algumas poucas coisas, podem mudar o mundo.
(Grafite anônimo no Muro de Berlim)
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Cultura popular e mobilização
Para que essa mobilização seja transformadora é necessário ir além. Mais
do que motivados (as) e/ou mobilizados (as) é necessário empreender uma
jornada visceral para transformar nossas realidades, primeiramente
pessoais, individuais, para ter literalmente pernas, braços e mãos para
chegar na comunidade local, nacional e planetária.
Déa Melo
Peneirando – Belém/PA
Mobilizamos através das nossas ações como rodas de teatro, cinema livre,
rodas de leituras, poesias, oficinas, eventos. Sempre abrindo o diálogo com
a comunidade, escolas e pais dos participantes das oficinas, formando
parcerias com outros artistas da comunidade, onde a gente abre nosso
espaço físico e equipamentos para que os mesmos possam desenvolver sua
atividade cultural e, em contrapartida, eles se apresentam nos eventos que
realizamos.
Marcos Antonio da Silva
Ode aos Mestres e Griôs – Santa Cruz/RN
Coletivo: visão do trabalho em conjunto, da união
As danças circulares como principal ferramenta de trabalho, para levar essa compreensão para além do mental, da lógica, da razão; incluindo o corpo, a
espiritualidade, os sentimentos e o imaginário pessoal e coletivo; pois quando estou na roda dançando, estou comigo mesma, ativando e revelando meus
potenciais e valores ao mesmo tempo em que estou com o outro (a), de mãos dadas colaborando também com o grupo.
Déa Melo
Peneirando – Belém/PA
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Identidade
É um processo de construção da identidade étnica nas escolas e
nas comunidades rurais.
Maria Fulgência
PROCURO - Projeto Cultural do Rosário – Feira de Santana/BA
A partir do início deste projeto, a iniciativa cultural chamou a
atenção de dezenas de mulheres que passaram a perceber a
importância cultural e econômica desta atividade para a sua
vida, viram ali a possibilidade de mudar a sua história ou
torná-la ainda mais bonita. Notaram então que aquilo que a
natureza ofertara gratuitamente poderia lhes dar mais
qualidade de vida. Não somente pelo valor em dinheiro, mas
por todo o valor agregado ao seu trabalho, sobretudo o valor
cultural que lhes identifica. Hoje, nos orgulhamos pela autoestima das artesãs e de suas famílias envolvidas, bem como de
todos aqueles que, mesmo indiretamente, são beneficiados
pela atividade. Aritapera é uma comunidade que tem
identidade cultural!
Rúbia Almeida
Cuias de Santarém – Santarém/PA
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Agentes propagadores do saber e da tradição
O nosso fazer se pauta na ‘vivência’ como possibilidade de nos
apropriar da nossa identidade de povo brasileiro (...). O
RESPEITO é defendido como possibilidade de convívio, um
caminho capaz de nos conduzir a um outro mundo possível.
Acesso
Emicléia Pinheiro
Pluralidade Cultural e Educação – Goiás/GO
A iniciativa cultural do Cultura Viva, Timbira, mobiliza e
transforma a vida desses indígenas na medida em que os
fortalece enquanto populações diferenciadas, porque valoriza,
dignifica sua condição de indígena e forma pesquisadores,
empodera. Além disso, aos jovens é uma possibilidade de não se
‘perderem’ no universo da sociedade envolvente.
Juliana Noleto
Arquivo Musical Timbira – Brasília/DF
Protagonismo
Interação
A produção de conhecimentos sobre o ser brasileiro poderá
constituir-se uma das maiores contribuições de projetos
político-pedagógicos de todas as áreas de conhecimento na
transferência de resultados para a sociedade.
Heliana Baia
Luamim: peças interventivas na realidade – Belém/PA
É um projeto que ensina um pouco da arte para crianças e
desperta nelas o desejo por coisas novas. É importante porque
até então só tínhamos noção do que era uma peça de teatral
através de anúncios de TV.
(Aline Rios, 28 anos, mãe de uma aluna da Comunidade Tejuco)
Juliano Pereira
Projeto Arte por Toda Parte – São João Del Rei/MG
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Juliano Pereira
Projeto Arte por Toda Parte – São João Del Rei/MG
(...) apropriação didático-pedagógica de expressões culturais
como: Capoeira, Maculelê, Samba de roda, Dança afro e
Projetos de intervenção para a Cultura da Paz Capoeira, tais
como: Em-Papoeira – Fórum permanente de avaliação da
capoeira, Intercâmbio Cultural Rodas Populares, Quinta Xirê e
Encontro Xirê nas Escolas.
Maria Fulgência
PROCURO - Projeto Cultural do Rosário – Feira de Santana/BA
Reflexões
Ponto de encontro
Estudo
Apoiar, incentivar e resgatar.
Cícero Leonardo de Oliveira
Programa Saberes – Senador Pompeu/CE
Ponto de partida para festas
Trouxe de volta os derradeiros artesãos tradicionais.
Daiane Fausto
Canoa de Tolda - Brejo Grande/SE
“Um número significativo de egressos de nossa instituição já
sobreviveu uma fase de sua vida de ofícios que aprenderam
aqui. Por outro lado, ao resgatar a auto-estima através das
atividades de valorização dos talentos pessoais, muitas pessoas
levaram para a sua vida”.
Lugar de discussões
Rituais
Incentivo para criação de outros locais
É um projeto que não ensina só teatro e sim a conviver com as pessoas.
(Emerson Souza, 11 anos, aluno da Comunidade Senhor dos Montes)
Osvair Morgan
Protagonismo Infanto-juvenil da ACPMen – Caxias do Sul/RS
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Troca, diálogo, comunhão, expressão, compartilhamento
(...) trazendo a elas autonomia, daí o povo começa a se
mobilizar, porque passa a confiar em si próprio, começa a
perceber que a cultura os enriquece de alguma forma e que
através dela podemos mudar o nosso Nordeste.
Produzir cultura
Um lugar
Ângela Santana
Artes Cênicas e Musicais – Simões Filho/BA
Despertar
Formação
Capacitação para serem promotores de leitura.
Elizete Caser Rocha
Projeto Viagem pela Literatura – Vitória/ES
Exercitar a ‘consciência patrimonial, ambiental e de
preservação’ através de programas educativos.
Rosa Gonçalves
Pró-Arte – São Raimundo Nonato/PI
Crescimento e desenvolvimento
Perpetuar
Reconhecimento
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Lugares
Para crianças
De conexão
De encontro da comunidade
Desenvolve a imaginação e criatividade das crianças e
adolescentes por meio do ouvir histórias, realizando oficinas de
dramatização, desenho, dobraduras, dedoches etc.
No dia 1º de maio, parte dos componentes se reúne em nossa
sede para iniciar a nossa festividade, rezando um terço
dedicado aos antepassados. Após este, há a saída do Boi da
Manta (Bumba-meu-Boi) que tem a responsabilidade de
convidar toda a vizinhança do bairro e circunvizinhos para as
festividades em comemoração da Abolição da Escravatura e
colher donativos. Esta andança ocorrerá todos os dias, isto é,
noites, sendo que no segundo dia até a véspera do
Hasteamento da Bandeira dos Santos Padroeiros; o Boi da
Manta sai antes da realização do terço, onde cada dia é de
responsabilidade de um Rei/Rainha e/ou simpatizante
devoto. Já nesses momentos temos pouca participação da
comunidade, isto é, para rezar, pois grande parte estará
acompanhando o Boi pelas ruas.
Neste período, muitos levam cartazes para colar em escolas,
bares e outros estabelecimentos.
Elizete Caser Rocha
Projeto Viagem pela Literatura – Vitória/ES
Margarida Gasparino
Guarda de Moçambique e Congo 13 de Maio – Belo Horizonte/MG
As pessoas traziam no brilho dos seus olhos toda a dor de suas
gargantas trancadas. Era preciso fazer alguma coisa, e resolvemos
criar uma ferramenta de comunicação comunitária. Somente após
algum tempo é que as comunidades se deram conta que podiam
falar, reclamar, reivindicar, e virar notícia no jornal.
Ivan Therra
Jornal O Marisco – Cidreira/RS
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Transformação é criação e arte.
Darcy Dias
Interação indio-estudantes de escolas de Maringá-Paraná
Maringá/PR
Nos utilizamos do instrumento rádio, que é dinâmico e capaz de
cativar, comunicar e congregar.
Elaíse Soneguetti
Projeto Rádio Instrumental Educativa CBM – Serra/ES
Uma ferramenta
Inclusão
Ver quem mora no campo, quem é responsável por produzir
nosso alimento, também se convencer de que é capaz de nos
alimentar o espírito, é maravilhoso.
Janaina Strunzak,
No campo da cultura – Teatro e Literatura na Cultura Camponesa
Porto Alegre/RS
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Construir junto
Instrumentalizar
Divulgar aos educadores a diversidade da cultura brasileira, tem
como objetivo preparar esses profissionais para o uso dessas
manifestações artísticas.
Marina Abib
Teatro Escola Brincante – São Paulo/SP
Falar sobre mobilização comunitária através do Religare, ou
transformação local é complexo. Quando iniciamos as atividades na
Barra Funda em SP, fomos vistos logo como o local que trabalhava
com meninos que saíram da Febem...
Nada mais do que o estigma embora o galpão estivesse lindo, cheio de
cores, aberto para o público... Foi preciso muita interação com a
vizinhança para quebrar preconceitos e através de parcerias com
outras organizações de conhecimento de cada um dos envolvidos na
gestão da Organização, fomos trazendo cada vez mais atividades de
fora para dentro e, dentro, cada vez mais a possibilidade de mostrar o
trabalho realizado.
Estamos hoje no terceiro imóvel locado, mantido pela Fundação
Marrie Spears, que é nossa parceira desde o inicio. Nesse espaço foi
possível montar um teatro enfim. Uma sala de aulas e atividades
gerais, a biblioteca , o trabalho com a videoteca e a administração,
onde também acontece o espaço de criação gráfica e tudo o que é
postado no site (www.religare.org.br).
Já não são mais os egressos da atual Fundação Casa, embora
tenhamos recebido do sistema judiciário o primeiro adolescente a
cumprir medida socioeducativa com arte e cultura em São Paulo.
As aulas de trabalho corporal, os grupos de estudo, os ensaios do
teatro (estamos em cartaz com o “Lupanar dos Anjos”, uma
montagem de poemas de Augusto dos Anjos, por sinal maravilhoso).
Os vídeos postados no youtube mostram um pouco das produções
realizadas com todos os jovens que hoje freqüentam o espaço. Os
depoimentos registrados no site são comoventes, verídicos e difíceis de
serem reproduzidos aqui. A comunidade assiste e participa dos eventos
com periodicidade.
Maria Inez Waack
Ponto de Cultura do Religare - Artes aos Quatro Ventos – São Paulo/SP
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Referência
“Nossa proposta dialoga com as ruas e retira as crianças desse universo e o mais interessante,
de forma natural. Os filhos de algumas famílias desses cortiços passam o dia nas
dependências do projeto mesmo fora do horário de atividades, basta haver alguma
atividade extra. Assim, o ambiente familiar que é inerente às tradições é mantido e as
crianças podem ter acesso a realidades sociais diferenciadas”.
Rodrigo Bruno
Casa Mestre Ananias - Centro paulistano de capoeira e tradições baianas – São Paulo/SP
A instituição serve como referência pública à prática de pesquisa e iniciação científica sobre o
universo hip hop e temáticas afins, disponibilizando um acervo e banco de dados para tais
com livros, pesquisas acadêmicas, periódicos, vídeos, fotos, música etc.
Dilma de Andrade
Centro Integrado de Estudos do Movimento Hip Hop (CIEMh²) – Macaé/RJ
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A Comunidade Virtual Ponto de Encontro Prêmio Cultura Viva
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Em novembro de 2008 iniciou-se o projeto Prêmio Cultura Viva - Formação e uma das
ferramentas utilizadas para o desenvolvimento das ações foi a Comunidade Virtual
Ponto de Encontro – Prêmio Cultura Viva, um espaço para reflexão, discussão, troca de
experiências e divulgação das iniciativas.
Durante todo o processo da Formação a Comunidade esteve presente. Criou vida
quando cada um de vocês propôs uma ideia nova, ilustrou sua iniciativa com uma
fotografia, acrescentou um contraponto ao ponto de partida, apresentou com um vídeo
o seu dia-a-dia, sinalizou em palavras as suas expectativas, compartilhou com o grupo os
seus devaneios; entre tantas outras coisas que não podem ser mensuradas com as
palavras. São sementes que começam a brotar.
Dentre os Fóruns propostos tivemos: “O que viram?”, sobre o primeiro encontro
presencial; “Isso também é da gente!”, sobre as manifestações tradicionais; “Eu, você e
todos nós”, sobre o Carnaval; “Gestão”, sobre a gestão de projetos na área da cultura e
“Formação”, sobre as diversas formas de aprender e educar.
Para ilustrar o que esse processo significou, apresentamos aqui a síntese do Fórum sobre
Formação. Primeiramente vocês lerão o texto que abriu o Fórum e, na sequência, o texto
construído a partir das mensagens encaminhadas pelos participantes.
Boa colheita!
A cultura é potente e potência.
Não é de um ou de outro,
É de todos e para todos.
É direito, é suspiro, é oxigênio.
Transforma e não permite o silêncio.
Mariana Cetra
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Reconhecer-se, descobrir o outro e ser reconhecido
Ninguém ensina ninguém
Tampouco ninguém aprende sozinho
Os homens aprendem em comunhão
Mediatizados pelo mundo.
(Paulo Freire)
Ao propor um processo de formação para os agentes
culturais representantes das iniciativas semifinalistas
das primeira e segunda edições do Prêmio Cultura
Viva e Pontos de Cultura contemplados com o
Prêmio Escola Viva, temos como objetivo
proporcionar a troca e o fortalecimento das ações
desenvolvidas, bem como também possibilitar a
composição de redes entre os grupos e instituições
participantes.
desse processo, pois “(...) é a indagação sobre suas
experiências significativas que lhes permite não
apenas constituir-se como autores, mas também
aprender consigo mesmos e com os outros. Dessa
aprendizagem decorre o conhecimento que se
encarna na práxis”¹.
Tradicionalmente, a formação é entendida como um
processo
realizado
pela
transmissão
de
conhecimentos daqueles que sabem àqueles que se
colocam na posição de não saber. Outro modo de
realizar a formação é entendê-la como um processo
de mudança intencional e partilhada, como
desenvolvimento e transformação pessoal num
contexto de socialização, como encontro e diálogo
entre os vários sujeitos com vistas à construção do
sentido de pertencimento a uma determinada rede.
A aprendizagem acontece na relação entre as
pessoas, tem como foco aquele que aprende e
valoriza o compartilhar, a percepção do outro e de si.
O aprendizado acontece com o outro, na troca de
ideias e na convivência. É um processo ativo e
participativo e acontece em vários espaços e de
diferentes maneiras. O educador está sempre lá:
compartilha, é cúmplice, se coloca no processo também aprendendo. Um educador constrói uma
prática dialógica, contribui para o reconhecimento
dos saberes e fazeres daquele grupo ou daquelas
pessoas, assume criticamente seu trabalho e se
coloca junto ao outro.
Consideramos que o processo de formação e seu
conteúdo devem partir dos sujeitos participantes
Nesta segunda etapa do Prêmio Cultura Viva –
Formação, propomos dois diferentes espaços de
¹ HERNÁNDEZ, Fernando; SANCHO, Juana María. “A formação a partir da experiência vivida”. In: Revista Pátio. Ano X, nº. 40, nov. 2006/jan.2007. p.10.
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• Comunidade Virtual
• Curso à distância
A Comunidade Virtual Ponto de Encontro –
Prêmio Cultura Viva, é um convite para a troca de
experiências, ideias, propostas, a busca dos iguais e
dos diferentes. Você pode ler as mensagens
postadas nos fóruns ou em outros espaços, como
também postar suas mensagens, seus vídeos, suas
fotografias..., pois é um espaço livre para que você se
exponha e divulgue as informações que quiser.
O curso à distância é outra ferramenta da formação
no qual fizemos uma seleção de temas a serem
compartilhados por todos: pressupõe a composição
de um grupo, coordenado por uma moderadora, e a
realização de atividades executadas dentro de um
determinado período. Um dos fundamentos do
curso consiste em fortalecer as relações de grupo, de
maneira a promover a valorização de combinados e
produções coletivas dos participantes.
Cada atividade está prevista para atender a um
objetivo específico: elas foram planejadas e
construídas considerando as diferentes formas de
aprender. Aprendemos lendo, discutindo, refletindo,
trocando, observando, ouvindo, interagindo,
avaliando etc.
A formação proposta pelo Prêmio Cultura Viva se
totaliza com a vivência nos três momentos: encontro
nacional em Brasília, curso à distância e encontro
regional. O conjunto de atividades propostas busca
atender a demanda do grupo e possibilitar espaços
de diálogo e trocas, de modo a permitir o
reconhecer-se, o descobrir o outro e ser
reconhecido.
Ana Regina Carrara
Izabel Brunzisian
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Foto enviada por Leide Souza do Ponto de Cultura ABD Antares (Teresina/PI)
Fórum Formação
Quando caminhamos por uma trilha como essa, nos
deparamos com diversos caminhos. Escolher entrar à
direita, à esquerda ou ir em frente fará diferença na
chegada.
O fórum sobre Formação, que se iniciou a partir do
texto que vocês acabaram de ler, rendeu boas
conversas e questões. Aqui entrelaço as idéias de
uma teia que foi construída a 12 mãos: Ana Olga, da
Associação Cultural do Samba de Roda Dalva
Damiana (BA); Elizete Caser Rocha, do Projeto
Viagem pela Literatura / Prefeitura de Vitória (ES);
Inez Waack, do Instituto Religare (SP); Leide Sousa,
do Ponto de Cultura ABD Antares (PI); Maria Inez
Flores Pedroso, do Grupo de Teatro Estudantil
ATIVAR (RS) e Sérgio Brito, do Espaço Cultural Pierre
Verger (BA).
Quando pensamos no processo intencional de
troca de experiências, ou seja, tendo um
interlocutor para traçar as linhas que pretendem a
construção do saber, a formação toma forma de
mediadora do processo. A interatividade, seja
pessoal ou à distância, desenha esse caminho,
que é contínuo; gerando assimilação, reflexão e
complementação do que foi sugerido.
Para Sérgio Brito “todo processo de compartilhamento
do saber e multiplicação de idéias pode ser chamado
de formação, desde que represente algo para o
indivíduo e o faça refletir”.
Informação X Formação é o que Leide Souza propõe:
“a informação gera formação. Quanto mais
informados, mais formados em determinadas áreas
seremos. Com a seleção de informação o processo
de formação torna-se mais claro e completo. Tudo
que fazemos, até mesmo ir a uma esquina, precisa
de informação. Claro que uma boa seleção dessa
informação torna nosso caminho mais completo.”
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Em uma sociedade midiatizada e informatizada como a
nossa, em que somos bombardeados o tempo todo com
informações, precisamos ter em mente que a informação
só será transformada em formação, ou em
conhecimento, ao passar pelo processo de análise,
criticidade e contextualização. Caso contrário, a
informação fragmentada pode gerar a ‘ilusão do
conhecimento’. Essa reflexão trazida pela Maria Inez é
complementada quando ela diz que a palavra formação
lembra conhecimento e junto vem a pergunta: o que é
conhecimento?
Para responder a essa questão, ou melhor, ampliar as
possibilidades e abrir mais portas a serem visitadas, Maria
Inez prossegue: “Além do ato pelo qual um sujeito
cognoscente e um objeto se relacionam, também é o
produto resultante dessa relação. No decorrer da história,
temos filósofos que deram primazia a um dos dois pólos,
ao sujeito, ou ao objeto. Hoje, século XXI, Edgar
Morin relaciona a questão do conhecimento aos
princípios do conhecimento pertinentes a esse século: o
contexto, o global (as relações entre o todo e as partes), o
multidimensional e o complexo (tudo está interligado, a
unidade esta ligada à multiplicidade).”
“O conhecimento é o guia das ações do ser humano, e
este é, ao mesmo tempo, biológico, psíquico social,
afetivo e racional. É preciso reconhecer esse caráter
multidimensional do conhecimento.
Penso que, a palavra formação não pode ser separada
desses aspectos. Também é preciso lembrar que os dois
lados, eu e o outro, o outro e eu, somos formados e
formadores; ambos, em sua singularidade, ‘contém de
maneira hologrâmica o todo do qual faz parte e que ao
mesmo tempo faz parte dele’ (Edgar Morin)”.
Como vimos, falamos e ouvimos, a formação pode ser
realizada de diversas formas e Elizete nos traz uma
reflexão sobre a importância da leitura na formação
indivíduo/cidadão: “A leitura enquanto oportunidade de
enriquecimento e experiência é primordial à formação do
indivíduo e do cidadão. A formação de leitores se
configura como imperativo da sociedade atual. Pessoas
afeitas à leitura, aptas a penetrar os horizontes veiculados
em textos mais críticos, são capazes de melhor
desempenho em suas atividades e apresentam melhor
aptidão para o enfrentamento de problemas sociais.
Nesse contexto, a aprendizagem da leitura está
intimamente relacionada ao processo de formação geral
de um indivíduo e a sua capacitação para práticas sociais,
tais como: a atuação política, econômica e cultural, além
do convívio em sociedade, seja na família, nas relações de
trabalho, dentre outros espaços ligados à vida do
cidadão.”
Esse assunto não se esgota aqui. Aliás, qual assunto se
esgota quando falamos em descortinar a realidade e
reinventar a vida?
QUEM FEZ O FÓRUM ACONTECER:
Ana Olga, da Associação Cultural do Samba de Roda
Dalva Damiana (Cachoeira / BA), Elizete Caser Rocha, do
Projeto Viagem pela Literatura / Prefeitura de Vitória
(Vitória / ES), Inez Waack, do Instituto Religare (São Paulo
/ SP), Leide Sousa, do Ponto de Cultura ABD Antares
(Teresina / PI), Maria Inez Flores Pedroso, do Grupo de
Teatro Estudantil ATIVAR (Santa Rosa / RS), Sérgio Brito,
do Espaço Cultural Pierre Verger (Salvador / BA).
72
Formato
Tipologia
Páginas
Tiragem
Projeto Gráfico
Impressão e acabamento
21 x 29,7 cm
BaaBookMk
Gapstown AH
Myriad Pro
74
350 exemplares
CAMARIM – Produção em Multimeios
Cópias e Companheiros
73
Coordenação Técnica
Patrocínio
74
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`Desescondendo` o Brasil: olhares sobre a cultura brasileira